O que realmente é educar
Marcos Méier*
Antigamente, a função do professor era ensinar. Atualmente, é fazer o aluno aprender. Para
entendermos o processo de ensinar e de aprender, vejamos algumas questões importantes
sobre a aprendizagem: por que nunca esquecemos algumas coisas? Por que esquecemos
coisas importantes? Quando uma aprendizagem é significativa? De que modo o professor pode
ajudar seus alunos a terem aprendizagens significativas?
A resposta para essas perguntas está no trabalho de grandes educadores, como Feuerstein,
Ausubel, Piaget, Vygotsky, entre outros. O docente que conhece esses trabalhos pode se
tornar mais eficiente e mudar seu modo de lecionar. De acordo com Ausubel, uma
aprendizagem é significativa quando o novo conceito se liga, interliga, com outros conceitos já
aprendidos e vivenciados pelo aprendiz. Quanto maior for essa rede de conexões, mais
significativa será a aprendizagem. Por esse motivo precisamos ajudar nossos alunos a
formarem essa rede. É preciso auxiliá-los a perceberem as conexões com outras matérias,
áreas do conhecimento e outras situações. Por exemplo, o aluno que faz na disciplina de
Matemática o gráfico de uma função do primeiro grau e em Física o gráfico do espaço
percorrido em função do tempo precisa reconhecer que a representação é a mesma.
Infelizmente, muitas escolas acabam não aproveitando essas conexões e o aluno acaba
fazendo essa descoberta muito tempo depois. E o acúmulo de aprendizagens sem significado
vai aumentando. Anos depois, o aluno não se lembra de mais nada.
A interdisciplinaridade amplia a aprendizagem significativa. Quanto mais disciplinas estiverem
relacionadas ao conceito aprendido, maior será o grau de significação. Assim, um professor
que continua aprendendo, estudando, lendo e participando de cursos, palestras ou outros
eventos estará mais bem preparado para ajudar seus alunos, pois fará interligações
apropriadas, o que torna os conceitos mais interessantes e compreensíveis.
Além de aumentar o grau de significação dos conceitos, o professor precisa saber como ajudar
o aluno a desenvolver-se integralmente, já que é esse o discurso de todas as escolas. Como
se faz isso? É possível realmente a ajudar o aluno a desenvolver-se cognitivamente, por
exemplo?
A resposta é positiva. Os fatores que mais contribuem para o desenvolvimento cognitivo de
uma criança são a superação de dificuldades, a resolução de problemas e a conquista de
desafios. Cada vez que uma criança supera dificuldades na escola ou na vida, resolve
problemas por conta própria ou conquista por si mesma os desafios que lhe são apresentados,
abre espaço para a construção de novas sinapses no cérebro. Ou seja, ela está desenvolvendo
sua inteligência. Sabendo disso, o professor deve agir para que esse desenvolvimento
aconteça. A postura equivocada de “transmitir informações” sem que o aluno se envolva na
construção do conhecimento não permite o desenvolvimento cognitivo, pois não apresenta
nenhum dos três fatores.
Dessa maneira, ser professor não é ser um facilitador da aprendizagem, mas um dificultador na
dose exata. O professor deve saber desafiar, propor problemas adequados e incentivar a
superação das dificuldades. Isso é ser professor de verdade, um mediador da autonomia dos
alunos. Essa autonomia possibilitará ao aluno seu desenvolvimento nas mais diversas áreas.
Se o professor não for mediador da aprendizagem, estará perdendo tempo com o ensino
baseado em acumulação de informações, o que não ajuda na formação de novas sinapses.
Crianças sem autonomia esperam que a professora decida até mesmo a cor do giz de cera a
ser utilizado no desenho. Dependentes dela, acabam sendo consumidoras de informações, em
vez de gerá-las.
Crianças autônomas são mais felizes, criam, perguntam mais e interagem
umas com as outras com maior qualidade.
A conquista de uma sala de aula em que as crianças se respeitam, gostam de aprender e se
esforçam nas atividades começa com a construção de vínculos afetivos entre a professora e
seus alunos.
As pressões contrárias sempre estarão presentes, mas fazem parte das crescentes
dificuldades que a escola encontra na formação de crianças cujos ambientes de origem, muitas
vezes, não favorecem o desenvolvimento de valores fundamentais humanos.
Que essas dificuldades não nos desanimem, mas sirvam de motivação para vencer os desafios
da nossa profissão e nos revelem a dimensão do papel transformador que temos o privilégio de
exercer na vida das crianças e adolescentes que, por alguma razão, vieram até nós. As
transformações certamente virão na medida em que exercermos nosso papel de educadores
com autoridade, conhecimento e com muito carinho.
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Marcos Méier é mestre em Educação, professor de Matemática, escritor e psicólogo, autor de
vários livros. <www.marcosmeier.com.br>
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