Iniciação à Vida Cristã UM PROCESSO DE INSPIRAÇÃO CATECUMENAL. ESTUDOS DA CNBB/97 INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ POR QUÊ? “Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim e eu te buscava fora de mim.(...) Brilhaste e resplandeceste diante de mim, e expulsaste dos meus olhos a cegueira. Exaltaste o teu Espírito e aspirei o teu perfume, e desejei-te. Saboreei-te, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e abrasei-me na tua paz”. (Santo Agostinho, confissões X,27,38). ) 1.1. Muitos, sem saber, estão em busca dessa beleza Agostinho e tantas outras pessoas descobriram tarde o encantamento pela proposta de Jesus. Isto poderá também ter ajudado para um encontro mais profundo e uma entrega mais intensa, conhecendo em profundidade e uma consciência maior do vazio deixado por tantas outras buscas. A procura e a pergunta por Deus, está em todos nós. Muitos são os que andam descontentes, inquietos, descontentes pelo mundo, com propostas que ainda não conquistaram sua mente e seu coração; há os que perderam de vista o transcendente, se deixaram levar pelo imediatismo, pelo materialismo e tantas outras seduções de uma sociedade que valoriza outras conquistas. Mesmo estes poderão redescobrir a necessidade básica, humana de buscar a fonte do mistério da sua própria existência. A pessoa humana vive à procura de respostas sobre a vida , sobre o sentido de si mesmo. Mesmo quando anda por caminhos alienantes e perigosos, as perguntas continuam: porque estou no mundo? Quem sou eu? Que sentido tem as escolhas que a vida exige de nós? A fé e a razão constituem duas asas sobre as quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade. Foi Deus que colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade, de o conhecer para que pelo conhecimento e amor possa chegar também à verdade plena sobre si mesmo. (João Paulo II, Fides et Ratio,p.5) O catecismo da Igreja Católica afirma: “o homem é capaz de Deus”, Deus atrai a pessoa a si e somente nele já de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar. (CIC n. 27.) Chegar à idade adulta com essas interrogações, perguntas, precisa mais do que uma síntese doutrinal. É toda uma vida de experiências, alegrias, decepções. Por isso não basta estudar o cristianismo, mas precisa descobrir o sentido na vida, nos relacionamentos e no mistério de Deus. Faz-se necessário um mergulho no mistério, uma experiência profunda nas diferentes dimensões da vida cristã. Isto não é possível em um cursinho rápido ou com uma catequese isolada do contexto da vida eclesial. Pois se trata de uma adesão consciente a um projeto de vida. Hoje uns dizem que não tem religião, não sentem sua pertença eclesial, participam de vez enquanto, os relacionamentos são por amizades, conveniência, trabalho, parentesco e... Jesus Evangelizou os adultos e abençoou as crianças Nós muitas vezes fazemos o contrário. As crianças tem o direito de viver a experiência do amor de Deus Não se trata de abandonar as crianças, elas tem direito da experiência do amor de Deus e devem ser acolhidas. Mas adultos os adultos que vão descobrindo sem saber o que o que seu coração buscou precisam de um bom processo de iniciação. Uma Igreja em estado permanente de missão tem que responder a essa necessidade. 1.2. Uma necessidade religiosa, mas também antropológica Tertuliano dizia: “Os cristãos se fazem, não nascem“. Isto mostra que para “tornar-se” algo novo é preciso passar por um processo de iniciação. Significa que a pessoa nova vai emergir como seguidora de um caminho e se compromete com seu conhecimento, com suas emoções, suas opções de vida e com suas escolhas. Não se começa a ser cristão por uma decisão ética, ou por uma grande idéia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá novo horizonte à vida e portanto uma orientação decisiva (cf DAp, n.12). Entrar em um projeto novo de vida exige processo, passos sucessivos de aproximação através de ritos, palavras, gestos, símbolos, celebrações, se envolve no mistério e passa a agir de outro modo a nível pessoal, social e comunitário. 1.3 Foi assim no início da Igreja Jesus formou os discípulos, houve: um chamado, um aprendizado um convívio Houve etapas na Missão, envio, aprofundamento. Somente com a experiência do Mistério pascal os capacitou para a tarefa de ser Igreja. Os evangelhos nos dão de forma sintética um caminho, o processo do chamado: Uma Busca- Jo 1,38 Quem procurais? Um encontro –Jo 1,38-39 Onde moras? Vinde e vede! Conversão – eles vão, vêem... E decidem seguí-lo; Assim o processo vai produzindo -comunhão: permaneceram com Ele, acompanharam seu caminho, compartilharam até seu poder de expulsar o mal e curar Mt 10,1; Que leva à missão; cada discípulo atrai outros A missão leva à transformação da sociedade; A conseqüência social do seguimento do Evangelho deve se tornar visível para a missão ser coerente. A Igreja foi crescendo com um processo de iniciação, a partir de pentecostes, com todos esses passos. Pessoas foram aderindo ao projeto do reino tornando-se discípulas. Foi sustentando mártires e possibilitou a expansão do evangelho. At 2,42;4,34 traz presente o retrato das primeiras comunidades que viveram e fizeram a experiência de viver o projeto de Jesus e seu seguimento. O Caminho de iniciação ficou mais claro a partir do século II quando se estruturou o catecumenato para promover a introdução dos novos convertidos na vida da Igreja para: O aprofundamento da fé como uma adesão pessoal a Jesus Cristo. Este era o caminho próprio para conduzir os adultos aos mistérios divinos de fé e participação na comunidade. Aos poucos o catecumenato foi reduzido à quaresma até desaparecer e ser substituído pelo batismo de massa. No século VI desaparece o catecumenato; catequese e liturgia se distanciam e a catequese se volta apenas para as crianças. 1.4. Cristandade: evolução e declínio A fé se espalhou, aconteceram realizações, e surgiram exemplos de santidade. O processo de iniciação cristã foi ficando menos ativo, pois todo mundo era batizado e a religião se aprendia no convívio da família e na sociedade. Esta prática deu margem: a devocionismos que não formavam discípulos missionários, apenas mantinham a fé do povo. Cresceu a sacramentalização e a prática das desobrigas. As pessoas faziam os sacramentos todos, mas não havia compromisso. Foi favorecendo a descrença, a sociedade foi se tornando independente da influência da Igreja e a religião passou a ser vista como assunto privado e pessoal. Hoje as estatísticas mostram um declínio no número de católicos; muitos desses nunca o foram de verdade. O projeto de Jesus não tem nada de pequeno ou mesquinho, mas sim somos chamados a um trabalho exigente e emocionante. Num mundo provado pela divisão, injustiça, ferido pela violência, escravizado ao consumismo, Jesus nos impulsiona a viver a fraternidade, a defender os fracos, a construir a paz valorizando a honestidade e a dignidade humana, sabendo partilhar e perdoar. 1.5. Tudo isto é um apelo para uma Igreja melhor. O apostolo Paulo nos lembra: “quando sou fraco então sou forte” (2 cor 12,10). Certamente já constatamos que é uma verdade. A Igreja acomodada se torna medíocre, morna, sem gosto. É comum ouvirmos de pessoas que viveram muitos anos na Igreja e ao procurar outra dizer: Encontrei Jesus. Como pode acontecer isto? Jesus não estava sempre presente na Palavra, na Eucaristia, na comunidade reunida, na missão? Então? Significa que algo importante faltou, esteve ausente. Quem não encontrou Jesus não foi iniciado na fé, mesmo que tenha estado junto por muito tempo. Encontrar Jesus é colocar-se em comunhão com a experiência dos primeiros cristãos. As comunidades se sentem portadoras de uma missão transformadora, vivem com entusiasmo a experiência do chamado. Precisamos uma Igreja consciente, com organização pastoral que possibilite um real processo de iniciação para não batizados e para batizados insuficientemente evangelizados. Necessidade da renovação e conversão pastoral. Nesta missão os leigos deverão ser os protagonistas. 1.6. A comunidade inteira vai ser sinal de algo muito bom A Iniciação cristã não é só aprendizado de doutrina, mas inserção na experiência de fé dentro da comunidade. “Vinde e Vede”... Eles foram, viram, se encantaram, ficaram. Aprenderam e depois partiram em missão. Por Iniciação à vida cristã se entende iniciação ao conjunto orgânico do mistério cristão e da missão eclesial. Neste processo estão em evidência os aspectos: catequéticos e litúrgicos, a transformação da sociedade, a leitura orante da Bíblia, a dimensão ecumênica e o diálogo inter-religioso... Tudo isto vivido em comunidade, na diversidade pastoral, as comunidades eclesiais de base... É uma escola na formação de cristãos engajados e comprometidos com sua fé e missionários. O documento de Aparecida nos números 291, 368, 365 e 163 reforçam ... ...esse dinamismo, a necessidade da conversão pastoral, da boa acolhida dos que chegam, de oferecer o que de melhor a Igreja tem para os cristãos, um ambiente fraterno, alegre de comunhão e participação. 1.7 Crescimento e alegria ao fazer o que Deus nos pede A iniciação cristã é uma exigência da missão da Igreja nos dias de hoje: -formar cristãos conscientes - ver a opção religiosa como uma escolha e não tradição cultural. - Desta forma seremos os primeiros beneficiados deste caminho. Desta forma estaremos vivendo o grande objetivo da Missão continental que nos fala Aparecida: “Promover a profunda conversão pessoal e pastoral de todos os agentes de pastoral e evangelizadores, para que, com atitudes de discípulos, todos possam recomeçar desde Cristo uma vida nova no espírito, inserida na comunidade eclesial” Proposta emocionante que beneficia a todos: iniciantes, iniciadores, a comunidade e a sociedade. Questões: Como seria, para você, uma comunidade eclesial atraente, de testemunho que convence as pessoas? Você conhece pessoas batizadas que não se sentem igreja? Por que?