O interior da Flor do Meio Carlos Eduardo Paulino Alessandra Rodrigues Sevilha O noroeste da China é formado por uma região bastante inóspita e habitada por uma minoria, os uigures. Por isso, é conhecida como Sinkiang ou Xinjiang Uigur. Faz fronteira com a Ásia Central, o Afeganistão e a Rússia, sendo uma área isolada por grandes cordilheiras, como o Pamir, Altai Hindu Kush e Himalaia. Ao centro, é cortada por outra enorme cadeia de montanhas denominada Kuen Lun, dando à região o formato de um longo e achatado “E”. Mas, ao percorrê-la, o visitante se surpreende com tantos contrastes de altitudes, pois aí se encontra a depressão de Lop Nor, atingindo quase 160 metros abaixo do nível do mar. Tais contrastes contribuem para seu isolamento, já que estamos na região mais continental do mundo – até os ventos gelados do ártico têm dificuldade de atingi-la, o mesmo acontecendo com as monções do sul. Logo, o clima é bastante seco e de grande amplitude térmica, o que torna a região árida, fria e uma das mais agressivas do planeta. O deserto do Takla Makan, ladeado pelas muralhas naturais, gera uma espécie de claustrofobia ao ocidental que visita a região pela primeira vez. A água é pouco abundante, com bacias endorréicas, às vezes arréicas, e criptorréicas, que estão concentradas nos rios Tarim e Dzungaria. No entanto, os chineses não abrem mão da região. O Turquestão chinês, como gostam os russos, é uma região de valor estratégico, pois seu subsolo é extremamente rico. Foi graças a ele, por sinal, que chineses tornaram-se autossuficientes em petróleo. Pois é... Os vales intermontanos são ricos em rochas sedimentares, que abrigaram mares interiores e hoje possuem grande quantidade de petróleo e gás natural. Bem, só isso já garantiria a ocupação e o povoamento da região, mas as riquezas eram mais vastas do que os chineses imaginavam. Na medida em que eles adentravam as estepes secas, chocandose com a cultura uigur – nômade, animista, de regime lácteo –, os geólogos iam se surpreendendo com as reservas de carvão mineral, cobre, níquel, enxofre, fósforo, urânio e tório - estes últimos, aliás, responsáveis pelo desenvolvimento nuclear do país, ponto de desavença com os soviéticos nas décadas dos 50 e 60. Para tanto foi necessário atrair mão de obra qualificada e fixa para a região. Ganhou com isso a cidade de Urumchi, atualmente com mais de 1 milhão de habitantes, moderna, próspera, chinesa, com os uigures perdendo suas tradições e servindo como mão de obra braçal pouco qualificada e barata. O desenvolvimento desse polo tecnológico impulsionou não somente a indústria nuclear, mas toda a indústria bélica – hoje, a China é o maior exportador de armas do mundo –, a indústria aeronáutica (que tem parceria com a brasileira principalmente para aviões de escala regional) e a indústria espacial, que está tão independente que o país se tornou, ao lado dos EUA e Rússia, os únicos capazes de mandar seres humanos ao espaço de forma autônoma. O desenvolvimento da indústria de ponta tornou o Sinkiang um polo de atração dentro da China. Esta indústria depende de toda uma cadeia produtiva, principalmente das indústrias siderúrgicas, metalúrgicas, química, petroquímica, de máquinas e da construção civil. Sem dúvida, é um grande exemplo de como ocupar o interior de um país e o desenvolver.