Portugal nunca fomentou a sua ligação
com a China, afirma especialista
OJE/Lusa 2014/07/22 17h26
Portugal nunca fomentou a sua ligação com a China, apesar da relação histórica com o
país, afirmou Carmen Mendes, organizadora da Conferência de Estudos Chineses, que
decorre de quarta-feira a sábado em Coimbra e Braga.
Carmen Mendes considerou que a relação entre Portugal e a China "poderia estar bem
mais consolidada", apesar de aquele país asiático ver Portugal "como uma potência
histórica" e com um "passado rico".
"Não conseguimos capitalizar a ligação histórica e elevar o patamar da relação com a
China", observou a especialista em estudos chineses, sublinhando que "não há um
sinólogo no Ministério dos Negócios Estrangeiros" nem pessoas "a quem recorrer, em
Portugal, com preparação sobre a língua e a cultura chinesas".
A docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra recordou que foi a
partir da instituição de ensino superior que "se criou uma ligação da Europa com a
China", referindo que hoje "não é suficientemente valorizado o conhecimento do
mandarim e da cultura" chinesa a nível diplomático mas também económico.
Carmen Mendes disse ainda que há uma ligação maior com países africanos de língua
portuguesa. Contudo, essa mesma relação está assente "em trocas comerciais".
Há um investimento "muito forte" em África por parte da China, com um retorno para
os países africanos, mas a cooperação Sul-Sul "é desigual", sublinhou.
"Quando a China constrói infraestruturas em troca de recursos naturais, essas mesmas
infraestruturas são benéficas para a China, porque são usados trabalhadores chineses, e
promove a exportação de materiais de construção chineses", observou, referindo que um
dos problemas que se observa em África, nomeadamente em Angola, é a "construção de
cidades-fantasma".
Também em Moçambique e na Guiné se observa uma exploração de recursos, seja na
agricultura, pescas ou madeiras, constatou.
Essa presença da China e das empresas chinesas é facilitada pela promiscuidade entre "o
Partido Comunista Chinês e o tecido empresarial", com o aparelho político a intervir
"quando surgem problemas".
Carmen Mendes é a organizadora da Conferência da Associação Europeia de Estudos
Chineses, que decorre em Braga, na quarta e na quinta-feira, e em Coimbra, na sextafeira e no sábado, e que vai contar com a presença de "cerca de 600 conferencistas",
entre os quais diretores de centros de investigação da China, Taiwan, Hong Kong e
Macau.
Em Braga, "será uma abordagem mais em torno da língua e cultura chinesas", sendo que
em Coimbra a conferência pretende-se centrar sobre assuntos de política, economia,
diplomacia, tendo ainda uma secção dedicada a Macau.
João Gabriel Silva, reitor da Universidade de Coimbra, irá participar na cerimónia de
abertura da Conferência em Coimbra e a conferência inaugural será realizada por Ming
Chan, docente da Universidade de Stanford.
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Portugal nunca fomentou a sua ligação com a China, afirma