AQUILO QUE HABITA EM MIM Em um instante nos encontramos olhando para o trabalho do artista, na busca de algo que satisfaça a razão. Mas não conseguimos fechar um raciocínio, ele não nos leva a um lugar determinado, não nos propõem certezas nem respostas. Ficamos olhando, e continuamos, por que sua poesia, leveza e forma tranqüila de dialogar usando poucas mas contundentes palavras, nos apreendeu. Esse sentimento nos persegue pelo espaço expositivo, é assim que trabalha Leonardo Ramadinha, procurando esvaziar de sentidos suas imagens na tentativa de tocarmos em algo mais primitivo e natural, algo universal, simples. As imagens nessa mostra falam daquilo que habita o artista Ramadinha, e acabamos nos vendo espelhados, cheios de pontos de congruência com o autor. Imagens capturadas em um espaço de dez anos, aleatórias, aparentemente desconexas e sem finalidade alguma. Esse processo livre, intimo e afetuoso do artista com suas imagens é que faz delas um registro mais profundo de quem ele é. Incrível notarmos que possuímos os mesmos sentimentos que o autor, nos conectamos com coisas similares do mundo, da natureza do etéreo, e por isso nos flagramos olhando mais tempo para uma ou outra imagem, apreendidos nesse labirinto de uma década de construção. Ramadinha apresenta uma série de situações lúdicas esvaziadas de sentido e objetivos palpáveis, ele na verdade nos faz passear pela complexidade de sua existência, sinalizando para diversos caminhos e possibilidades, mas nunca determinando aquilo que devemos ver ou sentir, cada observador de suas imagens levará para casa sua particular e única impressão de quem é, e como é, o artista. A fotografia é comumente confundida como algo que explica e determina algo, muitos de nós procuramos sentido quando apreciamos uma imagem fotográfica. Nas imagens do artista, o que observamos é um desnudamento, lento, gradativo e generoso. Uma conversa afetuosa onde a poesia ocupa os espaços, preenche nossas retinas, sem procurar definir nada, somente sugerir caminhos que possamos adentrar, ou não, seguindo nossas próprias vivências, conectando-nos com a abrangência de seu projeto autoral. Esse trabalho de captura e seleção de imagens em um período de tempo expandido, demostra como o artista procura gradativamente ir depurando sua produção na busca de um sentido poético mais profundo. Interessante observar que o caminho que o artista escolhe é justamente o da simplicidade e leveza. Não vemos em seu trabalho imagens de grande malabarismo técnico, ele não se preocupa em arrancar o ar de nossos pulmões com visões magnificas, ao contrario, seu trabalho leve e sutil nos conquista com o tempo, ficamos olhando essas imagens e vamos gradativamente nos colocando dentro de seus devaneios, em um processo de transferencia e assimilação, construindo, cada um de nós, nossos próprios relatos ficcionais daquilo que acreditamos habitar o artista. Entrando em contato com a produção de Ramadinha nos contaminamos por completo devido ao reconhecimento da universalidade de sua poética. Nos flagramos observando suas obras como se tivéssemos frente a um espelho, uma experiência de pertencimento, tornando o contato com seu trabalho uma vivência mais íntima e intensa. Marco Antonio Portela Curador Leonardo Ramadinha - www.ramadinha.com.br - Rio de Janeiro, Brasil WHAT LIVES WITHIN ME We may look at the work of an artist in search of something that satisfies our reason and our minds. But in the work of Leonardo Ramadinha, this search does not take us on a journey to any specific destination. It proposes no certainties and gives no answers. The poetry and light of the work, its understated dialogue, using only a few powerful words, attract us and stay with us throughout the exhibition space. Ramadinha’s work strips images of their meanings and reaches us on a much more primitive, simple and natural level, deep within us. The images in this exhibition reflects what lives within Ramadinha and within ourselves. In the works on display, we can find mirror images of ourselves and countless points of congruence with the artist. These images have been produced over a period of ten years, on a random and apparently unconnected basis. This free and intimate form of working is what transforms them into a more profound record of who the artist is. We can notice that we share the same feelings as the author and are connected to similar things in the world, in nature and beyond. We may find ourselves each gazing longer at particular photographs, caught in this labyrinth of images. Ramadinha presents a series of playful situations, stripped of meaning, and of tangible objects that speak of the complexity of existence, pointing to various journeys and possibilities, while at the same time never establishing what we ought to see or what we ought to feel. Every observer of his images will form their own unique impressions and carry these with them. Photography is often mistakenly viewed as something that explains and determines to the viewer. Many of us look for meaning when we look at a photographic image. However, in the images of Ramadinha, what we can observe is a gradual, slow and generous process of stripping bare. The result is a dialogue that is full of feeling, in which poetry occupies the spaces and fills our retinas without defining anything, rather only suggesting paths that we can try as we choose, connecting us with the full scope of his vision. As in a word game, images placed side by side produce meanings and generate poetic compositions and montages, all based on the relationships between the different elements and on the connections suggested by the artist. Together, these relationships and links create a stunning visual poetry. The way that Ramadinha captures and selects his images over an extended period of time reflects the artist’s desire to gradually refine his production and to create deeper poetic meanings. It is striking that the artist has chosen to follow above all the need for simplicity and lightness. His images do not show off technical virtuosity or strive for grandstanding effects. Rather, his photography is above all subtle and light. The images appeal to us over time, captivating us slowly with their sense of fantasy, teasing us into each creating our own stories to make sense of the world of the artist, and of our own world. When we enter into the world of Ramadinha, we become fully immersed in this poetical universe. We look at his photographs as if we were standing in front of a mirror. We recognize that we belong here, making our contact with his work an experience that is at the same time both more intimate and more intense. Marco Antonio Portela Curator Leonardo Ramadinha - www.ramadinha.com.br - Rio de Janeiro, Brasil