O USO DO AGREGADO ORIUNDO DA RECICLAGEM DO RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO EM MISTURAS ASFÁLTICAS Victor Manuel de Queiroz Lourenço Erinaldo Hilário Cavalcante O USO DO AGREGADO ORIUNDO DA RECICLAGEM DO RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO EM MISTURAS ASFÁLTICAS Victor Manuel de Queiroz Lourenço Erinaldo Hilário Cavalcante Universidade Federal de Sergipe RESUMO O uso de materiais não convencionais, como argila calcinada, borracha de pneu e RCD, é discutido em diversos estudos no Brasil enquanto alternativa benéfica para a construção civil e em especial na área pavimentação, capaz de consumir em suas obras diversos tipos de materiais, em grandes quantidades. A não restrição aos materiais convencionais é importante, no atual contexto, tanto pelas questões ambientais, representando um padrão de desenvolvimento menos impactante, quanto pela possibilidade de aumentar investimentos na área e minimizar os sérios problemas da malha rodoviária nacional. Nesse contexto, o uso de Agregado Reciclado de Resíduo Sólido oriundo da construção civil em pavimentação vem sendo discutido na atualidade como alternativa de gerenciamento devido às inúmeras consequências negativas decorrentes do atual aumento na produção de resíduos e seu acúmulo inadequado. Sabe-se que a construção civil é a principal responsável por essa superprodução, bem como pelo esgotamento dos aterros e espaços permitidos para a sua deposição. Assim, este estudo consiste em caracterizar o agregado de RCD, que compõem a pesquisa em andamento do presente autor, como parte integrante dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Geotecnia e Pavimentação, que tem por objetivo verificar a viabilidade técnica do agregado proveniente da reciclagem do resíduo da construção e demolição em substituição ao agregado convencionalmente utilizado em misturas asfálticas usinadas à quente (CAUQ), com vistas a aplicação em camadas de rolamento. A partir da caracterização realizada, constatou-se que o agregado em estudo possui potencial para ser utilizado em misturas asfálticas, pois dentre os principais índices encontrados em estudos laboratoriais, grande parte, além de apresentar propriedades físicas e mecânicas satisfatórias, comparados aos de materiais convencionalmente utilizados, condizem com algum parâmetro pré-estabelecido, como os da NBR 15115 (2004). PALAVRAS CHAVE: resíduo sólido, construção civil, reciclagem, pavimentação, misturas asfálticas. ABSTRACT The use of unconventional materials – as calcined clay, tire rubber and construction and demolition waste (CDW) – has been discussed in several studies in Brazil as beneficial alternative for the civil construction and in especial for the key area of paving, which is able to consume several kinds of materials, and in large quantities. The non restriction on conventional materials is important, in the current context, both for the environmental issues, representing a development standard less impactful, as the possibility of increasing investments in the key area and minimizes the serious problems of the national highway network. In this context, the use of Recycled Aggregate of Solid Waste arising from the construction in paving is being discussed today as an alternative management because of the many negative consequences of the current increase in waste production and their inadequate accumulation. It is known that the construction is mainly responsible for this overproduction, as well as the depletion of landfill and allowed for the deposition spaces. Thus, this study is to characterize the aggregate of RCD, which make up the ongoing research of this author, as part of the requirements for obtaining a Master's Degree in Geotechnical Engineering and Paving, which aims to determine the technical feasibility of the aggregate from the recycling of construction and demolition waste to replace the conventionally used aggregate in hot mix asphalt concrete (HMAC), in order to implementing layered rolling. From the characterization performed, it was found that the aggregate under study has the potential to be used in asphalt mixtures, because among the major indexes found in laboratory studies, largely, besides having satisfactory physical and mechanical properties compared to conventional materials used, meets some predetermined parameter such as the NBR 15115 (2004). KEY WORDS: solid waste, civil construction, recycling, paving, mix asphalt. 1 1. INTRODUÇÃO O uso de materiais não convencionais em obras de engenharia representa, no atual contexto de desenvolvimento mundial, um importante objeto de estudo. São inúmeras as pesquisas que descrevem experiências com materiais como fibra de bambu, borracha de pneu, resíduos da construção e demolição (RCD), dentre outros. Esses trabalhos têm relevância não só pela possibilidade de gerenciamento sustentável de resíduos, como também pela capacidade de melhoria na qualidade das obras e na captação de investimentos na área. Segundo Motta et al (2005), a construção civil é responsável por produzir mais de 50% de todo o resíduo sólido urbano gerado e, dessa forma, torna-se uma das principais responsáveis pelo acúmulo de resíduos em cidades de grande e médio porte, causando um problema crônico que envolve questões de ordem ambiental, social e financeira, sobretudo porque grande parte desse material é disposta rotineiramente de forma irregular e, mesmo quando o descarte é feito de forma adequada em aterros sanitários ou áreas permitidas contribui, de forma determinante, para o esgotamento dos mesmos. No âmbito nacional, diversos estudos discutem a restrição das obras apenas aos agregados convencionalmente empregados e desenvolvem análises empíricas que sustentam a possibilidade do uso do RCD, quando reciclado. Na área de pavimentação, temos resultados muito interessantes nesse sentido, pois ela aceita diversos tipos de materiais e em grandes volumes. Nesse contexto, a utilização do RCD pode representar desde a substituição dos materiais convencionalmente aplicados, apresentando redução de custos na construção e manutenção dos pavimentos, até uma alternativa para os problemas advindos da escassez de tais materiais em algumas regiões do país. Assim, diante dos numerosos trabalhos acerca do tema e da relevância de tal alternativa no contexto brasileiro (mais especificamente na indústria da construção civil na cidade de Aracaju), mostra-se necessária a avaliação do agregado de RCD produzido no Estado, a fim de demonstrar a viabilidade do processo e incentivar a sua utilização. 2. OBJETIVO GERAL O presente trabalho apresenta as características do agregado de RCD obtidas em pesquisa em andamento como parte integrante dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Geotecnia e Pavimentação e que tem como objetivo geral verificar a viabilidade técnica do agregado proveniente da reciclagem do resíduo da construção e demolição em substituição ao agregado convencionalmente utilizado em misturas asfálticas usinadas a quente, com vistas à aplicação em camadas de rolamento. 3. QUESTÃO AMBIENTAL A legislação brasileira pertinente à gestão de resíduos sólidos vem sendo paulatinamente modificada e ampliada nos últimos anos, objetivando a redução de seus aspectos negativos, sobretudo no tocante aos impactos ambientais. Nesse contexto, a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA 307/2002 pode ser considerada um marco do setor construtivo em prol do meio ambiente. Nela são estabelecidos critérios, diretrizes e 2 procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, objetivando a efetiva redução dos impactos ambientais gerados pelos resíduos no setor. Tal resolução estabelece, ainda, que Municípios e o Distrito Federal devem elaborar “Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil”, que auxiliará na gestão de tais resíduos, devendo conter, dentre outras coisas, a proibição da disposição dos resíduos de construção em áreas não licenciadas, o incentivo à reinserção dos resíduos reutilizáveis ou reciclados no ciclo produtivo e o fomento a ações de orientação, fiscalização e controle dos agentes envolvidos. Em 2 de agosto de 2010 foi aprovada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que estabelece, dentre outras coisas, a erradicação, a longo prazo, dos lixões, a criação de projetos ambientais por empresas e municípios e, ainda, a responsabilização de recolhimento dos resíduos por quem os gerou, utilizando a lógica dos 3 R’s - Redução, Reutilização e Reciclagem desse passivo ambiental. Dentre os geradores de resíduos obrigados à elaboração de plano de gerenciamento, de acordo com normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente), estão os relacionados a serviços de saneamento básico, resíduos industriais, resíduos de serviços de saúde, estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços que geram resíduos perigosos e as empresas de construção civil, pois estas, em virtude do crescimento vertiginoso do setor e da quantidade de material gerado, contribuem de forma significativa para o acúmulo danoso de resíduos em médias e grandes cidades. 4. A QUESTÃO DA MALHA RODOVIÁRIA NACIONAL Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPEA (2011), com exceção do transporte do minério de ferro realizado em ferrovias, as rodovias respondem por mais de 70% das cargas nacionais. Se compararmos esse percentual ao de outros países de mesma dimensão continental, temos um forte indicativo da dependência do Brasil a tal modal de transporte. Especialmente no setor agrícola, que tradicionalmente utiliza a via rodoviária tanto para o recebimento de insumos quanto para o escoamento de produção para os mercados interno e externo, observa-se a necessidade de extensão e melhoria da qualidade da malha rodoviária pavimentada no país. Apesar de o Brasil ser um país predominantemente rodoviário e de ter uma das maiores malhas rodoviárias do mundo, segundo dados da Confederação Nacional de Transporte (CNT, 2012), o Brasil apresenta apenas cerca de 14% da extensão total de sua malha rodoviária pavimentada, com 214.414 km pavimentados, enquanto 1.366.578 km ainda não são pavimentados. Além disso, recente pesquisa realizada pela CNT (2012) avaliou as condições das rodovias no país, analisando 95.707 km, abrangendo toda a malha rodoviária federal pavimentada, os principais trechos de rodovias estaduais pavimentadas e rodovias concedidas. Os resultados mostraram que 54% da extensão total apresenta pavimento em estado de uso satisfatório (ótimo e bom) e 46% em estado deficiente (regular, ruim e péssimo). Da mesma maneira, o IPEA (2011) realizou um mapeamento das obras rodoviárias brasileiras, composto por um amplo levantamento das obras identificadas como necessárias por órgãos competentes, confrontando tais necessidades com as projeções de investimentos apresentadas 3 no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os dados obtidos sugerem a enorme deficiência do Brasil nesse âmbito e que as propostas do principal programa de investimentos públicos da atualidade ainda são insuficientes para suprir toda a demanda existente. Além disso, em algumas regiões cujas constituições geológicas são desprovidas de formações rochosas, as condições se agravam devido à ausência de material convencional suficiente para construção e manutenção de pavimentos, diminuindo, por conseguinte, os incentivos para investimento. No Brasil, os casos mais críticos de escassez de jazidas de rochas estão localizados em municípios dos estados do Acre, Amazonas e Pará (Cabral, 2011). 5. O RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO Em virtude do significativo percentual de resíduos da construção civil em áreas urbanas, da responsabilidade de seus geradores por tais resíduos e da necessidade de benefícios de ordem social, econômica e ambiental decorrentes da gestão integrada desses resíduos, eles são classificados, de acordo com a Resolução 307/2002 do CONAMA, da seguinte forma: I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras; II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros; III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso; IV - Classe D - são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros. Dessa forma, segundo o CONAMA 307/2002 os resíduos da classe A são passíveis de reciclagem como agregados reciclados e podem ser representados por materiais granulares provenientes do beneficiamento de resíduos de construção com características técnicas compatíveis para aplicação em obras de engenharia, a exemplo da aplicação na pavimentação, proposta nesta pesquisa. Com base nisso, vislumbra-se a possibilidade de utilização de tal alternativa em Aracaju, por meio de uma análise da composição média dos RCD contida no trabalho de Daltro Filho (2006), onde se constata que 73,44 % dos componentes do RCD são passiveis de reciclagem para obras de engenharia. 4 Diante da grande quantidade de estudos sobre tal temática, a ABNT de São Paulo elaborou, com a contribuição do Sinduscon-SP, da Escola Politécnica de São Paulo, de empresas privadas e das administrações municipais de São Paulo e Santos, as NBR 15116 (2004) e 15115 (2004), sendo esta última pioneira na definição de critérios e procedimentos para o uso de RCD em camadas de pavimentação, cujos principais aspectos são os seguintes: Estabelece a NBR 9895 (1987), ou seja, o Índice de Suporte Califórnia (ISC) como parâmetro para análise da dureza do material. Assim, o índice de aceite do material está ligado à resistência dos grãos e não à sua natureza; Caso o ISC seja maior do que 12%, o material é aceito para reforço de subleito; caso o ISC chegue a 20%, o material pode ser usado como sub-base e, para base, o ISC deve ser superior a 60%; A dimensão característica do maior grão foi definida como de 63,5mm; Porcentagem de grãos de forma lamelar: deve ser menor que 30%; A espessura mínima de cada camada seja de base, sub-base ou reforço de subleito não pode ser maior do que 10 cm; O comportamento do agregado deve ser bem graduado, como o similar natural e não há qualquer restrição quanto à composição, podendo ser concreto, cerâmicas, pedras, sempre resíduos sólidos da construção civil Classe “A”, evitando-se os compostos das Classes “B, C e D”, materiais estes que a norma denomina de materiais indesejáveis; O teor máximo permitido de materiais indesejáveis é de 3% em massa para grupos distintos e/ou 2% em massa para materiais de mesmo grupo. A NBR 15116 (2004), por sua vez, classifica o agregado em dois tipos: Agregado de resíduo de concreto (ARC): “É o agregado reciclado obtido do beneficiamento de resíduo pertencente à classe A, composto na sua fração graúda, de no mínimo 90% em massa de fragmentos à base de cimento Portland e rochas”; Agregado de resíduo misto (ARM): “É o agregado reciclado obtido do beneficiamento de resíduo de classe A, composto na sua fração graúda com menos de 90% em massa de fragmentos à base de cimento Portland e rochas”. 6. MATERIAIS O material utilizado nessa pesquisa, o agregado de RCD, foi coletado em uma obra de infraestrutura localizada no bairro Novo Horizonte no município de Nossa Senhora do Socorro – SE, executada pela empresa Torre Empreendimentos Rural e Construção Ltda., a mesma responsável pela reciclagem do RCD. A coleta foi feita conforme as indicações da DNER-PRO 120/27 que norteia acerca da coleta de amostras de agregados, e em um único dia a partir da retirada de três montes de granulometrias distintas, denominados de agregado graúdo, intermediário e fino, tendo sido coletado três sacos de 50kg de cada monte. O transporte foi realizado por veículo particular e as amostras conduzidas ao Laboratório de Geotecnia e Pavimentação (GEOPAV) do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Sergipe, onde foi realizado a caracterização do agregado e serão realizadas as demais atividades laboratoriais. 5 Figura 1 – O agregado de RCD e as três granulometrias distintas no local da coleta. 6.1 Amostragem Com auxílio da NBR NM 27:2001 – “Agregados - Redução da amostra de campo para ensaios de laboratório”, parte das amostras foi reduzida às quantidades necessárias para realização de cada ensaio previsto e outra parte separada em porções iguais de aproximadamente 10 kg. 7. MÉTODOS 7.1 Agregados O agregado utilizado é proveniente da reciclagem do resíduo da construção e demolição oriundo do estado de Sergipe. Sua caracterização foi realizada à luz das especificações na tabela 1. Tabela 1 - Ensaio de caracterização do agregado/Norma. ENSAIO DE CARACTERIZAÇÃO NORMA Absorção e Massa específica NBR 6458/1984 Abrasão "Los Angeles" NBR NM 51:2001 Adesividade ao ligante ABNT NBR 12583:1992 Análise granulométrica ABNT NBR 7181:1984 Durabilidade DNER-ME 089-94 Índice de forma ABNT NBR 7809:2006 8. RESULTADOS OBTIDOS E DISCUSSÕES 8.1 Granulometria A faixa granulométrica adotada nessa pesquisa para compor as misturas asfálticas é a C do DNIT. Com o intuito de enquadrar a granulometria do agregado de RCD nesta faixa, adotou-se um traço, em massa, de 15% de agregado graúdo, 33% de agregado intermediário e 52% de 6 agregado fino. A Figura 2 apresenta os limites da Faixa C bem como a curva granulométrica do agregado em estudo. Figura 2 –Curva granulométrica dos agregados de RCD. Observa-se que não houve a necessidade da adição de um outro material para enquadrar o agregado na faixa escolhida, possibilitando a análise de misturas contendo 100% de agregado de RCD em substituição ao agregado convencionalmente utilizado. Na metodologia Superpave, a curva granulométrica do agregado deve ser de tal forma que passe pelos pontos de controle, que são pontos mestres (limites). Estes limites estão localizados no tamanho nominal máximo, no tamanho de 2,36 mm (peneira n° 8) e no tamanho de 0,075mm (peneira nº 200). Há, também, a zona restrita, que situa-se em torno da linha de densidade máxima entre as peneiras de 2,36mm ou 4,75mm e a peneira de 0,3mm e representa a região onde granulometria da mistura não deve passar. A figura 3 apresenta a curva granulométrica do agregado de RCD na especificação Superpave. 7 Figura 3 – Limites SUPERPAVE para granulometria de tamanho máximo de 19mm, e a curva granulométrica do agregado de RCD Observa-se que a granulometria do agregado não passa pela zona restrita, porém apresenta um percentual de material passante, pela peneira de malha com diâmetro de 19mm, superior ao limite de 90%. 8.2 Composição Por ser um material proveniente do entulho gerado em obras de diversos tipos, faz-se necessária uma análise para determinar o que compõe tal agregado. Além disso, a NBR 15116 classifica o agregado em dois tipos, a depender da sua composição, o agregado de resíduo de concreto (ARC) e o agregado de resíduo misto (ARM). O agregado de resíduo de concreto é aquele composto na sua fração graúda, de no mínimo 90% em massa de fragmentos à base de cimento Portland e rochas. Já o agregado de resíduo misto é aquele composto na sua fração graúda com menos de 90% em massa de fragmentos à base de cimento Portland e rochas. Para facilitar a classificação do agregado, a partir da sua composição, a mesma norma considera quatro grupos distintos: a) Grupo 1: fragmentos que apresentam pasta de cimento endurecida em mais de 50% do volume; b) Grupo 2: fragmentos constituídos por rocha em mais de 50% do volume; c) Grupo 3: fragmentos de cerâmica branca ou vermelha, com superfície não polida, em mais de 50% do volume; d) Grupo 4: fragmentos de materiais não minerais 8 Após análise visual, conforme a NBR 15116 (2004), da amostra utilizada para o ensaio, verificou-se que: a) b) c) d) Grupo 1: 48,07% Grupo 2: 27,03% Grupo 3: 24,41% Grupo 4: 0,49% Com base neste resultado o agregado do presente estudo é classificado como ARM, já que G1+G2 < 90%. A NBR 15116 (2004) ainda especifica que a porcentagem de materiais não minerais de características distintas (grupo 4) não deve ser superior a 3%. Verifica-se que o agregado analisado possui valor inferior ao estipulado por norma: 0,49 < 3%. 8.3 Índice de forma Segundo Bernucci et al (2008) as misturas asfálticas têm sua trabalhabilidade e resistência ao cisalhamento influenciadas pela forma das partículas dos agregados, pois partículas irregulares ou de forma angular tais como pedra britada, cascalhos e algumas areias de brita, tendem a apresentar melhor intertravamento entre os grãos compactados, tanto maior quanto mais cúbicas forem as partículas e mais afiladas forem suas arestas. Desta forma, a NBR 15116 estabelece que o índice de forma do agregado graúdo determinado a partir da NBR 7809, deve ser inferior a 3. O índice de forma obtido no presente estudo foi de 2,4, satisfazendo tal especificação. 8.4 Massa específica e massa específica aparente Para a realização da dosagem, utilizando-se a metodologia Marshall, faz-se necessário o conhecimento da massa específica do agregado. As Tabelas 2 e 3 apresentam os resultados dos respectivos ensaios. Tabela 2 – Massa Especifica real do agregado de RCD. Massa Específica Real (g/cm³) Agregado Agregado Graúdo Intermediário 2,50 2,56 Tabela 3 – Massa Especifica aparente do agregado de RCD. Massa Específica Aparente (g/cm³) Agregado Graúdo Agregado Intermediário 2,06 2,03 9 8.5 Absorção A absorção do agregado foi determinada com base na relação entre a sua massa medida após 24 horas imerso em água e a sua massa antes da imersão. Do mesmo modo, o agregado também irá absorver ligante asfáltico durante a mistura e, assim, é fundamental conhecer tal propriedade deste agregado. A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos. Tabela 4 – Absorção do agregado de RCD. Absorção (%) Agregado Graúdo Agregado Intermediário 8,69 10,07 Observa-se que os valores de absorção encontrados no presente estudo são elevados quando comparados aos valores de uma brita convencional, porém similares aos de outros trabalhos com agregado de RCD, como em Silva (2009) e Frota et al (2005). É importante considerar que embora o agregado apresente uma absorção elevada, os ganhos – sobretudo ambientais – que seu uso pode proporcionar, embora de difícil quantificação, são de importante consideração. 8.6 Abrasão Los Angeles Com o intuito de garantir que o agregado utilizado possua resistência à abrasão suficiente para tal finalidade, o DNIT estabelece que o resultado obtido no ensaio deva ser inferior a 50%. No presente estudo o valor obtido foi 41,29%, que enquadra o agregado na especificação rodoviária, como material adequado para uso em pavimentos. 8.7 Adesividade do agregado ao ligante asfáltico A adesividade do agregado de RCD foi considerada satisfatória, realizada conforme a norma ABNT NBR 12583:1992. A figura 3 ilustra o agregado no final do ensaio. Figura 3 – Aspecto visual do agregado de RCD após o ensaio de adesividade ao ligante asfáltico. 10 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da caracterização realizada, é possível constatar que o agregado em estudo possui potencial para ser utilizado em misturas asfálticas, pois dentre os principais índices encontrados em estudos laboratoriais, grande parte, além de apresentar propriedades físicas e mecânicas satisfatórias, comparados aos de materiais convencionalmente utilizados, condizem com algum parâmetro pré-estabelecido, como os da NBR 15115 (2004). Até o presente momento não foram realizados os ensaios de Sanidade e Adesividade ao Ligante, devido à dificuldade para se obter as soluções necessárias para o ensaio de sanidade, e por não ter sido, até então, utilizado o ligante asfáltico. No entanto, os mesmos já se encontram em desenvolvimento, e pretende-se apresentar tais resultados na versão definitiva deste trabalho, bem como outros dados que podem ser obtidos neste período. Em suma, espera-se com este trabalho que o agregado reciclado de RCD, produzido no estado de Sergipe, seja de uso promissor na pavimentação, e que seja incentivado mesmo quando analisadas as suas desvantagens, pois sua utilização é uma maneira de reduzir o impacto ambiental que esta causa às cidades de grande e médio porte. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT. NBR 15115: Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil - Execução de camadas de pavimentação – Procedimentos. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2004. ABNT. 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