Classificação de Espectros Estelares Cronologia 1817: espectros estelares observados por Fraunhofer ⇒ diferenças espectrais 1860: leis de Kirchhoff 1872: 1a. fotografia de um espectro estelar por Henry Draper 1890-1900: classificação de acordo com a intensidade das linhas de absorção do H por Pickering & Fleming (tipo A: max. profundidade de H) 1901: Temperatura (T) como parâmetro fundamental determinando a classificação ⇒ Esquema de classificação de Harvard: tipos OBAFGKM, subtipos 0-9, ordem decrescente de T “early-type” ⇔ “late type” : quente ⇔ fria 0-0 Catálogo Henry Draper (HD): 359083 estrelas classificadas de acordo com espectro (Sirius = HD 48915, tipo espectral A1) TE O B A F G K M M (M ) 20 - 100 4 - 20 2-4 1.05 - 2 0.8 - 1.05 0.5 - 0.8 0.08 - 0.5 D (D ) 12 - 25 4 - 12 1.5 - 4 1.1 - 1.5 0.85 - 1.1 0.6 - 0.85 0.1 - 0.6 T (K) 40000 18000 10000 7000 5500 4000 3000 Linhas proeminentes He II H I e He I H I (absorção máx.) H I, Ca II H I, Ca II (absorção máx.) Ca I, Fe I, Ca II moléculas e metais neutros − transições atômicas (fı́sica quântica); ocupação dos e− nos diferentes nı́veis atômicos depende da T. − a intensidade de uma linha produzida por determinado átomo deve depender também da quantidade deste átomo presente na atmosfera estelar (abundância quı́mica). 0-1 0-2 Base fı́sica do sistema de classificação É preciso responder: 1) Em quais orbitais atômicos os e− são mais provavelmente encontrados? 2) Qual é o número relativo de átomos nos vários estágios de ionização? Mecânica Estatı́stica Para um gás em equilı́brio térmico, os átomos perdem e ganham energia via colisões. A distribuição de velocidades dos átomos produz uma distribuição definida dos e− nos orbitais atômicos. Os orbitais de energia mais alta são menos prováveis de serem ocupados por e− . A densidade de átomos tendo uma dada velocidade permanece a mesma se T=constante. Essa densidade é descrita pela distribuição de MaxwellBoltzmann: nv dv = m 3/2 −mv 2 /2kT 4πv 2 dv n( 2πkT ) e 0-3 R∞ 0 nv dv = n onde n: densidade de partı́culas, m: massa da partı́cula. Velocidade mais provável: vmp = p 2kT /m ← d(nv )/dv = 0 0-4 Velocidade quadrática média: vrms = √ < v2 >= p 3kT /m Colisões atômicas ⇒ distribuição dos e− nos orbitais atômicos. Equilı́brio de excitação Conjuntos de números quânticos: sa → estado atômico com Ea sb → estado atômico com Eb Ex.: átomo de H: Ea = −13.6eV ; sa = {n = 1, l = 0, m` = 0, ms = +1/2} Razão de probabilidades: P (sb ) P (sa ) = e−Eb /kT e−Ea /kT = e−(Eb −Ea )/kT Os nı́veis de energia do sistema podem ser degenerados: mais de um estado quântico corresponde a mesma energia. 0-5 Peso estatı́stico (multiplicidade dos nı́veis): ga → no. de estados com Ea gb → no. de estados com Eb gn = 2n2 Ex.: H estados fundamentais (a = 1) → 2 estados (spins diferentes: transição de 21cm) → s1 → g1 = 2(1)2 = 2 1o estado excitado (b = 2) → 8 estados (combinação de n, `, m` , ms ) → s2 → g2 = 2(2)2 = 8 Assim: P (E) → probabilidade de encontrar o sistema com energia E → proporcional ao número de átomos com energia E Equação de Boltzmann (razão do no. de átomos em diferentes estados de excitação): P (Eb ) gb −(Eb −Ea )/kT Nb = = P (Ea ) Na ga e 0-6 A Fig. mostra, para o H, a ocupação relativa do 1o. estado excitado em função da T. Para que N1 = N2 seria necessário T=85000 K (!?!). E as linhas de Balmer com máximo observado em T≈9500 K? 0-7 Qual é o no. de átomos nos diferentes estágios de ionização? Função de partição: soma ponderada do no. de maneiras que o átomo pode arranjar seus e− com a mesma energia: Z = g1 + ∞ X gj e−(Ej −E1 )/kT j=2 onde Ej é a energia do j-ésimo nı́vel e gj a degenerescência do mesmo nı́vel. Se um átomo é ionizado (1 e− a menos) ele passa de um estágio de ionização i para o i + 1. A razão do no. de átomos no estágio (i + 1) para o no. de átomos no estágio i é: Ni+1 Ni = 2Zi+1 ne Zi 2πme kT 3/2 −χi /kT e h2 onde χi é a energia de ionização. 0-8 (eq. de Saha) Um aumento em T do gás produz mais e mais energia (radiativa e colisional) que fica disponı́vel para ionizar os átomos. Quanto maior ne , maior a probabilidade de um ı́on capturar um e− e tornar-se um átomo neutro. χ ↔ χ+ + e− ← recombinação → ionização Equilı́brio de ionização: taxa de recombinação = taxa de ionização densidade de ions NII = densidade de atomos neutros NI NII A(kT )3/2 −χI /kT = e NI ne Generalizando para estágios i e i + 1 consecutivos: 0-9 Ni+1 A(kT )3/2 −χi /kT = e Ni ne Ni+1 > ne ⇒> taxa de recomb. ⇒< Ni Ni+1 > T ⇒> taxa de ioniz. ⇒> Ni Combinando eqs. de Boltzmann e Saha Ex.: H, linhas de Balmer estados possı́veis → ionização: NI (neutro), NII (ionizado) estado de interesse → excitação: N2 (série de Balmer, n=2, 1o estado excitado) 0-10 N2 I(linhas de Balmer) ∝ NI + NII Considerando que a maior parte do H neutro está no estado fundamental ou no 1o estado excitado (NI ∼ N1 + N2 ), então: N2 N2 = = Ntot NI + NII N2 N1 + N2 NI NI + NII = N2 /N1 1 1 + N2 /N1 1 + NII /NI N2 → eq. Boltzmann N1 NII → eq. Saha NI Para T ∼ 9500 K: max N2 N → max(I(Balmer)) 0-11 0-12 Generalização No. relativo de átomos de estágio de ionização i em estado de excitação s: Ni,s N onde N= n X Ni i=0 Na prática, para uma dada T, somente é necessário considerar 3 estágios de ionização, já que o no. de ı́ons em outros estágios deve ser ∼ 0 para um gás em equilı́brio térmico. Ni,s Ni,s Ni,s /Ni ∼ = N Ni−1 + Ni + Ni+1 Ni−1 /Ni + 1 + Ni+1 /Ni 0-13 0-14 Ex.: Fotosfera solar Qual a intensidade relativa entre as linhas de absorção do H (linhas de Balmer) e aquelas devido ao Ca (linhas H e K) sabendo que há 5×105 átomos de H para cada átomo de Ca na fotosfera solar? Para o H, a eq. de Saha fica: 3/2 NII 2kT ZII 2πme kT −χI /KT = e NI H Pe Z I h2 onde usou-se Pe = ne kT × NII NI H 2(1.38×10−16 ergK −1 )(5770K)(1) = × (15dyn/cm2 )(2) 2π(9.11×10−28 g)(1.38×10−16 ergK −1 (5770K) (6.63×10−27 ergs)2 0-15 3/2 × ×e −13.6eV /[(8.62×10−5 eV K −1 )(5770K)] = 1 13400 → Há somente 1 átomo de H ionizado para cada 13400 átomos neutros. Entre os átomos neutros, quantos estão no 1o estado excitado ? N2 N1 HI g2 −(E2 −E1 )/kT = e = g1 2(2)2 −[(−13.6eV /22 )−(−13.6eV /12 )]/[(8.62×10−5 eV K −1 )(5770K)] 1 = e = 2(1)2 2.02×108 Somente 1 em 200 milhões de átomos neutros estão no 1o estado excitado. h i N2 1 Logo: Ntot = 2.02×10 8 H 0-16 Com relação aos átomos de Cálcio: χI = 6.11 eV , ZI = 1.32, ZII = 2.30 e a razão entre o no. de átomos de Ca ionizados e o no. de átomos neutros é: 3/2 2kT ZII 2πme kT NII −χI /kT = e = 903 2 NI Ca Pe ZI h Quase todo o Ca está uma vez ionizado (Ca II) na fotosfera solar. Quantos desses átomos (Ca II) estão no nı́vel fundamental (portanto capazes de produzir as linhas H e K do Ca II no espectro solar) ? Considerando a linha K (λ=3933Å), E2 − E1 = 3.12eV , g1 = 2, g2 = 4: N2 N1 CaII g2 −(E2 −E1 )/kT = e = 1/265 g1 A maior parte dos átomos de Ca na fotosfera solar está uma vez ionizada e no estado fundamental. 0-17 N1 Ntot = CaII 1 1 + [N2 /N1 ]CaII N1 N1 + N2 CaII NII Ntot [NII /NI ]Ca 1 + [NII /NI ]Ca = Ca = 0.995 Como na fotosfera solar: → há 5×105 átomos de H para cada átomo de Ca → a fração de átomos de H no estado adequado para produzir a série de Balmer relativa à fração de átomos de Ca no estado adequado para a produção das linhas H e K do Ca II é: 4.96×10−9 0.995 Então a quantidade de átomos de H relativa a de átomos de Ca capazes de produzir as referidas linhas espectrais é: 0-18 (5×105 )(4.96×10−9 ) [N2 ]H = ≈1/400 [N1 ]Ca (1)(0.995) A maior intensidade das linhas do Ca II com relação às linhas do H não está relacionada com uma maior abundância de Ca no Sol, mas relaciona-se à temperatura da fotosfera solar, que afeta os estados atômicos de excitação e ionização. 0-19 0-20 0-21