Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 EDITORIAL SUMÁRIO Caro associado CENG e leitor, Pág. 2 . . . . . . . . . . . . TEXTO TÉCNICO Essa é a segunda edição do BOLET, onde serão editados alguns temas de ordem técnica e também Tratamento de úlcera neuroisquêmica, por diabetes mellitus, com cobertura contento prata nanocristalina Beatriz Farias Alves Yamada Débora Regina Guedes Suzana Aron cultural. Há relato de experiência clínica com uso de Pág. 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . ENTREVISTA curativo com prata no tratamento tópico de um Os desafios de „ser estomizada‟ Ana Cristina Rocha cliente que teve ferida devido ao diabetes. Uma jovem de bem com a vida e cheia de Pág. 11 . . . . . . . . . . . . TEXTO INFORMATIVO Cuidando de pessoas com doença de Alzzeimer Edina Santana otimismo, relata sua experiência em „ser estomizada‟ há 16 anos. Uma Pág. 12 . . . . . . . . . . . . CULTURAL enfermeira poetisa, deixando suas Poesia: Temeridades Maria Helena S Mandelbaum temeridades em publicar, nos brinda com uma poesia criada para com exclusividade para esse boletim. Desejo que você possa se beneficiar. Cordialmente, Dra Beatriz Yamada Editora BOLET - Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Página 1 Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 TEXTO TÉCNICO TRATAMENTO DE ÚLCERA NEUROISQUÊMICA, POR DIABETES MELLITUS, COM COBERTURA CONTENDO PRATA NANOCRISTALINA Beatriz Farias Alves Yamada – Enfa Estomaterapeuta (TiSOBEST), Doutora e Mestre em Enfermagem Débora Regina Guedes – Enfa Gerontóloga Suzana Aron – Enfa Estomaterapeuta (TiSOBEST) Introdução O Diabetes Mellitus (DM) acomete milhares de pessoas e cerca de 4 a 10% sofrem de úlceras crônicas (UC)1. As UC resultantes de mecanismos endógenos associados com doenças, freqüentemente, ficam estagnadas na fase inflamatória. A prata, além do efeito antimicrobiano, bloqueia a ação desses agentes próinflamatórios (PI) e equilibra o micro-ambiente local, favorecendo a cura das UC. Objetivo Relatar a experiência de utilização de prata nanocristalina (PN) ionizada em ferida neuroisquêmica crônica decorrente de DM. Método Esse relato de um caso - com consentimento escrito - foi realizado na Enfmedic - São Paulo. Cliente foi admitido em nosso serviço em 15/02/05. Sexo masculino, na época com 80 anos de idade, tinha cardiopatia, hipertensão arterial sistêmica, insuficiência venosa crônica, complicações neurovasculares e amputações prévias parciais nos pés devido a DM. O exame de Doppler revelou ateromatose e calcificação parietal difusas, além de oclusão de artérias de ambas as pernas. Seu pé estava em risco de nova amputação. O pé direito já havia sido submetido à amputação de todos os dedos, excetuando o quinto. Desse modo, estávamos diante de um caso complexo devido às doenças existentes que causam retardo no processo de reparação tecidual. Ainda tinha atividade laborativa a qual executava em sua própria casa. Com relação ao histórico das feridas, apresentava duas úlceras em cada pé, iniciadas em junho e novembro de 2004, respectivamente no pé direito (PD) e esquerdo. Contudo, nesse relato será apresentado o tratamento com a úlcera medial do PD, por ser a de maior área (4,54cm2 – Figura 1). A úlcera estava sem necrose, tinha 25% de descolamento de margem, exsudato amarelo esverdeado e ácido, pele ao redor macerada. BOLET - Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Página 2 Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 A documentação foi realizada com fotografia digital e planimetria computadorizada. Dentre outras medidas, confeccionou-se calçado terapêutico. Essa publicação foi feita mediante consentimento escrito de cliente. No iniciou do tratamento (Figura 1) adotou-se limpeza com soro fisiológico, uma cobertura com hidropolímero incorporada com PN e barreira de pele ao redor com ácidos graxos. O curativo era fixado com malha tubular. Para prover aquecimento aplicava-se sobre a malha o algodão ortopédico, e fazia-se um suave enfaixamento com atadura. A troca era realizada a cada 2/2 dias. Além disso, era necessária a realização de Figura 1 – Início do tratamento com hidropolímero com PN (HPN) desbridamento instrumental conservador da queratose ao redor da ferida. Resultados Por 64 dias usou-se hidropolímero com PN (Figura 2 a 4). Contudo, a fim de melhor controlar a maceração da pele ao redor mudou-se o tipo de cobertura. Continuou sendo aplicado PN ionizada, mas dessa vez impregnado numa malha de polietileno – PNMP, sendo essa cobertura iniciada dia 20/4/05 (Figura 4). Embora lento, verificou-se que ambos os curativos com presença de PN responderam favoravelmente à cicatrização, sem qualquer reação adversa. Com a PNMP, preservou-se melhor de maceração a área epitelizada. Após 36 dias de aplicação da PNMP houve diminuição em 50% da área inicial (Figura 5). Manteve-se a mesma conduta até o dia 18/08/05, quando a área estava com 0,48 cm2 (Figura 3). Portanto, foram seis meses de uso continuado de PN, sendo desses 120 dias de PNMP. Após a data acima, a cicatrização foi concluída, 51 dias depois, com outra tecnologia a base colágeno. A cicatrização complete aconteceu depois de 235, cerca de oito meses de tratamento (Figura 4). Adotaram-se depois cuidados com umectação do membro após o banho e uso de meia de algodão sem costuras para proteção do mesmo. BOLET - Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Página 3 Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Figura 2 – 35 dias depois do início do tratamento com HPN Figura 4 – 64 dias depois do início do tratamento com HPN. Figura 3 – 48 dias depois do início do tratamento com HPN Figura 5 – 36 dias depois de iniciado o uso da PNPM Inicio da PNMP Figura 6 – 120 dias depois do inicio da Finalização PNMP BOLET - Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Figura 7 – Cicatrização final Página 4 Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Discussão Tratar feridas em membros isquêmicos é um desafio, sendo o principal objetivo a prevenção da infecção. Estudos relatam2,3 que a excelência da prata para equilibrar a carga microbiana e inflamação permite que feridas refratárias cicatrizem, devido à diminuição dos citoquinas PI, desencadeados por traumas, isquemia, necrose, colonização crítica e infecção. Nesse relato de caso, e em muitos outros que acompanhamos, foi possível atestar que de fato as coberturas com prata são efetivas para tratamento de feridas de lento reparo. Ressaltamos o paciente desse caso há alguns meses estava sob tratamento com boas práticas, sem, contudo obter resposta adequada. Ao ser iniciado o uso da prata, a ferida passou a apresentar resposta favorável, com granulação, fechamento da área descolada e a epitelização, sendo que essa foi a fase mais prolongada do processo. Conclusões Foi usado PN por de 184 dias consecutivos, sem haver nenhuma reação adversa. A cicatrização completa ocorreu em 235 dias de tratamento. Não houve quadro infeccioso durante o tratamento. Considerações A prata nanocristalina se mostrou como uma excelente alternativa para tratamento de úlceras isquêmicas, sem nenhum afeito adverso, mesmo com uso prolongado. Podendo assim ser uma boa opção para tratar feridas refratárias. Referências: 1. Ribu L, Wahl A. Living with Diabetic foot ulcers: A life of fear, restrictions, and pain. Ostomy Wound Management 2004;50 (2): 57-67. 2. Sibbald RG et al. Preparing the wound bed 2003: Focus on Infection and Inflamation. Ostomy Wound Management 2003;49(11): 24-51 3. Shultz GS et al The wound bed preparation: a systematic approach to wound management. Wound Repair and Regeneration- The international journal of tissue repair and regeneration 2003:11(2) Supplement. BOLET - Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Página 5 Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 ENTREVISTA OS DESAFIOS DE ‘SER ESTOMIZADA’ A estomia é uma abertura realizada artificialmente em determinados órgãos do corpo. O termo correto na língua portuguesa é estomia ou estoma. Contudo popularmente, no Brasil, ostomia ou ostoma são os termos mais adotados. A associação do termo grego stomia ao nome do órgão a ser exteriorizado deriva os diversos tipos estomias realizadas no corpo humano. Dentre as estomias destacam-se as de origem intestinal decorrentes do câncer, doenças inflamatórias e traumas, entre outras causas. Alguém pode „estar‟ ou „ser‟ estomizada. Sendo aqui compreendido como „estar‟ uma condição temporária, e „ser‟ definitiva. Embora o objetivo principal de uma estomia seja „devolver‟ à vida, as pessoas estomizadas passam por uma série de dificuldades, a quais precisam ser superadas a fim de conseguirem ter uma vida „plena‟, dentro de suas limitações. Nessa edição, temos a grata satisfação de publicar uma entrevista com uma Ana Cristina Rocha, uma jovem com uma longa história de convívio com ileostomia, que mesmo com grandes desafios sabe como ninguém viver a vida com otimismo e superação. Indubitavelmente sua experiência em „ser estomizada‟ muito contribuirá para todos os leitores. BOLET: Há quanto tempo você tem estomia? AC: Estou ostomizada (ileostomizada) há 16 anos BOLET: Qual foi à causa da ileostomia? AC: Por complicação na Doença de Crohn, uma doença inflamatória. BOLET - Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Página 6 Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 BOLET: Quais foram (ou são) as principais dificuldades físicas, sociais e emocionais decorrentes de `ser estomizada’? AC: Com relação às dificuldades físicas, devido ao medo de traumatizar o ostoma, posso citar a questão de ter que usar transporte público cheio, passar em catracas, usar cinto do carro, a falta de banheiros públicos e a dependência de uso de bolsa coletora. Ficar refém de um programa público de distribuição de material é muito temeroso para uma pessoa ostomizada. Como qualquer programa de governo, o de ostomias também tem suas falhas. Não somente na distribuição de verbas, mas também possui alguns gestores que muitas vezes não conhecem a real necessidade de uma pessoa com ostomia. A falta de bolsas coletoras nos causa muito temor. Quanto às dificuldades sociais, eu nunca tive. Acho que pela forma como me posicionei diante da minha nova realidade. Não me coloco como coitada. Sempre falo da minha condição de ser ostomizada quando acho necessário. Os aspectos emocionais foram muitos. Eu tive vergonha do meu corpo, nojo, medo de envolvimentos íntimos, as quais hoje estão em termos superadas. Mas, no começo é uma barra muito pesada para carregar. Em parte pelo desconhecimento, pois não sabemos o que é viver com estoma o resto da sua vida. BOLET: Que ganhos se uma pessoa pode ter ao ‘ser estomizada’? AC: O ganho a princípio não se consegue mensurar, mas acho que a vida é o maior deles. Quando se tem doença de Crohn à gente sofre muito com diarréia, e isso é muito difícil quando se está fora de casa. Com ileostomia nós também temos diarréia, mas não precisamos sair desesperadas em busca de banheiro. E isso é uma coisa positiva. Pois antes as fezes eu vivia tendo acidentes de perda fezes na roupa, nas pernas. Agora, tenho diarréia, mas elas escorrem para “sacolinha”, ou seja, minha bolsa coleta, melhor dizendo. Sobre os ganhos sociais de „ser estomizada‟, depois de décadas à margem sem ser considerada “perfeita” para a sociedade, sem ter programas sociais e de emprego que me apoiasse e acreditasse no meu potencial, hoje, nós ostomizados somos contemplados pelo Decreto 5.296, de 02 de dezembro de 2004, que classifica a ostomia como deficiência. Embora não me sinta deficiente, mas, sim, com limitação, e considere que uma ostomia não causa invalidez, esse decreto nos deu condições de concorremos por vagas de emprego e cotas em empresas, o que era mais o importante para nós. Contudo, como o decreto é abrangente, passamos a receber outros benefícios, como isenção em tributos fiscais na compra de automóveis, isenção em transporte público, em algumas cidades do território nacional, e passe livre estadual. BOLET: Como você avalia sua qualidade de vida antes e depois da ter estomia? BOLET - Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Página 7 Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 AC: Ao longo desses 16 anos, eu faço a minha condição de „ser ostomizada‟ a mais prática possível. Troco minha placa e bolsa a cada três dias. Como uma atitude preventiva, eu levo sempre na minha bolsa um conjunto de placa e bolsa e gazes. Mas, foram poucas às vezes que aconteceram acidentes. Devido a minha doença, e a forma como eu via a vida, poucas eram as atividades que eu fazia antes da ostomia. Hoje, eu faço muito mais que antes. Posso passear no parque, ir ao cinema, fazer curso de artes plásticas, andar de bicicleta e também nadar, que adoro. Passei a dar muito valor às atividades que me dão prazer. Analisando a minha qualidade, eu diria que é muito melhor agora que antes da ostomia. Embora nesse momento, a doença esteja me causando alguns comprometimentos. BOLET: Nós, profissionais em estomaterapia, muito falamos em reabilitar as pessoas com estomias. Em sua opinião você acha isso possível? AC: Eu entendo que reabilitação englobe vários fatores. Desde a recuperação da saúde física e emocional, até sua volta as atividades sociais e laborativa. No meu caso, e em muitos outros casos, esta reabilitação não acontece, ou acontece parcialmente. Veja alguns exemplos de situações que enfrentamos: Ostomizados quando viajam preferem não se alimentam para que o intestino não funcione, e dessa forma a bolsa não encha. Nem mesmo água eles tomam. Isso é normal? BOLET - Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Página 8 Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Muitos casais deixam de ter vida sexual. Alguns com vergonha do parceiro e outros, no caso de homens, ficam impotente. Fatores emocionais afligem os nossos pensamentos, alguns deles dividimos com nossos parceiros ostomizados, outros guardamos para nós, acreditando que possamos ser ingratos com Deus, uma vez que ganhamos outra vez “A VIDA”. Tem um ditado que diz: “ A necessidade faz o sapo pular”. Isso descreve bem minha condição, e acredito que de muitos ostomizados também. Diante disso, eu acredito que não conseguimos atingir a tão sonhada e discutida reabilitação. Convivemos e buscamos nos adaptar. Mas, seu eu tivesse uma única chance de curar minha doença e poder fazer a reversão, eu lutaria por isso. Nada substitui o caminho natural que Deus fez. BOLET: Você recebeu assistência de um estomaterapeuta? Qual a importância desse enfermeiro para uma pessoa estomizada? AC: Sim, após mais ou menos três meses de ostomizada fui encaminhada para uma estomaterapeuta. Costumo dizer que a estomaterapeuta foi a minha salvação. Eu ficava me questionando como seria minha vida com uma bolsa enorme e com feridas na pele. Será que esta é a condição de uma pessoa ostomizada? Estou fadada a viver com dor e restrições de roupas, alimentação e locomoção? Parte dessas dúvidas quem me ajudou a responder foi uma enfermeira estomaterapeuta, seu nome é Ana Junko Yamada. Dessa forma, considero que a enfermeira estomaterapeuta é fundamental tanto pré operatório, para realizar uma boa demarcação, como no pós operatório, a fim de que o ostomizado e a estomaterapeuta possam, juntos, escolher melhor equipamento. Foi assim comigo e deu super certo, esta dando até hoje. Eu, particularmente, ainda passo em consulta com a estomaterapeuta, pois para mim ela tem a mesma importância que o médico ou psicologo. Todos fazem parte de uma equipe multiprofissional, para contribuir na recuperação física e emocional do ostomizado e sua família. BOLET: Você tem atuado em movimentos associativos, fale da importância do mesmo? AC: sim, eu atuo. Fui apresentada a Associação dos Ostomizados pela Estomaterapeuta Ana. Este é outro papel fundamental da ET, colaborar para a propalação dos grupos de ostomizados, que muito contribui para troca de experiências. A associação foi fundamental para minha recuperação, encontrar pessoas como eu me fez não me sentir tão sozinha, podendo falar abertamente das minhas duvidas, vergonhas e medos. Foi BOLET - Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Página 9 Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 fundamental na minha formação política e atuante diante de organizações governamentais. Pude participar da Cartilha dos Jovens Ostomizados, Revista Abraso e Programa institucional de divulgação da ostomia como deficiência na Rede Globo de televisão. Fui a idealizadora e coordenadora da I Caminhada pelos Ostomizados no Estado de São Paulo. Hoje realizo palestras em instituições hospitalares, faculdades, cursos e feiras. Como podem ver a associação é muito mais que um grupo de pessoas reunidas. São pessoas reunidas em busca de uma melhor condição social, que juntos discutem e buscam resolver suas dores. Fiz amigos amados e queridos. Resumindo a Associação despertou em mim um senso crítico da vida e me fez descobrir habilidades, que antes nem poderia imaginar que poderia ter BOLET: Que mensagem você gostaria de deixar para outras pessoas que são estomizadas? AC: Teria inúmeros relatos dolorosos e felizes para contar. Histórias sobre essa minha jornada não me faltam. Mas, quero deixar uma mensagem de otimismo para todos que vivem com alguma limitação, nesse caso “ser estomizado”. Não ligue a vida no automático (é difícil, eu não consigo, o que será de mim, tudo acabou). Permita-se dirigi-la, pois dessa forma encontrará inúmeras opções para expandi-la. Ouse redescobrir suas habilidades e coloque-as em prática. Viva mais a vida. Participe dos grupos de apóio e faça novos amigos. Dessa forma poderá trocar idéias, sanar dúvidas. Não deixe sua vida ficar amarrada ao passado, pensando no que perdeu, pense no que ganhou. Deus lhe permitiu estar vivo e Ele tem algo maravilhoso para sua vida. E tenha a certeza que diante de Deus você é perfeito. Deixo a sugestão de versículo bíblico. ‘E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus”. João 9: 1-3 BOLET - Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Página 10 Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 TEXTO INFORMATIVO CUIDANDO DE PESSOAS COM DOENCA DE ALZHEIMER Edina Santana – Psicóloga De todas as grandes enfermidades que acometem os idosos, a doença de Alzheimer é a mais inquietante, desoladora e misteriosa. Inquietante porque a idéia de perdermos aos poucos a memória e a consciência de todos os momentos de nossas vidas nos parece mais desamparador que o conceito de morte. Desolador porque não podemos dizer em que se transformou o amor que a pessoa sentia pelos filhos, esposa ou marido. E, por fim, misteriosa, pois apesar de todos os estudos e avanços em relação ao diagnóstico e tratamento da doença, ainda não podemos responder com clareza o que ela é, nem a sua verdadeira causa. Essas incertezas estão presentes e interferem na maneira como cuidamos das pessoas que possuem mal de Alzheimer. Na maioria das vezes, nos distanciamos desses doentes devido ao fato dos mesmos serem incapazes de estabelecer uma comunicação efetiva - do modo como estamos habituados - e, fatalmente, passamos a acreditar que os portadores de Alzheimer não são mais capazes de pensar. Dessa forma, deixamos de nos preocupar em interagir com eles. Esta atitude é totalmente errônea. As pesquisas nos mostram que o pensamento está presente, porém, não nos é manifestado pelos moldes tradicionais, sendo necessário desenvolvermos outros meios para manter a comunicação, pois a essência da identidade está na faculdade de perceber e sentir. A pessoa que cuida deve desenvolver sua capacidade de percepção para poder compreender o que o paciente diz através da reação afetiva. A empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro) é fundamental para podermos traduzir em palavras o que captamos por intermédio da observação/interação. É preciso investir mais na formação de nossos profissionais. Um maior investimento em treinamento e capacitação na área de recursos humanos permite o desenvolvimento de uma visão mais humanista. O profissional deve sempre ter em mente que o relacionamento entre o cuidador e a pessoas com Alzheimer é tão importante quanto os seus conhecimentos técnicos. É fundamental que se consiga “enxergar” o indivíduo através do paciente. As ações devem ir ao encontro das necessidades fisiológicas e psicossociais do portador da enfermidade. A estimulação é possível em todas as fases da doença e está diretamente relacionada com uma melhor qualidade de vida e bem-estar da pessoa com a doença de Alzheimer. BOLET - Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Página 11 Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 TEXTO CULTURAL TEMERIDADES Maria Helena Santana Mandelbaum Enfermeira Dermatológica, Doutora em Educação Poesia Por vezes nos vemos diante de medos, temores, e nem sabemos como surgem.... Instantes que nos tomam de assombro, talvez por percebermos nossas fragilidades. Segundos que assolam nossa alma, e se tornam inquietas temeridades! Ora é o bandido que nos espreita na esquina escura, em cada curva da grande cidade, Outras é o simples ruído da gota de água que cai na pia da noite vazia, mais parecendo um trovão! Por vezes, é o medo da morte, da parada súbita da vida, que nos envolve feito um vulcão. Por vezes tememos a nova idade, as primeiras rugas e os cabelos brancos, as espinhas e as dores. Num mesmo instante, nos vemos perdidos, com medo do longe e da perda de amores. Sentimos o nada, a falta de sentido, mas nos sentimos assustados, buscando aconchego. Queremos refúgio, no colo que acolhe, no encontro que envolve, no olho que envolve! Tememos que o tempo, com sua volúpia, imponha sua vontade e não tenhamos escolhas, E as temeridades, que tanto tememos, nos movem ou paralisam, depende da gente! Depende da gente, sair do escuro, abrir uma porta, e esticar o braço encolhido! Buscar o encontro, o momento do riso, do amigo presente, que parecia escondido. Deixar que a alma, sem temeridades, vagueie em sonhos, buscando na vida, um novo sentido! (Lena, 10/11/2011, para minha querida amiga Bia, my little Bee) BOLET - Novembro 2011, Volume 1, Nº 2 Página 12