e Teresa Corção. Elsa Maria Stoehr Vieira de Souza colaboração e traduções Celia Maria de Moraes Dias aquarelas Paulo Skroch Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 4 29/06/2011 10:27:56 Elsa Maria Stoehr Vieira de Souza Celia Maria de Moraes Dias 1ª Edição Paraná, 2011 Apoio: Fecomércio-PR | Senac-PR Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 5 29/06/2011 10:27:59 Esta obra está protegida quanto aos direitos autorais e editoriais. A reprodução parcial de seu conteúdo é permitida somente para fins educacionais e culturais, desde que citada a fonte. V657p Vieira de Souza, Elsa Maria Stoehr; Dias, Celia Maria de Moraes. Polenta & Cia. : história e receitas / Elsa Maria Stoehr Vieira de Souza ; Celia Maria de Moraes Dias. – Curitiba: Edição do Autor, 2011. 176 p. : il. color. ; 28 cm ISBN 978-85-912263-0-6 1. História do Brasil. 2. Gastronomia italiana. 3. Polenta – Receitas. I. Título. II. Dias, Celia Maria de Moraes. CDD – 981.62 Coordenação editorial e projeto gráfico: Adalberto Camargo Tradução: Celia Maria de Moraes Dias, Zeli Camargo e Astrea Fontana Aquarelas: Paulo Skroch Revisão: Dirce Stoehr Vieira de Souza, Silvana Seffrin e Vinicius Resende Nader Impresso no Brasil Junho de 2011. Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 6 29/06/2011 10:28:01 SUMÁRIO Sistema Fecomércio Sesc Senac contribuindo com a gastronomia paranaense e brasileira ........13 Da miséria à identidade: a viagem da polenta dos Alpes italianos à serra paranaense .............. 15 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................. 23 CAPÍTULO UM O Paraná acolheu os imigrantes italianos ................................................................................... 27 CAPÍTULO DOIS Os imigrantes na formação do bairro de Santa Felicidade (Curitiba – PR) ............................... 43 CAPÍTULO TRÊS Da hospitalidade familiar aos restaurantes.................................................................................. 67 CAPÍTULO QUATRO A alimentação no Vêneto .............................................................................................................. 77 CAPÍTULO CINCO E os italianos deixam sua influência na alimentação................................................................. 85 CAPÍTULO SEIS A polenta tem uma história, uma longa história......................................................................... 97 RECEITAS...................................................................................................................................... 135 AUTORES ...................................................................................................................................... 168 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 171 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 11 29/06/2011 10:28:10 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 12 29/06/2011 10:28:10 13 Sistema Fecomércio Sesc Senac contribuindo com a gastronomia paranaense e brasileira Há mais de 60 anos, o Senac-PR atua na educação profissional em diversas áreas, dentre as quais a de Alimentos & Bebidas. A cada ano são formados inúmeros profissionais, amantes da “alquimia” dos alimentos que, com dom e competências adquiridas durante os cursos de gastronomia, transformam simples ingredientes em magníficos pratos, que fazem bem para o corpo e para a alma. Na gastronomia brasileira, entre as diversas culinárias, a italiana é uma das que mais se destaca. Chegou ao Brasil com os imigrantes e, seja pelo seu sabor, sua variedade ou mesmo pela simplicidade, conquistou o paladar da maioria da população. A polenta, prato típico italiano, era um dos alimentos consumidos pelos imigrantes que aqui se estabeleceram. Por ser saudável e substanciosa, tinha como objetivo nutrir os trabalhadores que precisavam de vigor para cultivar a terra e, consequentemente, contribuir com o crescimento do país. Hoje esse prato também é utilizado na alta gastronomia, em combinações com variados molhos e servido como acompanhamento de diversas carnes, inclusive peixes. A base da polenta é o milho. Esse cereal, originário da América Central, existente há muitos séculos, ficou conhecido na Europa somente no final do século XV, após a descoberta das Américas. Altamente nutritivo, rico em fibras, sais minerais e vitaminas, é um dos cereais mais aproveitados atualmente. É consumido in natura ou como farinha (o fubá), mas também amplamente utilizado como componente de rações animais, muitos antibióticos e xaropes, produtos industrializados como plásticos, tintas, inseticidas, óleos, margarinas, cosméticos, produtos de higiene pessoal, biocombustíveis, entre tantos outros produtos. Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 13 29/06/2011 10:28:11 14 O milho adapta-se facilmente a solos e climas diversos, podendo ser encontrado em grande escala em todos os continentes. O Brasil está entre os maiores produtores no mundo e a maior parte de sua produção está concentrada no estado do Paraná. Por esse motivo, é imprescindível que seja cada vez mais difundido e destacado como um produto regional fundamental para o desenvolvimento socioeconômico do estado e do país. O livro Polenta & Companhia aborda esse assunto e contribuirá imensamente com o aprofundamento de estudos e pesquisas por alunos e interessados em turismo, gastronomia e cultura italiana, pois estará disponível nas bibliotecas dos Centros de Educação Profissional do Senac no Paraná e nas bibliotecas dos Departamentos Regionais do Senac em todo o país. Aproveitando que 2011 é o ano da Itália no Brasil, o Sistema Fecomércio Sesc Senac sente-se honrado em fazer parte desta obra literária que, através das palavras escritas com fundamento técnico e das, além de belíssimas, importantes gravuras, conseguiu retratar a história e a relevância que a polenta teve e tem, seja direta ou indiretamente, na vida de muitas pessoas. Darci Piana Presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac Paraná Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 14 29/06/2011 10:28:11 15 Da miséria à identidade: a viagem da polenta dos Alpes italianos à serra paranaense Renzo M. Grosselli* Tradução de Celia Maria de Moraes Dias A polenta como um símbolo da hospitalidade, hospitalidade ítalo-brasileira, escrevem Elsa Maria Vieira de Souza e Celia Maria de Moraes Dias em seu precioso estudo Polenta & Cia. A hospitalidade que não poderia ser oferecida naquelas regiões italianas (ou como em nosso Trentino, austríaco, de língua italiana) que, na segunda metade do século XIX, viram partir para a América centenas de milhares de seus filhos, porque lá, se não havia propriamente fome generalizada, havia pelo menos escassez, escassez de alimentos. A miséria. Miséria que fazia aparecer sobre as mesas dos camponeses e montanheses a polenta em todas as refeições e, em certos períodos e em certas áreas, ser o único alimento, e certamente não havia espaço para uma boca a mais, aquela de um hóspede eventual. Mas esta é, talvez, a única diferença, ou, pelo menos, a mais macroscópica, entre os dois lados do Atlântico, entre o Paraná e as regiões italianas como Vêneto, Trentino, Piemonte, Lombardia e Friuli, de onde veio a maioria dos seus imigrantes italianos. Porque, se é verdade que, como dizem Elsa Maria e Celia Maria, a polenta representa, para os ítalo-brasileiros do Paraná e do sul do Brasil, um elemento de identidade cultural, continua também a representá-lo nos Alpes italianos. Embora, nos dois casos, com uma presença quantitativamente muito menor nas mesas de hoje comparativamente às de mais de um século atrás, e às vezes com modalidades de preparo diferentes daquele tempo. Quando hoje se fala de cozinha italiana, se pensa em uma quantidade e uma qualidade extraordinária de pratos, expressão também de uma variedade igualmente extraordinária de tradições regionais, às vezes até mesmo apenas de um vale ou, então, de um pequeno povoado. Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 15 29/06/2011 10:28:11 16 Mas todos aparentemente unidos e encabeçados por um prato que é mais importante do que os outros, a pasta (macarrão), nas suas mil e uma maneiras de ser preparada. Se alguma coisa mais é necessária, eventualmente, o pão e o vinho. Mas a pasta ou, melhor ainda, a pastasciutta (o macarrão), cozida em água e sal, depois então temperada com um molho (sugo), não era amplamente consumida senão na região de Nápoles, até o final do século XIX.1 E o pão de trigo, embora presente desde sempre nas mesas italianas, no Norte e especialmente na região alpina, era consumido com moderação, especialmente pelas famílias mais abastadas (ou menos pobres), apenas em certas ocasiões especiais. Alimento especial, tanto que a panada, ou seja, a sopa de pão, era um alimento que, nos Alpes, era destinado especialmente às mulheres grávidas, considerado particularmente como nutritivo e, portanto, adequado para fortificar após a confirmação da maternidade. O pão de trigo, que era também conhecido como pão branco, tinha também na cultura dos Alpes italianos a conotação de símbolo. Assim, em diversas áreas (no Primiero Trentino e no Feltrino Veneto, por exemplo), a mulher que havia parido, assim que se levantava do leito e recuperava a saúde, saía pela estrada e oferecia uma man di pan (literalmente, uma mão de pão) ao primeiro transeunte que encontrasse. Nos Alpes, entre o século XVIII e as primeiras décadas do século XX, o pão branco não era um alimento étnico. O vinho, este sim, era um alimento étnico na Itália, da Sicília ao Piemonte, da Puglia ao Trentino. Desde os tempos da Magna Grécia até a romanidade, passando pela Etrúria. Os italianos, que cruzaram o Atlântico em viagem ao Brasil, a partir de 1870, trouxeram as videiras para as colônias do Sul e do Espírito Santo e para as fazendas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Juntamente com os ovos do bicho-da-seda, que as mulheres transportavam em lenços aquecidos, sob as axilas, ou dentro do corpete que protegia seus seios. Por muitas vezes, aqueles colonos italianos afogaram suas dores, ou exaltaram suas alegrias americanas com um copo (ou dois, ou mesmo três ou mais) de vinho. Nos Alpes, contudo, mesmo nas altitudes onde a vinha frutificava, até mesmo o vinho escasseava para as famílias nos anos difíceis da “grande emigração”. Tanto que era comum o uso daquilo que foi chamado, dependendo da região, de segundo vinho, ou até mesmo vinèla e acquaròl. Para fazer isso, ao bagaço de uva obtido após a primeira prensagem e vinificação se adicionava uma grande quantidade de água, para obter um produto ligeiramente colorido, acidulado, que rapidamente azedava. 1. S. Serventi e F. Sabban, La pasta: storia e cultura di un cibo universale, 2000. Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 16 29/06/2011 10:28:12 21 *Renzo Maria Grosselli nasceu em Trento (Itália), em janeiro de 1952. Graduou-se em Sociologia em Trento e fez doutorado em história pela PUC de Porto Alegre. Tem três filhos. Estudioso dos fluxos migratórios italianos, viveu vários anos no Brasil, onde estudou a fundo os processos de imigração italiana nos estados de, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo e São Paulo. Durante décadas se especializou em história oral e tem quase mil horas de registros sonoros de histórias de vida. Diversos aspectos da cultura popular tradicional, sobre os quais escreveu, e, entre eles, as máquinas geradas a água, na tradição camponesa, a culinária popular dos Alpes e o nascimento do turismo na região alpina. Também publicou um romance e três volumes de poesia. Entre as obras sobre a emigração italiana para o Brasil, tem a quadrilogia Camponeses trentinos (venezianos e lombardos) nas florestas brasileiras. O primeiro, Ganhar ou morrer, e o segundo, Colônias imperiais na terra do café, foram traduzidos e publicados no Brasil (o primeiro, com edição da Universidade Federal de Santa Catarina; e o segundo, em duas edições, uma das quais do Senado Federal da República Brasileira e outra do Arquivo Público Estadual do Espírito Santo). Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 21 29/06/2011 10:28:14 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 22 29/06/2011 10:28:14 23 INTRODUÇÃO Este livro aconteceu, caiu em nossas mãos, sem que a gente percebesse. Veio como um presente na busca dos sentidos da hospitalidade. O primeiro trabalho foi resultado de uma pesquisa de mestrado em Turismo e Hotelaria na Universidade do Vale do Itajaí – Univali, em 2005, quando, na busca da hospitalidade, fomos averiguar quais as condições que fizeram o bairro de Santa Felicidade, na cidade de Curitiba, resultar no sucesso com os seus restaurantes. Estes são conhecidos nacional e internacionalmente por sua cozinha baseada em uma gastronomia étnica legada pelos imigrantes norte-italianos, principalmente vênetos, que constituíram a formação desse bairro, inicialmente uma colônia de imigrantes. Nesse percurso, encontramos na polenta o símbolo principal dessa hospitalidade, o fio condutor da história vitoriosa dos imigrantes que, pela fome, deixaram sua terra, a terra mãe, o seu país, na busca de melhores dias. O resultado foi a dissertação Santa Felicidade: na polenta, uma história de hospitalidade, cuja orientadora, a professora doutora Roselys Isabel Correa dos Santos, que cedo nos deixou, foi a primeira grande incentivadora. Graduada em História pela Universidade Federal de Santa Catarina, com doutorado em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – USP, a professora Roselys escreveu o livro A imigração italiana no Vale do Itajaí-Mirim e foi professora do curso de Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí. A seguir, Nina Horta, articulista do jornal Folha de S. Paulo com a coluna Comida e leitora incansável, foi outra grande incentivadora desse trabalho. Ela publicou com entusiasmo o artigo “A Polenta da Santa Felicidade”, que fez com que acreditássemos na possibilidade de uma publicação. Para somar e o resultado final acontecer, vieram outros nomes. Um deles é o da professora doutora Celia Maria de Moraes Dias, docente do curso de Turismo da Escola de Comunicações Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 23 29/06/2011 10:28:18 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 28 29/06/2011 10:28:20 29 Pode-se dizer que a verdadeira história desse prato chega até nós, brasileiros do sul, e mesmo do sudeste, nos tempos em que éramos conhecidos como americanos (os brasileiros não se distinguiam dos argentinos, ou dos norte-americanos, tudo era apenas América), quando éramos, então, conhecidos como possuidores de uma terra da fartura, a terra da Cocagna, do Éden, do paraíso terrestre, por esses europeus. No caso em pauta estudado, eram os italianos do norte que chegavam. A história da polenta deste livro se dá com a chegada dos imigrantes em solo brasileiro, contada tendo como base a hospitalidade da terra e da gente brasileira e na forma com que se constituiu o bairro de Santa Felicidade no acolhimento a viajantes e curitibanos, por meio de sua cozinha étnica, transformada em fenômeno nacional. Curitiba, a cidade onde se encontra o bairro citado, é a capital do Paraná. Inicialmente, as terras que hoje compreendem esse estado faziam parte da província de São Paulo, motivo que o levou ao isolamento por muito tempo, a altos impostos e poucos benefícios. Apenas em dezembro de 1853, após muitos esforços, o Paraná tornou-se uma província independente, tendo sido Zacarias de Góes e Vasconcelos seu primeiro presidente. A vegetação da região era formada pela mata de araucária, que cobria parte das terras do planalto meridional de São Paulo até o Rio Grande do Sul, principalmente pela araucaria angustifolia (ou pinheiro-do-paraná), a imbuia, a caviúna, a guabiroba, entre outros tipos de árvores como a erva-mate, além de gramíneas. Essas araucárias, que enchiam o solo paranaense, e com as quais os imigrantes desta história se assustaram quando aqui aportaram, devido ao seu tamanho colossal, hoje estão ameaçadas de extinção. A cidade foi fundada em 29 de março de 1693, com o nome de Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. O nome Curitiba – Core-etuba (que em guarani significa “muito pinhão”) – foi oficializado em 1698. A primeira sede de Curitiba, uma pequena povoação de nome Vilinha, deu-se às margens do rio Atuba. Por ser muito úmido, mais tarde foi escolhido um novo local, elevado, seco, próximo aos rios Ivo e Belém. Quando os europeus chegaram ao interior do Paraná, em meados do século XVI, encontraram uma rede de caminhos denominada Peabiru, aberta possivelmente pelos índios guaranis na era pré-cabralina. Tratava-se de uma rota continental que ligava o Oceano Atlântico ao Pacífico. O tronco principal saía de São Vicente – SP e entrava nas terras paranaenses pelo Vale do Assungui, Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 29 29/06/2011 10:28:26 48 Ora, o camponês já era um emigrante em suas terras, pois deixava sua casa para procurar ocupação e conseguir trazer uma alimentação básica para o seu núcleo familiar, quando em seu espaço isso não era mais possível. Aliado às propagandas emigratórias que prometiam uma América de terras de fartura, esse foi o motivo que propiciou o grande êxodo e trouxe milhares de italianos com o intuito de reconstruir suas vidas no continente americano. Nos passaportes, não eram diferenciados os Estados Unidos da Argentina, da Venezuela ou do Brasil. O destino era o mesmo: América. Essa América era vista como possibilidade de mudança radical e para melhor dentre as desgraças cotidianas vivenciadas pela população camponesa. Esse êxodo foi como uma obsessão, uma doença que a todos alastrava, que acometeu metade da população trentina. [...] via passar pela estrada diante de minha casa carroças carregadas de gente, famílias inteiras, com utensílio de casa e de trabalho, e eu perguntava curioso para onde iam e me respondiam: i va in Merica. (PELLIZZETTI, 1981, p. 45) Nas canções populares italianas, percebe-se que a América aparecia como fator determinante na solução da vida miserável que levavam. Apontava para um futuro no qual seus valores não seriam dissolvidos com a nova ordem econômica. Poderiam prosseguir dentro das concepções de uma organização social vivida e aceita por todos sem questionamento. Canto popular dos emigrados vênetos (Autor: Angelo Giusti – 1875) Da Itália nós partimos Partimos com nossa honra Trinta e seis dias de máquina e vapor, e na América chegamos. América, América, América, o que será esta América? América, América, América, um belo ramalhete de flores. E na América chegamos não encontramos nem palha e nem feno Temos dormido no terreno nu, como os animais descansamos. Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 48 29/06/2011 10:28:52 49 América, América, América, o que será esta América? América, América, América, um belo ramalhete de flores. E a América é longa e larga, é rodeada por montes e planícies, e com a indústria dos nossos italianos formamos países e cidades. América, América, América, o que será esta América? América, América, América, um belo ramalhete de flores. América, América, América, o que será esta América? América, América, América, um belo ramalhete de flores. A nova onda era que do outro lado do mar existiam terras e de fácil acesso. Os cânticos agora prometiam que os donos de terras é que iam ter que pegar na enxada, eles seriam os novos proprietários, sem a necessidade de se quebrar a harmonia interna da sociedade camponesa. O mito da cocanha (“cuccagna – país imaginário da fortuna fácil”27) era uma febre e um sonho a ser alcançado. Diante, portanto, de tão brusca conjuntura, que não lhes poupava o direito à subsistência, qualquer aceno a estes segmentos da população, que lhes projetasse um mundo um pouco menos cruel, era a representação de um paraíso e, por que não, o mítico Paese di Cuccagna. (SANTOS, 1999, p. 135) Segundo Santos, o mito da cocanha já fazia parte do imaginário popular europeu, que consagrava a América e o Brasil como o Novo Mundo. Foi fácil para os propagandistas, que lucraram com a emigração, difundir que o melhor para todo mundo era atravessar o oceano: além-mar estavam as terras de farturas, o Éden prometido, o paraíso terrestre. E, ainda conforme a historiadora Roselys Santos28, a partir desse mito os excedentes populacionais do norte italiano, a grande massa de gente, de gente pobre, de miseráveis, de gente com fome, de gente que sonhava com a terra do sonho, com a terra da fartura, com a terra da promessa, foi explorada pelos 27. R. I. C. ..., p. 92. 28. R. I. C. Santos, A terra..., p. 144. Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 49 29/06/2011 10:28:53 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 60 29/06/2011 10:29:18 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 61 29/06/2011 10:29:29 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 64 29/06/2011 10:29:36 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 65 29/06/2011 10:29:46 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 72 29/06/2011 10:30:05 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 73 29/06/2011 10:30:15 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 82 29/06/2011 10:30:23 77 CAPÍTULO QUATRO A alimentação no Vêneto Pode-se dizer que o fio condutor dessa história é a polenta. Quando os vênetos saem em busca de uma vida melhor, fica claro que essa procura seria antes de tudo por comida, antes mesmo da necessidade de se ter um pedaço de terra para plantar. A fome e a miséria foram fatores de expulsão dessa população, muito mais fortes do que os fatores de atração que levaram metade dessa população itálica a emigrar para a América. O fenômeno migratório interno já era uma prática comum na Itália, principalmente em regiões de montanhas e colinas de plantio difícil, nas quais as condições climáticas impediam ainda mais o cultivo para a subsistência das famílias. Procuravam, então, outras regiões italianas ou países como a França e a Alemanha para trabalhar como artesãos. O fenômeno da imigração sazonal era conhecido há séculos nas regiões montanhosas da Europa: os colonos deixavam suas casas nos períodos de entressafra e se alojavam a centenas e às vezes a milhares de quilômetros de distância, oferecendo sua variada mão de obra (pois o camponês daqueles tempos sabia defender-se como pedreiro, marceneiro, ferreiro ou sapateiro, já que ele devia saber atender a todas as necessidades dos familiares). Ou entregando os campos às mulheres e aos filhos menores, que ofereciam o seu trabalho a outros camponeses. E ainda se impunham o trabalho de vendedor ambulante ou contador de histórias. (GROSSELLI, 1989, p. 19) O sistema capitalista de produção e seu desenvolvimento na Europa e a vontade de manter a cultura camponesa a que estavam habituados foram causas conjunturais que explicam o fenômeno do êxodo. A crise econômica levou a sociedade alpina a uma crise social. A transformação capitalista exigia uma produção maior com tecnologia diferenciada, que os vênetos não podiam oferecer. A superpopulação foi característica desse século no continente europeu.47 O morador dos 47. Já na época o Vêneto possuía 1 milhão de habitantes, diminuindo para 500 mil na baixa Idade Média, crescendo novamente para 1 milhão no século XIV, e depois rapidamente aumentando para 1,7 bilhão por volta de 1770, 2,145 bilhões em 1842, 2,5 bilhões por volta de 1901 e cerca de 3,8 bilhões em 1951, com a densidade de 213 habitantes por quilômetro quadrado. (BALHANA, 1958, p. 34) Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 77 29/06/2011 10:30:21 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 91 29/06/2011 10:30:37 92 Partindo da hipótese de ser a polenta talvez um símbolo de hospitalidade familiar no decorrer de seu itinerário na história das culturas, a seguir fomos no encalço da origem desse alimento, que hoje também é símbolo de hospitalidade comercial no bairro de Santa Felicidade. Atualmente, imaginar cozinhar a polenta como nas descrições anteriores não é nada romântico. Mas, nas entrevistas realizadas com as mulheres, essas nos contavam que ficavam todas à beira dessa lareira, no inverno ou no verão, lembrando que a polenta era degustada diariamente, estavam sempre com mangas compridas, claro, para não serem queimadas, pois a polenta, no seu cozimento, espirrava e queimava o braço da cozinheira ou do cozinheiro, mas geralmente eram as mulheres, as mammas ou nonas da família. E para amparar essa panela, que era pendurada em correntes no teto e ficava solta, a cozinheira utilizava um pedaço de madeira e, com o joelho, escorava a panela. Durante 40 minutos ou até 1 hora, ficava misturando a massa de cozimento numa posição nada confortável, até o pleno cozimento da polenta. Conforme as anotações de Altiva Balhana, a alimentação cotidiana era iniciada da seguinte forma, há 50 anos: O magnare del matino acontecia pelas seis horas da manhã. Nessa refeição matinal, comem fatias de polenta torrada com vinho ou café, que, conforme já citado, o café começa a substituir o vinho. A segunda refeição, entre 9 horas e 9h30min a colazion, geralmente consta de algumas fatia de polenta torrada, ovos fritos ou linguiça, com o vinho ou café. Algumas vezes consiste apenas em um pedaço de pão com salame, ainda com vinho ou café. O almoço, desinare, ao meio-dia, consta sempre de uma sopa minestra, que tem por base, via de regra, o arroz acompanhado por alguma verdura, ou mais raramente pela carne. São múltiplas as variedades de sopas: arroz com ervilhas, risi e bisi; arroz com salsichas, risi e luaneghe; arroz e fígado, risi e fegatine; além dos risotos. Para completar a polenta, ovos, salame ou carne de porco, sempre acompanhados do vinho. Como lanche da tarde, marenda, às 15 horas, café com polenta torrada ou pão. Interessante que no sul, o lanche da tarde que as crianças levam ou recebem do estado para e/ou nas escolas são chamadas de merenda ainda hoje. O jantar é a segunda principal refeição e era geralmente servido às 19 horas, a cena. Nele, comem polenta e uma salada, e esta na maioria das vezes é condimentada com toucinho derretido e vinagre de vinho. O jantar é completado com ovos ou salame, e tomam vinho ou café. (BALHANA, 1958, p. 109-110) Nos restaurantes de Santa Felicidade, assim como no interior das casas, é servida até em nossos dias a salada de radicci da forma descrita acima, temperada com vinagre de vinho tinto e com toucinho ou bacon fritos. Se bem que, nos restaurantes, a gente já encontra hoje a salada com a alface americana. Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 92 29/06/2011 10:30:40 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 98 29/06/2011 10:30:43 97 CAPÍTULO SEIS A polenta tem uma história, uma longa história Este capítulo foi escrito com a parceria e traduções de Celia Maria de Moraes Dias É certo que cada povo escolhe, de acordo com as possibilidades da natureza ao seu redor, uma comida que vai lhe servir de base alimentar. Na Ásia, é amplamente disseminado o arroz, tanto que, na antiga China, o cumprimento diário, como o nosso “Bom dia!”, era algo semelhante a “Você comeu arroz hoje?”. No Japão, gohan (arroz) é usado como sinônimo de comida, com significado similar ao do pão para os ocidentais. O pão, feito de trigo, o primeiro cereal utilizado pelo homem, representa o alimento para o corpo, mas tem também significados mais profundos, ligados à alma e à religião, estando presente na Bíblia, assim como é também utilizado simbolicamente, nas cerimônias dos judeus. Os indígenas da América pré-colombiana contribuíram com a batata (que deveria chamar-se americana e não inglesa), o milho e a mandioca, oferecendo esses importantes suprimentos para o combate das carências alimentícias do mundo. Na América espanhola, o milho era o elemento mais presente entre os incas, astecas e maias, tanto na base alimentar, entrando na composição da maior parte dos pratos, como nas crenças e oferendas aos deuses. O Códice Fiorentino mostra a existência de diversos deuses do milho. No Brasil, embora também houvesse o milho, a base alimentar dos nativos era a mandioca, como se vê nos escritos do próprio Caminha. Couto62 explica quem eram e do que se alimentavam os indígenas com quem os portugueses se depararam no primeiro encontro. Eram os tupiniquins, grupo tribal pertencente ao ramo tupi, 62. J. Couto, A gente da terra, p. 8-22. Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 97 29/06/2011 10:30:42 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 122 29/06/2011 10:31:28 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 123 29/06/2011 10:31:39 124 La bela polenta Sergio de Rosa Versão em dialeto vêneto Quando si pianta la bela polenta, la bela polenta si pianta così, si pianta così, si pianta così. Bela polenta così. Cia cia pum, cia cia pum. Cia cia pum, cia cia pum. Quando la cresce la bela polenta, la bela polenta la cresce così, si pianta così, la cresce così. Bela polenta così. Cia cia pum, cia cia pum, Cia cia pum, cia cia pum. Quando fiorisce la bela polenta, la bela polenta fiorisce così, si pianta così, la cresce così, fiorisce così. Bela polenta così. Cia cia pum, cia cia pum. Cia cia pum, cia cia pum. Quando si smissia la bela polenta, la bela polenta si smissia così, si pianta così, la cresce così, fiorisce così, si smissia così. Bela polenta così. Cia cia pum, cia cia pum. Cia cia pum, cia cia pum. Quando si taia la bela polenta, la bela polenta si taia così, si pianta così, la cresce così, fiorisce così, si smissia così, si taia così. Bela polenta così. Cia cia pum, cia cia pum. Cia cia pum, cia cia pum. Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 124 Quando si mangia la bela polenta, la bela polenta si mangia così, si pianta così, la cresce così, fiorisce così, si smissia così, si taia così, si mangia così. Bela polenta così. Cia cia pum, cia cia pum. Cia cia pum, cia cia pum. Quando si gusta la bela polenta, la bela polenta si gusta così, si pianta così, la cresce così, fiorisce così, si smissia così, si taia così, si mangia così, si gusta così. Bela polenta così. Cia cia pum, cia cia pum. Cia cia pum, cia cia pum. Quando fenisce la bela polenta, la bela polenta fenisce così, si pianta così, la cresce così, fiorisce così, si smiscia così, si taia così, si mangia così, si gusta così, fenisce così. Bela polenta così. Cia cia pum, cia cia pum. Cia cia pum, cia cia pum. 29/06/2011 10:31:21 125 Versão em português Quando se planta la bela polenta, la bela polenta, se planta cosi, se planta cosi. Refrão Oh! Oh! Oh! Bela polenta cosi. Tcha tcha pum, tcha tcha pum. Tcha tcha pum, tcha tcha pum. Quando se cresce la bela polenta, la bela polenta, se cresce cosi, se planta cosi, se cresce cosi. (Refrão) Quando se flora la bela polenta, la bela polenta, se flora cosi, se planta cosi, se cresce cosi, se flora cosi. (Refrão) Quando se talha la bela polenta, la bela polenta, se talha cosi, se planta cosi, se cresce cosi, se flora cosi, se talha cosi. (Refrão) Quando se moe la bela polenta, la bela polenta, se moe cosi, e planta cosi, se cresce cosi, se flora cosi, se talha cosi, se moe cosi. (Refrão) Quando cose la bela polenta, la bela polenta, se cose cosi, se planta cosi, se cresce cosi, se flora cosi, se talha cosi, se moe cosi, se cose cosi. (Refrão) Quando se manja la bela polenta, la bela polenta, se manja cosi, se planta cosi, se cresce cosi, se flora cosi, se talha cosi, se moe cosi, se cose cosi, se manja cosi. (Refrão) Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 125 Quando se gusta la bela polenta, la bela polenta, se gusta cosi, se planta cosi, se cresce cosi, se flora cosi, se talha cosi, se moe cosi, se cose cosi, se manja cosi, se gusta cosi. (Refrão) Quando se enche la bela paciência, la bela paciência, se perde cosi, se planta cosi, se cresce cosi, se flora cosi, se talha cosi, se moe cosi, se cose cosi, se manja cosi, se gusta cosi. Oh! Oh! Oh! Bela polenta cosi! Tcha tcha pum, tcha tcha pum. Tcha tcha pum, tcha tcha pum. 29/06/2011 10:31:22 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 128 29/06/2011 10:31:23 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 129 29/06/2011 10:31:33 130 Os prazeres orais estão mais relacionados ao amor do que à sexualidade. Estão associados a muitas de nossas melhores lembranças infantis. Nos lembramos de nossas avós ou mães passando longas e trabalhosas horas na cozinha; estavam alegres e um tanto inquietas, como que antecipando o prazer que sentiriam ao ouvir as exclamações de prazer esperadas para breve. Ela termina sua introdução com uma frase de Isabel Allende: “O prazer de um sabor centrase no céu da boca, embora com frequência não comece ali, mas na lembrança.” Desejando a vocês, leitores, ótimas oportunidades de compartilhar essas receitas, oferecemos dois ditados italianos, muito representativos do valor central do alimento para esse povo: Mangia, che te fa bene! A tavola non s’invecchia! Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 130 29/06/2011 10:31:36 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 131 29/06/2011 10:31:42 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 132 29/06/2011 10:31:44 R ECEITAS Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 133 29/06/2011 10:31:55 134 134 Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 134 29/06/2011 10:32:01 135 RECEITAS Encerramos nossa conversa com as receitas. Oportuno buscar uma citação de Zélia Gattai, e, depois, com a receita de seu molho, que recomendamos. Ambas, receita e citação, são do livro Città di Roma. Em tempo, ela também era descendente, segunda geração, de italianos. “Como esquecer a polenta saída do fogo, virada sobre uma tábua, cortada com um fio de linha, queijo derretendo sobre as fatias douradas tinindo de quentes, fumegantes... E o radichio refogado no azeite de oliva e alho frito? Eu adorava a chicória amarga,o dito radichio...”89 Agora, o molho que, segundo Zélia Gattai, foi trazido da Itália por Dealma, que fora ajudante de cozinha do rei Vittorio Emmanuelle. Serve para acompanhar a macarronada de quinta-feira ou de domingo, o espaguete, o talharim, a lasanha, o nhoque, o ravióli, o canelone, o risoto... ou a polenta. Para o molho Um bom peso de carne – lagarto ou coxão duro – temperado com sal e pimenta do reino, alho, louro, alecrim, toucinho defumado introduzido na carne e vinagre. Nessa vinha d’alhos, quanto mais tempo a carne ficar, melhor. Depois de corada, em óleo bem quente, cobre-se a carne com muito tempero: cebola, alho, salsa, cebolinha verde, alho-poró, cenoura e salsão, tudo moído. Somente depois de bem refogado, junta-se uma generosa colher de extrato de tomate e, depois, muito tomate, bem maduro, pelado e sem sementes. Cobrem-se a carne e temperos com água fervendo e deixa-se cozinhar em fogo brando, durante algumas horas, até a carne amolecer. Lá em casa, quando o molho era destinado ao risoto, não podia faltar uma casca de limão e, se houvesse, funghi secchi, aí sim, verdadeiro sucesso! A carne, cortada em fatias, macias, de desmanchar, deve ser acompanhada de salada de alface, chicória amarga, almeirão de folha larga ou agrião. Não precisa mais nada. Como estamos em tempos de micro-ondas, apresentamos também uma receita muito fácil do livro de Nina Horta, Não é sopa. Nesse caso da polenta, o micro-ondas vem ajudar para que não ocorra o esquecimento do prato pela dificuldade e demora do cozimento. 89. Z. Gattai, Cittá di Roma , p. 36-58. Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 135 29/06/2011 10:32:10 168 AUTORES Celia Maria de Moraes Dias Celia Maria de Moraes Dias concluiu o doutorado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Na mesma instituição, cursou e concluiu o mestrado, a graduação em Turismo e a graduação em Comunicação Social – Relações Públicas. Atualmente é professora doutora – MS-3, em RDIDP, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde ingressou como docente em 1981. Ministra as disciplinas Introdução à Hospitalidade, Meios de Hospedagem e Turismo e Relações Interpessoais, da graduação em Turismo. A partir de 2001, passou a integrar o grupo de pesquisadores que criou o Programa de Mestrado em Hospitalidade, da Universidade Anhembi Morumbi – SP, tendo escrito um capítulo e organizado, em obra conjunta, o primeiro livro sobre o tema hospitalidade no Brasil, publicado pela Editora Manole. Foi professora convidada do Programa de Mestrado em Turismo e Hotelaria, da Univali – SC, entre 1998 e 2006, tendo orientado, nessa instituição e na UAM, mais de 22 dissertações de mestrado. Organizou, coordenou e participou de diversos eventos/viagens internacionais de trabalho e estudo, na área de gestão de negócios, junto ao INSEAD – Institut Européen d’Administration des Affaires, em Fontainebleau, França; junto à USC – University of Southern Califórnia, nos Estados Unidos; e junto ao Japan Productivity Center, em Tóquio, Japão. No ano de 2010 esteve no Japão, participando de um programa de mobilidade docente, ministrando, junto à Kyoto University of Foreign Studies, aulas de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira. Seus dois lemas de vida, ou “missões”, são: “A vida é uma viagem” e “Sou uma aprendiz”. Unindo esses dois, tem, como um dos seus hobbies, viajar. Nas viagens, além de conhecer pessoas e lugares novos, se interessa especialmente pela busca em livrarias, bem como em lojas de quinquilharias para cozinha e na visita aos mercados para conhecer os temperos, os produtos, suas cores, cheiros e sabores, e ainda ter contato com a cultura e os produtos locais. Como também gosta de cozinhar e de experimentar novas receitas, outro de seus hobbies é ler livros de gastronomia, culinária e receitas, em diversas línguas, nas horas vagas. Tendo escrito artigos, livros e capítulos em diversas obras, no Brasil e no exterior, na área de hospitalidade, esta é sua primeira incursão nos meandros das comidas. Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 168 29/06/2011 10:32:34 169 Elsa Maria Stoehr Vieira de Souza Nascida em Castro/PR, em uma casa onde a mesa estava sempre posta a amigos, visitantes e viajantes. Formou-se em Serviço Social na Universidade Estadual de Ponta Grossa, trabalhou na Apae/Castro e no SESC Ponta Grossa com a coordenação de grupos de 3.ª Idade, na Administração Regional do SESC/PR, Divisão de Apoio Operacional, e no SESC da Esquina. Quando casada, acompanhando a profissão do ex-marido, morou em diversas cidades brasileiras, lecionando na Universidade de Marília, no curso de Serviço Social. Em Piracicaba, próximo a Águas de São Pedro, iniciou a especialização em Administração Hoteleira no Hotel-Escola SENAC. Em Ilhéus, na Bahia, numa extensão do mesmo curso pelo SENAC, que preparava mão de obra para a hotelaria baiana, continuou o curso, vindo a terminar essa especialização em Curitiba, na Faculdade de Estudos Sociais do Paraná. Com os filhos pequenos, várias mudanças de cidades e estados e necessitando de hospitalidade, interessa-se pela questão. Entusiasmada com o tema da hospitalidade, continuou a pesquisa no mestrado em Turismo e Hotelaria na Universidade do Vale do Itajaí, em Camboriú. Conheceu a professora Celia Dias, que propiciou o estudo do tema na academia. Com orientação da doutora Roselys I. Correa dos Santos, realizou a dissertação Santa Felicidade: na polenta, uma história de hospitalidade, que deu início a esta publicação. Lecionou no curso de Turismo da Faculdade Opet e hoje é professora do curso de Serviço Social da Faculdade Bagozzi, em Curitiba. Escreve mensalmente no site http://wwwmalaguetacomunicação, numa coluna sobre hospitalidade, e é membro da diretoria do movimento internacional Slow Food Província do Paraná, onde o alimento bom, justo e limpo é a pauta principal. Paulo Skroch – Aquarelas Técnico em Estradas pelo Instituto Politécnico Estadual em Curitiba, formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Paraná e artista plástico autodidata. Foi arquiteto autônomo por dez anos, de 1987 a 2006. Atuou no SESC/PR como Técnico Artístico-Cultural e Orientador de curso de Artes Plásticas (Desenho, Aquarela e Acrílica) e Programador Visual do SESC da Esquina e do SESC Centro. Na Indústria Cerâmica Paranaense, lecionou em curso de Aquarela e Laboratório de Técnicas Texturizadas. Atualmente, em seu ateliê, é professor de cursos de Aquarela e Laboratório de Pintura. Participou de diversas exposições coletivas, como Salão de Artes Plásticas para Novos da Biblioteca Pública do Paraná, de 1968 a 1970; 27.º, 33.º e 43.º Salão Paranaense do Museu de Arte Contemporânea; 6.ª e 8.ª Mostra do Desenho Brasileiro do Teatro Guaíra e do MAC; Mostra Tradição e Contradição, do Teatro Guaíra; 4.º Jovem Arte Sul América; II, III e IV Salão de Artes Plásticas do Círculo Militar do Paraná; II e III Salão Banestado de Artistas Inéditos/Galeria Banestado; A Arte pela Paz, Teatro Guaíra; 1.ª, 2.ª, 3.ª, 4.ª e 5.ª Esquina da Arte SESC da Esquina; Curitiba Arte 2 e 11 – Teatro Guaíra e Centro de Convenções de Curitiba; O Nu como Tema – Museu Guido Viaro; Grandes Mestres da Pintura do Paraná, Studio Ivanovitch; 2.º Prêmio Nacional de Arte Religiosa; além de várias exposições individuais de aquarelas realizadas de 2003 a 2006. Polenta&Cia_DEFINITIVO_11-junho.indd 169 29/06/2011 10:32:34 A polenta é a representação da hospitalidade e da fartura para os imigrantes do norte da Itália que fincaram suas raízes no bairro de Santa Felicidade, em Curitiba, no estado do Paraná. O prato tornou-se a celebração do convívio e o principal elo com a origem. Neste livro, reconstitui-se o percurso do imigrante italiano ao Brasil, cruzando referências históricas com apurada pesquisa de campo, temperada com poemas e canções, além de aquarelas de Paulo Skroch, que revelam o valor da alimentação. A saga da imigração no país e a migração do milho são contadas pelas autoras a partir da polenta. O cereal viajou da América para a Europa e retornou sob o signo da genuína tradição alimentar. Foi sob o calor da panela de cobre que vênetos e trentinos restauraram seu núcleo social. A região ocupada pelos italianos, a partir do século XVII, soube manter acesa a chama da identidade cultural, que deu o ponto entre o sul do Brasil e o norte da Itália. Santa Felicidade ganhou notoriedade pela excelência gastronômica de seus restaurantes, que servem a especialidade em diferentes versões, como a frita, e com guarnições, como o popular frango à passarinho, adaptação da receita original. A polenta também faz parte do cotidiano dos moradores do bairro. O prato é consumido em todo o Brasil, mas a polenta do sul é reconhecida como a autêntica italiana. Para finalizar o banquete, o livro encerra com um convite à sociabilidade, ao sugerir receitas com polenta assinadas por chefs como Alex Atala, Celso Freire, Claude Troigrois, Helena Menezes, Flavia Quaresma, Flora Madalosso Bertolli, Roberta Sudbrack, Silvia Percussi e Teresa Corção. Juliana Dias, jornalista de gastronomia, sócia-diretora da Malagueta Comunicação.