A-4 Local A TRIBUNA www.atribuna.com.br Segunda-feira 24 Segunda-feira 24 junho de 2013 Local A-5 A TRIBUNA junho de 2013 www.atribuna.com.br Terminais querem ampliar uso da ferrovia Produção de açúcar na safra de 2012/2013 SP MG GO MS A ocorrência de problemas logísticos no escoamento da safra de açúcar até o Porto de Santos depende cada vez mais de quanto dessa carga chega à região por trem 11,6% 3,3% 1,6% Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) CARLOS NOGUEIRA P FERNANDA BALBINO DA REDAÇÃO elo menos 25 milhões de toneladas de açúcar serão exportadas ainda neste anopelos portos brasileiros. O volume corresponde a mais de 70% da produção total dessacommodity na região Centro-Sul do País. A maior parte desta carga deixará o Brasil pelo Porto de Santos, que será responsável por escoar 17,6 milhõesde toneladas, segundoprojeções da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), a Autoridade Portuária. Com um volume tão grande a ser embarcado, ficam as dúvidas sobre os impactos da chegada dessas mercadorias à região, como será o planejamento das operações e se a infraestrutura de acesso ao complexo portuário está preparada para recepcionar os carregamentos. Essas questões são o tema desta segunda reportagem da série Na Rota do Caos, publicada diariamente por A Tribuna nesta semana. Uma primeira pergunta sobre a chegada dos carregamentos de açúcar ao cais santista é exatamente qual meio de transporte será utilizado nessas operações. Terminais especializados garantem que a carga chegará tanto pelas rodovias quanto pelos trilhos. E que a utilização do modal ferroviário, que, em alguns casos, responde por 50% do volume escoado até a região, será capaz de reduzir os transtornos dos gigantescos congestionamentos rodoviários no acesso ao cais santista. O açúcar é a carga de maior volume no Porto de Santos. No primeiro trimestre do ano, a commodity atingiu 3,8 milhões de toneladas. Esse número representa 99,2% acima do registrado no mesmo período do ano passado, quando 1,9 milhão de toneladas foram encaminhadas ao complexo santista. 82,2% Embarque de açúcar em terminal do Porto de Santos: complexo marítimo é líder nacional nos embarques da commodity e deve movimentar, neste ano, 17,66 milhões de toneladas Parte desse volume foi escoada durante março, marcado por enormes congestionamentos na entrada da Cidade. Nesta época, caminhões travaram o acesso ao Porto e ao município, transtornando profundamente a vida de quem vive na região. Mas dificilmente essas filas foram motivadas pela chegada do açúcar, tendo em vista o uso de ferrovias no transporte até o cais santista. De acordo com a Autoridade Portuária, o volume exportado deve ser distribuído durante todo o ano, sem grandes concentrações em meses específicos. Apenas entre agosto e outubro o movimento deve subir, mas sem se destacar. A estimativa é de que, em média, cerca de 1,5 milhão de toneladas sejam escoadas a cada 30 dias. PERFIL COMERCIAL O mercado de açúcar tem outras características peculiares. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comér- cio (MDIC), o Estado de São Paulo, como ocorre frequentemente, foi o que mais produziu açúcar nesta safra (2012/2013). Sua participação chegou a 82,2%, enquanto Minas Gerais contribuiu com 11,6%, Goiás, 3,3%, e Mato Grosso do Sul, 1,6%. Analisando as exportações, na safra 2012/2013, São Paulo mantém a liderança, tendo respondidopor 60,98%dos embarques. O Paraná aparece em segundo lugar, com 10,39%, se- guido por Minas Gerais (9,85%), Alagoas (6,42%) e Mato Grosso do Sul (5,65%). O principal consumidor do açúcar brasileiro continua sendo a China. O país asiático deve manter seu patamar de compra neste ano, adquirindo em torno de 10% do volume da commodity exportada pelo Brasil. Emirados Árabes e Indonésia seguem comprando 7,7% e 6,8% do produto nacional. Diante da importância de São Paulo no mercado do açú- car (o Estado também é líder nas exportações da commodity), Santos é a principal porta de embarque do produto no País. Essa escolha é feita apesar das dificuldades e da má qualidade do serviço oferecido nas instalações santistas, segundo agricultores e exportadores. O que prevalece, para que essa opção seja utilizada, é a proximidade entre as zonas produtoras e o Porto de Santos. MELHORIAS Segundo o diretor da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Sérgio Prado, ainda há muito o que fazer no Porto de Santos, em relação ao escoamento da safra, principalmente quanto à agilidade dos embarques marítimos e aos acesso ao complexo. Para ele, é preciso ampliar a eficiência e a utilização do modal ferroviário, sabidamente mais barato. “Aperfeiçoar Santos e todos os outros portos é uma necessidade reconhecida. É preciso garantir embarques em épocas de chuva e evitar atrasos, para que os compromissos sejam honrados”, afirma Prado.Ele lembra que o carregamento dos navios com açúcar não pode ocorrer quando está chovendo. Por isso, o executivo defende a construção de coberturas sobre os berços de atracação dos terminais portuários. Elas protegeriam as embarcações – especialmente a boca de seus porões - das frequentes intempéries do Litoral de São Paulo. Em Santos, um único terminal, da Rumo Logística (Grupo Cosan), está construindo uma cobertura sobre seus pontos de atracação. De acordo com a empresa, as obras devem ser concluídas somente no ano que vem. De acordo com Sérgio Prado, o cenário só não é pior por conta de parcerias entre as usinas e os terminais portuários especializados. Tais acordos permitem que as operações de transporte até o Porto e embarque sejam planejadas em conjunto e sempre priorizando a utilização de trens. Com essa integração vários carregamentos chegam à Baixada Santista com a participação da hidrovia e da ferrovia. A expectativa nesta safra é que haja menos 40 mil viagens de caminhões das regiões produtoras, no Interior de São Paulo, até o Porto de Santos. Portos exportadores de açucar Exportações por Santos em 2012 em milhões de toneladas 16,9 19,41 16,93 16,78 Santos 68,8% 17,66 Paranaguá 20,9% 13 Maceió 6,7% 2008 2009 2010 2011 2012 2013* Recife 2,2% Outros 1,4% Fonte: Codesp *estimativa Exportação anual de açúcar por local de embarque e ano-safra na safra atual, valores atualizados até 3/2013, em toneladas Local de Embarque 2009/2010 2010/2011 2011/2012 2012/2013 SANTOS 17.406.390 19.608.141 17.078.081 18.614.079 PORTO DE PARANAGUÁ (PR) 3.636.632 4.687.637 4.771.415 5.469.878 MACEIÓ - PORTO (AL) 1.815.070 1.859.221 1.863.346 1.704.438 RECIFE - PORTO (PE) 802.742 794.397 699.952 571.870 RECIFE - PORTO DE SUAPE (PE) 198.013 164.453 232.863 180.749 VITÓRIA - PORTO (ES) 93.572 107.893 133.476 89.035 0 102.994 0 0 SANTANA DO LIVRAMENTO - RODOVIA (RS) 20.193 18.028 34.080 27.196 NATAL - PORTO (RN) 40.000 28.000 0 0 0 16.592 37.615 5.070 75.814 127.096 94.875 129.465 CENTRO-SUL 21.232.601 24.668.381 22.149.541 24.334.722 NORTE-NORDESTE 2.855.826 2.846.071 2.796.160 2.457.056 24.088.426 27.514.452 24.945.701 26.791.778 ANTONINA (PR) CORUMBÁ - PORTO (MS) OUTROS TOTAL INFOGRAFIA MONICA SOBRAL/AT LUIGI BONGIOVANNI J. FREITAS/ABR Falta planejamento estratégico, acusa ex-ministro Parceria entre usinas e terminais visa impulsionar a utilização da ferrovia para levar o açúcar ao cais santista ❚❚❚ Os problemas de infraestrutura e logística no transporte das safras agrícolas, das regiões produtoras até o Porto de Santos, não prejudicam apenas agricultores, operadores e exportadores. O cidadão comum também vive seu suplício. É ele quem enfrenta enormes barreiras para se deslocar quando gigantescos congestionamentos paralisam as rodovias de acesso à região. Eles são causados pelas intermináveis filas de caminhões à espera de carregar ou descarregar no cais. E ele também pagará todos os gastos desnecessários da cadeia logística. A análise é do coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues, que foi ministro da Agricultura no primeiro governo do expresidente Lula, entre 2003 e 2006. “Não há horizonte positivo para a logística brasileira a curto prazo. O que dá para fazer é mitigar alguns impactos de anos de falta de planejamento e investimento”. Para Rodrigues, o maior pro- blema para escoar as cargas é a ausência de planejamento estratégico. E, também, a falta de integração entre os vários meios de transporte para que os produtos cheguem logo ao Porto. Segundo o especialista em Logística, as alternativas escolhidas para minimizar esses impactos precisam reduzir a utilização de caminhões nas operações com destino a Santos. Isto porque o complexo santista não consegue mais atender plenamente este meio de transporte. Há grandes dificuldades nas rodovias de acesso à região e faltam estacionamentos para os veículos de carga e áreas de armazenagem para as mercadorias. Tudo isso é resultado da falta de investimentos em infraestrutura nos últimos 20 anos. “A agricultura sofre duas vezes. Precisa de portos para importar insumos e exportar a produção. Esse peso ainda não é tão grande porque o preço da soja está bom na cotação internacional. Mas a situação pode se reverter e o produtor não vai absorver esse prejuízo sozinho”, destaca Roberto Rodrigues. Para o coordenador do Centro de Agronegócio, os problemas logísticos e de infraestrutura prejudicam a competitividade da produção nacional. Nos últimos meses, os atrasos na chegada das cargas aos terminais levaram ao cancelamento de exportações. Em março, no auge dos congestionamentos nos acessos ao complexo santista, dez navios chineses cancelaram seus embarques na região e se deslocaram para a Argentina para o carregamento de soja. CORRIDA CONTRA O TEMPO E os problemas viários tendem a se agravar com o aumento da área de plantio no Mato Grosso, estado responsável por dois terços da soja embarcada no Porto. Até 2018, o espaço dedicado ao grão deve crescer de 7 milhões para 16,4 milhões de hectares (de 70 mil para 164 mil quilômetros quadrados) no estado. Como essa ampliação deve ocorrer em um prazo de cinco anos, há uma luz no fim do túnel, destaca Roberto Rodrigues. Há tempo para a construção (ou a conclusão das obras) de rodovias e ferrovias. A implantação de armazéns nas áreas de plantio é outra saída que pode amenizar o problema, afirma. Outra medida importante, a fim de ampliar a conexão de meios de transporte para trazer cargas até Santos, é a construção de eclusas em usinas hidrelétricas. A obra permitirá que trechos navegáveis de rios, separados por quedas, sejam interligados, ampliando seu potencial como via de transporte. Também é estratégica a ampliação de vãos de pontes, para permitir a passagem das barcaças. Tais melhorias, porém, esbarram na burocracia do poder público e na dificuldade de comunicação entre órgãos. “Para mim, o grande problema é a falta de ligação entre os envolvidos no processo logístico. Portos, Transporte e Agricultura são pastas que precisam trabalhar juntas. Mas quem é o ministro dos Portos? EMBARQUE Ninguém sabe o nome e nem a que veio. Ele precisa intervir, forçar o desenvolvimento de outros modais e portos para tirar a pressão de Santos”, explica Rodrigues. AÇÚCAR De acordo com o ex-ministro, o transporte de açúcar para Santos não oferece grandes riscos de sobrecarga ao Porto. Mas, ele adverte sobre o aumento de 10% na safra de cana neste ano. Apesar da maior oferta de açúcar no País, a estrutura intermodal dos terminais especializados tem condições de minimizar os impactos do grande movimento. Isso será possível graças à plena utilização das ferrovias no deslocamento da carga das zonas de produção até o complexo santista. “Existe uma estrutura (logística) bem definida pela iniciativa privada. São parcerias entre usinas de açúcar, terminais açucareiros e concessionárias ferroviárias que propiciam essa integração, que não existe na cadeia da soja e do milho”, afirma Roberto Rodrigues. ❚❚❚ Cerca de metade do açúcar a granel exportado por terminais especializados do Porto de Santos chega à região através dos trilhos. A Rumo Logística e o Terminal Açucareiro Copersucar (TAC) garantem que 50% da commodity que embarcam são entregues em suas instalações em vagões. Mas as empresasqueremaumentaressaparticipaçãodomodalferroviáriopara80%e70%,respectivamente. No ano passado, 16,78 milhõesdetoneladasdeaçúcardeixaram o País pelo Porto. Contabilizando apenas os carregamentosagranel(excluindo,portanto, o produto movimentado em sacos e em contêineres), foram 14,2 milhões de toneladas. Para este ano, a expectativa da Codespéaumentaramovimentaçãoa granelpara16,3milhões detoneladas, 14,8%amais. Somadas,asoperaçõesdosdois terminais especializados equivalemàquasetotalidadedosembarques a granel. Na safra passada, períodocompreendidoentreabril doanopassadoemarçodesteano, aRumoLogísticaexportou8,6milhõesdetoneladas,tantoemsacaria quanto a granel. Metade foi levadaatéàinstalaçãoportrens. Já o TAC somou, no período, 5,2milhõesdetoneladasepretendeampliarpara7,5milhõesdetoneladas o embarque para esta safra,44% a mais. Apesardo crescimento, a empresa não prevê impactosnotrânsitodaCidade,porquejácomeçouafazerinvestimentosdeR$2bilhõesemlogística. Entre as melhorias previstas, estão obras nos terminais multimodais de São José do Rio Preto (SP) e Ribeirão Preto (SP), que vãopermitiromaiorusodotrem no escoamento da safra até Santos. Comisso,deixarão de ser feitas 100 mil viagens de caminhão por safra. Hoje, uma composição que sai dessa região e segue para o Porto demora sete dias parafazerotrajetodeidaevolta. A maior parte do açúcar embarcado em Santos é proveniente do Interior do Estado. O restante vem de Minas Gerais (MG),Goiás (GO) e MatoGrosso do Sul (MS). Segundoa RumoLogística,pelasrodoviasotempodeviagemvaria de20 a 48 horas. Jápela ferrovia, o tempo médio é de 96 horas. Masoíndicedevecairpelametade comaduplicaçãodaferroviaentre CampinaseSantos,administrada pelaconcessionáriaALL. Um vagão pode carregar até 100 toneladas de açúcar, quantidade transportada por 3,5 caminhões. Geralmente, uma composição tem 75 vagões, ou seja, um trem completo equivale a 263 veículos. “Não há horizonte positivo para a logística brasileira a curto prazo. O que dá para fazer é mitigar alguns impactos de anos de falta de planejamento e investimento” Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e atual coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas Até dois navios com capacidade para 50 mil toneladas de açúcar cada podem ser carregados durante um dia nas instalações da Rumo. Na Copersucar, um cargueirodeste porte concluios embarques em até 10 horas. A empresa conta, em sua unidade portuária, com dois shiploaders. Juntos, podem embarcar 2,4 mil toneladas por hora. O volume aumentará com a entrega de um 3º equipamento, capaz de embarcar mais 3 mil toneladas por hora. A Copersucar pode armazenar até 190 mil toneladas de açúcar a granel em suas instalaçõesnoPortodeSantos.Acapacidade será ampliada para 300 mil toneladas, o que aumentará seu poder de embarque das atuais 5 milhões para 10 milhõesdetoneladasporano. A Rumo pode armazenar 500 mil toneladas de cargas em seus terminaise embarcar,ao ano, 14 milhõesdetoneladasdeaçúcar. Leia amanhã: Na 3a reportagem da série, os problemas envolvendo o transporte rovodiário. Criação gráfica Luiz Sérgio Moura