Platão: A República – Livro II
Prof. José Edmar Lima Filho
Platão: dados biográficos
Nasceu em 427 a.C., descendendo da
mais alta nobreza ateniense;
Faleceu em 374 a.C.
Sétima carta: quis participar da vida
política assim que fosse senhor de si.
Platão: dados biográficos
• Por volta de 404 presenciou a Ditadura dos Trinta;
um ano depois, viu a ascenção dos democratas e a
morte de Sócrates
 “[...] isso me enojou de tal modo que acabei chegando a convicção
que todos os Estados atuais se acham mal constituídos. Assim fui
levado ao culto da verdadeira sabedoria a que eu atribuía a glória
de ser a fonte do conhecimento de tudo o que deve prevalecer como
justo, não só na vida pública como na particular. E também a
humanidade não se libertará de seus sofrimentos sem os
representantes da pura e verdadeira filosofia tomarem a direção do
Estado, ou sem os detentores do poder, nos Estados, se resolverem,
sob uma inspiração divina, a um sério estudo dessa verdadeira
filosofia” (Ep. VII, 324b ss)
Platão: dados biográficos
Fez algumas viagens, após a morte de Sócrates:
Mégara – com Euclides;
Egito e Cirene
Tarento – relações amigáveis com Arquitas (pitagórico)
Siracusa – por meio de Arquitas, penetrou na corte de
Dionísio I (a quem tentou convencer a aplicar seus ideais
ético-políticos – empreendimento fracassado)
Atenas – volta depois de ter sido vendido como escravo e
resgatado por Aníceris (socrático)
Fundação da Academia: 387 a. C.
Estudo da filosofia, da matemática e astronomia; alguns
põem no elenco estudado também a zoologia e a botânica.
Preocupação fundamental: formação e direção do homem
Platão: A República - estrutura
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Prólogo: Que é a justiça?
Ela é vantajosa?
2
Argumento: Tanto o indivíduo
como a cidade cintêm forças en
desacordo potencial, umas com as
outras: as classes sociais, na
cidade, e as partes da alma, na
pessoa.
A justiça consiste, para ambas, na
harmonia entre essas forças. Mas
quando estas não entram em
relação
harmoniosa,
é
a
infelicidade; quanto maior é a
anarquia tanto maior será a
miséria. Por isso, a justiça é
vantajosa.
Disponível em: PAPPAS, N. A República de Platão.
Lisboa: Edições 70, 1995, p. 37.
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Digressão: A cidade justa difere
das cidades existentes pelo modo
como trata as mulheres, as crianças
e a propriedade na classe dirigente.
Os governantes serão filósofos, pois
só a filosofia pode ter êxito no
conhecimento das FORMAS e
daquilo que é bom em si mesmo.
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Epílogo: A poesia e a
imortalidade.
A República – Livro II
• Problemática central:
▫ Definição da essência da justiça
 Grego: dikaiosune
 Usado primariamente para o comportamento ou para as
instituições respeitadoras da lei, sobretudo se o acatamento da
lei
implica
também
regularidade,
previsibilidade
e
imparcialidade;
 Tem aplicação em contextos de relações entre as pessoas.
Dirige-se a outrem, ao contrário de uma virtude como a
coragem, que não implica mais ninguém, ou a honestidade, que
tem aplicações naturais, tanto em contextos solitários como
sociais.
 Implica uma espécie de apropriação: não querer e não tomar
mais do que a cada um é devido.
▫ IMPORTANTE! Platão nunca parte do princípio de que nós
já conhecemos completamente o que seja a justiça
A República – Livro II – Para que serve a
justiça?
• TRASÍMACO:
▫ Pretensão de banimento da autoilusão com que a
sociedade ergue os princípios morais;
▫ Acusa Sócrates de falsidade e é acusado por ele de
incivilidade e vulgaridade;
▫ Versado em retórica – sofista; argumentos:
 A vantagem do mais forte:
 Uso da linguagem amoral para falar de uma propriedade
moral;
 A justiça está inserida na estrutura de poder da cidade; se
justo é aquele que obedece à lei, e se a lei é usada em
proveito próprio pelos governantes da cidade, a justiça é
uma forma de proteça do exercício descarado do poder;
A República – Livro II – Para que serve a
justiça?
• TRASÍMACO:
• A justiça está reduzida à conveniência dos dirigentes da cidade (análise
naturalista do conceito de justiça – similar à visão niilista do conceito);
• Além disso, a vida do homem injusto é mais valiosa que a do justo.
• SÓCRATES:
▫ Os governantes cometem erros a respeito da própria
vantagem;
▫ Profissão de governar comparada à da medicina, da
pilotagem e do adestramento de cavalos;
Ideia de serviço àqueles que se governa
▫ Jutiça como conhecimento e cooperação
 “Os injustos tentam levar a melhor sobre todos os outros, os
justos tentam apenas levar a melhor sobre os injustos”;
 “A injustiça é uma força, com poder de provocar a desunião,
que pode existir no interior de um indivíduo ou de uma
sociedade”.
A República – Livro II – Para que serve a
justiça?
• Glauco e Adimanto:
▫ Irmãos mais ouvintes de Sócrates que seus
oponentes;
▫ Desafio imposto a Sócrates: demonstrar que a
justiça, considerada de per si, é preferível à
injustiça.
A República – Livro II
• GLAUCO:
▫ Três maneiras de avaliar um objeto, uma atividaede ou uma
experiência:
 Procurados por si mesmos
 Procurados por si mesmos e por suas consequências
 Procurador por suas consequências
▫ Em que categoria de bens se enquadra a justiça? Qual a natureza da
justiça?
▫ Argumento dos que defendem a injutiça sobre a justiça
(TRASÍMACO: A prática da justiça é feita não por vontade própria;
ela não é um bem; a vida do injusto é melhor que a do justo).
 “ninguém é justo por vontade própria, mas por obrigação, não sendo
a justiça um bem individual, visto que aquele que se julga capaz de
cometer a injustiça comete-a. Com efeito, todo homem pensa que a
injustiça é individualmente mais proveitosa que a justiça, e pensa isto
com razão”
 Sócrates tende a admitir a tese apresentada por Glauco: “ele disse o
suficiente para me pôr fora de combate e na impossibilidade de
defender a justiça”.
A República – Livro II
• ADIMANTO:
▫ Argumento contrário: defesa da justiça sobre a
injustiça
 Apresentação de certa visão escatológica de
recompensa para os virtuosos e castigo aos ímpios.
 Justiça como algo bom, porém difícil de se executar;
dimensão da aparência:
 “se eu for justo sem o parecer, não tirarei disso nenhum
proveito, mas sim aborrecimentos e prejuízos evidentes;
se eu for injusto, mas gozando de uma reputação de
justiça, dirão que levo uma vida divina. Portanto, visto
que a aparência, como o demonstram os sábios, violenta
a verdade e é senhora da felicidade, para ela devo tender
inteiramente. Como fachada e cenário, devo criar ao meu
redor uma imagem de virtude e imitar a raposa do muito
sábio Arquiloco, animal astuto e rico em artimanhas”
A República – Livro II
 Glauco e Adimanto querem que Sócrates demonstre
que as características da alma originadoras do
comportamento justo conduzem também, por meio
de um processo natural, a maior felicidade do que as
características que produzem a conduta injusta. Até
o fim do Livro IV (retomado nos Livros VIII e IX) o
argumento exposto tem o objetivo de estabelecer
esta conclusão.
A República – Livro II
• SÓCRATES:
▫ Defesa da justiça:
 Justiça como atributo da cidade, e não apenas do
indivíduo;
 Vida política como expressão de uma necessidade natural do
homem;
 Divisão do trabalho como resultado das aptidões naturais
dos cidadãos;
 Exemplo do guardião – filósofo, irascível, ágil e forte.
▫ A educação do guardião deve começar pela música e pela
poesia, onde devem ser ensinados à prática da virtude, em
função da bondade essencial dos deuses – crítica a Homero e
Hesíodo.
A República – Livro II
• SÓCRATES:
▫ Defesa da justiça:
 Teodicéia de Sócrates:
 1º postulado: Deus é bom e não pode ser a fonte do
mal; por isso “se disserem que Deus, que é bom, é a
causa das desgraças de alguém, combateremos tais
palavras com todas as nossas forças e não
permitiremos que sejam proferidas ou ouvidas pelos
jovens ou pelos velhos, em verso ou em prosa, numa
cidade que deve ter boas leis, porque seria pecaminoso,
abusivo e absurdo”.
A República – Livro II
• SÓCRATES:
▫ Defesa da justiça:
 Teodicéia de Sócrates:
 2ºpostulado: os deuses são incapazes de mudança por
si mesmos; portanto, “Deus é essenciahnente simples e
verdadeiro, em atos e palavras. Deus não muda de
forma e não engana os outros, nem por simulacros nem
por discursos nem pelo envio de sinais, no estado de
vigília ou nos sonhos”.
A República – Livro II
• CONSIDERAÇÕES:
▫ Por vezes em Platão a justiça do indivíduo é
eclipsada pela questão de saber como construir e
manter uma cidade justa;
▫ Ética e política se entrelaçam na tentativa de
estabelecimento do conceito de justiça;
▫ O Livro II não esgota a temática, que é discutida
ao logo de toda a obra.
PREMISSAS FUNDAMENTAIS DO
ARGUMENTO DA REPÚBLICA
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6.
7.
Os injustos tentam levar a melhor sobre todos os outros, os
justos tentam apenas levar a melhor sobre os injustos.
A injustiça é uma força com o poder de provocar a desunião,
que pode existir no interior de um indivíduo ou de uma
sociedade.
Cada coisa tem uma função (ergón) que só ela pode
executar ou que executa melhor do que qualquer outra.
A justiça é a virtude da alma.
Os humanos, tomados individualmente, não são
autosuficientes.
As pessoas estão naturalmente preparadas para
desempenhar diferentes tarefas.
A alma justa = à alma de quem é mais apto a praticar ações
justas do que qualquer outro.
PREMISSAS FUNDAMENTAIS DO
ARGUMENTO DA REPÚBLICA
8. A alma justa é a alma mais feliz possível.
9. O governo virtuoso e experiente é possível se, e apenas se, os
governantes forem filósofos.
10. O amor por toda a espécie de saber produz o conhecimento
das questões éticas.
11. A parte racional da alma tem desejos próprios.
12. Cada nível de conhecimento requer o correspondente nível
de realidade no objeto de conhecimento.
13. A poesia imita a aparência.
14. A poesia apela às partes piores da alma.
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