Extirpação cirúrgica dos abcessos da linfadenite caseosa em caprinos.
EXTIRPAÇÃO CIRÚRGICA DOS ABSCESSOS
DA LINFADENITE CASEOSA EM CAPRINOS
C.N. Nozaki1, M.A.R. Faria, T.M.M. Machado
1
Depto. de Produção Animal, Universidade Federal de Uberlândia, Av. Pará, 1720, CEP 38400-900,Uberlândia,
MG, Brasil.
RESUMO
Trinta cabras fêmeas, adultas, mestiças das raças Alpina e Toggenbourg, com idade entre 1 à 4
anos e vivendo em confinamento, foram submetidas à extirpação cirúrgica do linfonodo afetado
pela linfadenite caseosa, antes que ele viesse a dreno, visando unicamente o controle da contaminação ambiental. A cirurgia foi levada a termo com êxito em 24 casos (80%). Ocorreram quatro casos
(13%) de extravasamento do conteúdo dos abscessos durante a cirurgia e morte de um animal devido
à acidente anestésico. Houve complicação pós-operatória com abertura do tecido ao redor dos
pontos em um animal. A prática cirúrgica deve ser recomendada quando se tem poucos animais
afetados num rebanho e com os abscessos em estágio adequado de desenvolvimento.
PALAVRAS-CHAVE: Linfadenite caseosa, abscessos, caprinos.
ABSTRACT
SURGICAL REMOVAL OF ABSCESSES OF THE CASEOUS LYMPHADENITIS IN GOATS.
Thirty female, adult, crossbred goats of the breeds Alpina and Toggenbourg, with age between 1
to 4 years and living in confinement, were submitted to the surgical removal of lymphonode affected
by caseous lymphadenitis, before it came to drain, aiming at solely the control of the ambient
contamination. The surgery was taken to term with success in 24 cases (80%). Four cases (13%) of
extravasation of the content of the abscess had occurred during the surgery and death of an animal
due to accident anaesthetic. There was postoperative complication with the opening of the tissue
around the stitches of an animal. Surgery should be recommended when there are few animals
affected in a herd and where the abcesses are in the right stage of development.
KEY WORDS: Lymphadenitis caseous, abscesses, goat.
INTRODUÇÃO
A linfadenite caseosa , pseudotuberculose ou mal
dos caroços dos caprinos é uma doença causada primariamente pelo Corynebacterium pseudotuberculosis.
Os animais clinicamente afetados apresentam abscessos caseosos dos linfonodos retro-faríngicos laterais,
mandibulares, parotídicos, cervicais superficiais, subilíacos e mamários. Estes abscessos depreciam o valor
do couro e ocasionam a condenação de carcaças em
abatedouros.
A linfadenite caseosa dos caprinos foi relatada em
diversos estados brasileiros (MOURA COSTA et al.,1973;
COSTA FILHO, 1974; BENTO & ZONI, 1986; LIMA, 1980).
O tratamento convencional da doença consiste na
drenagem e cauterização química dos abscessos utilizando-se solução de iodo. Este tratamento visa diminuir a contaminação do ambiente, não sendo todavia
suficiente para erradicar a doença em rebanhos com
o problema. Além disto em criatórios menos cautelosos ocorre ruptura dos nódulos transmitindo a bactéria para os animais sãos (HOLSTAD, 1986).
As vacinas mortas não apresentam resultados
satisfatórios no controle da doença uma vez que o
agente bacteriano age dentro da célula (BLADEN et al.,
1969; BARAKAT et al., 1974). Algumas tentativas de
elaboração de vacina viva ainda não chegaram a
produzir resultados satisfatórios para uma fabricação em escala comercial. Assim sendo, os métodos de
controle e erradicação da doença são precários.
O presente trabalho teve como objetivo o controle
da linfadenite caseosa dos caprinos pelo método de
extirpação cirúrgica do linfonodo afetado antes que
ele fosse drenado, visando unicamente o controle da
contaminação ambiental.
MATERIAIS E MÉTODOS
O rebanho caprino trabalhado pertence à Universidade Federal de Uberlândia/UFU, Minas Gerais,
onde a prevalência da linfadenite caseosa era, no
início do experimento, de 24%, afetando animais
entre 7 e 48 meses de idade. De agosto de 1996 a
Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.67, n.2, p.187-189, jul./dez., 2000
187
188
C.N. Nozaki et al.
Tabela 1 - Cirurgias realizadas para extirpação dos abscessos.
Localização do abscesso
Parotídeo
Total
esquerdo
direito
Retro-faríngico lateral
3
3
Número de observações / Complicações
02= rompimento do abscesso por estar muito desenvolvido
01= abscesso em estágio inicial, difícil de ser retirado por ser muito
vascularizado, extravasamento
3
Mandibular
esquerdo
direito
3
2
Cervical superficial
esquerdo
7
direito
6
01= abertura do tecido ao redor dos pontos
01= reincidência de abscesso no mesmo local, 9 meses após
Mamário
3
01= rompimento do abscesso
01= morte por acidente anestésico
TOTAL
30
7
dezembro de 1998 surgiram 30 abscessos de
linfadenite caseosa em fêmeas adultas.
Foi indicado um pré-operatório de jejum de 24
horas de sólidos e 12 horas de líquidos, tricotomia
e antissepsia com álcool - iodo - álcool. O animal foi
tranqüilizado com acepromazina (Acepram1 1%)
na dose de 1mL por 100kg de peso e anestesiado
localmente com xylocaína2 2% na dose média de 5
mL. A área cirúrgica foi delimitada com pano de
campo fenestrado preso com pinças de campo, a
técnica cirúrgica consistiu na incisão em forma
elíptica da pele, com tamanho variando de acordo
com o tamanho do lifonodo a ser removido. Com a
tesoura de ponta romba, fez-se a divulsão contornando o linfonodo. Procedeu-se à hemostasia dos
vasos através de ligaduras usando fio algodão3 no
10 com posterior exerese total do linfonodo. Reduziu-se o espaço morto com pontos do tipo <<ziguezague>>, com fio categute no 01. Realizou-se a
sutura da pele com pontos de Wolf com fio de
algodão4 no 01. O pós-operatório consistiu em aplicação subcutânea de pentabiótico veterinário reforçado5 na dose de 6 mL/100kg peso vivo e realização de curativo local com mertiolate6 duas vezes
ao dia por dez dias com retirada dos pontos no
oitavo dia.
recimento de área de alopécia e mobilidade à palpação.
Por outro lado, o abscesso não deve se apresentar em
estágio avançado de desenvolvimento.
Houve complicação pós-operatória com abertura
do tecido ao redor dos pontos em um animal e ocorreu
um caso de reincidência de abscesso no mesmo local
decorridos 9 meses da cirurgia, provavelmente devido à presença neste animal de dois linfonodos com a
mesma localização.
CONCLUSÃO
A prática cirúrgica deve ser recomendada quando
se tem poucos animais afetados num rebanho e com
os abscessos em estágio adequado de desenvolvimento. A cirurgia é de fácil execução, fácil recuperação e
de baixo custo.
Materiais de pesquisa
1 -Acepram 1%. UNIVET. São Paulo
2 -Xilocaína 2%. Merrel Lepetit. São Paulo
3 -Fio algodão no 10. J & P Coats. São Paulo
4 -Fio algodão no 01. Brasmédica S.A. São Paulo
5- Pentabiótico Veterinário Reforçado 6.000.000
UI. Fort Dodge Saúde Animal Ltda. Campinas
6- Mertiolate. Adhan Química Ltda. São Paulo
RESULTADOS E DISCUSSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A cirurgia foi levada a termo com êxito em 24
casos (80%). Ocorreram quatro casos (13%) de
extravasamento do conteúdo dos abscessos durante as cirurgias e morte de um animal devido a
acidente anestésico.
O êxito durante a cirurgia depende do estágio de
desenvolvimento do abscesso, sendo recomendável
que esteja em completa evolução indicada pelo apa-
Barakat, A.A.; Saber, M.S.; Awad, H.H. Immunization
studies on C. ovis infection in guinea pigs by use of
BCG and heat killed C. ovis vaccine. J. Am. Vet. Med.
Assoc., n.34, p.38-46, 1974.
BENTO, A.H.L. & ZONI, M.S.F. Observações sobre a ocorrência da linfadenite caseosa em cabras confinadas no
estado do Rio de Janeiro. Rev. Bras. Med. Vet., v.8.,
n.5., p.136-138, 1986.
Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.67, n.2, p.187-189, jul./dez., 2000
Extirpação cirúrgica dos abcessos da linfadenite caseosa em caprinos.
BLADEN, R.V.; LEFFORD, M.T.; MACHNAERS, G.B. The host
reponse to BCG infection in mice. J. Exp. Med., n.129,
p.1079-1106, 1969.
COSTA FILHO, G. A. DA. Particularidades da Linfadenite
caseosa dos caprinos em Pernambuco e no Nordeste.
An. Esc. Super. Vet. Univ. Fed. Rural Pernambuco,
v.1, n.1., p.9-23, 1974.
H OLSTAD , G. Corynebacterium pseudotuberculosis
infection in goats. IV, Course of the infection in two
recently infected goat herds. Acta Vet. Scand., v.27,
n.4, p.609-616, 1986.
LIMA, M.C. DE L. Prevalência da linfadenite caseosa dos
caprinos no município de Casa Nova - Bahia. Salvador:
1980. 30p. [Dissertação (Mestrado) - Universidade
Federal da Bahia].
MOURA COSTA, M.D. DE; CAMARA, J.Q.; ROCHA, J.V.N. DA;
MARTINEZ, T.C.N. Linfadenite caseosa dos caprinos no
estado da Bahia. Distribuição geográfica da doença.
Bol. Inst. Biol. Bahia, Salvador, v.12, n.1, p.1-7, 1973.
Recebido para publicação em 8/5/00
Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.67, n.2, p.187-189, jul./dez., 2000
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