Comunicação Profª Viviane Andrade 4º Período - Administração Comunicar é sempre um desafio!!! Às vezes precisamos usar métodos diferentes para alcançar certos resultados. Veja o exemplo abaixo e perceba a sabedoria do zelador. Numa escola pública estava ocorrendo uma situação inusitada: Uma turma de meninas de 12 anos que usavam batom todos os dias removiam o excesso beijando o espelho do banheiro. O diretor andava bastante aborrecido, porque o zelador tinha um trabalho enorme para limpar o espelho ao final do dia. Mas, como sempre, na tarde seguinte, lá estavam as mesmas marcas de batom... Um dia o diretor juntou o bando de meninas no banheiro, explicou pacientemente que era muito complicado limpar o espelho com todas aquelas marcas que elas faziam. Fez uma palestra de uma hora. No dia seguinte as marcas de batom no banheiro reapareceram. O diretor juntou o bando de meninas e o Zelador no banheiro, e pediu ao zelador para demonstrar a dificuldade do trabalho. O zelador imediatamente pegou um pano, molhou no vaso sanitário e passou no espelho. Nunca mais apareceram marcas no espelho! Há professores e há educadores... “A palavra é metade de quem a pronuncia, metade de quem a ouve.” Montaigne, filósofo (1533-1592) “O agente que fala não busca apenas ser compreendido, mas ser obedecido, acreditado, reconhecido.” (Sampaio, 2001) “O comércio humano, antes de ser julgável pelos procedimentos contábeis e pela ciência dos mercados, é uma questão de palavras” Pierre Legendre, Psicanalista, francês (1930-) “ Visões Teóricas sobre a Comunicação: A Comunicação como Transmissão de Informação (Shannon e Weaver) A Comunicação como Construção da Realidade Social (Habermas) A Comunicação como Disputa de Poder (Bourdieu) A Comunicação Efetiva como Amorosidade Importância da Comunicação para o Gestor Diferentes Aspectos teorias fornecem distintos Organizacionais entendimentos sobre o Fluxos de informação, processo da aspectos políticos, comunicação culturais, simbólicos, tecnológicos etc. Aspectos interpessoais Verbal (oral, escrita) Não-verbal (gestos, expressões, tom de voz etc.) A Comunicação como Transmissão de Informação (Shannon e Weaver) A Comunicação como Transmissão de Informação Receptor Comunicação = transmissão de informação Modelo Transmissivo: Foi desenvolvido na II Guerra. É fundamental para as telecomunicações. Permite a análise racional de vários elementos do processo comunicacional. É o modelo mais famoso. Implicações do Modelo Transmissivo para a Comunicação Interpessoal O EMISSOR deve: Adotar atitudes positivas na emissão: confiança, empatia, veracidade, clareza. Ter objetivos claros. Perceber o contexto e adequar a sua mensagem. Fornecer referenciais de interpretação verbais e não-verbais. Buscar feedback do receptor. Em relação à MENSAGEM e ao CÓDIGO: O código precisa ser dominado por ambos: emissor e receptor. O conteúdo e linguagem devem se adequar aos objetivo, necessidades, contexto, canal e receptores (público-alvo). Deve haver lógica, coerência, clareza, e veracidade nas informações. Em relação ao CANAL: Deve-se utilizar o canal apropriado ao contexto, objetivos e possibilidades dos comunicantes; O canal deve estar funcionando de modo adequado, sem ruídos; O uso de múltiplos canais aumenta a possibilidade de sucesso. O RECEPTOR deve: Ter atitudes positivas à recepção e ao emissor: atenção, interesse, empatia, confiança, credibilidade. Perceber a relevância, veracidade e adequação da mensagem. Compreender o código / linguagem adotados. Ter acesso e confiar nos canais utilizados. Evitar interromper o emissor. Fornecer feedback da comunicação. Barreiras à comunicação: Filtragem: é a manipulação / distorção da informação feita pelo emissor para que o receptor a receba de maneira mais favorável. Linguagem: é o uso pelo emissor de termos desconhecidos pelo receptor. Pode-se criar barreiras à compreensão. Defesa: é quando o receptor se sente ameaçado. A tendência é reduzir a ameaça, por meio de mecanismos de defesa. Percepção Seletiva: é quando o receptor decodifica/distorce as mensagens com base em suas próprias necessidades, motivações, interesses e expectativas e experiências. Sobrecarga de Informação: é quando a quantidade de informações é muito grande, de modo que diminui a compreensão pelo receptor e a comunicação fica menos eficaz. Importância do feedback: Visa a aprendizagem. Dê feedback para melhorar a relação e o trabalho e não para humilhar o outro. Considere o contexto. Avalie se o contexto é adequado e se há disposição para o diálogo. Seja o mais específico possível. Seja claro, objetivo e específico nas suas observações. Focalize nos fatos e não na pessoa. Se você está fornecendo um feedback crítico, enfoque os fatos e não a pessoa. Evite críticas e repreensões em público. Evite a sobrecarga de informações. Aborde o que é importante. Evite só focar no erro. Dê feedbacks positivos. Aponte os acertos. Indique como o erro pode ser evitado ou corrigido. Elogie. Observe as reações e a compreensão do outro e esteja preparado para ouvi-lo. Considere que você pode estar errado. Após falar, peça para o outro lhe dizer o que pensa, qual a sua opinião a respeito. Não demore. Dê feedback o mais rápido possível. Críticas a esse Modelo Transmissivo: O modelo desconsidera que: A comunicação humana não é linear, mas uma interação na qual emissormensagem-receptor se modificam mútua e simultâneamente. As capacidades cognitivas, necessidades, sentimentos, desejos e motivações do emissor e receptor são distintos. O erro e a interpretação diferentes são qualificados sempre como problemáticos. A multiplicidade de significados e interpretações entre pessoas pode ser algo bom. Os contextos interpessoais, econômicos, sociais, políticos, culturais, institucionais sempre afetam a comunicação. A Comunicação como Construção da Realidade Social (Habermas) A Comunicação como Construção da Realidade Social Comunicação = interação (privilégio da razão) Objetivo da comunicação: entendimento, consenso e construção da realidade. Linguagem = meio fundamental da construção da realidade social. Falar é agir socialmente: fazer proferimentos que estabelecem e modificam a realidade social. Os “atos da fala“ são vistos do ponto de vista da sua capacidade de conferir razões aos discursos. No diálogo com igualdade de condições entre os participantes, prevalece a força dos argumentos. Em toda mensagem co-existem: razão instrumental: informação sobre o objeto da comunicação (caráter objetivo, explícito); razão comunicativa: dimensão relacional, informação sobre os comunicantes (caráter subjetivo, implícito). Implicações para a Comunicação Interpessoal: O valor da argumentação racional e da busca do consenso entre os comunicantes; O valor da dialogicidade na construção social da esfera pública, da democracia. Permite aprofundar a compreensão do papel da comunicação na liderança organizacional. Críticas à Visão Habermasiana Visão idealista, formal e até utópica. Nem sempre a comunicação é orientada para o entendimento ou para o consenso. A idéia de consenso racional pode levar à ocultação de conflitos e de estratégias de dominação de classe por meio de um discurso pretensamente conciliador. Esta visão desconsidera as diferenças sócio-culturais. Nem sempre a “racionalidade“ dos comunicantes é a mesma! Nem toda comunicação humana é racional! A comunicação irracional ou emocional é vista como negativa por essa visão. A dimensão emocional/expressiva da linguagem é pouco problematizada pela visão habermasiana. A Comunicação como Disputa Simbólica de Poder (Bourdieu) A Comunicação como Disputa Simbólica de Poder Comunicação = disputa simbólica e de poder de nomeação (poder de fazer coisas, definir significados). Linguagem = instrumento de poder, compreendida como práxis, vinculada às situações que lhe conferem sentido e condicionam a sua expressão. Foco da análise da comunicação: aceitabilidade, relações de força simbólica, poder e valor do discurso. Para Bourdieu: O mercado de bens simbólicos é tão vigoroso quanto o de bens materiais: os homens realizam não somente a troca de mercadorias, mas também de significados, de símbolos. O espaço das interações funciona como uma espécie de mercado linguístico, definidor do que pode ser dito e do que não pode ou não deve ser pronunciado, de quem é excluído e ou se exclui. (Sampaio, 2001) A autoridade, legitimidade e valor de um discurso decorrem de vários fatores: se ele é proferido por um locutor legítimo (produtor), reconhecido como possuidor do direito e da competência para proferí-lo; se ele é proferido numa situação legítima, no mercado que o considera relevante; se ele é dirigido a destinatários (consumidores) também legítimos, ou seja, capazes de compreendê-lo e darlhe a importância devida. Algumas Implicações para a Comunicação Interpessoal A visão é importante pois permite enxergar o caráter das disputas simbólicas e de poder nas relações. Permite identificar estratégias de manipulação e de dominação interpessoais, coletivas e institucionais. Críticas à Visão de Bourdieu Reducionista. Enfoque centrado exclusivamente na questão da disputa de forças. A cultura aparece inteiramente reduzida às relações de poder. A Comunicação Efetiva como Relação de Amorosidade Segundo Baptista (2004), “a comunicação se efetiva onde há amorosidade.” A amorosidade precisa ser compreendida, não como “romantismo” ou “pieguice”, mas como um mecanismo da evolução humana. Amorosidade implica em: aceitação e convivência com o outro; reconhecimento das diferenças e limitações; esforço para compreender o outro. A Comunicação Efetiva como Relação de Amorosidade 5 MILHÕES DE ANOS 14.000 Emoções e comunicação não-verbal Comunicação oral (fala) Comunicação escrita Início da escrita (Sumérios) Primeiros hominídios (Australopithecus) Primeiras pinturas nas cavernas (Altamira) Primeiro livro impresso (Gutenberg) Telefone Rádio, TV Internet As emoções e a comunicação não-verbal são fundamentais para a comunicação: A comunicação não-verbal é essencialmente emocional. Alguns autores afirmam que mais de 60% da nossa comunicação é nãoverbal. Para se comunicar melhor é preciso compreender as emoções e a comunicação não-verbal!! Ilustração: Weil, P.; Tompakow, R. Relações humanas na família e no trabalho. Petrópolis: Vozes, 1994 "Dizem que nós, seres humanos, somos animais racionais. Nossa crença nessa afirmação, nos leva a menosprezar as emoções e a enaltecer a racionalidade..." "O amor é a emoção central na história evolutiva humana... o amor, a aceitação do outro como um legítimo outro na convivência, é uma condição necessária para o desenvolvimento físico, comportamental, psíquico, social e espiritual normal da criança, assim como para a conservação da saúde física, comportamental, psíquica,social e espiritual do adulto." (Humberto Maturana, biólogo, PhD de Harvard) “As interações recorrentes no amor ampliam e estabilizam a convivência; as interações recorrentes na agressão interferem e rompem a convivência... Por isso, a linguagem, como domínio de coordenações consensuais de conduta, não pode ter surgido na agressão, pois esta restringe a convivência.” (Humberto Maturana) Algumas Implicações para a Comunicação Interpessoal A confiança é essencial para a liderança e para o trabalho de equipe eficazes. (Robbins, 2005) As "técnicas de comunicação eficaz" tornam-se artificiais se não houver amorosidade. É fundamental haver consideração pelo outro, e estar aberto a ouvir. A valorização da diversidade ganha importância dentro dessa visão. Palavras são a principal ferramenta dos gestores. Por meio das palavras, os gestores podem: motivar as pessoas e construir relações positivas de trabalho; anular as pessoas e destruir relações de trabalho. A assimetria de poder, inerente à hierarquia organizacional, pode criar barreiras à comunicação autêntica com os subordinados. As barreiras ao diálogo podem ser agravadas por meio de: Discursos gerenciais vazios, repleto de jargões, modismos e receitas artificiais; Eufemismos e termos “politicamente corretos“, que ocultam a realidade e bloqueiam a reflexão; Fala autoritária, unidirecional, repleta de frases no imperativo e com pouca solicitação de feedback; Restrição da comunicação informal no ambiente de trabalho. Gestores devem evitar: Violência verbal e assédio moral. Cortar a palavra, desqualificar a fala dos subordinados com piadas, sarcasmo etc. Passar mensagens vagas e contraditórias sobre o que se deve fazer e depois cobrar resultados. Agredir verbalmente, humilhar subordinados. Descendente Horizontal Fluxos formais descendentes: objetivos, estratégias, instruções, comunicados etc. Fluxos formais horizontais: colaboração, comunicação intra e interdepartamental etc. Fluxos formais ascendentes: problemas, sugestões, relatórios etc. Fluxos informais: bate-papo, socialização, “cafezinho”, “rádio corredor” etc. Ascendente Os fluxos da comunicação nas organizações A Herança Comunicacional do Taylorismo Só a comunicação formal é importante. A comunicação na empresa é para fora dela e deve ser econômica, eficiente e eficaz. A comunicação informal é vista como fonte de insubordinação e descontrole, devendo ser controlada ou eliminada. Exemplos de "taylorização" nas comunicações: : Scripts de comunicação dos call-centers. Proibição do bate-papo na linha de produção. Controle e vigilância dos e-mails dos funcionários. Ausência de canais de comunicação com o consumidor. Bloqueio das comunicações que fogem à hierarquia e fluxos formais. A comunicação informal pode, de fato, ser prejudicial para a organização quando: Desrespeita hierarquias. Contribui para aumentar conflitos e incertezas. Dissemina boatos, informações falsas ou confidenciais. Esses problemas aumentam com a falta de diálogo com as lideranças nas organizações. A comunicação informal pode ser benéfica para a organização quando: Reduz ansiedade, ambiguidade, incerteza. Permite a tomada de decisão mais veloz. Ajuda a detectar problemas, resolver conflitos, criar inovações. Promove a integração, a socialização, o prazer no trabalho. Bibliografia Robbins, S. Comportamento organizacional. 11.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. Cap. 10