BIVALVES DE ÁGUA DOCE IBÉRICOS: AMEAÇAS E ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO J. Reis1, R. Araujo2 1 Instituto Português de Malacologia, Zoomarine, EN 125, Km 65, Guia, 8201-864 Albufeira, Portugal ([email protected]) 2 Museo Nacional de Ciencias Naturales (CSIC). José Gutiérrez Abascal 2. 28006 Madrid, España ([email protected]) Os bivalves de água doce são um grupo heterogéneo que incluí famílias apenas remotamente relacionadas entre si. Na Península Ibérica são reconhecidas espécies pertencentes a 5 famílias: Corbiculidae [uma espécie alóctone: Corbicula fluminea (Müller, 1774) ], Dreissenidae [uma espécie alóctone: Dreissena polymorpha (Pallas, 1771) ], Margaritiferidae [duas espécies autóctones: Margaritifera auricularia (Spengler, 1793), M. margaritifera (L., 1758)], Unionidae [oito espécies autóctones: Potomida littoralis (Cuvier, 1798), Unio mancus Lamarck, 1819, U. gibbus Spengler, 1793, U. delphinus Spengler, 1793, U. tumidiformis Castro, 1885, U. ravoissieri Deshayes, 1847, Anodonta anatina (L. 1758) e A. cygnea (L., 1758)] e Sphaeriidae [12 espécies autóctones: Pisidium amnicum (Müller, 1774), P. casertanum (Poli, 1791), P. henslowanum (Sheppard, 1823), P. hibernicum Westerlund, 1894, P. lillgeborgii Clessin, 1886, P. milium Held, 1836, P. nitidum Jenyns, 1832, P. obtusale (Lamarck, 1818), P. personatum Malm, 1855, P. subtruncatum Malm, 1855, Musculium lacustre (Müller, 1774), Sphaerium corneum (L. 1758)]. Os mexilhões-de-rio (famílias Margaritiferidae e Unionidae) são bivalves de grandes dimensões (até 20 cm de comprimento da concha) cujas larvas são parasitas obrigatórias de determinadas espécies de peixes. Este facto, associado a outras características biológicas e ecológicas, fazem deste grupo o mais ameaçado entre os bivalves. Apesar de apenas recentemente se ter aclarado a diversidade específica da família Unionidae na Península Ibérica, ambos as famílias contam com várias espécies protegidas ao abriga da Diretiva Habitats. O mesmo não acontece na família Sphaeriidae, que apesar de mais diversa, é muito mais desconhecida do ponto de vista da sua biologia, ecologia e mesmo sistemática e taxonomia. É provável que ocorram mais espécies na Península Ibérica do que aquelas até hoje reconhecidas. O estado de conservação da maioria das espécies é desconhecido, mas os estudos dedicados a algumas espécies, por exemplo a P. amnicum, evidenciam uma regressão continuada nos últimos anos. As causas de regressão dos bivalves de água doce são diversificadas, encontrando-se à cabeça as alterações ao seu habitat, em particular através da construção de barragens e regularização dos leitos dos rios. A poluição e alteração da ictiofauna são causas relevantes também, enquanto que a expansão das espécies exóticas C. fluminea e D. polymorpha tem ganho relevância como factor de ameaça desde a sua introdução, respectivamente no final da década de 1970 e no ano 2001. A conservação dos bivalves de água doce autóctones passa necessariamente pela conservação e recuperação do seu habitat, mas algumas espécies de mexilhões-de-rio necessitam já de intervenções mais ativas, incluindo programas de reprodução em cativeiro e reintroduções. Palavras-chave: Bivalves, mexilhões-de-rio, dulçaquícola, barragens, reintrodução