INTOXICAÇÃO POR
COCAÍNA
Dr. Carlos A. Caldeira Mendes
CEATOX – SJRio Preto
Hospital de Base
FUNFARME/FAMERP
Intoxicação por Cocaína
• É um alcalóide tropano, extraída da folha do
arbusto da coca (Erythroxylon coca).
• Natural da Colômbia, Peru, Bolívia, México,
Oeste da Índia e Indonésia.
• Século VI dC: habitantes do Peru já utilizavam
por razões sociais ou religiosas (mascavam a
folha).
• Ano 1100 dC: Incas utilizavam como anestésico
local para trepanação (perfuração do crânio).
Curiosidades
 Em 1886, John Styth Pemberton criou um "soft drink" isento de álcool,
para estar de acordo com os princípios religiosos da sociedade americana
do século XIX, mas com cocaína (60 mg por garrafa de oito onças,
aproximadamente 240 ml) e com extrato de noz de cola, que era usado
como tônico para o cérebro e os nervos. Assim nasceu a Coca-Cola.
Atualmente, a cocaína foi substituída por cafeína, sendo o alcalóide
retirado da fórmula em 1906, ainda que folhas de coca "descocainizadas"
continuem sendo empregadas no seu preparo.
 Consumidores notórios: Stevenson. Escritor de "Dr. Jekyll e Mr. Hyde"
escreveu sob efeito da droga, sendo que os dois protagonistas
representam com exatidão o fenômeno de dissociação de personalidade
em dependentes da substância. Arthur Conan Doyle, autor do
personagem Sherlock Holmes, era um notório consumidor de cocaína.
Rev. Bras. Psiquiatr. v.23 n.2 São Paulo jun. 2001 - Pedro Eugênio M Ferreira e Rodrigo K Martinib
Epidemiologia
• EUA: 1999 – 29 milhões utilizaram no mínimo
1 vez
• 3,7 milhões utilizaram no último ano
• 1,9 milhão usuários contumazes
• Causa mais comum de morte relacionada a
drogas
• Droga mais comum nas emergências e
centros de tratamento especializados em
drogados
Uso de cocaína no mundo – 2005
Fonte: Relatório UNODC (Escritório das Nações Unidas contra Drogas e
Crimes – [email protected]
Relatório da UNODC – escritório das nações
unidas contra drogas e crimes 2005
 O mercado de cocaína se manteve estável, como mostram os
indicadores tanto da oferta como da demanda.
 A área total de produção diminuiu 29% de 2000-2006 e está em
157.000 hectares
 A diminuição na área de plantio se deu principalmente por
erradicações de plantações na Colômbia.
 Peru e na Bolívia  aumento na área de plantação, mas os níveis
estão mais baixos que há uma década (- 45% para os dois países
no período de 1995-2006)
 O declínio na área de plantação entre 2000-2005 não significou
redução na produção. O uso de fertilizantes e pesticidas e a
melhoria das tecnologias de plantio melhoraram a produtividade.
Relatório da UNODC – escritório das nações
unidas contra drogas e crimes 2005
 Em 2005, 50% das apreensões mundiais de cocaína ocorreram na
América do Sul (incluindo Caribe e América Central).
 América do Norte e Europa Central, os maiores consumidores do
mundo, apreenderam 28% e 14% respectivamente.
 Colômbia, seguida dos Estados Unidos, Venezuela, Espanha,
Equador e México foram os países que mais apreenderam em 2005.
 A maior parte da cocaína entra nos EUA via México.
 O volume de apreensão de cocaína mundialmente continuou
elevado. As interdições mostram progresso na redução da oferta.
 Os índices de apreensão aumentaram de 24% em 2000 para 42%
em 2006. O aumento na cooperação entre forças de segurança de
diversos países foi um dos motivos dos elevados índices de
apreensão.
Prevalência anual de uso de cocaína
por região - 2005
Fonte: Relatório UNODC
(Escritório das Nações
Unidas contra Drogas e
Crimes)
[email protected]
Prevalência anual 2005 – número de usuários
Fonte: Relatório UNODC (Escritório das Nações Unidas contra Drogas e
Crimes – [email protected]
Relatório da UNODC – escritório das nações unidas
contra drogas e crimes 2005
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O constatação do aumento no uso de cocaína na América do Sul em 2005 se
deve principalmente à nova Pesquisa Domiciliar realizada no Brasil, que
contem 40% da população do continente. A pesquisa mostrou índices de
prevalência mais altos que na pesquisa realizada em 2003. A pesquisa
doméstica nacional de 2001 apontou níveis de 0.4% de uso anual de cocaína.
A segunda pesquisa, realizada em 2005, encontrou 0.7% como taxa de
prevalência anual de cocaína.
Esta está de acordo com os resultados de pesquisas de estudantes no Brasil e
a proporção entre pesquisas de estudantes e pesquisas domésticas nos
países vizinhos.
Apesar dos altos índices de prevalência da pesquisa doméstica nacional de
2005, os atuais dados disponíveis não excluem a possibilidade de não ter
ocorrido um aumento significativo do uso de cocaína no Brasil.
Pesquisas escolares não demonstraram aumento nos últimos anos. Pesquisa
nacional realizada em escolas (2004) mostrou índices de prevalência na vida
em torno de 2% (praticamente o mesmo número encontrado em 1997 - 2.1%).
(Fonte: CEBRID, Levantamento Nacional Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino
Fundamental e Médio da Rede Pública de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras, 2004).
4 UNODC e CICAD – Sistema Subregional de Información e Investigación sobre Drogas en Argentina, Bolivia, Chile,
Ecuador, Perú y Uruguay, Primer estudio comparativo sobre uso de drogas en poblaciónescolar secundaria de
Argentina, Bolivia, Brasil, Colombia, Chile, Ecuador, Paraguay, Perú y Uruguay, Lima, Sept. 2006.
Uso de cocaína no Brasil
Cocaína no Brasil
• No Brasil, o aumento de 0.4% (prevalência anual) em
2001, para 0.7% em 2005 - registrado na pesquisa
domiciliar realizada no país.
• Pesquisas escolares mostram estabilidade no uso de
cocaína entre 1997 – 2004.
• Ao mesmo tempo, há registros de aumento de
atividades de gangues de traficantes de cocaína nos
estados da região Sudeste e aumento da exploração do
Brasil por grupos do crime organizado internacional.
• O país é importante ponto para o tráfico de droga vinda
da Colômbia, Bolívia e Peru, destinada à Europa, com
freqüência via África. Isso também pode ter ocasionado
aumento no consumo de cocaína no Brasil.
• Sudeste e o Sul  mais afetados, Nordeste e Norte 
consumo mais moderado.
Apreensão de drogas no mundo
Fonte: Relatório UNODC (Escritório das Nações Unidas contra Drogas e
Crimes – [email protected]
Apreensão de cocaína no mundo
Fonte: Relatório UNODC - Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes
[email protected]
Farmacologia
• Nome: Benzoilmetilecgonine
• 2 formas disponíveis
• Depois de refinada fica com aspecto de pó
branco (sal hidrocloreto).
• Utilizada como aspiração nasal, endovenosa
ou oral
• Crack é cocaína alcalina, não salina - obtido
da mistura da pasta de cocaína com
bicarbonato de sódio. Mais barata, uso
disseminado entre população de baixa
renda.
• É “fumada”- estável no calor. Tem efeito
rápido, semelhante uso EV.
Farmacologia
• O hidrocloreto é bem absorvido em todas as
mucosas, portanto pode ser utilizado por
aspiração nasal, sublingual, vaginal e retal.
• Quando comparada com a administração EV,
tem efeito mais lento, porem mais duradouro
• Na forma fumada (crack), o início de ação se
dá em segundos, e tem efeito breve.
• Crack é a forma mais potente e viciante da
droga
• Dose letal: não é bem definida
Cocaína
Estrutura química
CRACK
Plantação de coca
Cocaína - pó
Farmacologia
Farmacocinética da cocaína de acordo
com a rota de administração
Rota de
administração
Início de
ação
Efeito
máximo
Duração de
ação
Inalação (fumar)
3–5s
1 - 3 min
5 – 15 min
Endovenosa
10 – 60 s
3 – 5 min
20 – 60 min
Intra nasal ou
outra mucosa
1 – 5 min
15 – 20
min
60 – 90 min
Farmacologia
• É metabolizada no plasma e fígado, tem meia
vida de 45 a 90 minutos e somente 1% da
droga é recuperada algumas horas após a
ingesta
• Metabólitos podem ser detectados no
sangue ou urina após 24 a 36 hs
• Detecção no cabelo é bastante sensível e
pode ser um marcador de uso após semanas
ou meses
Mecanismo de Ação
• Inibe a recaptação de catecolaminas
endógenas (noradrenalina e dopamina)
• Inicialmente: descarga simpática inicial
• Uso crônico: depleção de catecolaminas
• Estudos em usuários crônicos encontraram
uma alteração na molécula transportadora de
dopamina, com aumento da eficiência na
recaptação – resposta adaptativa
• Efeito anestésico local devido a bloqueio dos
canais de Na+
Quadro clínico
• Potente estimulante do SNC e coração
• Estimulação inicial é seguida por depressão
• Todas as rotas de administração (intranasal,
oral, retal, vaginal, endovenosa, inalada)
estão relacionadas com os efeitos
• Os efeitos desenvolvem-se rapidamente,
minutos a uma hora. Nos pacientes que
ingerem invólucros podem desenvolver os
efeitos mais tardiamente, após ruptura dos
mesmos no trato gastro intestinal
Quadro clínico
• Ingesta concomitante de cocaína-etanol forma um
composto no fígado: cocaetileno, que está
relacionado com aumento significativo do risco de
morte súbita em pacientes sem doença coronariana.
Sinais e sintomas
• Hipertermia
• Midríase, perda de sobrancelha e cílios, queimaduras
da via aérea superior (crack)
• Epistaxe, perfuração de septo nasal
Quadro clínico
Cardiovascular:
• Taquicardia e hipertensão
• Arritmias cardíacas (taqui sinusal, FA, ESSV,
ESV, TV, FV...)
• Isquemia miocárdica e IAM mesmo em
pacientes jovens
• Miocardite
• Endocardite, rotura e dissecção de aorta
• Doses elevadas EV pode levar a morte súbita
por ICC ou arritmias
Quadro clínico
Neurológico
• Alteração do estado mental (ansiedade,
agitação, delírio, psicose...)
• Convulsões, coréia, distonias
• Cefaléia
• Hemorragia subaracnóide e intracerebral
• Infarto cerebral e da medula
• Coma
Quadro clínico
Respiratório
• Insuficiência e parada respiratória
• Broncoespasmo, pneumomediastino
• Hemoptise, dor torácica, infiltrado pulmonar,
asma, hemorragia pulmonar
• Epistaxe (intra nasal)
Gastro intestinal
• Vômitos, isquemia e infarto intestinal,
úlceras
• Abertura de invólucros no TGI pode causar
dano local grave
Quadro clínico
Outros
• Rabdomiólise, mioglobinúria, Ins. Renal Ag.,
acidose metabólica, coagulopatia, CID (Coag.
Intravasc. Disseminada)
• Placenta prévia, baixo peso ao nascimento
• Depressão, psicose, desordens de pânico
• Déficit de atenção
• Isquemia da pele/membros
A 54-year-old man with a history of parenteral substance abuse, hepatitis C
virus infection, and poor peripheral venous access presented to the
emergency department with a history of progressive pain, swelling, and
discoloration of his left thumb
Stover M and Perrone J. N Engl J Med 2006;355:2021
Quadro Clínico – Risco de Vida
•
1) Placenta prévia/aborto
espontâneo
2) Dissecção de Aorta
3) Isquemia/infarto Intestinal
4) Parada cardíaca
•
10) Hipertensão Pulmonar
11) Trombose pulmonar
12) Infarto
esplênico/hepático/renal
5) Hemorragia/Infarto do SNC
13) Rabdomiólise
6) Crise Hipertensiva
14) Convulsões
7) Hipertermia
15) Isquemia/infarto de medula
8) Isquemia/infarto do
16) Arritmias
miocárdio
9) Pneumotórax/Pneumomediastino
supraventriculares instáveis
17) Taquicardia ventricular
Crack – disseminação do uso
Cuidados – transportador (mula)
Os invólucros de cocaína tem entre
10 e 20 g cada um.
O rompimento é de extrema
gravidade
Tratamento
• Cuidados de suporte.
• Ingestão de pacotes de cocaína requer condutas
diferenciadas
• ABC (avaliar necessidade de entubação e ventilação
mecânica)
• Monitorização cardíaca e da PA
• Convulsões: Diazepam 10 mg EV ou Fenobarbital
• Hipertensão: geralmente transitória, respondendo
aos benzodiazepínicos, nitroprussiato de sódio
(nipride)- casos graves – primeira escolha
• Hipotensão: (uso crônico com depleção de
catecolaminas) volume (SF0,9%)
Tratamento
• Arritmias:
• Taquicardia sinusal geralmente responde a
benzodiazepínicos
• Propranolol (casos de arritmias) – cuidado com
hipertensão (bloqueio β mas não α)
• Labetalol: preferível (bloqueio β e α)
• Lidocaína e Amiodarona (arritmias ventriculares)
• Hipertermia: acalmar com benzodiazepínico, retirar
vestes, sala fria, banho frio
• Ansiedade e agitação: benzodiazepínico e tentar
acalmar o paciente
Tratamento
• Dor torácica: Tratar como isquemia
miocárdica (ECG, nitrato, aas), evitar
estreptoquinase
• Nos casos de ingestão (pacotes), deve-se
tentar retirar os invólucros com endoscopia,
caso tenha risco de perfuração, usar carvão
ativado e laxantes, alta somente após a saída
de todos os pacotes.
• Rabdomiólise: Hidratação, diurético
osmótico e alcalinização
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INTOXICAÇÃO POR COCAÍNA