INFORMATIVO COPTEC No. 5 RESUMO JULHO
INFORMATIVO COPTEC No. 5 RESUMO JULHO
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O BRASIL NO CONTEXTO MUNDIAL DE INCERTEZAS ECONÔMICAS ............................................ 2
CONJUNTURA DO JULHO EM FRASES ...................................................................................... 10
SEMANA WIKILEAKS: A EMBAIXADA E A MÍDIA – PARTE II ....................................................... 14
CHINA AVANÇA SOBRE O AÇÚCAR BRASILEIRO ....................................................................... 16
ESTADOS UNIDOS RETIRA OPOSIÇÃO À ROTULAGEM DE ALIMENTOS TRANSGÊNICOS, .......... 18
CONTRARIANDO AS AFIRMAÇÕES DA INDÚSTRIA, DADOS OFICIAIS DO GOVERNO DOS EUA
MOSTRAM QUE O USO DE HERBICIDAS NÃO DIMINUIU COM AS LAVOURAS TRANSGÊNICAS.. 20
AGROTÓXICOS. PILAR DO AGRONEGÓCIO ............................................................................... 22
AGRICULTURA BRASILEIRA É DEFICIENTE ................................................................................ 23
REMESSA DE LUCRO PARA O EXTERIOR SOBE 24,8% NOS CINCO PRIMEIROS MESES DE 2011 . 27
OPINIÓN: MEGAPROYECTOS EN BOLIVIA RESPONDEN A INTERESES DE BRASIL ....................... 30
AÇUCAR NAO É ALIMENTO! .................................................................................................... 31
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O BRASIL NO CONTEXTO MUNDIAL DE INCERTEZAS
ECONÔMICAS
A análise da conjuntura da semana é uma (re)leitura das ‘Notícias do Dia’ publicadas,
diariamente, no sítio do IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto
Humanitas Unisinos - IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos
Trabalhadores - CEPAT - com sede em Curitiba, PR, parceiro estratégico do Instituto
Humanitas Unisinos - IHU.
Economia Mundial. Cenário sombrio
Economias estressadas
A crise na Grécia e na zona do Euro
Quem controla as agências de risco?
Velhos problemas, velhas receitas
O Brasil no contexto mundial de incertezas econômicas
Economia Mundial. Cenário sombrio
Prolongamento da grande crise – que se iniciou em agosto de 2007 e atingiu seu ápice
com a quebra do banco americano Lehman Brothers em setembro de 2008 –, a crise da
zona do Euro recolocada a nú pelos acontecimentos nos últimos dias na Grécia, põe na
agenda global o risco de uma nova crise econômica sistêmica.
O cenário da economia mundial é hoje tão ou ainda mais sombrio quando da crise de
2008. Vivemos sob a perspectiva econômica uma era de incertezas. Nem mesmo a
locomotiva econômica do mundo, a China, está a salvo das implicações da crise que
ronda a Europa e os Estados Unidos. Os outros emergentes, entre eles o Brasil, menos
ainda.
Assim como a crise de 2008 não foi prevista pelos oráculos da economia mundial como
as escolas de economia de renome e as agências de consultoria que fazem de seus
ratings dogmas de fé, qualquer afirmação cabal sobre os desdobramentos e
consequências da crise são tiros n’água.
A retomada da crise economica na zona do Euro coloca em debate velhos temas, como
“regulação versus livre mercado” e novos temas, como o papel que exercem na
economia mundial as agências de classificação de risco.
Economias estressadas
Os últimos dias foram péssimos para a economia mundial. Na Europa, na América e na
Ásia vêem-se movimentos de retração econômica. A situação econômica na Europa é de
desconfiança generalizada e se deteriorou pela crise grega. Apesar da aprovação do
pacote draconiano imposto à Grécia – demissões em massa, redução salarial,
privatizações e aumento de impostos – em troca de alguns bilhões de euros para
estancar a sangria e a insolvência financeira do país, ninguém acredita que o problema
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foi solucionado. Ato contínuo, agências de classificação de risco rebaixaram Portugal
como a “bola da vez”, o que causou irritação no meio político europeu sobre o poder
dessas agências.
As más notícias na Europa se estendem ainda às medidas e anúncios de pacotes de
austeridade por parte da Itália e da Espanha. O movimento 15M é uma reação direta ao
cortes sociais em curso na Espanha.
A economia dos EUA, por sua vez, patina há anos e o endividamento do Estado assume
proporções sem precedentes. Uma notícia curiosa na semana dá conta de que existe uma
chance pequena, mas real, de que o impasse entre os dois partidos americanos –
republicanos e democratas – leve o Congresso a não renovar o teto de endividamento do
governo. Segundo o economista, Alan Blinder, da Universidade Princeton e vicepresidente do Federal Reserve, “se isso acontecer, em agosto o governo dos Estados
Unidos terá de fazer um corte imediato de 40% nas despesas federais”. Isso, para ele,
faria o país “mergulhar numa nova recessão e, com o resto do mundo achando, com
razão, que os Estados Unidos enlouqueceram, o dólar poderia desabar”, diz ele. A
possibilidade remota coloca em evidência o tamanho do déficit da economia americana.
A China, economia ainda superaquecida, diante das ameaças de recessão mundial e dos
riscos inflacionários internos, reduz a velocidade da locomotiva. O banco central chinês
anunciou o terceiro aumento dos juros neste ano e o quinto desde o início do aperto
monetário. A economia chinesa crescendo menos é uma péssima notícia para todo o
mundo. A desaceleração chinesa é ainda mais grave num momento de estagnação de
boa parte da Europa e da perda de impulso da economia americana.
O Brasil, particularmente, pode ser uma das vítimas da redução de aquecimento da
economia chinesa, na medida em que é a China é dos grandes importadores das
commodities brasileiras, responsável por superávits sucessivos na balança comercial de
nosso país. Nesse contexto, o debate sobre os riscos de desindustrialização da economia
nacional
se
torna
ainda
mais
importante.
A crise na Grécia e na zona do Euro
A crise da Grécia tem a ver com o ingresso do país na Comunidade Econômica
Europeia (CEE). Como todo país que ingressou no euro, a Grécia teve que, além de
cumprir uma série de metas fiscais, monetárias e financeiras, renunciar à possibilidade
de emitir sua própria moeda. Esse privilégio ficou nas mãos do Banco Central Europeu
(BCE), entidade supranacional que funciona como um banco central independente. O
BCE tem como uma de suas regras não financiar déficits fiscais dos Estados membros.
Logo, os países ficam seriamente restringidos em suas políticas econômicas pela
dificuldade de obter créditos. Encontrar-se-iam nessa situação os chamados países
denominados PIIGE (anagrama para Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).
A receita para a Grécia permanecer na zona do euro e continuar recebendo apoio é dura:
demissões, cortes salariais, adiamento das aposentadorias, aumento de tarifas e impostos
e privatizações. A sociedade grega explodiu em manifestações. Ironicamente, a Grécia,
ao procurar abrigo na solidez da zona do Euro, encontrou a tragédia.
“Se não vier o dinheiro [da União Europeia/FMI, condicionado à aprovação do pacote],
enfrentaremos um terrível cenário, a volta da dracma [a antiga moeda grega], com os
bancos sitiados por multidões aterrorizadas querendo retirar suas poupanças, veremos
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tanques protegendo bancos porque não haverá policiais suficientes para fazê-lo”,
afirmou com ares apocalípticos o vice-primeiro-ministro Theodoros Pangalos sobre a
necessidade e urgência do parlamento aprovar o pacote de austeridade em troca de ajuda
financeira, 12 bilhões de euros imediatamente para Grécia fechar as contas até
setembro e na sequência um segundo plano de socorro, escalonado de aproximadamente
€ 120 bilhões, até 2014.
Na opinião do economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, “o Banco Central Europeu, a
Comunidade Europeia e o FMI decidiram empurrar o problema da Grécia com a barriga
em vez de resolvê-lo”. O mesmo pensa o economista Luiz Gonzaga Belluzzo: “Entre
cinco analistas experientes e de boa reputação, quatro não acreditam na solução aviada
nos gabinetes da União Europeia com o propósito de ‘salvar a Grécia’. A crise fiscal e
de balanço de pagamentos que ora assola a periferia europeia é filha legítima (com
DNA comprovado) do despropósito financeiro global”.
Segundo Bresser-Pereira, “a crise da Grécia teve quatro responsáveis: o governo grego
anterior, que não soube administrar suas contas; a Alemanha, que aumentou a
produtividade sem aumentar os salários e assim desequilibrou as economias dos países
mais fracos, endividando-as; os bancos, que alegremente emprestaram para a Grécia e
para outros países; e a teoria econômica ortodoxa, que defende o crescimento com
‘poupança externa’. Ou seja, tentar crescer à custa de déficits em conta corrente
esquecendo que estão geralmente associados a déficits públicos”. Em sua opinião, “a
alternativa de empréstimos adicionais combinados com medidas de austeridade que
provoquem recessão e reduzam os salários é ineficaz porque a dívida é grande demais
para poder ser paga”.
O economista Belluzzo também identifica no sistema financeiro parte considerával da
responsabilidade. Diz ele: “Espanha, Portugal, Irlanda e Grécia se esbaldaram na
abundância de crédito destinado ao mercado imobiliário e encaminhado aos desvarios
do consumo. Essa pletora de financiamentos a juros alemães e prazos idem foi
generosamente concedida por bancos franceses, alemães, ingleses e italianos. Na euforia
do ciclo de crédito, os austeros germânicos lavaram a égua: acumularam pingues saldos
comerciais contra os ‘gastadores e preguiçosos’ (sic) do sul da Europa”.
O premio Nobel da Economia Joseph Stiglitz destaca que o “socorro” aos gregos tem
um destino final, os bancos europeus, particularmente os bancos alemães. Destaca ele:
“A questão que se coloca é: trata-se de um pacote de socorro à Grécia ou aos bancos
alemães? É a mesma pergunta que me fazia quando eu estava no Banco Mundial e
íamos ‘resgatar’ o México, a Coreia, a Tailândia ou Indonésia. Não, nós não estávamos
salvando esses países, mas os bancos ocidentais, mas não queríamos falar em resgate
dos bancos ocidentais, dizíamos que era uma ajuda para aqueles países. E é isso que está
acontecendo agora: estamos salvando os bancos na Alemanha é assim que se deveria
chamar”, diz o economista.
Para Stiglitz, não se pode “pedir aos cidadãos que sacrifiquem suas vidas para salvar os
bancos, quando foram estes que causaram os problemas. Aqui está em jogo o conceito
de justiça social”, diz ele.
A análise de Stiglitz é corroborada pelo ministro da Fazenda da Alemanha, Wolfgang
Schäuble, quando afirma que “não podemos permitir um segundo Lehman Brothers”.
Quem controla as agências de risco?
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As receitas para a saída da crise na Grécia e nos demais países como Portugal, Espanha
e Itália que vivem às voltas com déficits é dado pela ortodoxia do FMI e do Banco
Central Europeu, instituições hegemonizadas pelos interesses do capital financeiro. Esse
fato fica ainda mais evidente quando se assiste nos últimos dias uma crescente reação
contra as agências de consultoria que classificam a saúde financeira dos países. Essas
agências estão visceralmente ligadas às instituições financeiras, credoras essas últimas
de títulos a serem resgatados dos tesouros do orçamento dos Estados-nação.
Na Grécia, a assessora internacional do Partido Socialista grego e conselheira do
primeiro-ministro, George Papandreou, Polina Lampsa, acusou as agências de minar
o país.
A Europa acusa as agências de classificação de risco de desestabilizar o mercado depois
do rebaixamento de Portugal e propõe novas medidas para restringir o poder dessas
empresas. O anúncio da ofensiva vem no momento em que a decisão da Moody’s sobre
a dívida de Lisboa reabriu os temores na Europa de que o contágio da situação na
Grécia é inevitável. Há poucos dias, a agência rebaixou o rating da dívida de Portugal
para o nível especulativo, também denominado junk (lixo, em tradução literal) e alertou
que, assim como no caso da Grécia, o país também precisará de um segundo pacote de
resgate.
Para a Comissão Europeia, a atitude da Moody’s é "duvidosa", já que está baseada em
cenários "altamente questionáveis". Com o objetivo de lidar com o poder desmesurado
dessas agências classificatórias, a União Europeia apresentará novas propostas para
frear a atuação das agências. Pela proposta, a influência das mesmas diminuirá e será
exigido maior transparência para que divulguem a base de suas decisões. Na ONU, o
economista-chefe da Unctad, o ex-secretário de Estado de Finanças alemão, Heiner
Flassbeck, também criticou as agências, alertando que elas não deveriam ser
autorizadas a avaliar Estados e só empresas.
O economista e Nobel da economia, Amartya Sen, está entre aqueles que criticam
duramente o papel das agências de consultoria. Segundo ele, “o diagnóstico dos
problemas econômicos por parte das agências de qualificação não é a voz da verdade
como pretendem. Vale a pena lembrar que o histórico dessas agências nas instituições
de certificação financeira e de negócios antes da crise econômica de 2008 era tal que o
Congresso dos EUA debateu seriamente se deviam ser processadas”.
Particularmente em Portugal a agência Mody’s despertou a ira dos portugueses. O
primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, classificou a medida como um
"murro no estômago". Uma campanha virtual contra a agência passou a ser organizada.
Ana Luísa Janeira, filósofa, professora Faculdade de Ciências da Universidade de
Lisboa, uma das organizadoras da campanha “Portugal contra Mody’s” propõe retirar
do ar os servidores da agência do ar durante o pregão da bolsa de valores de Nova York,
afirmou: “Querem guerra? Pois não sabem com que povo se estão a meter... vamos
retaliar como podemos”.
Capital financeiro dá as cartas. Velhos problemas, velhas receitas
A relevância que as agências multilaterais como o Fundo Monetário Internacional FMI e o Banco Central Europeu – BCE associado às agências de classificação exercem
no cenário da crise sinaliza para a força do capital financeiro. Mesmo após a crise e a
desmoralização dessas instituições na crise economica mundial de 2008, são elas que
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continuam dando as cartas. Como destaca Bruno Lima Rocha, cientista político, e
Fábio López López, economista, em artigo no sítio do IHU, “os governos de Portugal,
Espanha e Grécia estão diante de um túnel do tempo, retrocedendo ao período em que
na América Latina, o FMI ditava as regras e o Poder Executivo de nossos países
operava como títere deste organismo multilateral”.
"Nada foi absorvido da recente crise financeira que mostrou a necessidade de maior
igualdade, regulamentação mais forte e melhor equilíbrio entre mercado e governo",
constata Joseph Stiglitz.
Na essência, a crise da zona do euro que se postou no centro do debate europeu desde a
grande crise de 2008, expõe o embate entre a regulação versus livre mercado. O choque
de fundo que se manifesta na zona do Euro é essencialmente sobre a forma de organizar
a economia e a sociedade – um embate entre os fundamentos do neoliberalismo e o
Estado de Bem-Estar Social – o "modelo social europeu".
Para uma retomada do debate acerca da natureza da crise de 2008, sugerimos a leitura
das revistas IHU On-Line nº 276 – A crise financeira internacional. O retorno de
Keynes e A financeirização do mundo e sua crise. Uma leitura a partir de Marx. Outras
revistas do IHU On-Line retomaram o debate acerca da crise do capitalismo mundial,
entre elas destacamos a revista nº 287 – A crise capitalista e a esquerda e, recentemente,
a revista nº 330 – A crise da zona do euro e o retorno do Estado regulador em debate.
Novamente, o capitalismo financeiro emerge como o grande protagonista da crise e é
em nome dele que se exigem enormes sacrifícios. A resistência dos fundamentos do
neoliberalismo, que se julgava debilitado pela grande crise de pouco tempo atrás, dá
sinais de que a transição da economia de livre mercado para uma economia regulada
está distante de acontecer. A tese propagandeada pelos políticos de que era preciso
“refundar o capitalismo” virou quimera.
“A crise é o Muro de Berlim do livre mercado”. Assim definiu a crise econômica de
2008, Joseph Stiglitz. À época o economista afirmou: “A queda de Wall Street
representa para o fundamentalismo do mercado o que a queda do Muro de Berlim
representou para o comunismo”. O próprio Fundo Monetário Internacional (FMI)
reconheceu que a crise nasceu no coração do sistema financeiro. Falou-se
exaustivamente da necessidade de mecanismos mínimos de regulação sobre o mercado
financeiro e até de um novo Breton Woods.
Até mesmo a maior potência econômica do mundo, os EUA, reconheceu que a sua
cruzada em defesa das virtudes do liberalismo havia se esgotado. O secretario do
Tesouro americano Henry Paulson implorou aos países que adotassem pacotes de
emergência ao sistema financeiro e num rompante de sinceridade chegou a afirmar:
“Odeio ter de fazer isso, mas é melhor (...) Este é um momento de muita humildade para
os EUA”.
No contexto do debate acerca da natureza e do caráter da crise de 2008, os mitos do
liberalismo foram abalados, a tese liberal do mercado como aquele que se auto-regula se
demonstrou uma falácia. Os anos dourados do neoliberalismo e as orientações do
‘Consenso de Washington’ foram duramente questionados.
Afirmou-se ainda à época que a crise não foi apenas de macro teoria, mas de natureza
ética. Com a crise de 2008 rompeu-se a ética de um sistema fundado em valores que
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decorrem da máxima “vícios privados, benefícios públicos”, ou seja, a idéia de Bernard
de Mandeville, de que a sorte dos demais é, em última instância, uma manifestação do
nosso amor-próprio, do nosso auto-interesse. A tese do egoísmo como virtude exposta
por Adam Smith ao destacar que a busca compulsiva do próprio interesse conspiraria
para a elevação do bem-estar da sociedade falhou.
O evangelho do mercado: reduzir o Estado, quebrar a coluna dos sindicatos, cortar os
gastos sociais e privatizar foi colocado em xeque. Os desdobramentos e as “lições” da
crise, porém duraram pouco tempo. O jogo continua sendo jogado da mesmíssima
maneira como se percebe agora com a crise da zona do euro. As velhas receitas são as
mesmas de sempre.
“Eu estava entre os que esperavam que, de algum modo, a crise financeira ensinaria aos
americanos (e a outros) uma lição sobre a necessidade de maior igualdade, de uma
regulamentação mais forte, e de um melhor equilíbrio entre mercado e governo. Pobre
de mim, não foi o que ocorreu. Ao contrário, o ressurgimento de uma economia de
direita, impelida, como sempre, por ideologia e interesses especiais, ameaça uma vez
mais a economia global - ou, ao menos, as economias da Europa e dos Estados Unidos
onde essas ideias continuam prosperando”, afirma frustrado o economista americano
Joseph Stiglitz.
Amartya Sen é outro que critica o mercado financeiro e a hegemonia que excerce no
debate sobre a crise. Diz ele: “É difícil ver que os sacrifícios que os comandantes
financeiros vêm exigindo dos países em situação precária vão garantir a viabilidade
destes países e a continuidade do euro dentro de um modelo sem reformar o setor
financeiro e um conjunto de membros sem mudanças dentro do clube do euro”.
Pergunta Stiglitz: “Será que realmente precisamos de uma nova experiência dispendiosa
com ideias que falharam repetidamente? Não precisamos, mas ao que tudo indica
teremos de suportar outra mesmo assim”, afirma de forma pessimista.
O Brasil no contexto mundial de incertezas econômicas
O Brasil está livre do perigo do contágio da crise da zona do euro? A nossa economia
está robusta o suficiente para evitar as consequências da deterioração da economia
mundial? Ninguém sabe ao certo o tamanho da crise, seus estragos e sua duração. A
crise de 2008 “ensinou” que tendo a crise iniciada no sistema financeiro, logo baixou à
economia real, espraiando-se dos países ricos aos mais pobres, passando pelos países
em desenvolvimento. Numa economia globalizada, todos os recantos do mundo, mais
ou menos intensamente, foram de uma ou de outra maneira atingidos.
Quando da crise de 2008, Lula afirmava que o Brasil vivia um “momento mágico e
glorioso” e que a crise chegaria no país apenas como uma “marolinha”: “Lá, ela é um
tsunami; aqui, se ela chegar, vai chegar uma marolinha que não dá nem para esquiar”,
disse Lula em setembro de 2008.
O fato é que a crise mundial de dois anos atrás mesmo chegando com menos
intensidade no país, pulverizou 700 mil empregos e exigiu sacrifícios e respostas
rápidas do país. O cenário apenas não foi pior porque o país vivia um momento de
crescimento econômico. Mesmo assim viu-se o socorro do Estado ao capital financeiro
e produtivo através da edição da Medida Provisória 443 autorizando o Banco do Brasil
e a Caixa Econômica Federal a comprarem sem licitação bancos e todas as empresas
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financeiras ligadas a eles, passando pela redução de IPI sobre determinados produto, até
a injeção de recursos nas montadoras.
Algumas medidas anunciadas pelo governo Lula na época na perspectiva de aquecer a
economia: Anúncio do programa Minha casa, Minha Vida; prorrogação por três meses
da redução do IPI para o setor automotivo; desoneração tributária de geladeiras e outros
bens da linha branca; redução de encargos trabalhistas para empresas que evitarem
demissões; ampliação do seguro-desemprego em duas parcelas; pacote de ajuda às
prefeituras e Estados; troca da direção do Banco do Brasil na perspectiva de forçar a
redução do spread; pacote de R$ 10 bilhões ao agronegócio.Como se pode perceber as
respostas à “marolinha” foram em grande número. Para muitos analistas as
consequências apenas não foram maiores porque o país adotou uma estratégia
econômica de crescimento e as medidas adotadas pelo país se inscreveram na
perspectiva keynesiana, ou seja, medidas para estimular o consumo.
A crise, portanto, ensina que mesmo em economias em crescimento as consequências
podem ser severas. É em função do que já aconteceu que não se pode afirmar que o país
está livre do contágio da nova crise mundial. Aliás, nos últimos dias notícias deram
conta de que a deterioração da crise grega pode impactar os bancos Santander e BBVA
na América Latina. O presidente do conselho de administração do Santander Brasil,
Fábio Barbosa refutou a ameaça e rechaçou a existência de bolha de crédito no país –
alerta que mais se ouve nas análises internacionais sobre a economia brasileira. Reiterou
ainda que o sistema financeiro brasileiro é forte, "parte da solução e não do problema".
O boom da economia brasileira foi propagandeado ao redor do mundo como exemplo
para a recuperação após a crise global de 2008. No entanto, já se percebem vozes
divergentes que alertam sobre possíveis estouros de bolhas que levem a uma
desaceleração no país. “As pessoas estão subestimando os problemas na economia
brasileira”, disse o analista Neil Shearing, economista da consultoria britânica Capital
Economics. “Fundamentalmente, o ritmo e a natureza do crescimento brasileiro não são
sustentáveis”, afirmou Shearing.
“O estouro da bolha de crédito deve ser bastante grave e levar a economia a uma
desaceleração”, disse Amit Rajpal, gerente de portfólio do fundo de investimentos
Marshall Wace. Em um artigo pelo diário econômico Financial Times, Rajpal e Paul
Marhsall, diretor de investimentos do Marshall Wace, alertam para o risco de uma crise
no setor de crédito no Brasil, citando um aumento dos gastos proporcionais das famílias
brasileiras com o pagamento de suas dívidas e a perspectiva de aumento dessa
proporção por conta dos juros em alta. "O peso no fluxo de caixa (das famílias) é
astronômico e está crescendo", escreveram.
Em um relatório publicado nos últimos dias, a Capital Economics faz um alerta sobre as
perspectivas negativas da indústria no Brasil, apesar do crescimento na produção
registrado em maio, e sobre a contínua valorização do real, que “está distorcendo a
economia brasileira”.
A consultoria britânica mantém suas previsões positivas sobre a economia do país no
curto prazo, mas advertiu em um relatório anterior sobre “um crescente risco de que a
economia superaqueça ou que bolhas comecem a inflar”. Para a Capital Economics, a
vulnerabilidade da economia brasileira advém de dois fatores: a força do fluxo de
capitais para o país e o aumento rápido do crédito para o consumo interno.
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O jornalista Vinicius Torres Freire que acompanha a área ecômica comenta o que
chama de “fofocas”: “O brasileiro está superendividado? A pergunta se tornou assunto
na mídia econômica do mundo. A opinião mais pop e frequente diz que sim”. Segundo
ele, e numa referência indireta a análise anterior, “os mais alarmistas, em geral mais
ignorantes do Brasil, acreditam que a parte da renda dedicada ao pagamento dos
empréstimos teria chegado a um nível semelhante ao de países que viveram estouro de
bolhas de crédito”.
Vinicius Torres Freire em outro artigo diz: “A gente pode ouvir e ler estrangeiros a
reclamar do seguinte: 1) A economia brasileira está "superaquecida". Cresce acima de
suas possibilidades, o que causa inflação e pode provocar "bolhas"; 2) O real está
supervalorizado. O país, ainda pobre, é agora um dos mais caros do mundo. Isso seria
sinal de desarranjo grave da política econômica e/ou da bonança temporária, resultado
de excesso de crédito barato no mundo e de preços exageradamente altos de
commodities que exportamos. Pior, o real forte dá mais impulso à bolha e prejudica a
indústria; 3) Os consumidores estão superendividados. A inadimplência cresce mesmo
com a renda ainda alta e o desemprego historicamente baixo. Isso é sinal de que os
consumidores não sabem administrar seu caixa e também de que os bancos concederam
crédito ruim”.
Refuntando as teses alarmistas, afirma que “o superaquecimento passou, a economia se
desacelera, embora exista grande controvérsia sobre o ritmo adequado do PIB, as taxas
de juros, a política fiscal, mas se trata do assunto de sempre”. Destaca ainda que “o real
está fortíssimo, pelos motivos apontados pelos nossos críticos (crédito mundial,
commodities, desarranjo da política econômica)”.
O jornalista, entretanto, destaca que “no caso de alguma reviravolta, podemos levar um
tombo feio. Numa crise financeira aguda, com seca de capitais ou com a queda abrupta
do preço de commodities, pode haver desvalorização, inflação e anos de crescimento
medíocre, para pensar apenas no curto prazo”. Segundo ele, “o alerta mais interessante
trata do excesso de endividamento dos consumidores. Não porque seja mesmo verdade,
mas porque o assunto é novidade”.
Num eventual agravamento da crise o que merece atenção são os rumos da China e dos
preços das commodities, alerta Otaviano Canuto concordando com Vinicius Torres
Freire. Canuto é vice-presidente do Banco Mundial para Redução da Pobreza e
Gerenciamento Econômico e ex-integrante da primeira equipe montada pelo ex-ministro
da Fazenda Antonio Palocci, no início da primeira gestão de Lula.
Para ele, China e commodity podem influenciar mais do que a crise na Grécia. Segundo
Canuto, “a variável que se deve olhar hoje, especialmente o Brasil, é a China. É para
onde vão os preços de commodities, em que medida a evolução da China pode ou não
afetar os preços”. Uma eventual queda de preços internacionais das comoditties pode
trazer prejuízos para a economia brasileira ainda muito dependente das exportações
desse tipo de mercadorias.
Aqui entra outro debate crucial para o futuro do país, a política de industrialização.
Tema recorrente nas notícias do dia, nas revistas IHU On-Line e nas conjunturas da
semana. Os riscos evidentes de desindustrialização da economia nacional podem a
médio prazo tornar o país mais vulnerável as crises internacionais. Por ora, num
contexto de incertezas na economia mundial, afirmar que o Brasil está salvo de riscos
maiores é precipitado.
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CONJUNTURA DO JULHO EM FRASES
15 Julho de 2011
Falando claro
"Vamos falar claro: movimentei o caixa dois da campanha eleitoral. Isso todos os
políticos brasileiros faziam" – Valdemar da Costa Neto, deputado federal – PR-SP –
Folha de S. Paulo, 10-07-2011.
“O acordo com o PR foi feito pelo Lula, decepcionando quem esperava que esse tipo de
aliança o PT nunca fizesse. Mas a Dilma, presidente também foi feita pelo Lula, que
certamente sabia das suas implicâncias e da sua determinação. Dilma, desfazendo o
acordo, estará redimindo Lula e o PT dos seus pecados por associação” – Luís Fernando
Verissimo, escritor – O Globo, 10-07-2011.
Cai, mas fica
“Cai Alfredo Nascimento, o PR fica. A presidente tem força para derrubar o ministro,
mas não para enquadrar o partido - ou simplesmente se livrar dele e moralizar o pedaço.
Os espertalhões perderam a modéstia” – Fernando de Barros e Silva, jornalista – Folha
de S. Paulo, 08-07-2011.
Locupletou-se!
“O PR - que até 2006, quando se fundiu com o Prona, se chamava PL- locupletou-se na
pasta desde o início do governo Lula, em 2003” - editorial ''Ministério dos desvios'' –
Folha de S. Paulo, 07-07-2011.
86.500%
“(Alfredo) Nascimento volta para o Senado sob acusação de propinas e
superfaturamentos que podem estar por trás do crescimento do patrimônio da empresa
do seu filho em 86.500%. É isso mesmo, segundo o jornal "O Globo": 86.500% em dois
anos” – Eliane Cantanhêde, jornalista – Folha de S. Paulo, 07-07-2011.
Companheiro Alfredo
"Alfredo sempre foi correto, sério e atencioso com a nossa bancada. Sempre tratou a
todos com respeito e sempre atendeu nossos pleitos. Já levei lá governadores, prefeitos,
deputados e sempre fomos muito bem tratados. Ele tem o nosso apoio" - Henrique
Eduardo Alves (RN), líder do PMDB – Valor, 06-07-2011.
É isso, companheiro?
“Dentro do PT e até do próprio PR causou surpresa a candente defesa inicial de Gilberto
Carvalho a Pagot” – Jorge Moreno, jornalista – O Globo, 09-07-2011.
Pagot Levot
“O chefe do Dnit que acaba de cair atende por Pagot. Só faltava se chamar Pagot Levot”
– Fernando de Barros e Silva, jornalista – Folha de S. Paulo, 09-07-2011.
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É a Dilma!
"Essa é a Dilma Rousseff que chegou à Presidência da República” – Eduardo Braga,
senador - PMDB-AM - , comentando a queda de seu adversário político Alfredo
Nascimento (PR-AM), afastado ontem do Ministério dos Transportes em meio a
suspeitas de irregularidades em licitações – Folha de S. Paulo, 07-07-2011.
Piada pronta
“A situação do PR ficou tão esquisita que, agora, o político mais sério do partido é o...
palhaço Tiririca” – um observardor do PR, em Brasília – O Globo, 09-07-2011.
Suborno
“Mais do que uma demanda momentânea, o objetivo era fortalecer um projeto de poder
do Partido dos Trabalhadores de longo prazo. Partindo de uma visão pragmática, que
sempre marcou a sua biografia, José Dirceu resolveu subornar parlamentares federais,
tendo como alvos preferenciais dirigentes partidários” – Roberto Gurgel, procuradorgeral da República – Zero Hora, 09-07-2011.
Controles
“Os governos do PT, decidamente, não gostam de controles” - Rosângela Bittar,
jornalista – Valor, 06-07-2011.
Tenda
"É algo pequeno, como uma tenda. As pessoas não conseguem entender isso. Depois de
ter 20 milhões de votos, acham que você deve ir para uma torre, um palácio. Eu estou
indo para uma tenda, uma coisa modesta” – Marina Silva, ex-senadora, sem partido –
falando do Instituto Marina Silva – Folha de S. Paulo, 09-07-2011.
Em campanha
“Vágner de Freitas, candidato à sucessão da CUT, puxou a participação da central
ontem no ato que paralisou a rodovia Anchieta, em São Bernardo do Campo. A
mobilização, organizada em parceria com a Força Sindical, não contava com a simpatia
do presidente nacional da entidade, Artur Henrique” – Ranier Bragon, jornalista –
Folha de S. Paulo, 09-07-2011.
Novo ícone
“É graças aos soldados, e não aos sacerdotes, que podemos ter a religião que desejamos.
É graças aos soldados, e não aos jornalistas, que temos liberdade de imprensa. É graças
aos soldados, e não aos professores, que existe liberdade de ensino. É graças aos
soldados, e não aos advogados, que existe o direito a um julgamento justo. É graças aos
soldados, e não aos políticos, que podemos votar” – Barack Obama, presidente dos
EUA – O Globo, 09-07-2011.
Conversão
“Os norte-americanos acreditam que podem alterar as pessoas por conversão, e que
todos no mundo são norte-americanos em potencial. Os chineses também acreditam que
seus valores são universais, mas não acreditam que podem converter os outros a se
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tornarem chineses, este são apenas os que nasceram no país” – Henry Kissinger, exsecretário de Estado dos EUA – Der Spiegel – 10-07-2011.
O que temos a perder?
“Mesmo se as previsões climáticas estiverem equivocadas (e não estão), o que temos a
perder mudando nossos hábitos para proteger melhor nosso planeta? A Terra existia já
bem antes da gente, e vai continuar a existir sem nós. Mas nós não existiremos sem ela”
– Marcelo Gleiser, físico – Folha de S. Paulo, 10-07-2011.
Veneno doce
“Açúcar é veneno. Deveria ser considerado tão ruim e viciante quanto o cigarro e o
álcool. As pessoas comem doce em todas as refeições. Deveriam fazer isso uma vez por
semana” - Robert Lusting, endocrinologista da Universidade da Califórnia – Zero
Hora, 09-07-2011.
Maldade
“Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável,
mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o
que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou” –
Ricardo Teixeira, presidente da CBF – Correio do Povo, 08-07-2011.
Encalhado
"Escrevo ainda em máquina de escrever, não sei o que é computador. Comigo não
adianta perguntar coisa moderna, sou um homem do passado. Eu sou encalhado no
passado. Sou conservador. Uso bigode, ainda. Os jovens usam barba” – Antonio
Candido, crítico literário – Folha de S. Paulo, 07-07-2011.
Despacho
“E a fusão Pão de Açúcar-Carrefour? Carrefour em francês quer dizer encruzilhada. Pão
de Encruzilhada. Pão de Macumba! Isso não é uma fusão, é um despacho” – José
Simão, humorista – Folha de S. Paulo, 05-07-2011.
Visita oficial
"Presidente Chávez inicia visita oficial de três dias à Venezuela" - manchete de ontem o
site satírico El Chigüire Bipolar (ou "A Capivara Bipolar") – O Estado de S. Paulo,
05-07-2011.
Pechincha divina
“Se é mesmo verdade que Neymar paga R$ 13 mil por mês de dízimo para a Igreja
Batista Peniel, perto do que a Renascer levava do Kaká, francamente, tá barato pra
caramba!” – Tutty Vasques, humorista – O Estado de S. Paulo, 06-07-2011.
Procura-se
“O Brasil é mesmo um país sem memória! Ninguém se pergunta mais nem cadê o Plínio
de Arruda Sampaio, caramba!” – Tutty Vasques, humorista – O Estado de S. Paulo,
05-07-2011.
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SEMANA WIKILEAKS: A EMBAIXADA E A MÍDIA – PARTE II
"Nós temos tradicionalmente tido acesso e relações excelentes com o grupo RBS" embaixada
dos EUA em mensagem captada pelo Wikilieads. agencia a Publica. 9 julho 11
Documentos mostram encontros de membros do corpo diplomático com diversos
jornalistas de peso e representantes de grandes grupos midiáticos
Por Anselmo Massad, especial para a Pública
A estrutura diplomática dos Estados Unidos mantém-se permanentemente alerta para o
comportamento da imprensa. Um dos centros das atenções, segundo mostram
documentos vazados pelo WikiLeaks, é a repercussão de questões relacionadas à
política interna norte-americana, além de questões de relações bilaterais e temas
relacionados a Israel.
Em meio a diversas análises do que sai na imprensa brasileira, há divagações curiosas.
Em 23 de outubro de 2009, em meio à discussão de como a mídia se comporta, um
telegrama (UNCLAS SECTION 01 OF 08 BRASILIA 001254) assinado pela
conselheira diplomática Lisa Kubiske, tudo começa por elogios: “Os jornalistas
brasileiros, falando genericamente, são profissionais, equilibrados e buscam
objetividade”.
A seguir, ela sustenta que muitos são “imparciais” no tratamento concedido aos Estados
Unidos, ainda que não concordem pessoalmente com as políticas norte-americanas.
“Alguns articulistas da mídia dominante demonstram viés contra as políticas dos EUA,
embora a tendência tenha começado a mudar com a eleição do presidente (Barack)
Obama”, avalia.
A análise se aprofunda: “Um pequeno segmento do público brasileiro aceita a noção de
que os Estados Unidos tem uma campanha para subjugar o Brasil economicamente,
miná-lo culturalmente e ocupar com tropas pelo menos uma parte de seus territórios.
Esse tipo de atitude e de crenças influenciam repórteres e comentaristas em questões
como o retabelecimento da Quarta Frota da Marinha dos EUA (caracterizada como uma
ameaça para o Brasil), supostamente por nefastas intenções em direção à Amazônia e à
‘Amazônia Azul’ (mares onde novas reservas de petróleo foram encontradas) e mais
recentemente o anúncio do acesso dos EUA a bases militares colombianas”.
Há alguns telegramas que relatam encontros de membros da imprensa com
embaixadores, cônsules e funcionários da diplomacia.
RBS amiga
Em um telegrama de 2005, o então cônsul de São Paulo, Patrick Dennis Duddy, narra
uma visita do então embaixador John Danilovich a Porto Alegre. A capital gaúcha
contava com um consulado próprio, até 1997, quando passou a ter apenas uma agência
consular.
O embaixador teve três dias agitados, recheados de encontros com empresários e
políticos.
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Um dos pontos mais curiosos do relato diz respeito a uma entrevista concedida por
Danilovich aos veículos da RBS. “O embaixador teve um almoço ‘off the record’ com a
direção editorial do grupo RBS, o maior grupo regional de comunicação da América
Latina”.
Os números da empresa são apresentados no relato, com detalhamentos sobre operações
no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, incluindo a afiliação à Rede Globo, as 120
estações de rádio em dez estados e o jornal Zero Hora.
“O embaixador subsequentemente concedeu uma entrevista ‘on the record’ para o Zero
Hora e para a rede de rádios.”
O documento ainda frisa, em sequência, as relações política entremeadas ao grupo de
comunicação. “Pedro Parente, que era chefe da Casa Civil do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (PSDB), é vice-presidente executivo da RBS”, aponta Duddy.
Imediatamente a seguir, uma “nota” complementa a informação: “Nós temos
tradicionamente tido acesso e relações excelentes com o grupoRBS”.
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CHINA AVANÇA SOBRE O AÇÚCAR BRASILEIRO
Fabiana Batista | De São Paulo
A China pode bater novo recorde de importação de açúcar do Brasil ou pelo menos
repetir o expressivo volume comprado em 2010. Nos portos de Santos (SP) e de
Paranaguá (PR), os navios que se destinam ao país asiático não param de chegar. Até
ontem, de todo o açúcar programado para exportação pelo Brasil neste mês, um
percentual de 24% era destinado ao mercado chinês.
No ano passado, a China comprou 1,23 milhão de toneladas do produto do Brasil e se
tornou o quarto maior comprador do açúcar bruto brasileiro. Em 2009, havia importado
um volume bem menor, 254 mil toneladas.
Até ontem, 16 navios com destino à China estavam programados para embarcar a
commodity em julho nos portos de Santos e Paranaguá, de um total de 82 embarcações
previstas, segundo a SA Commodities, que atua em parceria com a Unimar no
agenciamento marítimo. Assim, dos 2,93 milhão de toneladas previstas para serem
exportadas no mês, 659,5 mil toneladas estavam programadas para o país asiático.
Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, estima que a China deve importar 2,3
milhões de toneladas de açúcar, de diferentes origens, na safra mundial 2011/12 que
começa em 1º de outubro. O volume estimado é 21% superior ao do período anterior.
Do Brasil, devem sair em torno de 55% desse total, estima Nastari, ou cerca de 1,26
milhão de toneladas, pouco acima do volume de 2010.
Outras empresas de consultoria preveem volumes ainda maiores de importação pela
China. Apenas entre maio e novembro, o país pode precisar importar de 2,5 milhões a
até 3 milhões de toneladas, segundo Jeremy Austin, da trading Sucden do Brasil. Mais
de 1 milhão de toneladas virão do Brasil, segundo ele. "Os preços futuros da commodity
em Xangai já estão subindo", observa Austin.
Segundo a Datagro, já na safra mundial 2011/12 a China deve superar a Rússia como
maior importador mundial de açúcar. Em dois ou três anos, o país asiático deve se
tornar também o principal importador do produto do Brasil. O apetite chinês deve dar
sustentação aos preços da commodity no médio prazo, diz Nastari. Ontem, o contrato
com vencimento em março subiu 6 pontos na bolsa de Nova York, fechando a 27
centavos de dólar a libra-peso.
A Rússia, diz a Datagro, deve reduzir suas importações de 3 milhões de toneladas
(2010/11) para 1,9 milhão de toneladas (2011/12). Com isso, passará a quinto
importador mundial, segundo a Organização Internacional de Açúcar (ISO, na sigla em
inglês)
Em seu último relatório, de julho, a ISO observa que as importações de açúcar da China
no primeiro trimestre do ano recuaram consideravelmente, como consequência da
política do governo de liberar estoques internos. Mas o documento pondera que em abril
e maio essas compras voltaram a subir com força. Alguns analistas acreditam, segundo
a ISO, que a China terá que importar agressivamente antes de setembro, quando começa
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sua colheita, e que o Brasil sozinho pode contribuir com 500 mil toneladas de açúcar
bruto somente em julho.
Se confirmado, esse volume será 55% maior do que o importado um ano antes. Nos
portos brasileiros, a programação para o mês de julho é de embarque de 659,5 mil
toneladas de açúcar para o mercado chinês..
Além de comprar do Brasil e da Austrália, os chineses também devem se abastecer de
açúcar da Tailândia, segundo maior exportador do produto depois do Brasil. A produção
tailandesa surpreendeu - vai crescer de 7,1 milhões para 9,6 milhões de toneladas - o
que dará ao país um excedente exportável de 6,3 milhões de toneladas, ante 5,79
milhões de toneladas da safra anterior, segundo a ISO.
O consumo de açúcar na China vem subindo, puxado pelo aumento do consumo de
industrializados no país. Feito de beterraba e de cana, a produção de açúcar chinês na
safra 2011/12 será de 10,5 milhões de toneladas, segundo a Datagro, enquanto o
consumo deve atingir 14,5 milhões de toneladas, um déficit anual de 4 milhões de
toneladas.
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ESTADOS UNIDOS RETIRA OPOSIÇÃO À ROTULAGEM DE
ALIMENTOS TRANSGÊNICOS,
com isso a OMC deverá regularizar a medida em mais de cem paises
Camila Queiroz
Jornalista da ADITAL
Adital
Ontem (5), os Estados Unidos tomaram uma decisão que surpreendeu positivamente aos
defensores dos direitos dos consumidores. Na cúpula anual da Comissão do Codex
Alimentarius, em Genebra (Suíça), a delegação estadunidense retirou a oposição ao
documento de diretrizes sobre rotulagem de transgênicos. Com isso, o texto poderá ser
convertido em um documento oficial do Codex, que reúne mais de 100 países.
A ONG Consumers International (CI) ressaltou, em comunicado, que o fato é motivo de
comemoração, pois garante o direito dos consumidores à informação sobre os alimentos
que consomem e "abre caminho para um maior monitoramento dos efeitos dos
organismos geneticamente modificados”.
"O novo acordo do Codex significa que qualquer país que deseje adotar a rotulagem dos
alimentos GM (geneticamente modificados) já não enfrenta a ameaça de uma demanda
legal da Organização Mundial do Comércio (OMC). Isto se deve a que as medidas
nacionais baseadas em orientações e normas do Codex não podem ser impugnadas
como obstáculos ao comércio”, explica a ONG.
Foram precisos 20 anos de luta para que houvesse consenso sobre o assunto entre os
órgãos reguladores da segurança alimentar mundial no Codex Alimentarius. Agora, com
a mudança de posicionamento dos EUA, haverá impactos nos direitos dos
consumidores.
Durante a reunião da Comissão, Edita Vilcapoma, membro da Associação Peruana de
Consumidores (Aspec), ressaltou que o Peru não sofreria mais a ameaça da OMC à
rotulagem dos alimentos GM. "Com este novo acordo do Codex esta ameaça
desapareceu e o direito dos consumidores a ser informados foi assegurado. Esta é uma
grande vitória para o movimento global de consumidores”, assegura.
No âmbito da saúde, o acordo favorece o reconhecimento dos efeitos dos alimentos
transgênicos nos consumidores. "(...) se os consumidores comem alimentos modificados
geneticamente, serão capazes de conhecer e informar aos reguladores se têm uma reação
alérgica ou outra adversa”, afirmou o médico e delegado científica da CI no Codex,
Michael Hansen.
Para Gabriel Fernandes, membro da organização brasileira Assessoria, Serviços e
Projetos em Agricultura Alternativa (ASPTA), a mudança de posicionamento dos EUA
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vem reforçar a decisão da Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO, por sua sigla em inglês) de que os transgênicos são alimentos
fundamentalmente diferentes dos outros, por isso devem trazer identificação. "A
rotulagem é importante porque possibilita ao consumidor escolher se quer consumir
aquele produto”, disse.
Ele esclareceu que o Brasil conta com legislação federal, desde 2003, que prevê a
rotulagem obrigatória de alimentos que contenham mais de um 1% de ingredientes
geneticamente modificados. Apesar disso, segundo Gabriel, são poucos os fabricantes
que informam aos consumidores sobre a produção do alimento.
Dentre as três culturas transgênicas no país (soja, milho e algodão), a Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) se opôs à liberação do milho geneticamente
modificado, por entender que não foram apresentadas provas suficientes de que o
alimento não causaria mal à saúde dos consumidores.
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CONTRARIANDO AS AFIRMAÇÕES DA INDÚSTRIA, DADOS
OFICIAIS DO GOVERNO DOS EUA MOSTRAM QUE O USO DE
HERBICIDAS NÃO DIMINUIU COM AS LAVOURAS
TRANSGÊNICAS
Número 545 - 08 de julho de 2011
Car@s Amig@s,
Segundo o Relatório de 2010 sobre o Uso de Químicos na Agricultura, divulgado no
último mês pelo Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas do Departamento de
Agricultura do governo dos EUA (NASS/USDA), o uso do herbicida glifosato,
associado às lavouras transgênicas, aumentou dramaticamente ao longo dos últimos
anos, enquanto o uso de outros herbicidas ainda mais tóxicos, como a atrazina, não
diminuiu.
Ao contrário das recorrentes afirmações dos fabricantes de agrotóxicos e transgênicos
de que a proliferação das lavouras transgênicas tolerantes à aplicação do glifosato
resultaria na diminuição de seu uso, os dados mostram que o uso em geral de
agrotóxicos permaneceu relativamente constante, enquanto o uso de glifosato mais do
que dobrou em relação a cinco anos atrás.
O Relatório mostra que, nos estados avaliados, 25,8 milhões de kg de glifosato foram
aplicados no último ano apenas em lavouras de milho. Em 2000 este número era de 2
milhões de kg. Em 2005 o valor era ainda menos da metade do atual: 10,4 milhões de
kg. Nas regiões de cultivo intensivo de milho o aumento nas aplicações de glifosato foi
ainda maior. O uso do herbicida no estado de Nebraska aumentou em mais de cinco
vezes em apenas 7 anos, passando de 567 mil kg em 2003 para mais de 3 milhões de kg
no último ano.
Os defensores da biotecnologia frequentemente dizem que se os agricultores estão
aumentando o uso de glifosato isto se deve ao fato de que eles estão usando menores
quantidades de herbicidas mais tóxicos, como a atrazina. Entretanto, os dados mostram
outra coisa. Em 2000, 24,5 milhões de kg de atrazina foram aplicados nos estados
avaliados. Tendo o uso de glifosato aumentado em mais de cinco vezes entre 2000 e
2005, era de se esperar que o uso de atrazina tivesse caído drasticamente. Entretanto, ela
aumentou em mais de 1,3 milhão de kg, nos estados avaliados, passando para 26,8
milhões de kg em 2005. Em 2010 o uso de atrazina reduziu um pouco, tendo sido
aplicados 23 milhões de kg -- quantidade próxima dos 25,8 milhões de kg de glifosato
aplicados.
A atrazina está ligada a sérios efeitos sobre a saúde humana, incluindo malformações
em bebês e problemas nos sistemas endócrino e reprodutor. É também uma grande
ameaça aos ecossistemas por provocar problemas imunológicos, hormonais e
reprodutivos em espécies aquáticas. O próprio glifosato também está associado a uma
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série de problemas ambientais e de saúde. No Brasil, 80% das variedades transgênicas
liberadas são para uso associado de herbicidas.
O aumento no uso dos herbicidas nas lavouras transgênicas tolerantes ao glifosato se
deve, em grande parte, ao desenvolvimento de resistência nas espécies de mato que o
herbicida pretende controlar (devido ao excesso de uso do produto). Com a perda de
eficácia do veneno, os agricultores tendem não só a utilizar maiores quantidades de
glifosato, como a recorrer, de forma complementar, a outros herbicidas ainda mais
tóxicos. Isto está levando também as empresas de biotecnologia a investir no
desenvolvimento de plantas transgênicas tolerantes a múltiplos herbicidas, como
glifosato e 2,4-D (componente do famoso Agente Laranja) ou glifosato e acetocloro. Ou
seja, falsas soluções que também levarão, invariavelmente, ao aumento no uso de
venenos -- e o pior: cada vez mais tóxicos.
Extraído de: Beyond Pesticides Daily News Blog, 03/06/2011 (via GM Watch).
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AGROTÓXICOS. PILAR DO AGRONEGÓCIO
Editorial da revista Humanitas- da Unisinos- nr. 368 ano XI. 4 julho 2011
Enquanto uma área de floresta amazônica, do tamanho de 180 campos de futebol, é destruída
pela ação de herbicidas, uma parcela da população brasileira grita “agrotóxicos, nunca mais!”
Entender o contexto do uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras brasileiras e seus efeitos
diversos é o objetivo do tema de capa da IHU On-Line desta semana. É possível cultivar
alimentos sem o uso de herbicidas? Em busca desta e de outras respostas, nossos entrevistados
refletem também sobre os rumos da agricultura no Brasil e sobre o modelo de agronegócio
empregado no país.
Por: IHU On-Line
O engenheiro agrônomo Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib, considera possível
desenvolver uma agricultura sustentável por meio do manejo ambiental, sem utilizar
agrotóxicos. Enquanto isso, o médico Wanderlei Pignati alerta que não existe uso
seguro de agrotóxicos, e que é impossível estar imune a esses produtos. Por sua vez, o
professor de Economia e Administração da USP, José Juliano de Carvalho, é enfático
quando afirma que “o uso de agrotóxicos no Brasil é abusivo, exagerado e
incontrolável”.
Já a gerente de normatização e reavaliação da Anvisa, Letícia Rodrigues da Silva,
reconhece que reavaliação de agrotóxicos no Brasil ainda faz parte de um processo
lento, frágil e nebuloso.
Quem também contribui com o debate é o agrônomo Rubens Nodari, para quem “é
preciso desconstruir essa concepção criada de que a produção agrícola dependia do uso
de agrotóxicos”.
Leia nesta edição uma entrevista com o pesquisador Erick Felinto, que avalia como as
tecnologias modificaram e impactaram a sociedade nos últimos anos.
Maria Aparecida Marques da Rocha, professora do curso de Serviço Social da
Unisinos, fala sobre seu livro recém lançado Processo de Inclusão Ilusória: a condição
do jovem bolsista universitário (Jundiaí: Paco Editora, 2011).
“Os contornos e nuances de uma mídia regulamentada: um caminho mais democrático”
é o tema do artigo de Aléxon Gabriel João.
O jornalista e professor da Unisinos, Ronaldo Henn, conta aspectos sobre sua trajetória
de vida e profissional.
A próxima edição da revista IHU On-Line será publicada no dia 01 de agosto de 2011.
(A todas e a todos uma boa semana, um ótimo mês de julho e uma excelente leitura!)
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AGRICULTURA BRASILEIRA É DEFICIENTE
De acordo com o engenheiro agrônomo Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib, da Unicamp,é
possível desenvolver uma agricultura sustentável por meio do manejo ambiental, sem utilizar
agrotóxicos
Por: Graziela Wolfart e Patricia Fachin
Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib assinou, juntamente com outros pesquisadores,
um relatório que acusa a Monsanto de saber, há mais de 30 anos, que o herbicida
Round-Up provoca anomalias congênitas. O professor da Unicamp estuda os efeitos dos
agrotóxicos na saúde e no meio ambiente desde a década de 1970 e afirma que testes
feitos com o glifosato, princípio ativo do Round-Up, “mata qualquer criatura de origem
vegetal, (...) causa problemas de desenvolvimento embrionário, atinge células de tecidos
do
corpo
humano
e prejudica
o
desenvolvimento
das
crianças”.
Em entrevista à IHU On-Line por telefone, Mostafa Habib menciona ainda que a
transgenia, outro ramo de atividades da empresa, também causa impactos à saúde
humana. “Realizamos testes em animais de laboratório com a ração fabricada a partir da
soja transgênica e soja não transgênica. Observamos impactos negativos no
desenvolvimento dos ovários e do sistema reprodutor dos animais”, relata.
Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib é graduado em Engenharia Agronômica e
mestre em Entomologia (Controle Biológico) pela Universidade de Alexandria, Egito, e
doutor em Ciências Biológicas (Entomologia) pela Unicamp. Além de lecionar na
instituição, ele é pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O senhor assina, juntamente com outros pesquisadores, o relatório
de pesquisa que acusa a multinacional de agroindústria e biotecnologia Monsanto
de saber, desde 1980, que o herbicida Round-Up – cujo princípio ativo é o glifosato
– provocaria anomalias congênitas. Pode nos dar mais detalhes sobre o relatório?
Como
esta
pesquisa
foi
realizada?
Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib – Minha carreira começou em 1964. Portanto,
tenho 47 anos de experiência. Nesse período, pesquisei os efeitos negativos do
agrotóxico
na
saúde e
no
meio
ambiente de países
agrícolas.
A Monsanto, dona e produtora do defensivo Roundup, sempre trabalhou para dominar o
mercado. Portanto, o investimento da empresa em transgenia é justamente para fazer do
Roundup
um
produto
a
ser
vendido
no
mundo
inteiro.
O glifosato, diferentemente do que a Monsanto vem dizendo e diferentemente daquilo
que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio entendeu quando
aprovou a produção e a comercialização, é um produto de largo espectro tóxico, ou seja,
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mata qualquer criatura de origem vegetal. Ele ainda é tóxico para o ser humano e causa
problemas de desenvolvimento embrionário, atinge células de tecidos do corpo humano
e
prejudica
o
desenvolvimento
das
crianças.
Todas as pesquisas e levantamentos científicos feitos concluíram que o mundo precisa
conhecer a realidade da soja transgênica e as origens do glifosato. Realizamos testes em
animais de laboratório com a ração fabricada a partir da soja transgênica e soja não
transgênica. Observamos impactos negativos no desenvolvimento dos ovários e do
sistema reprodutor dos animais. Portanto, a soja transgênica precisa ser retirada do
mercado imediatamente. As pesquisas de transgenia precisam continuar a desenvolver
técnicas
mais
seguras
para
a
saúde
e
o
meio
ambiente.
Também é preciso rever o impacto do glifosato. Quando o Brasil não cultivava
transgênico e estabelecia, pela lei, o máximo de 0,2 partes por milhão de glifosato na
soja, a Monsanto pressionou o governo e quis, numa primeira instância, mudar a lei para
permitir até 100 partes por milhão. Entretanto, em função das pressões da sociedade, a
lei permitiu ter 10 partes por milhão de glifosato nos grãos da soja. Isso significa 50
vezes
mais
o
valor
que
era
permitido
anteriormente.
Os grãos da soja de hoje têm um teor de glifosato superior àquele que existia antes.
Portanto, mesmo com a introdução da transgenia, o Brasil não ganhou nada.
IHU On-Line – Além do uso de agrotóxicos, que outras medidas podem ser
tomadas
para
o
controle
biológico
das
lavouras?
Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib – O controle biológico é uma das medidas, mas
nós podemos trabalhar para que haja um manejo ambiental do próprio ecossistema e da
lavoura. Por meio do manejo ambiental é possível cultivar a diversidade vegetal. Cada
vez que se tem diversidade na composição da flora, consegue-se ter uma riqueza na
diversidade faunística. A partir disso, alcança-se o equilíbrio ecológico natural, que
acaba automaticamente mantendo as populações das pragas sob o nível ou abaixo do
nível
que
poderia
causar
algum
dano
econômico.
A ciência mostrou que o conceito de agricultura convencional de monocultura, de tirar
do mapa toda a complexidade vegetal que existia e substituí-la por uma única cultura,
não
é
sustentável.
Hoje, o mundo procura uma agricultura sustentável e este novo modelo não pode ficar
dependente de fertilizantes, agrotóxicos. É preciso investir em uma produção mais
saudável para o meio ambiente e para o homem que cultiva e que consome. Nesse
sentido, é possível fazer uso de métodos de controle biológico natural, aproveitando a
riqueza da fauna. Nós temos de preservar o ambiente para que os inimigos naturais
(pragas) que ocorrem naturalmente no ambiente possam estar seguros na propriedade
para
trabalhar
a
favor
da
agricultura.
Também é possível utilizar o controle biológico aplicado, ou seja, é possível liberar os
inimigos naturais para fazer o controle microbiano aplicado, aplicando bactérias,
fungos. Igualmente, existe o conceito de preservação e de investimento cada vez maior
na diversidade biológica da propriedade rural. É preciso partir para rotações agrícolas,
policultivos nas propriedades para ter uma estabilidade econômica maior.
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É fundamental realizar pesquisas para definir o zoneamento agrícola brasileiro e
verificar quais são as condições agrícolas de cada região do país. Dentro desse
zoneamento, é preciso ter um plano governamental para otimizar as condições de cada
região. Não é possível plantar soja desde o Rio Grande do Sul até o Amazonas; isso é
ridículo. Portanto, cada região do Brasil deve identificar a sua vocação, a sua coerência
e ver como ela se manifesta na cultura local.
IHU On-Line – Como vê a atuação de órgãos responsáveis pela regulação de
agrotóxicos em todo o mundo? Quais os maiores dilemas dessas instituições?
Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib – Não tenho reclamação dos órgãos reguladores
que liberam e autorizam o uso dos agrotóxicos. O problema não está nesses órgãos e,
sim, no outro lado, que pressiona o trabalho deles. As multinacionais que produzem
agrotóxicos desrespeitam a sociedade brasileira e o futuro desse país. Elas utilizam o
Brasil para ter retorno financeiro e, hoje, trabalham para retirar da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) o poder de opinar sobre os agrotóxicos, que são os
maiores
inimigos
da
saúde
brasileira.
A academia não tem força para enfrentar as pressões das multinacionais. As empresas
têm um lobby fortíssimo no Congresso e estão trabalhando contra os interesses
nacionais. Minha preocupação é com a interferência e a influência das multinacionais
nos órgãos públicos. A CTNBio é pró-multinacionais e 2/3 da instituição trabalham em
prol das multinacionais. Isso é assustador porque a sociedade confia nessas
organizações que trabalham na contramão dos interesses nacionais.
IHU On-Line – O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do planeta e ainda
permite a utilização de produtos banidos em diversos países. Como entender essa
cultura
pró-agrotóxicos
em
nosso
país?
Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib – O que a academia e certos meios de
comunicação estão fazendo é o início de um processo, ou seja, temos de continuar
conscientizando a sociedade. A transgenia veio para enganar a população. As
companhias dizem que os transgênicos consomem menos agrotóxicos, mas acontece o
contrário. Os transgênicos consomem mais agrotóxicos do que a cultura convencional
anterior.
Precisamos sair em campanhas nas ruas dizendo: “Agrotóxicos nunca mais!”. Com isso,
podemos pressionar para que as multinacionais comecem a pesquisar e desenvolver
produtos alternativos. As empresas não aceitam as propostas das universidades porque
jogar veneno nas lavouras é mais fácil. Elas ainda insistem em chamar o agrotóxico de
defensivo agrícola, de remédios. Temos que abraçar essa campanha contra os
agrotóxicos porque é muito complicado continuarmos desse jeito.
IHU On-Line – Qual a origem e a necessidade de utilizar agrotóxicos no Brasil?
Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib – O uso de agrotóxicos se disseminou pelo
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mundo em função da pressão das multinacionais. Quando cheguei ao Brasil, em 1972,
pude perceber o que as vendedoras de agrotóxicos faziam: contratavam agrônomos
brasileiros para receber um salário por meio de comissão, assim, quanto mais eles
vendiam, maior era o rendimento financeiro. Esse comportamento, além de ser
antiético,
é
um
crime.
Antigamente, as multinacionais não tinham influência no governo federal, no
parlamento brasileiro. Hoje, elas têm lobby no Congresso e aliados em órgãos públicos
como na CTNBio. O brasileiro não tinha a cultura de utilizar venenos; isso é influência
das multinacionais, que utilizam produtos proibidos em seus países de origem para
comercializá-los no Brasil.
IHU On-Line – Em que medida o modelo do agronegócio brasileiro contribui para
a
cultura
do
uso
de
agrotóxicos
no
Brasil?
Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib – O modelo do agronegócio brasileiro é arcaico
porque se baseia na exportação de grãos, que serve de matéria-prima para os europeus
fabricarem ração animal. Se esse setor fosse um pouco mais inteligente, poderia
produzir a ração no Brasil e exportar o produto com um valor agregado. Já estou
cansado de ver o Brasil exportando matéria-prima e chamar isso de agronegócio; isso é
agroburrice, ignorância. Países que buscam o seu desenvolvimento não podem exportar
matéria-prima, energia e, muito menos, água. O Brasil está fazendo exatamente isso. E
depois, o brasileiro vai para o exterior e volta com dois presentes: um pacote de café
solúvel da Alemanha, que não planta nenhum pé de café em seu território; e chocolate
suíço, o melhor chocolate do mundo, feito à base de cacau. A Suíça não cultiva nenhum
pé de cacau. O Brasil vende essas matérias-primas para ambos.
O que acontece no Brasil é uma atividade agrícola extremamente deficiente, que precisa
evoluir. O grão de soja nunca é superior a um real e para produzi-lo, o país gastou no
mínimo 200 litros de água. O Brasil já perdeu 95% da Mata Atlântica, mais de 80% do
cerrado e 20% da Floresta Amazônica. Será que está valendo a pena vender energia e
chamar agroenergia de bioenergia para enganar o povo brasileiro? Não se produz
bioenergia com a cana-de-açúcar e com a soja. Já estou cansado desse tipo de tática
enganosa.
Dizem que este é o setor que mais cresce, mas também é o setor que mais destrói o país.
É um setor que precisa trabalhar com mais inteligência, mais ciência e mais tecnologia.
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REMESSA DE LUCRO PARA O EXTERIOR SOBE 24,8% NOS
CINCO PRIMEIROS MESES DE 2011
29/06/2011- INFORMA CUT nacional
Projeção do BC para o ano é de colossais US$ 78 bilhões - 3,5% do PIB
por: Carlos Lopes/HP
Um quadro da economia nos primeiros cinco meses do ano parece, ao homem comum
(que não teve o cérebro lavado com os despejos da oligarquia financeira), com o som de
sirenes aos passageiros de um navio.
1) Segundo o balanço de pagamentos, divulgado na segunda-feira pelo BC, as remessas
totais para o exterior (sobretudo de lucros das filiais de multinacionais, embora não
apenas), nos cinco primeiros meses, aumentaram de US$ 25,6 bilhões (2010) para US$
32 bilhões – um aumento de 24,8%. A projeção do BC são colossais US$ 78 bilhões
(3,5% do PIB) até dezembro. Porém, mantido o ritmo atual, elas iriam para mais de
US$ 87 bilhões (3,9% do PIB).
2) As importações aumentaram de US$ 66,5 bilhões (2010) para US$ 86 bilhões nesses
cinco meses - um aumento de 30%. É quase um trabalho de jegue (ou de Sísifo, para os
aficionados à mitologia) que tenhamos exportado US$ 96,6 bilhões para obter um saldo
comercial de apenas US$ 8,5 bilhões. Com o câmbio viciado a favor do dólar,
continuou a invasão das importações. O BC, que quer deixar o câmbio – uma
consequência dos juros altos – como está, projeta, até o final do ano, um saldo de
apenas US$ 15 bilhões, se exportarmos US$ 221,2 bilhões.
3) Os bancos e outras companhias, com a diferença de juros em relação ao exterior,
aumentaram a dívida externa – com os “empréstimos intercompanhias”, ela atingiu US$
389.438.623.098 em maio. Nada menos do que 84,8% dessa dívida é em dólar. A parte
governamental é US$ 102,9 bilhões. Nem vamos falar do que pode acontecer com um
aumento de juros nos EUA, porque não queremos passar pelo que um prócer da ditadura
chamava de “cassandras agourentas” (o sujeito esqueceu-se que, em Troia, Cassandra
estava com a razão). Mas jamais existiu situação em que, depois de endividar os países
da periferia, os bancos dos EUA não aumentassem os juros. Naturalmente, essa dívida é
muito menor que a interna (R$ 1,75 trilhão, ao todo R$ 2,45 trilhões, se contarmos os
“títulos em poder do BC”, utilizados nas “operações compromissadas” com os bancos).
Porém, boa parte, talvez a maior parte da dívida interna é, a rigor, externa – ou seja,
com bancos e especuladores estrangeiros.
4) Com o resultado de maio, o déficit externo (nas transações correntes ou em contacorrente – a conta de curto prazo entre remessas e o que entrou, antes de tudo, pelo
comércio exterior) foi para US$ 22 bilhões. A projeção do BC é um aumento de US$
47,5 bilhões (2010) para US$ 60 bilhões este ano. Esse número é um motivo de alarme,
pois representa, literalmente, a insustentabilidade – devido às remessas e às importações
- das contas externas. Como, então, o sr. Mantega e a diretoria do BC permanecem tão
tranquilos diante de um desastre total e consumado? Essa projeção de um déficit de US$
60 bilhões é uma hipótese que considera exportações de US$ 221,2 bilhões. Depois
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de vender no exterior, numa conjuntura de crise externa, o equivalente a quase 10%
do PIB, teríamos um rombo de 2,6% desse mesmo PIB. Ou, mais exatamente: para ter
um buraco de 2,6% do PIB, teríamos de vender, em meio ao afundamento dos países
centrais, 10% do PIB no comércio exterior.
Como as autoridades econômicas podem achar que essa situação não demanda medidas
urgentes – a substituição das importações pela produção nacional, o fim do subsídio
cambial (a hipervalorização do real, como consequência da invasão de dólares atraídos
pelos juros de pesadelo) a essas importações, a queda imediata dos juros, o estímulo à
produção voltada para o mercado interno através dos investimentos públicos, etc.?
A resposta a esta pergunta é desagradável para quem, como nós, apoia o atual governo,
mas, por isso mesmo, se queremos que a presidente Dilma seja bem sucedida, temos
que ajudá-la, ao invés de enganar a nós mesmos: as autoridades econômicas acham que
vender o país, e não apenas a sua produção no exterior, é a solução.
Está na apresentação do Relatório de Inflação do BC:“para 2011, o crescimento do
DCC [déficit em conta-corrente]continuará a ser financiado essencialmente por
investimento direto estrangeiro” e nas declarações do sr. Mantega de que o
“investimento direto” (a compra de empresas nacionais por empresas estrangeiras) nos
“financiará” - como, desde 2006, ele afirmava que o “investimento direto estrangeiro”
era a mola do crescimento, sem base alguma na realidade para confirmá-lo, muito ao
contrário.
Para quem é suficientemente tolo para achar que vender o país é solução para o país (e
não para os compradores), quando as remessas e importações aumentam, basta vender
mais uma parte. Com isso, o estoque de “investimento direto estrangeiro” já estava, ao
fim do ano passado, em US$ 400 bilhões. Sem que nenhum problema tenha se resolvido
por isso – e vários tenham se agravado.
Infelizmente, como mostram as dificuldades na área do etanol, essa política é suicida já havia assim se mostrado ao tempo da dupla Gustavo Franco/Fernando Henrique.
O motivo é que o “financiamento” do rombo externo com a venda do país tem como
consequência, precisamente, o aumento das remessas para o exterior e das importações
– isto é, o aumento do rombo externo. Cada empresa desnacionalizada é uma empresa
que passa a remeter dólares e a aumentar importações de componentes (os “bens
intermediários”, maior parcela dos importados), aproveitando-se de um câmbio
manipulado para favorecer, entre outras coisas, as importações e as remessas.
Portanto, essa solução é um pouco pior que a do Barão de Münchausen para sair do
atoleiro, puxando a si próprio pelos cabelos. Münchausen não teve a ideia de afundar-se
mais no atoleiro para sair dele. Deixou essa inovação para o sr. Mantega.
Nos deteremos rapidamente no fato da atual vaga de “investimento direto estrangeiro”
ser uma fraude, visível a olho nu, que todos comentam abertamente, sem que a Fazenda
ou o BC tomem providência alguma: nesse frenesi especulativo, as entradas de capital
especulativo (“investimentos estrangeiros em carteira”), nos cinco primeiros meses,
caiu de US$ 20,2 bilhões (2010) para US$ 12,1 bilhões (2011) e o “investimento
direto” subiu de US$ 11,5 bilhões (2010) para US$ 26,9 bilhões (2011).
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É óbvio que essa inversão significa que o IOF do sr. Mantega está sendo trapaceado
pelo registro de capital meramente especulativo como se fosse “investimento direto”. A
seriedade da medida de Mantega é tanta que ele não se importa com isso. Afinal, é tudo
encenação... Enquanto isso, o estoque total de capital especulativo estrangeiro dentro do
país, em março, já estava em US$ 608 bilhões (v. levantamento do “economista-senior”
da Nomura Securities, Valor Econômico, 16/03/2011).
Um amigo, aqui na redação do HP, costuma dizer que o problema do Brasil é o excesso
de dinheiro.
Com efeito, depois de ouvir por décadas a idiotice de que o Brasil tem “baixa poupança
interna”, portanto é imprescindível o capital externo, chegamos à situação em que o país
paga ao capital externo para ser pilhado.
No ano passado, 10% do valor desembolsado pelo BNDES foi para as multinacionais
automobilísticas (v. Monitor Mercantil, 09/06/2011). Somente em juros, nos últimos 12
meses, o governo pagou R$ 195 bilhões aos bancos, devido a uma taxa que o próprio
governo pode determinar, através do BC. Permitiu-se o envio de US$ 80 bilhões para
fora. Em cinco meses, pagamos (não há dúvida de onde sai esse dinheiro) US$ 86
bilhões por mercadorias importadas que poderíamos fabricar aqui.
No estudo da Nomura Securities existe outro número interessante: o estoque total de
“investimento estrangeiro” no país, sob suas várias formas, era, em março, US$ 1,205
trilhão, sobre os quais o Brasil pagava um retorno de 16,5% ao ano.
Realmente, riqueza é o que não falta ao país. Nem ladrões de outras plagas - e equipes
econômicas absolutamente acapachadas.
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OPINIÓN: MEGAPROYECTOS EN BOLIVIA RESPONDEN A
INTERESES DE BRASIL
Observatorio Boliviano de Industrias Extractivas
Erbol, La Paz.- El representante de la Federación de Organizaciones para Asistencia
Social y Educacional (FASE) de Belem, Brasil, Guilherme Carvalho, afirmó que la
ejecución de megaproyectos de infraestructura vial e hidroeléctricas en Bolivia, sólo
buscan beneficiar a las empresas transnacionales y al capital brasileño.
“Brasil tiene una estrategia muy clara que es el de transformar empresas brasileñas en
empresas multinacionales, entonces hay todo un conjunto de medidas que son
implementadas por el gobierno brasileño a través de BNDES (Banco de Desarrollo de
Brasil) y otras instituciones para garantizar que estas empresas tengan una actuación
internacional cada vez más fuerte”, señaló Carvalho en su intervención en el seminario
internacional “Cachuela Esperanza, en la cuenca internacional del río Madera”,
realizado en la ciudad de Cochabamba del 14 y 15 de junio.
Asimismo, indicó que “la integración económica sudamericana es un medio utilizado
por el Estado brasileño para que estas empresas puedan entrar a controlar los mercados
de los países vecinos y al mismo tiempo garantizar que las obras de infraestructura de su
interés sean ejecutadas para viabilizar todo el comercio internacional brasileño”.
En el caso de Bolivia, Brasil participa en la construcción de tramos camineros como
Villa Tunari - San Ignacio de Moxos, Potosí - Tarija, Pailón - Puerto Suarez,
rehabilitación del tramo El Sillar, entre otros, y en energía, con interés en la
construcción de proyectos hidroeléctricos como Cachuela Esperanza, Rositas y el Bala.
“Los gobiernos piden prestamos de Brasil a través de BNDES, aumentan su deuda
externa para hacer proyectos que en la mayoría de las veces son concesionadas a
empresas privadas, entonces, el país aumenta su deuda externa para beneficiar a grupos
económicos privados del propio país como también del Brasil”, aseveró.
Seguidamente denunció que “esta política de integración y desarrollo está
profundamente asentado en la explotación intensiva de los recursos naturales, es un
modelo que profundiza la desigualdad y crea mucho más problemas”, concluyó.
Todos estos proyectos se planifican y ejecutan como parte de la Iniciativa para la
Integración de la Infraestructura Regional Sudamericana IIRSA, (hoy denominado
Comité Coordinador de la Infraestructura de América del Sur y Planificación
COSIPLAN), que surge en la primera Cumbre de Presidentes, realizada en Brasilia,
Brasil, el 30 de agosto y 1 de septiembre de 2000, cuya etapa inicial culminó el 2010.
La integración sudamericana tiene en cartera 514 proyectos de Transporte, Energía y
Comunicación, con una inversión inicial estimada en 69 mil millones de dólares, de los
cuales 51 proyectos fueron concluidos, 196 se encuentran en fase de ejecución, 103 en
etapa de estudios, 31 considerados estratégicos y de implementación prioritaria y el
resto aún en agenda.
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AÇUCAR NAO É ALIMENTO!
Por Dr. Olair Rafael
Sempre surgem pessoas perguntando: posso colocar açúcar no meu suco
desintoxicante? Posso tomar o limão com açúcar? Posso usar mel? Posso usar
adoçantes?
Enfim, mesmo tendo como ponto de interesse a desintoxicação e um tratamento
de saúde, as pessoas insistem em adoçar a sua grande oportunidade de cura.
Vejamos o quanto de insano (não saudável) existe nesta necessidade.
Até cerca de 300 anos atrás a humanidade não usava aditivos doces na sua
dieta ordinária. Os povos antigos e civilizações passadas não conheciam este
famoso aditivo doce. O mel era usado eventualmente, mais como remédio. Como
remédio!
Este processo histórico prova que o açúcar é desnecessário como alimento.
Foi só a partir dos dois últimos séculos que o açúcar começou a ser
produzido em larga escala e ser consumido de forma cada vez mais intensa.
Cada vez mais purificado, o açúcar de cana (ou beterraba) se transformou em
sacarose branca. Um pó branco.
Hoje somos uma civilização consumidora de milhares de toneladas diárias de
açúcar. O açúcar refinado é o resultado de um processamento físico-químico
que extrai da garapa a sacarose purificada e anidra, usando e adicionando
produtos químicos como clarificantes, antiumectantes e agentes de moagem.
Aditivos químicos, sintéticos
Realmente necessita é de glicose, ou seja, o tijolo básico dos carboidratos.
Mas essa glicose pode ser facilmente obtida a partir de uma alimentação
balanceada, onde frutas, cereais integrais, legumes e hortaliças são
consumidas diariamente. Ao contrário do que dietas como a do Dr. Atkins e a
de South Beach preconizam (quando evitam o consumo de carboidratos), a
glicose é o principal combustível de ser humano, portanto é muito importante
para o seu pleno metabolismo, quando gera energia de crescimento,
regeneração, movimento, pensamento e manutenção. Assim, consumida da forma
correta, de fontes naturais,
Correto seria dizer que: "açúcar é uma injeção de glicose na veia, ou seja,
superabundância
de
energia
química
concentrada.
E aí reside o problema: açúcar refinado é sempre excesso de energia, acima
das necessidades reais. E, uma vez ingerido, para onde vai este excesso?
•
Depósito
de
gordura
corporal
nas
vísceras,
órgãos,
sistemas...
• Maior demanda de energia metabólica (estresse metabólico) para contornar
as desarmonias energéticas geradas;
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• Envelhecimento precoce, pois a célula só usa o que necessita, todo o resto
passa
a
ser
um
"estorvo"
metabólico;
•
Estímulo
excessivo
do
pâncreas;
• Depressão do sistema imunológico, incluindo problemas como doenças
repetitivas; • Desmineralização orgânica, incluindo problemas de anemia,
dentes e ossos; • Subnutrição pela depressão de enzimas digestivas, portanto
pobre
aproveitamento
e
fixação
de
nutrientes
e;
•
Problemas
digestivos,
gases,
constipações,
etc.
Ao se consumir um produto extremamente concentrado, isolado, será exigido do
organismo uma compensação química. Ou seja, serão seqüestrados cálcio e
magnésio do metabolismo e das reservas. Então, indiretamente, o açúcar
"rouba" do organismo depósitos destes minerais, e esta carência de cálcio,
magnésio e ferro aumenta quanto maior a ingestão de açúcar. Podemos afirmar
então que o açúcar é descalcificante, desmineralizante, desvitaminizante, um
agente de desarmonização metabólica. *Açúcar não é "alimento", *mas um
"antinutriente".
Lembarmos que no consagrado livro de Willian Dufty - Sugar Blues - ele
considera o açúcar como uma "droga doce e viciante que dissolve os dentes e
os
ossos
de
toda
uma
civilização".
E o pior, seus efeitos são como o de uma verdadeira droga, lentos,
acumulativos e insidiosos, vão minando a saúde dia após dia, ano após ano.
Alimentação natural, sem aditivos doces, contém quantidades suficientes de
glicose e energia. Não são necessários aditivos adoçantes nem açúcar.
Já que o açúcar refinado existe e é impossível negar seus prazeres, vamos ao
bom senso, à criatividade, ao adaptar-se? Nestes tempos de modernidade e
high tech, ingerimos muito mais "energia" do que o necessário.
Principalmente porque a humanidade está muito menos física, ao contrário,
mais sedentária.
E, como estamos falando de uma droga, quem consome *muito* açúcar torna-se
um dependente orgânico, e quanto mais intoxicado, mais deseja açúcar, mais
sedentário, porque tende a ter menos força física, emocional e mental.
Grandes consumidores de açúcar geralmente são fracos, astênicos, e acreditam
que não podem fazer nada sem consumir um pouco de doce.
O Brasil, um dos maiores produtores de açúcar do mundo, tem um problema
cultural, pois sua economia iniciou-se pelo cultivo da cana. Infelizmente, o
brasileiro consome cerca de 200 gramas de açúcar/dia. Por extensão são cerca
de 6 quilos/mês ou 72 quilos/ano.
Portanto, a cada 13 anos a pessoa consome 1 tonelada de açúcar. Então um
cidadão brasileiro de 40 anos já fez passar pelo seu organismo algo como 3
toneladas de açúcar.
*Referência: "Relatório Orion" - Dr. Márcio Bontempo - L&PM Editores.*
*
*
fonte: http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=5055
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INFORMATIVO COPTEC No. 5 RESUMO JULHO