XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. APLICAÇÃO DA ESTRATÉGIA POSTPONEMENT EM UMA AGROINDÚSTRIA PROCESSADORA DE ALIMENTOS Adailtom Luiz Nardocci (UNIARA) [email protected] Vera Mariza Henriques de Miranda Costa (UNIARA) [email protected] O mercado está cada vez mais segmentado, com clientes buscando produtos finais customizados, no tamanho da embalagem, no sabor diferenciado ou em razão de opções por marca. Este ambiente dificulta a previsão da demanda, principalmente na agroindústria, cujas matérias primas são sazonais e perecíveis. O postponement é uma estratégia operacional que estabelece o processamento das matérias primas até determinado estágio, armazenando-as sob uma forma padrão, até o momento em que a demanda for conhecida. Processa-se, então, a diferenciação, de acordo com os pedidos dos clientes O objetivo deste artigo é caracterizar a relevância da estratégia de postponement em uma agroindústria processadora de alimentos, no Brasil, que por suas particularidades produtivas e de mercado não consegue previsibilidade da sua demanda. Os resultados da pesquisa reforçam trabalhos análogos. Apesar do custo gerado com a retomada do processamento, a adoção dessa estratégia se justifica, considerando-se o custo de armazenar produtos acabados, na embalagem final, sem a definição do volume e das especificidades deles, o que pode resultar na falta de alguns itens e sobra de outros. Palavras-chave: postponement, produção em massa, customização, agroindústria de alimentos. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 1. Introdução O ambiente macroeconômico mundial está cada vez mais competitivo. Wekedin e Neves (1995) já destacavam que blocos econômicos, países e empresas travam uma batalha de competitividade, buscando redução de preços e aprimoramento da qualidade de produtos. No cenário econômico mundial atual as empresas, ao mesmo tempo em que devem produzir com economia de escala, devem atender à demanda por produtos e serviços customizados Ferreira (2009), seja no tamanho da embalagem, no sabor diferenciado ou mesmo em razão de ampliação de opções por marcas, tendência apontada por Yokoyama (2010) ao tratar do crescimento de marcas dos fabricantes e de redes atacadistas e varejistas no Brasil. De acordo com Ferreira (2009) a indústria de alimentos enfrenta desafios de custo, qualidade, escala e customização. Esses aspectos são agravados na agroindústria, que apresenta particularidades como sazonalidade da produção e do consumo, perecibilidade da matéria prima e do produto final e ainda influência de fatores climáticos e biológicos Além dessas características, a demanda por alimentos sofre a influência de fatores econômicos, psicoculturais, antropológicos, culturais e sócio demográficos (BATALHA, 2005). Diante da relevância da economia de escala para redução de custos, por um lado e, por outro, da tendência de crescimento de marcas e diversificação do produto final em atendimento às exigências do mercado, estas nem sempre identificadas e dimensionadas com a devida antecipação, fazem-se necessárias estratégias que conciliem: escala, diversificação e planejamento da distribuição. Nesse contexto, o postponement se apresenta como estratégia adequada uma vez que possibilita que as operações de manufatura e distribuição não sejam realizadas ou personalizadas até a identificação da quantidade ou localização da demanda (VAN HOEK, 2001; BATEZZATI e MAGNANI, 2000). Para o segmento agroindustrial e, em especial, para o produtor de alimentos, a adoção do postponement é fundamental como estratégia que possibilita reduzir a especulação, elevar a previsibilidade e enfrentar a sazonalidade da matéria prima utilizada. Van Hoek (1997) enfatiza que as cadeias devem ser sensíveis e responder rapidamente às mudanças de mercado e observa que em empresas onde o planejamento e a previsão de mercado são muito complexos o postponement permite obter a personalização em massa. Sampaio (2003) destaca que o postponement é uma estratégia alternativa que possibilita modificar o conceito de make- 2 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. to-stock para o conceito make-to-order, pois até então customização e produção em massa eram conceitos inversos. O objetivo principal deste artigo é caracterizar a aplicação da estratégia de postponement em uma agroindústria processadora de alimentos, contribuindo para a melhor compreensão dessa estratégia, aplicada ao segmento agroindustrial. 2. Postponement: caracterização, tipos e aplicações Postponement é o retardamento para se finalizar a configuração de um produto até que os pedidos sejam recebidos e conhecidos, eliminando-se, assim, a incerteza nas decisões de produzir e distribuir e possibilitando atender aos clientes de forma customizada (ZINN, 1990). Segundo Cardoso (2002), Sampaio (2003) e Ferreira (2009) as primeiras experiências utilizando o principio do postponement são da década de 1920. Na literatura acadêmica o conceito foi desenvolvido por Alderson, em 1950 e expandido por Bucklin em 1965, que propôs o conceito de especulação como o oposto ao postponement. Para Alderson (1950) a demanda dos consumidores é única e individual e a diferenciação do produto (forma, identidade e lugar) deve ocorrer na última etapa possível da cadeia de manufatura e distribuição, reduzindo os riscos de se produzir e distribuir, aguardando até que o pedido seja conhecido. O adiamento na movimentação do produto foi denominado de time postponement e o adiamento na diferenciação do produto foi denominado de form postponement. Sampaio (2003) ressalta que Alderson foi um inovador ao propor uma alternativa estratégica para o padrão de produção em massa, predominante na época, pois com o postponement aumenta-se a flexibilidade, reduzindo os custos totais, objetivos concorrentes até então. No conceito de especulação proposto por Bucklin (1965) como principle of speculation é apresentado o argumento de que as mudanças de forma e movimentação quando feitas de início podem também reduzir custos. Ao alterar previamente a forma pode-se levar a aproveitar a economia de escala, produzindo em grandes lotes de produção em sequência, reduzindo a incerteza. Bucklin (1965) argumenta que talvez o ideal seja uma combinação dos dois princípios, postponement e especulação. 3 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Zinn (1990) destaca que o postponement é eficaz como estratégia frente à dificuldade de dimensionar a demanda e diante da incerteza enfrentada por empresas com extensa linha de produtos e de modelos. Zinn e Bowersox (1988) classificam e justificam a utilização do postponement de forma em quatro tipos que correspondem ao retardamento em estágios do processo de produção: de etiquetagem, de embalagem, de montagem e de fabricação. Postponement de etiquetagem: é eficaz quando se comercializa um produto com duas ou mais marcas, sendo possível armazenar sem identificar a marca até que o pedido seja recebido com a especificação. Esta modalidade reduz custos de manutenção de estoques embora possa aumentar os custos de etiquetagem de lotes menores. Postponement de embalagem: é viável para produtos vendidos em embalagens de tamanhos diferentes, ou quando a empresa possui um mesmo produto comercializado sob várias marcas estampadas na embalagem. Pode aumentar custos de produção devido à redução dos lotes de produção, mas reduz os custos e os riscos de estoque, uma vez que aguarda o recebimento do pedido. Postponement de montagem: Neste tipo a “edição” do produto é postergada até que se conheça o pedido. Zinn cita a venda de computadores: o produto básico é vendido com configurações personalizadas que ocorrem na loja varejista. Postponement de fabricação: O processo de fabricação ocorre até uma determinada etapa sendo o produto armazenado em uma forma “padrão”. Após o recebimento do pedido ocorre a diferenciação e a conclusão do processo. Zinn cita como exemplo a indústria de refrigerantes e a indústria brasileira de suco de laranja. Pode-se citar, também, a produção e venda de tintas imobiliárias em cores padrão, diferenciadas somente após a escolha do cliente. Van Hoek (1997), estudando cadeias de alimentos ressaltou que a estratégia é ainda mais eficiente quando se tem uma grande variedade de produtos finais que permitem trabalhar com uma pequena base de componentes genéricos ou semiacabados. O sistema em grande escala ocorrerá para os produtos primários ou genéricos e quando o pedido for conhecido a combinação para o produto final se efetivará de forma rápida, aumentando a capacidade de resposta aos desejos dos clientes. O sistema possibilita a customização em massa, permitindo a personalização de produtos com a eficiência que só seria obtida nos sistemas de produção em massa. 4 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Pagh e Cooper (1998) contribuem para a caracterização do postponement ao combinar posponement e especulação. Eles criaram uma matriz 2x2 na qual combinam postponement de forma e de tempo, denominadas, respectivamente de postponement de manufatura e de logística. A combinação delas resultou na designação das estratégias: de especulação plena, de postponement de tempo, de postponement de manufatura e de postponement pleno. Sampaio e Csillag (2010) consideram que a adoção do tipo de postponement está relacionada a pré- requisitos técnicos de produto, processo e mercado, podendo ser aplicadas duas regras gerais: 1- as oportunidades de adoção surgem à medida que os erros de previsão de demanda são elevados, causando elevação nos custos de marketing e distribuição. 2 – as oportunidades de adoção são maiores para itens de elevado valor agregado, pois os custos de armazenagem são maiores. Os autores concluem que a escolha do tipo de postponement depende do grau de modalidade de produto, processo e cadeia de suprimento. 3. Metodologia O enquadramento metodológico da pesquisa que deu suporte a este artigo foi desenvolvido a partir de Bryman (1989), Turrione e Mello (2012), Miguel (2007 e 2010) e Yin (2005). Quanto à natureza a pesquisa é aplicada, pois se caracteriza por seu interesse prático, tendo por objetivos divulgar o desenvolvimento de processos bem sucedidos no atendimento das necessidades do mercado. Quanto aos objetivos é descritiva, pois retrata a aplicação da estratégia do postponement em uma agroindústria processadora de alimentos. A forma de abordagem é qualitativa, pois a interpretação dos fenômenos e a atribuição dos significados não necessitam do uso de métodos e técnicas estatísticas, o ambiente natural é fonte direta de coleta de dados e o pesquisador é o instrumento chave no processo de investigação. O procedimento adotado para a investigação empírica é o estudo de caso, pois é investigado um fenômeno dentro de um contexto real, objetivando aprofundar o conhecimento de um problema. O estudo de caso possui como benefícios a possibilidade de desenvolver novas teorias e o entendimento sobre eventos reais e contemporâneos. A unidade de análise é uma agroindústria processadora de alimentos, de acordo com a Classificação Nacional de Atividade Econômica CNAE, é uma Indústria de transformação, fabricante de produtos alimentícios no grupo de fabricante de conservas de frutas, legumes e outros vegetais, localizada no interior do Estado de São Paulo, com alcance na distribuição de seus produtos por todo o território brasileiro. Essa empresa, em razão de suas particularidades 5 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. agroindustriais e de mercado não consegue regularidade no fornecimento de matéria prima e previsibilidade de sua demanda com todas as características para a comercialização. A empresa foi selecionada intencionalmente, por sua relevância no setor e em razão da viabilidade de acesso aos dados, dado que o pesquisador é um dos gerentes dela. Por razão de sigilo o nome da empresa não está declarado. O estudo da aplicação da estratégia do postponement se restringiu aos processos do tomate e goiaba e seus derivados, em razão de esses processos representarem mais de 90% do faturamento bruto da empresa. Embora ocorra a aplicação da estratégia de posptponement de tempo (time postponement) o estudo ficou restrito ao postponement de forma (form postponement), pois se buscou um maior aprofundamento da aplicação dessa estratégia de manufatura. Sampaio (2003) ressalta que a manufatura é uma arma competitiva e seu uso é estratégico para prosperar ou mesmo sobreviver na nova realidade, marcada por acirrada competição. A coleta de dados e informações foi realizada por meio de pesquisa documental, observação direta e participante e entrevista não estruturada com gestores da empresa. 4. Adoção e aplicação do postponement por uma agroindústria de alimentos Na condição de fabricante de produtos alimentícios no grupo de fabricante de conservas de frutas, legumes e outros vegetais, a principal atividade da empresa é o processamento de goiaba e tomate e seus derivados, embora ela também industrialize manga, azeitona, geléia de frutas e comercialize vegetais que são fabricados com sua marca por outras empresas. Em entrevista com um dos fundadores da empresa que trabalha em empresas desse segmento há mais de 50 anos, pôde-se obter a informação de que desde a década de 60, quando ele iniciou suas atividades junto a esse segmento, muitas mudanças ocorreram. Naquela época a industrialização ainda estava no início e o consumo de produtos industrializados não era comum e tampouco as empresas dispunham de tecnologia de processo, ingredientes e embalagens para armazenamento de matérias primas. As frutas eram transformadas em produto final no período da safra sem que se pudesse armazenar uma base genérica para fazer a diferenciação na entressafra. Ele ressalta que não havia diversidade de produtos, tamanho de embalagens e marcas como atualmente, dado que esse mercado não era customizado como se apresenta hoje. Com o passar dos anos foram produzidas latas com cerca de 20 kg e depois tambores metálicos maiores, com cerca de 200 kg e desenvolvido um processo conhecido 6 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. como envase a quente (hot fill), por meio do qual as polpas de tomate e de goiaba eram pasteurizadas e armazenadas nessas embalagens para serem diferenciadas no período da entressafra. Foi somente no inicio da década de 90 que as empresas que processam tomate iniciaram a adoção de tecnologia de processo e embalagem asséptica, que é usada até hoje. Essa tecnologia possibilita que a fruta processada seja armazenada, mantendo suas características por meses, possibilitando a diferenciação somente quando a demanda for conhecida. A empresa estudada foi fundada em 2002 e nos primeiros quatro anos ela industrializava frutas e já praticava a diferenciação das mesmas em produto final. A sua demanda de polpa para os períodos de entressafra era suprida comprando de outras empresas que industrializavam as frutas e vendiam a polpa para empresas praticarem a diferenciação final. Em 2006 a empresa adquiriu equipamentos de processo e acondicionamento para processar e armazenar a matéria prima de que necessita para o período de entressafra. Atualmente, devido à sazonalidade da produção e à customização do mercado cada vez mais intensa, continua com ações para aplicação da estratégia de postponement, principalmente de forma. A empresa comercializa e distribui produtos com sua marca em todo o território nacional bem como produz com diversas outras marcas para redes atacadistas e varejistas. Em dezembro de 2014 a empresa tinha ativos 270 SKU (Stock Keeping Unit), dos quais 37% itens produzidos com sua marca e 63% com a marca de diversas redes atacadistas e varejistas do Brasil. Os produtos derivados de tomate são: catchup, polpa, extrato, base para molho e molho pronto, produzidos em diversos tamanhos e tipos de embalagens (flexível, latas, vidros), com diversos sabores, principalmente os molhos (tradicional, parmegiana, para pizza, com manjericão etc.) e diversas marcas. Dos 109 SKU de produtos derivados de tomate 30% são produzidos com a marca do próprio fabricante e 70% são produzidos com a marca de redes atacadistas e varejistas. Os produtos derivados de goiaba são basicamente três. Uma polpa especial de goiaba é vendida em tambores de 200 kg para outras empresas que a usam para produzir suco de goiaba, comercializado em embalagens assépticas acondicionada em tambores metálicos. Este produto é um exemplo de postponement, cujo processo ocorre até um estágio depois é transferido para outros agentes da cadeia que terminam o processo de diferenciação. Neste caso, os agentes são empresas produtoras de suco que comercializam seus produtos em embalagens longa vida. Os outros dois itens são geleia de goiaba e goiabada, esta última 7 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. responsável pelo grande volume de derivados de goiaba produzidos na empresa. A produção é comercializada em diversos tipos de embalagem, com diversos tamanhos e marcas. Do total de 36 SKU de derivados de goiaba 28% são comercializados com a marca do fabricante e 72% com a marca de redes atacadistas e varejistas, uma dentre as justificativas para a adoção do postponement. A sazonalidade da produção da matéria prima (tomate e goiaba) constitui característica do processo produtivo. O tomate, resultado de cultura temporária, é obtido através da integração com produtores rurais, numa relação regulada por contrato, regido por deveres e obrigações. A indústria fornece mudas, adubos, defensivos, equipamentos para a colheita, assistência técnica e garante a compra da fruta a preços previamente acordados. O produtor fica responsável pela terra, pelo manejo da cultura e pela alocação de mão de obra. Por se tratar de cultura perene, o mecanismo de comercialização da goiaba é o mercado spot, não sendo adotado o sistema de integração como na cultura do tomate. Normalmente não são estabelecidos vínculos contratuais entre empresa processadora e produtor. Nos últimos anos, inovações agronômicas sobre variedade, manejos de podas, irrigação e adubação possibilitaram o controle da produção de goiaba, disponibilizando frutas o ano todo, principalmente para o mercado de frutas in natura. No entanto, parte das frutas não absorvidas pelo mercado in natura tem sido vendida para a indústria, que acaba recebendo goiaba o ano todo. Apesar disso, o grande volume de goiaba para a indústria é processado no período de safra, com maior produção, período em que a qualidade, o volume e os preços são mais vantajosos para a indústria, justificando-se a adoção de postponement. Na figura 1 são apresentados os meses de safra de goiaba e de tomate, principais matérias primas processadas pela empresa, evidenciando a sazonalidade na disponibilidade destas. Figura 1 - Sazonalidade de produção de matéria prima SAZONALIDADE PRODUÇÃO DE MATÉRIA PRIMA MESES DE SAFRA COM DISPONIBILIDADE DE MATÉRIA PRIMA jan fev mar abr mai jun jul ago set otu nov dez TOMATE GOIABA Meses safra goiaba Meses safra tomate Fonte: Autores 8 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Na safra inicia-se o processamento na indústria. Parte das frutas é transformada em produto acabado, suprindo uma demanda imediata já conhecida, sendo o excedente transformado em polpa padrão que será armazenada e sua diferenciação ocorrerá somente quando a demanda for conhecida. A Figura 2 apresenta o fluxograma do processamento de tomate/goiaba com a aplicação do postponement de forma. Figura 2 - Fluxograma de processo goiaba/tomate 9 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: Autores O desenvolvimento tecnológico de processo possibilitou às empresas de alimentos do segmento estudado industrializar as frutas de que necessita no período de safra e armazenar a 10 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. polpa em uma forma padrão, com disponibilidade de matéria prima (pré-processada) para uso durante o ano todo. Esse processo é denominado envase asséptico, em que o produto processado e concentrado é esterilizado em alta temperatura e depois resfriado e acondicionado em embalagens assépticas, o que permite a permanência por até três anos, em temperatura ambiente. 5. Avaliação dos resultados e Considerações finais Ferreira e Alcântara (2012) destacam que a sazonalidade da matéria prima é o principal motivador para a adoção da estratégia. Mesmo que a empresa industrializasse toda a matéria prima no período de safra, especulando sua demanda, transformando todo o insumo em produto acabado, dificilmente conseguiria precisar as quantidades a serem produzidas de cada item. Assumpção e Ribeiro (2001) ressaltam que quando a empresa produz com a demanda conhecida ela aumenta a venda de produtos em conformidade com a demanda, reduzindo a obsolência de estoques. Consideram que para produtos alimentares, o ônus interno (coordenação interna) e o externo (comercialização, manuseio, armazenamento e transporte) representam, muitas vezes, o dobro do despendido com a transformação industrial. Os custos de armazenamento da polpa e da retomada do processo de diferenciação, após a “oficialização” da demanda, se elevam. No entanto, os custos globais diminuem devido à redução dos custos com a manutenção de estoque do produto finalizado. Outro benefício é obtido em relação ao prazo de validade dos alimentos que são curtos e computados a partir do acondicionamento na embalagem final. Com o postponement o registro da validade ocorre somente após a diferenciação da base genérica em produto final. Os resultados da pesquisa reforçam resultados de trabalhos análogos de Ferreira (2009), Ferreira e Alcântara (2012), Assumpção e Ribeiro (2001) e Sampaio (2003). A pesquisa evidenciou que a empresa aplica o postponement de tempo e de forma. De tempo, pois armazena seus produtos em um local centralizado, localizado junto à planta industrial e distribui os produtos para atacadistas e supermercados após o recebimento do pedido. O postponement de forma é amplamente aplicado tanto no processamento da goiaba quanto do tomate e seus derivados, desde o início das atividades, em 2002. Em virtude da sazonalidade da produção de matéria prima e do fato de a empresa possuir em carteira de vendas um grande número de produtos - em diversos tamanhos de embalagens, sabores e diversas marca – torna-se inviável uma precisa previsão de demanda. Assim, a 11 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. aplicação da estratégia de postponement de manufatura é de vital importância para conseguir manter e atender adequadamente um mercado bastante segmentado. A aplicação da estratégia de postponement possibilita maior número de atividades após o recebimento do pedido, o que reduz a especulação, aumenta a flexibilidade na tomada de decisão de “o que” produzir, permitindo a maior customização dos produtos. Sampaio e Csillag (2010) ressaltam que devido ao fato de o produto e o processo não serem modulares aumenta a dificuldade em aplicar o postponement. Neste caso, pode-se postergar a finalização de um produto padrão para outros agentes da cadeia. Na empresa estudada, apenas uma polpa de goiaba especial para suco é vendida para outras empresas completarem a diferenciação. O postponement possibilita reduzir custos e acelerar o ciclo de atendimento ao cliente. REFERÊNCIAS ALDERSON, Wroe. Marketing efficiency and the principle of postponement. Cost and Profit Outlook, n.3, p.15-18, 1950. ASSUMPÇÃO, Maria Rita Pontes; RIBEIRO, Jose Francisco Ferreira. Compounding: postponement at processed food In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON AGRI-FOOD CHAIN / NET WORKS ECONOMICS AND MANAGEMENT, 3, 2001, Ribeirão Preto (SP). Anais… Ribeirão Preto: FEA/USP, 2001. BATALHA, Mario Otávio. Gestão do Agronegócio, São Carlos: EdUFSCAR, 2005. BATEZZATI Luigi; MAGNANI Roberto. Supply chains for FMCG and industrial products in Italy: Practices and the advantages of postponement. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, Vol. 30 Iss: 5, pp.413–424, 2000. BRYMAN, Alan. Research Methods and Organization Studies London : Uniwin Hyman, 1989. BUCKLIN, Louis P., (1965) Postponement, Speculation and the Structure of Distribution Channels. Journal of Marketing Research, v.2 p. 26-31, Fe0b 1965. CARDOSO, Patrícia Alcântara. O princípio da postergação: um estudo das tintas na cadeia de suprimentos das tintas para impressão, 2002. 158p. Tese (Doutorado em Engenharia Industrial) ,PUC, Rio de Janeiro – RJ, 2002. FERREIRA, Karine Ataujo. Uma estrutura conceitual para a aplicação do postponement: estudo multi-caso em empresas da indústria de alimentos, 2009, 203p. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção), UFSCAR, São Carlos –SP, 2009. FERREIRA, Karine Araujo; ALCÂNTARA, Rosane Lucia Chicarrelli. Adoção do Postponement em empresas produtoras de derivados de tomate. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 32, 2012, Bento Gonçalves (RS). Anais… 2012. MIGUEL, Paulo Augusto Cauchick. Estudo de Caso na Engenharia de Produção: estruturação e recomendações para sua conclusão. Revista Produção. São Paulo. V.17, n.1, 2007. MIGUEL Paulo Augusto Cachick. (Org.) Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção e Gestão de Operações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 12 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. PAGH, Janus D; COOPER, Martha C. Postponement and speculation strategies: how to choose the right strategy. Journal of Business logistics, v.19,n.2,p.13-32, 1998. SAMPAIO, Mauro. O poder estratégico do postponement. 2003, 189p. Tese (Doutorado em Administração). EAESP/FGV, São Paulo – SP, 2003. SAMPAIO, Mauro; CSILLAG, João Mario. Direcionadores na difusão da estratégia de postponement: Casos de empresas brasileiras. Revista de Administração Contemporânea, v.14, n.1, 2010. TURRIONE João Batista, MELLO Carlos Henrique Pereira. Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção: Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas. Itajubá: UNIFEI, 2012. VAN HOEK, Remko I.. Postponed Manufacturing: a case study in the food supply chain. Supply Chain Management: An International Journal. Vol. 2 Iss 2 pp 63-75, 1997. VAN HOEK, Remko I.. The rediscovery of postponement a literature review and directions for research. Journal of Operations Management, v.19, n.2, p.161-184, 2001. WEDEKIN Ivan; NEVES Marcos Fava (1995). Sistema de distribuição de alimentos: o impacto das novas tecnologias. Revista de Administração da USP, SãoPaulo , v.30, n.4, p.5-18. YIN Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Trad. Daniel Grassi. 3 ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. YOKOYAMA, Marcos Hideyuki. Análise das estratégias de produção em fornecedores de marcas próprias: estudo multi-caso em empresas do setor de alimentos. 2010, 200p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). UFSCAR, São Carlos- SP, 2010. ZINN Walter; BOWERSOX, D.J. Planning physical distribution with the principle of postponement. Journal of Business Logistics, v.9, n.2,p. 117-136, 1988. ZINN Walter. O retardamento da montagem final de produtos como estratégia de marketing e distribuição. Revista de Administração, São Paulo, v.30, n.4, 1990. 13