ANO XXX- Nº 218 - JANEIRO/FEVEREIRO-2008
A REVISTA DA ELETRONORTE
Corrida
contra
o tempo
A complexa
remontagem das
torres de transmissão
em casos de
intempéries
e vandalismo
Eletronorte
SUMÁRIO
RESPONSABILIDADESOCIAL
Inserção regional e
cooperativismofazem
reviver o “rendáua-catú”
MEIO AMBIENTE
Página 3
Os rios que guardam energia
Página 34
ENERGIA ATIVA
O futuro que nasce dos
sonhos empreendedores
Página 17
CIRCUITO INTERNO
Educação empresarial:
instrutoria interna promove
multiplicação do conhecimento
Página 21
TRANSMISSÃO
Time afinado vence corrida
contra o tempo para reconstruir
torres derrubadas
Página 25
CORRENTE ALTERNADA
Os guerreiros da paz
Página 41
AMAZÔNIA E NÓS
Página 44
CORREIO CONTÍNUO
Página 46
FOTOLEGENDA
Página 47
SCN - Quadra 06 - Conjunto A
Bloco B - Sala 305- Entrada Norte
2- CEP: 70.716-901 - Asa Norte
Brasília - DF.
Fones: (61) 3429 6146/ 6164
e-mail: [email protected]
site: www.eletronorte.gov.br
Prêmios 1998/2001/2003
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TECNOLOGIA
Criatividade, o dom que aprimora produtos,
equipamentos e processos empresariais
Página 12
Conselho Editorial: Diretor-Presidente - Carlos Nascimento - Diretor de Planejamento e
Engenharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone
- Diretor Econômico-Financeiro - Astrogildo Quental - Diretor de Gestão Corporativa Manoel Ribeiro - Gerentes Regionais - Coordenação de Comunicação e Relacionamento
Empresarial: Zenon Pereira Leitão - Gerência de Imprensa: Alexandre Accioly - Edição
e Reportagem: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF)
- Byron de Quevedo (DRT 7566-DF) - César Fechine (DRT 9838-DF) - Érica Neiva
(DRT 2347- BA) - Michele Silveira (DRT 11298-RS) - Viviane Vieira (DRT 543-RO)
- Núcleos de Comunicação das unidades regionais - Arte da contra-capa: Alexandre
Velloso - Fotografia: Rony Ramos, Roberto Francisco, Alexandre Mourão, Núcleos de
Comunicação das unidades regionais - Tiragem: 10 mil exemplares
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Inserção regional e cooperativismo
fazem reviver o “rendáua-catú”
Byron de Quevedo
Quem procura o que não guardou
quando encontra não conhece. Enderece
a sua prece ao santo especializado. Quem
se pega em lamúrias de toda natureza e
espécie, o Divino aborrece pela falta de
postura. Expropriados todos somos, de
algum lugar ou recanto, de algum desejo
ou encanto, que o progresso nos cobrou.
Quando o pedido é justo, é atendido ao
seu tempo, já o exagerado é lento, pois as
soluções cruzadas o vento as embaralham
entre mágoas e intentos. Deus não sofre
de demência e sabe dos que sofrem sem
clemência: e é fruto da união e luta intensa,
um dia serem lembrados.
Benza Deus, está melhor agora, mas não
tem sido fácil. A luta dos povos por uma vida
melhor se faz através dos tempos e é sempre jogo duro. A Usina Hidrelétrica Tucuruí,
a maior fábrica de energia genuinamente
nacional, iniciou as suas obras em 1975,
num tempo de controvérsias. Na ocasião,
o Estado realizava o desenvolvimento, inclusive por meio das estatais recém-criadas.
Para construir a Hidrelétrica foi necessário
transferir vilas e pessoas, indenizá-las, e
continuadamente desenvolver ações que minimizassem os efeitos da edificação da obra.
Desde o início desta década a Eletronorte está
revisando essas mega-tarefas, tão delicadas
e complexas, desenvolvidas ao longo dos
últimos 24 anos, notadamente as ações dos
3
planos de Inserção Regional dos Municípios
da Montante de Tucuruí - Pirtuc, e de Inserção Regional dos Municípios à Jusante de
Tucuruí - Pirjus, mais o Programa Social para
os Expropriados de Tucuruí - Proset.
Rever esta escalada de providências mitigadoras ouvindo os seguimentos humanos
envolvidos é um aprendizado. E é ferramenta útil no momento em que o País persegue
a auto-suficiência energética, inclusive com
leilões de novos empreendimentos hidrelétricos e seus sistemas de transmissão. Ouvir
também os expropriados dos municípios
do entorno de Tucuruí, que, em conjunto
com a Eletronorte, encontraram no caminho das ações sociais e do cooperativismo
esperanças para o “rendáua-catú”, que
em linguagem das tribos indígenas locais
significa “lugar de gente feliz”, uma síntese
apropriada aos novos tempos que surgem
para a região.
Elevação - Para operar a segunda casa de
força da Usina, a partir de abril de 2003, a
Eletronorte precisou elevar a cota do lago da
barragem de Tucuruí de 72 metros para 74
m. Este é um dos últimos eventos da construção e operação de Tucuruí, cujas duas casas
de força somam uma potência instalada de
8.370 MW. Além de garantir energia firme e
renovável para o desenvolvimento da Região
Norte, a usina é parte essencial do
Sistema Interligado Nacional - SIN,
permitindo a preservação de reservatórios hidrelétricos em outras regiões durante o período hidrológico
favorável no Rio Tocantins.
A elevação do nível das águas
gerou a inundação de terras das
ilhas do lago da Hidrelétrica, ocupadas irregularmente ao longo
dos anos, e novamente se fizeram
necessárias ações compensatórias para os habitantes das novas
áreas inundadas, inclusive alguns
já contemplados com indenizações da chamada Primeira Etapa.
A Empresa idealizou, então, um programa de inserção regional para os municípios
situados a montante da barragem de Tucuruí, com investimentos previstos de R$ 2
bilhões em 20 anos, sendo R$ 200 milhões
de responsabilidade da Eletronorte. Segundo o superintendente de Meio Ambiente da
Eletronorte, Antônio Coimbra (foto acima),
o plano funciona assim: os municípios de
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Tucuruí, Breu Branco, Goianésia, Nova
Ipixuna, Novo Repartimento, Itupiranga e
Jacundá apresentam suas demandas, que
são submetidas à aprovação de conselhos
gestores antes de serem encaminhadas à
Eletronorte.
“Em 2002 a Eletronorte começou a
fazer estudos também para os municípios
a jusante da barragem, que culminaram
com o Pirjus, cuja sistemática e filosofia
de atuação é semelhante ao Pirtuc e atende aos municípios de Baião, Mocajuba,
Cametá, Limoeiro do Ajurú e Igarapé Miri.
Por meio dos dois programas, a Eletronorte
já custeou a construção de escolas, postos
de saúde, obras de infra-estrutura como
Tucuruí:
tratamento de água e esgoto, asfalto e lazer.
Tem ainda a agricultura familiar, inclusão
digital, ações de apoio à produção e milhares de novas ligações, por meio do Programa
Luz para Todos”, adianta Coimbra.
Quando o reservatório de Tucuruí encheu, os moradores desapropriados foram
devidamente indenizados após análise de
5.200 processos. Como posteriormente
a esse processo novas demandas foram
apresentadas, foi criada, em 1995, uma comissão conduzida pelo Ministério de Minas e
Energia, que concluiu os casos procedentes.
Em 2003, mesmo após a Eletronorte ter
entregado cópias comprobatórias de todos
os processos indenizatórios, os expropriados
fizeram uma nova reivindicação e ocuparam pólo regional
uma parte da Vila Residencial de Tucuruí. produtor
de energia
Para atender ao novo pleito, a Eletronorte
criou um programa de geração de renda
denominado Proset.
De acordo com Coimbra, “não existem
novos expropriados, os reivindicantes são os
mesmos. Pelo Proset eles receberão, cada
um, vinte parcelas mensais de R$ 200,00
reais, totalizando R$ 4 mil; e mais R$ 3 mil
para o desenvolvimento de uma ação produtiva. Posteriormente 2.334 famílias receberam mais dez parcelas de R$ 200,00, fruto
de novos 3.200 processos. E deu-se o início
ao desenvolvimento de projetos produtivos
para os expropriados, nas cooperativas dos
5
municípios. Cada uma delas recebeu R$ 3
mil por processo de cada cooperativado. Os
acordos são acertados com uma comissão
designada pelos expropriados, que também
elegem as diretorias das cooperativas”.
Avaliação séria - O assunto é complexo.
Para detalhá-lo, nada melhor que um time de
profissionais (foto abaixo): o superintendente
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de Assuntos Fundiários, Imobiliário, Logística
e de Material da Eletronorte, Allan Arruda
de Castro; o gerente de Assunto Fundiários,
Gilberto Ferreira; e os advogados da Divisão
de Contenciosos Fundiários e Imobiliários,
Jakeline Rangel e Bernardo Fusco.
Segundo Allan, antes do alteamento da segunda etapa, a Eletronorte avaliou as terras, identificou
os proprietários, verificou in loco as benfeitorias
reprodutivas (plantações) e as não reprodutivas
(instalações) nos terrenos, identificou os moradores e seus pertences, tirou fotos de satélites
para confirmar os dados - as ortofotocartas - fez
o GPS localizando os pontos, fotografou e avaliou
os direitos de cada proprietário e os pagou segundo uma pauta de valores pré-estabelecida.
As pessoas foram indenizadas pela atividade que exerciam e que deixaram de ter em
decorrência do alteamento. Há alguns casos
onde não se achou dono da terra, em virtude
do azimute duplo, ou seja, sobreposições de
áreas, ou avanços sobre áreas já indenizadas. Verificaram-se erros cartoriais, duplas
escrituras e situações em que as famílias
simplesmente sumiram.
Em 2004, com o propósito de dar prosseguimento às indenizações, ficou estabelecido
que não haveria as revistorias, decorrentes
de contestações, salvo pendências formais
constantes no termos de acordo amigável de
indenizações e conseqüentemente dos seus
respectivos termos de solução de agregação
indenizatória. As culturas, a exemplo das
pastagens que eram medidas a partir de
imagens aerofotogramétricas, passaram a ser
mensuradas in loco, com o auxílio de GPS.
As equipes responsáveis pelas vistorias em
campo passaram a ser compostas por cinco
membros: um fiscal, dois auxiliares de campo, um motorista e um barqueiro, liderados
por detentores de conhecimentos específicos
sobre o lago.
“Os dados verificados in loco foram submetidos a uma varredura da área com o auxílio do sistema de ortofotocarta, que permite
observar se as coordenadas acertadas no
processo não conflitam com outros processos
já pagos ou cancelados, ressaltando-se que
no caso de divergência prevalece os dados
buscados no campo. Decidiu-se também
pela manutenção do acervo documental
com 5.119 mil processos, dos quais há um
remanescente. São pleitos anteriores e alguns
são novos, mas que estão de acordo com a
política da Eletronorte de receber todos os
pleitos”, enfatiza Allan.
Segundo Gilberto Ferreira, mesmo tudo
tendo sido feito de forma transparente, técnica e legal, ainda existem pessoas que reclamam que não receberam o devido. Segundo
ele, “na primeira etapa foi preciso encarar os
desafios e as deficiências de infra-estrutura
da Amazônia. Se tivéssemos que fazê-lo
hoje teríamos outros instrumentos, outros
recursos técnicos. Mas foi bom para época
e é bom até hoje. No caso do aumento da
cota ainda tem a agravante de que a água se
espraia mais nos terrenos planos. Foi muito
trabalho, pois o reservatório tem três mil km²,
com mais de duas mil ilhas. Algumas ilhas
são de particulares, mas a maioria são terras
da União. Ou seja, a União as cedeu para se
fazer o reservatório. A pauta de valores que
usamos se tornou referência em casos de
desapropriação”.
Da década
de 80 aos
dias de hoje,
Breu Branco
é exemplo
indiscutível de
desenvolvimento
7
Por último, Bernardo Fusco explica que
a prescrição de processos é um instituto,
um direito civil. Não há como pagar reivindicações 27 anos após o ocorrido. “O que a
Constituição brasileira prevê é o direito de
petição; ou seja, o direito que cada um tem
de requerer, a qualquer momento os seus
direitos. A lei estipula o prazo de 20 anos
para que o interessado entre com o pedido.
Mas mesmo prescritos nunca deixamos de
re-analisar casos pendentes”.
Cooperativismo - Cícero Vieira
do Nascimento, o Bodão (foto ao
lado), é presidente da cooperativa
de Breu Branco. Ele era feitor de
concreto na Usina e teve terras
expropriadas. “O nosso movimento
foi considerado pela ministra Dilma
Roussef como mais pacífico do Brasil. São 359 famílias representando
os cooperativados de Breu Branco
e Goianésia. Hoje vemos esses movimentos violentos, mas nós nunca
precisamos quebrar nem uma torneira de
ninguém! Duvidávamos de muitos valores
pagos. Então fizemos um movimento em
abril de 2000, conseguimos ver os nossos
processos e, de fato, havia valores errados.
Então fomos à luta. Protestamos por três anos
até conseguirmos o Proset. O nosso projeto
é voltado para a agricultura familiar. Hoje já
temos 200 hectares de terra, trator, caminhão, grades para arar, adubadeira e uma
plantadeira. Temos uma sede na cidade e o
projeto de hortifrutigranjeiros, onde também
criamos galinhas, porcos, plantamos arroz,
feijão, mandioca, frutas nativas e milho.
Próximo passo: a fábrica de ração e fubá e
a criação de peixes. Hoje entendemos o que
é o cooperativismo”.
Raimundo Preto (foto ao lado), lavrador,
casado, doze filhos é o presidente da cooperativa de Novo Repartimento. Após
tantos anos de luta,
se considera um
homem satisfeito.
“Tô cheio de esperanças e feliz.
Vamos colher 12
mil toneladas de
cacau (foto abaixo
à esquerda). Nossa
terra é de primeira,
nem precisa adubo. É só plantar. Montaremos a primeira fábrica de chocolate na região. Vamos trabalhar
também com a compra e venda de gado de
corte e horta comunitária; e construiremos
um frigorífico para abate de frango. Mas
temos outros planos: seremos a primeira
cooperativa agro-industrial dos expropriados
do lago de Tucuruí. Vamos fazer as barras
de chocolate, manteiga de cacau, aproveitar
as cascas para fazer sabão e produziremos
outros insumos básicos para as indústrias de
chocolate. A cooperativa não é só um jeito de
ganhar dinheiro, ela faz com que as pessoas
se aproximem. Queremos dar emprego para
os expropriados, seus filhos e netos. Somos
759 filiados, considerando as famílias vai
para mais de duas mil pessoas. Hoje existe
seriedade por parte da Eletronorte e da nossa
cooperativa”.
Royalties - Municípios que cederam suas
terras para a formação de lagos de hidrelétricas tem, por lei, que receber royalties
(compensação financeira) pelo uso de
seus recursos hídricos. Neste sentido, a
Eletronorte recolhe e repassa 6,75% do que
arrecada com a geração de energia elétrica. Deste total, 0,75% vai para a Agência
Nacional de Energia Elétrica - Aneel e dos
6% restantes, 45% vão para os municípios,
45% para os estados. 6% para os ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia
e 4% para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Entretanto,
a Lei não estabelece como estes recursos
devem ser aplicados nem mecanismos de
controle.
8
Armênio Oliveira Barreirinhas (foto abaixo), o Barreirinhas, três filhos frutos de três
casamentos, nasceu em Portugal e é o atual
prefeito de Breu Branco. Segundo ele, a Usina
trouxe muitos benefícios. “Financeiramente
a obras trouxeram bastante lucro para parte
da comunidade. Eu
era um empregado
e virei patrão. Que
a obra traz desenvolvimento, isto é
indiscutível. Fui o
primeiro prefeito
de Breu Branco.
Na ocasião a cidade tinha sete mil
habitantes e quatro mil eleitores. O
município fez 16
anos de emancipação em 2007, com 40 mil
habitantes e 26 mil eleitores”.
Sobre os programas sociais, Barreirinhas
elogia o Proset: “Foi uma medida acertada, algo que deu valor ao ser humano.
Com este projeto, em Breu Branco já foi
comprada a sede das associações rural e
urbana, temos um trator e um caminhão
para dar apoio às famílias carentes e foram
montadas cooperativas. Eu acredito que
a Eletronorte está participando com mais
responsabilidade social e preservando a
vida de muitas pessoas”.
Mas sobre os royalties, Barreirinhas diz que
é querer jogar os movimentos sociais contra
as prefeituras. “Eu recebo cerca de R$ 3,5
milhões de royalties por ano. Quanto maior
a extensão de terras invadidas pelas águas,
maior a arrecadação. O grande devedor dos
municípios é o governo do Estado
do Pará. Ou seja, nós damos uma
arrecadação ao Estado, e nós não
temos o retorno. Só para se ter uma
idéia, em 2006 os sete municípios
receberam mais de R$ 46 milhões.
O estado recebeu a mesma quantia.
De uma forma ou de outra, os nossos R$ 46 milhões estão dentro dos
nossos municípios. Mas os que foram para o estado não voltaram”.
O prefeito de Tucuruí, Cláudio
Furman (foto acima, à direita) casado, três filhos, empresário, é um dos grandes
incentivadores da construção da Hidrelétrica.
Ele acha estranho quando vê pessoas dizendo
O sorriso
confiante de
quem acredita
na força do
cooperativismo
9
que Tucuruí impactou negativamente pescadores e moradores “Muito pelo contrário. Nós
não tínhamos uma alimentação consistente,
não havia carne, posto de gasolina, éramos
quase uma corruptela. Hoje Tucuruí é um pólo
regional. Tudo que se previa de desastroso para
Tucuruí não se confirmou. Tudo foi desmistificado. Os peixes se multiplicaram; a colônia de
pescadores que não passava de cem pessoas,
agora tem mais de seis mil; o lago possibilitou a
implantação da piscicultura com a criação em
tanque redes, que vão proporcionar a produção de quase 200 toneladas/dia. Os royalties
também são significativos. Temos a Hidrelétrica
como São Paulo tem uma GM, uma Wolkswagem. Somos produtores do insumo básico que
estas fábricas precisam: a energia”.
o Centro de Inclusão Digital, para pessoas
de baixa renda. Haverá um espaço onde
qualquer artista poderá mostrar os seus
trabalhos. Vamos criar um grande centro
cultural, com cine-teatro e escolas de
artes. Também estamos trabalhando na
implantação do Pólo de Turismo de Tucuruí, pois somos um cartão-postal belo e
único. O Pólo vai criar uma nova vertente
econômica, explorando o turismo de aventura, lazer, técnico e científico. Já estamos
criando as condições para que tudo isto
venha acontecer e diminuir as lacunas
no relacionamento empresa-sociedade”,
anima-se Pardauil.
“Rendauá-catu”: esta aí um bom titulo
para uma poesia fechar esta reportagem
e homenagear aqueles que com talento,
técnica e perseverança ajudam a iluminar
a vida de outras pessoas:
Rendáua-catú - Enfim, Tucuruí mudou
Tucuruí, mudou o Pará, mudou o Brasil: a
Usina trouxe luz para
o desenvolvimento e
Éramos sós: ovelhas desgarradas
hoje garante parcela
Mas achamos um lugar onde até nos mais sofridos
significativa da enerA esperança nunca fenece
gia distribuída pelo
Hoje somos felizes? Certamente
Sistema Interligado
Vencedores? Quem sabe até sem sentir somos
Nacional - SIN em
Dores, amores e filhos...Nasce o dia.
todo o Brasil. E nem
O trabalho nos enobrece
tudo são relações tenVem a noite e em nossa casa iluminada, vem a prece.
sas entre a Usina e a
E logo o sol nos traz um novo dia, que por ser novo, rejuvenesce.
população. O gerente
Mas há aquele se torna deserto e nos esquece
da Regional de ProduHá os que se tornam abrigos, estes sim, já nos merece!
ção e Comercialização
Ora guerra, ora paz, união: sorrisos, entre amigos,
de Tucuruí, Antônio
O destino assim se tece
Augusto Pardauil, tem
sempre uma boa notícia, sejam os cursos de engenharia do
campus avançado da
UFPA, ou as dezenas
de programas de preservação ambiental,
ou ainda o resgate da
história e da cultura da
região.
Um exemplo é o
recém-inaugurado
Centro Cultural Rendáua-catú. “Estamos
contando a história
da estrada de ferro
do Tocantins. Lá terá
mostras permanentes de nossos programas ambientais e já
está ficando pronto
10
Compensação por geração hidrelétrica
pode aumentar, mas não resolve
Está tramitando na Câmara dos Deputados o Projeto
de Lei 1270/07, do deputado Laurez Moreira (PSB-TO),
que aumenta de 6% para 8,75% o percentual dos royalties, ou a chamada compensação financeira a ser paga a
estados e municípios pelo uso de seus recursos hídricos.
Este percentual é pago pelas concessionárias de energia
elétrica, que exploram hidrelétricas, com a formação de
reservatório ou não, nos referidos municípios.
Hoje, o percentual atende a uma legislação da Aneel,
mas o projeto mantém a distribuição dos índices de compensação atuais. Entretanto, mesmo o deputado Laurez
Moreira considerando injusto o critério vigente, por não
levar em conta que estados e municípios são os maiores
afetados com a construção das usinas, o seu projeto em
nada altera no que concerne à grita geral relacionada ao
uso dos royalties: hoje são gastos ao bel prazer de prefeitos
e governadores, pois não há mecanismo de controle nem
legislação que especifique como e onde estes recursos
devem ser investidos.
O presidente da Comissão e Minas e Energia da Câmara
dos Deputados, deputado José Otávio Germano (PT- RS),
que vai se debruçar agora sobre um outro projeto semelhante, só que relativo à exploração de jazidas e minas, do
deputado José Fernando Aparecido de Oliveira (PT- MG),
é contrário a este aumento dos índices, por considerá-los
danosos à nossa economia. Segundo o deputado, existe
hoje no Brasil um excesso de tributos com relação ao setor
produtivo, onde se inclui o Setor Elétrico e o mineral.
José Otávio acredita que deveria haver maior transparência no que diz respeito à aplicação desses recursos por
estados e municípios. “Deve-se criar uma legislação onde
se determine em que setores os prefeitos e governadores
podem ou devem aplicar esses recursos, que hoje são
usados sem nenhum tipo legal de cobrança e fiscalização.
Este seria um aprimoramento da legislação sobre a questão: disciplinar os percentuais para se aplicar em saúde,
educação, saneamento básico, recuperação do solo, meio
ambiente e assim por diante”.
Compensações pagas aos municípios do entorno da Usina Hidrelétrica Tucuruí
Compensações pagas pelas hidrelétricas operadas pela Eletronorte
Ano
2007
2006
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1999
1998
1997
TOTAIS
UHE Tucuruí
R$ 42.875.005,38
R$ 47.745.516,75
R$ 37.643.327,89
R$ 32.051.052,15
R$ 24.305.948,52
R$ 20.980.327,34
R$ 18.174.963,35
R$ 9.608.209,88
R$ 8.618.576,31
R$ 9.047.576,69
R$ 10.324.130,31
R$ 261.374.634,57
UHE Samuel
R$ 1.198.392,93
R$ 1.273.054,20
R$ 895.330,78
R$ 865.598,21
R$ 869.234,67
R$ 607.812,52
R$ 626.542,67
R$ 256.632,14
R$ 355.012,34
R$ 311.256,86
R$ 385.510,74
R$ 7.644.378,06
UHE Coaracy Nunes
R$ 631.835,20
R$ 719.645,46
R$ 457.709,84
R$ 461.573,81
R$ 496.526,31
R$ 368.667,75
R$ 344.170,34
R$ 185.369,17
R$ 164.154,08
R$ 150.573,38
R$ 165.826,63
R$ 4.146.051,97
UHE Curuá Una
R$ 341.461,51
R$ 354.939,58
R$ 281.835,91
R$ 260.883,69
R$ 204.800,86
R$ 196.594,75
R$ 179.996,49
R$ 105.869,09
R$ 67.802,92
R$ 64.344,65
R$ 96.729,28
R$ 2.155.258,73
Total
R$ 45.046.695,02
R$ 50.093.155,99
R$ 39.278.204,42
R$ 33.639.107,86
R$ 25.876.510,36
R$ 22.153.402,36
R$ 19.325.672,85
R$ 10.156.080,28
R$ 9.205.545,65
R$ 9.573.751,58
R$ 10.972.196,96
R$ 275.320.323,33
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TECNOLOGIA
Criatividade, o dom que aprimora produtos,
equipamentos e processos empresariais
César Fechine
Ganhar o mundo sempre foi o desejo do
paraibano Tiago Cândido Neto. “Eu tenho
que ir embora, conhecer novas coisas. Eu
falava isso pra todo mundo”, diz o hoje empregado da Eletronorte. Em 1975, aos 23
anos, ele deixou as pequenas plantações nas
quais trabalhava com os pais em Paulista, na
Paraíba, e foi parar em Porecatu, no Paraná,
seguindo um tio e um primo que arranjaram
emprego na Usina Capivara, divisa com o
Estado de São Paulo.
O convite era para trabalhar na área de
montagem de equipamentos da empresa
de engenharia Tenenge. “Em Capivara eu
trabalhei em várias áreas: oficina, subestação, vertedouro, tomada d´água. A Tenenge
acabou sendo incorporada pela Odebrecht,
que fez toda a parte de montagem da primeira etapa de Tucuruí”, diz o hoje auxiliar
técnico de engenharia.
Começaram então as mudanças na vida
de Tiago (foto abaixo), como é comum para
os empregados de toda grande empresa
de engenharia. De Porecatu, ele foi para
Araxá, Minas Gerais, trabalhar numa fábrica
de fertilizantes. De lá para Goiás, trabalhar
na Hidrelétrica São Simão. “Eu trabalhei na
subestação, com operação e manutenção de
transformadores. De São Simão fui para Foz
do Iguaçu, trabalhar em Itaipu, logo no início
das obras, onde fiquei por um ano”.
Após Itaipu, o destino foi o Recife, em
1978, para trabalhar na subestação More-
no II, da Chesf. Lá, a surpresa do coração:
“em Recife, eu conheci Alda, minha esposa,
com quem tive dois filhos. Hoje, minha filha
está com 27 anos e formou-se em Turismo.
Meu filho, com 26, está se formando em
Zootecnia”.
O Pará surgiria na vida de Tiago em
1980, quando houve a transferência para a
subestação Guamá, em Belém, e o trabalho
com os transformadores, seccionadores e
barramentos. Após dois anos, finalmente,
Tucuruí. “Eu cheguei em Tucuruí no dia 5 de
abril de 1982 para trabalhar na montagem
das máquinas, como mecânico ajustador.”
Depois disso, o auxiliar técnico trabalhou
na subestação, com os geradores, com as
máquinas da subestação blindada e com
os transformadores e, em 1987, surgiu a
oportunidade de entrar para o quadro efetivo
da Eletronorte.
Inovação - Tanto tempo trabalhando com
equipamentos diversos rendeu conhecimento
a Tiago. E a muitos outros empregados da Eletronorte que hoje colaboram para a melhoria
dos produtos, equipamentos e processos com
os quais estão envolvidos no dia-a-dia, nas
mais diversas áreas da Empresa.
Essas melhorias e todas as atividades
referentes às áreas da gestão do conhecimento e da inovação tecnológica foram
apresentadas na I Semana Eletronorte do
Conhecimento e Inovação - Seci (foto acima),
realizada em novembro de 2007 em Cuiabá
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- MT. A Seci reuniu o XIII Painel Integrado
da Qualidade - PIQ, o II Prêmio Muiraquitã
e a II Feira de Inovação Tecnológica.
“Este evento integra várias áreas da
Empresa e tem como objetivo incentivar os
empregados a produzirem melhorias em
produtos e processos, que possam ser aplicados na Empresa e também em todo o Setor
Elétrico”, explica Francisco Fernandes Neto
(foto acima), gerente de Suporte à Gestão do
Conhecimento e coordenador da I Seci.
No total foram inscritos 87 trabalhos e
distribuídos R$ 172 mil em prêmios para
projetos diversos nas áreas de operação e
manutenção de equipamentos, tecnologia
da informação, preservação e mitigação
de impactos socioambientais, ensaios químicos, sistemas elétricos, ferramentas e
dispositivos de segurança, entre outros.
Durante a I Seci, a II Feira de Inovação
Tecnológica mostrou alguns trabalhos desenvolvidos por colaboradores das unidades regionais da Eletronorte, concorrentes
ao Prêmio Muiraquitã. Essas inovações estão
possibilitando a redução e a eliminação de
diversos custos para a Empresa, gerando
uma economia estimada em R$ 27,2 milhões/ano.
Vários desses trabalhos têm registro de
patente solicitado junto ao Instituto Nacional
de Propriedade Intelectual - Inpi, conforme
prevê o Programa Eletronorte de Propriedade Intelectual - Pepi.
“Hoje, a Eletronorte está na quinta posição
entre as empresas do Setor Elétrico brasileiro
em número de pedidos de patentes junto ao
Inpi. A Empresa tem 46 pedidos de patentes
e seis de registro de direito autoral científico
de software”, informa Neusa Lobato, gerente
de Articulação com a Indústria Nacional.
Multicoletor - Um dos trabalhos apresentados durante a I Seci, desenvolvido por Tiago e uma equipe de colaboradores da Usina
Hidrelétrica Tucuruí, foi o “multicoletor a
distância de óleo isolante de transformadores
de potência para análise físico-química”.
Em Tucuruí já ocorreram alguns sinistros
com explosões de transformadores. “Esses
acidentes seriam fatais se houvesse alguém
por perto. Diminuir os riscos e aumentar
a segurança foram os principais fatores
motivadores do projeto”, explica Paulo
Rubens Paraense de Azevedo (foto abaixo)
- paraense até no nome, que também participou do desenvolvimento do projeto do
multicoletor.
O objetivo do trabalho é possibilitar a coleta de óleo isolante a uma distância segura e
sem a necessidade de parada da máquina,
isto é, realizar o serviço com o transformador
de 500 kV energizado, por meio de tubos
de inox de ¼ que são conectados a uma
caixa coletora. O transformador fica na cota
26,60 metros e os pontos de coleta foram
transferidos para a cota 18,40 metros, o que
possibilita que o óleo escorra pelo efeito da
gravidade.
O multicoletor é composto de quatro blocos com quatro válvulas isoladoras na parte
superior e com quatro adaptadores permanentes na parte inferior. Um sistema elétrico
comanda as válvulas solenóides que ficam
nos pontos de saída do equipamento.
Essa coleta é necessária para a realização
de análises de gascromatografia e físicoquímica do óleo isolante, que permitem
acompanhar a vida útil dos equipamentos
de alta tensão.
O cálculo do custo evitado para a Eletronorte, agora que a coleta é realizada com o equi-
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pamento energizado, é feito multiplicando-se
a potência de cada máquina (350 MW), pelo
tempo de coleta (1 hora) e pelo custo do MW
em reais (R$ 70,00), o que dá R$ 24,5 mil por
máquina. A economia anual é estimada em
R$ 1.127.000,00, considerando-se as duas
coletas semestrais feitas nas 23 máquinas
de Tucuruí.
Bancada - Outro importante invento que
saiu do “chão de fábrica” de Tucuruí é a
“bancada para montagem e desmontagem
de macaco hidráulico de disjuntor tipo FB3”.
À frente do projeto, o auxiliar técnico de
engenharia Pedro Virgulino da Silva (foto
acima), 62 anos, diz que quem trabalha na
oficina da Usina sempre recebe solicitações
dos colegas. “A turma pergunta pra gente:
será que dá para melhorar isso aqui, dá para
fazer alguma coisa ali? E a gente, dentro do
possível, vai fazendo o que pode.”
Antes da invenção da bancada, a manutenção do macaco hidráulico do disjuntor
de 500 kV mobilizava vários trabalhadores.
“Esse equipamento é pesado, tem uns 150
quilos e era preciso um batalhão de gente
para transportar, segurar e desmontar o
eixo. Na hora da manutenção, o pessoal
discutia e chegava até a brigar”, lembra
Seu Pedro.
Observando as dificuldades dos colegas,
ele pensava numa forma de fazer a manutenção do equipamento próximo ao local da
instalação e de facilitar a desmontagem do
eixo do pistão dos macacos hidráulicos dos
disjuntores, que integram as 12 máquinas
da primeira etapa de Tucuruí. No total, são
36 equipamentos, pois cada máquina tem
três fases, cada uma com um disjuntor.
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Começou a surgir, então, o projeto da
bancada para facilitar a fixação e a desmontagem das porcas do equipamento e de
possibilitar o trabalho junto aos disjuntores,
sem a necessidade de transportar o macaco hidráulico. “Fomos desenvolvendo o
projeto da bancada, que foi confeccionada
com o nosso próprio material e hoje temos
muitas melhorias”, diz Seu Pedro.
O tempo médio para manutenção do
equipamento caiu em 60% e o trabalho
é feito agora por apenas dois homens. O
tempo de parada de máquina ocasionada
por manutenção dos macacos hidráulicos
também diminuiu, com o conseqüente
ganho na geração. A estimativa é de
que a redução da indisponibilidade de
energia possibilitará uma economia para
a Empresa de R$ 792 mil/ano. A Eletronorte já pediu o registro de patente da
ferramenta.
Seu Pedro é só orgulho. “Eu tenho
muito orgulho de ter contribuído com a
construção da hidrelétrica. Mas o mais importante agora é poder ajudar as pessoas e
também a Empresa com essas melhorias”,
declara.
Gavião - Edson Ferreira de Barros (foto
abaixo) trabalha na manutenção civil da
subestação Tartarugalzinho, no Amapá, e
desenvolveu um trabalho simples, porém
eficaz, para espantar as andorinhas que
causavam danos ao sistema de proteção da
subestação: o “espantalho-gavião”.
“A gente achava até bonita aquela revoada de andorinhas, mas chegou um
momento em que o pessoal da operação
e manutenção pediu o nosso auxílio na
limpeza dos equipamentos. Eu questionei
o porquê da limpeza e soube que as fezes
das andorinhas acarretavam um problema
muito sério para a Eletronorte. A sujeira era
enorme”, relata Edson.
manutenção da ordem de R$ 276 mil/ano,
sem falar no ganho ambiental, pois as andorinhas são aves migratórias que contam
com proteção internacional.
O problema é que as fezes das andorinhas contêm uma acidez muito alta e
quando depositadas nos equipamentos
das subestações, principalmente no período de chuvas, prejudicavam a cadeia de
isoladores, chegando a causar curtos-circuitos. Edson conta que os equipamentos
chegavam a ficar indisponíveis por seis
horas ou mais. “Às vezes, o impacto era
tão grande que danificava os equipamentos, como ocorreu com seccionadoras e
pára-raios, e era preciso que os operadores
fizessem a manobra de remanejamento
da carga.”
O trabalho para espantar as andorinhas
teve início com o uso de rojões, mas passados dois dias elas retornavam. Em seguida,
uma empresa foi contratada para espantar
as andorinhas com produtos químicos, mas
algumas aves apareceram mortas.
Edson, que é químico por formação,
reparou que os gaviões espantavam as andorinhas e pensou: “se os gaviões estão de
dia, porque não vêm de noite”? E começou
a pensar no projeto.
Quando houve um desligamento na
subestação para a troca dos isoladores e
de outros equipamentos foi implantado o
projeto do gavião, que é um boneco de isopor, com estrutura metálica. “E até hoje não
tivemos mais a presença das andorinhas na
subestação Tartarugalzinho, que fica entre
Macapá e Calçoene”, conta Edson.
A inovação será replicada para todas as
áreas da Eletronorte que têm este tipo de
problema e o pedido de registro de patente
do invento já foi feito junto ao Inpi. O resultado para a Eletronorte é um ganho com
Enxofre corrosivo - Lotado no Centro de
Tecnologia da Eletronorte, em Belém, Augusto César Saraiva (foto ao lado) é químico,
com mestrado em energia e meio ambiente
e doutorado em engenharia elétrica. “Eu
entrava no Instituto de Pesquisa da Amazônia para fazer pesquisas na biblioteca e
saía andando pelos laboratórios, olhando
aqueles vidrinhos. Eu ficava fascinado e
desde a época do ginásio determinei que
queria estudar química”, relembra.
O químico já participou de vários trabalhos de pesquisa e desenvolvimento na
Eletronorte e o seu projeto mais recente tem
como objetivo a “identificação do enxofre
corrosivo nos óleos isolantes por meio da
técnica de gascromatografia e detecção de
massa (GC-MS) para evitar explosões nos
reatores e transformadores.
O projeto começou após o Comitê Brasileiro de Óleo Mineral Isolante (Cobei) - que
faz as normas técnicas referentes a óleo
mineral isolante e aos trabalhos executados
em transformadores e outros equipamentos
de potência - do qual Augusto faz parte,
ter começado a discutir as falhas nesses
equipamentos.
Após um seminário, o fabricante de dibenzildissulfeto (DBDS), que é um composto adicionado ao óleo dos transformadores
e dos reatores com o objetivo de estabilizar
a oxidação, admitiu a presença de enxofre
corrosivo em seu óleo. “A partir daí, a gente
começou a desenvolver um método para
mudar a temperatura do óleo e detectar o
enxofre corrosivo”, diz Augusto.
O trabalho começou a ser desenvolvido em 2005, mas só em 2006 é que
a Eletronorte adquiriu o equipamento
para analisar o DBDS, ao custo de R$
650 mil. Foi comprovado que o enxofre
existente neste composto se decompõe
com a alta temperatura, deteriorando o
cobre dos equipamentos e transformando-se num condutor. Augusto relata que
“com isso ocorrem explosões nos equipamentos. Houve 19 casos no Brasil de
reatores que explodiram e a Eletronorte
tem muitos equipamentos nos quais o
óleo está sendo trocado por causa desse
composto”.
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Hoje, a equipe do Centro de Tecnologia
está analisando os equipamentos das empresas do Grupo Eletrobrás. “Nós já monitoramos todas as subestações da Eletronorte
e percebemos que há cerca de 150 equipamentos contaminados”, informa Augusto.
Esse trabalho já gerou uma economia de
R$ 8,9 milhões para a Eletronorte. O cálculo
é feito de acordo com o valor do óleo que está
sendo trocado, pois de outra forma a Empresa teria que arcar com esse custo. Segundo o
químico, quando a Eletronorte prova o risco
que esse aditivo pode causar, a responsabilidade passa a ser do fornecedor.
Os prejuízos que a Empresa poderia ter
com sinistros causados por esse aditivo em
seus equipamentos são estimados em R$
150 milhões. Atualmente, 80 milhões de
toneladas de óleo são distribuídos no Brasil
com enxofre corrosivo.
Valores - Criatividade, curiosidade e próatividade parecem ser algumas das características comuns dos nossos inventores. “A
gente vem trabalhando ao longo do tempo e
fica observando os equipamentos, pensando: eu acho que se fizesse isso, melhorava
aqui. Se eu melhorasse isso, poderia ter este
rendimento. Então, são coisas que a gente
aprende no dia-a-dia”, ensina Tiago.
A observação, a prática, o dia-a-dia, tudo
isso conta muito para vencer as dificuldades. E para melhorar o negócio empresarial.
“A energia é o nosso foco principal. A gente
tem que garantir a energia pra todos, que
é a nossa principal atividade”, conclui Seu
Pedro. O que vai ao encontro de alguns dos
valores da Empresa, que são estimular a
criatividade, a iniciativa, a produtividade e o
alinhamento com os objetivos empresariais,
com eqüidade e segurança das pessoas.
“Pela valorização das nossas idéias”
“Nós não temos no Brasil a cultura da
propriedade industrial e estamos fazendo
um trabalho para disseminar esse assunto nas escolas de nível médio, de nível
superior e outras instituições. Tudo para
valorizar e proteger o nosso bem, as nossas
invenções, as nossas idéias.” Quem afirma
é Maria do Socorro Mendonça Campos
(foto abaixo, à direita), que trabalha há 32
anos com propriedade intelectual e inovação tecnológica no Instituto Nacional da
Propriedade Industrial - Inpi. Ela já atuou
na área de análise de patentes, trabalhando
atualmente como examinadora de contratos
de tecnologia, e participou da I Seci realizada pela Eletronorte.
O Inpi é uma autarquia federal vinculada
ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior, responsável por registros de marcas, concessão de patentes,
averbação de contratos de transferência
de tecnologia e de franquia empresarial. A
instituição também faz os registros de programas de computador, desenho industrial
e indicações geográficas, de acordo com
a Lei da Propriedade Industrial, a Lei n.º
9.279/96.
Segundo Socorro, o Instituto iniciou um
trabalho de reestruturação, empreendido
sobretudo a partir de 2004, com a criação
da Ouvidoria e da Diretoria de Articulação
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e Informação Tecnológica, facilitando o acesso às informações tecnológicas disponíveis e disseminando a cultura da
propriedade intelectual.
O processo de informatização pelo qual a instituição passa
teve grande avanço com o lançamento do e-marcas, sistema
que permite que os pedidos de marcas possam ser feitos e
enviados pela Internet, por meio de formulário eletrônico.
“Esse sistema, acrescido à contratação de 60 novos examinadores, deverá reduzir o prazo para concessão de marcas
em 80%”, informa Socorro.
O Inpi também procura consolidar os seus laços com
instituições, tais como a Confederação Nacional da Indústria
- CNI, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae, universidades públicas e privadas, agências
de desenvolvimento e diversas instituições internacionais,
entre outros, para fortalecer os programas de capacitação
relacionados à propriedade intelectual.
Outro importante projeto que está sendo desenvolvido é a busca da
integração na área de
propriedade industrial no
Mercosul, que ganhou
força com o projeto de
criação de um banco de
dados comum para pesquisa de marcas e patentes, oferecendo um
resultado mais amplo para
as buscas feitas nos escritórios nacionais.
ENERGIA ATIVA
O futuro que nasce dos
sonhos empreendedores
Viviane Assis
Era início de 1984 e todo o interior do Estado de Rondônia ainda padecia com a falta
de energia elétrica. A população era formada,
em sua maioria, por imigrantes que haviam
vindo de cidades onde a questão energética
já não era tão deficiente e esperava a chegada de uma energia confiável para garantir a
segurança dos investimentos. A instabilidade
desse abastecimento causava prejuízos diários e, em protesto ao serviço ineficiente, um
grupo de moradores do município de Cacoal
destruiu a sede das Centrais Elétricas de
Rondônia - Ceron e da Prefeitura, o Palácio
do Café.
A paulista Paulina Barbosa Pereira Lima
(foto ao lado) chegou em Cacoal - cujo nome é
resultado da mistura das duas principais produções agrícolas da região, o cacau e o café
- em 1978. Ela era funcionária do município
e relembra o episódio nas páginas do livro
“Memória da Energia Elétrica de Rondônia”,
lançado pela Eletronorte em 2006: “Estávamos sem o fornecimento de energia elétrica
há uns dois meses. A população se revoltou.
Os comerciantes que lidavam com venda de
alimentos perdiam produtos diariamente.
Uma noite, umas pessoas se reuniram, quebraram móveis e colocaram
fogo no prédio da Ceron.
Depois eles seguiram para
o Palácio do Café. Como
moro três quarteirões depois
da prefeitura, de casa dava
para ver a multidão gritando
e as coisas sendo destruídas.
Nós, trabalhadores da prefeitura, ficamos com medo
de sair de casa e também
sermos vítimas da revolta. O
único objeto que escapou do
incêndio no prédio administrativo do município (foto abaixo) foi um cofre. O prefeito Josiano Brito entrou em contato com o governador
Jorge Teixeira. No dia seguinte, Teixeirão
estava na cidade. Ele prometeu reconstruir o
Palácio do Café em seis meses. Assim surgiu
a estrutura de alvenaria que o Estado entregou todo mobiliado. Durante algum tempo,
17
o abastecimento melhorou, nosso trabalho
foi imenso. Uma unidade regional do Banco
do Brasil cedeu uma sala e recomeçamos a
abrir a contabilidade do município. Todos os
funcionários foram às residências realizando o
recadastramento dos imóveis. Medimos todos
os terrenos novamente, mesmo assim muitos
moradores ficaram com espaços maiores do
que o original”.
Pimenta Bueno - Dez anos depois, os
moradores do município vizinho de Cacoal,
Pimenta Bueno, presenciariam uma manifestação semelhante pela falta de energia
elétrica. “Começamos a assistir a semifinal
da Copa do Mundo, nos Estados Unidos.
O Brasil jogava contra a Holanda quando
ouvimos um estouro. Todos correram para
as ruas e viram o fogo e a fumaça saindo
na direção do prédio da Ceron”, explica o
comerciante Jacó Bocker (foto abaixo). O
gaúcho da cidade de Venâncio Aires adotou
Pimenta Bueno como moradia, em 19 de
março de 1986. A data é relembrada com
exatidão porque foi o começo de uma vida
estável. Naquela época ele vislumbrou uma
excelente oportunidade de crescimento
profissional. Poucas vindas na cidade como
representante de uma grande empresa
de parafusos lhe deram a certeza que foi
reforçada com uma boa ajuda do destino.
Um cliente estava com uma pequena loja à
venda, Jacó não pensou uma vez. Fechou
o negócio. Hoje, 21 anos depois, desfruta o
investimento. Sua loja é referência em várias
cidades ao longo da BR-364. Foi vice-presidente da Câmara de Lojistas de Pimenta
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Bueno durante três anos e espera ansioso
pela entrada de Rondônia no Sistema Interligado Nacional - SIN, através da interligação
com Jauru -MT.
“Teremos certamente, agora, uma energia
confiável, dá para perceber pela estrutura
que está sendo montada”, afirma o sempre
animado Jacó. E com razão, afinal até 1988 o
município de Pimenta Bueno dividia a pouca
energia elétrica produzida em fonte térmica
com Cacoal. Somente em 2005, a cidade
passou a contar com a energia gerada na
Usina Hidrelétrica Samuel.
Quem não esquece também a fase sem
energia é a empresária rondoniense Lisane
Odiesel Santos Silva. Dona do mais tradicional
hotel de Pimenta Bueno conta com um sorriso
largo as desventuras da época. “A cidade,
como a maioria que nasceu ao longo da BR364, está dividida em duas. Por isso, a energia
chegava nas casas e comércio da direita e esquerda da BR, de três em três horas. Das 19h
às 22h era fácil manter os hóspedes ocupados
conversando e contando piadas, mas depois
das 23 h não dava certo. Ninguém queria tomar banho de água fria para ir dormir”, conta,
sempre com um sorriso nos lábios.
A hoje iluminada Ji-Paraná
Linha futurista - O temperamento extrovertido, a determinação da família em prosperar
acompanhando o crescimento da cidade
levou o hotel de 13 quartos a crescer para
52 quartos, amplos e com todo o conforto
visto nos grandes centros, e que hoje não
consegue atender a demanda. De olho no
futuro planeja novas ampliações. “Até 2015
iremos construir mais 12 quartos. Esta linha
de transmissão que está sendo construída
para mim é futurista! Ela é a base para tudo
de bom que irá ocorrer no Estado. Com ela
virão investidores e tenho esperança que não
será bom apenas para o setor comercial, mas
para todos os outros e principalmente para
a comunidade”, afirma Lisane (foto acima).
Orgulhosa, destaca ainda que de seus quatro
filhos, as duas meninas já estão se preparando para este mercado de trabalho promissor.
“A mais velha cursa Gestão de Cooperativa
e a mais nova foi aprovada no vestibular de
Arquitetura, na Universidade Federal de
Viçosa (MG)”, vibra a empresária.
Se os moradores dos municípios diretamente e indiretamente inseridos na
construção da linha de transmissão de 230
kV no trecho Ji-Paraná-Pimenta BuenoVilhena estão otimistas e esperançosos, os
trabalhadores da obra não deixam esconder aquela sensação gostosa de participar
e contribuir com um marco no futuro do
Estado. É um orgulho que relembra bem a
competência e a paixão de toda a força de
trabalho da Eletronorte. José de Arimatéia
Castro e Anselmo Schroder compartilham
esse privilégio.
José de Arimatéia Castro (foto ao lado), tem
o nome que merece. Ele realmente faz você
recordar aquela passagem bíblica do homem
bondoso que resgatou o corpo de Jesus Cristo
na cruz para o sepultamento. Tem 54 anos,
29 de dedicação exclusiva ao Setor Elétrico,
é natural de Tubarão (SC), entretanto, fez do
Norte sua moradia desde 1978. Seu primeiro
trabalho na região foi através da empresa
Camargo Corrêa na fase inicial da Usina
Hidrelétrica Tucuruí, coração da Eletronorte,
onde fez a contratação de muitos trabalhadores. Em 1983 foi chamado para o setor
19
bagagem invejável no setor.
Trabalham juntos e nas horas de folga cuidam de uma
plantação de macaxeira - a
mandioca da Região Norte
-, banana e amendoim, na
frente do escritório regional
(foto ao lado).
de análise econômica da Usina Hidrelétrica
Samuel, localizada no Rio Jamari, a poucos
quilômetros da capital Porto Velho.
Arimatéia analisava os contratos das
empreiteiras, era funcionário da empresa
Sondotécnica, responsável pela obra. Acompanhou a construção de várias subestações
em Rondônia e no Acre. Depois cuidou
do setor de licitação da Superintendência
de Engenharia de Rondônia por dez anos.
De 84 a 86 foi administrador da Vila Residencial da Eletronorte, em Porto Velho.
Em 2005 recebeu uma nova missão: fazer
o controle de qualidade da construção da
linha de transmissão Ji-Paraná/Pimenta
Bueno/Vilhena. Uma obra com mais de 350
trabalhadores.
O serviço prazeroso exige sacrifícios impensáveis para muitos. Ele é pai do casal Leonardo e Daniela, e avô de Paulo Henrique,
e vive a maior parte do ano longe da família.
São 520 quilômetros de distância de Pimenta
Bueno a Porto Velho e muitas saudades que
são compensadas em apenas quatro dias,
duas vezes ao mês. “Não é fácil, no entanto,
a gente precisa fazer esses sacrifícios. Já foi
bem pior, em 2002 fiquei um ano longe, só
os visitava a cada 45 dias”, diz. Quando José
de Arimatéia chegou em Pimenta Bueno,
há três anos, encontrou um velho amigo de
estrada: Anselmo Schroder, tecnólogo em
Gestão Ambiental, natural de Laranjeiras
do Sul (PR). Outro profissional com uma
20
Respeito à natureza - Anselmo é o homem do meio
ambiente da linha de transmissão. Diariamente percorre a obra para ver se a
empreiteira está obedecendo às diretrizes ambientais
da Eletronorte e à legislação
do Ibama e da Secretaria
Estadual de Meio Ambiente
de Rondônia - Sedam. A
ordem é degradar o mínimo possível e recuperar o
máximo. Além de fiscalizar,
ele ainda é responsável pelo recebimento
de material.
A longa experiência permite que, hoje, Anselmo analise os 278 km de extensão da linha
de transmissão Ji-Paraná-Pimenta Bueno-Vilhena - principalmente o reaterro das torres
da linha com agilidade, mas muito critério.
Não passa nenhuma não-conformidade por
sua avaliação. Ele é extremamente metódico
e disciplinado. Sua carreira começou em uma
subestação de Itaipu, onde trabalhou com um
equipamento vindo da Suécia. A experiência
lhe rendeu um convite para receber peças e
ajudar na montagem das turbinas 1 e 2 da
Hidrelétrica Samuel. Em 1988, foi responsável pelo setor de suprimentos da Usina e,
em 2004, foi transferido para o escritório da
Regional de Planejamento e Engenharia, em
Pimenta Bueno.
Apesar da distância da família, que também reside em Porto Velho, ele não deixa
de falar das conquistas da única filha: Grazieli, secretária executiva trilíngue, formada
na Faculdade Internacional de Curitiba. A
esposa, Nancy, farmacêutica e bioquímica
compartilha a opinião do marido há mais de
duas décadas. “Pedra que muito rola não cria
limo” e escolheu carinhosamente o Estado
de Rondônia para fixar residência. Agora esperam, juntamente com mais de um milhão
e meio de rondonienses, um futuro repleto
de energia confiável e por que não futurista,
como disse a empresária Lisane!
CIRCUITO INTERNO
Auditório lotado
em mais uma
ação educativa
Educação empresarial: instrutoria interna
promove multiplicação do conhecimento
Érica Neiva
O ser humano sempre está em busca de
algo novo a descobrir... Esse conhecimento
pode tornar-se um bem comum ou um instrumento de poder monopolizado por poucos.
Dar condições materiais e apoio intelectual
para que todos tenham acesso ao mundo
do saber é compartilhar um patrimônio que
engrandece não apenas o homem como indivíduo isolado, mas como componente de uma
engrenagem maior que considera o corpo
social como um todo.
Nesse processo de socialização do conhecimento,
a Eletronorte se apresenta
como uma Corporação que
investe sobremaneira no
empregado, por meio de
ações educacionais e treinamentos. “Trabalhar na área
de educação é uma missão
de vida, porque nós estamos lidando com pessoas,
expectativas, necessidades
empresariais e a busca de
resultados. A Eletronorte investe muito em
educação, fortalecendo esta nossa missão”,
destaca a superintendente de Desenvolvimento e Educação Empresarial, Eden Brasília
Damasceno.
Segundo Eden, a Eletronorte tem recorrido
à instrutoria interna como mola propulsora
de boa parte de seus treinamentos. Esse
fato não apenas provoca redução nos custos
das atividades, como também possibilita aos
empregados serem agentes na transmissão
dos diversos conhecimentos. “É de grande
importância não só na economia proporcionada, que é
um objetivo estratégico, mas
também com relação à contextualização do conteúdo à
nossa realidade”, avalia a coordenadora de treinamento,
Maria Edite de Faria Santos
(foto ao lado).
Desde 2004, a Empresa
sistematiza ações educacionais utilizando instrutoria interna. Dessa forma, as
despesas com treinamentos
21
sofreram considerável diminuição. “Em 2004,
tivemos uma economia aproximada de R$ 400
mil; em 2005 de R$ 480 mil; em 2006 de R$
800 mil; e até meados de novembro de 2007,
em média, R$ 1,8 milhão”, contabiliza Eden.
Ação de vanguarda - No setor técnico-operacional, cerca de 95% da consultoria é interna. “Nesta área os resultados contribuem
para uma maior confiabilidade dos sistemas
elétricos, por exemplo. Essa credibilidade é
conseqüência de um menor número de desligamentos, de acidentes, entre outros fatores
críticos de sucesso”, reflete o coordenador de
treinamento, Orlando Benedito Zarlenga.
O curso da Norma Regulamentadora (NR10) é um dos grandes exemplos onde toda
22
“
O desenvolvimento de pessoas tende a trazer só resultados positivos,
que é o crescimento profissional e
também pessoal. Eu sou encantada
pela área de treinamento porque percebo o desenvolvimento das pessoas
dia a dia. É muito gratificante trabalhar com educação .
“
No campo
e em sala
de aula, a
participação
da instrutoria
interna
Cláudia Maria Andrade
- coordenadora de treinamento.
a instrutoria foi originária da área técnica da
Eletronorte. O objetivo é capacitar as pessoas
que trabalham em áreas de risco e também no
sistema elétrico de potência e em suas proximidades, de forma que possam exercer suas
funções de maneira mais segura. Foi realizado
com a Fundação Comitê de Gestão Empresarial
- Funcoge, que colocou à disposição o material
didático do curso básico e complementar.
Em 2007 foram capacitados 661 empregados no módulo básico e 2.563 no módulo
complementar, totalizando 3.224 participações. Somente neste curso, a participação da
instrutoria interna proporcionou uma economia aproximada de R$ 690 mil. A Empresa
é a única do Setor Elétrico que já capacitou
mais de duas mil pessoas entre técnicos e
engenheiros voltados para área de risco, tanto
no módulo básico quanto no complementar.
Mestres - Na especialização em Gestão
Empresarial, parceria da Eletronorte com
a Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), das 19 disciplinas oferecidas, cinco
delas foram ministradas por instrutores da
Empresa. É o primeiro curso de especialização onde cinco mestres formados pela
Eletronorte se tornaram professores. Assim,
houve uma redução de 20% nas despesas.
“São mestres formados pela Empresa que
estão retornando com o conhecimento
como professores. Tudo isso com um impacto muito grande na redução de custos
e no repasse de conhecimento”, ressalta
Maria Edite.
Na década de 90, a Eletronorte aderiu ao
Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade, cujo um dos principais objetivos era
a capacitação interna de pessoal. Naquele
período, a Empresa iniciou o processo de
capacitação com uma primeira turma de 50
multiplicadores. “Começou, assim, a preocu-
“
Todos os treinamentos de que
participei foram muito importantes
para minha formação profissional na
Empresa. Com eles pude conhecer
melhor a Eletronorte, qual o seu papel
e contexto no Setor Elétrico brasileiro.
O treinamento, na NR-10, capacitoume a exercer minhas tarefas de forma
segura, para mim e para com meus
colegas .
“
Alfredo José Azevedo Corrêa - aluno.
“
O curso de especialização em Gestão
Empresarial foi muito importante para a
minha vida profissional, pois contribuiu
de forma significativa para melhorias
no desempenho das minhas atividades,
além dos avanços atingidos nos relacionamentos a distância .
Carmo Gonçalves - aluno
A gestão pela
excelência
é marca da
Eletronorte
“
De acordo com o raciocínio de investimento no próprio corpo funcional, a Eletronorte oferece os recursos necessários na
formação do empregado e depois o utiliza
na disseminação de suas atividades. Tal fato
pode ser observado no comportamento de
todos aqueles que passam por uma ação
educativa. Muitos se tornam multiplicadores
do conhecimento, como Carlos Hermógenes
de Souza Rocha, treinando da NR-10. “Para
nós, técnicos de segurança do trabalho, o
processo de implantação e a conseqüente
participação na capacitação dos demais
empregados foi algo singular. Multiplicar
conhecimento é dar um pouco do que temos
e receber o que não temos. Não apenas repassamos, mas recebemos aprendizado. É
uma troca mútua, ambos os lados acabam
ganhando”.
pação com a melhoria da qualidade, a visão
de cliente, de processo, de resultado, e a
minha experiência com instrutoria e como
multiplicador da qualidade na Eletronorte.
Foi um trabalho muito bonito. Confesso que
gostei muito”, afirma o mestre e também assessor de Planejamento Empresarial, Marcos
Barbosa.
A partir de 1996, os programas foram
reciclados e passou-se a pensar não apenas
em qualidade, mas em excelência da gestão. Houve a transição no modelo do Setor
Elétrico, com o surgimento de um ambiente
competitivo. Neste momento, investiu-se
muito na preparação das pessoas para que
tivessem conhecimento de mercado. A Eletronorte apoiou a formação de mestres por
meio do custeamento dos cursos. “Agradeço
muito à Empresa porque este curso era um
sonho que eu tinha. Posso aplicar todo o
conhecimento que obtive no mestrado na
própria Eletronorte”, destaca Marcos.
Conhecimento a distância - Desde 2002,
a Eletronorte começou a implantação do
programa de educação a distância na Sede
e nas regionais. O número de oferta de cursos e de participações aumenta a cada ano.
Em 2007, foram 15 cursos ofertados, 2.421
participações distribuídas em 12 turmas. São
trabalhados temas como informática básica,
23
O diploma
na mão,
conhecimento
a serviço da
empresa
redação empresarial, desenvolvimento de
equipes, licitação e contrato, entre outros. “Os
resultados são satisfatórios no sentido de que
a educação a distância é muito abrangente.
Essa cultura na Empresa já está bem estruturada e difundida; e o resultado tem sido
muito positivo”, enfatiza a coordenadora de
treinamento, Marizete das Dores Sousa.
Na Educação a Distância - EAD, há outro
instrumento que deve ser destacado, a TV
Educativa. Ela é uma parceria da Eletronorte
com a Rede Dtcom, iniciada em 2005. Oferece aos empregados, mensalmente, uma
grade de programação de cursos nas
áreas de autodesenvolvimento de
gestão pública e de gestão corporativa. Posteriormente, o aprendizado
é complementado pelo Ambiente
Virtual de Aprendizagem - AVA.
O AVA é o local onde estes conceitos introdutórios são amadurecidos,
ou seja, os empregados continuam
os cursos em seus próprios computadores, no ambiente de trabalho.
Vale frisar que eles escolhem os cursos que querem fazer. “É uma área
de formação humana muito boa, de
muitas perspectivas. Gosto de trabalhar com
EAD pela autonomia que ela proporciona
às pessoas, para que escolham a trilha que
querem seguir”, discorre outra coordenadora
de treinamento, Ana Celina Fernandes.
“
Sinto-me gratificada por participar
do Programa Brasil Alfabetizado. Vejo
como um direito que as pessoas não
tiveram e agora está sendo recuperado.
Mesmo com todas as dificuldades, eles
resgataram a cidadania, que é um dos
direitos fundamentais do homem .
24
“
Solange Maria da Silva
- coordenadora do treinamento
Transformando vidas - Paixão por leitura,
curiosidade por descobrir coisas, saber explicações para alguns fatos e fenômenos que
acontecem. Isso levou Hélcio Barbosa (foto ao
lado, abaixo), norte-riograndense, residente
há dez anos no Distrito Federal, a dar passos
na estrada da aprendizagem.
Sua experiência com a EAD se iniciou em
2002, quando cursou a especialização técnica para agentes e assistentes administrativos. Esse treinamento durou cerca de dois
anos e trabalhou temas diversos - noções
de Internet, ambiente de escritório, redação
empresarial, desenvolvimento de equipes,
entre outros. “Eu não tinha especialização
ou curso técnico algum, este veio preencher
alguma coisa que estava faltando. O que
ficou foi um aprendizado muito proveitoso.
Acredito que estou neste novo setor da
Eletronorte devido a este curso. As pessoas
viram meu interesse, minha vontade em
aprender”.
Quando entrou na Empresa, em 1998,
Hélcio trabalhou cinco anos na área de serviços gerais. Hoje é auxiliar administrativo
do Sistema de Avaliação de Treinamento.
“Quando fiz o curso tinha uma expectativa
de crescer pessoal e profissionalmente.
Essa expectativa foi superada, mudou muito
a minha maneira de ver as coisas. Minha
auto-estima aumentou e melhorou o meu
relacionamento com as pessoas”. O treinamento não ficou como algo vago e distante
da realidade de Hélcio. No seu dia-a-dia,
ele utiliza o que aprendeu, como noções de
relacionamento interpessoal e programas de
computadores.
Hélcio não parou de trilhar seu caminho
na busca do saber. Começou a fazer cursos pela TV Educativa e já participou de
70 deles, que abordaram temáticas como
comunicação por e-mail, administração de
finanças pessoais, noções de auditoria e
matemática financeira. “A Empresa está
colocando nesse processo alguns dos seus
valores que são o respeito às pessoas e as
oportunidades pra todos. O curso a distância depende muito de cada aluno. Eu
mesmo aproveito bastante, vou interessado
em fazer o melhor”.
A estrada do saber parece mesmo muito
longa, sinuosa, infinita: “Como diz a música
de Gonzaguinha, somos eternos aprendizes. Quero continuar caminhando”, reflete
Hélcio.
TRANSMISSÃO
Time afinado
vence corrida
contra o tempo
para reconstruir
torres derrubadas
Bruna Maria Netto
Quem nunca passou pela frustração de
ter a energia elétrica cortada justamente
num momento decisivo da novela ou partida
de futebol? Se as maiores paixões nacionais
são algumas das afetadas por essa falta de
luz, na Região Norte uma grande equipe é
mobilizada para que a energia seja retomada
o quanto antes. Caso o motivo tenha sido a
queda de uma das torres de transmissão
de energia - estruturas que sustentam os
cabos condutores de energia elétrica e de
fibras ópticas - seja pela ação da natureza,
ou por atos de vandalismo, mal se imagina
o tamanho da equipe escalada para que a
reconstrução dessas estruturas seja feita
no menor tempo possível. Afinal, o breve
retorno do fornecimento de energia além
de atender às necessidades de hospitais,
escolas, comércio e lares, faz com que a
novela e o futebol voltem a ser apreciados
com a tranqüilidade que o cotidiano pede. A
convocação desses técnicos é digna de um
dream team, em que o elenco é formado
por médicos, administradores, jornalistas,
eletricistas e é claro, engenheiros, fazendo
com que o conserto das torres se torne tão
emocionante quanto uma partida final de
futebol.
E o dream team da Eletronorte pode ser
considerado uma verdadeira seleção brasileira, com todos os craques a que se tem
direito, tendo em vista que os trabalhadores
da Empresa são responsáveis por tomar
conta de nada menos que 25 mil torres de
transmissão - cujo tamanho varia de 17 a 65
metros de altura - distribuídas ao longo de
dez mil quilômetros de linhas de transmissão.
Jogam nessa seleção desde o operador que
detecta a falta de fornecimento de energia,
no Centro de Operações Local - COL, até a
diretoria. E o esquema de ataque, além de
25
Linha Verde
Maria Orly de Matos tem 71
anos. Com essa idade deveria
apenas se preocupar com sua
aposentadoria, se não fosse presidente do bairro Dr. Fábio, na
cidade de Cuiabá - MT. Lá, seu
maior inimigo era o lixo depositado
ao longo da faixa de servidão das linhas de transmissão: “As pessoas
jogavam tudo embaixo da linha, de
sofá velho a animais mortos. Com
isso, a população ficava doente,
com dengue ou hanseníase, sem
contar o cheiro, que era horrível.
As crianças brincavam no lixo e tomavam banho na lagoa próxima”.
Por outro lado, na Eletronorte,
Cristina Souto Melo, coordenadora de comunicação e responsabilidade social da Regional de
Transmissão de Mato Grosso, era procurada pela equipe de
linha de transmissão para criar uma maneira de sensibilizar
a comunidade dos bairros Dr. Fábio e São João Del Rey - por
onde passa a linha de transmissão Coxipó/Sinop, de 230 kV
- sobre a importância de manter o lugar limpo, que, além de
poupar cerca de R$ 12 mil por ano na limpeza da área, ainda
ajudaria na manutenção das torres de transmissão.
infalível, é minuciosamente detalhado. Assim
como os centroavantes e zagueiros de um
time de futebol, cada trabalhador sabe muito
bem o papel que deve desempenhar para garantir uma vitória de goleada, com a energia
restabelecida no menor tempo possível.
Esquema tático - Quem “fornece o ouro” e explica o esquema
tático desta equipe é o engenheiro
Eugênio Pacelli Antunes (foto ao
lado), da Gerência de Engenharia
de Manutenção da Transmissão.
Eugênio desenvolve metodologias
de trabalho com novas técnicas
de serviço, procurando diminuir a
atuação do homem e colocando a
máquina para trabalhar, “nos dando mais tempo para pensar mais e
comandar”, completa. Empregado
da Eletronorte há 21 anos, Pacelli já sentiu
de perto a apreensão de ter que reestruturar
o quanto antes uma torre de transmissão:
“Temos de estar preparados para qualquer
que seja o motivo da queda da torre: uma
26
A vida de Cristina se cruza com a de Maria em 2004,
quando a Eletronorte decidiu ouvir os moradores dos
bairros na tentativa de resolver o problema. “Fizemos
uma pesquisa local e identificamos que nesses locais
havia muito desemprego e carência de boa alimentação. Vimos que essa população estava interessada na
ajuda da Empresa. Foram várias reuniões para que
juntos optássemos pela implantação de uma horta
árvore, helicóptero ou avião podem ter caído
em cima da linha, uma ação de sabotagem
ou até mesmo um fato como o ocorrido em
novembro de 2007, quando índios folgaram
os parafusos da base de uma torre derrubando-a, no Maranhão. Na hora dá um desespero momentâneo, por conta da grandeza
do estrago, mas temos a certeza de que, ao
final do dia, a torre estará de pé e a energia
seguirá novamente por sua linha. Sabemos
que é um trabalho árduo, mas sempre temos
em mente que ele será feito no menor tempo
possível”.
E uma torre de transmissão é tão frágil
assim? Eugênio explica que a torre é uma
estrutura forte, planejada para durar pelo
menos trinta anos, resistindo a ventos de
até 150 km/hora. Por ser feita em aço galvanizado, a torre traz resistência mecânica e
proteção contra a corrosão. No entanto, esse
metal oferece pouca durabilidade quando
confrontado com fogo, como ocorre com
qualquer outra estrutura do mesmo material.
“O aço galvanizado é um dos materiais mais
resistentes considerando sua relação cus-
comunitária”, conta Cristina (foto acima à esquerda),
hoje coordenadora do projeto Linha Verde, que nasceu
com o objetivo de reduzir a zero a agressão ao meio
ambiente e promover a melhoria da qualidade de vida
no entorno da faixa de servidão.
A primeira horta foi implantada em 2006. No projeto, ficou definido que a população faria a produção
de hortaliças, em regime de comodato, na faixa de
servidão. A Eletronorte faz a cessão da área, a aquisição de material necessário para trabalhar a horta e a
gestão do projeto. Para organizar as famílias e evitar
problemas de relacionamento, um estatuto foi criado,
e no contrato fica estabelecido que a comunidade faz
a montagem da horta, o plantio, comercialização e
doação de 10% da produção para instituições sociais
auxiliadas pela Empresa.
Em 2007, a horta do Dr. Fábio produziu 6,6 mil maços
de hortaliça. Desses, foram doados 1.072 maços, 1,4 mil
to/benefício. Como as torres são treliçadas,
o que fazemos é, dependendo da região e
da severidade de seus ventos, aumentar a
espessura das treliças, mas como não podemos deter o desmatamento do local, em
pouco tempo a falta dos obstáculos naturais
antes existentes modifica a condição local
consumidos e R$ 8,6 mil comercializados. “Com o projeto atendemos a 12 famílias, que hoje
estão capacitadas para produzir,
consomem alimentos orgânicos
e saudáveis, e auxiliam a comunidade com doação, deixando
de serem apenas receptores de
ajuda. A Eletronorte, por sua vez,
agora investe apenas R$ 6 mil,
mas não com limpeza e sim com
uma ação social. Se antes eles tinham o lixão como referência,
agora eles têm a horta”, relata Cristina.
Maria (foto acima à direita), agora também agricultora, conta
como o projeto melhorou a vida do bairro: “Depois que a horta
foi implantada, a população teve um ganho na alimentação,
pois o povo daqui não comia verduras e legumes. Há meses
em que ganho até R$ 400,00 com a venda dos produtos. A
horta mudou meu cotidiano, além de ter sido uma conquista
social, pois o apoio da Eletronorte proporcionou uma melhoria
para a comunidade como um todo, já que depois da horta, as
famílias do bairro passaram a se alimentar melhor”.
A partir de 2008 o projeto “Linha Verde, Implantação de
Horta Comunitária”, vencedor no Painel Interno de Qualidade
- PIQ da I Semana Eletronorte do Conhecimento e Inovação
- Seci, deixa de ser da regional de Mato Grosso e passa a ser
corporativo, com orientação da direção da Eletronorte para
que as outras regionais da Empresa o implantem nos trechos
de faixa de servidão.
de ventos. Quanto ao fogo, não conhecemos
qualquer material que resista tanto, mas seu
contato com o aço, que é sólido, o enfraquece, mudando-o de estado.”.
Jogadas ensaiadas - O time da Eletronorte
não entra em campo sem conhecer o adver-
27
sário. Com um esquema tático minuciosamente planejado e aperfeiçoado ao longo dos
anos, a reposição do sistema de transmissão
é vitória na certa. Eugênio explica que há um
plano de emergência na área do atendimento
de contingência que está sempre pronto para
entrar em ação no momento exato em que
ocorre o desligamento da linha. “A partir daí
o operador da subestação recebe um sinal
no COL, onde tem o registro do desligamento da linha, e se não conseguir religá-la, é
caracterizado o desligamento permanente e
acionada a equipe de linha de transmissão
para percorrer todo o trajeto e fazer um
diagnóstico da falha”.
No plano de emergência podem ser escalados dois preparadores físicos que ajudam a
criar as jogadas ensaiadas na reestruturação
das torres. No time de Mato Grosso, estado
em que ocorre o maior número de quedas
de torres de transmissão, um dos escalados
é Marcelo Damasceno, que está na equipe
da Eletronorte desde 1989. Engenheiro da
Divisão de Transmissão de Rondonópolis,
Marcelo é coordenador do Centro de Planejamento de Manutenção. Juntamente com o
engenheiro Wilson da Silva Malheiro, criou
um plano de contingência para atendimento
de ocorrências em linhas de transmissão, que
em 2007 ganhou a faixa ouro na Seci, Semana Eletronorte do Conhecimento e Inovação
(veja matéria na página 12).
Em sua pesquisa, Damasceno e Malheiro
(foto acima) mostram que nos últimos seis
anos, por conta do aprimoramento de técnicas utilizadas especificamente na queda de
torres de transmissão, o tempo de reestruturação caiu pela metade, levando em média
28
seis horas para uma torre ser levantada; e
o tempo de localização de falhas nas linhas
de transmissão diminuiu em 75%, gastando apenas uma hora para tal. E com uma
habilidade que não teria outro adjetivo para
defini-la senão fenomenal, se necessário, a
equipe monta acampamento e atravessa a
noite enfrentando chuvas e ventos fortes,
apenas saindo do local quando a torre estiver
novamente cumprindo seu papel.
O projeto dessa dupla nasceu em 1996.
“Foi quando chegamos na Regional e a equipe de linha de transmissão já tinha um plano
de emergência. Eu e o Malheiro notamos que
o plano poderia ser melhorado pelo histórico
de quedas de torres que se apresentava,
sendo a maior incidência de queda causada
pela ação dos ventos. Com uma vegetação
majoritariamente composta por soja e algodão, sem nenhuma árvore, a única resistência
encontrada pelo vento é a própria torre de
transmissão”, lembra Marcelo. Como esse
Cada um
está ciente
de seu papel na
responsabilidade
de recompor
a estrutura
plano norteia as demais regionais, voltemos
a falar sobre a metodologia de conserto das
torres também sob os olhos de Damasceno.
De acordo com o engenheiro, logo que o
desligamento da linha é detectado, aciona-se
o gerente da divisão a que a linha pertence.
Depois, localiza-se o gerente da instalação, e
em seguida entra uma seqüência até chegar
na equipe de manutenção, que detecta exatamente o local do sinistro. Marcelo conta que
para percorrer a linha, uma equipe pré-estabelecida procura o erro tanto por terra como
pelo ar. São seis os jogadores, ou melhor,
eletricistas, que participam desta partida, de
forma que dois percorrem a linha por via aérea
e quatro se dividem em duas viaturas.
Jogos amistosos - É a partir da identificação da torre danificada que outro
time de técnicos da Eletronorte entra em
campo, literalmente. Até que a linha volte
a transmitir energia, eles trabalham de
oito a dez horas seguidas, sem descanso.
“Temos a consciência do transtorno que
é a falta de luz para a sociedade, e por
isso, cada um já está ciente do seu papel
na responsabilidade de recompor a estrutura”, lembra Damasceno. No entanto,
diferentemente de uma Copa do Mundo
ou de qualquer campeonato altamente
competitivo, aqui as equipes se integram
para trabalhar juntas, e o vencedor é a
sociedade. Tanto Eugênio como Damas-
29
No meio
da floresta o
empenho dos
trabalhadores
30
ceno afirmam que quando o time de uma
regional precisa de reforços, as turmas
das demais localidades não penduram as
chuteiras: “Sempre que necessário outros
colegas saem das demais regionais, nos
encontramos no local da ocorrência e
colocamos em prática o plano de ação, trabalhando com segurança principalmente”,
lembra Eugênio, que já participou de três
ocorrências, e em nenhuma delas houve
qualquer acidente.
O último “amistoso” que reuniu equipes
de diversas regionais ocorreu em agosto de
2007 em Mato Grosso, onde três torres da
linha de transmissão Nobres/Sinop caíram
no município de Lucas do Rio Verde, deixando cerca de 300 mil mato-grossenses de
24 cidades do norte do estado sem energia
(veja box na página 32). “Por conta da
queda dessas três estruturas, foi deslocada
uma equipe composta de 120 pessoas.
Nesse momento, além da união de todos os
envolvidos no processo, há um intercâmbio
promovido entre as empresas para que o
religamento da linha seja o mais breve possível. Em Mato Grosso a Cemat e a Eletrosul
colaboraram nos dando suporte”. Esse mutirão de técnicos designados para a atividade
descrita por Eugênio foi responsável pela
energização das estruturas em um tempo
bem melhor que o estimado, completando
o serviço em menos de três dias.
E se alguém imagina que os jogadores
amarelam em alguma hora, engana-se,
pois se há algum temor, ele não passa
dos instantes iniciais do primeiro tempo:
“A primeira sensação é chocante, o que
logo pensamos é: por onde começar? A
impressão que temos ao ver a torre caída
é que encontraremos muito trabalho pela
frente, porém quando vermos que tudo foi
reconstruído e está funcionando ficamos
muito gratos pelo serviço desempenhado. A
Eletronorte conta com uma equipe técnica
muito boa, e isso facilita muito os trabalhos”,
ressalta Eugênio.
Marcelo Damasceno também pensa
da mesma forma. Foi em 1997, perto de
Rondonópolis, que participou do conserto
da estrutura pela primeira vez. “Na época
eu fazia parte da equipe que foi procurar
o defeito, e saí para fazer o patrulhamento,
à noite. Na hora que cheguei e vi a torre
tombada tive essa dúvida de ‘como eu vou
resolver isso?’ Mas depois fiquei tranqüilo
porque sabia que estava em uma equipe
com bastante experiência. À noite mesmo
fizemos uma reunião para no dia seguinte
entrarmos com nosso plano de ação. Mas a
primeira sensação mesmo é de destruição.
Os cinco primeiros segundos são de aflição,
e só a interatividade e o compromisso das
pessoas é que garantem o trabalho bem
feito, sem dúvida. Hoje em dia, mesmo com
mais experiência, não posso dizer que é
algo cotidiano, até porque quando há uma
ocorrência dessas e vemos o estrago que o
vento fez na torre, fica a impressão de que
passou um furacão pelo local”.
No campo do adversário- No Maranhão,
apesar de não ter de enfrentar tantas ocorrências como em Mato Grosso, por conta
dos ventos, as torres reconstruídas são, às
vezes, derrubadas por grupos indígenas. O
time maranhense é formado por um engenheiro eletricista, um auxiliar técnico e 31
eletricistas, entre eles o assistente técnico
de engenharia José Ribamar Feitosa Lima
(foto acima), que trabalha como especialista
de manutenção de linha de transmissão.
Natural de Barra do Corda, cidade a 462
quilômetros da capital São Luís, foi lá que
Feitosa tomou gosto pelas alturas. Desde
então trabalha com manutenção das linhas,
31
inclusive na reconstrução das duas torres
derrubadas por índios, uma em fevereiro
de 1997, quando os Krikati atearam fogo e
derrubaram duas torres do circuito I e uma
do circuito II, em Montes Altos; e outra em
2007, quando os Guajajara também derrubaram duas torres, dessa vez por folga de
parafusos.
Em aldeias indígenas, ocorrem atrasos
nas manutenções programadas, falta de
confiabilidade no sistema, aumento nos riscos de acidentes e desconforto para todos
os envolvidos”, lembra o técnico. Se com
máquinas a torre leva um dia para ser montada, manualmente este tempo sobe para
quatro ou cinco dias, como ocorreu nesta
última ocorrência. “Nós tivemos de remontar a torre manualmente, sem o auxílio de
guindastes, porque na hora não encontramos
um com quarenta metros de altura, que são
os 31 da torre mais os cabos da linha de
transmissão”. Ao final da partida, o time de
41 pessoas pôde saborear a recompensa:
“A satisfação de ver um dever cumprido, e
que todos estão usufruindo uma energia de
qualidade, é extremamente gratificante para
o nosso trabalho”, ressalta.
Time entrosado - A equipe de Damasceno
é tão sintonizada que um telefonema do
engenheiro já diz muitas coisas: “O pessoal
até brinca porque quando o celular toca
e vê que é meu número ou o da Empresa
já sabe que lá vem uma torre no chão. Eu
ainda brinco com eles falando que quando
eu ligo já podem vestir a bota e a calça para
atender a uma emergência”. E a equipe de
linha está mais que preparada. Todos incor-
32
Gol de placa
Em um contexto que levaria qualquer equipe a uma
derrota histórica, o time da Eletronorte terminou mais uma
partida com um belo gol de placa. O jogo aconteceu há
cerca de três anos, em Lucas do Rio Verde - MT, cidade
por onde passa a linha de transmissão entre Cuiabá e Sinop. Lá, as condições climáticas eram as piores possíveis,
com tempo frio e muito vento. Por ação de vandalismo,
a queda de três torres causou um blecaute na região por
dois dias: “A linha de Lucas do Rio Verde é de importância altíssima, pois é uma linha única que abastece
cerca de 300 mil pessoas, e sua queda acarretou em um
transtorno imenso, já que todo norte do estado ficou no
escuro”, relembra Marcelo Damasceno, que estava na
reconstrução das torres: “Fomos avisados do incidente
às três horas da tarde de um dia e só paramos dois dias
depois, emendados, às duas da manhã”. De acordo com
Damasceno, a agilidade e o estabelecimento da função
de cada um contou muito para que a energia voltasse o
quanto antes: “Nós sempre procuramos colocar um técnico no local de qualquer jeito, seja de avião, de bicicleta,
para que ele passe a informação do local corretamente.
Uma das primeiras funções naquele dia foi definir quem
fala com quem e quem faz o que, e daí a ação flui rapidamente Quando chegamos ao local do defeito, cada um
já sabia o que fazer: o líder da montagem, por exemplo,
só fala de montagem, ele não conversa com a imprensa
poram a missão, além de ter a consciência e
o comprometimento de realizar um trabalho
que demanda muita rapidez em tão pouco
tempo. “Eles sabem que quando são chamados para uma emergência, tem que vestir
a camisa, pois terão de dar o máximo de si
para isso”, completa Damasceno.
e não resolve problemas administrativos, ele só fala de
montagem”.
E com o time entrosado, a vitória só poderia ser
por goleada, com direito a virada no tempo: “Não é
surpresa a equipe não querer parar, se agarrar ao trabalho. Problemas existiram, mas até o tempo ajudou,
o sol apareceu, o vento diminuiu. Como o objetivo
é comum, as equipes se integram com facilidade e
depois corremos para o abraço”, lembra Marcelo.
José Galantini (foto acima) também estava neste
episódio, e foi um dos técnicos que ficou no chão,
coordenando a montagem da torre: “Essa foi a pior
José Galantini Neto faz parte dessa equipe
que fica no alto das torres em Mato Grosso.
Contratado em 1986 para atuar na linha de
transmissão na cidade de Rondonópolis, ele
conta que trabalhar em linhas energizadas e
desenergizadas é gratificante, mas quando
se fala em queda de torres a situação fica
diferente. Dependendo de cada caso, Galantini se reveza nas funções, assim como
um lateral direito que por vezes se faz de
atacante, tendo em mente passo a passo o
que se deve fazer. “Às vezes fico no alto, na
montagem da torre, ou no chão fazendo aterramento temporário. No solo há mais serviços, pois começa na preparação do material
e deslocamento para o local da ocorrência, e
quando esse material chega, começa o processo de escalar as torres. Após a montagem,
a última ação a ser feita é o deslocamento
para retirar os aterramentos, isto significa
que o sistema será restabelecido”.
E se a partida vai bem, isso se deve também àqueles que trabalham nos bastidores
que, entrosados com os craques, fornecem
o suporte técnico necessário. É a equipe de
ocorrência de reestruturação de torre, pois estava em Rondonópolis participando de um treinamento, e de repente chega
a informação de que havia a suspeita de queda de torre no
Sistema Norte. Foi aquela correria, eu fui ao aeroporto e me
desloquei para a cidade mais próxima possível da queda de
torre, e de lá só saí com a energia reestruturada”.
Josias Matos de Araújo, superintendente de Engenharia
de Operação e Manutenção da Transmissão, reconhece
o esforço da equipe. “O espírito forte de equipe, integração, solidariedade, empenho, compreensão e esforço da
comunidade, mostram que a Eletronorte tem uma grande
força de trabalho e sua marca é forte. Mato Grosso está
de parabéns, esse trabalho deve ser disseminado, pois é
referencial para todas as áreas da Empresa”.
E o gol de placa fica por conta do tempo de reestruturação das torres, em 48 horas, bem menos do que os cinco
dias pré-estabelecidos no início da operação. Àquelas 120
pessoas das três torres em Mato Grosso, Paulo César Nobuo Kojima, gerente da Regional de Transmissão de Mato
Grosso, deu seu recado: “Em nome de todos os gerentes
e coordenadores de equipe parabenizo e agradeço a todos
que direta ou indiretamente colaboraram e torceram pelo
sucesso alcançado no restabelecimento, em tempo recorde,
do fornecimento de energia para os 300 mil mato-grossenses
afetados pela queda das três torres. Em especial, agradeço
a todos os eletricistas de linhas pela maneira como encaram
e superam desafios, dando mais uma vez exemplo do que é
estar comprometido, trabalhar em equipe e superar os seus
próprios limites em prol de uma causa maior”.
apoio logístico, essencial para o andamento
do trabalho: “Eles levam alimentação para o
pessoal, providenciam transporte, moradia e
toda condição que os técnicos necessitam
para recuperar a torre. Para que esses técnicos tenham êxito na recuperação das torres,
o apoio dado ao serviço deles é essencial”,
lembra Eugênio.
Todo o material necessário fica preparado
na subestação: são kits e torres de emergência, caixas com ferramentas e materiais.
“Isso é utilizado apenas em situações de
emergência, quando esse material, que já
fica pronto, é colocado nos caminhões e
chega ao local da ocorrência para que os
técnicos adiantem o serviço, como por exemplo, remover a torre inutilizada. Além disso, o
técnico não precisa se preocupar com água,
alimentação, se vai contratar hotel, se vai
chamar ambulância com médicos. Quando
se trabalha à noite existe o auxílio dos kits
de iluminação, que dá condições de trabalho
até o amanhecer. Por ser um trabalho árduo
e contínuo, sem interrupção, esse apoio é
muito relevante para o nosso sucesso”.
33
MEIO AMBIENTE
34
Os rios que
guardam energia
Nas bacias hidrográficas da Amazônia
estudos de inventário e viabilidade
identificam os berços de hidrelétricas
Michele Silveira
Para quem apostava na morte, a surpresa
da vida. Para quem chega no Rio Tocantins
e espera ver um rio escasso, de águas poluídas, com peixes boiando ou corroído pela
ocupação humana, a decepção é grande.
Lá a água é monitorada, há projetos de
desenvolvimento sustentável e unidades de
conservação diferenciadas, restritas para
pesquisa ou de uso sustentável. Onde rio
e lago são uma água só, meio ambiente e
geração de energia elétrica convivem em
harmonia: é em Tucuruí, maior usina hidrelétrica brasileira, que o rio fica mais imponente.
Não é qualquer rio que se dá ao luxo de
gerar cerca de 10% da energia consumida
no Brasil inteiro. E pensar que o gauchinho
que liga o computador lá na fronteira com o
Uruguai para saber o que aconteceu com o
Tocantins depois da Usina, recebe energia
de Tucuruí. Pois é, amiguinho curioso, o rio
não morreu.
Na tela do computador, uma definição
objetiva: o Rio Tocantins nasce depois da
união dos rios Maranhão, no Estado de Goiás, com o Paranã, no Estado do Tocantins.
Depois de percorrer 2.600 km, desemboca
na foz do Rio Amazonas. Faz parte da bacia
Araguaia-Tocantins, que ocupa cerca de
921.000 km², aproximadamente 11% do
território do Brasil. Cobre todo o Estado de
Tocantins e abrange parte do território dos
estados de Goiás, Mato Grosso, Maranhão,
Pará e Distrito Federal. As usinas hidrelétricas já construídas para aproveitar o potencial hidrelétrico da bacia possuem 11.522
35
megawatts instalados, o que corresponde a
15,7 % da potência instalada no Brasil. É
nela que está localizada a província mineral
de Carajás. Além de garantir a energia da
Usina Tucuruí, o Rio Tocantins, em razão
do reservatório de outra hidrelétrica, Serra
da Mesa, tem uma boa regularização em
seu regime hidrológico, o que permite a
operação a fio d’água das usinas a jusante:
Peixe Angical, Cana Brava e Luís Eduardo
Magalhães. Um minuto. A definição é da
Aneel, mas para o jovem pesquisador ficou
uma dúvida: a jusante? Sim, a jusante, ou
seja, rio abaixo.
Nessa bacia correm outros rios não
menos importantes, como o Sono, o Claro,
o Vermelho. E tem o das Almas e o das
Mortes. Ah, e também o Tocantinzinho. Não
que seja o filho caçula, mas o início daquele
que já virou poesia, lenda e energia. Não é
por acaso que o Tocantins batiza a maior
bacia hidrográfica inteiramente situada em
território nacional.
De acordo com a Agência Nacional de Águas - ANA, no Plano
Estratégico de Recursos Hídricos da bacia dos rios Tocantins
e Araguaia, o grande potencial
hidrelétrico regional encontrase no próprio Tocantins e em
outros 16 cursos d’água. Os
16.758 MW do rio correspondem a 64% de todo o potencial
estimado para o conjunto da
região hidrográfica.
A Eletronorte sabe disso há
muito tempo. Antes mesmo do início da
construção de Tucuruí o então Comitê Coordenador dos Estudos Energéticos da Amazônia - Eneram, recomendou à Eletrobrás
que a Eletronorte coordenasse três estudos:
o Araguaia, o Amazonas e o Tocantins. Era
julho de 1972. De lá pra cá a tecnologia
e as condições para realizar inventários e
estudos de viabilidade mudaram muito.
“Se hoje um trabalho de inventário já exige
muito esforço e dedicação, é possível imaginar o que era esse processo na década
de 70, em plena Amazônia”, conta Hélio
Franco (foto acima), gerente de Estudos
e Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas da
Eletronorte.
Como num desses hiperlinks de pesquisa na Internet, é preciso clicar na
palavra inventário. A página que será
aberta trará várias informações, mas é
36
A Eletronorte
e o Tocantins
Era uma tarde de quinta-feira do início do ano de 2007.
Num auditório lotado, os novos colaboradores aprovados
no concurso da Eletronorte assistiam a um vídeo institucional. Na tela, um personagem peculiar: o Rio Tocantins.
Naquele dia o tom era a força do rio e a paixão com que ele
próprio narrava a sua história. E junto com ela, a trajetória
da maior usina hidrelétrica brasileira.
Os meses se passaram e cada colaborador na sua área
foi percebendo que o Tocantins não era personagem apenas de documentário. Na área de meio ambiente lá está
ele no programa de limnologia e qualidade da água, ou
no mosaico de unidades de conservação, ou nos programas de qualificação e desenvolvimento da piscicultura.
Na engenharia, o Aproveitamento Hidrelétrico Marabá
já rouba a cena nos estudos de viabilidade e desponta
com um dos grandes empreendimentos hidrelétricos
da região. Aliás, é nesse momento que se aprende algo
importante: a implantação de uma usina hidrelétrica
não tem só uma face. “Um empreendimento como esse
causa modificações, é claro. E essas modificações precisam ser identificadas e avaliadas para que possamos
mitigar ou compensar os impactos. Por
isso a etapa dos estudos de viabilidade
inclui as pesquisas de campo para coleta
de dados sobre fauna, flora, água, solo e
atividades socieconômicas e culturais”,
explica Silviani Froehlich (foto ao lado),
gerente de Estudos e Projetos Ambientais da Eletronorte.
Atualmente na fase de estudo de viabilidade, a Usina Marabá tem sido tema
de várias audiências públicas. “Participamos das audiências realizadas pelo
Ibama e também promovemos outras.
É natural que as pessoas queiram obter
mais informações e o nosso objetivo é esclarecer todo o processo”, afirma Silviani.
É através de um termo de compromisso
entre a Eletronorte e a Construções e Comércio Camargo
Corrêa que estão sendo feitos os estudos de viabilidade
técnica, econômica e socioambiental do Aproveitamento
Hidrelétrico Marabá. O estudo de engenharia envolve as
estruturas, incluindo barragem, unidades geradoras e delimitação da área do reservatório. Também faz parte desse
estudo a análise econômico-financeira, com levantamento
dos custos de implantação do empreendimento.
Já na área ambiental são feitos o Estudo de Impacto
Ambiental, conhecido como EIA, e o Relatório de ImSondagem para
avaliar o AHE Marabá
pacto Ambiental, o Rima,
constituídos pelo diagnóstico
socioambiental da região, no
qual são estudadas desde as
formações rochosas até as
atividades culturais das populações locais. Além disso,
também integra o chamado
EIA/Rima a avaliação dos
impactos socioambientais associados ao empreendimento; o prognóstico ambiental,
no qual são apresentados
os cenários da região com a
implantação do empreendimento e o planejamento dos
programas e ações destinados a eliminar, reduzir ou compensar os impactos negativos e
maximizar os benefícios do empreendimento.
Nessa etapa também é realizado o estudo antropológico
das populações indígenas para conhecer as comunidades da
região, suas relações com a população não-indígena e suas
interações com o meio ambiente; avaliando os impactos da
implantação do empreendimento e propondo medidas para
mitigação e compensação. É aqui que surge espaço para
diferenciar a implantação de uma usina hidrelétrica sob o
ponto de vista socioambiental. “Hoje a Eletronorte desenvolve
projetos importantíssimos na área de pesquisa, como a Reserva Biológica do Uatumã, que é exemplo no mundo; temos os
programas indígenas Parakanã e Waimiri Atroari, comunidades
que estavam morrendo, perdendo a sua cultura, e que hoje
são independentes, aumentaram sua população e resgataram
sua cultura; temos um laboratório para receber as sementes
coletadas no Banco de Germoplasma de Tucuruí, sem falar
em programas como o dos quelônios, mamíferos aquáticos,
monitoramento das águas, educação ambiental e tantos outros.
Mais do que cumprir o estabelecido em Lei pela chamada
compensação ambiental, o diferencial é ir além, elaborar projetos capazes de aliar desenvolvimento e sustentabilidade”,
acredita Hélio Franco.
O engenheiro persiste na questão principal: “Hoje a engenharia brasileira é reconhecida mundialmente na construção
de hidrelétricas. É a nossa matriz energética, é a vocação
brasileira. É possível atingir o equilíbrio entre meio ambiente e
empreendimento, como já mostramos tantas vezes”. E parece
que o Tocantins sabe disso. É nele que estão localizados outros
nove estudos de viabilidade para aproveitamentos hidrelétricos,
além do de Marabá. Depois de concluídos, esses estudos serão
submetidos à análise e avaliação dos órgãos competentes. Na
seqüência serão realizadas audiências públicas pelo Ibama,
onde são ouvidas as comunidades envolvidas. De posse do
resultado de todo esse processo, o Ibama decidirá ou não
pela viabilidade ambiental do empreendimento. Considerado
ambientalmente viável, o Ibama emite uma licença prévia,
que permite a continuidade dos estudos até as licenças para
a construção e operação.
37
preciso debruçar-se sobre os estudos de
inventário para a identificação de aproveitamentos hidrelétricos. Para quem imagina que basta barrar um rio a qualquer
preço, outra decepção: um inventário
pode identificar dezenas de possíveis
aproveitamentos; da mesma forma que
pode, no momento seguinte, identificá-los
como inviáveis sob os aspectos ambiental, social e econômico.
E como se inicia esse processo? Os “Estudos Tocantins”, acertados em julho de
1972, passaram às mãos da Eletronorte em
janeiro de 74, sendo concluídos em julho
de 1975. Esses estudos foram ainda mais
longe do que o recomendado e levantaram o
potencial da bacia e de seu maior afluente,
o Araguaia. Os técnicos identificaram 22
38
aproveitamentos, entre eles o de Marabá,
hoje previsto no Plano de Aceleração do
Crescimento - PAC. Localizado a montante
de Tucuruí, ou seja, Tocantins acima, o aproveitamento vai mostrar porque esse rio é vital
ao desenvolvimento do País: são mais 2.160
MW para não deixar o Brasil apagar.
O Meio - Mas e os povos da floresta? E os
impactos ambientais e socioeconômicos?
Para identificá-los, eliminá-los, mitigá-los
ou compensá-los é que existem os estudos
de viabilidade técnica, econômica e socioambiental. “A legislação ambiental brasileira é muito bem elaborada e exige uma
adequação das obras. A preocupação com
o meio ambiente foi a principal mudança
desde os primeiros estudos de inventário e
hoje tem presença fundamental no processo de implantação de um aproveitamento
hidrelétrico”, explica Hélio Franco, citando
exemplos de obras que conseguiram aliar a
preservação da natureza com a implantação
de hidrelétricas.
Dardanelos é um deles. Localizado no
Rio Aripuanã, em Mato Grosso, o empreendimento foi concebido de modo a garantir
a vazão remanescente do rio, permitindo a
continuidade de fluxo nos saltos das Andorinhas e de Dardanelos, incluindo o lazer
do conhecido balneário Oásis. “Certamente
toda ação humana causa um impacto. É por
isso que técnicos estudam exaustivamente a
região, incluindo inventários de fauna e flora.
Todo esse trabalho que o Setor Elétrico produziu ao longo dos últimos anos gerou um
vasto volume de informações para pesquisa
e produção científica”, afirma Hélio.
É mais um pouco da vida do Tocantins.
Pra falar dele é preciso falar de índios e
ribeirinhos; de peixes e pescadores; de
fauna, flora e água. Lá na fronteira, o gauchinho pesquisador desliga o computador.
Naquela noite fecha a torneira enquanto
escova os dentes; desliga a TV enquanto
não assiste; diz à mãe que nessa noite não
precisa de luz acesa. De mãos juntinhas
agradece pelo que aprendeu e pede baixinho que as pessoas e os rios continuem
assim, gerando vida e energia.
Estudos de inventário e viabilidade em desenvolvimento pela Eletronorte
Nº
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
Potência
AHE Juruena
AHE Cachoeirão
AHE Toricoejo
AHE Novo Acordo
AHE Verde 11 Alto
AHE Água Limpa
AHE Arraias
AHE Barra do Palma
AHE Serra Quebrada
AHE São Luiz I
AHE São Luiz II
AHE Itacaiunas
AHE Tabajara
AHE Brejão
AHE Marabá
AHE Torixoreu
TOTAL
(MW)
46
64
76
160
65
320
93
58
1.328
6.000
3.000
200
350
75
2.160
400
14.395
U.F.
MT
MT
MT
TO
GO
MT
TO
TO
TO / MA
PA
PA
PA
RO
TO
PA/TO/MA
MT / GO
Rio
Juruena
Juruena
Mortes
Sono
Verde
Mortes
Palma
Palma
Tocantins
Tapajós
Tapajós
Itacaiunas
Jiparaná
Sono
Tocantins
Araguaia
Situação Atual
Viabilidade
Viabilidade
Viabilidade
Viabilidade
Viabilidade
Viabilidade
Viabilidade
Viabilidade
Viabilidade
Inventário
Inventário
Inventário
Viabilidade
Viabilidade
Viabilidade
Viabilidade
Na água, no
ar e em terra,
as pesquisas
produzem um
vasto volume de
informações
39
Quando os
estudos dizem não
Imagine-se no meio da floresta amazônica no início
da década de 70. Médicos, hospitais, transporte ou
até mesmo luz elétrica só estão acessíveis a milhares
de quilômetros. O vento sopra e na barraca montada
à beira do rio, o lampião apaga. Mas não importa
porque a chuva já é torrencial e espanta alguns
mosquitos que insistem em dividir o espaço com
as aves catalogadas durante o dia pelos técnicos
que estudavam todos os detalhes do rio, da terra,
das pessoas. O cenário poderia ser em qualquer
dos estudos feitos pela Eletronorte. Mas peguemos
o exemplo do Rio Xingu, cujos estudos do Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte já contam quase
30 anos. Iniciado em 1975 e concluído em 1979, o
inventário identificou inicialmente quatro alternativas
para possíveis aproveitamentos. O tempo passou a
os estudos evoluíram. A área do reservatório de Belo
Monte que antes ocupava cerca de 1.200 quilômetros quadrados, hoje é de 440 km². E o que mudou?
Um estudo pode dizer que um empreendimento é
inviável? Sim.
De 1979 pra cá surgiram cidades onde não havia
pessoas. São Félix do Xingu, por exemplo, surgiu
exatamente onde estava localizado um dos aproveitamentos iniciais do Xingu. Os estudos de Belo Monte
demonstram a evolução: em 2007 a Eletrobrás novamente encaminhou à Aneel os estudos de inventário do
potencial hidrelétrico da Bacia do Rio Xingu, apontando
Belo Monte como único aproveitamento, com potência
instalada de 11.181 MW. As outras opções de aproveitamentos foram descartadas nos estudos devido aos
contextos institucional, socioeconômico e energético.
Coleta de água no Rio Xingu
40
Manual - Em dezembro de 2007 foi lançada a edição revisada do Manual de Inventário Hidrelétrico de
Bacias Hidrográficas, que apresenta um conjunto de
critérios, procedimentos e instruções para a realização do inventário do potencial hidroelétrico de bacias
hidrográficas. O manual é uma revisão atualizada do
anterior, publicado em 1997 pela Eletrobrás, e representa um avanço tanto na questão ambiental como
no uso sustentável de bacias hidrográficas para fins
energéticos.
Desde 1994, o Ministério de Minas e Energia
contratou o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica
- Cepel para fazer a revisão do Manual, que também
recebeu o apoio do Banco Mundial, por meio do projeto Estal - Energy Sector Technical Assistance Loan.
Para a finalização do trabalho foi constituído um grupo
de trabalho com a participação de técnicos de diversas instituições setoriais e empresas com experiência
em realização de inventários e de representantes de
associações de classe.
O Manual traz um conjunto de aproveitamentos,
suas principais características,
índices custo/benefício e índices
socioambientais. De todo o trabalho
realizado, faz parte dos estudos de
inventário submeter os aproveitamentos selecionados a um estudo
de avaliação ambiental integrada,
visando a subsidiar os processos
de licenciamento. Esses aproveitamentos passam então a ser incluídos no elenco de aproveitamentos
inventariados do País, passíveis
de compor os planos de expansão
anteriormente descritos. As metodologias descritas no Manual fazem
parte de um sistema computacional
desenvolvido pelo Cepel e estão
disponíveis na Internet: http://www.
cepel.br. (Fonte: Eletrobrás)
CORRENTE ALTERNADA
Os guerreiros da paz
A imagem é forte. Não faz muito tempo
o momento não seria fotografado por índios
ou militares. Os Waimiri Atroari e o Exército
brasileiro se encontraram de forma inusitada, numa manhã de sol no Amazonas,
próximo ao município de Presidente Figueiredo, onde fica a Reserva Indígena.
Eram pouco antes de 07h da manhã
quando o telefone do consultor indigenista
da Eletronorte, Porfírio Carvalho, tocou
numa das aldeias onde ele passa boa parte
do tempo. Do outro lado da linha, o que se
imaginava ser um aviso: o Exército entraria
na terra indígena para reconhecimento. A
tensão dividia espaço com a expectativa, já
que a história lembrava a cada minuto os
conflitos entre militares e índios no final de
década de 60 durante a construção da estrada BR-174, que liga Manaus a Boa Vista
e atravessou o território deles ao meio.
Quem conta essa história são as imagens
do dia e as palavras de Carvalho. Mas para
compreender ainda mais a importância do
momento é preciso falar rapidamente de
outra história: durante a ditadura militar,
Porfírio Carvalho era um nome - como ele
mesmo diz - “complicado”. Foi processado
várias vezes, preso e demitido da Funai em
1983, acusado de comunista e subversivo.
Teve os direitos políticos cassados e voltou
para a Funai com mandado de segurança.
Em 1983 saiu de vez.
Segurando uma miniatura de quelônio
com as mãos sobre a mesa de trabalho, ele
fala com a tranqüilidade de quem sabe que
o tempo e o respeito permitiram o momento
histórico. “Reunimos com o Exército e explicamos a eles que aquela era uma terra
Waimiri e que a situação tinha particularidades”, diz ele. Na entrada da aldeia, índios
e índias, mesmo os menores, já estavam a
postos para defender a sua terra. A surpresa
veio nos gestos e nas palavras.
Com a condição de que estivessem desarmados, os militares foram convidados
a conhecer a aldeia. Sem armas dos dois
lados, o espaço é para a troca de conhecimento e experiências. “Esse foi um momento ímpar na história dos Waimiri e do
Exército”, afirma Carvalho. Depois da visita,
o almoço. Dos fogões de pedra os militares
foram convidados a dividir o alimento. A
partilha de conhecimento foi acompanhada pela troca de símbolos. Com os índios
ficaram insígnias; quem partiu, levou arco e
flecha. Se houvesse guerra, seria a celebração da paz. Mas foi, de fato, a celebração
do respeito.
41
A caça é
dividida
entre índios
e soldados
42
História - Orgulhoso que é dos programas
indígenas que coordena, Carvalho não é de
falar muito de si mesmo. E nem precisa. Falar
dessas tribos é falar da história desse especialista nos Parakanã e nos Waimiri Atroari,
a quem ajudou a salvar da extinção. Depois
da primeira meia-hora de conversa, Porfírio
lembra das histórias dos mais de 40 anos de
convivência com os índios. Certamente não
vai contar todas; mas passa por elas como o
personagem que as fez capítulos da história
dos índios no Brasil.
Uma etnia do tronco lingüístico Karib,
cujo território imemorial de ocupação se
localiza nas atuais regiões sul do Estado
de Roraima e norte do Amazonas. Eram
mais conhecidos como Crichanás, quando segmentos expansionistas da sociedade envolvente brasileira travaram seus
primeiros contatos com eles, sobretudo
a partir do Século XIX. Aldeias inteiras
foram dizimadas por expedições militares
ou por matadores profissionais, porque
sua população era tida como empecilho
à livre exploração das riquezas naturais
existentes nas terras que ocupavam.
Na década de 1960 foram iniciados, por
parte do Serviço de Proteção ao Índio - SPI
e em seguida pela Fundação Nacional do
Índio - Funai, os trabalhos para atração e
contato com os Waimiri Atroari, desencadeando-se um processo de desagregação
cultural, através do qual a população foi
exposta ao implacável expansionismo social
e econômico da sociedade.
A intensificação do contato com os
Waimiri Atroari acarretou-lhes, por aquela
época, conseqüências dramáticas, em
termos de depopulação provocada por
choques armados e surtos epidêmicos de
doenças exógenas que debilitaram toda a
comunidade, a ponto de as pessoas em
idade produtiva não poderem mais caçar,
pescar nem cultivar roças, fato que acabou
por redundar num grave estado de inanição
e desagregação social em várias de suas
aldeias.
Foi com a construção da Usina Hidrelétrica Balbina que a história dos Waimiri
Atroari começou a mudar. A primeira
providência adotada foi a demarcação
(em 1987), através de financiamento pela
Eletronorte, de uma terra com superfície
de 2.585.911 ha, de conformidade com a
proposta delimitatória apresentada por estudos antropológicos realizados por grupo
técnico constituído pela Funai. A segunda
foi a implantação do Programa Waimiri
Atroari, em 1988, com ações múltiplas nas
áreas de administração, saúde, educação,
meio ambiente, apoio à produção, documentação e memória.
O objetivo era de que os Waimiri pudessem
preservar dinamicamente sua autonomia
Porfírio
cultural, a partir de uma inserção social em
bases equilibradas, no contexto da sociedade nacional - o que, infelizmente, não
ocorre com a maioria dos povos indígenas
no Brasil.
O Programa Waimiri Atroari foi elaborado
por uma equipe multidisciplinar e interinstitucional de técnicos, representando a Funai, a Secretaria de Educação do Estado do
Amazonas, o Instituto de Medicina Tropical
de Manaus, a Universidade do Amazonas
e a Eletronorte, que, além de alocar profissionais, financia todos os estudos e ações.
O Programa encontrou os Waimiri Atroari
enfrentando sérias dificuldades para sobreviver, num processo depopulacional
grave: eram aproximadamente 1.500 em
1974 e em 1987 estavam reduzidos a 374
pessoas.
Conquistas - Vinte anos depois, os Waimiri Atroari desfrutam hoje de melhores
condições de vida, tanto se comparados
com as demais etnias existentes no Brasil,
quanto com a população não-índia dos
interiores da Amazônia. A demografia dos
Waimiri Atroari, que, em 1987, era de 374
pessoas, atualmente está com “1169” (31
de dezembro de 2006) e seu índice de
crescimento vegetativo atingiu, no final de
dezembro de 2006, 4,33% ao ano, um dos
maiores do mundo.
Toda a comunidade indígena desfruta Carvalho
de atendimento médico primário que lhe conta a história
assegura uma cobertura vacinal de 100%;
de serviço de vigilância epidemiológica no
entorno de toda a sua terra; de controle
de doenças preveníveis - como malária,
infecções respiratórias agudas, diarréias,
verminoses e dermatoses. Esses procedimentos propiciaram uma significativa diminuição do seu índice de mortalidade geral.
O número de aldeias aumentou para 19.
Em nenhuma delas há registro de casos de
alcoolismo nem de outras mazelas causadas
por desajustes sociais.
Em 2006, havia entre os Waimiri Atroari
um total de 729 alunos: 382 homens e 347
mulheres, entre crianças, adolescentes,
adultos e idosos, correspondendo a 62,4%
de sua população. A construção das escolas obedece a padrões tradicionais de
arquitetura, utilizando materiais extraídos
da própria terra indígena. Todas as aldeias
mantêm escolas funcionando com a participação de professores indígenas. Isso tem
contribuído para uma maior eficiência das
atividades didático-pedagógicas, além de
ser um passo importante para a afirmação
da autogestão. As escolas são bilíngües e
o calendário escolar obedece as atividades
culturais da comunidade. E isto é só nas
ações de educação. Visite www.waimiriatroari.org.br e saiba mais sobre o Programa.
43
AMAZÔNIA E NÓS
44
ACRE
HISTÓRIA
A Eletronorte chegou ao Acre em 1980. Em 1º de janeiro de 1981,
absorveu o parque gerador da Eletroacre e assumiu a geração de
energia na capital, Rio Branco, que vivia constantes interrupções e
períodos de racionamento que chegavam a 12 horas diárias.
Essa situação foi revertida em menos de um ano. A equipe
pioneira teve a incumbência de fazer a transição do sistema,
estruturando a Empresa desde as instalações físicas ao quadro
de pessoal, com a absorção de colaboradores oriundos da concessionária estadual e a realização de concurso público para
admissão da primeira turma, composta de 13 empregados,
em fevereiro de 1981.
No Acre, a Eletronorte é representada pelas unidades regionais de Produção e Comercialização e de Planejamento e
Engenharia, que têm como missão gerar e transmitir a energia
distribuída para os acreanos. A força de trabalho é formada por
profissionais das mais diversas áreas de conhecimento, que
trabalham pela melhor qualidade de vida da população.
Esse trabalho tem sido reconhecido ao longo dos anos, tanto pela satisfação dos clientes e consumidores quanto pelas
diversas premiações recebidas, devido à excelência da gestão
empresarial. Essas conquistas são fruto da prática constante
dos valores do Credo da Eletronorte: excelência na gestão,
valorização das pessoas, comprometimento, aprendizado
contínuo,empreendedorismo e ética e transparência.
MEIO AMBIENTE
O respeito ao meio ambiente é prioridade para a Eletronorte no Acre. Os
novos empreendimentos são acompanhados de programas de educação
ambiental, de saúde, de recuperação de
áreas degradadas, de desapropriação e
indenização. A preocupação com a natureza reflete-se nas inspeções mensais e
auditorias ambientais internas realizadas
em todas as instalações. Em datas como
o Dia Mundial do Meio Ambiente, Dia
Mundial da Água e Dia da Árvore, a Empresa promove eventos como palestras
e projeção de filmes para conscientizar
colaboradores, familiares e moradores
das áreas dos empreendimentos para
a preservação ambiental. Em parceria
com o Instituto de Meio Ambiente do
Acre, a Eletronorte realiza, há três anos,
a Parada Ambiental, com a participação
dos colaboradores, ocasião em que são
distribuídas mudas de árvores nativas.
TRANSMISSÃO
A Eletronorte produz 75,88%
da energia elétrica gerada no
Acre, distribuída por 370 quilômetros de linhas de transmissão
em 230 kV. O sistema conta ainda
com três subestações e 382 MVA
de capacidade de transformação.
Desde 2002, o estado, que faz
parte do sistema Acre/Rondônia,
também é abastecido por uma
linha de transmissão em 230 kV
que liga Rio Branco à cidade de
Abunã, em Rondônia. Além da
capital, a energia transmitida
pela Eletronorte supre os mercados interligados de Senador
Guiomard, Plácido de Castro,
Bujari, Porto Acre, Acrelândia,
Redenção e Vila Campinas.
GERAÇÃO
Quando foi incorporado pela
Eletronorte, o parque térmico de Rio
Branco tinha capacidade instalada
de 5,5 MW. Hoje é de 83,38 MW,
fornecidos por três usinas térmicas.
Em 1994, com a instalação de duas
geradoras térmicas, eliminou-se
definitivamente o racionamento de
energia elétrica imposto à cidade
de Rio Branco.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
No Acre, a energia elétrica gerada e transportada pela
Eletronorte beneficia cerca de 450 mil pessoas. A Empresa
também desenvolve outras atividades junto à população.
Destaca-se a participação dos empregados no Comitê de
Combate à Fome e pela Vida, que realiza trabalhos em
comunidades carentes por meio de palestras voltadas para
o resgate da cidadania e preservação do meio ambiente.
Anualmente são realizadas campanhas de arrecadação de
alimentos para entidades assistenciais e prestação de serviços voluntários a crianças de instituições carentes, como o
Educandário Santa Margarida e a Creche José Francisco.
45
CORREIO CONTÍNUO
“Recebemos o exemplar de aniversário da revista
Corrente Contínua, em nosso gabinete, referente aos
34 anos da Eletronorte. Parabenizamos pela capa que
retrata a verdadeira cultura de nosso País. Isso mostra
que o compromisso e a responsabilidade social está
em primeiro lugar. Parabéns e muito sucesso, que a
Empresa continue trabalhando pelo desenvolvimento
de energia em nosso País”.
Deputado Michel JK - PSDB-AP - Brasília - DF
“Eu gostei muito, achei a revista boa de A a Z. A
Corrente Contínua sempre vem com matérias boas,
mas esta está ‘toda’ muito boa. A gente anda carente
de boas notícias da nossa Empresa, e essa edição
deu ânimo novo. A opinião não é só minha, vi colegas
aqui na área elogiando muito. A foto da trilha lembra
um importante projeto que ainda não saiu: o Pólo de
Turismo de Tucuruí. Parabéns pelo trabalho!”
Regina Caciamani - Brasília - DF
“Parabéns à jornalista Michele Silveira pela bela
matéria que fez sobre uma das coisas que mais amo
fazer. Ficou muito linda. Michele escreve muito bem e
de forma bonita, além de mostrar intimidade com essa
ciência tão pouco conhecida e divulgada. Sem dúvida
essa matéria vai contribuir para difundir o assunto.
Até repassei a versão eletrônica para outras pessoas
da área que conheço. Gostei muito da menção sobre
nossa interação com o agradável José Leal. Obrigado
pelo reconhecimento. Continuem assim!”
João Marcelo de Rezende
Superintendência de Meio Ambiente - Brasília - DF
“A capa desta Corrente Contínua está demaiisss! Na
verdade toda a revista parece ter fotos muito lindas, parabéns para os nossos fotógrafos e demais colegas”.
Viviane Assis - Porto Velho- RO
“Parabéns pelo belo trabalho”!
Sildemir Feitosa Santana
Operador de Produção Subestação- Rurópolis - PA
“Excelente! Já mandei a revista Corrente Contínua
para meus familiares. Sei que, por enquanto, por meio
eletrônico a disseminação fica limitada apenas à nossa
rede de relacionamentos! Parabéns”!
José Carlos Vassalo Costa - Tucuruí- PA
46
e a consciência ambiental na Empresa e divulga para
sociedade o que fazemos, com grande esforço e enfrentando desafios para viabilizar empreendimentos
ambientalmente sustentáveis. Desejo que em 2008 esta
parceria - comunicação e meio ambiente - continue
firme e forte”!
Rubens Ghilardi Jr Superintendência de Meio Ambiente - Brasília - DF
“Meu nome é Caio e trabalho na unidade Areva em
Itajubá, no sul do Estado de Minas Gerais. Também trabalho como professor no curso técnico de eletrotécnica
no Colégio de Itajubá na área de geração, transmissão
e distribuição de Energia Elétrica. Gostaria de receber
os exemplares da revista Corrente Contínua para apresentar aos nossos alunos além de manter-me atualizado
profissionalmente”.
Caio Fernandes Lopes engenheiro de Orçamentos da Areva T&D Brasil
Itajubá- MG
“Recebemos e agradecemos a publicação Corrente
Contínua, Ano XXX, Nº 217, de out./nov de 2007”.
Rozangela Zelenski de Lara Pinto
Gerência de Documentação e Programas Especiais da
Universidade Federal de Mato Grosso - Cuiabá- MT
“Sou um eletricista autônomo e atualmente estou
em formação num curso de eletricista predial, e tive
conhecimento da vossa revista Corrente Contínua,
na biblioteca da escola Senai de Rio Branco, Acre.
Felicito a equipe que elabora a excelente revista, que
tive o prazer de ler e demonstrei interesse nos artigos
de geração de energia e de novas tecnologias das
fibras óticas. Desejando receber na minha residência
se possível a partir desta data a revista impressa, fico
muito agradecido”.
Miguel Rodrigues - Rio Branco- Acre
“Gostaríamos de agradecer pelo envio da revista
Corrente Contínua referente aos meses de outubro
e novembro. Damos destaque principalmente pela
reportagem realizada por Michele Silveira sobre as
sementes da Amazônia”.
Thiago Silvestre Nomiyama de Oliveira Revista Meio Ambiente
“Prezados Senhores, agradecemos o envio da revista
Corrente Contínua e solicitamos a atualização de nosso
endereço”.
Assessoria de Comunicação do Ministério
do Desenvolvimento Agrário - Brasília - DF
“Recebemos e agradecemos pelo envio da publicação revista Corrente Contínua de excelente qualidade
gráfica e editorial. Ressaltamos ainda que é de grande
valia para o acervo da Biblioteca do Iesam - Instituto
de Estudos Superiores da Amazônia continuar a ser
receptora de tão valiosa publicação”.
Clarice Silva Neta - bibliotecária do Iesam
“Mais uma vez parabéns por mais uma matéria da
área ambiental. Gostei muito do texto e do destaque
dado para o trabalho realizado. Somado às diversas
outras matérias que a revista Corrente Contínua tem continuamente produzido sobre meio ambiente (unidades
de conservação, germoplasma, Parakanã, piscicultura
etc.) essa estratégia vem fortalecer a responsabilidade
“Acuso recebimento e agradeço o envio do exemplar
Corrente Contínua - a revista da Eletronorte. Parabenizo
a toda a equipe que compõe essa Empresa pelo compromisso de responsabilidade social e de preservação
do meio ambiente”.
Raimundo Angelim Vasconcelos prefeito de Rio Branco- AC
FOTOLEGENDA
Dia aqui, nesse rio ao encontro do mar, começa sem pressa
Mas, depois do beiju, tarefas muitas me esperam: lavar, engomar,
Pôr comida na travessa
Da minha casa na beira-rio
Vejo muita gente passar
Gente que passa curiosa
Embarcação moderna e também morosa
E até gente fotografando a gente
Nesse rio ao encontro do mar
Passa gente que apenas passa
Gente que vem passear, de longe,
Faceira, gaiteira e com graça
E que não se sabe de onde
Às vezes, o olhar segue viajantes
Com um desejo oculto de navegar
Pra longe, sem os afazeres ou deveres
Que o cotidiano nos dá
E que tanto aprisiona os seres
Entre mim e esse rio, ao encontro do mar, há cumplicidade
Nessas águas, derramo desejos, semeio sorrisos, norteio a família
Pra que correria da cidade
Se é aqui que me encontro de verdade?
Que embalo os sonhos, meus dias
Texto: César Fechine
E as mais íntimas fantasias?
Foto: Rony Ramos
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