Luiz Martins de Melo: Economics Institute of the Federal University of Rio de Janeiro (IE/UFRJ) and Master Programme of the Estacio de Sá University (MADE/UNESA) Brazilian Football: technical success and economic failure ABSTRACT Since the Second World War Brazilian football has been the most successful in the world, technically. Despite this tremendous achievement, Brazilian football has never matched up its expenditure needs with a good funding scheme. In this paper I will argue that Brazilian economic conditions, such as income inequality and twenty years of low growth, do not allow any increase in the internal market for football in Brazil. These characteristics together with others specific to Brazilian football management have turned Brazilian football into a hostage of TV broadcasting. Finally, I will present some remarks on how to improve this situation. 1 1. INTRODUÇÃO O futebol é a modalidade esportiva mais difundida no mundo. Preenche todos os requisitos da formação de um complexo econômico-esportivo e é um grande produtor de espetáculos de alto nível. As principais características da globalização do futebol podem ser listadas abaixo: 1) A criação do complexo-econômico esportivo: a transformação do esporte em um amplo fenômeno de consumo de massas, com uma dinâmica associada a diferentes mercados consumidores. 2) O esporte como fator dinâmico na indústria do entretenimento: o entretenimento é a maior indústria do mundo em volume de negócios e em número de empregos. O esporte é o segundo maior ramo, depois do turismo, dessa indústria entretenimento. Porém, é o que vem crescendo a maiores taxas, provavelmente, no início do século XXI, será o maior ramo desta indústria. Dentro da indústria do esporte, o futebol é a modalidade de maior impacto econômico. 3) A valorização do espetáculo e do ídolo esportivo: o esporte precisa de capital. O capital precisa de ídolos. O ídolo é a forma concreta pela qual o capital investido no espetáculo esportivo tem o seu retorno assegurado. O público e a mídia dão popularidade ao espetáculo na medida em que o ídolo, a estrela, o astro esteja presente. Para isso o esporte, precisa de empresas profissionais na organização das competições e na realização dos espetáculos, para que se tenha a valorização econômica e social do ídolo e do capital. Em face desse processo de mudança geral das bases nas quais o futebol vinha sendo administrado enquanto atividade econômica, o futebol brasileiro começou a atravessar um período de transição bastante traumático. Mesmo tendo vencido cinco campeonatos mundiais e considerado o melhor futebol do mundo, a sua organização profissional ainda patina em vários problemas estruturais e não consegue estabelecer uma base gerencial que possa se igualar ao enorme talento dos seus jogadores, que não para de ser renovado. Essa incompatibilidade entre a modernização gerencial do futebol e a contínua geração de jogadores que se transformarão em ídolos do futebol mais tarde, principalmente nos clubes europeus, tem sido a principal fonte de enfraquecimento interno dos clubes brasileiros. Por falte de condições econômicas, gerenciais, financeiras e de mercado esses clubes forma jogadores, os vendem por preços baixos para tentar pagar as suas dívidas, diminuem com isso a atratividade do espetáculo, o público se afasta do estádio e os clubes cada vez mais se tornam reféns das receitas da televisão. Outras razões também influem decisivamente para essa desvalorização do espetáculo do futebol, a violência urbana e das torcidas organizadas, o péssimo estado de conservação dos estádios de futebol e uma imprensa esportiva que exerce uma crítica implacável, na maioria das vezes com razão, mas que ao não apontar formas de resolução do problema para o público pode estar pelas razões politicamente corretas, jogando o bebê fora com a água do banho. Evidentemente, neste artigo, não vai se atacar todos estes problemas. Assinaladas estas características gerais d a crise econômica e institucional do futebol brasileiro1 pode-se passar a definir o objetivo deste artigo. Na primeira parte a relação entre o tamanho das economias dos principais países europeus praticantes do futebol vai ser comparada com a economia brasileira, procurando realçar o diferencial de poder de compra entre elas. A seguir, será apresentada uma análise comparativa entre o potencial de geração de receitas do futebol nos países europeus e no Brasil. Finalmente, algumas conclusões serão apresentadas para fornecer uma possível base para a discussão do processo de reformulação econômica do futebol brasileiro. 1 Sobre essa crise ver Melo (2003). 2 2. ANÁLISE MACROEONÔMICA COMPARATIVA Existe uma enorme disparidade entre a riqueza dos países europeus e a relativa pobreza da do Brasil. A tabela 1 baixo mostra os dados básicos que permitem uma visualização do tamanho das disparidades. Table 1 Comaparative Size of the Economies Country Population millions Surface Gross National Income Gross National Income-Per capita $ billions $ per sq. km. German y 82 357 1.939,6 UK 59 243 1.476,8 France 59 552 1.380,7 Italy 58 301 1.123,8 Spain 41 506 588,0 Brazil 172 8.547 528,9 Source: World Development Indicators (2003). 23.560 24.340 22.730 24.530 19.860 3.070 Torna-se bastante evidente que o Brasil tem enormes problemas de geração de renda disponível para manter um nível de gastos adequado para sustentar uma atividade econômica cara como o futebol. Além disso, os custos de realizar um campeonato nacional em um território do tamanho do brasileiro são expressivamente mais altos do que em qualquer país europeu. A tabela seguinte apresenta os indicadores macroeconômicos derivados da tabela 1. Nela ficam ainda mais claros os enormes diferenciais de renda e os obstáculos logísticos para a obtenção de economias de escala e escopo no futebol brasileiro. Table 2 Macroeconomic Indicators Countries Germany/Brazi l UK/Brazil France/Brazil Italy/Brazil Spain/Brazil Population 47,67% 34,30% 34,30% 33,72% 23,84% Surface 4,18% 2,84% 6,46% 3,52% 5,92% Gross National Income 3,67 2,79 2,61 2,12 1,11 Gross National Income-Per capita 7,67 7,93 7,40 7,99 6,47 Na tabela 2 nota-se uma relação inversa entre os indicadores de população e superfície e os indicadores de renda. O Brasil tem mais do que o dobro o triplo da população e mais do que vinte vezes o tamanho da 3 área do território quando comparado com os países europeus da amostra. Porém, ao se analisar os indicadores econômicos nota-se a fragilidade da economia brasileira. Em termos de renda total só se aproxima da Espanha. Ao se passar para a renda per capita, melhor indicador do poder de compra da população, a relação se aproxima de sete vezes em favor dos países europeus. Estas dificuldades econômicas forma se agravando ao longo dos anos 80 e noventa do século. Os anos oitenta forma caracterizados por um regime de alta inflação, que gerou uma enorme estagnação econômica no Brasil. Os anos noventa, mesmo tendo solucionado o problema inflacionário com o plano real a partir de julho de 1994, não resolveu o problema da dinâmica do crescimento econômico e a estagnação continuou. As sucessivas crises de balaço de pagamentos que aconteceram após a estabilização de preços oriunda do plano real levaram a um decréscimo ainda maior da renda per capita dólar. Isto dificultou ainda mais a geração de renda interna para manter os principais jogadores brasileiros em atividade no país e é um das principais razões para o êxodo em massa de jovens jogadores para o exterior. É importante lembrar que alguns dos principais investidores internacionais na indústria do esporte vieram para o Brasil após 1994, 2 ano da estabilização de preços e da conquista do quarto campeonato mundial. A expectativa gerada de que eles pudessem desencadear um processo de mudanças efetivas na direção da modernização e profissionalização do futebol muito cedo se evaporou. Ao se aliarem com os antigos dirigentes, representantes da velha ordem “amadora”, perderam quase que por completa a condição de dirigir estrategicamente os seus investimentos. Não escolheram o campo de luta. Abriram mão da sua vantagem estratégica internacional achando que o seu poder financeiro seria suficiente para enquadrar a antiga ordem. Subestimaram o poder de fogo dos dirigentes locais e suas articulações políticas. O resultado dessa derrota foi uma enorme deterioração da situação financeira dos clubes brasileiros, que passaram a depender ainda mais das receitas da televisão. 3. ANÁLISE COMPARATIVA DA ECONOMIA DO FUTEBOL A análise dos dados comparativos sobre a economia do futebol brasileiro e o europeu vai mostrar um cenário ainda mais desequilibrado do que o macroeconômico. A tabela 3 mostra os dados das receitas das principais ligas européias e os do campeonato brasileiro de futebol. Table 3 Total Revenues: First Division European Leagues and Brazilian National Championship- 20002001- US$ millions Country Italy Spain Germany England France Brazil Total Revenues 672,0 608,0 576,0 1.552,0 368,0 150,0 3 Number of Clubs 18,0 20,0 18,0 18,0 18,0 24,0 Club Average Revenue 37,3 30,4 32,0 86,2 20,4 6,3 2 Hicks and Muse investiu no Clube Corinthians de São Paulo, o segundo mais popular do Brasil. A ISL investiu no Flamengo o mais popular. O Bank of América no Vasco da Gama. Esses são alguns dos exemplos mais marcantes. Todos saíram após alguns anos no mercado com enormes prejuízos e sem terem deixado nenhuma marca visível para a modernização do futebol brasileiro. 3 Except players transactions. 4 Source: Delloitte and Touche (2002) and TopSports (2003). Os números praticamente falam por eles mesmo. No futebol brasileiro existe um maior número de clubes no campeonato nacional, o que reflete a influência da questão regional em um país de dimensões continentais, como já realçado na primeira parte deste artigo. Entretanto o que chama mais atenção é a disparidade no total de receitas entre as ligas européias e o campeonato brasileiro e a receita média que cada clube recebe. Na tabela 4 procura-se dar uma visão mais detalhada do problema das receitas entre o Brasil e a Europa. Os dados apresentados sobre o número médio de espectadores e a receita média de bilheteria por jogo realçam as enormes diferenças de poder de geração de receitas nos estádios. Se o espetáculo futebolístico tem no ídolo o seu principal fator de atratividade, é no local onde esse ídolo se exibe que se deve buscar o foco principal para o espetáculo. Aonde isso não acontece, mesmo com uma forte presença da televisão, a economia desse espetáculo tende a enfraquecer e os clubes, os organizadores do espetáculo tendem a se fragilizar. Table 4 Average Attendance, Average Ticket Price and Ticket Revenue per Game Countr Average Attendance Average Ticket Average Ticket Revenue y National Leagues Price-US$ per Game-US$ Englan d 31.000 30,9 957.900,00 Italy 30.000 27,7 831.000,00 Spain 28.000 20,8 582.400,00 Brazil 10.000 3,0 30.000,00 Source: Delloitte and Touche (2002) and TopSports (2003). A tabela 4 mostra que um clube brasileiro para arrecadar por jogo o que um clube europeu fatura, tem que jogar trinta e duas vezes ao se comparar com a Inglaterra, quase vinte oito vezes comparando-se com a Itália e em torno de dezenove vezes na comparação com os clubes espanhóis. Table 5 Football Economic Indicators Country Italy/Brazil Spain/Brazil Germany/Brazi l England/Brazil France/Brazil Average Attendance Total Revenues Average Ticket National Leagues Price-US$ 3,0 4,5 9,2 2,8 4,1 6,9 n.a. 3,1 n.a. 3,8 10,3 2,5 n.a. 10,3 n.a. Na tabela 5 mostram-se alguns indicadores de proporção entre a média de espectadores, o preço e o preço médio dos ingressos. Nota-se uma clara desproporção entre o preço médio do ingresso, as receitas totais e 5 os indicadores macroeconômicos de renda. Enquanto estes últimos indicavam uma relação de no máximo um para oito na renda per capitã, nos indicadores de receita de bilheteria nos estádios ela atinge mais do que dez vezes. Isso indica que existe espaço para aumento do preço médio dos ingressos. O problema é se existem condições para isso, isto é, a atração de espectadores de maior nível de renda em face da situação de deterioração da infra-estrutura dos estádios, da violência urbana e das torcidas e da excessiva exposição do futebol pela televisão. Após essa análise agregada do faturamento dos principais campeonatos europeus e do campeonato brasileiro pode-se passar a analisar o modelo de receitas dos clubes em ambas as regiões. Esse contexto de fragilidade econômica do campeonato e dos clubes brasileiros leva a que se tenha uma situação ainda mais desproporcional entre a riqueza dos clubes europeus e a pobreza dos clubes brasileiros. Os clubes mais ricos do Brasil são mais pobres do que a maioria dos clubes europeus da segunda divisão. O gráfico abaixo mostra essas relações. A relação entre os clubes mais ricos do mundo e os brasileiros são superiores a vinte vezes, o que excede em muito as proporções de desigualdade macroeconômica. Isto é, a desigualdade na indústria do futebol é muito maior do que entre os países. Figure 1 Richest Clubs: Brazilian x European 350 300,5 300 Receita 2002 (US$ milhões) 247,2 232,5 250 209,8 192,8 192,0 200 176,5 171,4 165,3 151,9 149,9 136,1 133,6 150 122,0 118,4 108,5 95,3 100 95,0 78,0 74,8 50 14,3 3,5 0 Vitória (BA) Flamengo (RJ) Rangers (ESC) Aston Villa (ING) Celtic (ESC) Bayer Leverkusen (ALE) Tottenham Hotspur (ING) Newcastle (ING) Borussia Dortmund (ALE) Lazio (ITA) Leeds United (ING) Inter de Milão (ITA) Arsenal (ING) Liverpool (ING) Roma (ITA) Barcelona (ESP) Chelsea (ING) Milan (ITA) Bayern Munich (ALE) Juventus (ITA) Manchester United (ING) Real Madrid (ESP) Source: TopSports (2003). Na tabela 6 é apresentada a composição das receitas dos clubes pelos seus principais itens. A composição das receitas dos clubes brasileiros está pesadamente baseada na venda dos direitos de televisionamento. As receitas derivadas da exploração das instalações esportivas e aquelas geradas pela comercialização das marcas dos clubes são as mais baixas entre todos os países. Em especial as primeiras que representam o pouco domínio que os clubes brasileiros têm sobre o ponto central do seu negócio. Representa também dois fatores adicionais importantes. O primeiro é que poucos clubes possuem estádios e quando estes são de sua propriedade eles estão em péssimo estado de conservação. A única exceção é o estádio do Clube Atlético Paranaense, a Arena da Baixada. O segundo, já mencionado é violência dentro e fora dos estádios, um forte inibidor da presença de público. O baixo percentual do faturamento da comercialização está ligado ã diferença de renda entre O Brasil e a Europa e, derivado desse fator, ao elevado nível de pirataria no mercado de artigos esportivos. O diferencial de preços entre um artigo esportivo comprado com a marca legal dos clubes chega a custar dez vezes mais do que um no mercado informal. Dada a 6 relação custo benefício relacionado com a renda média da população não há alternativa possível para a grande maioria dos torcedores. Table 7 Revenues Compsition: Europe and Brazil TV Country Stadium Revenues Rights Sponsorship and Merchandising England 28% 42% 30% Italy 16% 53% 31% Spain 36% 18% 37% German y 17% 40% 43% France 15% 52% 33% Brazil 10% 65% 25% Source: Delloitte and Touche (2002) and TopSports (2003). Na tabela 9, apresenta-se a distribuição salarial do futebol brasileiro. Pelos dados constantes da tabela nota-se claramente a desproporção que existe entre os salários pagos na Europa e no Brasil. Esta é uma das principais razões pelas quais os clubes brasileiros não conseguem manter os seus jogadores. Quando eles querem manter os salários pagos aos jogadores próximos dos níveis europeus, como ocorreu logo após a Copa do Mundo de 1994 vencida pelo Brasil, só o conseguem em uma situação artificialmente mantida da taxa de câmbio em paridade de R$ 1,00 igual a US$1,00, o que levou não só os clubes a piorarem sensivelmente a sua situação financeira já frágil, mas também levou a país a sucessivas crises de balanço de pagamentos afetando ainda mais a deterioração da renda interna da população. Com a desvalorização do real no início de 1999 a situação ficou insustentável e o êxodo dos jogadores aumentou. Nos últimos cinco anos mais de 3500 jogadores se transferiram para o exterior,4 o que deixou o espetáculo futebolístico interno ainda mais pobre e não resolveu o problema financeiro dos clubes, agravou-o ainda mais. Table 9 Brazilian Football Wage Distribution-2002 Minimum Wage até um de um a dois de dois a cinco de cinco a dez de dez a vinte mais de vinte Total Total Anual Númber of Players 8.638 4.987 1.289 436 293 701 16.344 % 52,9% 30,5% 7,9% 2,7% 1,8% 4,3% 100,0% Source: Confederação Brasileira de Futebol-CBF. Author’s elaboration Salário Mínimo: R$ 24000 = US$ 80,00 Exchange Rate: US$1 = R$3,00 4 Ver o site da Confederação Brasileira de Futebol cbf.com.br. 7 Para que se tenha uma idéia das cifras movimentadas pela indústria de futebol na Europa, apenas a venda de direitos de transmissão de TV dos cinco maiores campeonatos representou um total de US$ 2,1 bilhões em 2002. Segundo dados da Delloite & Touche (2002) o mercado de futebol europeu profissional movimentou na temporada 2001/02 cerca de € 10,1 bilhões, onde as ligas nacionais são responsáveis por € 7,1 bilhões deste total. No Brasil em virtude da estagnação econômica a participação do marketing esportivo tenha diminuído caiu nos últimos anos 4,5% para 2,5% (TopSports, 2002) no bolo geral do mercado publicitário. O futebol recebeu cerca de US$ 50 milhões do total de US$ 75,0 milhões. Para se ter uma idéia do nível do gerenciamento amador do futebol brasileiro pode-se raciocinar com um exemplo bem simples tirado diretamente dos números apresentados anteriormente. A tabela 8 vai apresentar uma simulação do potencial inexplorado de receitas dos clubes brasileiros. Nela encontra-se uma comparação entre o Clube de Regatas Flamengo, o mais popular do Brasil e o Manchester United um dos mais populares da Inglaterra. Tomando-se em conta s proporções das suas torcidas em relação à população de cada país chega-se a um valor de 15,5% para o Flamengo e 4,2% para o Manchester United. Adotando-se como parâmetro para o potencial de recitas a renda per capitã de cada país, o Flamengo teria um patamar de receitas possível de se atingido de quase 1,5 vez superior ao do Manchester United. No entanto, o clube inglês fatura mais de quinze vezes o total do clube brasileiro.5 Table 8 Brazil: Football Unexplored Potential of Revenues Fans (millions) Fans (% of population) Potential of Revenue Generation as a % of GDP Flamengo 25,0 15,5% US$ 81 billions Manchester United 2,5 4,2% US$ 54 billions Source: TopSports (2003), newspaper and interviews. Nos últimos anos houve um esforço de tentar solucionar as deficiências estruturais do futebol brasileiro através da mudança na legislação. A partir do início dos anos noventa várias legislações esportivas foram aprovadas no Congresso Nacional com o objetivo de modernizar o esporte e o futebol em particular. Pode-se citar a Lei Zico (Lei 8.672 de 1993), a Lei Pelé (Lei 9.615 de 1998), a modificação da Lei Pelé para pior denominada lei Maguito Vilella (Lei 9.981 de 2000). Mais recentemente o novo governo empossado em 2003, sancionou a Medida Provisória nº 79 (Lei do Futebol) e o Estatuto do Torcedor, medidas voltadas em tese para medidas que deverão forçar clubes e dirigentes a abandonar as práticas que arranharam a imagem do futebol nas últimas décadas. Em linhas gerais, a nova lei obriga os clubes a transformar seus departamentos de futebol em empresa e a publicar balanços auditados. A lei também decreta o fim da impunidade dos maus dirigentes, que passarão a ser responsáveis cível e criminalmente pela gestão. Os clubes que não cumprirem a norma serão proibidos de receber patrocínios públicos e seus dirigentes terão de responder com os próprios bens em casos de má administração. As exigências aos clubes na nova lei, sem nenhuma contrapartida, vão onerá-los e obrigá-los a depender ainda mais da televisão caso nada seja feito para melhorar a sua base de receitas. 5 É especialmente difícil avaliar o montante exato do faturamento dos clubes brasileiros devido a inexistência de demonstrações contábeis e financeiras confiáveis. Para estimar o faturamento do Flamengo forma usadas várias fontes informais que mais ou menos chagaram a um valor consensual de US$ 14 milhões. 8 A modernização da legislação brasileira do esporte é uma condição necessária para a implantação futura do profissionalismo. Porém existem muitas condições a serem ainda cumpridas que faz com que a simples aprovação de uma nova lei, por melhor que ela seja, apenas um passo na nova direção e não a redenção do futebol brasileiro. Para não se estender muito sobre esse assunto passa-se a listar alguns pontos que precisam ser melhorados para que o futebol brasileiro possa atingir um nível mais avançado de eficiência econômica e gerEncial. Em primeiro lugar deve-se aumentar as garantias dos direitos dos clubes sobre a receita da venda dos jogadores. É necessário flexibilizar a legislação sobre a participação dos investidores na gestão dos clubes para não inviabilizar a entrada de capital para a modernização dos estádios e da gerência. É preciso fortalecer a vigilância sobre a transferência de jogadores menores de dezoito anos para o exterior. O maior custo que o País paga pela desorganização do futebol é a impossibilidade de manter seus craques em atividade no Brasil. O Brasil tem os melhores jogadores do mundo. Em vez de conseguir faturar em cima disso, vende muito cedo e barato esses jogadores para o exterior, o que destrói as possibilidades de aumentar o faturamento pela qualidade do espetáculo. As disparidades econômicas entre o Brasil e a Europa vão fazer que por muitos anos se exporte os melhores jogadores.Porém, se melhorar a estrutura profissional do futebol brasileiro se poderá vender em muito melhor condição do que atualmente. 4. Conclusão A situação atual do futebol no Brasil aponta para a necessidade de tornar mais profissional, eficaz e eficiente a sua organização e administração na região. O espetáculo esportivo moderno necessita de estádios e arenas esportivas que possam receber o público com todo o conforto e segurança. Isso inclui horário dos jogos, venda antecipada de ingressos, estacionamento no local, boas condições de transporte e de trânsito, calendário bem organizado. Os estádios esportivos modernos são praticamente inexistentes na região, portanto será necessário aumentar o investimento nessa área, construir novos estádios e arenas multiuso e reformar os existente para o Brasil possa melhorar as condições de operação econômica do seu futebol. Na década dos trinta do século XX a solução encontrada para resolver a crise do futebol brasileiro foi a profissionalização dos jogadores. No início do século XXI a tendência parece ser a da profissionalização dos dirigentes e a adoção do modelo de administração empresarial que resguarde a história dos clubes e ao mesmo tempo permita a sua modernização gerencial. No entanto, para ser bem sucedida, esta mudança precisa ser acompanhada por uma reorganização da atual estrutura de poder, proporcionando aos grandes clubes mais autonomia para organizar seus campeonatos e para explorar melhor o grande potencial popular que eles conseguiram ao longo da sua história e ao mesmo tempo diminuir a dependência da televisão como fonte de renda para a sua sobrevivência. A globalização esporte com a abertura do mercado europeu para os jogadores internacionais e as disparidades econômicas entre o Brasil e a Europa, o principal mercado do futebol no mundo, tornam muito difícil que se possa reproduzir o mesmo modelo de receitas que transformou o futebol em uma máquina de fazer dinheiro. Os salários pagos aos principais jogadores mundiais praticamente inviabilizam a sua permanência em um país com a estrutura econômica do Brasil. Não existe renda disponível para manter um clube com o nível de gasto próximo aos dos clubes europeus. 9 A análise realizada aponta para a irreversível inserção do profissionalismo como saída para o futebol brasileiro. Esta transição será dolorosa e vai encontrar enorme resistência dos grupos que estão poder. A parceria do poder público, a intervenção do Estado será fundamental para acelerar esta transição. Ela deve se dar nos moldes do ocorrido na Inglaterra a partir da implementação do Football Spectators Act em 1989. Este é um código de direitos do torcedor que previa uma ampla modernização dos estádios dos clubes ingleses, a criação da Premier League e uma reformulação das bases do relacionamento entre o futebol e a indústria de mídia inglesa. O Football Spectators Act forçou uma parceria entre os clubes, federações e governos locais para oferecer aos torcedores uma infra-estrutura de qualidade nos estádios, com condições de segurança, higiene, transporte, alimentação e etc. Surgiu então um movimento de reformulação dos estádios ingleses apoiado pelo governo, através da criação de linhas de financiamento especiais para os clubes, que permitiu a modernização de todos os estádios de grande porte da Inglaterra, tornando-os grandes geradores de receitas pelo aumento da sua taxa de ocupação. Esta deve ser também a direção a ser seguida no Brasil: a construção de novos estádios e a reformulação daqueles existentes que tenham condições para tanto, com o subseqüente aumento das receitas do estádio e a diminuição da dependência das receitas da televisão. Sem isso o Brasil continuará a ser o país do futebol, porém sem o espetáculo do futebol. 10 Bibliografia Confederação Brasileira de Futebol -CBF. Captured at <http:www.cbf.com.br>, October, 2003 DELLOITE & TOUCHE SPORT (2002). 2002 Annual Review of Football Finance. Manchester. Melo, L. M. O Esporte como Fator Dinâmico da Indústria do Entretenimento. In: Sá Earp (org.). Pão e Circo. Rio de Janeiro: Palavra e Imagem. The World Bank (2003) World Development Indicators. Washington; World Bank. TOPSPORTS. Captured at <http:www.topsports.com.br>, October, 2003. 11