UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA POTENCIALMENTE SIGNIFICATIVA PARA O ENSINO DE FUNÇÕES: PRIMEIROS RELATOS Cauê Roratto [email protected] Clélia Maria Ignatius Nogueira [email protected] Lílian Akemi Kato [email protected] Resumo: A disciplina de Matemática continua a ser um obstáculo na vida de boa parte dos estudantes. O formalismo exagerado e a presença de ideias abstratas podem ser alguns dos causadores de dificuldades. Como tentativa de solucionar essa realidade, baseamo-nos na Teoria da Aprendizagem Significativa, de David Ausubel, para construir uma sequência didática potencialmente significativa para o conteúdo de Funções. Acreditando que uma aprendizagem só se faz significativa mediante os processos de subsunção, adotamos a sequência histórica do conceito para elaborar a nossa sequência didática. Neste artigo, relatamos as primeiras experiências da aplicação da proposta em uma turma de oitava série, de uma escola pública do município de Paranavaí, destacamos os problemas encontrados no processo e, por fim, promovemos uma discussão a respeito do perfil dos estudantes e do perfil de cidadãos que o próprio sistema de ensino está construindo. Palavras-Chave: Aprendizagem Significativa; Funções; História da Matemática. Fundamentação teórica Já não é novidade comentários de que a Matemática é uma matéria difícil e, muitas vezes, a que causa mais dificuldades aos estudantes. Não tiramos a razão dessa afirmação, uma vez que, da forma como é apresentada, ela é rigorosa, formal, essencialmente dedutiva e distante da realidade do aprendiz. De forma incontestável, é muito mais fácil para o professor abordar um conteúdo pela forma dedutiva. Assim, a Matemática já se encontra pronta e lapidada, apresentando uma sequência clara e nítida, restando ao professor apenas repetir a 775 estrutura para os alunos. Entretanto, essa forma menos trabalhosa, repleta de formalismo, obscurece e dificulta o entendimento de quem vê o conteúdo pela primeira vez, forçando-o a crer em algo que não é óbvio e, como consequência, fazendo com que a Matemática assuma um caráter dogmático (RORATTO, 2007). Todavia, a formalização em Matemática é feita posteriormente às suposições, formulação de hipóteses, tentativas e erros, que, finalmente, culminarão em uma equação ou fórmula que descreve certa situação. Epistemologicamente, omitir construções pré-existentes, significa considerar que um novo conhecimento pode apoiar-se sobre o nada, ter um início absoluto e, pedagogicamente, implica em deixar uma lacuna no ensino, em supor que o estudante pode aprender um conhecimento sem ter as ideias básicas necessárias para que essa aprendizagem ocorra. Este é um fator que leva à aprendizagem mecânica, ou, para Ausubel, Novak e Hanesian (1980), à uma aprendizagem memorística. Esses autores defendem que há a necessidade de fundar o ensino de certo conceito em um conceito pré-existente na estrutura cognitiva do aprendiz. Quando isso não acontece, ocorre uma aprendizagem memorística e ele será facilmente esquecido (AUSUBEL, NOVAK, HANESIAN, 1980). Ao contrário, quando ocorre, haverá uma aprendizagem significativa. É nesse sentido, que a ideia de sub-sunção de conceitos é o enfoque principal da Teoria da Aprendizagem Significativa, de David Ausubel. O sistema psicológico humano [...] está construído e funciona de tal forma que se podem aprender e reter novas idéias e informações, de forma significativa e mais eficaz, quando já estão disponíveis conceitos ou proposições adequadamente relevantes e tipicamente mais inclusivos, para desempenharem um papel de subsunção ou fornecerem uma ancoragem ideal as idéias subordinadas (AUSUBEL, 2003, p. 44). Embora Ausubel trabalhe essencialmente com a ideia de sub-sunção, considerando que esta seja um processo de análise ou de diferenciação de conceitos, na qual cada conceito novo, a ser aprendido, parte de um mais geral ou mais inclusivo, ele destaca, também, a possibilidade de existir aprendizagem significativa partindo-se de conceitos mais específicos. Neste caso, os conceitos específicos servem de âncora aos novos conceitos, que são, por sua vez, mais gerais e abrangentes, em um processo de generalização e de síntese. Ausubel (2003) chama esse processo de aprendizagem 776 subordinante. No mesmo sentido, Paulo (2006) nomeia esse processo como sub-sunção superordenada. Existe, ainda, a aprendizagem combinatória, a qual Ausubel (2003) define como um processo intermediário entre as duas acima destacadas. Nesta, “as novas proposições não geram nem uma relação subordinada, nem uma subordinante” (p. 95), mas, sim, uma combinação das duas, com o novo conhecimento resultando da interação de ideias relevantes pré-existentes como um todo. Seja qual for o tipo de aprendizagem, a ancoragem de conceitos é um fator fundamental para a ocorrência de aprendizagem significativa. Fundamental, porém não único. Nesse sentido, Ausubel (2003) aponta três fatores necessários para que a aprendizagem não seja mecânica: • Existência de conhecimento prévio relevante: é necessário que o estudante já tenha uma informação relevante em sua estrutura cognitiva para que esta sirva de âncora aos novos conceitos a serem aprendidos. • Existência de um material potencialmente significativo: o conhecimento a ser aprendido deve ser relevante ao conhecimento prévio, isto é, deve ter alguma ligação, bem como acrescentar informações úteis às ideias âncoras. • Disposição em se aprender significativamente: não é suficiente existirem conhecimentos prévios relevantes e apresentar-se um material potencialmente significativo se o aprendiz não estiver disposto a aprender significativamente. Nesse sentido, é necessário que o aprendiz se disponha a relacionar os novos conhecimentos com aqueles já existentes em sua estrutura cognitiva, de uma forma consciente e não trivial. Com base nos pressupostos teóricos da Aprendizagem Significativa, nos propusemos a desenvolver uma sequência didática potencialmente significativa para o conteúdo de Funções e, para isso, uma das novas tendências em Educação Matemática, 777 qual seja, a História da Matemática, se mostrou capaz de atingir a aprendizagem teorizada por Ausubel. Ao se apresentar a Matemática diretamente pela sua estrutura já formalizada, pode-se dificultar seu aprendizado por parte dos alunos, visto que seu caráter abstrato não é imediatamente captado por estes. Ademais, os Parâmetros Curriculares Nacionais sugerem que é “a partir da observação de casos particulares que as regularidades são desvendadas, as conjecturas e teorias matemáticas são formuladas” (BRASIL, 1998 p. 25), isto é, a Matemática é formulada partindo da observação e dos casos particulares até se chegar à formalização. Iniciar o ensino pela formalização seria alterar a ordem de construção. Chaves e Carvalho (2004) afirmam que é justamente isso que acontece nos livros didáticos ou científicos de Matemática, nos quais a forma como foi descoberta, as noções empíricas e observações de casos particulares são ocultadas, como se não tivessem acontecido. A divulgação do conhecimento matemático produzido é feita em sua forma final, formal, rigorosa e livre de raciocínio intuitivo, como se fosse construída dessa forma dedutiva e desconsiderando que o aspecto histórico do desenvolvimento de um conhecimento pode ser de essencial importância para a sua compreensão. Os zoólogos afirmam que, num breve período, o desenvolvimento do embrião de um animal recapitula a história de seus antepassados de todas as épocas geológicas. Parece que o mesmo se dá no desenvolvimento da mente. A tarefa do educador é fazer a mente da criança passar pelo que seus pais passaram, atravessar rapidamente certos estádios, mas sem omitir um. Para esse fim, a história da ciência deve ser nosso guia (Poincaré, apud Kline, 1976, p. 58). A importância do aspecto histórico para o aprendizado é reconhecida, atualmente, por pesquisadores e professores (MIGUEL E MIORIM, 2004; SOUZA, 2008), constituindo-se, inclusive, em uma das tendências atuais da Educação Matemática. Com isso em mente, elaboramos nossa sequência didática seguindo o desenvolvimento histórico das Funções, partindo de conceitos importantes que surgiram previamente e colaboraram para o seu entendimento e formalização. Esses conceitos são: Relação Qualitativa e Quantitativa de Dependência, Padrões, Variável, Representações Gráficas e Algébricas; os quais, constituíram-se, nessa ordem, como 778 importantes passos até a formalização do conceito de Funções. A proposta foi abordar cada um deles em uma atividade envolvendo diferentes situações-problema, para que, passo a passo, num processo de sub-sunção, os alunos alcancem a formalização final. Para a elaboração da sequência didática, partimos de atividades diretamente ligadas ao cotidiano dos estudantes para o estabelecimento de Relações de Dependência, inicialmente, de forma essencialmente qualitativa. A partir desse conhecimento âncora, por um processo de sub-sunção superordenada, ou aprendizagem subordinante, seguimos com atividades referentes a relações quantitativas de dependência, até chegar ao Reconhecimento de Padrões. Ademais, consideramos que estes atuariam como âncoras para outro conceito, o de Variável. Por fim, atividades de Representação Gráfica, por um processo de aprendizagem combinatória, sintetizariam todos os conceitos trabalhados de forma a culminar na representação algébrica e na formalização do conceito de Funções. Pelo fato da sequência permitir esse processo de subsunção superordenada, em que cada conceito serve de base para o aprendizado do próximo, que, por sua vez, está relacionado com seu precedente de uma maneira não trivial, ela constitui-se em um material potencialmente significativo, segundo a teoria de Ausubel (2003). O presente artigo se propõe a relatar as primeiras experiências na aplicação da sequência didática, destacando, principalmente, os problemas encontrados no processo e buscando relacionar tais problemas com aspectos destacados por Ausubel (2003). Por fim, questionamos o perfil dos estudantes e apresentamos algumas conclusões a respeito das alternativas para o ensino de Matemática brasileiro. Aplicação da sequência didática Iniciamos nossa intervenção em uma turma de oitava série, de uma escola pública, no município de Paranavaí, Paraná. A intervenção prévia, um total de onze encontros, com uma carga-horária de duas horas-aula cada um, seria aplicada em horário escolar, durante as aulas regulares de Matemática. A pedido da professora titular da matéria, as atividades desenvolvidas contariam como atividades normais de aula programadas para o ano letivo, contando, inclusive, como parte da nota trimestral dos estudantes. 779 A turma escolhida era bastante eclética com respeito ao perfil dos estudantes, contando com indivíduos de diferentes classes sociais e diferentes rendimentos escolares. Antes da aplicação, já havíamos sido informados que não era uma turma fácil de trabalhar. Outro aspecto relevante a ser destacado é o fato de o conteúdo de Funções não ter sido estudado anteriormente. Sendo assim, tal conteúdo seria abordado pela primeira vez, com nossa sequência didática. Relatamos, a seguir, os resultados parciais obtidos após quatro desses encontros. Resultados A primeira atividade prévia a ser realizada com a turma foi o estudo de relações de dependência, sendo essas essencialmente qualitativas. Tratava-se de duas situações-problema. Na primeira os alunos responderiam cinco questões relacionadas a uma cadeia alimentar, envolvendo cinco níveis tróficos, e, na segunda, eram oito questões relacionadas ao caminho para o trabalho em uma cidade fictícia. Na primeira, as relações de dependências eram abordadas à medida que a quantidade de indivíduos de determinada espécie era dependente da quantidade de predadores e de presas existentes. De forma geral, os alunos não apresentaram grandes dificuldades, porém, um aspecto merece ser destacado. Mesmo após ter deixado claro para os estudantes que o objetivo das atividades era irmos, passo a passo construindo o conceito matemático de Funções, estes estranharam o contexto da situação-problema proposta, conforme atestam algumas de suas argumentações: “Professor, mas isso é Ciências”; “Não era pra ser aula de Matemática?”; “Cadê as contas?” É possível inferir que a Matemática é entendida essencialmente como uma ciência de números e de contas, reforçando a ideia de que o raciocínio matemático encontra-se em um processo de isolamento dentro da própria disciplina. Alguns estudantes apenas se convenceram de, no fundo, haver uma ideia matemática, pela utilização dos termos mais e menos em frases como “se houver mais alimento, haverá mais indivíduo”, “se houver mais predadores, haverá menos 780 indivíduos”, mostrando a necessidade de alguma quantificação para poder ser considerada uma atividade “de Matemática”. A segunda situação se tratava da escolha do caminho que um trabalhador deveria fazer para ir de casa ao trabalho, de acordo com o mapa da figura abaixo. Essa escolha deveria ser baseada no menor tempo para realizar o trajeto, sabendo que existiam alguns fatores que interfeririam no tempo gasto, como a realização de feiras de artesanato; a grande chance de congestionamento na via expressa em determinados dias da semana; o fato de algumas ruas estarem sujeitas a alagamento; e de não existirem obras nos dias com chuva. De acordo com esses fatores, que eram descritos detalhadamente em um texto de cerca de meia página, anexo à atividade, o estudante deveria especificar o melhor caminho em dias e condições climáticas determinados. O intuito da questão, novamente, era o estudo das relações de dependência qualitativas. Mesmo depois de explicarmos a questão, foram muitos os grupos que alegaram não entender o que era para ser feito. Ficamos surpresos com tal ocorrência, visto que a mesma atividade havia sido aplicada como piloto em uma turma de sétima 781 série e não ocorreu nenhum problema. Compreendemos o motivo de tantas dúvidas quando tentávamos explicar o propósito do exercício a um dos grupos que não o havia entendido. Explicamos o propósito da atividade e destacamos que eles deveriam fornecer o melhor trajeto de acordo com as possibilidades de usar determinadas ruas, de, em certos dias, ter certos problemas que dificultariam o acesso, etc. Foi aí que um dos estudantes perguntou: “mas como que eu vou saber quando acontece cada coisa?”. Pasmos com a pergunta, perguntamos se eles haviam lido o enunciado do problema, o qual dava todas as informações. A resposta foi não. Em outros grupos, os alunos simplesmente grifavam um caminho aleatório na figura do mapa sem levar em consideração nenhum dos fatores estabelecidos no problema. Como se não bastasse a falta de leitura dos enunciados, começaram a surgir comentários de que “dá muito trabalho para descobrir” e, então, começaram a apontar caminhos aleatórios. Acreditávamos que seria uma tarefa, de certa forma, agradável de ser feita, visto que havia ilustrações e baseava-se mais em uma brincadeira do que em um exercício propriamente dito. Entretanto, a preguiça de pensar fez com que grande parte não tivesse êxito na situação-problema. Findada a atividade, procuramos fazer o fechamento, destacando a importância do conceito de relação de dependência e reiterando o fato de ser um conceito presente no nosso cotidiano, à medida que todas as nossas escolhas dependem de algum outro fator. Essa ênfase seria necessária, pois a ideia de dependência se constituiria em importante sub-sunçor no estudo formalizado de Funções, visto que, por exemplo, uma variável muda em dependência de outra. No entanto, tal fechamento foi impossível devido à indisciplina e à falta de interesse da turma. Após essa tentativa de fechamento, demos como tarefa avaliativa de elaboração individual de um mapa conceitual1 do que havia sido estudado na aula. Deveriam construir esse mapa em casa e entregar na aula seguinte. Novamente, retratando a irresponsabilidade e indiferença da turma, recebemos apenas dezesseis mapas de um total de trinta e nove esperados. 1 Os Mapas Conceituais atuaram como instrumento de coleta de dados para futura investigação de indícios de aprendizagem significativa. No implemento da pesquisa, dois encontros foram destinados ao ensino de confecção de Mapas Conceituais, seguindo as propostas do seu criador, Joseph Novak. 782 Desolados com a situação, questionamo-nos sobre o porquê dos principais atores do processo de aprendizagem não terem interesse algum em um ensino diferenciado. A nossa convicção a respeito da necessidade de se criar metodologias de ensino em que os alunos tenham um papel ativo na construção do conhecimento, sem que sejam submetidos a um ensino baseado na reprodução de problemas-tipo, de propor novas formas de avaliações com os mapas conceituais, ficou abalada perante o desinteresse e descaso dos alunos. A teoria, entretanto, veio em nosso socorro, pois, nossa experiência evidenciou um dos critérios estabelecidos por David Ausubel (2003) para o alcance da aprendizagem significativa, qual seja, o de o aprendiz querer aprender significativamente. Em vão serão as tentativas de elaborar materiais potencialmente significativos, de elaborar aulas e avaliações diferenciadas, se não partir do próprio estudante o interesse em aprender significativamente, isto é, de estabelecer relações não triviais entre o conhecimento aprendido e o conhecimento existente em suas estruturas cognitivas. A dificuldade reside no fato de que esse processo exige pensar e o estudante de hoje tem preguiça para tal. Acreditamos que isso possa ser fruto do próprio processo de ensino, que reduz o papel do aluno a apenas reproduzir, sem ter que pensar a respeito do que está fazendo. Ao se deparar com uma situação-problema em que lhe é solicitado ler, investigar e pensar a respeito, o estudante encontra dificuldades e não se sente estimulado a fazer. Outro aspecto relevante que se enquadra como suporte às nossas frustrações, pode ser encontrado também na teoria de Ausubel (2003), qual seja, a questão da linguagem. A linguagem é um importante facilitador da aprendizagem significativa por recepção e pela descoberta. Aumentando-se a manipulação de conceitos de proposições, através das propriedades representacionais das palavras, e aperfeiçoando compreensões subverbais emergentes na aprendizagem por recepção e pela descoberta significativas, clarificam-se tais significados e tornam-se mais precisos e transferíveis. (p. 5). Pela dificuldade de comunicação existente no momento do fechamento das atividades, não houve a explicitação e o destaque dos conceitos trabalhados. Dessa forma, não foi possível rotular, por uma palavra, um conjunto de propriedades aprendidas e, assim, a aprendizagem pode ter se tornado rudimentar, visto que os 783 significados podem não ter se tornados precisos e transferíveis na ausência desse rótulo. Sem esse fechamento das atividades, acabou-se tendo um estilo de aprendizagem por descoberta que, segundo Ausubel (2003), não é a metodologia ideal para se ter uma aprendizagem com significado, pela ausência de uma sistematização adequada dos conceitos construídos. Isto levou à reformulação de hipóteses e de estratégias metodológicas para tentar atender ao critério de Ausubel, qual seja, o de fazer com que os estudantes se disponibilizassem a aprender significativamente. Deste modo, as medidas tomadas foram, desde exercer mais autoridade, até pensar em partes mais expositivas, com resolução de exemplos, como explicações introdutórias, para não deixar os alunos tão soltos em atividades de grupo, visto que Ausubel admite a possibilidade de aprendizagem dessa forma. Como ainda não encerramos a investigação, não podemos afirmar nada a respeito da eficácia da sequência, no que se refere à ocorrência de aprendizagem significativa, porém, mais algumas atividades já foram aplicadas e estamos conseguindo melhor participação e envolvimento dos estudantes. Considerações finais Após as primeiras intervenções na turma de oitava série já tivemos condições de levantar algumas considerações importantes. A primeira delas se refere ao isolamento da Matemática. Aos olhos dos estudantes, essa ciência restringe-se apenas a números, fórmulas e contas, além de, quase sempre, não se relacionar a situações cotidianas. Quando há essa relação, ela aparece, invariavelmente, na forma de uma expressão aritmética ou algébrica. No entanto, a Matemática é mais do que isso, o raciocínio matemático, o ato de pensar sobre algo, de buscar padrões de comportamento, é o um dos aspectos mais belos dessa ciência e é constantemente negligenciado em seu ensino. De fato, desde os anos iniciais, existe uma forte tendência à aritmetização da Matemática, como um estágio prévio ao tratamento algébrico. Em momento algum o ensino da Matemática tem o propósito de desenvolver o ato de pensar, a investigação e a busca de regularidades. Como resultado, ao se depararem, na oitava série, com uma 784 proposta de ensino na qual há a necessidade de ações como essas, acabam tendo pouco ou nenhum sucesso. O próprio ensino, no seu papel de implementar a educação, desenvolve cidadãos com preguiça de pensar, como pudemos perceber na resolução da situação-problema da escolha do caminho para o trabalho, e com falta de espírito investigativo, quando, na mesma situação-problema, sequer se motivaram a ler o texto anexo ao problema para buscar as informações necessárias. O ensino de Matemática, em particular, e a educação brasileira, em geral, forma estudantes cômodos, com pouca iniciativa e arrojo para buscar soluções e que, consequentemente, não desenvolvem a autonomia suficiente para que tenham sucesso numa aprendizagem por descoberta. Provavelmente, essa deficiência não ficará restrita à vida acadêmica do estudante, mas terá desdobramentos em sua vida profissional e social. Acreditamos, então, que ao aplicar desde as séries iniciais um ensino que envolva a participação efetiva do estudante num papel ativo de investigação, no qual seja necessário o ato de pensar e não a penas o de reproduzir, seria possível contribuir para a formação de um perfil de estudantes diferenciado, fazendo com que cheguem à oitava série capazes de ter uma maior curiosidade e um maior espírito investigativo, sem preguiça de pensar e, assim, com um maior índice de sucesso em atividades como a que propusemos. Consequentemente, terão uma maior autonomia e mais condições de aprenderem significativamente. Referências AUSUBEL, D. P.; The Acquisition and Retention of Knowledge: A cognitive view. Tradução de Lígia Teopisto. Lisboa: Plátano Edições Técnicas, 2003. AUSUBEL, D. P ; NOVAK, J. D. ; HANESIAN, H. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Editora Interamericana, 1980. BRASIL. Secretaria de educação fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclo do ensino fundamental. Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998. CHAVES, M. I. A; CARVALHO, H. C. Formalização do conceito de função no Ensino Médio: uma seqüência de ensino aprendizagem. In: ENCONTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA; 8; 2004; Recife, Anais... Disponível em: < www.ufpa.br/npadc/gemm/documentos/docs/Formalizacao%20Conceito%20Funcao%2 0Ensino%20Medio.pdf > Acesso em: 25 de junho de 2008 785 KLINE, M. O fracasso da matemática moderna. Tradução de Leônidas Gontijo de Carvalho. São Paulo: IBRASA, 1976. MIGUEL, A; MIORIM, M, A. História na Educação Matemática: propostas e desafios. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. PAULO, I. J. C. A Aprendizagem Significativa Crítica de Conceitos da Mecânica Quântica Segundo a Interpretação de Copenhagen e o Problema da Diversidade de Propostas de Inserção da Física Moderna e Contemporânea no Ensino Médio. Tese de doutorado. Universidade de Burgos, 235 p. 2006. RORATTO, C. Ensino de Matemática: Para além do formalismo. 2007. 51 p. Trabalho de Conclusão de Curso em Matemática – Universidade Federal de Santa Catarina; Florianópolis – SC. 2007. SOUZA, M. do C. de. O lógico-histórico enquanto perspectiva didática. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO; 14; 2008; Porto Alegre, Anais...; Porto Alegre; PUC – RS; 2008. CD-ROM 786