8 INTRODUÇÃO O processo de tomada de decisões estratégicas é definido como o conjunto de atividades racionais, intuitivas, políticas e culturais, que levam a organização a determinar a maneira mais adequada, dentro de um contexto, de dirigir os esforços e recursos organizacionais visando à obtenção de seus objetivos estratégicos (Ansoff, 1991; Cyert e March, 1963; Pettigrew, 1987; Simon, 1972) Decidir é administrar. Sendo verdadeiro que pessoas a todo o momento têm que decidir ante as mais diferentes situações e sobre problemas os mais diversos. Decisões de gestão são, acima de tudo, riscos. Algumas pessoas são mais conservadores, outras possuem características inovadoras e empreendedoras estando mais dispostas a assumir riscos em potencial. As características pessoais daqueles que possuem o poder decisório podem representar tanto o sucesso como o fracasso das pessoas e organizações. Para que as decisões sejam tomadas com rapidez e qualidade que gere excelência é imprescindível desenvolver determinadas habilidades nos tomadores de decisão. Uma vez que uma abordagem convencional, que estabeleça ênfase nas soluções lógico-racionais dos problemas não pode enfrentar a velocidade com que as mudanças surgem no cenário empresarial, e muito menos lidar com as incertezas e os conflitos relacionados com o moderno gerenciamento de empresas e pessoas, descobriu-se o potencial da intuição, que parece ser um horizonte para fortalecer os julgamentos efetuados em condições de incerteza. O gestor atual tem cada um, um método próprio para tomadas de decisões, que priorizam, para cada tipo de decisão (tempestivas ou intempestivas), uma estratégia diferente. Ele precisa administrar as incertezas, selecionando entre as várias alternativas de cursos de ação, àquela que lhe pareça mais adequada, com a convicção de estar no verdadeiro caminho do sucesso. Para isso deverá usar todas as ferramentas e informações que 9 dispõe. Deve aplicar todos os métodos conhecidos, mas seu discernimento e intuição lhe conferem uma visão única do problema e de sua solução. O tomador de decisão individual deve estar apto para trabalhar, sempre que possível, exaustivamente múltiplos fatores como risco e expectativa, de forma a traçar um painel do resultado da decisão dentro de um determinado tempo, e monitorar o processo após a tomada de decisão, a fim de aprender com o feedback. Tendo em vista as ambiguidades, incertezas e demandas conflitivas, a qualidade de juízo de um tomador de decisão determina o destino de toda a organização. Por isso a capacidade de associar intuição com racionalidade é a essência da excelência em gestão. Ao tomador de decisão é essencial construir um mecanismo operacional de discernimento e desenvolver o autoconhecimento para não deixar que seu modelo mental interfira na sua visão global do objetivo e estratégia. A questão principal deste estudo é: “Decisão: função lógica ou intuitiva? Como essas funções se complementam no processo de tomada de decisões administrativas individuais?” Os objetivos deste trabalho são: 1. Através de uma revisão de literatura, apresentar algumas estruturas e variáveis do processo de tomada de decisão. 2. Relacionar capacidades e estilos que tornam a decisão algo pessoal e intuitivo, a despeito de todo o desenvolvimento de sistemas de informações. E demonstrar que o debate sobre o poder da intuição no contexto empresarial é tema amplo, ainda pouco explorado, mas com alto valor para uma visão corporativa mais competitiva diante as incertezas, riscos e mudanças de cenários cada vez mais rápidas e abrangentes. Este trabalho examinará alguns atributos indispensáveis ao tomador de decisão, tanto nas decisões tempestivas quanto nas intempestivas, para o sucesso de suas resoluções estratégicas, considerando o valor da razão e da intuição para que este sucesso aconteça, tendo em vista que há fatores 10 subjetivos e não facilmente identificáveis na maior parte dos processos de tomada de decisão. O Capitulo I procurará fundamentar a importância e influência da intuição no processo decisório. O Capítulo II apresentará os processos lógicos de decisão. Mencionará a História da decisão, segundo Buchman e O’Cornnell, ressaltará o valor da informação num processo decisório. Listará, também, etapas do processo decisório, modelos de tomada de decisões estratégicas, alguns passos e armadilhas do processo decisório. Relacionará algumas habilidades essenciais aos agentes da decisão para conduzirem um processo com segurança. Indicará fatores pessoais de influência e abordará alguns estilos decisórios descritos em literatura própria. O Capítulo III mostrará como o discernimento é essencial no processo decisório, que deve mesclar a lógica e a intuição, extraindo o melhor de cada forma de decidir, apresentando alguns exemplos, divulgados na mídia, sobre decisões estratégicas e seus atores. 11 CAPÍTULO I DECISÃO: FUNÇÃO INTUITIVA Existem diversas definições para o termo intuição. Intuição não é agir por impulso nem é contrária a razão. A seguir, algumas definições que representam o entendimento desse trabalho: Segundo Vergara (1991), intuição é uma função psíquica que permite acesso ao conhecimento de forma imediata, sem análises ou mediações e transcende a razão. Conforme Motta (2007), intuição é algo altamente impregnado dos conhecimentos e experiências acumulados pelo indivíduo, mas que, talvez, ainda não sejam parte do próprio consciente. De acordo com Fischer (1989), intuição é saber algo sem estar cônscio disso. É um conhecimento que parece chegar até nós sem sabermos de onde provém; uma percepção súbita, um insight sem uma evidência lógica. Um tomador de decisões tem bons motivos para confiar na intuição. Numa pesquisa com executivos feita por Parikh, quando aluno da Harvard Businnes School, os entrevistados disseram que usam tanto a intuição quando sua capacidade analítica, embora atribuíssem 80% dos sucessos a intuição. Em "A Quinta Disciplina”, Peter Senge (1990, p.156/157) condensa com elegância a abordagem holística: “indivíduos com alto nível de domínio pessoal (...) evitam escolher entre a razão e a intuição, ou entre a cabeça e o coração, assim como não preferem caminhar com uma perna só ou ver com um só olho. Afinal piscar fica mais fácil quando usamos os dois olhos.” 12 Destaca a interação entre a razão e intuição, visto que depois de décadas sendo ignorada, recentemente a intuição começou a ter grande aceitação no campo administrativo. “O raciocínio sistêmico pode ser a chance para integrar razão e intuição. A intuição foge ao raciocínio linear, com sua ênfase exclusiva em causa e efeito que estão próximos no tempo e no espaço. O resultado é que a maioria das nossas instituições não fazem “sentido”, ou seja, não podem ser explicadas em termos de lógica linear. Muitas vezes administradores experientes têm intuições interessantes sobre problemas complexos, as quais não conseguem explicar. A intuição lhes diz que causa e efeito não estão próximos no tempo e no espaço, que as soluções obvias farão mais mal que bem, e que “quebra-galhos” de curto prazo produzem problemas a longo prazo. Mas eles não podem explicar suas idéias numa simples linguagem linear de causa-efeito. Einstein certa vez declarou “Nunca descobri nada com minha mente racional”. No entanto, pegava instituições brilhantes e transformava-as em proposições sucintas, racionalmente testáveis.” (SENGE, 1990, p.157/158). Os tomadores de decisão nem sempre dispõem de informações suficientes para selecionar alternativas claras ou calcular seu risco, precisam tomar decisões sob condições de incerteza. Para fazer isso, devem recorrer à intuição e à criatividade, Nesse contexto, quem toma decisões usa a criatividade para combinar idéias de maneiras novas e fazer associações incomuns a fim de solucionar problemas de forma criativa O debate sobre a intuição no contexto empresarial é um assunto que está se tornando um elemento fundamental no pensamento e nas práticas de negócios. Contudo a intuição apresente uma estrutura conceitual abrangente e pouco explorada, bem como um processo de aproveitamento amplo. 13 O processo de decisão não será sempre lógico-racional. As escolhas serão muitas das vezes intuitivas e pessoais – e acontecerão numa fração de segundos. Muitas vezes no intuitivo já temos uma decisão, mas optamos por aquela que as análises lógicas sugerem. O que nos dá confiança para decidir com base na intuição? Segundo Oscar Motomura, diretor-geral do Amana Key, na reportagem da Revista Você SA de agosto de 2003, p.74, “Quando o propósito está claro e nobre e visa o bem comum, tudo fica mais simples”. A intuição resulta de um processo de amadurecimento. Ela é um reflexo de situações vividas anteriormente. Entretanto, a intuição pode ser traiçoeira, caso a ligação seja feita com experiências negativas. E também nem sempre as situações parecidas são iguais. Por isso é importante um autoconhecimento, para não cair em armadilhas Rafael Klein em entrevista à revista Isto É Dinheiro de outubro de 2010, p.64, declarou que "eles (pai e avô) também me ensinaram a escutar, digerir as informações, conversar com o travesseiro e só depois tomar as decisões.” Desenvolver a intuição requer treino, da mesma forma com se aprende a tocar um instrumento musical. Uma vez integrada ao dia-a-dia, pode tornarse uma norteadora para as decisões individuais e uma ferramenta para o sucesso. De nada serve abrir esse canal de comunicação com o inconsciente se o conhecimento não impulsionar ações. Segundo Parikh (1994), nas grandes organizações, executivos bem-sucedidos já admitem que aprenderam a confiar na intuição, e que ela se tornou mais precisa à medida que depositam cada vez mais credibilidade nela. Em um levantamento internacional organizado por Parikh, 53,6% dos administradores afirmaram usar em igual proporção a intuição e a lógica e o raciocínio, enquanto 7,5% disseram que se guiam principalmente pela intuição na tomada de decisões. O reconhecimento do papel da intuição como componente do processo de tomada de decisão tornou-se um conteúdo dos mais citados por executivos bem sucedidos, que se sentem cada vez mais estimulados a elevar o seu potencial intuitivo. 14 CAPITULO II DECISÃO: FUNÇÃO LÓGICO-RACIONAL A decisão é parte do processo decisório, que é parte do processo de resolução de problemas. O processo de resolução de problemas deve obedecer à racionalidade, a decisão deve incluir a intuição, a fim de agregar valores diante das rápidas mudanças do mundo globalizado. 2.1 - História da decisão através dos tempos Alguns autores, como Buchanan e O’Connell (2006) entendem que a tomada de decisão é parte de um fluxo de pensamento iniciado nos tempos em que o homem buscava orientação nos astros. Através dos tempos, o homem buscou desenvolver novas ferramentas decisórias e atualmente o crescente refinamento das gestões de risco, os avanços tecnológicos e a compreensão das variáveis do comportamento humano e das habilidades cognitivas, guiam positivamente as tomadas de decisões. No quadro abaixo os autores destacam que a cronologia de decisão é longa, rica e diversificada. ANO Séc. 6 a.C. EVENTOS Confúcio explica que toda decisão de ser influenciada pela benevolência, o ritual, a reciprocidade e a piedade filial. Séc. 5 a.C. Em Atenas, cidadãos do sexo masculino tomam decisões pelo voto, num dos primeiros exemplos de autogestão democrática. Séc. 4 a.C. Platão diz que tudo o que é perceptível deriva de arquétipos eternos e é melhor apreendido pela alma do que pelos sentidos. Aristóteles prega uma visão empírica do conhecimento que valoriza a informação obtida por meio dos sentidos e do raciocínio dedutivo. 15 399 a.C. Numa das primeiras decisões por júri, 500 cidadãos de Atenas condenam Sócrates à morte. Séc. 9 O sistema numérico indo-arábico, que inclui o zero, circula pelo império árabe, estimulando o crescimento da matemática. Séc. 11 Omar Khayyam usa o sistema numérico indo-arábico para criar uma linguagem de cálculo que abre o caminho para o desenvolvimento de álgebra. Séc. 14 Um frade inglês propõe a “navalha de Occam”, um princípio básico para cientistas e quem mais analise dados: computadas todas as evidências, a melhor de todas as teorias é a mais simples. 1620 Francis Bacon afirma a superioridade do raciocínio indutivo na investigação científica. 1641 René Descartes propõe que a razão é superior à experiência na obtenção do conhecimento e estabelece o arcabouço para método científico. 1660 A aposta de Pascal na existência de Deus mostra que para o tomador de decisão as consequências do erro, e não a probabilidade de errar, podem ser de suma importância. Séc. 19 Carl Friedrich Gauss estuda a curva do sino antes descrita por Abraham de Moivre, e cria uma estrutura para compreensão da ocorrência de eventos aleatórios. 1900 Estudos de Sigmund Freud sobre o inconsciente sugerem que atos e decisões do indivíduo muitas vezes são influenciados por causas ocultas na mente. 1921 Fran Knight distingue o risco (no qual é possível saber a probabilidade de um resultado e,portanto buscar proteção) da incerteza (quando é impossível saber a probabilidade de um desfecho) 1938 Chester Barnard distingue a tomada de decisão pessoal da organizacional para explicar por que certos funcionários agem com o interesse da empresa, e não o próprio, em mente. 16 1944 Num livro sobre a teoria dos jogos, Jonh von Neumnn e Oskar Morgenstern descrevem uma base matemática para a tomada de decisões econômicas: assim como a maioria dos teóricos até ali, julgam que o tomador de decisão é racional e coerente. 1947 Rejeitando a noção clássica de que quem toma decisões age com perfeita racionalidade, Herbert Simon diz que, devido ao custo de reunir informações, o executivo toma decisões com uma “racionalidade limitada”, contentando-se com decisões “boas o bastante”. Dec. 50 Pesquisas realizadas no Carnegie Institute of Technology e no MIT vão levar ao surgimento das primeiras ferramentas informatizadas de apoio à decisão. Dec. 60 Edmund Learned C.Roland Christensen, Kenneth Andrews e outros desenvolvem o modelo de análise SWOT (vantagens, desvantagens, oportunidades e ameaças, na sigla em inglês), para a tomada de decisão em prazos curtos e circunstâncias complexas. Dec. 70 John D.C.Little desenvolve a teoria fundamental de sistema de apoio à decisão e aumenta a capacidade destes. Dec. 80 A famosa frase “Ninguém nunca foi demitido por comprar um IBM” simboliza decisões motivadas primordialmente pela segurança. 1984 W. Carl Kester promove o conceito de opções reais ao sugerir que o gestor pense em oportunidades de investimentos como opções sobre o futuro crescimento da empresa. Daniel Isenberg explica que o executivo costuma combinar planejamento rigoroso com intuição quando o grau de incerteza é elevado. 1989 Howard Dresner apresenta o termo “business intelligence” para descrever uma série de métodos de apoio a um processo decisório analítico sofisticado voltado a melhorar o desempenho da empresa. 17 1992 Max Bazerman e Margarete Neale fazem a conexão entre estudos sobre decisões comportamentais e negociações no livro “Negociando Racionalmente” 1995 Anthony Greenvald cria o teste de associação implícita para revelar atitudes ou crenças inconscientes capazes de influenciar o julgamento 1996 Usuários de internet passam a decidir o que comprar com base no que já foi adquirido por indivíduos similares. 2005 Em Blink, Malcolm Gladwell explora a tese de que decisões instantâneas são, às vezes, melhores do que as fundamentadas em longas análises racionais. Fonte: BUCHANAN, L e O’CONNELL, Uma breve história da tomada de decisão. IN. Harvard Business Review. Página: 22-29, Janeiro de 2006. 2.2 - Etapas do processo decisório Segundo Uris (1989), um processo de tomada de decisão para por 7 etapas, sendo elas: análise e identificação da situação: a situação do ambiente onde o problema está inserido, deve ser claramente identificado, através do levantamento de informações, para que se possa chegar a uma decisão segura e precisa; desenvolvimento das alternativas: em função do levantamento das informações, ou seja, da coleta de dados, pode se chegar a possíveis alternativas para a resolução do problema proposto; comparação entre as alternativas: levantamento das vantagens e desvantagens de cada alternativa; classificação dos riscos de cada alternativa: as decisões sempre envolvem riscos, em níveis diversos. Devemos, sempre, considerar o grau de risco de cada alternativa, optando pela alternativa que apresente o menor grau de risco. Entretanto, às vezes, faz-se necessário assumir um grau de risco alto, considerando os objetivos a serem alcançados; escolher a melhor alternativa: tendo o conhecimento das vantagens, desvantagens e riscos, o decisor deve ser capaz de identificar a melhor solução para seu problema; execução e 18 avaliação: a alternativa escolhida fornecerá resultados que deverão ser comparados e avaliados com as previsões anteriores; extração das lições positivas e/ou negativas oriundas de todo o processo decisório. Essas etapas são consecutivas e importantes para traçar um rumo no processo de tomada de decisão tempestivas, tendo em vista que num processo de decisão intempestiva, algumas etapas são eliminadas por falta de tempo. 2.3 - Modelos de Tomada de Decisão Os modelos de tomada de decisão não são, em verdade, excludentes entre si, mas sim complementares, tendo em vista todas as nuances de um processo completo de tomada de decisão. Todos os modelos dependem da qualidade das informações e do tempo que se dispõe para estruturar ou não um processo de tomada de decisão. São ferramentas tangíveis que impulsionam um processo de tomada de decisão 2.3.1 - Modelo matemático de Benjamin Franklin Esse modelo consiste em definir o problema, relacione os critérios importantes para avaliar as alternativas, estabeleça pesos a cada fator, mensurando-os por ordem de importância, totalize cada opção e pronto. A opção de maior nota é a melhor. Ocorre que o mundo não é uma ciência exata, e nem sempre a opção de maior peso é a mais adequada. 19 2.3.2 - Modelo da racionalidade limitada de Simon (1965) Para Herbert Simon a tarefa de decidir é composta de três etapas, com um constante feedback entre elas. A primeira é a fase da prospecção ou investigação, caracteriza-se pela percepção da necessidade de decisão de um problema ou oportunidade. A segunda fase é da concepção: relaciona-se com a análise dos vários cursos de ação e as possíveis consequências decorrentes de cada opção e sua potencial aplicabilidade. A terceira fase é a da avaliação ou escolha: baseia-se na avaliação comparativa de cada curso de ação e as possíveis conseqüências e escolha de uma opção, a partir de informações e valores pessoais e organizacionais. Entretanto Simon (1965) alerta que é impossível que o decisor conheça todas as alternativas de que dispõe com todos os seus resultantes, ou seja, ele só poderá saber a resposta correta da decisão que tomou, não tenho certeza completa de foi a melhor, visto que desconhece o efeito das outras opções, tendo apenas um palpite razoável. Simon defende, ainda, que não é possível o decisor ter acesso a todas as opções viáveis. Tendo em vista a impossibilidade de obter todas as informações. “o que o indivíduo faz, na realidade, é formar uma série de expectativas das conseqüências futuras, que se baseiam e relações empíricas já conhecidas e sobre informações acerca de uma situação existente.” (Simon, 1965). Para isso o decisor baseia-se em sua intuição e discernimento sobre as relações de causa e efeito das opções disponíveis. 2.3.3 - Modelo de Mintzberg Mintzberg (1976) apresenta as organizações como sistemas de processo decisório. Afirma que o modo de compreender como as organizações funcionam é analisar seu fluxo hierárquico, materiais de trabalho, informações e processos decisórios. O autor considera que mais importante que uma tipologia de decisão é o entendimento do modo como esse processo flui, mais especificamente como as decisões se interligam e quais os papéis que os participantes desempenham nas fases dos processos decisórios. Para o autor o processo decisório é composto de três grandes fases: identificação 20 (reconhecimento e diagnóstico do problema/oportunidade), desenvolvimento (inclui uma rotina de pesquisa de soluções alternativas e outra rotina de delineamento ou projeto da solução) e seleção, que se subdivide em outras três etapas : (a) Pré-seleção, que elimina soluções não viáveis; (b) Avaliação/escolha, que pode seguir três trajetórias distintas: julgamento, análise ou barganha; (c) Autorização. Ao concluir a descrição das três fases da tomada de decisão, ou seja, identificação, desenvolvimento e seleção; o autor menciona as chamadas rotinas de apoio ao processo decisório, dentro de uma organização. Em três conjuntos podem ser agrupadas as rotinas auxiliares: (a) Rotina de controle (que conduz o processo); (b) Rotina de comunicação(que fornece informações e elabora relatórios); (c) Rotina de políticas (que permite ao decisor procurar uma solução própria em um ambiente cheio de influências). Segundo Mintzberg, define-se decisão como um comprometimento específico para a ação, e o processo decisório como um conjunto de ações e fatores dinâmicos que inicia com a identificação do estímulo para a ação e termina com o comprometimento para a ação. Para o autor, o processo decisório é desestruturado e não é uma decisão sob risco ou incerteza, mas a escolha entre alternativas dadas é uma decisão sob ambigüidade. Mintzberg inicia seu modelo classificando as decisões em: • Segundo o estímulo: - decisão de oportunidade; - decisão em situação de crise; - decisão frente a um problema. • Quanto a determinação da solução: - solução totalmente desenvolvida em um único processo; - solução desenvolvida no meio ambiente geral; - solução sob medida; - adaptação de soluções gerais à situação existente 2.3.4 - Modelo de Ansoff (1965) Surge uma nova forma de pensar: o Planejamento Estratégico. A estratégia é baseada na análise das ameaças e oportunidades (ambiente) e 21 nos pontos fortes e pontos fracos (organização). A partir da análise dos cenários são elaboradas estratégias para cada cenário, segundo análises probabilísticas destes cenários. Há uma separação clara entre planejamento e ação. A decisão estratégica preocupa-se principalmente com problemas externos ou com a empresa e o ambiente em que está inserida. Surge a necessidade de integração entre planejamento estratégico e decisão estratégica. 2.3.5 - Modelo Cohen, March e Olsen (1972) Também chamado de “Modelo da lata de lixo”, descreve o processo de tomada de decisão como algo desestruturado ao extremo. As decisões não são determinadas pela intenção de alguém: elas são efetivavas em razão da ausência de ação ou por acidente. A tomada de decisão se torna parecida com uma “lata de lixo” no sentido que problemas, soluções e as preferências de diferentes indivíduos e coalizões todas misturadas e disputando entre elas a atenção e ação organizacional. A organização é um conjunto de escolhas que procuram problemas; de problemas e sentimentos que buscam situações de decisão; de soluções que procuram problemas aos quais respondem. Decisões, problemas, ideias e pessoas fluem pela organização e se interagem de várias maneiras, ocorrendo um aprendizado gradual, onde muitos problemas são solucionados e alguns nunca o serão, e a organização manterá ou melhorará seu nível de desempenho. Conforme os autores, o fluxo das ações dos decisores individuais produz um fluxo de decisões que não é pretendido por ninguém, e não está relacionado, de maneira direta, a resultados desejados por qualquer pessoa” . Para os autores as decisões são etapas de muitos dramas, e sua complexidade é ampliada pela ambigüidade. 22 2.3.6 – Modelo “FOFA” ou “SWOT” Este modelo relaciona e analisa os fatores internos (forças e fraquezas) e ambientais (oportunidade e ameaças), para uma melhor visualização do processo decisório. Este modelo ressalta a importância de perceber um problema como sinal de mudanças no ambiente, como presságio de novas oportunidades. Ao analisar os ambientes, o decisor pode se antecipar aos acontecimentos e ganhar terreno em circunstâncias inovadoras. 2.3.7– Modelo de construção de cenários Um exemplo clássico na literatura de cenários (Schwartz, 2003; 2000; Van Der Heijden, 2004) que ilustra a arte de imaginar o inimaginável em um ambiente complexo, foi à construção feita pela Shell na década de 1970. Na ocasião, a equipe de profissionais da Royal Dutch/Shell liderada por Pierre Wack, tentava descobrir acontecimentos que pudessem impactar no preço do petróleo, relativamente estável desde a II Guerra Mundial. Com a elaboração de cenários, baseados em acontecimentos políticos e econômicos da época, a Shell não só reagiu rapidamente a mudança abrupta de cenário, como ainda consolidou-se no posto de segunda maior empresa mundial de petróleo por vários anos. Mais do que simplesmente prever o futuro, a construção de cenários permite que os gestores reconsiderem as possibilidades, a fim de lidar com as incertezas e o dinamismo do ambiente, questionando de maneira sustentada, os seus pressupostos (modelos mentais) para entender como o mundo funciona (Wack, 1985; Schwartz, 2000; Van Der Heijden, 2004). Segundo Wack (1985) os cenários lidam com dois mundos: o mundo dos fatos e o das percepções. Os construtores de cenário examinam os fatos, mas visam às percepções dos tomadores de decisão, com a finalidade de trazer insumos estratégicos que vão além do alcance das mentes dos gestores. 23 2.4 – Valor da informação Conforme Moresi (2000), é importante destacar que as informações podem atender a duas finalidades estratégicas: para conhecimento dos ambientes interno e externo e para atuação eficaz nesses ambientes. Segundo Moritz et al (2006), estudos em gestão demonstram que as decisões baseadas em informação são apenas tão boas quanto a qualidade da informação nas quais estão baseadas. Computadores conseguem produzir uma quantidade enorme de informação, mas o impacto dessa tecnologia não está na quantidade e sim na qualidade da informação produzida. A eficiência e eficácia das empresas são diretamente afetadas pela qualidade das decisões, as quais, por sua vez, são influenciadas pela qualidade das informações geradas, criando assim um processo sistêmico. Desta forma a simples quantidade de informação não promove melhores tomadas de decisões nas organizações. Em vez disso a força das tecnologias de aquisição de informações se encontra na habilidade de aprimorar a qualidade da informação; e isso sim tem um impacto significativo no sucesso gerencial. 2.5 - Passos do bom tomador de decisão A revista HSM Management de março/abril 2003, p.3/4/5, descreve os cinco passos do bom processo decisório, que seriam recomendados para uma tomada de decisão eficaz. Ressalto, entretanto, que esses passos só são possíveis em decisões tempestivas e estruturadas: 1. Questione todo fato anterior: submeta o primeiro fato anterior que lhe vier a mente a uma série de testes de validade. As pesquisas mostram que é muito provável que a lembrança que lhe surge primeiro o leve a uma má decisão. Com frequência relembramos inconscientemente o fato anterior que confirma a decisão para a qual já estamos pendendo. É o chamado “efeito prisma”. O primeiro fato recordado, uma vez a tona, tende a resistir a todas as 24 lógicas que sugerem sua inadequação. Isso ocorre porque a mente está inclinada a considerar mais os primeiros fatos recordados e menos as evidências subsequentes. Esse fenômeno é chamado "viés de ancoragem”. Em geral o primeiro fato que vem a mente está mais próximo da decisão atual do ponto de vista cronológico então porque retrate uma situação semelhante à presente. Supere esse “viés de atualidade”. Claramente, a emoção e o vínculo pessoal são fatores preponderantes para ditar o fato histórico que mais rapidamente vem à mente. Por isso, outra maneira de suavizar seu impacto desproporcional é introduzir critérios mais objetivos para a tomada de decisão. 2. Ponha a prova o conhecimento amplamente aceito “A memória é criada e recriada para satisfazer nossas necessidades atuais” observa Michael Menard, presidente do grupo Gensight. Então deve-se pôr a prova um fato anterior que já é praticamente aceito como lugar-comum na empresa. O que já é considerado familiar resulta frequentemente de interferências feitas pela mente “primitiva”, ou seja, é produto da evolução e, dessa forma, tende a ser governado por emoções e instinto. Uma parte essencial da aplicação de nossa mente analítica à tomada de decisão, segundo Menard, é “coletar, administrar e visualizar dados relevantes”. O importante é fazer uma triagem cognitiva, que nos possibilite desvencilhar suficientemente de nossas experiências anteriores para avaliá-las intelectualmente.” Explica Lorraine Segil, sócia-fundadora do The Lared Group. 3. Encoraje os outros a desafiar suas idéias A relevância de determinado fato anterior pode ser estabelecida mais solidamente se você convidar outras pessoas para verificar sua validade – pessoas que se sintam livres para descartar eventos passados que você possa considerar significativos. Alguns gestores devem encorajar o “pensamento herético”. Os “hereges” contribuem para a tomada de decisão ao propor desvios radicais em relação ao caminho que todos estão tendendo a tomar. 25 4. Nunca confie somente no fato anterior “Diferentemente do que o ditado popular diz, a história nunca se repete de forma precisa” afirma Turner. “Olhar para o passado pode frequentemente limitar as possibilidades que você vê no futuro." Isso não quer dizer que os fatos históricos devam ser completamente descartados. 5. Acima de tudo crie um procedimento As tomadas de decisão precipitadas baseadas em precedentes falsos ou frágeis ocorrem com mais frequência na economia globalizado do que se pode imaginar. Existem algumas perguntas que podem direcionar melhor o decisor, são elas: Qual foi o contexto da decisão? Qual foi a decisão?Que recursos foram alocados? Que alternativas foram consideradas, porém não selecionadas? Por quê? Que suposições foram feitas? Que resultado você esperava? Para quando? Esses passos trilham uma linha orientadora para o processo decisório, entretanto como não se tem todas as respostas, e, muitas das vezes, não são feitas todas as perguntas, o aprimoramento intelectual é essencial para conduzir o decisor pelas limitações e contingências impostas pelas constantes mudanças de cenários. 2.6 – Armadilhas do Processo Decisório Existem, em processo de tomada de decisão, as chamadas “armadilhas ocultas” Hammond et al (1998) que são detectadas nas causas de decisões fracassadas. Segundo Shimizu (2001), as armadilhas ocultas que acompanham o processo de decisão podem causar erros na formulação e estruturação do problema, e também na escolha da alternativa correta. Gestores devem tentar familiarizar-se com essas armadilhas e outros fenômenos semelhantes para assegurar que suas decisões sejam sadias e seguras. 26 Conforme autores, as principais armadilhas são: 1. Ancoragem: é um dos tipos mais comuns de armadilha. Ao considerar uma decisão, a mente dá peso despropositado às primeiras informações que o decisor recebe. Impressões iniciais, estimativas ou dados ancoram pensamentos subsequentes e julgamentos. Há um cuidado ainda maior que merece atenção, as âncoras levam muitos disfarces. 2. Armadilha do “status-quo”: todos os decisores querem acreditar que suas decisões são racionais, objetivas e imparciais. Mas o fato é que todos carregam preconceitos e estes influenciam as alternativas que perpetuam o status-quo. A fonte da armadilha do status-quo mente profundamente dentro das psiques, no desejo de proteger os egos do dano. Quebrar status-quo significa tomada de ação, assumindo dessa forma a responsabilidade, permitindo abertura para uma autocrítica. Desta armadilha nasceu uma máxima das teorias de mudança: “toda mudança gera resistência”. 3. Armadilha do custo investido: trata-se de fazer escolhas de certo modo justificando escolhas passadas, até mesmo quando as escolhas passadas já não são válidas no momento presente. 4. Armadilha da evidência confirmada: advêm do fato de buscar informações que apóiem o instinto do decisor evitando informações que contradizem sua decisão. Essa armadilha induz o tomador de decisão a dar maior peso às informações que ratifiquem a sua decisão. Duas situações se apresentam: a primeira é a tendência das pessoas para decidir o que se quer e fazer subconscientemente antes de entender por que se quer fazer isso. O segundo é a inclinação das pessoas a serem mais suscetíveis às coisas de que gostam do que às coisas que desgostam. 27 5. Armadilhas de tabelas comparativas: o primeiro passo para tomar uma decisão é formular a pergunta. O modo com um problema é formulado pode influenciar das escolhas que o decisor tem de fazer. Essa armadilha pode ser causa ou consequencia de outras armadilhas psicológicas. 6. Estimativa e previsão: a maioria das pessoas é adepta a fazer estimativas sobre tempo, peso, distância e volume. Fazer esses julgamentos faz parte da vida. Essa prática acaba moldando a mente das pessoas. Numa situação de julgamento de eventos incertos, a questão torna-se diferente porque ocorre a autoconfiança que pode levar a decisões erradas. 7. Excesso de confiança: Mesmo a maioria das pessoas não sendo boas em fazer estimativas, há uma tendência a serem excessivamente confiantes nas suas estimativas. Isso pode conduzir a erros em julgamentos, portanto resultando em decisões ruins. 8. Associação enganosa: decisores tendem a superestimar as probabilidades de dois eventos ocorrerem juntos, baseados no número de associações semelhantes anteriores lembradas. Essas associações são frutos da experiência pessoal ou da influência social do indivíduo. 9. Confirmação e compreensão tardia e a maldição do conhecimento: Compreensão tardia refere-se ao fato de que depois de saber que um evento aconteceu, decisores tendem a superestimar o grau para o qual eles teriam predito o resultado correto. Gestores também falham ignorando suas informações, quando preveem outros resultados. 28 2.7 – Estilos de decisores Os autores clássicos identificam cinco estilos decisórios determinantes. Estes estilos estão relacionados, nas teorias modernas, com personalidades dos decisores. Segundo Driver et al (1990), existem dois tipos de personalidades: a autoritária e a democrática. O primeiro tipo é identificado com o poder, projetando culpa sobre as minorias e mostrando um pensamento extremamente simplório. Já o segundo tipo estaria no outro extremo, distinguindo uma distribuição de poder. Um decisor pode apresentar mais de um estilo, dependendo do tipo de decisão (rotineira ou não-programada) e do tempo que ele dispõe para decidir. Os estilos são: 1. Estilo Decisivo ou Objetivo: é o indivíduo que utiliza pouca informação para decidir. Entre as características desse estilo podemos identificar: a conversa e ação diretas, pouco planejamento, pouco respeito à hierarquia, reuniões curtas com agendas claras e com tomadas de decisão a cada reunião. Este estilo prefere organizações onde as tarefas são bem definidas e trabalha um problema de cada vez. Apresenta um estilo autocrático e delegativo, procurando resultados sem interferir na tarefa delegada. Tem foco nos resultados. 2. Estilo Flexível ou Intuitivo: o decisor flexível utiliza pouca informação para decidir, mas procura analisá-la sob diferentes aspectos, optando pela mais apropriada. Este indivíduo geralmente é adaptativo, flexível e criativo, preferindo a intuição ao planejamento. Trabalha com vários objetivos que geralmente refletem o pensamento da maioria, preferindo mais a aceitação que a resistência. Prefere organizações pouco estruturadas e regradas. Decide com base nas discussões do grupo no atua. 3. Estilo Hierárquico ou Planejador: o decisor hierárquico planeja a longo prazo, fazendo análise complexas dos dados. Faz máximo uso de informações para alcançar a única melhor solução. É detalhista, controlador, centralizador, preocupado com métodos 29 utilizados e resultados esperados. Prejudica sua comunicação pela complexidade e detalhamento das idéias. É burocrático e inibe a criatividade do grupo. 4. Estilo Integrativo ou Meticuloso: este decisor usa muita informação e gera o maior numero de alternativas possíveis para uma decisão. Produz simultaneamente várias interpretações sobre as situações e valoriza a exploração e a criatividade. Suas decisões geralmente estão abertas a modificações e demoram a ser tomadas. O decisor meticuloso tenta conciliar interesses das pessoas e da organização. Prefere organizações menos rígidas. Os relatórios e projetos são longos e elaborados, envolvendo bastante discussão. Admite intuição, fatos e opiniões como informação. 5. Estilo Sistêmico ou Estratégico: o decisor sistêmico é o mais complexo e difícil de ser compreendido. Reúne qualidade do estilo hierárquico/planejador e do integrativo/estratégico. É um maximizador e multifoco. Não delega, exercendo influência e controlando informações. Enfatiza as prioridades e estratégias detalhadas para tratar problemas. Planeja para curto prazo com objetivos concretos e mensuráveis, sendo que o conjunto é dirigido para objetivos maiores e a longo prazo. Valoriza a informação, estimulando a coleta regular e cuidadosa. Estimula as pessoas a trazerem informações informais. Utiliza-se de todos os recursos para compreender as várias faces da situação. 2.8 – Habilidades Nos últimos anos, todos os aspectos que envolvem o processo decisório passaram a demandar novas habilidades/atributos do tomador de decisão, forçando-o a desenvolver uma gama enorme de talentos para dar 30 conta das competitividades e das incertezas e conseguir o almejado sucesso no mundo globalizado. Segundo Dawson (1994), o agente de decisão seguro coloca-se no centro da situação, analisando os múltiplos aspectos da decisão antes de chegar a uma conclusão sensata. Existem algumas características peculiares aos agentes de decisão seguros. São elas: aceitar a ambiguidade; ter um senso de prioridade bem ordenado; ser um bom ouvinte; procurar perspectivas diferentes; formar sempre um consenso sobre uma decisão; evitar estereótipos; ser flexível; sentir-se à vontade, tanto com input informal, quanto com input formal; ser realista em relação a custos e dificuldades; evitar os campos minados da decisão; possuir grande senso de oportunidade; ter coragem para delegar poderes; ter coragem para tomar uma decisão. 2.9 - Fatores de influência do processo decisório A despeito da evolução dos sistemas de informações, que podem ser obtidos para sustentar os processos de tomada de decisões, os fatores individuais são de grande influência na condução do processo decisório. Podemos elencar os seguintes: Cultura e valores pessoais; hábitos e reflexos; inteligência; nível social; sexo; religião; costumes; crenças; ética; motivação pessoal ou organizacional; pressão do tempo; fator emocional Todos esses fatores exercem influência na hora de ser tomar uma decisão estratégica, ocasionando, muitas das vezes, uma visão deturpada das alternativas, o que gera uma escolha que não é mais adequada. É importante ao tomador de decisão desenvolver autoconhecimento e discernimento, a fim de identificar a quais fatores é mais suscetível. 31 CAPITULO III DISCERNIMENTO: UNINDO INTUIÇÃO E RAZÃO Segundo Rocchiccioli (2010), as empresas estão cada vez mais expostos a um ambiente dominado pela crescente sentimento de insegurança, fruto do surgimento desenfreado das novas tecnologias que se sobrepõe e se inviabilizam mutuamente com a mesma velocidade com que geram intermináveis modelos de negócios, o mercado passou a exigir de seus gestores capacidade e ferramentas e competências diferentes das exigidas no passado. A intuição pode ser este elemento diferencial, embora ainda distante da compreensão de gestores. Deve-se esclarecer que agir com intuição não é agir impensadamente. É conhecer todas as informações e processos lógicos e usar o discernimento para, com tantas instabilidades e pontos cegos, conseguir um grau elevado de acertos em decisões individuais, tanto as tempestivas, quanto as intempestivas. Decisões tomadas por equipes heterogêneas, compostas por homens, mulheres, jovens, idosos, tendem a resultados de melhor qualidade. Pessoas com pontos de vistas e experiência diferentes usam o discernimento de forma diferente para compreender as situações. As decisões tendem a ser mais sólidas e ter um resultado melhor, inclusive por ter um maior número de pessoas envolvidas no acompanhamento para que tudo dê certo. Os grandes líderes apresentam um alto percentual de boas decisões. Todos os líderes possuem sua cota de fracassos decisórios, mas os bons aprendem com isso e não tornam a repetir. Eles gerenciam o processo decisório de modo a obter sucesso no resultado ao mesmo tempo em que se promove o envolvimento e desenvolvimento das pessoas ao longo do processo. Segundo Ticky (2009), para se fazer isso é necessário que o líder tenha conhecimentos que ultrapassem os limites da capacidade analítica que se refere “apenas aos fatos”. Isso requer profundo conhecimento em quatro áreas: 1. Autoconhecimento: consciência dos valores, objetivos e aspirações 32 de uma pessoa. Isso inclui reconhecer o momento em que esses desejos pessoais interferem na percepção pessoal da necessidade do discernimento ou da interpretação dos fatos. Também inclui ser capaz de criar um roteiro mental relacionado à materialização dos juízos e aos resultados a que eles conduzem, identificando as armadilhas e as oportunidades de desenvolvimento do seu discernimento. Jim Owens, CEO da Caterpillar fez a seguinte observação durante uma entrevista “Acho que fui afortunado na minha carreira. Lançar-me-ão em situações que eram de crise parcial e onde era necessário fazer mudanças radicais. Tive a oportunidade de avaliar a condições em que se encontrava o empreendimento e de fazer recomendações que provaram ser fruto de um bom discernimento.” 2. Conhecimento da rede social: entendendo as personalidades, as habilidades e a historia decisória pregressa daqueles que integram a sua equipe. Isso inclui como suplementar ou influenciar o seu processo decisório. 3. Conhecimento organizacional: saber como as pessoas de uma determinada organização irão e responder, se adaptar e executar. Isso também inclui as redes pessoais ou os mecanismos de aprendizagem dos lideres em todos os níveis da organização. Um gestor deve avaliar a rede e os mecanismos de que dispõe para formular, executar, testar e modificar as tomadas de decisão. 4. Conhecimento contextual: entendimento baseado nas relações e interações com as partes envolvidas como consumidores, fornecedores, governo, investidores, concorrentes ou grupos de interesse que possam vir a causar impacto no resultado de um juízo já feito. Isso implica não só que tipo de resposta direta essas partes vão dar a uma resolução, mas também como irão interagir umas com as outras em todo o processo decisório. Um estudo de exemplos de decisões mostra várias que foram tomadas de maneira intuitiva e algumas vezes até contrária ao que a lógica indicava. Ø A decisão de Thomas Watson Jr. da IBM de desenvolver em 1962, a família de computadores sistema/360, que custou à empresa US$ 5 bilhões e que, embora a pesquisa de mercado da IBM sugerisse que apenas 33 duas unidades seriam vendidas em todo o mundo, foi o primeiro de uma série de computadores do tipo mainframe. Ø A decisão de Ted Turner, que, contrariando todas as orientações do mercado, lançou e 1980 a CNN, um canal de televisão a cabo dedicado a notícias, que ninguém imaginava que funcionaria, mas funcionou. Ø Bill Gates é um exemplo de que a criatividade e conhecimento técnico aliados à intuição e visão de futuro pode ser o caminho do sucesso. Ø Jeff Imelt, CEO da GE, criou uma forma de operacionalizar o desenvolvimento de lideres do crescimento, que tenham excelência em tomadas de decisão. Ele declara: nossos líderes são treinados e avaliados a luz de cinco capacidades. São elas: Gerar um foco externo que defina o sucesso em termos de mercado; ser claros pensadores capazes de simplificar a estratégia em especificações, de tomar decisões e informar as prioridades; ter imaginação e coragem para assumir riscos relacionados a pessoas e idéias; entusiasmar as equipes por meio de inclusão e conexão com as pessoas; desenvolver especialidade em uma função ou domínio, empregando a profundidade como fonte de confiança para impulsionar as mudanças. Ø Maria Silvia Bastos Marques, presidente da Icatu Seguros, declarou que, para ela, há dois tipos de decisão – e, para cada um, usa um método. Decisões que exigem rapidez são baseadas na intuição e nas informações disponíveis. Decisões que podem esperar são maturadas. “Se o prazo é mais longo, estudo o problema duas, três semanas. A resposta vem num clique, quando estou tomando banho, correndo ou dormindo” diz ela. “Intuição é um misto de experiência e sensibilidade. Se eu estiver contratando um executivo e ele disser que não usa a intuição, não contrato”. (Revista Época maio de 2010, p.99) Ø José Carlos Grubisich, presidente de ETH Bioenergia e ex- executivo da Braskem declarou que em decisões que podem construir ou destruir a cultura de uma empresa e você é responsável pela motivação dos funcionários, deve-se levar a intuição em conta. (Revista Isto É, novembro de 2009, p.127) Ø Nazaré Oliveira, Assessora de Investimento da Confederação 34 Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, declarou, em entrevista para este trabalho, que ela absorve todas as informações do mercado de capitais, mas na hora de escolher como investir, confia muito em sua intuição. Esses exemplos dão conta do valor da intuição e do discernimento do gestor, que dotado de uma visão de futuro e disposição de assumir riscos, tomaram decisões acertadas, contrariando algumas informações e critérios técnicos, deixando predominar sua intuição. Segundo Schultz (1999), descobriu-se que a lógica pura não tem capacidade de enfrentar a quantidade de incertezas com que se deparam os decisores individuais. Sem abandonar a lógica e a razão, eles retornaram a uma única qualidade capaz de sobrepor à incerteza: a intuição. Foram destacados os seguintes aspectos: 1. A intuição parece ser uma habilidade que mais prevalece a medida que se ascende na hierarquia empresarial. 2. Os gestores de alto nível apresentam resultados significativamente melhores do que os de nível médio e baixo nível em sua capacidade de usar a intuição para tomar decisões. 3. Os gestores de alto nível integram bem suas capacidades intuitivas com suas outras funções, mas quando estão prontos para agir parecem confiar mais na intuição como guia. Atualmente, só sobrevive no mundo empresarial quem for capaz de inovar, ser um visionário, alguém que trace um rumo entre a natureza do negócio e as intenções para o futuro. Contar com a intuição pode ser o grande diferencial para gestores no mundo globalizado, especialmente se o gestor tiver amplo conhecimento analítico dos objetivos, cenários e de si próprio. 35 CONCLUSÃO Há uma constante busca de aperfeiçoar o processo de tomada de decisão das empresas. Criam-se modelos e desenvolvem-se estilos, entretanto nem sempre é possível estar ciente de todas as informações, riscos e multifatores que envolvem uma decisão e suas consequências. Diante desse cenário, a possibilidade do gestor em equilibrar suas decisões tanto em modelos racionais quanto em formas intuitivas e criativas acrescentam uma qualidade especial em suas decisões, tanto as tempestivas, quanto as intempestivas. Todos os parâmetros formais que envolvem o processo decisório, em especial as informações, são imprescindíveis e não podem ser descartados nas decisões. Entretanto a própria dinâmica veloz e feroz do ambiente corporativo atual, passou a demandar novas habilidades do tomador de decisão, forçando-o a desenvolver uma gama enorme de talentos, principalmente a intuição — que em alguns casos é bem mais rápida que a lógica —, para dar conta das competitividades e das incertezas, e conseguir o sucesso em negociações num mundo globalizado As citações quando ao papel da intuição nas tomadas de decisões estão se tornando mais constante na literatura especializada em gestão. Os padrões de pensamento lógico-racionais e analíticos já não são mais suficientes para entender os cenários atuais, em contínua mudança e acirrada competitividade, muito menos para lidar com eles. Com mudanças tão rápidas é imprescindível certo sentido de estabilidade interna, um nível mais profundo de apoio interno, uma capacidade de síntese que só a intuição consegue oferecer ao decisor individual. Se existe uma receita de sucesso para os negócios é equilibrar a intuição com a racionalidade. Afinal a racionalidade é limitada e não há como conhecer os múltiplos aspectos de um problema e, embora a intuição ainda sofra barreiras limitantes, por ser algo ainda distante da compreensão de muitos, deve ser mais explorada como habilidade diferencial. Os desafios não podem ser encarados como meras equações, é importante equilibrar 36 parâmetros racionais e intuitivos a fim de estabelecer processos dinâmicos com alta eficácia. O ideal é combinar a razão com a intuição. A intuição deve ser considerada uma fonte tão valiosa quanto às outras, e pode ser “treinada” a fim de se desenvolver como um talento da percepção. A filosofia de gestão dos executivos é determinada por suas crenças, valores e experiências, resultando em atitudes que se sustentam tanto em aspectos lógicos como intuitivos. A intuição é um elemento de diferenciação e de vantagem competitiva, podendo determinar o sucesso de uma decisão, uma vez que a intuição possui em si uma capacidade de síntese, uma leitura amplificada da complexidade do todo, que a lógica não possui. Quando se decide usando somente a intuição, há uma grande possibilidade de fracassar nas decisões. Quando se decide somente pela lógica, baseado em modelos e informações, as chances dessa decisão ser razoável é boa. Todavia quando se alia lógica com intuição num processo de tomada de decisão, as possibilidades de sucesso são enormes, tendo em vista que decisões eficazes são muito mais comuns num método que inclua o raciocínio, a lógica e a intuição 37 BIBLIOGRAFIA AMORIM, L. A decisão mais difícil. Revista Exame, fevereiro de 2009. ANSOFF, i. Um Modelo de Tomada de Decisões Estratégicas. In A nova Estratégia Empresarial. São Paulo: Atlas, 1991. BUCHANAN L, e O’CONNELL, Uma breve história da tomada de decisão. 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