1 Apresentação A catequese, como preparação a esses Sacramentos, faz parte de um processo maior: a Iniciação à Vida Cristã. A catequese de inspiração catecumental leva as comunidades a rever a atual ação catequética num contexto de mudança de época e que força a adoção de novos conteúdos e metodologias. 2 O Doc. 97 está estruturado em cinco capítulos I – Iniciação à vida cristã: por quê? Motivações II – Iniciação à vida cristã: o que é? – Natureza III – Iniciação à vida cristã: como? Metodologia IV – Iniciação à vida cristã: para quem? – Destinatários - Interlocutores V – Iniciação à vida cristã: com quem? onde? 3 – Agentes e Lugares. Capítulo I – INICIAÇÃO A VIDA CRISTÃ... POR QUÊ? A Igreja dos primeiros séculos contava com o que foi chamado de “catecumenato”, um jeito de preparar a caminhada com bastante firmeza, com fases bem definidas de crescimento na fé. Crianças eram acolhidas dentro de famílias cristãs. Mas os adultos é que passavam por um caminho que levava ao mergulho no mistério de Deus revelado em Jesus. Isso se fazia na comunidade, com um processo bem cuidado que ia aos poucos levando a um sério compromisso, a uma intimidade com Deus, a uma verdadeira mudança de identidade. E FOI TUDO TÃO BEM FEITO QUE ACABOU FICANDO “NORMAL” SER CRISTÃO. A perseverança e a qualidade desse processo inicial de “tornar-se cristão” deram a base para a transformação da cultura, contribuindo para criar uma civilização cristã. 4 Com o passar do tempo o cristianismo foi se difundindo, passou a ser “religião oficial”, a catequese, a formação continuaram, mas começou um cristinianismo de “verniz”, que não era mais uma verdadeira escolha de vida. Alguns sacramentos ficaram sendo recebidos por causa de um certo “costume social”. 5 E então não temos católicos de verdade? Temos sim e muitos! Mas Deus nos acorda para a necessidade de formar cristãos mais conscientes da alegria dessa missão preciosa. O novo tempo se apresenta como uma grande oportunidade de reavivamento da fé. 6 Por exemplo: a) Entre os que procuram o Batismo só por tradição, há um desejo de experimentar Deus e de conhecer o que Ele tem para nós como um projeto de vida, uma esperança na força do bem. b) Se temos jovens procurando a Crisma sem o exemplo da família é um estímulo a mais para cobrir um vazio e ajudar os jovens e famílias a redescobrir a alegria de sermos todos obra maravilhosa de um Deus que confia em nós como instrumento da construção de um mundo melhor.7 Tudo indica que Deus nos chama a um trabalho mais emocionante, uma reconstrução da identidade cristã, a partir daqueles que nos procuram. Uns precisarão de iniciação propriamente dita, outros terão que ser de novo encaminhados para uma estrada que ficou nos primeiros passos. 8 Uma proposta de verdadeira iniciação à vida cristã, inspirada no que fazia a Igreja dos primeiros séculos. Mas será um processo adaptado às necessidades do presente, para formar cristãos de verdade. 9 Iniciar é um processo através do qual a pessoa vai experimentando o mistério da fé em Cristo Jesus, vai sendo envolvida pela ação do Espírito Santo, vai percebendo um chamado que enche de novo sentido a sua vida. É uma passagem para um novo modo de viver, muito mais do que apenas uma instrução sobre as verdades da fé. A comunidade ao estimular e vivenciar esse processo, vai se sentir mais “mãe” daqueles que chegam e mais feliz por estar produzindo frutos tão gratificantes. 10 Capítulo II – O QUE TEMOS EM VISTA QUANDO FALAMOS EM INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ Os evangelhos nos mostram pessoas que mudam de vida por causa de um encontro pessoal com Jesus. O encontro com os discípulos de João é um exemplo em Jo 1, 38-39. (Que procurais? Onde moras? Vinde e vede! 11 Eles vão e decidem ficar. Para nos converter em uma Igreja cheia de ímpeto e audácia evangelizadora, temos que ser de novo evangelizados e fiéis discípulos. DAp, n. 549 A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária. 12 DAp, n. 370 Iniciação a vida cristã não é um caminho que se percorre e fica encerrado no último passo. É uma alimentação contínua, como uma espiral que não para de girar e crescer. 13 a) na vida e na natureza: a primeira mensagem de Deus é a vida que deve ser contemplada com amor e encantamento. b) pela Palavra da Escritura: é convite a contemplação, a oração e a transformação da vida. c) pela celebração que expressa e alimenta sentimentos: celebrar é viver o mistério celebrado, quem se deixa envolver pela celebração põe dentro do coração o encontro com Jesus. d) pela comunidade que vive e fortalece a identidade de discípulo: uma comunidade que vive bem seu discipulado deixa transparecer o próprio Jesus. e) pelo contato com a realidade e a história dos pobres e pelo serviço a eles prestado. 14 Para isso, é claro, vamos precisar de agentes e comunidades que saibam dar um testemunho que provoque um “reencantamento” com a proposta e a pessoa de Jesus. 15 Se temos comunidades sem condições de dar esse testemunho, elas também precisam de iniciação, para que todos se apresentem de fato como discípulos missionários. Mas não somos nós que promovemos o encontro. Deus nos amou primeiro. É Ele que toma a iniciativa, que temos que aprender a reconhecer. 16 + E como será esse encontro? Dá para planejar tudo certinho? . 17 Características deste “encontro com Jesus”: Um processo: Ninguém encontra Jesus de uma vez, completamente, sem aprofundamento. Pessoal: Depende do jeito e das experiências de cada pessoa. Socializado: O encontro se alimenta e se desenvolve na comunidade, junto com os outros que se encantam com a mesma experiência. Reverente diante do mistério: Ultrapassa o nosso discurso racional, vai além dos sentidos. Comprometido com a mudança de vida: Tem consequências, as escolhas, as atitudes, compromissos. A pessoa inteira se renova. Quem não cresce no amor e na justiça não encontrou Jesus de fato. 18 Capítulo III – Iniciação a vida cristã ... COMO? Os sacramentos são importantes na caminhada de fé, têm um papel marcante como sinal de encontro com Jesus. São um sinal de encontro e compromisso com a Igreja. 19 Sacramentos são: Marcos na caminhada de fé: são recebidos porque já caminhamos um tanto e representam também um novo começo. Comunicação com o Mistério: são sinais visíveis da graça invisível. Celebração do que já existe: buscamos o que já conhecemos. Alimento para o que ainda vai ser feito: é compromisso de usar bem a graça recebida, de corresponder a essa confiante presença de Deus que quis se manifestar a nós. Sinais de identidade: declarar que assumiu um modo de viver próprio de um discípulo de Jesus. 20 Os três sacramentos de iniciação cristã: • Batismo, Confirmação e Eucaristia – “sacramentos de iniciação cristã” marcam a decisão básica que fundamenta a identidade de todo discípulo de Jesus. • A pessoa é batizada, recebendo e assumindo a condição de cristão, filho de Deus; é confirmada com a unção do Espírito que dá força e inspiração no caminho; é alimentada na Eucaristia, sinal de comunhão com Jesus e com os irmãos de fé. • A identidade cristã católica está aí expressa, alimentada e proclamada. 21 Diante das necessidades de hoje, a Igreja resgata o caminho de catecumenato vivido nos primeiros séculos e nele se inspira. O RICA traz a parte do ritual, que é muito importante, mas não é todo o processo. Esse processo é uma “inspiração”: não é uma receita obrigatória, mas é algo que vale a pena conhecer para organizar melhor a formação de quem quer assumir a condição de discípulo de Jesus. 22 O pré-catecumenato (1º tempo) Rito de admissão ao catecumenato (1ª etapa) O catecumenato (2º. Tempo) Celebração da eleição/inscrição do nome (2ªetapa) Purificação e iluminação (3º. Tempo) Celebração dos Sacramentos da Iniciação (3ª etapa) Mistagogia (4ºTempo). 23 Nas etapas (grandes celebrações da passagem de um tempo para o outro) são feitas as entregas: Palavra de Deus Símbolo da Fé (Credo) Oração do Senhor... E outras. Outros rituais: unções, exorcismos, escrutínios. 24 O catecumenato é caracterizado pela: a atenção à formação integral e vivencial, a dimensão orante, a prática da caridade e a renúncia de si mesmos acompanhamento dos introdutores, a contribuição dos padrinhos e membros da comunidade, a participação gradativa nas celebrações da comunidade e estímulo ao testemunho de vida. Íntima cooperação entre catequese e liturgia25. IV – INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ... PARA QUEM? DESTINATÁRIOS COMO INTERLOCUTORES Como Jesus no diálogo com a Samaritana e outros: nossos destinatários = interlocutores. Quem são? Multidão, com rostos variados... sedentos, que procuram água viva. Cada um com uma realidade... 26 Diversas são motivações: nem sempre buscam (ou não sabem que existe) um processo de iniciação. Há os que foram evangelizados insuficientemente; Uns aprofundaram a experiência cristã, ou só guardam vaga lembrança; Outros se decepcionaram pelo caminho, Muitos abandonaram a Igreja 27 Necessidade de conhecer a situação de cada candidato à iniciação. De fato: nossa proposta deve ser resposta à sua “sede”. Daí a necessidade de uma iniciação diversificada, com itinerários especiais 28 A comunidade que catequiza e vai ser catequizada. É preciso inserir os candidatos na vida inteira da comunidade. Todos os agentes de pastoral – e suas respectivas atividades – devem ser apresentados ao longo do processo. A comunidade precisa estar consciente de sua responsabilidade e feliz com a missão de educar na fé os que vem 29 chegando. A pessoa vai ser envolvida no conjunto da missão evangelizadora. Isso engloba as variadas dimensões da ação pastoral: - a vida da comunidade com as diferentes vocações de cada um - o ardor missionário que vai fazer novos discípulos - a crescente intimidade com a Palavra de Deus - a vivência plena da liturgia e da oração - o ecumenismo capaz de reconhecer irmãos e irmãs em outras Igrejas -o diálogo com outras religiões e com o mundo -a proposta sócio-transformadora que busca a justiça ... tudo, afinal, que nos aproxima de Jesus e nos ajuda a melhorar o mundo (começando por nós mesmos). V - INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ... COM QUEM CONTAMOS? ONDE? • Aqui consideram-se os sujeitos e lugares da Iniciação Cristã. • Os agentes: pessoas capazes de considerar os destinatários da Iniciação como interlocutores; • Devem ser preparados e acompanhados, também no estilo catecumenal. 31 • A missão dos responsáveis diretos pela Iniciação engloba todas as forças da Igreja. É a comunidade eclesial que evangeliza • O iniciando como primeiro sujeito de sua iniciação: interação entre a ação da graça e a resposta humana 32 Preocupação primeira: não sacramentalizar, mas percorrer um itinerário adequado de vivência da fé cristã; Não se faz um processo de Iniciação sem priorizar a pessoa do iniciando. . 33 Cuidar da qualidade da atenção às pessoas e das relações humanas: acolhida, fraternidade, solidariedade. . . • Com relação à comunidade: seu modo de viver e de se relacionar, deve ter um jeito de casa acolhedora, tornando-se cativante e atraente. 34 Quem trabalha na iniciação lida com a: história de vida dos iniciandos, as Escrituras Sagradas, com a liturgia, a vida da comunidade e se confronta com as necessidades e desafios da realidade. 35 Necessitam: do testemunho de discípulos missionários, do acompanhamento dos introdutores, amigos e companheiros, catequistas, ministros ordenados, da fraternidade vivida na comunidade e da postura da Igreja em geral diante da sociedade. 36 Conforme as propostas do RICA (4148) o texto descreve: Ministérios e as funções dos implicados no processo iniciatório; Isso precisa ser conhecido e adaptado a cada situação. Nessa relação, além dos vários agentes, estão também os sujeitos da iniciação e suas famílias: 37 a) Introdutores/as: função nova, tarefa específica e indispensável – Primeiro Anúncio. b) Padrinhos e madrinhas: superar critérios de amizade e compadrio; precisam conhecer o candidato e testemunhar sobre ele. c) As famílias no processo da Iniciação: primeiros e principais educadores na fé; integram o processo de catequese com adultos; considerações sobre as dificuldades com relação à vida de fé das famílias; insiste na colaboração da Pastoral 38 Familiar. d) Os catequistas: sua ação se dá sobretudo no 2o. tempo (Tempo do Catecumenato propriamente dito): - sejam apresentados à comunidade. O texto repete orientações e critérios do DNC. - insiste em sua formação no estilo catecumenal: - formar não só o pedagogo, mas sobretudo o mistagogo (aquele que inicia, introduz no mistério de Deus). 39 e) Organize-se uma Comissão de Coordenação da Iniciação à Vida Cristã, com os encarregados da tradicional preparação ao Batismo, à Confirmação e à Eucaristia, a ser substituída pelo Processo da Iniciação Cristã. Essa equipe é fundamental para o bom desenvolvimento do processo da Iniciação f) A comunidade e seu estilo de vida: importância do testemunho comunitário. Diante do frágil compromisso de parte de católicos com o testemunho e a missão, urge um processo iniciático de conversão que dinamize catequizandos e catecúmenos na vivência da fé. O processo de iniciação é benéfico e educativo para a comunidade inteira, não apenas para os iniciantes. 41 g) Os Ministros ordenados: competências da Conferência Episcopal, inculturação. O Bispo: Catequista por excelência; deve ter a catequese como a prioridade das prioridades (são citados: Catechesi Tradendae 63; Código e Diretório dos Bispos). . 42 O Bispo: Cabe-lhe um zelo especial para com o processo da Iniciação à Vida Cristã e da Formação Continuada na diocese. Releva a importância do Bispo no catecumenato primitivo, principalmente por ocasião da mistagogia. 43 Os Ministros ordenados Presbíteros e diáconos Deles depende muito o êxito do processo iniciático; Preparação constante para poderem orientar, acompanhar e animar o processo iniciático; 44 Zelar pela formação dos responsáveis pelos quatro tempos da Iniciação; E garantir a celebração e ritos das três etapas. 45 • Igreja particular: espaço de testemunho e evangelização por excelência; não se reduz a espaço geográfico ou estrutura pastoral. A Igreja deve estar presente e atuante nas diversas situações, lugares e ambientes... Os Movimentos de nível regional, nacional ou internacional: sigam orientações locais e participem a Pastoral Orgânica da Diocese. • A unidade da Igreja: mais importante que a afinidade com grupos ou movimentos... 46 Palavra final de alegria, otimismo e ação de graças, citando Aparecida: “A alegria do discípulo é antídoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violência e pelo ódio. [...] Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DAp 29) 47 • É possível adaptar o processo de Iniciação Cristã a nossa realidade? • Esse pequeno estudo nos dá algumas idéias novas para a catequese que já fazemos com crianças e jovens? • Como nosso encontro de Jesus transparece em nosso testemunho pessoal e comunitário? • Como transformar nossas comunidades para que sejam espaço de acolhido aos que chegam e lugar de fraterno convívio com os que já estão? 48