1
Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery
http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377
Curso de Administração - N. 12, JAN/JUN 2012
MEMÓRIA, CONSERVAÇÃO E UTILIDADE
Laís Villela Lavinas1
RESUMO
Este artigo tem a finalidade de relacionar os ideais da conservação preventiva e da restauração dos
bens culturais quando há uso contínuo dos mesmos. Será apresentado um breve histórico sobre o
surgimento da ciência da conservação e, em seguida, foi discutido como os bens culturais são
fundamentais para a preservação da história, da memória e da cultura das sociedades; sendo assim,
torna-se impossível retirá-los do convívio social.
Palavras chave: Conservação preventiva. Memória. Cultura e uso dos bens culturais.
ABSTRACT
The following article searches to relate the ideals of the preventive conservation and the restoration with
the continuous use of the patrimony. We will present a historical on the sprouting of the science of the
conservation and we will argue as the patrimony is basic for the preservation of the History, the memory
and the culture of the societies, being thus, impossible to remove them of the social conviviality.
Keywords: Conservation preventive. Memory. Culture and patrimony.
1
Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Cursando pós-graduação em
Gestão do Patrimônio Histórico pelo Instituto Metodista Granbery. Residente em Juiz de Fora, bairro São
Mateus. Celular: (32) 88674315. E-mail: [email protected]
2
INTRODUÇÃO
A sociedade ocidental tem a necessidade de concretizar seus pensamentos, ideias
e sua história. Busca-se, constantemente, maneiras de preservar os antepassados, os
conhecimentos ao longo do tempo e, principalmente, a história das culturas. Por esses motivos
criam-se conceitos, teorias, instituições e lugares encarregados de relatar o passado, visando
torná-los conhecidos nos anos futuros. Museus e patrimônios culturais fazem parte desse
universo preservacionista cada vez mais expansivo. Atualmente, questões sócio-históricas e
culturais estão envolvidas em praticamente todos os setores da sociedade, a cada dia mais
ligados ao lado intelectual que clama por conhecimentos e os modos de expressá-los. Dessa
maneira, vive-se mais do que nunca na era da conservação.
Procura-se conservar tudo o que é tido como forma de expressão do conhecimento
e da genialidade humana. Mas, o que é o conhecimento se não for compartilhado? Para que
guardar e preservar tantas informações se elas não forem difundidas para o maior número de
pessoas possível? A resposta para ambas as perguntas é óbvia: não há necessidade de
preservar se não for para compartilhar. Conservar algo somente para adiar a sua vida útil não
faz sentido se o mesmo não fizer parte de um conjunto de significados que resultam na
memória e no conhecimento.
Preservar objetos de qualquer natureza só faz sentido quando se pode
compartilhar com outros indivíduos todo o significado sócio-histórico e cultural que ele
encerra. Portanto, a preservação precisa da difusão para sobreviver. Entretanto, a difusão gera
o uso constante do bem e, consequentemente, o seu desgaste, que deve ser combatido pela
conservação. Então, compartilhar a “vida” de um bem traz o seu desgaste e também a sua
preservação. Como se pode perceber, é uma questão delicada de se resolver.
Buscando a solução para tal problema, surgiram métodos científicos para
amenizar o desgaste que o compartilhamento dos bens acarreta. A restauração é uma solução
científica eficaz, entretanto, foi a conservação preventiva que conseguiu prolongar
significativamente a vida útil dos bens culturais. Então, o trabalho disserta sobre como a
conservação preventiva surgiu e como ela se relaciona com a busca por conhecimento,
memória e cultura.
3
1 DESENVOLVIMENTO
O modo como os diversos povos, em diversos lugares, tiveram que se relacionar
com a conservação dos monumentos foi diferente em todas as épocas. Porém, não se tinha a
visão histórica e a consciência do valor do passado como há atualmente. Foi somente no
século XVII, com o advento do Iluminismo, que começou a se formar a noção de História que
hoje se conhece. A Revolução Industrial na Inglaterra veio incrementar esse processo.
Durante séculos, as conservações foram feitas por ordens práticas ou por necessidade de
atender aos interesses do dono.
Foi no Renascimento que pela primeira vez se notou interesse por edifícios
antigos, principalmente aqueles da Antiguidade Clássica. Alberti criou um método de
levantamento cartográfico para que pudesse, então, planejar a restauração de Roma. Dizia ele
que:
É certamente muito impróprio, nesse meio tempo, não ter
consideração pelos trabalhos dos ancestrais, ou pela utilidade que
muitos compatrícios encontram nessas habitações paternas, às quais
eles longamente se acostumaram, (...). Sou, portanto, pela preservação
das velhas Estruturas intocadas, até o tempo em que seja
absolutamente necessário removê-las para dar lugar ao novo
(ALBERTI, 1443 – 1455).
Nesse mesmo século, surgiram ordenações papais para a proteção de construções,
fossem elas pagãs ou cristãs. Rafael, a pedido do Papa, começou a catalogar, com seus
desenhos, os monumentos da Roma antiga. Ele foi extremamente perspicaz ao colocar os
valores culturais atemporais acima de qualquer ideologia. Porém, a busca de material de boa
qualidade a menor custo fez com que os romanos usassem partes de edifícios antigos para a
construção de novos prédios.
Foi muito comum a construção de novos edifícios usando peças de antigos,
propiciando a sobreposição de vários estilos. Várias foram as formas de intervenção, entre
elas: destruição ou uso de seus materiais, reconstrução total ou parcial, alterações do projeto
original (ampliando-o ou reduzindo-o), abandono ou adaptação para novos usos. Porém a
preocupação com obras do passado e sua transmissão para gerações futuras amadureceu
lentamente com o passar dos anos, intensificando se no século XVIII.
4
Devido a reações contra o Barroco e o interesse cada vez maior pela Antiguidade
Clássica, no séc. XVIII surgiram vários movimentos embasados no classicismo.
Winckelmann considerava a Grécia antiga como a arte ideal. Dizia que a restauração deveria
ter embasamento antes de ser realizada e que as intervenções deveriam ser percebidas, sem
confundir o observador, pois este poderia pensar que estava próximo a uma arquitetura
completamente antiga, criando assim, o chamado falso-histórico. (BOITO, 2002).
A Comissão para o Embelezamento de Roma influenciou Napoleão Bonaparte,
que valorizou esse quesito em suas obras de restauração. A atenção se voltou para vestígios da
civilização romana. O “restauro arqueológico”, como ficou conhecido em Roma, ocupou os
arquitetos principalmente com a recuperação de monumentos. Um dos fatos mais conhecidos
de reutilização de material de edifícios antigos é o do Coliseu, que teve seu mármore
reutilizado em inúmeras construções na cidade. (VAGNETTI, 1974).
Na França, as reações de vandalismo, na tentativa de apagar os símbolos das
classes dominantes, levaram à criação da primeira legislação relacionada com a preservação e
o restauro. A legislação visava punir os infratores com até dois anos de detenção. Apesar das
iniciativas francesas não terem sido suficientes para impedir a destruição de muitos
monumentos, elas demonstraram a preocupação de um Estado em reconhecer edifícios como
bens de interesse público e, desta forma, ter a participação ativa na sua preservação,
marcando, assim, o início de uma nova ciência voltada para esse fim: a restauração. (BOITO,
2002).
Merimée era um dos apreciadores da arte medieval. Ele rompeu com o
sentimentalismo romântico e propôs-se a manter os monumentos em sua integridade. Para ele,
as modificações feitas em épocas posteriores não deveriam ser levadas em conta e as
eliminava. Esse tipo de intervenção é conhecido na Itália como restauro estilístico, quando o
restaurador deve incorporar o espírito do arquiteto que projetou a obra. Para Violet-le-Duc,
seu pensamento se resume em: “A palavra e o assunto são modernos. Restaurar um edifício
não é mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado completo que pode
jamais ter existido em um dado momento” (VIOLET-LE-DUC, 1996).
Com isso acreditava que era válido empregar novos materiais para prolongar
ainda mais sua vida. Muitas de suas recomendações foram seguidas como doutrinas, às vezes
com mais empenho pelos seus seguidores do que por ele próprio. As intervenções de Violetle-Duc se espalharam pela Europa, inclusive na Itália. Muitos de seus estudos ainda são
referências. Como, por exemplo, manter as características estruturais originais, inclusive em
seu modo de funcionamento. Considerava também que o trabalho deveria ser feito em fatos
5
consumados e não em hipóteses: “Nada é mais perigoso do que a hipótese em trabalhos de
restauração”. (BRANDI, s\n).
Contudo, surgiu na Inglaterra, com Ruskin, um movimento contrário às ideias de
Violet-le-Duc. Esse visava à preservação da matéria original e considerava as modificações
ocorridas na obra como parte da história de vida do monumento. A arquitetura da Inglaterra
do século XIX teve múltiplas manifestações do neogótico. (RUSKIN, 1996)
Na Itália, surgiram movimentos conhecidos como “restauro histórico” e “histórico
moderno”. No primeiro caso, o monumento era considerado essencialmente como um
documento. Já para Camilo Boito, os monumentos eram documentos da história da
civilização. Dessa forma, deveriam ser preservadas as adições e modificações feitas com o
decorrer do tempo. Pois seriam conservadas a historicidade e a memória da obra.
A Carta de Atenas aborda a preservação de monumentos históricos. Ela coloca
como ponto primordial a necessidade de inventários para os bens culturais, além disso,
ressalta a importância da manutenção e salvaguarda dos mesmos, não só do bem, como
também das próprias cidades, a fim de manter a perspectiva de seu entorno. Essa carta
renegava a herança do passado, e os monumentos deveriam ser conservados quando não
contrariassem as novas posturas em relação à higiene, salubridade e circulação. (CARTA
PATRIMONIAL DE ATENAS, 1931).
Após a Segunda Guerra Mundial, a Europa sofreu grandes perdas e passou por
problemas que levaram a repensar a questão da preservação. Como consequência, em 1964,
foi escrita a Carta de Veneza, que ia contra o pensamento de restauro a partir de regras
comuns; o ato deveria ser feito em cada país na forma que mais lhe fosse conveniente. A
Carta é uma síntese das teorias desenvolvidas até o momento. Enquanto na Carta de Restauro
de Atenas o entorno de um monumento histórico funcionava como um quadro para a proteção
de um objeto de excepcional valor, na Carta de Veneza, o quadro passa também a ser ele, a
ser considerado patrimônio histórico. (CARTA PATRIMONIAL DE VENEZA, 1964).
Com esses debates, formaram-se as bases da teoria moderna de preservação dos
bens culturais, e a noção de patrimônio histórico passou a englobar não apenas os grandes
monumentos isolados, mas também ambientes urbanos como um todo, dando grande
importância ao tecido urbano. A reutilização foi considerada o meio mais eficaz para garantir
a preservação do bem, pois a inutilidade da obra leva ao seu abandono. O equilíbrio tornou-se
peça chave para a formulação de conceitos e modos de preservação. O patrimônio não é mais
visto como um documento histórico, mas também como parte integrante e atuante dos dias
contemporâneos.
6
Nesse contexto histórico, surgiu o conceito de conservação preventiva, em que
preservar se torna mais importante do que restaurar. Desse conceito, em 1998, com o
Documento de Bolonha, nasceu toda uma ciência focalizada em estudar quais os melhores
métodos para se preservar as matérias, sejam elas de natureza orgânica ou inorgânica.
O objetivo da conservação preventiva é evitar ao máximo que o bem chegue ao
estado de degradação que necessite da restauração. Essa ciência baseia suas diretrizes na
união dos conhecimentos de diversas áreas profissionais. A conservação preventiva é uma
ciência multidisciplinar, busca a todo tempo a ajuda de diversas profissões para alcançar os
melhores resultados. A ciência tornou-se tão importante que, atualmente, é praticamente
impossível formar restauradores que não sejam conservadores. (BRANDLEY, 1994).
Com o surgimento da conservação preventiva, ressurgiu uma antiga discussão: o
uso dos bens traz, com maior velocidade, a sua degradação. A conservação preventiva nos
mostra que, mesmo tomando todas as medidas necessárias de armazenamento e conservação,
um bem quando está sendo exposto, manuseado ou usado está fadado a perder a sua vida útil
com mais rapidez. Essa constatação gera enormes conflitos entre os restauradores; alguns
defendem que, em algumas situações, os bens culturais não deveriam ser expostos à
sociedade, mas ficarem apenas armazenados para serem conservados.
Contudo, outros profissionais, tanto da restauração como de outros setores,
alegam que privar a sociedade do acesso a qualquer bem cultural é retirar do mesmo a sua
essência e a sua funcionalidade. Não se pode esquecer que os bens histórico-culturais
representam a identidade de cada povo. Eles mostram a história e a cultura dos habitantes de
cada cidade. Sabe-se que memória pode ser entendida como a capacidade de relacionar um
evento atual com um evento passado, portanto, é a capacidade de evocar o passado através do
presente. Na capacidade de relacionar as vivências do passado com as do presente, traz a
habilidade de criar conhecimentos, histórias, costumes, rituais e hábitos. Faz com que se possa
sentir familiarizado com determinado ambiente, nos traz a sensação de saber a qual local
pertencemos, ou seja, nos dá a identidade sociocultural. A memória é sempre atual, pois a
qualquer momento se pode evocá-la. (MOTTA, 1998).
É vivida no eterno presente; aberta à dialética da lembrança e do esquecimento;
alimenta-se de lembranças vagas, globais e flutuantes e, dessa forma, cria o sentimento de
pertencimento e identidade. Portanto, a nossa sociedade sente uma intensa necessidade de
apoiar o presente no passado, ou seja, de se criar memórias sociais e culturais. Assim,
podemos dizer que os bens histórico-culturais surgiram com o objetivo de se criar um meio de
entender a importância de ter o tempo cristalizado em objetos.
7
A criação de patrimônios nacionais serviu para despertar referenciais comuns a
todos que habitam um mesmo território, sendo assim, unificá-los em torno de pretensos
interesses e tradições comuns, intensificando a memória coletiva. O patrimônio passou a
constituir a memória coletiva, com o objetivo de unificar uma sociedade, pois ele procura dar
base cultural idêntica a grupos sociais e étnicos que vivem em um mesmo território. Isso faz
com que se traga à tona a ideia de nação. Percebendo isso, se tornou comum aos governos
usarem o patrimônio histórico de seus países como forma de controle e incentivo ao
nacionalismo. As políticas patrimoniais possuem a estratégia de integrar a sociedade ao seu
país, criando em seus habitantes a ideia de memórias sócio-históricas. Seguindo esse
raciocínio, podemos citar Choay:
Em uma palavra, o patrimônio histórico construído concerne daqui em
diante, prioritariamente, igualmente e com a mesma urgência, à
memória viva de todos os povos. É somente ela que, em matéria de
patrimônio, poderia conceder em uso legítimo à noção de
autenticidade (CHOAY, 2001, p.89)
A influência marxista em muitas correntes de pensamento analítica nos faz
entender que a história da vida material é de onde o pensamento deve partir. Sendo assim, a
cultura, a expressão da vida material, pode ser colocada em um objeto? Se o que nos interessa
em grande parte são seus aspectos imateriais, algo que não pode ser congelado no tempo? Os
bens culturais são um instrumento da memória, e sua existência corresponde à preservação da
cultura do país. Eles são a expressão da pulsão por memória em nossa sociedade.
Essa necessidade de história já se coloca desde que o homem se põe como
dependente dela. A literatura histórica vem a despertar esse interesse, como dito por Phillipe
Áries:
[...] o homem não se concebe mais como um indivíduo livre, autônomo,
independente de um mundo que ele influencia sem determiná-lo. Toma
consciência dele na história, sente-se solidário à seqüência dos tempos e
não pode conceber-se isolado da continuidade das épocas anteriores. Tem
a curiosidade da história como de um prolongamento de si mesmo, de
uma parte de seu ser. (ARIÉS, 1986, p. 26)
Não somente um retorno ao passado, a cultura exige a convivência com a história
como forma de identidade. É a memória coletiva que une, molda a linguagem e faz tornar
uma sociedade. Monumentos e documentos fazem parte da criação dessa memória. Sabemos
que toda memória, coletiva ou individual, é um fato estruturado e manipulado por quem as
8
pensa. Sendo assim, o patrimônio cultural tornou-se uma construção social de extrema
importância política. A construção do patrimônio cultural é um ato que depende das
concepções que cada época tem a respeito do que, para quem e por que preservar. A
preservação resulta, por isso, da negociação possível entre diversos setores sociais,
envolvendo cidadãos e o poder público.
O significado atribuído aos bens culturais também se modifica segundo as
circunstâncias de momento. Pois, como um ser social, o homem usa a cultura e a memória
para estruturar seu meio de vida. Por isso, diz-se que cultura e memória são valores totalmente
mutáveis e que possuem diferentes estágios (individual, grupo e sociedade). A mutabilidade
desses fatores é que nos dá a capacidade de nos reconhecer quando olhamos o passado. As
mudanças é que nos mostram a maneira como nos mantemos integrados, identificados uns
com os outros. Portanto, é de extrema importância que façamos uso constante da memória.
Pois, dessa forma, não esquecemos as mudanças e conseguimos relacionar o passado com o
presente, mantendo a nossa história e a sociedade coesa. Portanto, seguindo essa linha de
raciocínio, seria inviável privar a sociedade do acesso aos bens culturais. Então, o que
podemos fazer para solucionar tal problema?
Susan Bradley (1994) apresenta, em seu texto “Os objetos tem vida finita?”, o fato
de que devemos entender que os objetos e bens culturais armazenados nos museus também
são para o uso de pesquisas, educação e ensino, e para a exposição. Os museus ficam
encarregados de cuidar e armazenar corretamente os objetos históricos, são eles que aplicam o
conhecimento desenvolvido pela conservação preventiva. Para que inúmeras gerações futuras
possam desfrutar do conhecimento gerado pelos bens culturais é preciso que haja um enorme
cuidado com os mesmos; e essa função os museus costumam desempenhar com excelência.
Contudo, o museu não é apenas um local para conservar e guardar os bens culturais, ele
precisa da identificação e do reconhecimento da sociedade.
Então, para que os acervos museológicos continuem sobrevivendo ao tempo, eles
também precisam reconhecer a sua função social de um local de difusão da cultura. Então, é
inevitável fazermos uso dos bens culturais e, assim, os mesmo irão se deteriorar com mais
velocidade. Brandley (1994) mostra que é impossível prever o tempo real de sobrevivência
dos objetos, mas sabemos que esse tempo está diretamente ligado à capacidade humana de
manter um ambiente favorável e estável, seja ele em um museu ou não. Portanto, atualmente,
a solução mais viável para a dicotomia conservação-uso está na melhoria dos conhecimentos
científicos sobre conservação preventiva e na conscientização da sociedade a respeito do uso
dos bens culturais causando-lhes o mínimo de dano possível. Assim, conseguiremos esticar ao
9
máximo a duração dos mesmos, preservando também a nossa cultura, a história e a memória.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo buscou dissertar sobre conservação preventiva e as
problemáticas que a ciência nos coloca quando os seus princípios confrontam os interesses
histórico-culturais da sociedade. Percebemos que as questões e os conflitos ainda são muitos,
mas que há como resolvê-los se houver um trabalho conjunto entre a sociedade e a ciência da
preservação. Não podemos esperar que os bens culturais durem infinitamente, porém,
devemos trabalhar para que o tempo real de sobrevivência seja o maior possível. Afinal, não
estamos preservando somente um objeto, estamos preservando também parte de nossa história
e da nossa cultura. É o significado imaterial contido nesses bens que são fundamentais e
importantíssimos para a humanidade. Os objetos culturais são matérias que expressam valores
e conceitos sociais, históricos e culturais, por isso, fazemos tanta questão de conservá-los.
Contudo, não podemos esquecer que eles só possuem “vida” se fazem parte do nosso dia a
dia.
REFERÊNCIAS
ARIÈS, Phillipe. O tempo da História. Rio de Janeiro: Fransisco Alves, 1986.
BOITO, Camillo. Os Restauradores. Rio de Janeiro: Editora Ateliê Editorial, 2002.
BRANDI, Cesari. “O Conceito de Restauração”. In: BRANDI, Cesari. Teoria da
Restauração. Roma: Sem Editora, sem ano. p. 25-51.
BRADLEY, Susan. Os objetos tem vida finita?. In: Care of Collections Leicester Reads in
Museum Studies. Londres: Routledge, 1994.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo, Editora da UNESP, 2001. cap.3, 4 e
10
5.
CARTA PATRIMONIAL DE VENEZA. Disponível em: HTTP://portal.iphan.gov.br. 1964.
Acessado em: 02 jul. 2010.
CARTA PATRIMONIAL DE ATENAS. Disponível em: HTTP://portal.iphan.gov.br. 1931
Acessado em: 02 jul. 2010.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Trad. de Irene Ferreira, Bernardo Leitão, Suzana
Ferreira Borges. 5. ed. Campinas: UNICAMP, 2003.
MOTTA, Márcia Maria Menendes. “História e Memórias”. In: MATTOS, Marcelo Badaró
(Org.). História - pensar & fazer. Niterói: LDH/UFF, 1998. p. 72-89.
RUSKIN, John. A lâmpada da memória. Salvador: Editora UFBA, 1996.
VAGNETTI, Luigi. "Lo studio di Roma negli scritti albertiani". In Convegno Internazionale
Indetto nel V Centenario di Leon Battista Alberti, Roma: Accademia Nazionale dei Lincei,
1974.
VIOLLET-LE-DUC, Eugene Emmanuel. Restauro. Salvador: Editora UFBA, 1996.
Download

memória, conservação e utilidade - revista eletrônica da faculdade