XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
REVISITANDO O DESEMPENHO DAS
EMPRESAS LÍDERES SETORIAIS DO
BRASIL: INDICADORES DE
PRODUTIVIDADE UTILIZANDO COMO
BASE A DEMONSTRAÇÃO DE VALOR
ADICIONADO (DVA)
Wladimir Tadeu Viesi (UFS)
[email protected]
Marcos Macri Olivera (UFCG)
[email protected]
Aline Cristina de Araújo Florentino Silva (FSM)
[email protected]
Paulo José Adissi (UFPB)
[email protected]
O objetivo deste trabalho é redimensionar o desempenho das empresas
líderes setoriais do Brasil, utilizando a demonstração de valor
adicionado (DVA) como indicador de produtividade, como também
verificar a relação estatística entre este e oos dados financeiros
obtidos das empresas, a fim de constatar a variável financeira que
indica qual a tendência do comportamento do valor adicionado. Como
método, utilizou-se pesquisa bibliográfica e conceitual das
observações, caracterizando a pesquisa como analítica e descritiva.
Coletaram-se, também, dados secundários de cunho público que foram
tratados utilizando o modelo de DVA e o cálculo de indicadores de
produtividade. Em seguida foi calculado o coeficiente de correlação (r)
entre as variáveis e a demonstração de valor. Diante dos resultados
obtidos, pôde-se concluir positivamente a respeito da utilização da
demonstração de valor adicionado para metrificar o desempenho de
organizações de grande porte, ressaltando sua utilidade em função
desta oferecer uma percepção mais sistêmica do desempenho,
ampliando o conteúdo da análise produtiva.
Palavras-chaves: Líderes setoriais, produtividade sistêmica,
demonstração do valor adicionado, indicadores de produtividade
1. Introdução
A aceleração da globalização e abertura comercial que se acentuou no final dos anos 80 e
inicio dos 90, provocando temeridade no setor industrial brasileiro (FARAH JÚNIOR, 1999),
resultou em um modelo presente de desenvolvimento sócio-econômico que têm exigido das
empresas uma adaptação continua a um ambiente de constante evolução, para poder
sobreviver e manter a competitividade em mercados cada vez mais exigentes (DRUCKER,
1999; HAMEL, 2001).
Esse processo demanda, por parte das empresas, a criação de ambientes propícios à inovação
que favoreçam a redução dos custos, o aumento da qualidade e, principalmente, o aumento da
produtividade.
Dado a intensificação da concorrência nos dias de hoje, sem produtividade ou sem eficiência
do processo produtivo, uma empresa, raramente, obterá sucesso, ou ate mesmo sobreviverá no
mercado.
Neste sentido, a gestão da produtividade caracteriza-se como um dos quesitos essenciais ao
suporte das estratégias de competitividade das empresas, visto que é considerada uma arma de
competição genérica, aplicável aos diversos campos competitivos (CONTADOR, 2003).
Conforme Macedo (2002), a gestão da produtividade nas empresas vem se tornando cada vez
mais crucial em um ambiente de crescente abertura externa e globalização dos negócios,
concluindo que o conceito de produtividade vai além dos aspectos restritos ao processo de
produção, pois a geração de valor também depende das demais etapas do processo produtivo.
Para reforçar, Slack et al. (2002) argumentam que nenhuma operação produtiva, ou parte dela,
existe isoladamente. Todas as operações fazem parte de uma rede maior, interconectada com
outras operações que inclui fornecedores e clientes, como também, inclui fornecedores dos
fornecedores e clientes dos clientes e assim por diante.
Ainda além, a criação de valor, incorporada ao conceito de produtividade, permite que o
ambiente externo de relacionamento, como, por exemplo, logística conjunta entre fornecedorempresa, eficiência coletiva, socialização dos custos e danos ao meio ambiente, sejam
contabilizadas na determinação da eficiência do processo produtivo de uma empresa.
Assim, numa perspectiva metodológica, o conceito de produtividade passa a ter por base o
valor adicionado pelo processo produtivo da empresa (MACEDO, 2002). Esse valor é
calculado pela diferença entre o valor das vendas da empresa e o valor das compras de bens e
serviços intermediários que esta realiza junto aos seus fornecedores.
Essa nova percepção de valor adicionado vem sendo apresentada em contínua evolução desde
a década de 90, assim como sua interação, complementaridade, utilidade e tangenciamento
com outras áreas de conhecimento. Todavia, ressalta-se que tais estudos enfocam,
principalmente, aspectos resultantes econômicos do conceito, conquanto o presente artigo
alinha o valor adicionado à possibilidade de colaboração na medição da produtividade.
Inserido nesse contexto, a proposta desse trabalho é redimensionar o desempenho das
empresas líderes setoriais do Brasil, utilizando a demonstração de valor adicionado (DVA)
como indicador de produtividade, tecendo, assim, considerações a respeito dos resultados e da
aplicabilidade da referida ferramenta de medição. Cabe ressaltar que a DVA utilizada neste
artigo é um instrumento contábil recomendado, inclusive, pela Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), de acordo com o Ofício-Circular/CVM/SNC/SEP/N’01/00 (CVM, 1999).
2
2. Demonstração de valor adicionado (DVA)
O ambiente competitivo, mutável e complexo no qual hoje rivalizam as organizações
empresariais, tem feito da informação uma das variáveis com destacada importância para o
processo decisório, não somente dos agentes internos, como também dos externos. Todavia, a
constatação de que cada um desses agentes possui interesses distintos a respeito da
informação econômico-financeira gerada, entende-se como ideal a geração e manutenção de
informação que atenda a conveniência e o interesse especifico de cada grupo.
É neste contexto, que Cosenza (2003) destaca que se manifesta a necessidade de se ter uma
demonstração econômico-financeira que propicie informações compreensíveis e transparentes
à qualquer categoria de usuário, independentemente do grau de seus conhecimentos em
matéria contábil. Assim surge a demonstração do valor adicionado (DVA), que assume o
papel de demonstração contábil complementar, visando informar sobre a participação de
todos os fatores econômicos que contribuíram na criação de valor para a empresa e o
conseqüente rateio desse valor entre esses mesmos agentes econômicos.
Além de constituir-se em uma nova forma de medir o desempenho estratégico das
organizações (DENGLOS, 2005) – uma proeminente alternativa originada na insatisfação
com a contabilidade tradicional (GARVEY e MILBOURN, 2000) – Irala (2005) e Irala e
Reddy (2006) destacam que a importância desse tipo de ferramenta reside no fato de que
reduz a diferença de interesses que existe entre gestores e acionistas, assim como, em
determinadas situações, alinha tais interesses.
Tal utilidade tem motivado a um número crescente de empresas que passaram a confiar e
utilizar o valor adicionado para avaliar e premiar todos os gestores de setores ou
departamentos funcionais (RAY e CHOUDHURI, 2005).
Como instrumento de analise da agregação e da distribuição de valor, Marion (2001) enfatiza
que o DVA evidencia o quanto a riqueza uma empresa produziu, ou seja, o quanto adicionou
de valor aos seus fatores de produção e de que forma essa riqueza foi distribuída (entre
empregados, governo, acionistas, financiadores de capital), assim como quanto ficou retido na
empresa. O DVA é uma demonstração útil, inclusive do ponto de vista macroeconômico, uma
vez que, conceitualmente, o somatório dos valores adicionados (ou valores agregados) de um
país representa, na verdade, o seu Produto Interno Bruto (PIB).
Conceitualmente, entende-se o valor adicionado como a diferença entre o valor das saídas e
dos suprimentos, correspondendo aos custos internos de processamento em que as empresas
incorrem, remunerando-se os fatores de produção por eles mobilizados (ROSSETTI, 1997).
De acordo com Vieira (2004), a demonstração do valor adicionado (DVA) é elaborada através
dos dados extraídos da demonstração do resultado do exercício (DRE), e do demonstrativo do
balanço patrimonial (DBP) utilizados pelas empresas brasileiras e sugeridos pela Comissão de
Valores Mobiliários (CVM). Tal modelo foi desenvolvido pela Fundação Instituto de
Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras da USP.
Por fim, Vieira (2004) discorre que a Demonstração do Valor Adicionado pode ser dividida
em duas partes principais, referentes à criação e destinação do valor adicionado,
respectivamente, e ainda uma parte intermediária, entre o valor adicionado bruto e a
distribuição, no qual são demonstrados os valores retidos à titulo de depreciação, exaustão e
amortização, bem como os valores recebidos em transferência.
3. Indicadores de produtividade
3
Com a finalidade de posicionarem-se frente à competição, as empresas devem criar
mecanismos para avaliar sua real competitividade e verificar se estão aperfeiçoando sua forma
de atuação, relativa às necessidades dos clientes e à ação dos competidores, ou seja, as
organizações empresariais devem definir, medir e monitorar indicadores que serão utilizados
na estrutura de ações para melhorar seu desempenho competitivo (MUSCAT e FLEURY,
1992).
Sob o ponto de vista produtivo, Moreira (1994) assevera que sendo produtividade,
essencialmente, uma relação entre produção e insumos, faz-se necessária uma medição dessas
grandezas, o que implica em quantificar tanto a produção quanto os insumos empregados
nessa produção para que seja possível relacionar ambas as grandezas e obter-se índices
numéricos, que resultam em informações palpáveis sobre a produtividade da organização.
Evidenciando que tais índices ou medidas encontram-se nos diversos níveis organizacionais,
Juran (2002) apresenta uma hierarquia de unidades de medida (figura 1), em forma de
pirâmide, na qual as medidas relacionam-se com o grau de necessidade de complexidade e
abrangência da informação – o que implica em medidas de produtividade de diferentes
natureza e interpretação, abrindo um leque de novas possibilidades de observação e análise.
Resumos
Corporativos:
dinheiro, relações
e índices
Resumos para níveis superiores:
mercados, classes de serviços,
linhas de produtos, unidades de
organizações.
Resumos de dados básicos para itens específicos: produtos,
processos e unidades de organizações.
Unidades tecnológicas de medida para elementos individuais de produtos, processos
e serviços.
Figura 1 – Pirâmide das Unidades de Medida
Fonte: Juran (2002)
Uma ferramenta útil para a analise das demonstrações é o calculo de indicadores, os quais
podem ser utilizados isoladamente ou em conjunto com a analise horizontal e vertical.
Florentino (1999) afirma que os índices constituem, de modo geral, relações entre diferentes
4
massas monetárias que formam a estrutura patrimonial e operacional da empresa. Essas
massas monetárias devem guardar entre si certa harmonia ou equilíbrio, ou certa correlação,
ou comparação, ou ainda certa evolução.
Os indicadores de produtividade espelham o quanto cada item analisado produziu de valor
adicionado, mostrando a participação das partes interessadas (stakeholders), na criação e
destinação de riqueza pela empresa, conforme quadro 1:
No
INDICADOR
FÓRMULA
1
Taxa de Retenção
Receitas Totais
(TRR)
Valor Adicionado
Receita Total
2
Taxa de Geração de Riqueza
(TGR)
Valor Adicionado
Ativo Total
Mostra quanto cada real investido no ativo
gera de valor adicionado. Mede o potencial
do ativo de gerar riqueza.
Lucro Operacional
Valor Adicionado
Mede a contribuição do lucro operacional
para o valor adicionado.
Lucro Líquido
Valor Adicionado
Mede a contribuição do lucro líquido para o
valor adicionado.
3
4
Contribuição do Lucro
Operacional
(CLLO)
Taxa de Retenção de
Riqueza
(TRRQ)
SIGNIFICADO
Mostra quanto da receita total refere-se à
valor adicionado, ou quanto do valor
adicionado as receitas totais estão
agregando.
Quadro 1 - Indicadores de produtividade
Fonte: Vieira (2004)
O quadro 1 tem por objetivo expor a contribuição do valor adicionado para a geração e
destinação de riqueza das empresas lideres setoriais. No caso em estudo são apresentados os
seguintes indicadores:
a) TRR (Retenção de Receitas) – Esse percentual mostra o quanto fica dentro da empresa,
acrescentado valor adicionado para os funcionários, acionistas, governo, financiadores e
lucro retido.
b) TGR (Geração de Riqueza) – Mostra o quanto cada real investido no ativo gera de valor
adicionado.
c) CLLO (Retenção do Lucro Operacional) – Mostra a participação do lucro operacional
para o valor adicionado.
e) TRRQ – (Retenção de Riqueza) – Mostra a participação do lucro liquido para o valor
adicionado, na qual revela a criação de valor para os acionistas.
4. As empresas líderes setoriais do Brasil e os procedimentos metodológicos
Para a realização desta pesquisa escolheu-se como população as empresas líderes setoriais do
Brasil. A fim de obter tal qualificação, utilizou-se como referência a sétima edição de Valor
1000, em 2008, publicação anual da revista Valor Econômico S.A. que elabora diversos
rankings da área financeira através do estabelecimento e aplicação de índices variados.
Dessa forma, de acordo com o método escolhido pela publicação para a realização da
classificação, obteve-se o seguinte quadro de empresas líderes setoriais que compõem a
população da presente pesquisa: Usina Bazan, Coamo, Sabesp, Garoto, Souza Cruz, Makro,
Star Export, Leo Madeiras, Telemonte, Semp Toshiba Amazonas, Copel Geração, Natura,
Owens-Illinois Brasil, WEG Equipamentos, V&M do Brasil, MBR, International Paper,
5
Comgás, Videolar, Copesul, Visanet, Hospital Albert Einstein, Serpro, Telefônica São Paulo,
Alpargatas, Transpetro e Fiat Automóveis.
Esclarece-se que, de acordo com o método adotado, em caso de empate entre empresas em
qualquer uma das posições, seja em algum critério, seja na soma dos pontos, a ordenação foi
feita pela maior freqüência nos oitos critérios, independentemente da classificação em cada
um deles. Em caso de novos empates, teve a preferência quem obteve, sucessivamente, a
melhor colocação em Crescimento Sustentável, Geração de Valor, Rentabilidade e Cobertura
de Dívidas.
A presente pesquisa caracteriza-se como analítica e descritiva, visto que se propõe a revisar
dados existentes sob uma perspectiva alternativa, descrevendo os resultados obtidos a partir
da aplicação de um modelo de DVA ao caso em estudo. Para tanto, foram realizados os
seguintes procedimentos:

Procedeu-se com uma revisão bibliográfica sobre os elementos que compõem o tema, a
fim de fundamentar procedimentos, análises e considerações decorrentes da realização da
pesquisa;
 Foram coletados dados secundários de caráter público (Demonstração de Resultado do
Exercício – DRE), sobre o caso em estudo, que forneceram subsídios para as etapas
posteriores;
 Realizou-se escolha do modelo de DVA a ser aplicado no estudo e procedeu-se com a
reorganização dos dados necessários;
A partir dos novos dados gerados, realizou-se o cálculo de indicadores de produtividade
proposto pela literatura pesquisada.
Quanto à verificação da relação estatística do valor adicionado com os dados financeiros das
empresas estudadas, utilizou-se o coeficiente de correlação de Pearson (r). Optou-se por
entender que o valor de r igual a zero indicou que não há relação linear entre as variáveis
estudadas, enquanto que um valor igual a 1 ou a -1 indicou uma relação linear perfeita
(normal ou inversa). Para tanto, o valor adicionado de cada empresa foi relacionado com as
variáveis receita bruta total, ativo total, lucro operacional e lucro líquido. Dessa forma,
calculou-se r através da seguinte equação:
Observou-se que quanto mais próximo o valor de r de 1 ou -1 maior a relação estatística entre
o valor adicionado e os dados financeiros das empresas estudadas.
5. Apresentação dos resultados
Conforme mencionado em seção pertinente, a consecução dos objetivos desta pesquisa
iniciou-se com o cálculo dos indicadores de produtividade, utilizando como base o cálculo de
valor adicionado das empresas líderes setoriais do país, conforme se apresenta a seguir.
5.1. Indicadores de Produtividade das Empresas Líderes Setoriais do Brasil
Primeiramente, os dados coletados e calculados estão colocados no quadro 2, em se obteve o
valor adicionado de cada empresa:
6
EMPRESAS
PESQUISADAS
Alpargatas
Coamo
Copesul
Makro
MBR
Natura
Sabesp
Serpro
Souza Cruz
Telefônica SP
Videolar
WEG Equip.
DADOS FINANCEIROS DAS EMPRESAS - 2006 (R$ mil)
Receita Bruta
Total
Ativo
Total
Lucro
Operacional
Lucro
Líquido
1.703.280
2.418.062
8.148.134
4.224.379
3.952.835
3.731.863
5.984.012
1.623.924
8.699.500
20.195.597
1.390.758
3.527.110
1.058.475
2.383.573
2.466.605
1.040.321
5.150.931
1.325.406
17.999.953
1.496.405
3.926.000
17.986.577
703.907
1.694.410
168.881
227.540
826.160
152.519
3.110.706
579.507
1.240.712
290.456
985.800
3.096.817
98.181
496.598
126.618
190.300
615.185
116.201
2.471.904
469.326
778.905
167.420
824.100
2.816.131
87.859
502.831
VALOR
ADICIONADO
615.459
614.302
929.654
530.376
2.991.833
1.758.540
2.217.105
844.163
2.391.200
4.634.670
220.779
1.290.045
Quadro 2 – Dados financeiros das empresas
O quadro expressa os valores coletados das empresas lideres setoriais, no ano de 2006,
das principais contas patrimoniais e de resultados, divulgados publicamente, para calculo dos
indicadores de produtividade elencados para o presente artigo e citados na subseção 2.2. Os
indicadores estão dispostos nos gráfico seguintes.
7
Taxa de Retenção de Receitas Totais - TRR
1,0
0,9
0,8
0,757
0,7
0,6
0,520
0,471
0,371
0,366
0,361
0,275
0,3
0,254
0,229
0,159
0,2
0,126
0,114
COPESUL
0,412
0,4
MAKRO
0,5
0,1
VIDEOLAR
TELEFÔNICA SP
COAMO
SOUZA CRUZ
ALPARGATAS
WEG EQUIP.
SABESP
COPEL
NATURA
SERPRO
MBR
0,0
Figura 2 – Taxa de retenção de receita
A figura 2 – taxa de retenção de receitas totais (TRR) - expressa o quanto da receita total
refere-se ao valor adicionado. Dentre as empresas de maior taxa de retenção de receitas totais
(TRR), respectivamente, estão a MBR do setor de mineração, a Serpro do setor de tecnologia
de informação e a Natura, do setor farmacêutico e cosméticos.
No caso da MBR o valor adicionado é elevado porque a sua controladora ou investidora Vale do Rio Doce – realizou um ajuste contábil denominado equivalência patrimonial. A
equivalência patrimonial é o método que consiste em atualizar o valor contábil do
investimento ao valor equivalente à participação societária da sociedade investidora (Vale do
Rio Doce) no patrimônio líquido da sociedade investida (MBR), e no reconhecimento dos
seus efeitos na demonstração do resultado do exercício. Visto isto, o ajuste contabil –
resultado de equivalencia patrimonial - proporcionou uma alta taxa de retencao de receitas
totais – TRR.
No caso da Serpro, o elevado valor adicionado é decorrente do baixo indice de utilizacao de
insumos de terceiros (materias primas consumidas, custos dos servicos vendidos, materiais,
energia, servicos de terceiros e outros). Neste sentido, a baixa utilizacao de insumos de
terceiros resultou em uma alta taxa de retencao de receitais totais – TRR.
A empresa Natura, da mesma forma que a empresa Serpro, constata-se uma alta taxa de
retenção de receitas totais -TRR em virtude do baixo indice de utilização de insumos de
terceiros (materias primas consumidas, custos das mercadorias vendidas, materiais, energia,
servicos de terceiros e outros).
8
Taxa de Geração de Riqueza - TGR
1,5
1,4
1,327
1,3
1,2
1,1
1,0
0,9
0,761
0,8
0,7
0,609
0,6
0,581
0,581
0,564
0,510
0,5
0,377
0,4
0,314
0,3
0,258
0,258
0,255
0,2
0,123
0,1
SABESP
COPEL
TELEFÔNICA SP
COAMO
VIDEOLAR
COPESUL
MAKRO
SERPRO
ALPARGATAS
MBR
SOUZA CRUZ
WEG EQUIP.
NATURA
0,0
Figura 3 – Taxa de geração de riqueza
A figura 3 – taxa de geração de riqueza (TGR) - expressa o quanto cada real investido no
ativo gera de valor adicionado. Dentre as empresas de maior taxa de geração de riqueza
(TGR), respectiva,mente estão a Natura do setor farmacêutico e cosméticos, a Weg
Equipamentos do setor de mecânica e a Souza Cruz do setor de bebidas e fumo.
Quanto a empresa Natura, a expressiva taxa de geração de riqueza – TGR justifica-se pela
importância do ativo da empresa, principalmente, dos investimentos em pesquisa e
desenvolvimento de novos produtos, proporcionando assim alto valor adicionado. A cada 1
real investido no ativo gera aproximadamente 1,33 em valor adicionado.
No caso da Weg Equipamentos, a alta taxa de retenção de riqueza – TGR está relacionada,
principalmente, ao elevado nível de receita financeira obtida pela empresa. Isto resulta em um
aumento consideravel do valor adicionado, conforme o modelo apresentado do DVA. Assim,
a cada 1 real investido no ativo gera aproximadamente 0,76 em valor adicionado.
No caso da Souza Cruz, a alta taxa de retencao de riqueza – TGR justifica-se pelo por dois
fatores: baixo indice de utilização de insumos de terceiros e do alto indice de receita
financeira obtida pela empresa. Isto tam,bem resulta em um aumento do valor adicionado.
Deste modo, a cada 1 real investido no ativo gera aproximadamente 0,61 em valor adicionado.
9
Contribuição do Lucro Operacional - CLLO
1,3
1,2
1,1
1,040
1,0
0,889
0,9
0,8
0,668
0,560
0,445
0,5
0,412
0,4
0,385
0,370
0,344
0,330
0,3
0,288
0,274
ALPARGATAS
0,600
0,6
MAKRO
0,7
0,2
0,1
NATURA
SERPRO
COAMO
WEG EQUIP.
SOUZA CRUZ
VIDEOLAR
SABESP
COPEL
TELEFÔNICA SP
COPESUL
MBR
0,0
Figura 4 – Contribuição do lucro operacional
A figura 4 – contribuição do lucro operacional (CLLO) mede a contribuição do lucro
operacional para o valor adicionado. Dentre as empresas de maior taxa de contribuição do
lucro operacional (CLLO), respectiva,mente estão a MBR do setor de mineração, a Copesul
do setor de quimica e petroquimica e a Telefonica São Paulo do setor de telecomunicações.
No caso da MBR, a alta taxa de contribuição do lucro operacional (CLLO) resulta do
resultado da equivalencia patrimonial. A equivalência patrimonial e seus efeitos é
reconhecido pela demonstração de resultado do exercicio (DRE) via incorporação ao lucro
operacional da empresa. Visto isto, mais uma vez, o ajuste contabil – resultado de
equivalencia patrimonial - proporcionou uma alta taxa de contribuição do lucro operacional
(CLLO) para o valor adicionado.
Para a Copesul, a alta taxa de contribuição do lucro operacional (CLLO) resulta do expressivo
lucro operacional da empresa para o valor adicionado. A correlação entre lucro operacional e
valor adicionado é praticamente 1 para 1, ou seja, para 0,89 real de lucro operacional gera 1
real em valor adicionado.
Quanto a Telefonica São Paulo, a alta taxa de contribuição do lucro operacional, da mesma
forma que a Copesul, resulta do expressivo lucro operacional da empresa para o valor
adicionado em virtude da extreita correlação entre lucrooperacional e valor adicionado.
10
Taxa de Retenção de Riqueza - TRRQ
1,0
0,9
0,826
0,8
0,662
0,7
0,608
0,6
0,5
0,351
0,345
0,310
0,3
0,267
0,219
0,206
0,198
SERPRO
0,390
ALPARGATAS
0,398
MAKRO
0,406
0,4
0,2
0,1
NATURA
COAMO
SOUZA CRUZ
SABESP
WEG EQUIP.
VIDEOLAR
COPEL
TELEFÔNICA SP
COPESUL
MBR
0,0
Figura 5 – Taxa de retenção de riqueza
A figura 5 – taxa de retenção de riqueza (TRRQ) mede a contribuição do lucro líquido para o
valor adicionado. Dentre as empresas de maior taxa de taxa de retenção de riqueza (TRRQ),
respectiva,mente estão a MBR do setor de mineração, a Copesul do setor de quimica e
petroquimica e a Telefonica São Paulo do setor de telecomunicações. O resultado não poderia
ser diferente, pois existe uma extreita correlação entre lucro líquido e valor adicionado, assim
como verificado no grafico 3 entre lucro operacional e valor adicionado.
No caso da MBR, a alta taxa de retenção de riqueza (TRRQ) resulta do resultado da
equivalencia patrimonial. A equivalência patrimonial e seus efeitos é reconhecido pela
demonstração de resultado do exercicio (DRE) refletindo no lucro líquido da empresa. Visto
isto, mais uma vez, o ajuste contabil – resultado de equivalencia patrimonial - proporcionou
uma alta taxa de retenção de riqueza (TRRQ) para o valor adicionado.
Para a Copesul, a alta taxa de retenção de riqueza (TRRQ) resulta do expressivo lucro
operacional da empresa para o valor adicionado. A correlação entre lucro líquido e valor
adicionado é expressiva.
Quanto a Telefonica São Paulo, a alta taxa de retenção de riqueza, da mesma forma que a
Copesul, resulta da extreita correlação entre lucro líquido e valor adicionado.
5.2. Relação Estatística Entre o Valor Adicionado e os Dados Financeiros das Empresas
Conforme mencionado, além de analisar a produtividade das empresas líderes setoriais
através dos indicadores obtidos via cálculo do valor adicionado, verificou-se a relação
estatística entre este e os dados financeiros obtidos das empresas, a fim de constatar que
variável financeira indica de forma mais clara qual a tendência do comportamento do valor
adicionado. Para tanto, foram calculados os coeficientes de correlação r entre o valor
adicionado e os dados financeiros das empresas, conforme apresenta o quadro abaixo:
11
Variáveis
Receita Bruta Ativo Total
Lucro
Lucro
Correlacionadas
Total
Operacional
Líquido
VALOR
0,81739
0,76193
0,91415
0,92644
ADICIONADO
Quadro 3 – Correlação entre Valor Adicionado e os Dados Financeiros da Empresas
Constatou-se, dessa forma, que a maior correlação verificada é justamente entre valor
adicionado e o lucro liquido devidamente entendido como taxa de retenção de riqueza
(TRRQ). Esta variável evidencia o quanto de valor adicionado ficou retido na empresa (lucro
líquido). Para reforçar esta correlação, o lucro líquido (ou lucro retido) evidencia o quanto
uma empresa adicionou de valor aos seus fatores de produção (estoque de capital em uso máquinas, equipamentos, instalações, mão-de-obra, relações de trabalho, formas e
instrumentos de gestão, qualidade do processo de produção e gestão, potencial de inovação de
produtos e processos, etc.) e ficou retido na empresa.
Outra variável de alto índice de correlação é entre o valor adicionado e o lucro operacional,
também entendido por contribuição do lucro operacional (CLLO). Esta variável expressa o
quanto o lucro operacional contribui para o valor adicionado. Verifica-se neste quesito o
aspecto da incorporação do resultado de equivalência patrimonial como elemento agregador
ao valor adicionado via ajuste contábil e no reconhecimento dos seus efeitos na demonstração
do resultado do exercício (DRE).
A variável receita bruta total demonstra também um alto índice de correlação com o valor
adicionado, devidamente entendido como taxa de retenção de receitas totais (TRR). Esta
variável expressa o quanto de valor adicionado as receitas totais (ou receita bruta total) estão
agregando. Verifica-se neste quesito o aspecto de como a receita bruta total mediante as
vendas para consumidor final ou para outras unidades produtivas incorpora qualidade no
produto, estratégia de marketing, logística de distribuição e outros cujo resultado agrega valor
aos clientes e conseqüentemente, a própria empresa.
Por último, observa-se uma alta correlação entre o valor adicionado e o ativo total da empresa,
também entendido como taxa de geração de riqueza (TGR). Esta variável mostra quanto cada
real investido no ativo gera de valor adicionado. Verifica-se neste índice o aspecto da
importância do ativo de uma empresa para o valor adicionado, sejam estes, ativos tangíveis
(maquinas, equipamentos, instalações, matérias primas, mão-de-obra) como ativos intangíveis
(cultura organizacional, gestão, conhecimento, produção intelectual, pesquisa e
desenvolvimento) indispensáveis na criação de valor à empresa.
6. Considerações finais
O propósito inicial deste artigo foi redimensionar o desempenho das empresas líderes setoriais
do Brasil, utilizando a demonstração de valor adicionado (DVA) como indicador de
produtividade, como também verificar a relação estatística entre este e os dados financeiros
obtidos das empresas, a fim de constatar a variável financeira que indica qual a tendência do
comportamento do valor adicionado.
Após a execução dos procedimentos planejados, foi possível obter êxito conquanto as
intenções propostas. Dessa forma, verificou-se o desempenho das empresas líderes setoriais
do país, sob um enfoque diferenciado, capaz de ampliar a percepção sobre os resultados e
abrir portas para novas discussões a respeito da utilização de indicadores de desempenho em
diferentes níveis organizacionais.
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Por outro lado, a utilização do coeficiente de correlação indicou, inicialmente, uma relação
maior entre a medida utilizada e o lucro líquido das organizações, assim como uma menor
relação entre a medida e a receita bruta das participantes da pesquisa, sugerindo uma já
notória percepção de pouca utilidade final da utilização dos níveis de receita como indicador
principal de desempenho.
Sobre a ferramenta de medição utilizada, conforme já se destacou em outros trabalhos, é
possível enfatizar que a DVA contempla as seguintes características intrínsecas à sua
utilização que contribuem com os diversos modelos de gestão modernos, antenados às novas
exigências e necessidades dos mercados competitivos atuais:
a) O valor adicionado é um conceito sistêmico, pois depende dos múltiplos e
interdependentes fatores variáveis que definem e estruturam o processo produtivo;
b) O valor adicionado é gerado pela articulação das atividades de dentro da organização e,
principalmente, às suas externalidades com o ambiente que a envolve.
c) Favorece a avaliação de desempenho empresarial;
d) Favorece na percepção mais adequada do quanto de riqueza a empresa criou em períodos
determinados de análise;
e) Colabora assertivamente na análise de como a empresa destinou a riqueza criada;
f) Indica a contribuição da empresa para a sociedade, incluindo neste item dados para
atendimento de pessoas ou entidades interessadas no desempenho da empresa, tais como
empregados, sindicatos, organizações não governamentais, clientes, fornecedores,
governo e demais stakeholders.
Por fim, pode-se considerar uma demonstração que aqui se apresentou uma demonstração que
obtém valores que promovem uma relação consistente entre os indicadores escolhidos para
estudo, fortalecendo a percepção de se tratar de uma ferramenta que auxilia o processo
decisório das organizações.
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