ENERGIA NAS DESINTEGRAÇÕES NUCLEARES Fis.Rad.I - 2004/1 Notas de aula (Prof. Stenio Dore) (Dated: April 26, 2004) MASSA DE UM ÁTOMO Note que UZ (Ze) e UZ+1 (Ze) são quantidades diferentes. Explique! Usando o que aprendemos de Relatividade, podemos escrever que para um átomo A Z X: A 2 m(A Z X) = m([Z X]) + m(Ze) + UZ (Ze)/c onde [A Z X] representa o núcleo apenas e a energia de ligação dos Z elétrons ao núcleo de carga Z é dada por UZ (Ze) < 0, negativa por tratar-se de um sistema ligado – a massa do átomo é, portanto, menor que a soma das massas do núcleo e dos Z elétrons, é necessário fornecer energia ao sistema para separá-lo em suas partes. No caso dos núcleos instáveis, como vimos, ocorre o oposto e a massa do núcleo instável é maior que a soma das massas do núcleo final e da(s) partı́cula(a) emitida(s)– o sistema libera energia espontaneamente. FIG. 1: Desintegração β − DESINTEGRAÇÃO β − Nas figuras 1 e 2 temos representações da desintegração β − . Como vimos, no núcleo ocorre a transformação n → p + β− + ν O próton permanece no núcleo, aumentando em uma unidade o número atomico Z. A partı́cula β − , que é um elétron, escapa do núcleo e do átomo em altı́ssima velocidade, bem como o (anti-)neutrino, partı́cula sem carga elétrica e massa zero (ou quase zero), que se move à velocidade da luz (ou quase). Para podermos usar as considerações de conservação de massa-energia relativı́sticas que estudamos anteriormente, temos de isolar o nosso sistema (“nada entra, nada sai”). Então, do lado direito da Fig.1, o núcleo tem Z+1 prótons e a camada eletrônica ainda está com Z elétrons – depois este ion positivo capturará um elétron do meio, tornando-se um átomo neutro (Z+1 prótons e Z+1 elétrons). Mas esse elétron não faz parte do sistema em análise, sendo externo a ele e não entra no cômputo das massas. Do lado esquerdo da Fig.1 temos: 2 m([A Z X]) + m(Ze) + UZ (Ze)/c que, é claro, é a massa do átomo m(A Z X) e do lado direito: 2 − 2 m([A Z+1 X])+m(Ze)+UZ+1 (Ze)/c +m(β )+energia/c onde foi usado que a massa do (anti-)neutrino é nula. Como a β − é um elétron, podemos escrever a última equação como: 2 2 m([A Z+1 X]) + m({Z + 1}e) + UZ+1 (Ze)/c + energia/c FIG. 2: Desintegração β − Então, a menos da energia de ligação de um elétron da última camada, da ordem de eletronvolt, podemos reescrever a equação para o lado direito como: 2 m(A Z+1 X) + energia/c A conservação da massa-energia relativı́stica resulta em: A 2 m(A Z X) = m(Z+1 X) + energia/c Que, para fazermos uso da Tabela de Massas Atomicas, precisamos transformar assim: A energia = {m(A Z X) − m(Z+1 X)} c2 u u ou, finalmente: A energia = {M(A Z X) − M(Z+1 X)} × 931, 494 MeV Se o núcleo final [A Z X] estiver no estado fundamental, como na emissão da β2 na Fig.2, toda essa energia aparecerá como energia cinética compartilhada pela partı́cula β e o neutrino, sendo o valor máximo Tmax que um deles pode ter (nesse caso o outro tem zero). Se, como na emissão da β1 na Fig.2, o núcleo final estiver em estado 2 FIG. 3: Desintegração β + FIG. 5: Captura eletronica - EC CAPTURA ELETRONICA - EC Na Fig.5 temos uma representação do que acontece. Este é um processo competitivo com a desintegração β + , um elétron da camada K é capturado pelo núcleo e nele p+e→n+ν FIG. 4: Desintegração β + excitado, armazenando uma energia U ∗ > 0, esta parcela não estará disponı́vel como energia cinética. Então, de modo geral, podemos escrever: A ∗ Tmax = {M(A Z X) − M(Z+1 X)} × 931, 494 MeV − U (1) O núcleo final é [A Z−1 X], exatamente como no caso da desintegração β + , e como somente o neutrino é emitido ele sempre sai com a energia máxima disponı́vel. No lado direito temos agora: 2 2 m([A Z−1 X])+m({Z−1}e)+UZ−1 ({Z−1}e)/c +energia/c Lembrando que, como o elétron capturado é de camada atomica interna, a energia envolvida para isso é da ordem de keV, não sendo de todo desprezı́vel. O procedimento usual nos permite chegar a A ∗ Tν = {M(A Z X) − M(Z−1 X)} × 931, 494 MeV − U DESINTEGRAÇÃO β + Nas figuras 3 e 4 temos representações da desintegração β + . Como vimos, no núcleo ocorre a transformação − (WB )K (3) onde (WB )K é o trabalho necessário para remover o elétron da camada K. p → n + β+ + ν DESINTEGRAÇÃO ALFA O neutron permanece no núcleo, diminui em uma unidade o número atomico Z. A partı́cula β + , que é um elétron positivo ou pósitron, escapa do núcleo e do átomo em altı́ssima velocidade, bem como o neutrino. Como a carga nuclear cai de uma unidade, um elétron da camada eletronica mais externa é liberado em repouso. Podemos escrever para o lado direito da Fig.3: Nas figuras 6 e 7 temos representações da desintegração α. O núcleo final é [A−4 Z−2 X] e dois elétrons de camada externa são liberados em repouso. A alfa é um núcleo de He, um ion de carga 2+, que ao mover-se no meio irá finalmente capturar dois elétrons e formar um átomo de He neutro em repouso – entretanto, esses são outros dois elétrons, externos ao sistema, não entrando no cálculo. A partı́cula é expelida sozinha do núcleo, escapando por efeito túnel, não compartilhando energia com outras e sendo assim sai sempre com a energia máxima disponı́vel. Como sempre, parte da energia liberada pode ficar retida como energia de excitação U ∗ do núcleo final, reduzindo a energia cinética da partı́cula. Um fator de redução adicional tem de ser considerado agora devido à massa da alfa – a energia cinética de recuo do núcleo. No lado direito da Fig.6 temos: 2 m([A Z−1 X]) + m({Z − 1}e) + UZ−1 ({Z − 1}e)/c + + m(e) + m(β + ) + energia/c2 que, agrupando termos, resulta em: 2 m(A Z−1 X) + 2m(e) + energia/c Seguindo agora os mesmos passos dados no caso da β − : A ∗ Tmax = {M(A Z X) − M(Z−1 X)} × 931, 494 MeV − U − 1, 022 MeV (2) 2 m([A−4 Z−2 X]) + m({Z − 2}e) + UZ−2 ({Z − 2}e)/c + + m(2e) + m(α++ ) + energia/c2 3 FIG. 6: Desintegração α FIG. 8: Exemplo 1 FIG. 7: Desintegração α FIG. 9: Exemplo 2 que, agrupando termos e desprezando a energia de ligação de dois elétrons, resulta em: 2 m(A−4 Z−2 X) + m(He) + energia/c O procedimento usual nos permite chegar a A−4 ∗ Tmax = {M(A Z X) − M(Z−2 X)} × 931, 494 MeV − U − M(42 He) × 931, 494 MeV (4) Levando em conta o recuo do núcleo, obtemos finalmente: Tmax Tα = 4 1 + M(2 He)/M(A−4 Z−2 X) FIG. 10: Exemplo 3 (5) GAMA × CONVERSÃO INTERNA (IC) Vimos que um núcleo excitado, com energia interna U ∗ , pode liberar essa energia por emissão de radiação gama, ver por exemplo as figuras 9 e 10. Entretanto, como mostrado na Fig.8 há um outro modo de desexcitação que compete com ele – a conversão interna. Em vez de ser emitido um gama de energia U ∗ é emitido um elétron atomico, mais provavelmente da camada K, com energia U ∗ − (WB )K . Logo em seguida são emitidos RX caracterı́sticos e/ou elétrons Auger!. EXEMPLOS Exemplo 1: Obter as energias máximas das β1 e β2 na Fig.8 . Na tabela temos M(137 55 Cs)= 136,907073 e M(137 56 Ba)=136,905812. Então: Tmax (β2 ) = (136, 907073 − 136, 905812) × 931, 494MeV = 1, 175MeV. E Tmax (β1 ) = 1, 175MeV − 0, 662MeV = 0.513MeV Exemplo 2: Obter a energia máxima da β + e a energia do neutrino de EC na Fig.9 . Na tabela temos 22 M(22 Então: 11 Na)= 21,994434 e M(10 Ne)=21,991383. + Tmax (β ) = (21, 994434 − 21, 991383) × 931, 494MeV − 1, 275MeV − 1, 022MeV = 0.545MeV. E a do neutrino Tν = (21, 994434 − 21, 991383) × 931, 494MeV − 1, 275MeV − 0, 001MeV = 1.566MeV Exemplo 3: Obter as energias das α1 e α2 na Fig.10 . Na tabela temos M(226 88 Ra)= 226,025403 e M(222 86 Rn)=222,017571. Então: Tmax,2 = (226, 025403 − 222, 017571 − 4, 002603) × 931, 494MeV = 4.870782MeV. 4.870782MeV Então Tα2 = 1+4,002603/222,017571 = 4, 784MeV Analogamente, 0, 1862MeV = Tmax,1 = 4.684582MeV. 4.684582MeV 1+4,002603/222,017571 = 4.602MeV 4.870782MeV − Então Tα1 =