Monitoramento Clínico-Epidemiológico, Hematológico e Etiológico relacionado ao Diagnóstico Diferencial entre Tuberculose Caprina e Linfadenite Caseosa Tamyres Izarelly Barbosa da Silva1, Artur Cezar de Carvalho Fernandes2, Tiago Monteiro Menezes2, Hélio Lauro Soares Vasco Neto2, Daniel Dias da Silva3, Willder Rafael Ximenes Cunha3, Lúcio Esmeraldo Honório de Melo4, Emerson Israel Mendes5. Introdução A Tuberculose é uma doença crônica que acompanha a humanidade desde os seus primórdios [1]. O agente etiológico pertence ao gênero Mycobacterium, cujas espécies foram agrupadas no “Complexo Mycobacterium tuberculosis” [2]. Alguns estudos já foram direcionados à identificação da doença nos animais domésticos, principalmente após os experimentos pioneiros de Robert Koch [3]. Com relação à espécie caprina, acreditou-se por muitos anos que a mesma seria naturalmente resistente à infecção [4]. Porém, atualmente, vários países, dentre eles o Brasil [5], já identificaram e registraram a Tuberculose Caprina. Visto que tal enfermidade pode se apresentar sob a forma pulmonar ou extra-pulmonar, materiais biológicos, como urina, sangue, secreções, leite, funcionam como meios de contaminação entre homens e animais, sobretudo no que se refere à ingestão de leite in natura [6], gerando um ciclo zoonótico de suma importância à Saúde Pública. A Linfadenite Caseosa é, da mesma forma que a Tuberculose Caprina, uma enfermidade bacteriana de curso crônico, transmitida pelo Corynebacterium pseudotuberculosis [7]. Tais doenças manifestam-se essencialmente pela presença de focos necróticos encapsulados em diversos órgãos [8] e abscessos nos gânglios linfáticos [9], respectivamente. Devido à importância econômica da caprinocultura para a região Nordeste, esta pesquisa teve como objetivo caracterizar a clínica epidemiológica da Tuberculose Caprina e da Linfadenite Caseosa, em rebanhos de caprinos leiteiros do Estado de Pernambuco, possibilitando um estudo diferencial entre ambas, com intuito de direcionar o rebanho afetado ao seu adequado destino. Material e Métodos O experimento realizou-se em quatro municípios do estado de Pernambuco, correspondentes a Jaboatão dos Guararapes, Bonito. Limoeiro e Pombos, onde as propriedades eram voltadas à criação de caprinos leiteiros, de raças variadas. Para diagnóstico da Tuberculose, consideraram-se os sinais clínicos dos caprinos suspeitos e aplicou-se o teste da tuberculina - teste cervical comparativo [10] nos mesmos, através da inoculação de antígenos atenuados (Foto 1), a PPD aviária e a PPD bovina. Mediante o óbito de alguns animais, realizou-se o exame de necropsia com vista à identificação de alterações macroscópicas características da doença [11]. Posteriormente, encaminhou-se ao Laboratório de Imunoepidemiologia do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães material biológico, coletado em necropsia, para identificação do agente causal através de ensaios moleculares pela técnica da PCR Multiplex [12]. A Linfadenite Caseosa foi diagnosticada com base nos sinais clínicos característicos, achados de necropsia [13] e isolamento da bactéria por exame microbiológico, utilizando material coletado de abscessos (Foto 2). Realizou-se, de modo complementar, hemograma [14] de todos os caprinos do experimento. Resultados Dos 93 caprinos tuberculinizados, 11 (±11,8%) apresentaram reação imunoalérgica positiva ao teste tuberculínico (Tabela 1) e 4 (±4,3%) foram diagnosticados com Linfadenite Caseosa. Os caprinos positivos ao teste da tuberculina apresentavam, na maioria das vezes, sinais clínicos característicos da manifestação pelo Mycobacterium, traduzida por crepitações e áreas de silêncio pulmonar à auscultação, dispnéia, intolerância ao exercício físico, anorexia, caquexia, apatia, presença de secreções nasal e ocular, mucosas pálidas. Os caprinos com Linfadenite Caseosa apresentavam aumento de volume na região anatômica dos órgãos linfáticos superficiais, indicando a suspeita clínica. Mediante o óbito de alguns animais, observou-se, em meio à necropsia, lesões típicas que reafirmaram a ocorrência da Tuberculose Caprina e da Linfadenite Caseosa, como lesões granulomatosas com conteúdo ________________ 1. Primeiro Autor é Graduando de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. 2. Segundo Autor é Graduando de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. 3. Terceiro Autor é Graduando de Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco. 4. Quarto Autor é Professor Associado do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. 5. Quinto Autor é Médico Veterinário, Universidade Federal Rural de Pernambuco. necrótico no parênquima pulmonar e abscessos purulentos nos linfonodos mesentéricos, respectivamente. No que se refere à técnica da PCR Multiplex, o resultado foi positivo para a detecção do DNA do Mycobacterium em amostra caprina. O exame microbiológico do conteúdo abscedante puncionado revelou a presença do Corynebacterium pseudotuberculosis. Com relação aos parâmetros hematológicos, contatou-se anemia em ambas enfermidades, contudo, no que se refere à resposta imune, houve supressão de linfócitos e eosinófilos nos caprinos com Tuberculose e leucocitose por neutrofilia associada à hiperfibrinogenemia nos caprinos com Linfadenite Caseosa. Discussão De acordo aos resultados obtidos, conclui-se, então, que a Tuberculose Caprina ocorre no estado de Pernambuco, podendo coexistir simultaneamente à Linfadenite Caseosa, em um mesmo animal ou rebanho, e originando conflitos na determinação do diagnóstico, fazendo-se, assim, imprescindível a realização do diagnóstico diferencial, visando essencialmente a contribuição na luta pela implantação de ações de controle, fiscalização e profilaxia das doenças no país. A técnica da tuberculinização, padronizada experimentalmente para caprinos, mostrou-se clinicamente eficaz na identificação a campo de animais portadores de reações imunoalérgicas característica de infecções pelo Mycobacterium bovis. Ainda, pode-se afirmar que a técnica da PCR Multiplex mostrou-se sensível na identificação de caprinos portadores do Mycobacterium. Por fim, os exames hematológicos, embora não sejam utilizados para confirmar o diagnóstico das doenças em estudo, podem contribuir, significativamente, para a elucidação da resposta orgânica dos caprinos frente às infecções pelo Mycobacterium tuberculosis e Corynebacterium pseudotuberculosis. Agradecimentos Agradecemos ao Prof. Dr. Lúcio Esmeraldo Honório de Melo pela atenção e orientação na pesquisa, ao Laboratório de Bacterioses do DMV/ UFRPE, ao Laboratório de Imunoepidemiologia do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães e aos colegas do Laboratório de Pesquisa em Clínica de Grandes Animais do DMV/ UFRPE. Referências [1] CORRÊA, W.M.; CORRÊA, C.N.M. Enfermidades infecciosas dos mamíferos domésticos. 2. ed., Rio de Janeiro, Medsi, 1992, cap.21, p.219-240. [2] KANTOR, I.N. Bacteriologia de la tuberculosis humana y animal. OPAS/OMS. Nota técnica nº 11, 1979, 63 p. [3] PRITCHARD, D. G. A century of bovine tuberculosis 1888-1988: conquest and controversy. 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Resultados Pré-inoculação (0h) Pós-inoculação (72h) Diferenças Tuberculose Cutimetria Cutimetria da Caprina Tuberculina Tuberculina Tuberculina Tuberculina cutimetria1 (prevalência) Bovina Aviária Bovina Aviária Positivos 3,29 3,64 17,69 10,21 7,83 (11,8% (± 0,76) (± 0,91) (± 7,51) (± 4,41) (± 3,73) 11/93) Negativos 2,98 2,98 5,53 7,18 -1,66 (88,2% (± 0,56) (± 0,66) (± 1,43) (± 1,99) (± 1,52) 82/93) 1 ∆b - ∆a (em mm) Foto 2 – Punção de abscesso em caprino com Linfadenite Caseosa.