Situação e Fundamentação da Ética em Karl-Otto Apel Situation and Fundamentation of Ethics In Karl-Otto Apel Francisco Brandão Aguiar1 Luis Alexandre Dias do Carmo2 Resumo: Neste artigo analisaremos o projeto de fundamentação da ética a partir de Karl-Otto Apel, que ele denomina de fundamentação pragmáticatranscendental. Apel tem como ponto de partida de sua reflexão prática filosófica o atual momento de domínio cientificista, e o desafio de fundamentação de uma ética que possa abarcar os problemas e os conflitos que em nossa era se caracterizam por seu alcance global. Temos a pretensão a partir do pensamento de Apel de demonstrar que a contemporaneidade é marcada por um paradoxo no qual por um lado, existe a necessidade de fundamentação de uma ética universal e por outro lado, a ciência em sua época intitula a impossibilidade de fundamentação de normas morais universais, pois a ciência requer para a ética a mesma objetividade das ciências empírico-analíticas. Abordaremos o modelo pragmático-transcendental de fundamentação que é feito pela prova indireta, ou seja, por argumentos que não podem ser negados sem que haja uma autocontradição e se afirmam na reflexão que concebe a razão como procedimento, a linguística e a comunicação como substrato último daquele que indaga na busca de um consenso universal operado pelo diálogo. Conclui-se que, o modelo pragmático transcendental, traz o denominado princípio de transubjetividade, que visa transcender os interesses particulares, em favor da defesa e da representação argumentativa de interesses coletivos, na busca de um consenso dialógico acerca das exigências de todos os concernidos, visando uma ética universal que possa ter um alcance global. Palavras-chave: Ética do discurso. Pragmática transcendental. Karl-Otto Apel. Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Desenvolve pesquisas sobre o pensamento de Karl-Otto Apel na área de Ética, Filosofia Política e Social. Email: [email protected] 2 Em Estagio Pós-doutoral em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do Curso de Mestrado Acadêmico da Universidade Estadual do Ceará. Email: [email protected] 1 AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 130 Abstract : In this article, we analyze Karl-Otto Apel’s ethical foundation project, which he calls the transcendental-pragmatic foundation. Apel has as a starting point of his practical relfection the current situation of scientistic domain, and the challenge of reasoning of an ethics that can embrace the problems and the conflicts that in our era is characterized by its global reach. Based on Apel’s ideas, our claim is to demonstrate that contemporaneity is marked by a paradox in which, on one hand, there is a need to state reasons for an universal ethics and, on the other hand, science in its time entitles the impossibility of founding moral universal standards, for it requires the same objectivity of empirical-analytical sciences. The pragmatictranscendental model of reasoning is approached and made by indirect proof, that is, by arguments that cannot be denied without self-contradiction and that state the relfection that conceives reason as procedure, language and communication as final substract of that who inquires on the search of an universal consensus operated by dialogue. In conclusion, the transcendental pragmatic model brings the so-called principal of transubjectivity, that aims to transcend particular interests in favour of the defense and argumentative representation of collective interests, in the quest for a dialogical consensus on the requirements of all concerned, aiming at an universal ethics that can have a global reach. Keywords: Ethics speech. Transcendental pragmatic. Karl-Otto Apel. INTRODUÇÃO O artigo mostra o projeto de fundamentação da ética a partir de Karl-Otto Apel3, que ele irá chamar de modelo de fundamentação pragmático-transcendental. Sendo que Apel (1991, p.09), tem como ponto de partida de sua reflexão prática filosófica o atual momento de domínio cientificista, e a necessidade de fundamentação de uma ética que possa abarcar os problemas e conflitos que em nossa era se caracterizam por seu alcance global. Neste sentido, segundo Apel, há uma necessidade de fundamentação de uma ética universal que trate a humanidade enquanto um todo. Com base nas considerações acima Apel propõe criar um projeto de fundamentação de uma ética discursiva, de cooperação solidária entre os indivíduos, orientada na criação de normas morais e jurídicas suscetíveis de Filósofo alemão e professor emérito da Johan Wolfgang Goethe-Universitätde Frankfurt am Main. Licenciado em Bonne doutor em filosofia em Mogúncia, em 1960. Foi professor em Kiel (1962-1969), Saarbrücken (1969-1972) e na Johann Wolfgang Goethe-Universität, (1972-1990). Tornou-se um dos teóricos mais influentes da Escola de Frankfurt, após a morte de Adorno, no final da década de 1960. Crítico do cientificismo positivista por considerá-lo redutor da razão, na linha defendida pelos frankfurtianos, Apel elaborou trabalhos sobre a ética comunicativa e se assume como um dos restauradores da filosofia prática. O trabalho de Apel incorpora elementos tanto da Filosofia analítica como do pragmatismo e da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt. 3 AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 131 consenso por meio do discurso argumentativo. Trata-se, portanto, pela primeira vez na história da humanidade, que os homens venham assumir uma responsabilidade solidária, pelas consequências, de suas ações em nível mundial de forma coletiva. As perguntas da pesquisa formuladas são: Qual a real situação da ética na era da ciência? Como é possível a introdução de um modelo ético racional? Quais as características e os métodos próprios desse novo tipo de pensamento? A partir de que critério Apel fundamentará a ética do discurso e como é possível tal fundamentação? Primeiramente será apresentada a tarefa de fundamentação de uma ética de alcance universal, em tempos tão permeados por uma racionalidade científica, relativista e objetiva. Estar-se diante de um desafio que se põe como um problema ético, ou seja, é preciso devolver ao homem a reflexão pela responsabilidade de suas ações que foi perdida com o desenvolvimento da técnica e da produção armamentista. É a partir desta situação que Apel propõe a necessidade de fundamentação de uma ética. Buscaremos mostrar de qual contexto histórico parte Apel e qual seu modelo de fundamentação. Neste artigo aborda-se ainda, o paradoxo ético, que por um lado traz a necessidade de uma ética universal de responsabilidade solidária, que seja fundamentada racionalmente e, por outro lado, por meio do diagnóstico que Apel faz acerca das correntes éticas do pensamento contemporâneo, traz a impossibilidade filosófica de fundamentação racional de uma ética universal. (APEL, 1994, p.71-72) Quanto à terceira e última abordagem do trabalho, será apresentada a fundamentação da ética e o método da sua prova. Assim, Apel (2000, p.370-371) propõe um modelo de fundamentação que ele irá chamar de pragmático transcendental, o qual não será um modelo de fundamentação lógico-dedutivo a partir de premissas válidas (conclusões baseadas em premissas válidas), mas, com base numa fundamentação a partir da prova indireta. Neste sentido, o modelo pragmático transcendental será explicitado como uma análise reflexiva, que concebe a razão como procedimento, a linguagem e a comunicação como substrato último daquele que indaga na busca de um consenso universal operado pelo diálogo. AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 132 O DESAFIO ÉTICO A crítica analítica teve uma grande ascensão durante a reviravolta linguística, reduzindo drasticamente o espaço da filosofia em detrimento dos procedimentos empírico/analíticos. Somente o conhecimento científico obteve o crédito de consistência lógica, portanto só este tipo de conhecimento poderia ser dito sensato. A sociedade tornou-se a sociedade do saber científico, neste sentido, foi durante o século XX que a filosofia mergulhou na mais profunda crise. A ciência experimental surgiu na Idade Moderna, mas segundo Habermas4 somente no século XX é que o ser humano teve como reunir as condições necessárias para compreendê-la em sua plenitude. O pensamento do século XX fora marcado por uma crença na existência de uma ordem racional do mundo, capaz de ser descrita com exatidão pelo método das ciências. Com base nas considerações acima, o ponto de partida do projeto filosófico prático de Karl-Otto Apel (1991, p.148) é que, vive-se em um momento em que os problemas fundamentais desta era atingirem uma dimensão em larga escala, porque referem-se à humanidade enquanto um todo, assim, esta era demanda a necessidade de uma ética que abarque a todos em escala planetária, uma ética universal de responsabilidade coletiva. Cabe considerar que para Karl Otto-Apel o gênero humano está diante de uma das maiores crises no que se refere a uma orientação éticopolítica de responsabilidade pelas ações. Neste sentido, são inúmeros os problemas que evidenciam esta situação como, superpopulação, escassez de reservas energéticas, guerras, destruição do meio ambiente, etc. Apel pensa ser possível ante os atuais conflitos da humanidade uma orientação éticopolítica fundamental. 4 Um dos mais importantes filósofos alemães do século XX nasceu em Gummersbach, a 18 de Junho de 1929. Fez cursos de filosofia, história e literatura, interessou-se pela psicologia e economia (Universidades de Gotingen- com Nicolai Harttman-, de Zurique e de Bona). Em 1954 doutorou-se em filosofia na universidade de Bona. Estudou com Adorno e foi assistente no Instituto de Investigação Social de Frankfurt amMain (1956-1959). Em 1961 obtém licença para ensinar (Universidade de Marburg) e, em seguida, é nomeado professor extraordinário de filosofia da Universidade de Heidelberg (1961-1964), onde ensinava HansGeorGadamer. Foi nomeado depois professor titular de filosofia e sociologia da Universidade de Frankfurt amMain (1964-1971). Desde 1971 é co-director do Instituto Max Plank para a Investigação das Condições de Vida do Mundo Técnico-Científico, em Starnberg. Habermas foi durante os anos 60 um dos principais teóricos e depois crítico do movimento estudantil. É considerado um dos últimos representantes da escola de Frankfurt. AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 133 A questão da fundamentação da ética, para o filósofo, se põe diante do atual contexto mundial que se apresenta como desafio ético, já que os problemas essenciais de nosso tempo dizem respeito à humanidade como um todo. Ele se refere ao emprego imprevisível das consequências que resultam das ações coletivas humanas. Apel começa elaborando uma teoria reconstrutiva da história, em especial da moral. Tal reconstrução é necessária, porque o que foi adquirido pela cultura humana ao longo da História poderá servir como resposta aos desafios que a ética enfrenta e que conduz à necessidade de legitimação da ação prática humana. O desenvolvimento da reconstrução apeliana mostrará que, o desafio ético é algo que sempre existiu, porém, agravou-se na contemporaneidade, demandando a necessidade de uma ética que busque ser universal. A reconstrução parte da pergunta: por que o homem precisa de ética? Inicialmente diríamos que o homem precisa de normas fundadas racionalmente como compensação pela perda de direção dos seus instintos repressivos, ou seja, é preciso devolver aos seres humanos, os seus instintos repressivos análogos ao seu comportamento. Segundo Apel, (1988 p.16) os seres humanos são marcados por uma perda dos instintos repressivos análogos ao comportamento do homo sapiens, o progresso no que se refere à invenção e ao desenvolvimento de instrumentos e de armamentos, provocou no homem uma separação entre o mundo da percepção e o mundo da ação. O mundo da percepção refere-se aos órgãos que dão essa capacidade, ao passo que, o mundo da ação está relacionado à técnica. Com o desenvolvimento da técnica e consequentemente a invenção de armas, o homem abandonou esse condicionamento orgânico entre os dois mundos, e iniciou um processo de controle dos desencadeadores do comportamento específico de origem sensório-emocional.5 O homem, com a perda da segurança instintiva do comportamento animal, perdeu consequentemente seus medos mais significativos, como é o CARMO, L. A. D. Discurso Filosófico e a Arquitetônica da Ética do Discurso: Apel versus Habermas. Fortaleza: EdUECE, 2011, p. 40 a 41. “Poderia-se dizer que, com a invenção de ferramentas e armas, o homem aboliu essa correlação, baseada sob um condicionamento orgânico, entre estes dois mundos e, assim, o possível efeito de suas ações ultrapassou fundamentalmente ou abriu caminho sobre o controle possível da conduta dos desencadeadores comportamentais específicos de origem sensório-emocional.” 5 AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 134 caso do medo da morte e dos conflitos que podem gerar guerras e massacres. Segundo Apel, o homo faber surge como uma superação ao homo sapiens, porque o homo faber é capaz de transpor limites que o homo sapiens não havia superado ainda. O fato é que a superação do homo sapiens trouxe por um lado, o progresso e o desenvolvimento da técnica científica e o nascimento de uma consciência moral, uma vez que, na era medieval a reparação, a retribuição e a conciliação tornaram-se uma necessidade. O homo faber foi capaz de assimilar esta concepção superando seus limites instintivos e gerando uma consciência moral, na medida em que superou suas barreiras instintivas, mas, por outro lado, provocou um desequilíbrio, no que se refere ao seu autocontrole da agressividade e das suas barreiras inibidoras, assim, como consequência, a relação que existia entre a ação e os possíveis efeitos das ações, também foi superada pelo homo faber, logo: Se a hipótese dos etólogos for correta, de que já o canibalismo entre os homens pré-históricos deva ser entendido como consequência do machado em punho, isto é, como decorrência da perturbação (constitutiva para o homo faber) do equilíbrio entre os órgãos de agressão disponíveis e os instintos repressivos analogamente morais, então, esta proporção se ampliou desmedidamente pelo desenvolvimento moderno dos sistemas armamentistas. (APEL, 1994 p.43) A superação do homo sapiens pelo homo faber possibilitou, ao homem, o desenvolvimento do seu lado técnico-científico, mas criou uma barreira entre o mundo da percepção e o mundo da ação no sentido em que, na época do domínio da ciência é difícil para o homem agir tendo em conta os possíveis desencadeadores de suas ações. Essa superação, que criou um abismo entre mundo da percepção e mundo da ação, está presente nos acontecimentos ocorridos em Hiroshima e Nagasaki e em Auschwitz, neste sentido, para o filósofo o desenvolvimento do homem no campo científico trouxe uma nova relação do homem com a natureza, que ainda não havia sido vista como um problema ético. Os avanços do homem no campo científico, com o aperfeiçoamento da técnica pelo homo faber, juntamente com o processo de racionalização, levaram o homem a um descrédito nos esforços de fundamentação de uma moral, assim, segundo o filósofo, torna-se difícil, então, uma fundamentação de uma ética de alcance universal em tempos tão permeados pelo AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 135 relativismo. Portanto, neste contexto torna-se um desafio fundamentar uma ética que trate os problemas globais de forma universal. (APEL, 1991, p.10) O PARADOXO ÉTICO Na contemporaneidade, segundo Apel, a ética encontra-se diante de uma situação paradoxal. Por um lado, existe a necessidade de uma ética universal de responsabilidade solidária que seja fundamentada racionalmente. Põe-se, assim, a necessidade de se postular a validação de normas intersubjetivas que tenham um caráter não relativista. Por isto e diante desse diagnóstico, Apel projeta que, “pela primeira vez na história da espécie humana, os homens foram praticamente colocados ante a tarefa de assumir a responsabilidade solidária pelos efeitos de suas ações em uma medida planetária.” (APEL, 1994. p.74). Por outro lado, o diagnóstico que Apel (1994, p.71-72) apresenta acerca das correntes éticas do pensamento contemporâneo, no que se refere ao postulado de impossibilidade de fundamentação de uma ética universal, mostra o paradoxo mais evidente, na medida em que, a ciência em sua era, intitula a impossibilidade filosófica de fundamentação racional de uma ética universal, uma vez que,ela prejulga a validade intersubjetiva no sentido da ‘objetividade’ normativamente neutra, ou isenta de valores. Assim, o paradoxo está evidente na necessidade de construir uma fundamentação para uma ética universal, na época do domínio cientificista. Diante desse contexto, Apel levanta a seguinte pergunta: quais as justificativas fundamentais que os filósofos profissionais da ciência elencaram, para postular a impossibilidade de fundamentação de uma ética universal e que levou a tal paradoxo? Segundo Apel (1998 p.20-24), uma parte da filosofia, que se entende como cientifica, equipara os juízos morais à objetividade das ciências naturais lógico-matemáticas e empírico-analíticas. Com isso, postulase que os juízos morais são algo subjetivo e, portanto, descartáveis, uma vez que, para estas ciências, tais juízos não conseguem alcançar a mesma objetividade (conclusões indutivas) da ciência no que se refere ao mundo dos fatos. Segundo o filósofo, a visão contemporânea em que as normas morais são compreendidas como adquiridas culturalmente e determinadas por sua época, reforçam o postulado de subjetividade e irracionalidade dos AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 136 juízos morais. Neste sentido, para o autor, a filosofia parece ter desistido do papel da fundamentação da ética ou de buscar um princípio que a sustente. Apel (1998 p.24) relata que existem três pressupostos em forma de premissas de algumas correntes do pensamento contemporâneo, por exemplo, a metaética analítica, as correntes em torno do cientificismo e do decisionismo, que indicam a impossibilidade de fundamentação da ética universal, a saber: 1) A fundamentação racional equivale à lógica formal; 2) intersubjetivamente válidas podem ser somente proposições que equivalem à validade objetiva, no sentido da constatação de fatos ou do raciocínio dedutivo lógico formal; 3) da constatação neutra de fatos sobre “o que é”, não é possível deduzir por meio de raciocínios lógicos nenhuma norma sobre “o que deva ser.”. O ponto central da problemática na busca de fundamentação das normas éticas, para Apel (1988, p.24-30), estaria na terceira premissa acima mostrada: “3) da constatação de fatos (a partir de proposições descritivas sobre o que é) não é possível deduzir por meio de raciocínios lógicos nenhuma norma (nenhuma proposição prescritiva sobre o que deve ser).”6. Neste sentido, a distinção entre ser e dever ser, que ocorreu no pensamento moderno, converteu-se em um paradigma da metaética analítica, na medida em que esta concebe discursos normativos-prescritivos axiologicamente neutros e em certa medida científico-objetivos, em distinção aos discursos explicativos-descritivos da ciência. A distinção linguísticoanalítica entre estes dois tipos de discursos, como correlatos de ser e dever ser, atribuiu verdade e objetividade como predicados metalinguísticos às proposições da ciência, e considerou que estes devem possuir caráter descritivo-explicativo. Desta forma, as proposições da ética que eram prescritivo-normativas, não podem ser apresentadas como objetivamente válidas ou verdadeiras. Com isso, fica caracterizado que o complemento filosófico da razão técnica-científica apresenta-se como um existencialismo subjetivista-irracionalista, cujo resultado primário é a dificuldade de fundamentação racional da ética na época do domínio da ciência. A complementariedade do objetivismo cientificista, para Apel (1994, p.90), se caracteriza por uma subjetividade existencial dos valores éticos, no sentido em que a moral deve ser assunto de uma esfera privada, sem que AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 137 haja uma generalização. Diante desta situação, os imperativos morais perdem a força diante dos imperativos sistêmicos e as postulações de normas são tidas apenas como simples convenções, acordos fáticos e com característica subjetiva. Estas convenções, no âmbito da democracia liberal, constituiriam a fundamentação do direito positivo e da política. Para Apel, tal fundamentação das convenções se daria por meio de decisões subjetivas dos indivíduos, agregadas no sentido de uma vontade assumida responsavelmente por todos, por meio de soluções de compromisso (eleições e votações), sendo que, as resoluções ali adquiridas produziriam, elas próprias, as bases de todas as normas intersubjetivamente vinculatórias, enquanto pretendessem uma validade no âmbito da vida pública. O filósofo argumenta que esta parece ser a resposta que pode ser deduzida de todo o sistema de complementariedade ocidental, assim, para ele, esta resposta torna ainda mais supérflua a possibilidade de fundamentação filosófica de uma ética universal. Segundo Apel (1994, p.91) as questões que devem ser levantadas com relação às convenções são as seguintes: será que é possível propor e justificar uma norma ética básica, por meio apenas, de soluções de compromisso como eleições e votações? Será que estas soluções de compromisso são capazes de gerar em cada indivíduo o dever de, em todas as questões práticas pretender um acordo vinculatório com os outros homens, e posteriormente ater-se ao acordo obtido? Ou seja, será que estas convenções trazem um dever moral no sentido em que os homens irão necessariamente cumprir o acordo obtido pelas soluções de compromissos quando estas questões se referirem ao outro e a si mesmo? Faltam às convenções uma norma básica moral que seja intersubjetivamente válida, não há uma obrigatoriedade moral nas convenções. Assim, (APEL, 1994, p.91) “se não existe nenhum princípio ético que seja normativamente vinculatório, como também intersubjetivo, então, a responsabilidade ética não conseguirá transcender a esfera privada.”. O que equivale à exigência de um princípio moral universal enquanto critério moral de fundamentação de normas práticas. Diante disso, impera/advém a pergunta: como fundamentar tal critério moral? E como chegar a um princípio que seja intersubjetivamente válido, que possa mostrar um viés para fundamentação da ética? Veremos em seguida. AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 138 A PROPOSTA DE APEL PARA FUNDAMENTAÇÃO DA ÉTICA Apel (1987, p. 256) reconhece que a questão de buscar uma fundamentação universal para ética é algo que vem sendo discutido desde a antiguidade, e como, mostrado anteriormente, tal busca está intimamente ligada ao reconhecimento da impossibilidade de uma fundamentação no sentido lógico-matemático e objetivo-material. Devido a isto, a proposta apeliana de fundamentação universal segue outro caminho, o modo de fundamentação pragmático transcendental não será um modelo de fundamentação lógico-dedutivo a partir de premissas válidas ou conclusões baseadas em premissas válidas. Tal fundamentação dar-se-á a partir da prova indireta. Neste contexto, a exigência de uma prova dedutiva é desnecessária, uma vez que, quem argumenta já tem necessariamente a suposição de um princípio que não entre em contradição, assim, quem pretende negar tal princípio já tem que pressupô-lo. É o caso da saída proposta por Aristóteles ao refutar a exigência de uma prova dedutiva para o princípio da não contradição. Nesse sentido, o cético ao afirmar que não há possibilidade de uma fundamentação universal da ética se contradiz, uma vez que, está buscando um consenso último dialógico acerca de sua afirmação. Assemelha-se ao seguinte caso: quando tenta negar a verdade afirmando que não existe verdade. Neste caso, ele pressupõe sua sentença como verdadeira. Assim, o conteúdo de sua afirmação não pode ser aceito como verdadeiro, na melhor das hipóteses pode ser visto apenas como algo complexo que não sustenta a verdade da sua afirmação. Para Habermas este tipo de fundamentação “implica abandonar o esforço inauspicioso de uma fundamentação dedutiva de ‘últimos’ princípios, e voltar-se para a explicitação de pressuposições ‘incontornáveis, isto é, universais e necessárias.” (HABERMAS, 1983, p.103). A pragmática transcendental é o nome dado por Apel (1999, p. 09) a análise reflexiva que concebe a razão como procedimento, a linguagem e a comunicação como substrato último daquele que indaga na busca de um consenso universal, operado pelo diálogo. Apel parte do modelo aristotélico da prova dos pressupostos para mostrar que, o racionalismo crítico entra em contradição ao tentar negar a fundamentação universal de normas éticas. Então, o princípio falibilista tem AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 139 que pressupor algo normativamente indubitável se quiser ter sentido em suas afirmações, “para poder ter sentido o princípio falibilista tem que pressupor algo indubitável que deva valer a priori.” (APEL, 1987, p.285). Neste sentido, toda argumentação que pretende contestar a impossibilidade do princípio ético, tem que pressupor necessariamente um a priori enquanto sua condição de possibilidade. É nesta perspectiva que Apel defende que a posição do princípio falibilista de negação da possibilidade de fundamentação universal da ética, não se sustenta, pois, cai em autocontradição e isso significa que, existem certas condições de possibilidade da crítica que, não são passiveis de crítica sem que haja uma contradição. Cortina (1985, p.82) irá afirmar que o “a priori da comunidade se revela como ponto arquimédico da moral, porque exigirá categoricamente o seguimento de determinadas normas morais universais. Renunciar sistematicamente a elas supõe renunciar a própria identidade humana.” Sabendo da impossibilidade da crítica falibilista de negar a fundamentação universal da ética, é evidente a necessidade de limitar o conteúdo do princípio falibilista, pois existem certos enunciados que não são passiveis da crítica falibilista, uma vez que, ela os pressupõem. São aqueles argumentos da filosofia que requerem a universalidade, e é aqui onde se encaixa a fundamentação universal da ética, desta forma tais argumentos não podem ser negados sem que haja uma autocontradição. Apel apresenta esta forma indireta não dedutiva como prova dos princípios últimos, uma vez que as condições de argumentação são impossíveis de serem negadas, “toda argumentação tem que ser levada adiante argumentativamente, tendo, pois, de pressupor aquilo que nega explicitamente.” (CENCI, 2006, p.45), dai não se sustentar a possibilidade de negação. Nesta perspectiva, Apel (1991, p.158) irá desenvolver uma argumentação transcendental que reconstrói os pressupostos da argumentação, sua proposta está baseada no sentido em que, há pressupostos de argumentação que são constitutivos de possibilidade de toda argumentação. Como são condições de possibilidade de toda argumentação Apel os denomina transcendentais. Na tentativa de negar o que existe implícito na argumentação, o cético cai em uma autocontradição performativa. O que há, então, é uma AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 140 prova reflexiva que se sustenta numa evidência performativa, assim a evidência é aquilo que não tem condição de fundamentação dedutiva, sem antes a validade está pressuposta, caso tente, o cético cai em contradição performativa, portanto, a evidência performativa não pode ser contestada, justamente por fundar-se sobre à autorreflexão de quem argumenta. (APEL, 1985b, p.390). Na pragmática transcendental de Apel, o discurso analisa argumentativamente suas condições de possibilidade, assim para a pragmática transcendental o que tem que ser demonstrado já precisa estar pressuposto para a demonstração, no que argumenta, o sujeito reivindica o reconhecimento de seus argumentos pelos demais sujeitos, portanto, pretende uma validade universal, um argumento tem sentido quando está dentro de uma comunidade de comunicação e o argumentador busca um acordo intersubjetivo. Segundo Cenci (2006, p. 54) as considerações, do segundo Wittgenstein, que em alguns momentos influenciam o pensamento apeliano, mostram que estamos condenados a priori a “acordos subjetivos”. Há em Apel uma junção na perspectiva do segundo Wittgenstein, com a hermenêutica transcendental, no sentido de, mostrar o caminho necessário traçado pelas condições de argumentação do humano rumo a um acordo intersubjetivo. Dessa forma a linguagem é condição de possibilidade e validade do acordo intersubjetivo. Para Apel (1985b, p.407), quem argumenta tem que pressupor uma comunidade ideal de comunicação em que se antecipam as condições de possibilidade da argumentação, tem que pressupor ainda uma comunidade real de comunicação como possibilidade de realização dos acontecimentos no plano fático. As condições presentes na comunidade ideal de comunicação não se realizam nunca completamente. Elas só se realizam de modo aproximado na comunidade real de comunicação. Neste sentido é uma ideia regulativa, portanto o ideal não pode ser realizado em sua plenitude. A ética do discurso, no seu desenvolvimento procura extrair um princípio, uma norma moral fundamental, que busque uma obrigatoriedade ao cumprimento da norma no agir humano. O princípio moral de Apel é um importante avanço da ética peirceana na formulação da ética do discurso. Pierce transforma a ética de Kant baseado no modelo de transformação semiótica da filosofia transcendental, por outro lado, “A proposta kantiana AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 141 de fundamentação racional de normas é uma das primeiras, senão a primeira, a enfatizar o aspecto universal da moralidade.” (ROUBER, 1999, p.13). Kant fornece importantes contribuições em seu projeto para que Apel possa expandir a ética peirciana, de modo que esta ultrapasse o âmbito cientificista no qual se mantém. Dessa forma, “o sujeito transcendental kantiano, é, pois, substituído, por uma intersubjetividade que representa o ponto supremo na reflexão.” (CORTINA, 1985, p.53). Para Apel, Pierce7 tinha razão ao admitir que, é necessário ao cientista levar em consideração certo nível de abstração, se este prima pelo interesse da verdade, assim: Em minha opinião Pierce precede acertadamente ao reconhecer o compromisso moral propostos de forma explicita pelos membros da comunidade dos pesquisadores, isto é, ao indicar para a abstração que os cientistas devem realizar em relação aos seus interesses vitais finitos e individuais em prol do interesse pela verdade. (APEL, 1985b p. 402-403) A ética da ciência peirciana traz como limite não possuir um caráter universal, uma vez que, restringe-se a uma comunidade de cientistas, neste sentido, somente os assuntos atinentes à verdade científica são objetos de discussão entre os investigadores, deixando de fora assim o âmbito prático em um sentido mais amplo. Apel irá introduzir o conceito de comunidade de comunicação, como forma de expandir a ética da ciência para uma ética da humanidade, em que se considere abranger todas as atividades humanas, uma vez que, o conceito de comunicação abrange todos os sujeitos capazes de comunicação linguística e de argumentação. (APEL, 1985b, p.403) O cientista precisa reconhecer a igualdade de direitos dentro de sua comunidade, assim tem que estar submetido desde já, a uma norma moral para poder alcançar um dado objetivo da ciência. Apel nota, então, uma vertente moral como norma, mesmo dentro de uma comunidade científica, e introduz o conceito de comunidade de comunicação, em substituição à comunidade de investigação. Desta forma, a norma básica é estruturada a partir da ideia de que, o discurso argumentativo pressupõe condições ou Filósofo, pedagogo, cientista e matemático americano. Seus trabalhos apresentam importantes contribuições à lógica, matemática, filosofia e, principalmente à semiótica. É também um dos fundadores do pragmatismo, junto com William James e John Dewey. Em1934, o filósofo Paul Weiss o considerou como "o maior e mais versátil filósofo dos Estados Unidos e o maior estudioso da lógica". 7 AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 142 regras ideais de simetria entre os argumentantes. As condições de argumentação buscam uma reciprocidade generalizada em que todos os envolvidos tenham iguais direitos nas ações, e até mesmo para os nãoenvolvidos nos discursos das decisões. A reciprocidade traz ainda como reivindicação considerar os demais sujeitos como fins em si mesmo, procurando não mentir ou enganar, assim as ações não devem ser apenas de modo estratégico e a omissão de argumentos não deve existir. Neste sentido, Apel enfatiza “a obrigatoriedade de serem consideradas todas as necessidades humanas, mesmo as virtuais e de virtuais membros da argumentação.” (APEL, 1986, p.88). As necessidades humanas devem ser reconhecidas na medida em que, podem ser expressas pela linguagem interpessoalmente, assim, o discurso argumentativo contém um a priori racional de fundamentação para o princípio da ética, “o a priori da argumentação traz consigo ‘a pretensão de justificar não apenas todas as afirmações científicas, mas também todas as pretensões humanas’” (APEL, 1991, p.148). A norma fundamental traz um reconhecimento recíproco entre os interlocutores, mas também abrange virtualmente todos os seres capazes da linguagem. Neste sentido, para Apel, surge a necessidade de um princípio que torne as reivindicações pessoais em exigências intersubjetivas. Surge, então, o princípio de transubjetividade apeliano que tem como tarefa superar os interesses subjetivos em favor de um consenso obtido de forma dialógica pela intersubjetividade, portanto: O denominado princípio de transubjetividade apeliano, visa transcender os interesses subjetivos em favor da defesa e representação argumentativa de interesses, e refere-se à obrigação de realizar de forma dialógica a intersubjetividade em vista de um consenso acerca das exigências de todos os concernidos. (APEL, 1986, p. 89) Esse princípio trata da universalização dos interesses que se dão a partir da comprovação acerca de, se as consequências das normas instituídas são aceitas ou não por todos os afetados. A fundamentação universal da ética apeliana irá nos mostrar que o princípio moral contêm pressuposições de argumentação as quais não podem ser negadas sem haver contradição performativa e “todas as normas discursivamente fundamentais podem ser consensuadas numa comunidade de comunicação.” (APEL, 1986, p.89). AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 143 O cético afirma que não há possibilidade de um princípio moral consensual antecipado argumentativamente. Neste caso, o cético já pressupõe regras de argumentação no campo prático, ou seja, o conteúdo de sua afirmação nega a antecipação das pressuposições da argumentação. O princípio moral é apresentado, então, como categórico, nenhum sujeito que ingressa no discurso argumentativo pode deixar de utilizá-lo. (APEL, 1985b, p.404). A norma moral fundamental traz a obrigação de todo e qualquer argumentante reconhecer as regras de simetria do discurso, sob pena de cair em contradição performativa. Em outras palavras, isto obriga ao sujeito argumentante em um processo de socialização ser solidário com os interesses dos outros por meio de um consenso dialógico. CONCLUSÃO A abordagem desenvolvida ao longo desta pesquisa mostrou que Apel desenvolve um projeto de fundamentação de uma ética discursiva, sendo que, o filósofo teve como ponto de partida, o atual momento de domínio cientificista no qual se evidencia a impossibilidade de fundamentação de normas morais de alcance universal. Neste sentido, na contemporaneidade gerou-se um paradoxo ético que, por um lado, trouxe a necessidade de uma ética universal de responsabilidade solidária fundamentada racionalmente e, por outro, por intermédio do diagnóstico que Apel fez acerca das correntes éticas do pensamento contemporâneo mostrou a impossibilidade filosófica de fundamentação racional de uma ética universal. O resultado ao qual o filósofo/autor aporta é de que a ciência prejulgou a validade intersubjetiva no sentido da ‘objetividade’ normativamente neutra, ou isenta de valores. A ética do discurso de Karl-Otto Apel, não foi um modelo de fundamentação lógico-dedutivo a partir de premissas válidas, visto que tal procedimento é característica do pensamento lógico-matemático e objetivomaterial, próprio impossibilidade de das ciências fundamentação empíricas da que ética. reconheceram Foi abordada a a fundamentação da ética de Karl-Otto Apel, que foi demonstrada a partir da prova indireta. Neste contexto, explicitaram-se os pressupostos inevitáveis de toda argumentação que não podem ser negados, sob pena AGUIAR, Francisco Brandão; CARMO, Luis Alexandre do. Situação e Fundamentação da Ética [...] Revista Opinião Filosófica, Porto Alegre, v. 06; nº. 01, 2015 144 do sujeito que argumenta cair em autocontradição performativa. Tais pressupostos nortearam o pensamento apeliano na construção de fundamentação de uma ética discursiva consensual que almeja um alcance universal. A ética do discurso chegará ao denominado princípio de transubjetividade, que visa transcender os interesses particulares, em favor da defesa e da representação argumentativa de interesses da coletividade, na busca de um consenso dialógico acerca das exigências de todos os concernidos. REFERÊNCIAS APEL, Karl-Otto. Diskurs und verantwortung: das problem des übergangs zur postkonventionellen moral. Frankfurt am main: Surhkamp, 1988. ______. El camino del pensamiento de Charles S. Pierce. 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