PIBID LETRAS-PORTUGUÊS: UMA SEQUÊNCIA BÁSICA DE LEITURA DESENVOLVIDA NO COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UEM Renata Kelen da ROCHA1 Vilma Araújo da SILVA2 Margarida da Silveira CORSI3 Vinculado ao Subprojeto PIBID Letras-Português, da Universidade Estadual de Maringá, nosso trabalho apresenta resultados de pesquisa-ação realizada no Colégio de Aplicação (CAP/UEM). A pesquisa ocorreu a partir da interação entre a universidade e a escola básica, propondo a abordagem do enunciado literário com os alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental 2. Para tanto, baseamo-nos na proposta de leitura e letramento literário de Micheletti (2000) e Cosson (2014). Como etapas de desenvolvimento da pesquisa, efetuamos: o diagnóstico do contexto educacional, apoiados na leitura do Projeto Político Pedagógico, a investigação da biblioteca e seu acervo, da sala de aula e de outros locais utilizados como espaços de leitura; investigamos as preferências e dificuldades dos educandos em relação ao letramento literário, com uso de questionários elaborados pelo grupo. Em decorrência deste levantamento e da tabulação de seu resultado, selecionamos textos literários direcionados aos alunos do EF 2; em sequência, realizamos a produção e aplicação de uma oficina de leitura, embasados no pressuposto de que o ato de ler é solitário, mas envolvendo o mergulho do leitor na decifração do código, na compreensão dos sentidos expressos e no preenchimento dos não-ditos, estando em constante diálogo com as ideias expostas (AGUIAR, 2006). Assim, para trabalharmos com as turmas de sextos anos, do CAP/UEM, propomos a elaboração e aplicação de uma sequência básica, objetivando a motivação pela leitura literária e a concretização do letramento literário a partir do livro Abrindo caminho, de Ana Maria Machado (2005). É o que nos propomos a apresentar neste trabalho. Palavras-chave: literatura, ensino, leitura, letramento literário. Introdução Sabemos que, quanto à prática de leitura de textos, os PCNs (2008) compreendem a leitura como um ato interlocutivo de interação dialógica que faz uso de demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de um determinado momento, pois, no momento de ler, o aluno busca suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural e as várias vozes que o constituem. 1 Graduanda de Letras, Português/Francês, na Universidade Estadual de Maringá-UEM. E-mail: [email protected] 2 Graduanda de Letras, Português/Francês, na Universidade Estadual de Maringá-UEM. E-mail: [email protected] 3 Professora Doutora Margarida da Silveira Corsi da Universidade Estadual de Maringá-UEM. E-mail: [email protected] 600 Conhecendo a importância da prática de leitura em sala de aula, nos propomos analisar maneiras e métodos didáticos para inserir a literatura no cotidiano dos estudantes, com o intuito de atraí-los para o mundo literário. Assim, recorremos às raízes do ensino da literatura e, com isso, percebemos que o ensino corrobora para o hábito da leitura de textos literários. Ao seguirmos essa linha, retomamos Compagnon, que em sua obra “Literatura para quê?”, citando Ítalo Calvino, defende: “há coisas que só a literatura com seus meios específicos pode nos dar” (COMPAGNON, 2012. p. 20), e acrescenta, cintando Marcel Proust: “a vida verdadeira, a vida afinal descoberta e tornada clara, por conseguinte a única vida plenamente vivida, é a literatura [...] somente pela arte, podemos sair de nós mesmos, saber o que enxerga outra pessoa desse universo que não é igual o nosso [...]” (COMPAGNON, 2012. p. 20 e 21). Sendo assim, o autor reforça a importância da literatura para a vida e para a construção do cidadão, afirmando que ela deve ser preservada e estudada para que haja compreensão e aprofundamento dos valores sociais. Corroborando as ideias de Compagnon, retomamos Cosson (2012), que vê a literatura, na sua função humanizadora, como capaz de ajudar o homem a encontrar sua própria identidade. Assim como para os PCNs (1998), o papel fundamental da educação é o desenvolvimento das pessoas e da sociedade, e, para que isso ocorra, há a necessidade de existir escolas voltadas para formação de cidadãos, utilizando a literatura como ferramenta. Nesse sentido, Antunes (2003) define leitura como uma “atividade de interação entre indivíduos”, posto que temos presente o autor do texto e o leitor. Isso mostra a importância de se valorizar o conhecimento de mundo e os conhecimentos prévios do leitor, haja vista que uma prática que considere esses pontos deixa de ser uma simples decodificação, para ser considerada como uma oportunidade de avaliação, integrando o leitor com a vida de seu meio social. Para o aluno atingir uma maturidade literária, ele deverá contar com um instrutor, para guiá-lo em direção à compreensão do texto até que ele mesmo possa se conduzir em leituras individuais. Com isso, Micheletti (2001, p.17) acredita que se a leitura ocorre na escola, o professor pode abdicar de sua função de “guardião do saber” e atuar como um verdadeiro mediador, e Cosson (2012) afirma que para se ensinar a ler um texto literário não basta apenas propor a leitura, é necessária a presença de um intermediador, para guiar o aluno nas etapas de leitura até que ele se aproprie de métodos próprios para a fruição de suas leituras. 601 Nosso trabalho objetiva a elaboração de estratégias de leitura propostas a partir da obra literária Abrindo caminho, de Ana Maria Machado (2005). Para a realização da proposta, realizamos: a) aplicação de uma pesquisa de campo, para entendermos o contexto escolar, a qual se deu por meio de questionários aplicados aos alunos do sexto ano do EFII; b) observações de aulas de literatura para o sexto ano do EFII, da biblioteca e demais espaços de leituras; c) momentos de discussões teóricas, pautados principalmente na proposta de abordagem de Cosson (2012); d) seleção do texto literário; e) leitura e análise literária do texto selecionado: Abrindo Caminho, de Ana Maria Machado (2005), assim como análise das intertextualidades presentes no livro f) composição do material didático e; g) abordagem do texto, objetivando o incentivo à leitura. Passos iniciais para o desenvolvimento da sequência básica de leitura No início das nossas atividades, no PIBID, tivemos encontros semanais com a coordenação, na Universidade Estadual de Maringá e, no Colégio de Aplicação da UEM CAP, com a professora supervisora. Nossas atividades principiaram com a observação das dependências do local, principalmente, de sua biblioteca, pois é notória a importância que ambiente escolar, tanto físico como social, desempenha nos alunos, contribuindo para uma boa educação. Com isso, no ambiente da biblioteca, exploramos o acervo e listamos os livros adequados para a leitura dos alunos do 6º ano, do Ensino Fundamental II. Seguidamente, as professoras supervisoras apresentaram o nosso grupo às salas de aula, com o intuito de que observássemos as aulas do 6º A, B e C, o que nos remeteu à reflexão sobre questões relacionadas ao aprimoramento do ato de lecionar, ou seja, a didática que pode ser desenvolvida para resultar em um bom trabalho, com os alunos. Depois disso, aplicamos questionários, a fim de traçarmos as preferências de leitura dos alunos, para que fosse possível escolher a obra literária mais adequada para realizarmos a composição do material didático e a abordagem do texto literário em sala. Com os resultados obtidos, por meio dos questionários, realizamos uma tabulação de dados, para maximizarmos a visualização dos resultados. Com essa tabulação e os gráficos que realizamos, observamos que vários alunos preferem as narrativas de aventura, mas também uma grande parte prefere terror e quadrinhos. Além disso, em outra pergunta, quando questionados sobre como se sentem quando leem um livro, descobrimos que a maioria se sente curiosa para saber o final da 602 história, outros se sentem empolgados com as aventuras que os livros propiciam. No entanto, ao verificarmos com que frequência eles leem, constatamos que grande parte dos entrevistados leem apenas “de vez em quando”. Isso nos motivou a dar sequência ao nosso objetivo de motivá-los a tornar a leitura um hábito Esse nosso cuidado com a pesquisa aconteceu, porque, além da necessidade de técnicas de leitura, que levem o aluno ao real entendimento do texto, Micheletti (2000) afirma, que é preciso ter cautela na escolha do texto literário, pois a leitura tem o poder de aproximar o leitor, como também de afastá-lo, visto que ele pode tratar de uma realidade muito distante do leitor. Posteriormente, refletimos sobre o estudo de Cosson (2012) que norteou nossas ações, para as atividades em sala de aula. Fizemos uso desse autor, porque ele defende a leitura literária embasada nos níveis de leitura. Cosson propõe que o letramento literário pode ser trabalhado a partir da sequência básica “constituída por quatro passos: motivação, introdução, leitura e interpretação” (COSSON, 2012. p. 51). Preparação e aplicação da sequência básica Embasadas na proposta de que o letramento literário pode ocorrer com a realização de uma sequência básica dividida em motivação, introdução, leitura e interpretação, elaboramos estratégias e possíveis atividades pautadas na obra literária Abrindo caminho, de Ana Maria Machado. Nesse livro, a autora apresenta diversas intertextualidades, e, por meio delas, narra sobre diferentes textos literários, autores e personagens históricos, como Dante Alighieri, Carlos Drummond de Andrade, Tom Jobim, Cristovão Colombo, Marco Pólo e Alberto Santos Dumont, mostrando, com isso, diversos caminhos, destinos e realizações que cada personagem teve ou buscou durante sua vida ou em sua obra. A leitura intertextual da obra possibilitou trabalhar interpretações históricas, literárias, assim como fazer relações sociais com a vida cotidiana dos educando, o que instigou o desejo pela leitura. Com o objetivo de realizarmos o letramento literário com os alunos do 6º ano, do Ensino Fundamental II, do Colégio de Aplicação, da Universidade Estadual de Maringá, partimos da primeira etapa apresentada por Cosson (2012), que é a motivação. Assim, nosso trabalho inicial objetiva instigar o leitor a prosseguir com a leitura do texto literário, por meio de recursos lúdicos, que desenvolvam as competências de leitura, escrita e 603 oralidade, levando o leitor a se interessar pela obra discutida. O autor defende a realização de uma aula que desperte o interesse dos alunos pela leitura do texto literário. Sendo assim, para o primeiro momento, elaboramos a atividade exposta a seguir. Para despertar o interesse dos alunos pela leitura, confeccionamos um jogo de tabuleiro. Além dessa finalidade, o jogo teve a função de suprir o conhecimento de mundo prévio necessário, para o entendimento da obra literária proposta, pois, no decorrer dessa dinâmica, os alunos adquiriram informações importantes sobre as várias intertextualidades presentes no livro. Utilizamos cinco tabuleiros, de 90 cm, que foram confeccionados com uma base de papelão e cartolina. A trilha, um longo caminho dividido por diversas casas, foi desenhada sobre a superfície de uma cartolina, colada sobre uma folha de isopor e revestida com contact transparente. Essa trilha foi planejada com “portais”, contendo informações sobre os personagens do jogo que eram apresentadas por cartas retiradas pelos jogadores quando chegassem aos portais. De modo semelhante, ocorria com “casas de desafios”, que instruíam os alunos a executarem atividades relacionadas ao tema da obra, como recitar um poema Drummond ou cantar uma música do Tom Jobim. Além disso, confeccionamos peões utilizados no jogo, que serviram de peças e diferenciavam os jogadores. Esses peões, feitos com impressões coloridas, palitos de sorvete e bases de tampinhas de refrigerantes, representavam os personagens do livro: Carlos Drummond, Dante, Tom Jobim, Santos Dummont, Marco Polo e Cristóvão Colombo. Também confeccionamos 6 cartas com informações sobre cada personagem descrito no livro, 12 cartas com curiosidades desses personagens e 6 cartas com desafios. Todas as cartas foram confeccionadas com folhas de sulfite, mas, as cartas de informações possuíam imagens impressas, de seu respectivo personagem, com informações importantes acerca deles. As cartas de curiosidades contavam com informações básicas e interessantes sobre os personagens. As cartas de desafios trazem atividades como de recitar um poema, lê-lo de na ordem inversa, vestir fantasias, avançar ou retornar algumas casas no tabuleiro. O objetivo das cartas-desafio é tornar o jogo mais dinâmico e divertido, instigando a curiosidade do discente acerca da obra a ser trabalhada na sequência. O jogo se deu da seguinte forma: após jogar os dados, o jogador (aluno) deveria andar as respectivas casas. Assim que o primeiro jogador parasse ou apenas passasse por um portal, ele abriria suas portas e lia o nome do personagem que estava escrito nessa casa. 604 O aluno retirava e lia a carta correspondente a esse personagem. Ao longo do caminho, o jogo contava com outras casas surpresas. Cada vez que alguém parava em uma dessas casas, era preciso retirar uma carta surpresa e lê-la para todos. Em seguida, os alunos cumpriam o que era proposto pela carta. O jogador que conseguisse ultrapassar primeiro a linha de chegada, ganhava um prêmio, um livro, conseguido com doações de sebos e dos próprios alunos participantes do PIBID. No decorrer do jogo, com a sala dividida em cinco grupos, quando os alunos passavam pelos portais, fazíamos algumas questões orais sobre os personagens, por exemplo, perguntávamos se eles já ouviram falar sobre o Dante Alighieri, ou se conheciam alguém com o nome de Dante. Realizamos isso, com a intenção de ajudá-los a inferir o conhecimento prévio, de cada um, no momento do jogo e, posteriormente, da leitura. Assim, para encerrar o encontro, entregamos aos alunos um esquema digitado com todas as informações sobre cada um dos personagens do livro trabalhados no jogo. Segundo Cosson (2012), a etapa da introdução é fundamental para os alunos conhecerem um pouco sobre a vida do autor e sobre a obra: “cabe ao professor falar da obra e da sua importância naquele momento, justificando assim sua escolha” (COSSON, 2012. p. 60). Objetivando fazer uma breve introdução da obra, com acesso ao livro, por parte dos leitores, propomos a divisão da turma em grupos e seguimos à sala de vídeo. Neste local, projetamos a capa do livro no datashow e levamos os alunos a criarem hipóteses sobre o conteúdo do livro, a partir do título. Após estimularmos a imaginação dos alunos, fornecemos informações sobre a autora, a ilustradora e o livro, utilizando slides com informações e fotos. A leitura, terceiro passo da sequência básica, ocorre com a mediação do professor, com aplicação de atividades, no sentido de verificar se os alunos estão compreendendo a obra, se há problemas de decifração, buscando solucionar quaisquer outras dúvidas dos alunos. Nessa etapa, retomamos, brevemente, o que foi trabalhado anteriormente, relembrando as hipóteses que os alunos levantaram e, como o livro não é muito extenso, trabalhamos com sua leitura em sala, com exemplares do livro entre os alunos para que todos eles tivessem contato e manuseassem a obra. Em seguida, os alunos receberam uma cópia impressa para que cada um fizesse sua leitura individual. Ao final disso, apresentamos o livro em slides e fizemos a leitura em voz alta. Durante essa etapa, associamos o texto escrito e as imagens com as informações adquiridas no jogo, pois a leitura não ocorre apenas com a decodificação de textos escritos, 605 mas também com linguagens não verbais, já que há uma forte ligação entre a linguagem das imagens e a escrita. Assim após a leitura, comparamos as hipóteses sugeridas pelos alunos, com as informações que eles apreenderam com a leitura do livro. Como Brandão e Micheletti (2001, p.23) salientam, o discurso artístico precisa de comunicação, num elevado grau de expressividade, em que um eu se expõe e se dirige a um outro em busca de uma resposta, e, para que isso ocorra, o leitor deverá utilizar alguns mecanismos, como a decodificação, a desconstrução, a interpretação e a inferenciação. Assim, oralmente, realizamos uma discussão com os alunos, a fim de verificar o grau de afetividade com a obra, se houve uma associação entre os conteúdos trabalhados na motivação e na introdução com a leitura, e/ou se os alunos acionaram seus conhecimentos prévios para atribuir sentido à obra. As questões que nortearam esse debate oral são as que seguem: “Vocês gostaram da história? O que mais chamou a sua atenção?”; “Vocês já conheciam os personagens? Quais?”; “O livro conta alguma história? Sobre o que/quem o livro trata?”; “Como são as ilustrações: são semelhantes às de desenho animado, de filme, de fotografia? Elas são importantes para se fazer a leitura? Por quê?”. Esse foi um momento importante da abordagem, pois constatamos que, mesmo com tumulto e brincadeiras, no momento do jogo, os alunos acionaram os conhecimentos adquiridos na primeira etapa da sequência básica, o que os levou a compreender as intertextualidades presentes na obra, retomando informações dos personagens fornecidas durante o jogo. Em seguida, entregamos e explicamos aos alunos algumas questões digitadas, para que eles comprovassem a compreensão do texto. As perguntas que elaboramos eram, por exemplo: “Quantos caminhos há na história?”; “Onde cada personagem pretende chegar?”; “Depois de todas as reflexões feitas, responda: você contaria a história do livro da mesma maneira que a autora? Por quê?” e etc. Assim que os alunos terminaram de responder, a atividade foi corrigida oralmente pelo grupo, que comparou as respostas entre eles, concluindo que a atividade teve um resultado positivo, pois os alunos apontaram um olhar de curiosidade acerca do texto literário e demonstraram aprimorar dos seus conhecimentos prévios. Os estudantes tiveram a percepção que os nomes citados na obra Abrindo Caminho faziam parte da história e de sua evolução. Reconheceram em Alberto Santos Dumont o inventor do avião e de vários modelos de balões. Os alunos perceberam que existem obstáculos a serem superados por todos os personagens, mas que todos lutam, 606 persistem e também que todo caminho pode ter um obstáculo, mas que todos são capazes de vencer os obstáculos e atingir seus objetivos. No encontro seguinte, iniciamos a aula com algumas leituras que foram feitas durante o jogo, como o poema No meio do caminho, de Drummond e a música Águas de março, de Tom Jobim. Assim, entregamos o poema escrito e fizemos a leitura silenciosa, depois, pedimos aos alunos que se sentissem a vontade que declamassem a poesia para a turma. Ficamos surpresas com a disposição dos alunos, pois grande parte deles se prontificou para declamar o poema. Posterior a isso, mostramos um vídeo, no qual o poeta Drummond recita seu poema. Em seguida, entregamos a letra da música de Tom Jobim e pedimos, novamente, para que as leituras fossem feitas em silêncio. Depois disso, os alunos assistiram ao vídeo da música, para que, em seguida, todos cantassem juntos. Abordamos novamente a intertextualidade por meio de uma nova leitura do livro, desta vez compassada, mediando oralmente a leitura do texto escrito e a do imagético, e, ao final, entregamos algumas questões que abordavam essas reflexões, por exemplo, a) “O livro que você acabou de ler faz referência a textos escritos por Carlos Drummond e Tom Jobim. Copie do livro “Abrindo Caminhos” os trechos que fazem referência aos textos abaixo: “No meio do caminho tinha uma pedra/Tinha uma pedra no meio do caminho/Tinha uma pedra”, “É pau, é pedra, é o fim do caminho/É um resto de toco, é um pouco sozinho/É um caco de vidro, é a vida, é o sol/É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol” b) “Segundo o dicionário “Aurélio Junior (2012)”, a palavra “pedra” significa “matéria mineral dura e sólida, da natureza das rochas”. No poema de Drummond e na música de Tom Jobim, essa palavra pode ganhar um sentido novo? Qual?” c) “Observe que, no livro “Abrindo Caminhos”, a palavra pedra também aparece. Que sentido ela pode ter?” etc. Durante a elaboração e abordagem do material didático, por se tratar de alunos do 6° ano, algumas inquietações marcaram a proposta. Havia dúvidas sobre o resultado da leitura acerca das intertextualidades propostas nas questões elaboradas, no entanto, para a surpresa de todos, os educandos demonstraram facilidade e responderam com rapidez as questões propostas. O que nos levou a crer que a proposta elaborada foi pertinente para explorar a intertextualidade presente no livro, assim como para a expansão de seus sentidos para o contexto sócio-histórico-ideológico dos leitores discentes. Na sequência, apresentamos as propostas da última etapa da sequência básica, que é a interpretação, que concerne à “parte do entretecimento dos enunciados, que constituem 607 as inferências, para chegar à construção do sentido do texto, dentro de um diálogo que envolve autor, leitor e comunidade” (COSSON, 2012. p. 64). Esse processo se dá em duas etapas. A primeira é a interpretação interior, em que há “o encontro do leitor com a obra” (COSSON, 2012. p. 65), já a segunda é a interpretação exterior, momento em que o leitor irá materializar sua impressão da leitura. Ao considerarmos isso, no final da leitura, entregamos alguns exercícios que levaram os alunos à interpretação. As perguntas usadas para a interpretação interna, a fim de levar o aluno a uma reflexão sobre a história do livro, foram as seguintes: “O que representa para você “abrir caminho”?”; “Qual personagem feminino poderia participar da história?”; “O que é “promessa de vida no seu coração”?”; “Onde você acha que os personagens querem chegar?”; “Com qual personagem do livro você se identificou? Por quê?” e; “Agora que você ampliou seus conhecimentos, como você contaria a história?”. As questões foram realizadas em sala de aula e com a ajuda dos professores, porquanto em algumas perguntas os alunos tiveram dificuldade. A partir dessa percepção estimulamos os estudantes a escrever uma resposta pessoal a essas perguntas, o que demonstrou que muitos alunos conseguiram utilizar a imaginação. Disseram que a promessa de vida é ser feliz, ser “alguém na vida”, que suas mães poderiam ser personagens do livro, e, por fim, ao recontar a história do livro, os alunos escreveram bons textos, o que nos levou à sugestão de que lessem suas produções para a turma, finalizando, assim, a proposta de interpretação interna. Com a finalidade de promover a interpretação exterior, incentivamos os alunos a escreverem uma carta pessoal: “Proposta 1 – Imagine que você tenha se identificado com algum dos personagens do livro e que possa interagir com ele. Escolha um dos personagens e escreva para ele uma carta contando sobre alguém que tenha aberto os caminhos para você. Não se esqueça das principais características presentes na carta: local e data, vocativo, despedida e assinatura. Sua cartinha será exposta na Semana de Integração do CAP, portanto, capriche”. Para realizarmos esse comando, com a ajuda de cada um, escrevemos uma carta à professora, no quadro, assim, eles conheceram a estrutura e as características de uma quarta pessoal. No decorrer da escrita, passávamos em todas as carteiras, para ajudar, observar o andamento da atividade e corrigir os textos. 608 Depois disso, consideramos que, segundo Chiappini (1988), ao realizar as práticas de leitura, é necessário criar, sem resistir à vontade de escrever, representar, compor, desenhar, ou reler, recompor e reinventar. Por essa razão, propomos que cada aluno fizesse um desenho: “Proposta 2 – Faça um desenho que retrate um sonho/desejo que você gostaria de realizar hoje. Abaixo do desenho, explique o significado da imagem e o que ela representa em sua vida. A seguir, escreva quais os caminhos que você deverá seguir para que esse sonho se realize. Os desenhos prontos serão expostos em um varal na sala de aula”. 609 Com a leitura das cartas e a apreciação dos desenhos realizados pelos alunos, notamos que o grande sonho dos alunos é ter uma profissão, passar em uma universidade e estudar para que isso seja alcançado. Percebemos, assim, que estão atentas ao que a sociedade cobra dos indivíduos, como cidadãos. Dessa forma, realizamos nosso percurso didático, com os alunos do 6° ano, do Colégio de Aplicação, da Universidade Estadual de Maringá, e constatamos que, apesar do esforço e trabalho que precisamos empenhar, os resultados obtidos são satisfatórios, pois vimos que uma aula preparada e calcada em um projeto teórico-didático é capaz de atender as expectativas de um ensino literário que dá bons frutos, levando o estudante juvenil a ampliar seus conhecimentos e ser despertado para a leitura literária. Conclusão Durante nosso percurso, para desenvolver o material e a prática didática, com nossas observações e estudos, percebemos que o grande desafio posto à escola é o de romper com as práticas de leitura, que estão enraizadas num processo submetido apenas a mecanismos de decifração, o que torna o ato de ler monótono e distante da realidade dos jovens. Com isso, podemos dizer que a aplicação, o tempo disponível e a nossa dedicação, para que esse trabalho se realizasse, foram de suma importância e devidamente recompensados, porque vimos o resultado nos alunos que participaram de nossa aula. Esse resultado deu-se por meio das respostas das atividades, participações em salas de aula e, acima de tudo, na capacidade de reter informações contidas no jogo, pois isso possibilitou que os alunos conseguissem inferir os conhecimentos adquiridos nos encontros seguintes. Esse rendimento oportunizou uma leitura rica e construtiva da obra Abrindo caminho, de Ana Maria Machado. Acreditamos que essas experiências, oportunizadas pelo sub-projeto PIBID Letras/Português, serão de extrema valia, pois, depois dessas nossas atividades, nos sentimos mais preparadas para a escolha do material teórico, didático e literário, para trabalharmos em sala de aula, além de termos uma visão mais esclarecedora do que é ser um professor. Entretanto, é preciso ressaltar que, ao lidar com a realidade de um professor de escola pública, constatamos que sua carga horária é mais restrita que a oportunizada por nosso projeto de docência. Vale afirmar que, se não tivéssemos o tempo que nos é 610 reservado, para a preparação de aulas, de materiais didáticos, de sequências básicas e etc., é possível que nosso trabalho não fosse concluído. Por fim, apontamos que a recepção e o acolhimento dos alunos foram enriquecedores, eles ficaram satisfeitos e interessados no conteúdo e um “feedback” positivo através da participação ativa em todas as atividades propostas, além de nos surpreender em muita delas. Referências AGUIAR, Vera Teixeira. O caminho dos livros: da biblioteca à comunidade. In: AGUIAR, Vera Teixeira; MARTHA, Alice Aurea Penteado. (Orgs.). Territórios da leitura: da literatura aos leitores. São Paulo: Cultura acadêmica; Assis, SP: ANEP, 2006. p. 255-267. ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro & interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BRANDÃO, Helena H. Nagamine e MICHELETTI, Guaraciaba. Teoria e prática da leitura. In CHIAPPINI, Ligia. Aprender e ensinar com textos didáticos e paradidáticos. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2001. BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). 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