SALVADOR MINUCHIN
Abordagem da terapia familiar
estrutural
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Psicologia Clínica III
Prof.: Sérgio Spritzer
Grupo: Fernanda Stenert, Francéia, Franciane, Kleide, Liane, Lucas e
Luciano
INTRODUÇÃO
O presente trabalho pretende apresentar a terapia
familiar estrutural, sua origem, desdobramentos e
atualizações. O trabalho se divide em:
 Pequena biografia de Salvador Minuchin;
 Terapia estrutural: histórico
 Principais conceitos
 Críticas
 Terapia estrutural na atualidade
 Casos
BIOGRAFIA
•1921 – Nasce em 13 de Outubro. San Salvador – Entre
Rios.
Mais velho de 3 filhos (Imigrantes); cresce em uma
pequena e fortemente fechada comunidade judaica na
parte rural da Argentina.
•1929 – Próspero comerciante
Pobreza.
•No Segundo Grau – Ajudar jovens delinqüentes; Rousseau
(vítimas da sociedade)
•1940 – (18ª) - Facultad de Medicina de la Universidad de
Córdoba.
•1944 – Movimentos de Esquerda; Protestos para derrubar Juan
Perón – 3 meses na cadeia.
•1946 – Termina a Graduação, e inicia a Residência em Pediatria,
subárea psiquiatria.
BIOGRAFIA
1948 – Criação do Estado de Israel – Incorpora o
exército israelense no tratamento de jovens soldados.
•1950 – Ida aos Estado Unidos – Estudar Psiquiatria.
Bellevue Hospital, New York City e no Jewish Board of
Guardians (20 crianças). Treinamento psicanalítico, mas
que ele não sentia compatível com o trabalho com crianças.
•1951 – Casa com Patrícia Pittluck. Volta para Israel – 5
instituições residenciais (grupos, ao invés de indivíduos).
BIOGRAFIA
•1954 – 1958 – Instituto de Psicanálise William Alanson
White (NY). Harry Stack Sullivan – Psiquiatria Interação
Interpessoal.
Wiltwyck School for Boys – Praticando terapia familiar.
Ver a família, pois a sós a técnica de tratamento não parecia
efetiva.
•Trabalho em Grupo para desenvolver os princípios da
Terapia de Família. Jovens e suas famílias não eram muito
introspectivos, equipe de Minuchin foca na comunicação e
no comportamento. Desenvolvem uma forma de terapia
onde o terapeuta é muito ativo, como por exemplo, fazendo
sugestões e dirigindo atividades.
BIOGRAFIA
•1965 – Minuchin e família se mudam para
Filadélfia. Diretor da Psiquiatria do Children's
Hospital of Philadelphia; diretor do Philadelphia
Child Guidance Clinic, e professor de Psiquiatria
Infantil na Universidade da Pensilvânia - School of
Medicine. Trabalha com crianças com doenças
psicossomáticas – padrões familiares maladaptativos.
BIOGRAFIA
•1975 – Minuchin retira-se da posição de diretor da
Philadelphia Clinic. (Emérito – 1975 – 1981)
•1981 – Family Studies (NY)
•1983 – Sai da Universidade da Pensilvânia na Filadélfia e
entra na New York University School of Medicine como
professor pesquisador, onde sua esposa também ocupa o
mesmo cargo.
•1996 – Retira-se e se muda para Boston.
Palestras e escritos (muitos sobre os efeitos da pobreza e dos
sistemas sociais nas famílias)
HISTÓRICO
•60’s e 70’s – Pesquisa o mundo social em que as
famílias se inscrevem. Seu grupo trabalha com
comunidades, agencias de serviço social, e outras
instâncias do governo. Buscam entender a
dinâmica familiar.
•Ele busca as concepções de outros terapeutas familiares e
estudiosos das ciências sociais. Conhece a Teoria dos
Sistemas de Gregory Bateson (que um sistema é composto
por partes interdependentes que se afetam mutuamente.)
Com isso começa a explicar a dinâmica familiar. Nathan
Ackerman (analista infantil que olha os aspectos
interpessoais da unidade familiar, e a maneira como os
comportamentos dos indivíduos se relacionam com essa
unidade).
HISTÓRICO
•O seu modelo estrutural compreende a família como um
sistema que tende a defesa da sua estabilidade frente às
mudanças de condições e influências internas e externas quer favorecer a disfuncionalidade, mediante mecanismos
que mantém o sofrimento na família ou em alguns
membros. O restabelecimento das hierarquias, a
formulação de limites claros, a definição de papéis e
funções, e a dissolução de alianças ou triângulos são vistas
por ele como o fator que ajudaria a regressar a uma
estrutura familiar funcional. Ele busca alterar colisões e
alianças entre os membros da família para que eles
aprendam como os outros se sentem.
HISTÓRICO
•Junto com Jay Haley, Braulio Montalvo e
Bernice Rosman desenvolve um programa
de capacitação e treinamento para
terapeutas familiares. Já incluía sessões
supervisadas e gravações em vídeo das
sessões de terapia.
•Nos 60’s - Suas concepções sobre a importância
das estruturas e limites nos contextos familiares
aparecem no meio dos psicoterapeutas que
começam a tratar famílias, ao invés de indivíduos
separados.
OBRAS
•MINUCHIN, SALVADOR,"Familias y terapia familiar",Gedisa,
1979
•MINUCHIN, SALVADOR y y FISHMAN, H. CHARLES,"Técnicas
de terapia familiar", Paidos, 1984
•MINUCHIN, SALVADOR,"Caleidoscopio familiar: imágenes de
violencia y curación", Paidos, 1985
•MINUCHIN, SALVADOR y NICHOLS, MICHAEL P."La
recuperación de la familia: Relatos de esperanza y renovación",
Paidos, 1994
•MINUCHIN, SALVADOR,"El arte de la terapia familiar", Paidos,
1998
•MINUCHIN, PATRICIA, COLAPINTO, JORGE y MINUCHIN,
SALVADOR, "Pobreza, institución y familia", Amorrortu, 2000
PRINCIPAIS CONCEITOS
Estrutura:
Arranjo específico dos termos de um sistema e
subsistemas que tende a se manter ao longo do
tempo; pode ser mutável ou fixa.
Sistema:
Conjunto de elementos que estabelecem algum tipo
de relação entre si, formando um todo integrado e
definível por uma meta.
Família
Sistema humano aberto cuja estrutura, mais ou menos
flexível, pode ser compreendida como um arranjo de
funções específicas ocupadas pelos indivíduos que o
compõe, formando, de acordo com as funções, diferentes
subsistemas: Pai-Mãe; Filho-Filha; Irmão-Irmã; MaridoEsposa. A dinâmica na estrutura familiar se manifesta
através de relações de poder hierárquico que se configuram
entre os indivíduos em suas funções específicas e entre
subsistemas inteiros. Há diferentes níveis de delimitação de
subsistemas (emaranhamento, semi-difuso, permeável e
rígido) bem como diferentes arranjos da hierarquia de
poder.
Objetivo
Uma família é considerada disfuncional à
medida em que tem sua capacidade de lidar com
estressores externos anulada ou severamente
diminuída. Nesses casos, é necessário um
rearranjamento estrutural que permita ao sistema
familiar se adaptar novamente aos eventos e
continuar a buscar sua meta adequeadamente.
Promover tal mudança estrutural que permita o
restabelecimento da funcionalidade do sistema é o
objetivo da terapia de família.
Método
Busca-se, através de intervenções sobre os
diversos subsistemas, explicitar à família os
padrões disfuncionais (subsistemas mistos,
coalisões, hierarquias inadequadas) em operação
no sistema e estimular a sua transformação e
conseqüente reestruturação.
Técnicas de Terapia Familiar
(Minuchin & Fishman, 1990)
Espontaneidade
Deve-se dominar a técnica, para depois esquecê-la;
O terapeuta tem que ser parte do sistema de pessoas
interdependentes
(família).
Deve
responder
às
circunstâncias de acordo com as regras do sistema. Ou seja,
ele deve observar e tentar adotar um “jeito” que se conecte
com o estilo da família. Assim, ele se sente fazendo parte do
sistema, assim como é reconhecido como tal pelos membros
da família;
A espontaneidade do terapeuta é limitada pelo contexto da
terapia. O terapeuta está dentro do campo, o qual observa e
influencia. Portanto, suas ações são fruto do seu vínculo
com a família
Famílias
A família é como um organismo: um sistema complexo
formado por subsistemas, os quais são formados por
indivíduos ou por mais pessoas, que se agrupam por
geração, sexo, função, etc. Cada indivíduo pertence a
diferentes
subsistemas,
conforme
os
papéis
desempenhados;
Cada família desenvolve seus padrões de interação. Os
membros individuais sabem, em diferentes níveis de
consciência, as regras de funcionamento. Quando algum
dos membros sai do preestabelecido, desequilibrando o
sistema, surgem reivindicações de lealdade familiar e
sentimentos de culpa;
Famílias
Segurança X Restrição de Liberdade
A família saudável não tem uma estrutura rígida,
sendo flexível para se ajustar às novas exigências de
desenvolvimento de seus membros.
Um dos objetivos do terapeuta é incentivar essa
flexibilidade, mostrando novas possibilidades.
As famílias são sistemas multi-individuais
complexos, mas também são subsistemas de unidades
mais amplas, como a família extensa, a vizinhança,
etc.
Coparticipação
O terapeuta deve coparticipar da família. Porém, deve tomar
a posição de liderança.
Um coterapeuta pode ajudar nesse processo.
Posição de Proximidade: o terapeuta pode se associar com
membros da família, até entrando em coalização com outros.
Posição Mediana: o terapeuta coparticipa como um ouvinte
ativo, que se supõe neutro.
Posição Distante: o terapeuta usa sua posição de especialista.
Funciona como um diretor, não um ator.
Planejamento
A estrutura familiar nunca é logo mostrada
para o terapeuta, que só pode conhecê-la bem no
processo de coparticipação.
O terapeuta deve estar pronto para, se
necessário, descartar as hipóteses iniciais a
respeito da família e reformular o planejamento
do tratamento.
Mudança
O terapeuta desestabiliza a homestose existente na
família, criando crises que levam a uma melhor
reorganização para o seu funcionamento.
3 estratégias principais da terapia estrutural: desafiar o
sintoma, desafiar a estrutura da família e desafiar a
realidade familiar.
Desafiar o sintoma:
• A família identifica um de seus membros como o
problema.
• Na verdade, o problema são certo padrões de interação da
família.
• O sintoma é uma solução protetora: o portador do sintoma
se sacrifica para defender a homeostase familiar.
Mudança
• A tarefa do terapeuta é desafiar a definição do problema e a
resposta pensadas pela família.
• Esse desafio pode ser direto ou indireto.
• O objetivo é modificar a concepção que a família tem do
problema, levando os membros a pensarem respostas
alternativas de comportamento, afetivas e cognitivas.
• Técnicas: dramatização, focalização e aumento da
intensidade.
Desafiar a estrutura familiar:
 Observar e intervir em díades ou subsistemas que estejam
muito próximos ou muito distantes.
 Sentimento de Pertencimento X Busca de Autonomia
 Técnicas: fixação de fronteiras, desequilíbrio e o ensino da
complementaridade
Mudança
Desafiar a realidade familiar:
 Questionar as concepções que os membros da
família foram criando ao longo do tempo, que
podem ser percepções restritas da realidade.
 O terapeuta recebe o que a família apresenta,
interpreta as informações e devolve à família uma
realidade diferente, com novas possibilidades. Isso
permite que os membros tenham uma nova visão de
si e dos outros.
 Técnicas: constructos cognitivos, intervenções
paradoxais e ênfase nos lados fortes da família.
Reenquadramento
Inicialmente, a família apresenta ao terapeuta seu
enquadramento do problema e sua solução
já
enquadrada. Mas o enquadramento do terapeuta será
diferente.
O terapeuta deve convencer a família de que o mapa da
realidade pode ser ampliado ou mudado.
As técnicas de dramatização, focalização e obtenção de
intensidade são importantes para apoiar a experiência de
uma realidade terapêutica nova, onde o sintoma e a
posição do portador são desafiados.
Dramatização
O terapeuta pede que a família contrua um cenário onde
interações disfuncionais em torno de membros da família
apareçam.
A encenação seria mais “verídica” que o relato da família.
O terapeuta pode intervir no processo, introduzindo
explorações experiementais que introduzirão novas
informações sobre a natureza do problema e novas
possibilidades de resolução.
A dramatização inicia o questionamento da idéia da família
sobre o problema, já que com a encenação a unidade de
observação e intervenção se amplia.
Dramatização
A dramatização pode ser considerada uma dança em três
movimentos:
 1º movimento: o terapeuta observa as interações
espontâneas da família e decide quais áreas disfuncionais
irá enfocar.
 2º movimento: o terapeuta organiza seqüências cênicas
onde os membros da família dramatizam suas interações
disfuncionais na sua frente.
3º movimento: o terapeuta sugere modos alternativos
de interação.
Focalização
O terapeuta deve desenvolver
explorando uma área profundamente
um
tema,
O terapeuta destaca os temas que a seu ver são de
alta prioridade, o que muitas vezes faz com que a
família mude de idéia sobre o que é importante
Exemplo: enfocar nos aspectos positivos de uma
família que é vista apenas pelos seus aspectos
negativos, pela escola, serviço social...
Intensidade
A intensidade da mensagem do terapeuta deve ser
suficiente para que a família “ouça”.
Uma mensagem terapêutica deve ser “reconhecida”
pelos membros da família, encoranjando-os a
experienciar coisas de maneiras novas.
Técnicas para o terapeuta fazer-se ouvir:
Repetição da mensagem: repetir a mensagem
muitas vezes no curso da terapia.
Intensidade
 Repetição de transações isomórficas: repetição de
mensagens que aparentemente são diferentes, mas que na
verdade
são
dirigidas
a
padrões
isomórficos
(equivalentes/estruturas).
Exemplo:
incentivar
a
independência
dos
membros
de
uma
díade
excessivamente unida com mensagens com conteúdos
aparentemente diferentes.
 Mudança da distância: mudar a distância mantida
automaticamente pode produzir uma mudança no grau de
atenção da mensagem terapêutica. Ex.: falar com uma
criança pequena se abaixando e tocando nela.
 Resistência à pressão da família: resistindo à indução
do sistema, o terapeuta traz intensidade para a terapia.
Reestruturação
 Experiência de pertencer - característica de todas as
interações familiares- as famílias podem ter uma pertinência
excessiva – dificuldades em tornarem-se independentes;
 Terapeuta - terá que interferir nessas interações demasiado
harmônicas diferenciando e delineando as fronteiras dos
subsistemas familiares para dar lugar à flexibilidade e
crescimento;
 Desafiar “como as coisas são feitas” na famíllia;
 3 técnicas que desafiam a estrutura do subsistema da
família : Fronteiras, desequilíbrio e complementariedade
Fronteiras
Regulação da permeabilidade das fronteiras separando
subsistemas;
Participação no contexto específico de um subsistema
específico - requer respostas específicas para esse contexto;
Técnicas de fixação de fronteiras:
 Distância psicológica- observação da família na clínicamapa experimental de quem é próximo de quem, quais são as
alianças, as colizões e díades ou tríades excessivamente
envolvidas e quais padrões expressam e apóiam a estrutura;
 Regra de ninguém falar pelo outro; criar subsistemas com
tarefas diferentes; manobras espaciais concretas para mudar a
proximidade entre os membros da família;
 Duração da interação - prolongar um processo pode ser
utilizado para demarcar subsistemas ou para separá-los;
tarefas para casa.
Desequilíbrio
Objetivo - mudar as relações hierárquicas dos membros de um
subsistema - mudança na perspectiva dos mesmos em relação ao que é
permitido nas transações entre os membros;
3 categorias de técnicas de desequilíbrio:
• Aliança com membros da família (para mudar sua posição hierárquica na
família ou aliança alternada, com subsistemas em conflito, a qual pode
resultar em uma mudança nos padrões hierárquicos da família);
• Ignorar membros da família (os membros da família que são ignorados
sentem-se desafiados em seu direito mais essencial, o direito de serem
reconhecidos - realinha hierarquias familiares);
 Entrar em coalizão com alguns membros da família contra outros
(terapeuta participa como membro de uma coalizão contra um ou mais
membros da família).
Problemas:
 Ético –injustiças, terapeuta apoia um membro;
Demandas pessoais feitas ao terapeuta - proximidade, participação e
compromisso temporário com um subsistema da família às custas de
outros;
Complementariedade
Objetivo - ajudar os membros da família a experienciar o
seu pertencimento a uma entidade que é mais ampla que o
self individual;
Mudar a relação hierárquica entre os membros da família,
se questiona a noção inteira de hierarquia;
3 aspectos de desafio do terapeuta:
• Desafiar o problema (sobre a certeza da família de que há
um paciente identificado);
•Desafiar a noção linear de que um membro da família está
controlando o sistema, quando na verdade cada um dos
membros serve de contexto aos demais;
•Desafiar o modo em que a família pontua os eventos,
introduzindo um marco temporal maior, que ensina aos
membros da família a verem seu comportamento como parte
de um todo mais amplo.
Realidades
Conjunto de esquemas cognitivos que legitimam
ou validam a organização familiar;
Qualquer mudança na estrutura familiar mudará a
concepção do mundo da família e qualquer
mudança na concepção do mundo será seguida pela
mudança na estrutura familiar, incluindo mudança
no uso do sintoma para manter a organização
familiar.
Construções
Construção da realidade - modelos explanatórios fixos- este
esquema pode e deve ser questionado e modificado - novas
modalidades de transação familiar;
 3 técnicas para mudar a realidade da família:
• Utilização de símbolos universais (intervenções apoiadas
por uma instituição ou consenso mais amplos do que a
família);
• Verdades familiares (expandir seu funcionamento- utiliza
da própria cultura da família, usando-a como construção para
uma nova realidade);
• Conselho profissional (explicação diferente da realidade da
família baseada em sua experiência, conhecimento ou
sabedoria).
Paradoxos
Ferramenta clínica - lidar com a resistência à mudança e
evitar uma luta pelo poder entre a família e o terapeuta;
Intervenções diretas ou baseadas nas concordâncias
(conselhos, sugestões, interpretações e tarefas – objetivo é
modificar de maneira direta regras ou papéis da família);
Ou paradoxais ou baseadas no desafio (é aquela que se
seguida, cumprirá o oposto do que aparentemente parece
pretender - seu êxito depende do desafio da famílias às
instruções do terapeuta ou que obedeça a elas ao ponto do
absurdo e do retrocesso);
Paradoxos são construções cognitivas que frustram ou
confudem os membros da família, levando-os a buscar
alternativas.
Forças
Cada família tem elementos na sua própria
cultura que, se entendidos e utilizados, podem
tornar-se alavancas que permitem atualizar e
ampliar o repertório comportamental de seus
membros;
Crença de que a família como um organismo tem
potencial para um funcionamento mais complexo
do que
aquele que está apresentando no
momento.
CRÍTICAS
(Ponciano & Ferés-Carneiro, 2003)
DIFERENÇAS ENTRE TERAPIA SISTÊMICA
ESTRUTURAL E OUTROS TIPOS DE TERAPIA DE
FAMÍLIA
Enfoque sistêmico - mudança no sistema familiar,
reorganização da comunicação entre os membros da família;
 Foco de atenção - modo comunicacional no momento atual;
 Terapia Sistêmica Estrutural - Salvador Minuchin;
Terapia Sistêmica estratégica - Jay Haley, Jackson, Bateson,
Weakland e Watzlawick;
Terapia Sistêmica da Escola de Milão -Mara Selvini
Palazzoli, Boscolo, Ceccin e Prata;
Terapia sistêmica da escola construtivista;
Terapia de família enfoque psicanalítico.
CRÍTICAS
Terapia de família – necessidade de posicionar-se de
modos diferentes em relação à configuração familiar,
constituindo o contexto da intervenção terapêutica em
estreita relação com as transformações histórico-sociais;
 Sociedade tradicional - presença inquestionável de uma
ordem estabelecida, não existiam poderes especializados
externos a essas relações que ditassem as normas do
comportamento: os papéis eram definidos “desde sempre”.
As relações extensas faziam parte das relações familiares.
CRÍTICAS
 Modernidade-
modelo nuclear - família - domínio da
intimidade e proteção de seus membros, transmissão da
cultura, tensões no interior da família;
Terapia sistêmica estrutural - surge neste período trazendo
em sua teoria a influência da família nuclear que é um modelo
construído na história da sociedade ocidental moderna e o
modelo de intervenção do especialista.
 O questionamento desse modelo surge a partir de questões
levantadas com o pós-estruturalismo e o movimento pósmoderno tornando visível outros tipos de configurações
familiares e relações com o saber, onde a família tende a ser
pautada na idéia da diversidade e da ausência de um
parâmetro norteador único.
TERAPIA ESTRUTURAL NA
ATUALIDADE
 Terapia estrutural – técnicas de 1974 –
modificações;
 Evolução nos últimos 30 anos;
 Terapeutas familiares na década de 70- estilo
confrontacional;
 Evolução conceitual – de um foco quase exclusivo
nas interações interpessoais para uma consideração
das perspectivas cognitivas que orientam essas
interações e as raízes passadas dessas perspectivas.
(Nichols & Schwartz, 2007)
CASO 1
(Nichols & Schwartz, 2007)
Família MacLean
A família buscou ajuda por causa de uma criança “incontrolável”,
que fora expulso de duas escolas. Dr. Minuchin descobriu uma
cisão encoberta entre os pais, mantida em equilíbrio por não ser
mencionada. O mau comportamento do menino de 10 anos era
muito visível: o pai teve de arrastá-lo, com ele chutando e berrando,
para dentro do consultório. Enquanto isso, seu irmão de 7 anos
permanecia sentado tranquilamente, sorrindo.
A fim de ampliar o foco do “filho impossível” para questões de
controle e cooperação parental, Minuchin perguntou sobre o filho
de 7 anos, Kevin, o qual se comportava mal de forma velada. Ele
urinava no chão do banheiro. Segundo o pai, Kevin urinava no
chão do banheiro por “desatenção”. A mãe riu quando Minuchin
comentou: “Ninguém pode ter uma mira assim tão ruim”.
CASO
Minuchin falou com o menino sobre como os lobos marcam
seu território e sugeriu que expandisse seu território
urinando nos 4 cantos da sala de estar da família.
Minuchin: Vocês têm um cachorro?
Kevin: Não
Minuchin: Oh, então você é o cachorro da família.
No processo de discutir sobre o menino que urinava e a
reação dos pais – Minuchin dramatizou como os pais se
polarizavam:
Minuchin: Por que ele faria uma coisa dessas?
Pai: Eu não sei se ele fez de propósito.
Minuchin:Talvez ele estivesse em transe?
Pai:Não, acho qu ele foi descuidado.
Minuchin: A mira dele é realmente terrível.
CASO
O pai descreveu o comportamento do filho como acidental; a
mãe o considerava desafiador. Uma das razões pelas quais os
pais passam a ser controlados pelos filhos pequenos é que
evitam confrontar suas diferenças. Diferenças são normais,
mas tornam-se prejudiciais quando um dos pais solapa o
manejo do outro em relação aos filhos.
A pressão gentil, mas insistente, de Minuchin sobre o casal
para que conversassem sobre como reagiam, sem mudar o
foco para como os filhos se comportavam, fez com que ele
desenterrassem ressentimentos muito antigos, mas raramente
mencionados.
Mãe: Bob desculpa o comportamento das crianças porque não
quer se envolver e me ajudar a encontrar uma solução para o
problemas.
CASO
Pai: Sim, mas quando eu tentei ajudar, você sempre me
criticou. Então, depois de um tempo, eu desisti.
O conflito dos cônjuges torna-se visível. Minuchin protegeu
os pais da vergonha ( e os filhos de ficaram sobrecarregados)
pedindo às crianças que saíssem da sala. Sem a preocupação
de agirem como os pais, os cônjuges puderam se enfrentar,
homem e mulher – e conversar sobre suas magóas e
ressentimentos. O que apareceu foi uma triste história de
desligamento solitário.
Minuchin: Vocês dois tem áreas em que concordam?
Ele disse que sim; ela, que não.
Minuchin: Quando foi que você se divorciou de Bob e se casou
com as crianças?
Ela se manteve em silêncio; ele olhou para o teto. Ela disse,
baixinho: “Provavelmente dez anos atrás”.
CASO
O que se seguiu foi uma história dolorosa, mas conhecida, de
como um casamento pode afundar na paternidade e em seus
conflitos. O conflito jamais era resolvido porque nunca
aflorava à superfície. Assim, a brecha nunca se fechava.
Com a ajuda de Minuchin, o casal se revezou falando sobre
seu sofrimento – e aprendeu a escutar. Ao criar desequílibrio,
Minuchin criou uma imensa pressão para ajudar esse casal a
resolver suas diferenças, se abrir um para o outro, lutar por
aquilo que queriam e, finalmente, começar a se aproximar –
como marido e mulher, e como pais.
CASO
O que se seguiu foi uma história dolorosa, mas conhecida, de
como um casamento pode afundar na paternidade e em seus
conflitos. O conflito jamais era resolvido porque nunca
aflorava à superfície. Assim, a brecha nunca se fechava.
Com a ajuda de Minuchin, o casal se revezou falando sobre
seu sofrimento – e aprendeu a escutar. Ao criar desequílibrio,
Minuchin criou uma imensa pressão para ajudar esse casal a
resolver suas diferenças, se abrir um para o outro, lutar por
aquilo que queriam e, finalmente, começar a se aproximar –
como marido e mulher, e como pais.
CASO 2
(Elkaïm, 1998)
A famíla Robin traz seus 3 filhos. Pierre, de 18 anos, está 3
anos atrasados nos seus estudos de grau secundário. Ele é o
filho mais velho, ostenta uma atitude irônica e desdenhosa
diante de seus pais, que descrevem com desânimo a sucessão
de seus fracassos escolares. Bertrand, de 14, é um aluno
“sofrível”, mas estuda. Apesar de seus 15 anos, Claire
aparenta ser ainda mais jovem, do que sua idade, apresentada
como “não tendo problemas”, ela se cala. O pai descreve
longamente a situação (falta de compreensão no conjunto da
família, mediocridade da situação escolar de Pierre). Sua
mulher e filhos trocam olhares coniventes, riem e cochicham,
sem que ele pareça se aperceber disso. Em seguida, Pierre
toma a palavra, falando sobre criação de filhos.
CASO
Toda troca espontânea passa pela mãe, como também ela é a
única que é escutada de maneira real e atenta, mesmo apesar
do fato de nem sempre suas propostas ou queixas serem
aceitas pelos outros. Os filhos dirigem-se mais à mãe do que
ao pai, e este sempre responde às interpelações daqueles
dirigindo o olhar à esposa. A sra. Robin, aliás, declara-se
cansada de carregar sobre suas costas todo o peso psicológico
e material (tarefas domésticas) dos “quatro filhos”. Estrutura
familiar: a) o poder parece estar dividido entre a mãe e
Pierre;
b)Rotulação dos pais; c) existem alianças entre a mãe e os
filhos que formam uma coalizão dirigida contra o pai, em
relação a ela; d)os papéis parecem estar enrijecidos.
CASO
Nesta família, as fronteiras dos subsistemas estão difusas. As
fronteiras individuais são pouco respeitadas, mostrando uma
estrutura familiar do tipo enredado. Claire tem uma relação
quase fusional com sua mãe, ela não guarda nenhum segredo
de sua mãe, mantem-se cuidadosamente fora do caminho de
seus irmãos: acusa Pierre de entrar em seu quarto, quando ela
está ausente. E os pais não tem nenhuma intimidade em sua
vida de casal: os filhos atravessam sempre os aposentos dos
pais para ir ao banheiro familiar, “ignorando” uma outra
porta que leva diretamente ao banheiro – porta que os pais
obstruíram com uma cômoda. Vão também ao quarto dos
pais assistir tv, mesmo havendo vários televisores na casa. O
sr. e sra. Robin dizem que sua vida sexual é insatisfatória,
pois seu quarto nunca lhes pertenceu.
CASO
Algumas tarefas foram propostas à família,
como uma saída de Claire com seu pai, uma
discussão de Pierre com seus pais, e no final
duas saídas para o casal.
O sr. Robin se permitiu adquirir certa forma de
credibilidade, consolidada pelo apoio de sua
esposa.
REFERÊNCIAS
Elkaïm, M. (1998). Panorama das terapias Familiares. Vol 1. São Paulo: Summus.
Gonçalves, N. T. (1996). Ouvindo nossos mestres: integrando teorias e técnicas. In: PRADO LC
(org.) Famílias e terapeutas: construindo caminhos. Porto Alegre: Artes Médicas.
Minuchin, S., & Fishman, H. C. (1990). Técnicas de Terapia Familiar. Porto Alegre: Artes Médicas.
Minuchin, S., & Nichols, M. P. (1995). A Cura da Família: histórias de esperança e renovação
contadas pela terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas.
Nichols, M. P., & Schwartz, R. C. (2007) Terapia Familiar Estrutural. In: Nichols,
M. P. &
Schwartz, R. C. Terapia Familiar: Conceitos e Métodos (pp. 181-201). Porto Alegre: Artmed.
Peñalva, C. (2001). Evaluación Del Funcionamiento Familiar por medio de la “Entrevista
Estructural”. Salud Mental, 24 (2), 32-42.
Ponciano, E. L.T., & Ferés-Carneiro, T. (2003). Modelos de família e intervenção terapêutica.
Interações. [online], 8 (16), 57-80. Disponível na World Wide Web: <http://pepsic.bvspsi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413 29072003000200004&lng=pt&nrm=iso>.
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