228 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 UNEP, Angelo Dotto, Italy, Still Pictures Atmosfera Panorama mundial Nas três últimas décadas, as emissões antropogênicas de compostos químicos na atmosfera causaram muitos problemas ao meio ambiente e à saúde. Algumas substâncias químicas, como os clorofluorocarbonos (CFCs), são produzidas deliberadamente e terminam na atmosfera por acidente, provenientes de equipamentos ou produtos. Outras, como o dióxido de enxofre (SO2) e o monóxido de carbono (CO), são derivados inevitáveis da queima de combustíveis fósseis. A poluição atmosférica urbana, a chuva ácida, a contaminação por substâncias químicas tóxicas (algumas das quais são persistentes e transportadas por longas distâncias), a destruição da camada de ozônio estratosférico e mudanças no sistema climático global são fatores que constituem ameaças ambientais importantes aos ecossistemas e ao bemestar humano. Poluição atmosférica e qualidade do ar A Organização Mundial de Saúde (OMS) lista seis poluentes atmosféricos “clássicos”: CO, chumbo, dióxido de nitrogênio (NO2), Material Particulado em Suspensão (MPS) – incluindo poeira, fumos, neblinas e fumaça –, SO2 e ozônio troposférico (O3) (WHO, 1999). A queima de combustíveis fósseis e de biomassa é a fonte mais significativa de poluentes atmosféricos, tais como SO2, CO, certos óxidos de nitrogênio como NO e NO2 (conhecidos coletivamente como NOx), os MPS, os compostos orgânicos voláteis (VOCs) e alguns metais pesados. Também constitui a maior fonte antropogênica de dióxido de carbono (CO2), um dos importantes gases de efeito estufa. Entre 1973 e 1998, o fornecimento total de energia aumentou 57% (ver gráfico na página seguinte), a maior parte originada do petróleo, do gás natural e do carvão, enquanto a energia nuclear, a hidrelétrica e a proveniente de outros recursos renováveis desempenharam um papel secundário (IEA, 229 ATMOSFERA Os impactos associados à poluição atmosférica As substâncias nocivas emitidas na atmosfera afetam tanto a saúde humana quanto os ecossistemas. Estima-se que a poluição atmosférica ao ar livre e de lugares fechados seja responsável por aproximadamente 5% da carga mundial de doenças. A poluição do ar agrava, e possivelmente até causa, asma e outras doenças respiratórias alérgicas. Os resultados negativos de gestações, tais como o nascimento de bebês mortos e baixo peso de recém-nascidos, também têm sido associados à poluição atmosférica (Holdren e Smith, 2000). Calcula-se que, nos países em desenvolvimento, cerca de 1,9 milhão de pessoas morrem anualmente em conseqüência da exposição a altas concentrações de partículas em suspensão (MSP) no ambiente atmosférico de lugares fechados em áreas rurais, enquanto a mortalidade causada pelos níveis de concentração de SPM e de SO2 ao ar livre chega a aproximadamente 500 mil pessoas a cada ano. Também estão surgindo provas de que partículas com um diâmetro aerodinâmico médio inferior a 2,5 µm (PM2,5) afetam a saúde humana de forma considerável (WHO, 1999). O depósito de ácidos é uma das causas de acidificação do solo e da água, que resulta em menores quantidades de peixes, em uma menor diversidade em lagos sensíveis a ácidos e na degradação de florestas e solos. O excesso de nitrogênio (na forma de nitrato e/ ou amônio) promove a eutroficação, principalmente nas áreas costeiras. A chuva ácida causa danos aos ecossistemas, provoca desfolhamento, corrosão de monumentos e edifícios históricos, além de reduzir os rendimentos agrícolas. adotada em 1979. Por meio de uma série de protocolos que estabelecem metas de redução para os principais poluentes atmosféricos, esse tratado foi o catalisador dos governos da Europa, do Canadá e dos Estados Unidos na implementação de políticas nacionais de redução de emissões (ECE, 1995). O mais recente é o Protocolo de 1999 para reduzir os níveis de Reserva mundial de energia, por combustível (milhões de toneladas de equivalente de petróleo/ano) 10.000 8.000 carvão combustíveis renováveis e resíduos petróleo nuclear hidráulica gás 6.000 4.000 2.000 acidificação, eutroficação e de ozônio troposférico (1999 Protocol to Abate Acidification, Eutrophication and Ground-Level Ozone), que estabelece novas metas de redução para emissões de SO2, NOx, VOCs e amônia (NH3) (ECE, 2000). A regulamentação ambiental mais rígida nos países industrializados desencadeou a introdução de 98 19 19 95 19 92 19 89 86 19 83 19 80 19 77 19 74 19 71 0 19 2000). Os combustíveis usados variam de região para região – por exemplo, o gás natural predomina na Federação Russa, enquanto o carvão fornece 73% da energia consumida na China (BP Amoco, 2000). A biomassa é uma importante fonte de energia no mundo em desenvolvimento e é a principal fonte de poluição do ar em locais fechados nesses países (Holdren e Smith, 2000). A chuva ácida tem sido um dos motivos de preocupação ambiental mais importantes nas últimas décadas, principalmente na Europa e na América do Norte (Rodhe e outros, 1995), e mais recentemente também na China (Seip e outros, 1999). Danos significativos em florestas européias tornaram-se uma questão ambiental de alta prioridade por volta de 1980, enquanto milhares de lagos na Escandinávia perderam populações de peixes devido à acidificação que ocorreu entre as décadas de 1950 e de 1980. Em algumas partes da Europa, as emissões antropogênicas de SO2 que causaram chuvas ácidas foram reduzidas em quase 70% de seus valores máximos (EEA, 2001); também tem havido reduções de aproximadamente 40% nos Estados Unidos (US EPA, 2000). Essas reduções causaram uma recuperação considerável do equilíbrio natural de ácido, ao menos na Europa. No sentido inverso, como conseqüência do uso crescente de carvão e outros combustíveis ricos em enxofre, as emissões cada vez maiores de SO2 na região da Ásia e Pacífico representam uma séria ameaça ambiental (UNEP, 1999). As emissões de poluentes atmosféricos diminuíram ou estabilizaram na maioria dos países industrializados, em grande parte como resultado de políticas de redução elaboradas e implementadas desde a década de 1970. Inicialmente, os governos tentaram aplicar instrumentos de controle direto, mas estes nem sempre foram eficazes quanto aos custos. Na década de 1980, as políticas eram mais direcionadas a mecanismos de baixo custo de redução da poluição, baseados em um compromisso entre o custo das medidas de proteção ambiental e o crescimento econômico. O princípio do “poluidor-pagador” tornou-se um conceito básico no planejamento de políticas ambientais. Recentemente, a elaboração de políticas, tanto em âmbito nacional como regional, tem-se fundamentado em instrumentos econômicos e reguladores, bem como no aprimoramento e na transferência de tecnologia para intensificar as reduções de emissões. No cenário internacional, um dos avanços políticos mais importantes foi a Convenção sobre Poluição Atmosférica Transfronteiriça (Convention on LongRange Transboundary Air Pollution – CLRTAP), Na reserva mundial de energia ainda predominam os combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás). Fonte: IEA, 2000 230 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 tecnologias mais limpas e melhorias tecnológicas, principalmente nos setores energético e de transporte. Neste último, foi alcançada uma redução significativa das emissões nocivas devido à melhoria do ciclo de combustão dos motores, a uma maior eficiência dos combustíveis e à introdução generalizada de catalisadores (Holdren e Smith, 2000). As emissões de chumbo provenientes dos aditivos na gasolina caíram para zero em muitos países industrializados (EEA, 1999; US EPA, 2000). Nos países em desenvolvimento, no entanto, as fontes de emissões são mais variadas e incluem usinas de energia altamente poluidoras, a indústria pesada, veículos e a combustão doméstica de carvão, lenha e biomassa. Embora as emissões de poluentes possam ser consideravelmente reduzidas a um custo baixo, poucas nações em desenvolvimento fizeram ao menos pequenos investimentos em medidas de redução da poluição, ainda que os benefícios gerados por tais medidas para o meio ambiente e a saúde da população sejam evidentes (Holdren e Smith, 2000; World Bank, 1997). Embora tenha sido alcançado um progresso mensurável na redução de emissões industriais ao menos nos países desenvolvidos, o transporte tornou-se uma das maiores fontes de poluição atmosférica (particularmente causada por NOx e diversos compostos de carbono) em muitos países. As altas concentrações desses compostos na atmosfera de áreas urbanas podem, sob certas condições climáticas, resultar em uma névoa fotoquímica que afeta gravemente a saúde humana. Em muitos centros urbanos e áreas adjacentes, as concentrações elevadas de O3 troposférico são mais um problema. O ozônio troposférico antropogênico pode ser produzido em reações químicas entre NOx e VOCs em dias quentes e ensolarados, principalmente em áreas urbanas e industriais e em regiões propensas a massas de ar estagnado. Essa produção de ozônio pode ter implicações extensas, uma vez que foi descoberto que as moléculas de O3 viajam por grandes distâncias (até 800 km) a partir das fontes de emissão (CEC, 1997). As concentrações de O3 troposférico em amplas áreas da Europa e em algumas áreas da América do Norte são tão elevadas que não apenas ameaçam a saúde humana, mas também afetam a vegetação. Por exemplo, calculou-se que nos Estados Unidos o custo das reduções dos rendimentos agrícolas e de florestas comerciais causadas pelo ozônio troposférico excede US$ 500 milhões ao ano (US EPA, 2000). A poluição atmosférica urbana é um dos problemas ambientais mais relevantes. Na maior parte das cidades européias e da América do Norte, as con- Migração de poluentes orgânicos persistentes latitudes médias ciclos periódicos de sedimentação e evaporação transporte atmosférico de longo transporte alcance oceânico de longo alcance baixas latitudes evaporação > sedimentação latitudes altas sedimentação > evaporação alta mobilidade destilação global com fracionamento de acordo com a mobilidade global mobilidade relativamente alta degradação e retenção permanente mobilidade relativamente baixa baixa mobilidade “grasshopping” fracionamento por trocas entre ar e superfície Os poluentes orgânicos persistentes se espalham por meio de uma variedade de mecanismos a diferentes latitudes. Fonte: Wania e Mackay, 1996 centrações de SO2 e MPS diminuíram de forma substancial nos últimos anos (Fenger, 1999; US EPA, 2000). Contudo, em muitos países em desenvolvimento, a urbanização acelerada resultou em uma maior poluição do ar em muitas cidades (Fenger, 1999), as diretrizes da OMS para a qualidade do ar freqüentemente não são cumpridas e prevalecem os altos níveis de SPM em megalópoles como Beijing, Calcutá, Cidade do México e Rio de Janeiro (World Bank, 2001). Por último, uma questão de preocupação mundial refere-se aos poluentes orgânicos persistentes (POPs). Sabe-se que essas substâncias se degradam lentamente e podem ser transportadas pela atmosfera por longas distâncias (ver ilustração acima). Encontram-se altas concentrações de alguns POPs em áreas polares (Schindler, 1999; Masclet e outros, 2000; Espeland e outros, 1997), o que possivelmente causa impactos ambientais regionais sérios. Esses compostos também podem ficar acumulados na gordura de animais, representando um risco à saúde. A Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, adotada em maio de 2001, estabelece medidas de controle que abrangem o manejo de pesticidas, produtos químicos industriais e derivados não intencionais. As cláusulas de controle exigem a eliminação da produção e do uso de POPs produzidos intencionalmente, bem como a eliminação, quando viável, de POPs produzidos involuntariamente (UNEP, 2001). A destruição do ozônio estratosférico A proteção da camada de ozônio da Terra tem sido um dos maiores desafios nos últimos trinta anos, abrangendo as áreas de meio ambiente, comércio, coopera- ATMOSFERA Produção mundial dos principais clorofluorocarbonos (toneladas/ano) 1.200.000 CFC-113 CFC-12 1.000.000 CFC-11 800.000 600.000 400.000 200.000 99 97 19 94 19 91 19 88 19 85 19 82 19 79 19 76 19 73 19 19 19 70 0 A produção mundial dos três principais CFCs chegou ao máximo por volta de 1988 e desde então tem diminuído para níveis muito baixos. Fonte: AFEAS, 2001 O buraco da camada de ozônio atingiu um tamanho recorde em setembro de 2000 – 28,3 milhões de km², três vezes a área territorial dos Estados Unidos. As áreas em azul escuro indicam níveis elevados da destruição do ozônio. Fonte: NASA, 2001 O buraco da camada de ozônio sobre a Antártida quebra um novo recorde 6 de setembro de 2000 Reimpresso com a permissão de Paul A. Newman ção internacional e desenvolvimento sustentável. A diminuição da camada de ozônio ameaça a saúde humana por meio de doenças como câncer de pele, catarata ocular e imunodeficiência, afeta a flora e a fauna e também influi no clima do planeta. A destruição da camada de ozônio é causada por diversas substâncias químicas, conhecidas como substâncias que destroem a camada de ozônio (SDO), das quais as mais notórias são os clorofluorocarbonos (CFCs). Em 1974, os resultados de estudos que associam a destruição do ozônio estratosférico à liberação de íons de cloreto na estratosfera a partir de CFCs foram disponibilizados ao público (Molina e Rowland, 1974). As SDO são usadas em refrigeradores, aparelhos de ar-condicionado, aerossóis, espumas isolantes e de móveis e equipamentos de combate a incêndios. Sua produção teve seu ápice no fim da década de 1980, quando aumentou a demanda por tais produtos (ver gráfico acima). A destruição da camada de ozônio da Terra chegou a níveis recorde atualmente, principalmente na Antártida e, mais recentemente, também no Ártico. Em setembro de 2000, o buraco da camada de ozônio sobre a Antártida cobria mais de 28 milhões de quilômetros quadrados (WMO, 2000; NASA, 2001). Atualmente, a média das perdas de ozônio é de 6% nas latitudes médias do Hemisfério Norte no inverno e na primavera, 5% nas latitudes médias do Hemisfério Sul durante o ano todo, 50% na primavera antártica e 15% na primavera ártica. Os aumentos resultantes na irradiação de raios ultravioletas nocivos chegam a 7%, 6%, 130% e 22%, respectivamente (UNEP, 2000a). Entretanto, devido aos esforços contínuos da comunidade internacional, o consumo global de SDO diminuiu de forma notável, e prevê-se que a camada de ozônio começará a se recuperar em uma ou duas décadas e retornará aos níveis anteriores a 1980 até meados do século XXI, se todos os países aderirem a todas as medidas de controle futuras do Protocolo de Montreal (UNEP, 2000a). A cooperação internacional tem sido a chave para a proteção da camada de ozônio estratosférico. As nações concordaram, em princípio, em combater um problema global antes que seus efeitos se tornassem evidentes ou que sua existência fosse cientificamente comprovada – provavelmente, o primeiro exemplo de aceitação da abordagem baseada na precaução (UNEP, 2000a). A ação internacional começou seriamente em 1975, quando o Conselho Governamental do PNUMA convocou uma reunião para coordenar as atividades de proteção da camada de ozônio. Um Comitê de Coordenação sobre a Camada de Ozônio foi estabelecido no ano seguinte para encarregar-se de uma análise científica anual. Em 1977, os Estados Unidos proibiram o uso de CFCs em aerossóis não-essenciais. O Canadá, a Noruega e a Suécia logo aplicaram medidas de controle similares. A Comunidade Européia (CE) conteve a capacidade de produção de aerossóis e começou a limitar seu uso. Tais iniciativas, embora 231 232 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 úteis, ofereceram apenas um alívio temporário. Após diminuir por vários anos, o consumo de CFC começou a aumentar novamente na década de 1980, à medida que aumentaram seus usos não-aerossóis, como em espumas, solventes e produtos refrigerantes. Foram necessárias medidas mais rígidas de controle: o PNUMA e diversos países desenvolvidos tomaram a iniciativa de propor a assinatura de um tratado mundial sobre a proteção da camada de ozônio estratosférico (Benedick, 1998). A Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio foi finalmente assinada por 28 países em março de 1985. O documento promoveu a cooperação internacional em relação a pesquisa, obConcentração de dióxido de carbono em Mauna Loa, Havaí (partes por milhões por volume) 380 370 360 350 340 330 320 310 Fonte: Keeling e Whorf, 2001 01 99 20 97 19 95 19 93 19 91 19 89 19 87 19 85 19 83 19 81 19 79 19 77 19 75 19 73 19 71 19 69 19 67 Os registros de Mauna Loa, Havaí, mostram como a concentração de CO2 tem aumentado. Esse aumento se deve principalmente às emissões antropogênicas resultantes da queima de combustíveis fósseis. 19 65 19 63 19 61 19 19 19 59 300 servação sistemática da camada de ozônio, monitoramento da produção de SDO e intercâmbio de informações. Em setembro de 1987, 46 países adotaram o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (até dezembro de 2001, 182 partes haviam ratificado a Convenção de Viena e 181 partes, o Protocolo de Montreal). O Protocolo original exigia apenas um corte de 50% no consumo de cinco CFCs amplamente utilizados até dezembro de 1999, bem como uma paralisação do consumo de três halons. Avaliações científicas regulares foram a base para emendas e ajustes posteriores ao Protocolo, introduzidas em Londres (1990), Copenhague (1992), Viena (1995), Montreal (1997) e Beijing (1999). Até o ano 2000, 96 substâncias químicas estavam sujeitas a controle (Sabogal, 2000). A maior parte das SDO – entre elas todas as substâncias especificadas no Protocolo original – foi eliminada nos países industrializados até o final de 1995. O Protocolo oferece um período de carência de dez anos para os países em desenvolvimento e o mecanismo financeiro (o Fundo Multilateral para o Protocolo de Montreal) para arcar com os custos de eliminar as SDO, realizando dessa forma o princípio de responsabilidade comum, porém diferenciada. Até o ano 2000, o Fundo Multilateral havia desembolsado mais de US$ 1,1 bilhão para projetos de capacitação e eliminação de SDO em 114 países em desenvolvimento. Quase todos os signatários do Protocolo de Montreal adotaram as medidas para eliminar as SDO. Conseqüentemente, o consumo total de SDO havia sido reduzido em 85% no ano 2000 (UNEP, 2000b). Os gases de efeito estufa e a mudança climática A comunidade científica está ciente do “efeito estufa” natural há mais de um século (Arrhenius, 1896): a Terra mantém sua temperatura em equilíbrio por meio de uma delicada relação entre a energia solar (radiação de ondas curtas) que absorve e a energia infravermelha (radiação de ondas longas) que emite, parte da qual escapa para o espaço. Os gases de efeito estufa (vapor d’água, dióxido de carbono, metano e outros) permitem que a radiação solar passe através da atmosfera terrestre quase sem obstáculo, mas absorvem a radiação infravermelha proveniente da superfície da Terra e então irradiam novamente uma parte dela de volta ao planeta. Esse efeito estufa natural mantém a temperatura da superfície cerca de 33ºC mais quente do que seria em sua ausência – o que é quente o suficiente para sustentar a vida. Desde a revolução industrial, a concentração de CO2 (um dos principais gases de efeito estufa) na atmosfera aumentou de forma significativa (ver gráfico à esquerda, que reflete o crescimento desde que as medições diretas tiveram início, em 1957). Esse aumento contribuiu para um efeito estufa maior, conhecido como “aquecimento global”. Atualmente, a concentração de CO2 na atmosfera é de aproximadamente 370 partes por milhão (ppm) – um aumento de mais de 30% desde 1750. Esse aumento deve-se, em grande parte, a emissões antropogênicas de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis e, em um grau menor, a mudanças no uso da terra, à produção de cimento e à combustão de biomassa (IPCC, 2001a). Embora o CO2 seja responsável por mais de 60% do efeito estufa adicional acumulado desde a industrialização, as concentrações de outros gases de efeito estufa, tais como o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), halocarbonos e halons, também aumentaram. Em comparação com o ATMOSFERA CO2, o CH4 e o N2O contribuíram com cerca de 20% e 6-7%, respectivamente, para o efeito estufa adicional. Os halocarbonos contribuíram com aproximadamente 14%. Muitas dessas substâncias químicas são regulamentadas pelo Protocolo de Montreal (ver acima). No entanto, as substâncias cujo potencial de destruição da camada de ozônio é insignificante não são controladas pelo Protocolo. Embora tenham sido responsáveis por menos de 1% do efeito estufa adicional desde a industrialização, suas concentrações na atmosfera estão aumentando (IPCC, 2001a). As emissões de gases de efeito estufa são distribuídas de forma desigual entre os países e as regiões. Em geral, os países industrializados são responsáveis pela maioria das emissões passadas e presentes. Os países da OCDE contribuíram com mais da metade das emissões de CO2 em 1998, com uma emissão média per capita de aproximadamente três vezes a média mundial. Porém, a proporção das emissões globais de CO2 por parte dos países da OCDE diminuiu em 11% desde 1973 (IEA, 2000). Ao avaliar o possível impacto das concentrações crescentes de gases de efeito estufa na atmosfera, o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) concluiu, em 2001, que havia então uma nova e mais forte evidência de que a maior parte do aquecimento observado nos últimos cinqüenta anos atribui-se a atividades humanas. O aquecimento global chegou a cerca de 0,6 (±0,2) ºC durante o século XX; a década de 1990 foi, “muito provavelmente”, a mais quente e 1998 foi o ano mais quente nos registros oficiais, mantidos desde 1861. Grande parte do aumento do nível do mar nos últimos cem anos (cerca de 10 a 20 cm) provavelmente esteve relacionada com o aumento simultâneo da temperatura global (IPCC, 2001a). Tanto os ecossistemas como a saúde humana e a economia são sensíveis a mudanças no clima – não somente quanto à magnitude dessas mudanças, como também quanto ao seu ritmo. Enquanto muitas regiões provavelmente sofrem os efeitos negativos da mudança climática – alguns dos quais são potencialmente irreversíveis –, alguns efeitos poderiam ser benéficos para outras regiões. A mudança do clima representa um estresse adicional importante aos ecossistemas já afetados por crescentes demandas por recursos, práticas de manejo não-sustentável e poluição. Alguns dos primeiros resultados das mudanças do clima podem servir como indicadores. Diversos sistemas vulneráveis, tais como os recifes de coral, estão seriamente ameaçados pela maior tempera- 233 tura do mar (IPCC, 2001b), e algumas populações de pássaros migratórios têm diminuído devido a variações desfavoráveis nas condições climáticas (Sillett, Holmes e Sherry, 2000). Além disso, a mudança do clima provavelmente afeta a saúde e o bem-estar humanos por meio de vários mecanismos. Por exemplo, a mudança climática pode afetar de forma negativa a disponibilidade de água doce, a produção de alimentos e a distribuição e propagação sazonal de doenças infecciosas de transmissão vetorial, como a malária, a dengue e a esquistossomose. O estresse adicional da mudança climática irá atuar de formas diferentes nas regiões. Pode-se esperar que esse fator reduza a capacidade de alguns sistemas ambientais de fornecer, Emissões de dióxido de carbono por região, 1998 (milhões de toneladas de carbono/ano) de forma sustentada, bens e serviços importantes necessários ao êxito do desenvolvimento econômico e social, incluindo alimentos adequados, ar e água limpos, energia, abrigo seguro e baixos níveis de doenças (IPCC, 2001b). A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), adotada na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) em 1992 (ver Capítulo 1), tem como objetivo último “a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera a um nível que impeça interferências antrópicas perigosas no sistema climático” (UNFCCC, 1992). A Convenção define ainda diversos princípios de importância fundamental, por exemplo, que as partes devem tomar medidas de precaução e agir “com base na igualdade e de acordo com suas responsabilidades comuns, porém diferenciadas”. Por se tratar de uma convenção quadro, a UNFCCC continha apenas uma re- As emissões antropogênicas de gás de efeito estufa se distribuem de forma desigual entre as regiões – a maioria das emissões provém das regiões industrializadas. Os números incluem emissões por consumo de combustível, queima de gás e produção de cimento. Fonte: dados compilados de Marland, Boden e Andres, 2001 234 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 comendação não-vinculante para que os países industrializados reduzissem aos níveis registrados em 1990 as emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa (não controlados pelo Protocolo de Montreal) até o ano 2000 (UNFCCC, 1992). No entanto, a maioria deles não reduziu as emissões antropogênicas de gases de efeito estufa aos níveis registrados em 1990 (UNFCCC, 2001). Em geral, as emissões globais de quase todos os gases de efeito estufa antropogênico, particularmente o CO2, continuam aumentando (IEA, 2000), o que reflete a inadequação das políticas e medidas nacionais e internacionais para tratar a questão da mudança do clima. Em seu Segundo Relatório de Avaliação, o IPCC declarou que “o exame das evidências” sugere que há uma influência humana perceptível no clima global” (IPCC, 1996). Essa afirmação sem equívocos forneceu a base científica para a adoção do Protocolo de Quioto à UNFCCC em dezembro de 1997. O protoO histórico da cooperação internacional sobre mudança do clima No início da década de 1970, a comunidade científica começou a atrair a atenção dos formuladores de políticas para o aquecimento global como uma ameaça mundial crescente (SCEP, 1970). No entanto, seus apelos foram inicialmente ignorados, e, à medida que as economias cresciam, uma maior quantidade de combustíveis fósseis era queimada, desmatavam-se mais áreas de florestas para uso agrícola e se produziam mais halocarbonos. Foram necessários mais vinte anos de esforços contínuos por parte de cientistas, ONGs, organismos internacionais e diversos governos para fazer com que a comunidade internacional concordasse em coordenar ações para tratar do problema da mudança climática. Em geral, considera-se que a Conferência de Estocolmo foi o ponto de partida dos esforços internacionais sobre variações climáticas e mudanças do clima (UN, 1972). Em 1979, na Primeira Conferência Mundial sobre o Clima, realizada em Genebra, expressou-se a preocupação com o patrimônio atmosférico comum. Compareceu ao evento principalmente a comunidade científica, e os formuladores de políticas deram pouca atenção à Conferência. Na década de 1980, uma série de conferências e workshops foi realizada em Villach, Áustria, em que foram consideradas as possíveis conseqüências de emissões futuras de todos os gases de efeito estufa importantes. Na Conferência de Villach de 1985, um grupo internacional de especialistas científicos chegou a um consenso sobre a seriedade do problema e o perigo de um aquecimento significativo do planeta (WMO, 1986). Como resultado de uma crescente pressão do público e das advertências da Comissão Brundtland (WCED, 1987), o problema da mudança do clima global foi incluído na agenda política de diversos governos. Houve um avanço diplomático na Conferência sobre as Alterações na Atmosfera, realizada em Toronto em 1988, da qual surgiu uma recomendação que instava as nações desenvolvidas a, até o ano 2005, reduzirem as emissões de CO2 em 20% a partir dos níveis registrados em 1988. Poucos meses depois, a OMM e o PNUMA estabeleceram conjuntamente o IPCC, com o objetivo de analisar o conhecimento científico sobre a mudança do clima, seus impactos e seus aspectos econômicos, bem como sobre as possíveis medidas de diminuição da mudança do clima e/ou de adaptação a ela. Os estudos do IPCC, principalmente os três extensos Relatórios de Avaliação de 1990, 1995 e 2001, abrangeram todas as diferentes facetas da mudança climática. colo contém, pela primeira vez, metas de redução da emissão de gases de efeito estufa para a maior parte dos países industrializados. As metas, porém, variam de uma obrigação de reduzir as emissões em 8% (para a União Européia e muitos países da Europa Central) até uma permissão de aumentar as emissões em 10% (Islândia) e 8% (Austrália). Em geral, exige-se que os países industrializados reduzam o total de suas emissões em ao menos 5% abaixo do nível registrado em 1990 durante o período de 2008 a 2012. Não foram introduzidas novas obrigações para os países em desenvolvimento. O Protocolo de Quioto também permite a implementação coletiva de obrigações por meio da aplicação dos chamados “mecanismos de Quioto”. Tais mecanismos procuram oferecer “flexibilidade geográfica” e reduzir os custos do cumprimento das metas de Quioto. Por exemplo, um deles – o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – permite que os países industrializados recebam créditos de emissão para realizar projetos que visem a redução de emissões de gases de efeito estufa em países em desenvolvimento (UNFCCC, 1997). Os custos estimados para os países industrializados implementarem o Protocolo de Quioto variam entre 0,1% e 2% de seu PIB em 2010 (IPCC, 2001c), e o impacto maior recai sobre as economias mais dependentes de combustíveis fósseis. Em vista da perspectiva de tais perdas econômicas, algumas nações industrializadas prejudicaram os compromissos assumidos em Quioto e o Protocolo como um todo. Os debates sobre as regras e as modalidades da implementação do Protocolo prosseguiram até a VI Conferência das Partes da UNFCCC, realizada em novembro de 2000, em Haia. Como as partes negociadoras ainda falharam na obtenção de um consenso, a conferência foi suspensa, e as partes decidiram retomar as negociações em 2001. O ponto decisivo da discussão mundial ocorreu em março de 2001, quando o governo dos Estados Unidos decidiu não introduzir restrição legal alguma às emissões antropogênicas de gases de efeito estufa, conforme sugerido pelo Protocolo de Quioto. O governo dos Estados Unidos declarou, assim, sua oposição ao Protocolo, afirmando que considerava o documento “irremediavelmente falho”, uma vez que causaria danos à economia do país e isentaria os países em desenvolvimento de participar de forma plena (Coon, 2001). Tal decisão significou que os Estados Unidos – um dos principais emissores de CO2 – não ratificariam o Protocolo de Quioto. O Protocolo de Quioto nunca teria entrado em vigor se outros países desenvolvidos tivessem ado- ATMOSFERA tado o mesmo posicionamento. No entanto, na continuação da VI Conferência das Partes (COP-6 Parte II) realizada em Bonn, Alemanha, em julho de 2001, as partes (com exceção dos Estados Unidos) concluíram com êxito as negociações que visavam estabelecer os detalhes operacionais para os compromissos de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Também chegaram a um acordo sobre ações para fortalecer a implementação da própria UNFCCC. A decisão política – ou Acordo de Bonn – foi adotada formalmente pela COP em 25 de julho de 2001. Muitos o consideraram um acordo político “histórico” que salvou o Protocolo de Quioto e preparou o terreno para sua ratificação, embora fosse claramente reconhecido que esse era apenas um pequeno passo para a solução do problema mundial. As discussões também resultaram em uma Declaração Política da União Européia, do Canadá, da Islândia, da Noruega, da Nova Zelândia e da Suíça sobre ajuda financeira para países em desenvolvimento. Essa Declaração inclui um compromisso de oferecer uma contribuição anual de US$ 410 milhões até 2005 (IISD, 2001a). Logo após a COP-6 Parte II, os negociadores em matéria de mudança climática da COP-7, reunidos em Marrakesh em outubro/novembro de 2001, finalizaram as questões de entendimento relativas ao acordo político concluído em Bonn. Entre tais questões, vale citar um sistema de cumprimento, os “mecanismos de Quioto”, a responsabilização, a elaboração de relatórios e análise de informações no âmbito do Protocolo de Quioto, além de outros (os chamados “Acordos de Marrakesh”). O acordo alcançado em Marrakesh não apenas permite a ratificação do Protocolo de Quioto em um futuro próximo, como também servirá de base para uma abordagem abrangente multilateral que pode e deve continuar além desse Protocolo (IISD, 2001b). Atingir as metas de Quioto será apenas um primeiro passo no enfrentamento do problema da mudança climática, pois terá um efeito marginal sobre a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Mesmo se, a longo prazo, for alcançada a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, o aquecimento continuará por várias décadas, e os níveis dos oceanos continuarão subindo por séculos, o que causará sérias conseqüências a milhões de pessoas (IPCC, 2001a, b). Referências: Capítulo 2, atmosfera, panorama mundial AFEAS (2001). Product Data. Alternative Fluorocarbons Environmental Acceptability Study http://www. afeas.org/prodsales_download.html [Geo-2-008] Arrhenius, S. (1896). 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Washington DC, World Bank ATMOSFERA Atmosfera: África O clima do continente africano é variado. As condições tropicais úmidas prevalecem na África Ocidental e na África Central, bem como nas ilhas do Oceano Índico Ocidental; a maior parte dos países da África Meridional apresenta condições áridas e semi-áridas, enquanto os semidesertos e desertos são características do Norte da África. A região sofre um alto grau de variabilidade e incerteza quanto às condições climáticas. A variabilidade climática é, portanto, o fenômeno atmosférico mais importante na África. Em comparação com outras regiões, os países africanos emitem quantidades insignificantes de poluentes atmosféricos e gases de efeito estufa antropogênico. Por exemplo, a África contribui com menos de 3,5% das emissões globais de CO2 (Marland, Boden e Andres, 2001). No entanto, a poluição atmosférica antropogênica é um problema no Norte da África e na África Meridional, assim como em alguns grandes centros urbanos. Qualidade do ar A África do Sul contribuiu com 42% do total de emissões de CO2 na região em 1998 (Marland, Boden e Andres, 2001); alguns países do Norte da África, em que o consumo total de energia aumentou 44% de 1980 a 1998 (OAPEC, 1999), também têm uma participação considerável. O subsídio à produção de eletricidade, a promoção de estratégias econômicas de desenvolvimento industrial e um maior consumo contribuíram para elevar os níveis de emissões em algumas áreas. Por exemplo, nas Ilhas Maurício o consumo total de energia dobrou entre 1990 e 1998, e as emissões de CO2 aumentaram em 23% de 1991 a 1995 (UNCHS, 1996). Um rápido aumento no número de automóveis particulares e as precárias condições de muitos veículos comerciais e particulares são motivos adicionais de preocupação. As emissões por veículos são a principal fonte de poluição por chumbo, além de causarem poluição por poeira, barulho e fumaça. Foram implementadas políticas na Argélia, nas Ilhas Maurício e no Marrocos, com o objetivo de promover a conversão para veículos mais novos, menos poluidores (Government of Mauritius, 1990), e o combustível sem chumbo tem sido promovido ou até mesmo subsidiado no Egito, na África do Sul e na Tunísia (World Bank, 2001a). Os processos industriais também são fontes significativas de poluição atmosfé- rica, principalmente em grandes centros urbanos, onde os poluentes às vezes se combinam, criando névoa tóxica. No Norte da África, nas ilhas do Oceano Índico Ocidental, na África Meridional e em alguns grandes centros urbanos (como Lagos), a incidência de doenças respiratórias está aumentando, o que reflete uma deterioração da qualidade do ar. As principais causas são a queima de carvão, madeira, querosene (parafina), esterco e lixo em locais fechados, para as necessidades familiares, além das emissões por veículos e indústrias. Na África Subsaariana, os combustíveis tradicionais corresponderam a 63,5% do uso total de energia em 1997 (World Bank, 2001b). Muitos países prepararam Planos Nacionais de Ação Ambiental ou Estratégias Nacionais para o Desenvolvimento Sustentável que tratam, entre outras coisas, das fontes e dos impactos da poluição atmosférica. Gana, Quênia, África do Sul, Uganda e Zâmbia estão entre os países que introduziram leis que tornam obrigatórias as Avaliações de Impacto Ambiental para projetos de desenvolvimento, tais como construção de estradas, exploração de minas e operações industriais com alto potencial de emissões de poluentes atmosféricos (Government of Ghana, 1994, Government of Kenya, 1999; Republic of South Africa, 1989; Government of Uganda, 1995; Government of Zambia, 1990). Variabilidade climática e vulnerabilidade a mudanças do clima A variabilidade climática e as inundações e secas associadas resultam em maiores riscos de perda de colheitas – e, portanto, segurança alimentar reduzida – e níveis mais elevados de desnutrição e doenças. Na Etiópia, por exemplo, a seca ocorrida em 1984 afetou 237 238 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 8,7 milhões de pessoas, 1 milhão de pessoas morreram e outras milhões sofreram com a desnutrição e a fome. Essa seca também causou a morte de aproximadamente 1,5 milhão de cabeças de gado (FAO, 2000). A seca do período de 1991-1992 na África Meridional provocou uma redução de 54% na colheita de cereais e expôs mais de 17 milhões de pessoas ao risco de inanição (Calliham, Eriksen e Herrick, 1994). Mais de 100 mil pessoas morreram na seca ocorrida na região do Sahel nas décadas de 1970 e 1980 (Wijkman e Timberlake, 1984). As quedas nas colheitas e a perda de gado levaram a uma maior dependência de produtos importados e da ajuda internacional, o que reduziu o desempenho da economia e a capacidade de lidar com futuros desastres ambientais. Em 1997 e 1998, partes da África Oriental sofreram elevados níveis de precipitação e inundações devido a oscilações ocorridas no Hemisfério Sul em Emissões de dióxido de carbono per capita: África (toneladas de carbono per capita/ano) 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 Toda a África África Central África Ocidental Norte da África África Meridional Oceano Índico Ocidental A África contribui com menos de 3,5% das emissões globais de CO2; o Norte da África e a África Meridional são responsáveis por mais de 80% das emissões regionais. Fonte: dados compilados de Marland, Boden e Andrés, 2001 98 19 96 19 94 19 92 19 90 88 19 86 19 84 19 19 82 19 80 19 78 76 19 74 19 19 19 72 0,0 África Oriental conseqüência do fenômeno El Niño, conhecidas coletivamente por ENOS (El Niño - Oscilação Sul). Em 1999 e 2000, a África Meridional e as ilhas do Oceano Índico Ocidental sofreram inundações e ciclones devastadores. A água de inundações é o habitat ideal para bactérias e mosquitos. Em Uganda, as inundações provocadas pela ENOS em 1997-1998 causaram mais de 500 mortes em conseqüência do cólera, e mais 11 mil pessoas foram hospitalizadas (NEMA, 1999). Acredita-se que o aumento de entre 1ºC e 1,5ºC da temperatura do mar devido às perturbações causadas pela ENOS tenha sido a causa da descoloração de até 30% dos corais em Comoros, 80% nas Ilhas Seicheles (PRE/COI, 1998), e 90% no Quênia e na Tanzânia (Obura e outros, 2000). Os impactos previstos da mudança climática global agravam a vulnerabilidade da região a desastres naturais. De acordo com o IPCC, a África é a região mais vulnerável em termos de diminuições previstas da segurança dos alimentos e da água, porque a pobreza generalizada limita sua capacidade de adaptação (IPCC, 1998). As mudanças nos níveis de precipitação também poderiam ter conseqüências graves nas áreas africanas que dependem de energia hidrelétrica. O aumento previsto do nível do mar causado pela mudança climática global pode ameaçar muitos assentamentos costeiros e ilhas, incluindo as ilhas do Oceano Índico Ocidental. O grau de aumento do nível do mar ainda é incerto, mas as estimativas mais recentes do IPCC (2001a) estão entre 10 cm e 94 cm até o ano de 2100. Mesmo se as emissões de gases de efeito estufa antropogênico fossem estabilizadas imediatamente, o nível do mar continuaria subindo por muitos anos. O IPCC prevê ainda que a intensidade dos ciclones, das chuvas e do vento provavelmente aumentará (IPCC 2001a) e que a zona de ciclones no Oceano Índico Ocidental poderá expandir-se, abrangendo as Ilhas Seicheles (UNEP, 1999). As mudanças nos níveis de precipitação e nos padrões de temperatura também poderiam alterar a biodiversidade, e muitas espécies não seriam capazes de adaptar-se ou de migrar para áreas mais adequadas. A WWF prevê que uma queda prevista de 5% nos níveis de precipitação na África Meridional afetará espécies que dependem de pastagens, como antílopes, gnus e zebras, ameaçando a vida silvestre no Parque Nacional de Kruger, África do Sul, o delta de Okavango, em Botsuana, e o Parque Nacional de Hwange, no Zimbábue. Também há receios de que poderia haver disseminação de malária para novas áreas, como partes do leste da Namíbia e norte da África do Sul (WWF, 1996). A capacidade da região de adaptar-se a mudanças climáticas dependerá de diversos fatores, entre os quais o crescimento da população e padrões de consumo, que afetarão a demanda por alimentos e água, bem como a localização das populações e a infra-estrutura em relação a áreas costeiras vulneráveis, que determinará as perdas econômicas devido ao aumento do nível do mar. Muitos países precisarão mudar suas práticas agrícolas, particularmente para reduzir a dependência da agricultura sem irrigação artificial, e evitar o cultivo em áreas marginais. As comunidades rurais que atualmente dependem de biomassa para obter energia podem ser forçadas a buscar fontes alternativas se as mudanças climáticas modificarem o tipo e a distribuição da vegetação. ATMOSFERA Questões relativas a políticas Quase todos os países africanos ratificaram a UNFCCC, e muitos deles são a favor do Protocolo de Quioto. Os países africanos podem se beneficiar com os mecanismos de cooperação internacional propostos no Protocolo. Os países ricos em florestas naturais (como os da África Ocidental e África Central) também podem fazer acordos com países industrializados sobre transferência de redução de emissões, que contribuirão para suas próprias economias e apoiarão o desenvolvimento. Em geral, os países africanos têm interesse em que se tome uma decisão que garanta que os mecanismos adotados facilitem o desenvolvimento sustentável na África, produzam benefícios para o sistema climático, facilitem a adaptação da África a mudanças climáticas e resultem em projetos que acelerem o crescimento socioeconômico (IISD, 2000). Argélia, Cabo Verde, Costa do Marfim, Egito, Gana, Lesoto, Mali, Maurício, Níger, Senegal, Seicheles e Zimbábue elaboraram Comunicações Nacionais à UNFCCC (UNFCCC, 2001), fornecendo inventários detalhados das emissões e de escoadouros. A África do Sul emite a maior parte do carbono no continente, mas, por ser classificada como país em desenvolvimento, não sofreu exigência formal de controlar as emissões de gases de efeito estufa. No entanto, foi estabelecido um Comitê Nacional sobre Mudança do Clima para supervisionar pesquisas, comunicações e o desenvolvimento de políticas sobre mudanças climáticas. Tanto no Norte da África como na África Meridional, estão sendo consideradas opções para uma maior exploração de fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica, a obtida por hidrelétricas de pequeno porte e a proveniente de biomassa. É provável que tais iniciativas tenham êxito em áreas remotas, em que as conexões com fontes centrais de energia são dispendiosas e a demanda por eletricidade é apenas para uso doméstico. Um dos principais desafios para a maior parte dos países africanos em relação a mudanças climáticas e atmosféricas é a necessidade de adaptar os processos de desenvolvimento às mudanças no meio ambiente. É necessário o desenvolvimento de mecanismos de mitigação e adaptação para lidar com os impactos das mudanças nos padrões meteorológicos e das secas e inundações mais intensas associadas ao fenômeno El Niño (IPCC, 2001b). Por outro lado, os países africanos podem contribuir para a implementação da UNFCCC e do Protocolo de Quioto por meio da adoção de tecnologias eficientes quanto ao uso de energia e de tecnologias referentes a energias renováveis. Os mecanismos de Quioto e as instituições internacionais a serem criadas para colocar esses mecanismos em prática garantem a participação ativa dos países africanos. O fracasso em alcançar todo o potencial do Protocolo de Quioto pode resultar em uma maior exposição aos efeitos negativos da mudança do clima (IISD, 2000). A poluição localizada, tanto em ambientes fechados como ao ar livre, deve ser controlada e reduzida por meio da implementação de processos industriais mais limpos, melhores sistemas de transporte e melhor gestão de resíduos. Por exemplo, foi elaborada na África do Sul uma estratégia de gestão de resíduos que visa reduzir o despejo e a queima ilegais de resíduos sólidos (DEAT, 1998). Referências: Capítulo 2, atmosfera, África Calliham, D.M., Eriksen, J.H. and Herrick, A.B. (1994). Famine Averted: The United States Government Response to the 1991/92 Southern Africa Drought: Evaluation Synthesis Report. Washington DC, Management Systems International Chenje, M. and Johnson, P. (eds. 1994). State of the Environment in Southern Africa. Maseru and Harare, SADC, IUCN and SARDC DEAT (1998). Strategy for Integrated Pollution Control and Waste Management. Pretoria, South Africa, Department of Environmental Affairs and Tourism of the South African Government DMC (2000). 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Middle East and North Africa Region Environment Strategy Update. Washington DC, World Bank 241 ATMOSFERA Atmosfera: Asia e Pacífico Uma séria questão ambiental na região da Ásia e Pacífico é a rápida degradação da qualidade do ar. A destruição da camada de ozônio e as conseqüências da mudança do clima global também são graves. - Qualidade do ar Os níveis de poluição atmosférica nas cidades mais densamente povoadas estão entre os mais elevados no mundo, o que produz sérios impactos à saúde humana e afeta ecossistemas aquáticos e terrestres. O setor de transportes é uma considerável – freqüentemente a principal – fonte de poluição atmosférica urbana. As demais fontes incluem emissões industriais, a queima de combustíveis sólidos e líquidos para geração de energia, bem como a queima de biomassa e outros combustíveis como o carvão vegetal para uso doméstico. Em algumas poucas cidades os níveis de poluição têm diminuído. Por exemplo, no Japão, os preços elevados dos combustíveis, os avanços tecnológicos e os padrões rígidos em vigor reduziram as emissões de SO2 e de partículas em suspensão, além de terem eliminado as emissões de chumbo geradas pelo transporte. No entanto, as emissões de NOx em Tóquio e Osaka não caíram o suficiente devido ao aumento no número de veículos. Essa situação é comum em cidades com níveis crescentes de transporte particular (UN-ESCAP/ADB, 2000). O tráfego tornou-se um dos principais poluidores atmosféricos nas grandes cidades, embora a maior parte dos países asiáticos tenha uma taxa de propriedade de veículos per capita mais baixa do que a média mundial (World Bank, 2000). Contudo, a frota automotora (ver gráfico) tem aumentado rapidamente; por exemplo, o número de veículos automotores particulares no Sri Lanka dobrou no período de 1975-1992 (Government of Sri Lanka, 1994), e na Índia o número de automóveis tem dobrado a cada sete anos nas últimas três décadas (ADB, 1999). Esse fato, combinado com as condições precárias das estradas e dos veículos e a qualidade inadequada dos combustíveis, torna a poluição do ar causada por veículos uma questão alarmante. Muitos países estabeleceram seus próprios padrões de qualidade do ar para os principais poluentes, assim como padrões de emissão para centrais elétricas, determinadas indústrias e veículos. Para reduzir a poluição, diversos países introduziram gasolina sem chumbo, catalisadores obrigatórios e combustíveis para motores com baixo teor de enxofre. Tecnologias alternativas, como veículos movidos a eletricidade e a gás natural comprimido, também estão sendo consideradas, principalmente na Índia e na República Islâmica do Irã. O Nepal e o Paquistão implementaram incentivos tributários para veículos movidos a gás ou a bateria. Exceto para os países desenvolvidos do nordeste da Ásia e partes das sub-regiões do Pacífico Sul, a preocupação com o meio ambiente começou a criar uma demanda por uma melhor proteção ambiental na década de 1980. A década de 1990 foi palco de um progresso significativo quanto ao estabelecimento de instituições e instrumentos de políticas necessários para abordar problemas ambientais urgentes. No entanto, o crescimento contínuo do consumo de energia e a dependência de combustíveis com altas concentrações de carbono, como o carvão e o petróleo, inevitavelmente aumentarão as emissões, a menos que sejam implementadas políticas mais agressivas. A poluição atmosférica em lugares fechados é normalmente um perigo mais sério à saúde do que a poluição atmosférica ao ar livre. A maior parte dos habitantes da área rural na região utiliza ramos, grama, esterco seco de animais, resíduos de colheitas, madeira, lenha e querosene como combustíveis domésticos. Associada à ventilação inadequada, a queiVeículos de passageiros/1.000 pessoas (1996) 500 média mundial 479 400 300 200 Apesar da forte poluição do ar nas cidades da Ásia, o número de veículos per capita é bem inferior à média global em todas as sub-regiões, exceto da Austrália e da Nova Zelândia Fonte: Banco Mundial, 100 0 44 Austrália e Nova Zelândia 41 Ásia Noroeste Central do Pacífico e Leste Asiático 2000 5 Sul da Ásia 20 12 Sudeste da Ásia Pacífico Sul 26 média regional 242 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS:1972-2002 ma desses itens resulta em elevada poluição do ar em locais fechados. Considerando os altos níveis de emissões nocivas e o número de pessoas que utilizam combustíveis tradicionais para cozinhar – a Ásia produz quase a metade da lenha do mundo (FAOSTAT, 2001) – a escala de exposição é ampla. Os efeitos à saúde incluem infecções respiratórias agudas em crianças, doenças crônicas de obstrução pulmonar, resultados negativos de gestações e câncer de pulmão em mulheres. As doenças respiratórias agudas prevalecem nas áreas rurais e/ou montanhosas do Afeganistão, de Bangladesh, do Butão, da Índia, do Nepal, do Paquistão e do Sri Lanka, onde a poluição do ar em locais fechados é elevada. Cerca de 40% da mortalidade infantil mundial em conseqüência de pneumonia ocorre em Bangladesh, na Índia, na Indonésia e no Nepal; muitas dessas mortes são causadas por poluentes resultantes da queima de combustíveis tradicionais (ADB, 2001). Calcula-se que na Índia, a cada ano, a utilização doméstica de combustíveis sólidos seja a causa de A nuvem marrom asiática Na primavera de 1999, os cientistas que trabalhavam no projeto Experimento do Oceano Índico (INDOEX) descobriram uma densa camada de névoa marrom de poluição cobrindo a maior parte da Ásia Meridional e do sudoeste da Ásia, Sudeste Asiático, bem como a região tropical do Oceano Índico. Os pesquisadores rastrearam a névoa por uma área de aproximadamente 10 milhões de km2, e acreditam que esteja sobre grande parte do continente asiático. A névoa é uma mistura de poluentes, principalmente fuligem, sulfatos, nitratos, partículas orgânicas, cinzas volantes e poeira mineral, formados pela queima de combustíveis fósseis e biomassa rural. A névoa reduz em até 10% o alcance da luz solar até a superfície do Oceano Índico tropical, a quilômetros de distância de sua fonte, com uma redução maior sobre o subcontinente indiano. Simulações realizadas com modelos de clima global indicam que a névoa poderia ter grandes impactos na circulação de monções, nos padrões regionais de precipitações e no perfil da temperatura vertical da atmosfera. Com o apoio do PNUMA, implementou-se o programa ABC (Asian Brown Cloud). Em sua primeira fase, o principal objetivo é estudar o impacto da névoa asiática em uma série de parâmetros, incluindo mudança de monções, balanço hídrico, agricultura e saúde. Os cientistas planejam estabelecer uma rede de estações terrestres de monitoramento por toda a Ásia para estudar a composição e o padrão sazonal da névoa. O PNUMA se comprometeu a facilitar a continuidade do programa de pesquisas e, a longo prazo, ajudar a coordenar as respostas de políticas elaboradas para abordar o problema. Fonte: UNEP, (2001) e C4 e UNEP, (no prelo) aproximadamente 500 mil mortes prematuras de mulheres e de crianças abaixo de cinco anos. Há indicações de que a tuberculose e a cegueira podem estar associadas à poluição atmosférica em locais fechados. A poluição do ar em ambientes fechados também é responsável por 5% a 6% da incidência na- cional de doenças em mulheres e crianças na Índia (Holdren e Smith, 2000). São as principais áreas de intervenção: uso de combustíveis mais limpos, como gás com baixo nível de propano e querosene; desenvolvimento de biocombustíveis com alto poder calorífico; melhor planejamento de fogões e melhor disseminação desses; melhorias nas habitações, e melhoras na conscientização e instrução ambiental. Para tratar o problema da poluição atmosférica em locais fechados na Índia, foram instalados aproximadamente 3 milhões de fábricas de biogás e mais de 22 milhões de fogões melhores em áreas rurais e remotas do país, o que resultou na economia do equivalente a 21 milhões de toneladas de lenha por ano (Times of India, 2000). A névoa e a chuva ácida foram as questões regionais de importância crescente na última década, principalmente na Ásia, devido à enorme dependência do carvão por parte da China e da Índia. Há registros de que cerca de 0,28 milhão de hectares de florestas sofreram danos pela chuva ácida na bacia hidrográfica de Sichuan na China. Estima-se que as emissões de SO2 na Ásia tenham aumentado de aproximadamente 26,6 milhões para cerca de 39,2 milhões de toneladas no período de 1985 a 1997 (Streets e outros, 2000). Na China, foi alcançada uma redução de 3,7 milhões de toneladas, o equivalente a 15,8% das emissões de SO2 no período de 1995 a 2000 (SEPA, 2001). Ao menos dois terços das chuvas ácidas na região são causadas por centrais elétricas movidas a carvão que utilizam equipamentos de controle de poluição obsoletos. Os problemas associados à névoa também prevalecem na região devido a incêndios florestais no Sudeste Asiático. O caso mais grave ocorreu em 1997, quando os efeitos dos incêndios florestais na Indonésia se estenderam aos países vizinhos, incluindo Brunei Darussalam, Papua Nova Guiné, Filipinas, Cingapura e Tailândia (UNEP, 1999). Em 1995, foi estabelecida uma Força-Tarefa Técnica em Névoa por oficiais do alto escalão da ASEAN para assuntos de meio ambiente, e, em 1997, foi aprovado um Plano de Ação Regional sobre a Névoa (ASEAN, 2001). A Rede de Monitoramento de Chuvas Ácidas (EANET) iniciou uma fase preparatória de monitoramento das chuvas ácidas em abril de 1998, com a participação de dez países da Ásia Oriental. Em outubro de 2000, a rede decidiu começar um monitoramento regular a partir de janeiro de 2001 (EANET, 2000). Em 1998, a Declaração de Malé sobre o controle e a prevenção da poluição atmosférica e seus prováveis efeitos transfronteiriços foi adotada por oito países da Ásia Meridional. ATMOSFERA Destruição da camada de ozônio A destruição da camada de ozônio estratosférico surgiu como uma grande preocupação na região. Dados da Austrália e Nova Zelândia mostram que os níveis de radiação ultravioleta nesses países parecem aumentar cerca de 10% por década (McKenzie, Connor e Bodeker, 1999). Esses dados significam que o tempo médio para que uma pessoa na Austrália tenha queimaduras por exposição ao sol foi reduzido em aproximadamente 20% nos últimos vinte anos. A Índia e a China são os maiores produtores e usuários de CFCs na região. O consumo de SDO na China aumentou em mais de 12% ao ano durante o período de 1986 a 1994. A Índia é o segundo maior produtor e o quarto maior consumidor de CFCs no mundo (UNEP, 1998). O Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal e o GEF têm ajudado a região a cumprir as metas do Protocolo de Montreal. A China assumiu o compromisso de eliminar o consumo de SDO até 2010. O país já proibiu o estabelecimento de novas instalações de produção associada a CFC e halons e elaborou planos gerais e específicos por setor com a ajuda do Banco Mundial e do Fundo Multilateral. Este aprovou um projeto do Banco Mundial que ajudará a Índia a eliminar a produção de CFCs até 2010. Os países da Ásia Central também têm realizado progressos consideráveis. O Azerbaijão, o Turcomenistão e o Uzbequistão estão trabalhando para eliminar o uso de SDO durante o período de 2001 a 2003 (Oberthur, 1999). Emissões de gases de efeito estufa e a mudança do clima O uso per capita de eletricidade comercial teve um aumento anual de 1,9% no Sul da Ásia e de 3% na Ásia Oriental e no Pacífico no período de 1980 a 1998 (World Bank, 2001). O CO2 é o principal gás de efeito estufa antropogênico. As emissões de metano também são elevadas no Sul da Ásia, o que equivale a aproximadamente 50% do total de emissões antropogênicas de CH4 no mundo (UNDP, UNEP e WRI, 1992). Na Nova Zelândia, as emissões de CH4 são em ordem de magnitude mais altas do que a média mundial per capita, devido principalmente à grande quantidade de animais ruminantes (MFE, 1997). As áreas sob a maior ameaça da mudança climática incluem os ecossistemas marinhos, os sistemas costeiros, os assentamentos humanos e sua infra-estrutura (IPCC, 1998). Os países das sub-regiões do noroeste do Pacífico e da Ásia Oriental e os países das ilhas do Pacífico podem estar particularmente vulneráveis a fenômenos como o aumento do nível do mar, pois muitos de seus assentamentos humanos e instalações industriais estão localizados em áreas costeiras ou regiões baixas. Nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento, a mudança do clima e eventos meteorológicos extremos podem ter impactos drásticos sobre a biodiversidade terrestre, sobre os cultivos de subsistência e sobre as fontes florestais de alimento. As planícies baixas costeiras, ilhas e deltas do Sul da Ásia, densamente povoadas, cujas terras são intensamente utilizadas, são particularmente vulneráveis à erosão costeira e à perda de terras devido a inundações (pluviais e marinhas), ao deslocamento de águas acima da frente que separa a água doce da água salgada, bem como pela intrusão da água do mar nos aqüíferos de água doce (IPCC, 1998). O GEF e o PNUD estão promovendo projetos para ajudar os países da região a avaliar seus níveis de emissão e elaborar estratégias para reduzi-los. Por exemplo, os países que participam do projeto de Estratégias para a Redução dos Gases de Efeito Estufa ao Menor Custo na Ásia identificaram diversas opções no setor energético para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEF, 2000). Referências: Capítulo 2, atmosfera, Ásia e Pacífico ADB (1999). Urban Sector Strategy. Manila, Asian Development Bank ADB (2001). Asian Environment Outlook 2001. Manila, Asian Development Bank ASEAN (2001). 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Washington DC, World Bank 243 244 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Atmosfera: Europa Poluição do ar A poluição atmosférica foi uma das ameaças à saúde humana e aos ecossistemas reconhecidas primeiramente na Europa. Em 1979, na reunião da Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (UNECE), foi assinada a Convenção sobre Poluição Transfronteiriça – CLRTAP, que entrou em vigor em 1983 com o objetivo de conter as emissões antropogênicas de substâncias nocivas. Os principais setores e atividades que causam a poluição atmosférica na Europa Ocidental nas três últimas décadas têm sido os de energia, transporte, indústria, agricultura, uso de solventes e armazenagem e distribuição de combustíveis fósseis. Nos Emissões de SO2 nos países do EMEP (milhões de toneladas por ano) 70 60 50 40 30 20 10 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 0 No período compreendido entre os anos de 1980 a 1998, as emissões de SO2 nos países que são membros do Programa de Cooperação para a Vigilância Contínua e para a Avaliação do Transporte a Longa Distância dos Poluentes Atmosféricos na Europa (EMEP) foram reduzidos em 56%. Fonte: Vestreng e Støren, 2000 países da Europa Central e do Leste Europeu, os setores de energia elétrica e de indústrias pesadas têm sido tradicionalmente os principais poluidores, e o setor de transportes tem uma participação significativa apenas nos grandes centros urbanos. No início da década de 1990, a recessão econômica foi uma das causas da redução da poluição atmosférica na Europa Central e no Leste Europeu, mas ao mesmo tempo houve um rápido crescimento do uso de automóveis particulares. Por exemplo, mesmo durante os anos de pior recessão (1990 a 1994), o número de automóveis particulares na Armênia, na Rússia e na Ucrânia aumentou em mais de 100% (FSRFHEM, 1996). Esse rápido crescimento da propriedade de automóveis particulares tornou o setor de transportes uma das causas cada vez mais importantes dos problemas relativos à qualidade atmosférica na Europa Central e no Leste Europeu. As emissões da maior parte dos principais poluentes atmosféricos diminuíram em toda a Europa desde o início da década de 1980. Até o fim de 2000, as emissões de compostos de enxofre haviam sido reduzidas a menos de um terço dos níveis registrados em 1980 na Europa Ocidental, e reduzidas a dois terços desses níveis na Europa Central e no Leste Europeu (EEA, 2001a; UNEP, 1999). Na Europa, tem sido observada uma recuperação considerável do equilíbrio ácido natural da água e dos solos, devido principalmente a reduções nas emissões de SO2, embora as emissões ainda sejam tão altas a ponto de não ser possível evitar efeitos graves em ecossistemas sensíveis. As médias, no entanto, mascaram uma ampla variação entre países e sub-regiões. Por exemplo, as emissões de SO2 aumentaram 7% na Grécia e 3% em Portugal, entre 1990 e 1998, enquanto foram observadas reduções de 71% e 60% na Alemanha e na Finlândia, respectivamente (EEA, 2000). As emissões de NOx e de NH3 não diminuíram de forma significativa na Europa Ocidental, exceto as emissões de NOx na Alemanha e no Reino Unido, mas os índices de NOx caíram em muitos países da Europa Central e do Leste Europeu (Czech Environmental Institute and Ministry of the Environment, 1996; EEA, 2001b; GRIDBudapest, 1999; GRID-Warsaw, 1998; Interstate Statistical Committee, 1999; OECD, 1999a; UNECE/ EMEP/MSC, 1998). A falta de monitoramento de emissões de metais pesados, POPs e MPS, principalmente em países da Europa Central e do Leste Europeu, indica que não podem ser observadas tendências convincentes, mas é evidente que o material particulado e os precursores do ozônio troposférico ainda representam problemas graves (EEA, 2000). ATMOSFERA Emissões de SO 2 (1.000 toneladas): articulação de políticas para redução de emissões nos Países Baixos 250 referência 200 trocas de combustível melhoria da eficiência 150 conteúdo reduzido de enxofre no carvão 100 atual 50 dessulfurização do gás de chaminé Nos Países Baixos, a troca de combustível do petróleo para o gás natural produziu uma diminuição líquida nas emissões de SO2 até meados dos anos 1980, quando um maior uso do carvão reverteu o quadro. Desde 1983, o conteúdo de enxofre no carvão tem sido reduzido, enquanto unidades de dessulfurização do gás de chaminé começaram a ser instaladas nas centrais elétricas holandesas em 1986. Até 1996, 96% das centrais estavam equipadas com essas unidades Nota: a referência acima está baseada na eletricidade produzida Fonte: EEA, 2000 94 19 92 19 90 19 88 19 86 19 84 19 82 19 80 0 19 Na Europa Ocidental, as emissões de SO2, NOx e NH3 mostraram uma clara desvinculação do crescimento do PIB, apontando um certo grau de eficácia das medidas tomadas (EEA, 2001a). Em alguns dos países da Europa Central e do Leste Europeu que têm probabilidade de estar na primeira onda de adesão à União Européia (UE), a reestruturação econômica e as ações ambientais também parecem ter causado um certo efeito na redução da poluição atmosférica. Em outros países da Europa Central e do Leste Europeu, a queda na produção industrial devido à recessão parece ter sido o principal fator na redução da poluição atmosférica (OECD, 1999a e b; UNECE, 1999). Em países como a Rússia e a Ucrânia, as emissões por unidade de PIB de fato aumentaram, mas o efeito tem sido mascarado pela queda geral do PIB (SCRFEP, 1999). É evidente que as reduções nas emissões se devem, ao menos parcialmente, a medidas em âmbitos nacional e local que têm sido tomadas para alcançar as metas estabelecidas pela CLRTAP e seus Protocolos, assim como a Diretrizes da UE associadas a emissões atmosféricas, como a diretriz de 1988 que visa a limitação da emissão de certos poluentes na atmosfera provenientes de grandes fábricas de combustão (Limitation of Emissions of Certain Pollutants into the Air from Large Combustion Plants Directive) e diversas diretrizes sobre emissões de veículos, a mudança para gasolina sem chumbo e combustíveis diesel de melhor qualidade e um melhor planejamento de motores. Apesar desse claro progresso, muitas metas de redução da poluição atmosférica ainda não foram cumpridas. Na Europa Ocidental, apenas as metas de redução de SO2 estabelecidas pela UE e pela CLRTAP foram alcançadas bem antes do prazo estipulado (fim de 2000), havendo menos progresso em relação aos NOx, ao NH3 e aos VOCs. Espera-se que duas medidas européias recentes alcancem maiores reduções nos poluentes atmosféricos: uma proposta de diretriz da UE que estabelece limites nacionais de emissões para certos poluentes atmosféricos (National Emission Ceilings for Certain Atmospheric Pollutants – NECD) e o Protocolo da CLRTAP para reduzir os níveis de acidificação, eutroficação e ozônio troposférico (CLRTAP Protocol to Abate Acidification, Eutrophication and Ground-level Ozone). Em muitos países europeus, serão necessárias mais medidas para alcançar as metas da NECD e do Protocolo da CLRTAP. Na Europa Ocidental, medidas “nãotécnicas” para controlar a poluição, tais como cobrança de pedágio e incentivos fiscais, adquiriram maior importância (EC, 2000), mas em muitos países da Europa Central e do Leste Europeu é pouco provável 245 que os organismos de proteção ambiental, atualmente fracos, sejam capazes de aplicar uma estratégia eficaz de redução da poluição atmosférica em um futuro próximo (OECD, 1999b). A destruição da camada de ozônio estratosférico A espessura da camada de ozônio sobre a Europa tem diminuído de forma mensurável desde a década de 1980. Embora a perda média de ozônio nas latitudes médias do Hemisfério Norte seja de 6% no inverno e na primavera, em certos períodos a perda pode ser mais significativa. Por exemplo, na primavera de 1995, após um inverno ártico extraordinariamente frio, as concentrações de ozônio estratosférico sobre a Europa foram de 10% a 12% mais baixas do que em meados da década de 1970. O inverno de 1995-1996 foi ainda mais frio, e as concentrações de ozônio sobre o Reino Unido caíram quase 50% na primeira semana de março, o nível mais baixo já registrado no país (UNEP, 2000). Conseqüentemente, ocorreu um aumento da radiação ultravioleta na Europa entre 1980 e 1997, com um aumento claramente maior no nordeste do continente (EEA, 1999; Parry, 2000). Como resultado da implementação da Convenção de Viena e seu Protocolo de Montreal, a produção de SDO na Europa Ocidental diminuiu quase 90%, enquanto a produção de hidroclorofluorocarbonos 246 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 (HCFCs) aumentou (EC, 1999; UNEP, 1998). A transição política e econômica na Europa Central e no Leste Europeu atrasou a eliminação da produção e do consumo de SDO, mas há progressos. Grandes quantias de doações foram alocadas por intermédio do GEF na década de 1990 para ajudar a melhorar as tecnologias que favorecem o uso de substâncias inofensivas à camada de ozônio. Um marco importante para os países com economia em transição foi a suspensão da produção das SDO listadas nos Anexos A e B do Protocolo de Montreal por parte Federação Russa, que era o maior produtor da região em dezembro de 2000 (UNEP, 2001). Emissões de gases de efeito estufa Embora muitos países europeus proponham com entusiasmo um tratado sobre mudança do clima global, a região ainda é a maior emissora de gases de efeito estufa antropogênico. A maior parte das emissões de CO2 é proveniente da queima de combustíveis fósseis (ETC/AE, 2000; OECD, 1999b). O setor energético (de eletricidade e de aquecimento) é o que mais contribui (32% das emissões de CO2 da UE), enquanto o transporte, a combustão, a indústria manufatureira e a indústria pesada também desempenham um papel importante (ETC/AE, 2000). As emissões de gases de efeito estufa na UE diminuíram 2% entre 1990 e 1998 (EEA, 2001a), princi- palmente como conseqüência da estabilização das emissões de CO2 e da redução das emissões de N2O e de metano. A maior parte dessa diminuição foi atribuída à Alemanha (como resultado de uma maior eficiência das novas centrais elétricas, da economia de energia nas casas e nas indústrias e da reestruturação econômica na antiga Alemanha Oriental) e ao Reino Unido (após uma mudança no uso de carvão para gás natural). Na Europa Ocidental, de modo geral, tem havido uma clara desassociação entre as emissões, o crescimento econômico e o consumo de energia, graças a uma combinação de aumentos na eficiência do uso de energia com os efeitos de políticas e medidas destinadas a reduzir as emissões de gases de efeito estufa (ETC/AE, 2000). Entretanto, alcançar as metas do Protocolo de Quioto ainda será difícil (EEA, 2001a). A transformação econômica na Europa Central e no Leste Europeu tem contribuído para uma diminuição significativa das emissões de gases de efeito estufa antropogênico. Em 2000, as emissões de CO2 em nove daqueles países estavam 8% mais baixas do que em 1990 (ETC/AE, 2000). A reestruturação econômica e as ações ambientais parecem ter tido um certo efeito na redução dos níveis de CO2 em alguns dos países da Europa Central e do Leste Europeu (OECD, 1999a), mas, na maioria dos países dessa região, a recessão e uma queda na produção industrial parecem ter sido os principais fatores da redução dos níveis de CO2 (OECD, 1999a e b; UNECE, 1999). Referências: Capítulo 2, atmosfera, Europa Czech Environmental Institute and Ministry of the Environment (1996). Environment Year Book of the Czech Republic 1995. Prague, Czech Statistical Office EC (1999). Statistical Factsheet — Ozonedepleting Substances. Brussels, European Commission EC (2000). A Review of the Auto-Oil II Programme. 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Oslo, Norwegian Meteorological Institute 247 ATMOSFERA Atmosfera: América Latina e Caribe Emissão de dióxido de carbono per capita: América Latina e Caribe (toneladas de carbono per capita/ano) 1,20 1,00 0,80 0,60 América do Sul América Latina e Caribe 98 19 96 94 19 92 19 90 19 88 Caribe América Central 19 86 19 84 19 19 82 19 80 19 78 19 76 19 74 0,40 19 Aproximadamente três quartos da população da América Latina e Caribe vivem em cidades. Diversas megalópoles como Buenos Aires, Cidade do México, Rio de Janeiro e São Paulo, cada uma com mais de 10 milhões de habitantes, estão localizadas na região. O crescimento econômico desses centros urbanos tem causado o aumento da poluição atmosférica (particularmente por CO, NOx, SO2, O3 troposférico, hidrocarbonos e partículas em suspensão) e dos impactos sobre a saúde humana associados (UNEP, 2000). Atualmente, o problema se estende além dos grandes centros urbanos e também afeta cidades de médio porte e pequenas ilhas (Dalal, 1979; Romieu, Weitzenfeld e Finkelman, 1990). O setor de transportes é uma das principais fontes de poluição atmosférica urbana – 70% das emissões em Buenos Aires (PAHO, 1998) e na Cidade do México (INEGI, 1998) são associadas ao transporte, e o número de automóveis na Cidade do México quadruplicou entre 1970 e 1996 (ECLAC, 2000a). A indústria, a agricultura e o setor municipal também contribuem para a poluição atmosférica. Em Santiago, as fontes mais significativas de poluição atmosférica são o setor de transportes e as pequenas e médias empresas (IMO, 1995). Além disso, as condições meteorológicas e topográficas desfavoráveis em algumas cidades agravam o impacto da poluição: o Vale do México obstrui a dispersão de poluentes de sua área metropolitana, da mesma maneira que as montanhas que rodeiam Santiago (ECLAC, 2000b). O crescimento dos setores industrial, agrícola e de transporte nos últimos trinta anos tem sido acompanhado por um aumento constante das emissões de CO2 – calcula-se que eram equivalentes a 65% entre 1980 e 1998 (UNEP, 2001a). Estima-se que em 1991-1992 a região era responsável por cerca de 72 Qualidade do ar 11% das emissões antropogênicas de CO2 no mundo, por 4,5% das emissões industriais globais e por 48,5% das emissões provenientes de mudanças no uso da terra (UNDP, UNEP, World Bank e WRI, 1996). Acredita-se que o desmatamento seja a principal causa de emissões na região, particularmente na bacia amazônica (UNEP, 1999). O desmatamento e a pecuária (atividade significativa na Argentina, no Chile e no Uruguai) também resultam em uma enorme emissão regional de metano: cerca de 9,3% do total mundial (UNFCCC-SBI, 2000). A média anual per capita de emissão de carbono proveniente da indústria na região foi de 0,73 tonelada em 1998, um pouco menor do que a média mundial de 1,06 tonelada (Marland, Boden e Andres, 2001). O México é o maior emissor de carbono da região. Os poluentes industriais são gerados em sua maior parte pelos processos de queima de combustível no setor de geração de energia, embora as emissões de metais pesados, como o chumbo e o mercúrio, também sejam importantes (PAHO, 1998). Nos 19 A poluição atmosférica é uma das questões ambientais mais críticas na região da América Latina e Caribe devido ao seu impacto sobre a saúde humana, principalmente em áreas urbanas. A rápida urbanização, o crescimento demográfico, a industrialização e um número crescente de veículos automotores são as principais causas da poluição atmosférica. A região também é propensa a sofrer os impactos negativos da destruição da camada de ozônio estratosférico. mundo A média de emissão de carbono das indústrias na América Latina e no Caribe em 1998 era de 0,73 tonelada por ano, enquanto a média global era de 1,06 tonelada. Fonte: dados compilados de Marlan, Boden e Andrés, 2001 248 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS:1972-2002 A Cidade do atmosférica México lidando com a poluição Estudos realizados na Cidade do México, uma das maiores metrópoles do mundo, mostraram uma estreita correlação entre a poluição atmosférica urbana e a aceleração de doenças pulmonares, processos de envelhecimento dos pulmões e infecções do aparelho respiratório (Loomis e outros, 1999; PAHO, 1998; WHO, 1999). Foi lançado um programa abrangente para lidar com a poluição atmosférica no Vale do México, com o objetivo de melhorar a qualidade dos combustíveis, promover o transporte público, reduzir as emissões de veículos, indústrias e serviços, bem como promover o reflorestamento. O Programa para Melhorar a Qualidade do Ar na Cidade do México (Proaire) 1995-2000 introduziu novas atividades em termos de monitoramento, educação e participação pública. Entre outras iniciativas, pode-se citar o estabelecimento do Fundo Ambiental do Vale do México, que é mantido com os impostos relativos à gasolina e financia atividades de melhoria da qualidade do ar, a Rede Automática de Monitoramento Ambiental, Programas de Contingências Ambientais, o Programa “Um Dia Sem Carro”, um programa de reflorestamento e atividades de educação ambiental na área metropolitana da Cidade do México (ECLAC, 2000a). países produtores de petróleo, as emissões provenientes do processo de refinamento são consideráveis também – por exemplo, na Cidade do México, cerca de 60% das emissões de SO2 se originam da indústria, incluindo as refinarias de petróleo na área metropolitana (INEGI, 1998). Em muitos países, as atividades de mineração resultam em deterioração local da qualidade do ar (PAHO, 1998). Outras fontes de poluição atmosférica têm impactos locais e sub-regionais, incluindo o uso de pesticidas na agricultura e as partículas transportadas pelo ar, provenientes da erosão do solo e da combustão de biomassa. Estudos realizados na Colômbia e no Equador no início da década de 1990 revelaram que mais de 60% dos trabalhadores agrícolas envolvidos na produção para os mercados estrangeiros tinham sintomas de envenenamento agudo causado por pesticidas (dores de cabeça, alergias, tontura, dermatite, visão embaçada), enquanto outros sofriam sérios efeitos crônicos (nascimento de bebês mortos, abortos e problemas respiratórios e neurológicos). Os habitantes vizinhos também podem ser afetados, como foi descoberto nos campos de algodão da Nicarágua e nas plantações de café da Costa Rica (UNDP, UNEP, World Bank e WRI, 1998; UNEP, 2000). Os incêndios florestais são outro fator importante que contribui com a poluição atmosférica, tendo às vezes um efeito significativo a longa distância (CCAD e IUCN, 1996; Nepstad e outros, 1997). Em 1997, por exemplo, a fumaça proveniente dos incêndios na Guatemala, em Honduras e no México foi transportada pelo ar por uma grande extensão do sudoeste dos Estados Unidos, obrigando as autori- dades do estado do Texas a emitir um alerta sobre saúde à população (UNEP, 2000). Na América Latina e Caribe, cerca de um quinto da população utiliza a biomassa como um dos principais combustíveis domésticos, o que causa a poluição atmosférica em locais fechados. Essa poluição afeta principalmente mulheres, crianças e idosos que permanecem dentro de casa por longos períodos. Na Colômbia e no México, por exemplo, as mulheres que utilizam biomassa para cozinhar têm 75 vezes mais probabilidade de desenvolver doenças pulmonares crônicas do que a média da população (UNDP, UNEP, World Bank e WRI, 1998). A poluição atmosférica é responsável por 2,3 milhões de casos de doenças respiratórias crônicas em crianças e 100 mil casos de bronquite crônica em adultos na região a cada ano (ECLAC, 2000b). Nas últimas décadas, esforços significativos têm sido realizados para lidar com a poluição atmosférica, principalmente em áreas urbanas (ver box à esquerda), por meio de estratégias que incluem o controle de emissões, mudança de combustíveis e controles de situações de emergência. Em Santiago, as emissões de partículas em suspensão – e o número de dias em que soaram os alertas ou foram declaradas situações de emergência – se reduziram de forma considerável na última década, e as concentrações de PM10 e PM2,5 caíram 24,1% e 47,4%, respectivamente, entre 1989 e 1999 (CAPP, 2000). Tal queda deve-se em grande parte à implementação de um plano iniciado em 1990, que incluía o controle das emissões domésticas e industriais, o desenvolvimento da capacidade de monitoramento, a retirada de circulação de ônibus altamente poluidores, o controle da circulação e de emissões de ônibus, a introdução de catalisadores nos automóveis, a melhoria da qualidade dos combustíveis para motores e a pavimentação das ruas (ECLAC, 2000c; O’Ryan e Larraguibel, 2000). Apesar do progresso realizado, a poluição atmosférica urbana é motivo de séria preocupação, mesmo em algumas cidades de pequeno e médio porte, em função do crescimento contínuo dos setores industrial e de transporte, associado à falta de monitoramento e normas adequados. O crescimento no número de veículos devido a aumentos reais na renda e à remoção de tarifas poderia anular o progresso alcançado na melhora da qualidade do ar. Até 2010, estima-se que 85% da população esteja vivendo em áreas urbanas – o combate à poluição do ar e a prevenção de seus impactos negativos à saúde serão prioridade em todos os países da região. ATMOSFERA Questões atmosféricas mundiais A destruição da camada de ozônio é uma questão importante para a região, principalmente para os países mais próximos do buraco da camada de ozônio sobre a Antártida, como a Argentina e o Chile. Após a ratificação do Protocolo de Montreal, os governos, em colaboração com o setor privado e outros grupos de interesse, adotaram normas, estabeleceram instituições e tomaram medidas para eliminar as substâncias que destroem a camada de ozônio (SDO): o Brasil parou sua produção em 1999 (MMA, 2001). Países que ainda produzem CFCs, como a Argentina, o México (atualmente o principal produtor de SDO na região) e a Venezuela, elaboraram políticas e medidas para reduzir tanto a produção como o consumo de SDO. Em contraste com o que ocorre em outras regiões em desenvolvimento, a região da América Latina e Caribe reduziu a produção total de CFCs em aproximadamente 21%, em relação aos níveis registrados em 1986 (UNEP, 2001b). A mudança do clima global pode afetar gravemente a região, dada sua vulnerabilidade ecológica e socioeconômica. As mudanças no ciclo hidrológico podem representar um perigo para áreas áridas e semiáridas e, portanto, afetar a produção de cereais e a pecuária, assim como a geração de energia hidrelétrica em países como a Argentina, o Chile, a Costa Rica e o Panamá. O litoral e os ecossistemas costeiros na América Central, na Argentina, no Uruguai e na Venezuela podem ser afetados, e a infra-estrutura costeira pode ser danificada. Muitas das grandes áreas metropolitanas são altamente vulneráveis ao aumento do nível do mar, particularmente os portos principais. No Caribe, os pequenos Estados insulares provavelmente serão os primeiros a sofrer as conseqüências do aumento do nível do mar. Também pode haver impactos sobre a saúde em função de um aumento dos vetores de doenças epidêmicas, juntamente com outras infecções gastrointestinais (PAHO, 1998). Os países da região não têm compromissos no âmbito da UNFCCC ou do Protocolo de Quioto. As atividades de mitigação e de adaptação incluem medidas de economia de energia nos setores agrícola, de transporte e de gestão de resíduos, o desenvolvimento de fontes renováveis de energia e a criação de sumidouros de carbono, principalmente florestas. A energia eólica é explorada em diversos países, como Jamaica, Barbados e Costa Rica. Foi construída na Jamaica uma central de demonstração de 2 MW que funciona por meio da conversão da energia térmica do oceano (UNEP, 2000). Referências: Capítulo 2, atmosfera, América Latina e Caribe CAPP (2000). Estado del Medio Ambiente en Chile 1999: Informe País. 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Geneva, World Health Organization 249 250 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Atmosfera: América do Norte Qualidade do ar Nos últimos trinta anos, tem havido melhorias notáveis da qualidade do ar na região, tanto em âmbitos regionais como locais. Os níveis de muitos poluentes atmosféricos têm sido reduzidos gradualmente – as tendências que se manifestam nos Estados Unidos (ver gráfico) são representativas da região. Os programas de controle da chuva ácida contribuíram para a queda das emissões de enxofre desde 1995, com reduções de 10% a 25% em algumas partes do nordeste dos Estados Unidos (US EPA, 2000a). Evidências recentes, no entanto, sugerem que muitas áreas sensíveis ainda recebem chuvas ácidas que excedem sua capacidade de assimilação, e os danos causados pela chuva ácida podem ser mais graves do que se acreditava anteriormente (CEC, 2000; Munton, 1998). Surgiram novas preocupações sobre o ozônio troposférico e as partículas finas em suspensão, cujas emissões não diminuíram de forma tão acentuada como as de outros poluentes comuns. Emissão dos principais poluentes do ar: Estados Unidos (milhões de toneladas/ano) 120 SO2 100 CO NOx VOC PM 10 80 60 40 20 As emissões de muitos poluentes foram reduzidas nos últimos trinta anos, principalmente as de CO, VOCs e SO2 Fonte: US EPA, 2001 99 90 19 19 89 19 9 19 9 70 19 80 19 89 19 9 19 9 70 19 80 19 89 19 9 19 9 70 19 80 19 89 19 99 80 19 19 19 70 0 Ozônio troposférico O ozônio troposférico é um poluente atmosférico comum, difuso e nocivo (ver box). A queima de combustíveis fósseis é a principal fonte de NOx, e somente o setor de transportes é responsável por 60% das emissões de NOx no Canadá (Hancey, 1999) e por 53% nos Estados Unidos (US EPA, 2000b). Entre 1984 e 1991, o padrão canadense para as concentrações de ozônio – de 0,082 ppm por um período de uma hora – foi ultrapassado ao menos uma vez em todas as principais cidades (EC, 2000a). Nos Estados Unidos, dezenas de milhões de pessoas viviam em áreas em que o padrão para o ozônio em uma hora (0,120 ppm) era ultrapassado regularmente (US EPA, 2000b). As medidas de controle estabelecidas na década de 1970 enfocavam principalmente a redução dos compostos orgânicos voláteis e, em alguns casos, das emissões de NOx provenientes de fábricas e veículos nas regiões mais afetadas. Em muitos casos, no entanto, os controles fracassaram em reduzir as concentrações de ozônio o suficiente para cumprir os padrões nacionais de saúde (US EPA, 1997a). Descobriu-se que as moléculas de ozônio se deslocam por longas distâncias a partir das fontes de emissão – a extensão típica do deslocamento do ozônio troposférico é de 240 km a 800 km (CEC, 1997). Entre 30% e 90% do ozônio troposférico encontrado no leste do Canadá origina-se nos Estados Unidos. Contudo, a província de Ontário, região canadense que mais sofre com o problema do ozônio, é uma fonte de NOx que os ventos transportam para o nordeste dos Estados Unidos (EC, 2000a). As centrais elétricas movidas a combustíveis fósseis são as maiores fontes focalizadas de NOx – quantias significativas de O3 são formadas e transportadas dentro da fumaça emitida pelas centrais elétricas. Além disso, embora os níveis de VOCs tenham diminuído nos Estados Unidos nos últimos trinta anos, as emissões de NOx aumentaram 17% no período entre 1970 e 1999 (US EPA, 2000b). Tais descobertas levaram a uma nova abordagem em que a América do Norte reconheceu a necessidade de adotar estratégias agressivas para reduzir as emissões regionais de NOx e de estabelecer esquemas de cooperação entre os dois países. Em conformidade com o Acordo sobre Qualidade do Ar estabelecido entre o Canadá e os Estados Unidos em 1991, os dois países determinam metas de redução das emissões de NOx. Em outubro de 2000, assinaram um anexo ao acordo, com o objetivo de reduzir as emissões fronteiriças de NOx provenientes de centrais elétricas movidas a combustíveis fósseis (EC, 2000b). Também elaboraram em 1995 a Estratégia ATMOSFERA 14,0 temperatura média anual (ºC) tendência 13,5 13,0 12,5 12,0 00 98 20 96 19 94 19 92 19 90 19 88 19 86 19 84 19 82 19 80 19 78 19 19 76 11,5 74 As regiões setentrionais da América do Norte têm estado sujeitas a uma grave destruição da camada de ozônio estratosférico. Com o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio, firmado em 1987, os dois países se comprometeram a implementar ações para proteger a camada de ozônio estratosférico. No Canadá, legislações rígidas aprovadas em 1990 e reformuladas em 1999 reduziram a produção dessas substâncias em um prazo menor do que o exigido pelo Protocolo, de um máximo de 27.800 toneladas/ano em 1987 para 900 toneladas/ano em 1996 (EC, 2001). Nos Estados Unidos, o uso e a comercialização de SDO são controlados por meio de um sistema de licença para comercialização e impostos sobre essas substâncias. O subseqüente aumen- Temperatura média nos Estados Unidos (ºC) 19 Destruição da camada de ozônio estratosférico Desde 1972, o clima da América do Norte está aquecendo consideravelmente, refletindo uma tendência mundial. Cerca de metade do aumento médio na temperatura da superfície da América do Norte durante o século passado – mais de 0,6ºC – ocorreu depois do fim da década de 1970 (ver gráfico). A América do Norte emite mais gases de efeito estufa do que qualquer outra região, sendo responsável por cerca de 5% da população mundial, mas por quase 26% das emissões antropogênicas de CO2 no mundo em 1998 (Marland, Boden e Andres, 2001). A América do Norte possui uma das economias que mais consomem energia no mundo. O setor de transportes é a maior fonte de emissões de CO2, tendo sido responsável, em 1995, por 30,1% das emissões do Canadá (EC, 1998a), enquanto em 1993 os automóveis de passeio e caminhonetes foram responsáveis por mais de 20% das emissões de CO2 nos Estados Unidos (Glick, sem data). Em 1997, o setor de transporte nos Estados Unidos foi a fonte de aproximadamente 5% das emissões antropogênicas mundiais de CO2 e consumiu mais de um terço de toda energia mundial usada para transporte (NRC, 1997; O’Meara Sheehan, 2001). As duas grandes crises que afetaram os preços do petróleo no mercado mundial na década de 1970 ajudaram a aumentar a conscientização de que o petróleo 72 da América do Norte de Pesquisa sobre o Ozônio Troposférico e assinaram em 1999 o Protocolo da CLRTAP para reduzir a acidificação, a eutroficação e o ozônio troposférico. O reconhecimento de que a exposição ao ozônio em concentrações abaixo de 0,08 ppm resulta em sérios efeitos à saúde acelerou a revisão dos padrões de saúde em relação ao ozônio, tanto no Canadá como nos Estados Unidos (EC, 2000a; US EPA, 1997b). Embora os níveis de SPM tenham caído 40% desde 1980, pesquisas recentes revelaram graves preocupações quanto à saúde pela exposição a concentrações dentro dos limites permitidos, atribuíveis às partículas mais finas transportadas pelo ar, emitidas principalmente por veículos e centrais elétricas. Conseqüentemente, os padrões da América do Norte para as partículas em suspensão foram ajustados (EC, 1999; EC, 2000a; OMA, 2000). Os gases de efeito estufa e a mudança do clima 19 A poluição atmosférica está surgindo como um fator importante que contribui para algumas doenças respiratórias e cardiovasculares. Aproximadamente 80 milhões de cidadãos dos Estados Unidos estão expostos a níveis de poluição atmosférica que podem prejudicar a saúde, e mais de 2% do total anual de mortes podem ser atribuídos à poluição do ar (UNDP, UNEP, World Bank e WRI, 1998). A poluição atmosférica também está associada a um aumento alarmante da freqüência de casos de asma entre crianças e jovens nas duas últimas décadas. Mais de 5,5 milhões de crianças na América do Norte sofrem de asma. O impacto da poluição ambiental sobre a saúde das crianças é uma questão prioritária na região. to de preços das SDO promoveram o uso de substâncias alternativas. Até 1996 os dois países haviam reduzido seu consumo de CFC não-essencial a zero (Potts, 2001). 19 O impacto da poluição atmosférica sobre a saúde na América do Norte A temperatura média anual nos Estados Unidos tem aumentado mais do que 0,5ºC desde os anos 1970. Fonte: DOC, NOAA e NCDC, 2000 251 252 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS:1972-2002 não é um recurso renovável. Novos padrões de economia de energia relativos a carrocerias, motores e rendimento do combustível nos novos veículos de passageiros foram introduzidos nos anos de 1970 e fortalecidos na década de 1980 (OECD, 1996; CEQ, 1997). No entanto, uma combinação de fatores conspirou para aumentar o uso de energia durante essa década. O progresso da eficiência total e per capita de energia ficou mais lento, e as emissões de CO2 continuaram aumentando (CEQ, 1997; EC, 1997; OECD, 1998). Os esforços renovados que surgiram como conseqüência dos compromissos da UNFCCC também falharam em reprimir as emissões de CO2 na década de 1990. Em 1998, as emissões estavam 14% e 11% acima dos níveis registrados em 1990 no Canadá e nos Estados Unidos, respectivamente (US EPA, 2000a; SRP, 2000). A produção de energia renovável a partir de fontes hidrelétricas, eólicas, solares, geotermais e de biomassa está aumentando, mas ainda contribui com apenas uma pequena fração das necessidades de energia, tendo fornecido aproximadamente 7% da demanda doméstica de energia dos Estados Unidos no ano 2000 (US EIA, 2001). No setor de transportes, o progresso alcançado quanto à eficiência dos combustíveis de veículos e ao controle das emissões foi parcialmente anulado pelo aumento no número de automóveis e nas distâncias das viagens e por uma tendência, presente des- de 1984, ao uso de caminhonetes e veículos esporteutilitários (CEQ, 1997; EC, 1998a). Por exemplo, entre 1990 e 1995, houve um aumento de 15% nas viagens de automóveis no Canadá, um declínio no uso do transporte urbano e um aumento de 6% no uso total de combustíveis fósseis (EC, 1998b). Em 1994, aproximadamente 60% das residências nos Estados Unidos possuíam dois ou mais carros e 19% possuíam três ou mais (De Souza, 1999). O estacionamento barato e outros subsídios ocultos, como fundos para o desenvolvimento de auto-estradas e os baixos preços dos combustíveis, promoveram a dependência dos automóveis (Miller e Moffat, 1993; EC, 1998a). De acordo com o Protocolo de Quioto de 1997, o Canadá concordou em reduzir as emissões de gases de efeito estufa para 6%, e os Estados Unidos, para 7% abaixo dos níveis registrados em 1990, no período entre 2008 e 2012. Contudo, no início de 2001, os Estados Unidos anunciaram que a implementação do tratado de Quioto seria muito prejudicial à sua economia e que buscariam outras formas de lidar com a mudança do clima (US EIA, 2001). Na Conferência da UNFCCC, realizada em Bonn em julho de 2001, chegou-se a um compromisso que permitiu que florestas de absorção de carbono fossem utilizadas como compensação às emissões. Conseqüentemente, o Canadá pode obter mais de 20% de sua meta com tais créditos (MacKinnon, 2001). Referências: Capítulo 2, atmosfera, América do Norte CEC (1997). Long-Range Transport of Ground Level Ozone and its Precursors. Montreal, Commission for Environmental Cooperation CEC (2000). Booming Economies, Silencing Environments, and the Paths to Our Future. Montreal, Commission for Environmental Cooperation http:// www.cec.org [Geo-2-026] CEQ (1997). Environmental Quality — The World Wide Web: The 1997 Annual Report of the Council on Environmental Quality. Washington DC, The White House, Council on Environmental Quality De Souza, R-M. (1999). Household Transportation Use and Urban Air Pollution: A Comparative Analysis of Thailand, Mexico, and the United States. 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Na Síria, as emissões de material particulado provenientes de uma única fábrica de cimento próxima a Damasco provocam níveis de partículas em suspensão acima das diretrizes em um raio de 3 km. Esses altos níveis têm causado doenças torácicas e respiratórias entre trabalhadores e comunidades vizinhas (CAMRE e UNEP, 1997). consumo produção 1,000 800 600 400 200 9 19 6 97 19 94 92 19 90 ao impacto da qualidade inadequada do ar sobre a saúde humana na Síria seja de aproximadamente US$ 188 milhões ao ano (World Bank e UNDP, 1998). Todavia, as tendências recentes na Ásia Ocidental, principalmente nos países do CCG, se referem à adoção de métodos de produção industrial mais limpa, em particular nas grandes indústrias petrolíferas, petroquímicas, metalúrgicas e de fertilizantes. O crescente número de veículos, a administração inadequada do tráfego, veículos antigos e estradas congestionadas nos grandes centros urbanos agravam o nível de poluição atmosférica. Muitos veículos estão em condições precárias e cerca de 30% têm mais de 15 anos de fabricação, produzindo emissões muito mais altas de hidrocarbonos e NOx do que os novos (World Bank e UNDP, 1998). Além disso, a gasolina com chumbo ainda é utilizada em muitos países, agravando os problemas de saúde nas cidades e ao longo das principais rodovias (World Bank, 1995). Para lidar com esse problema, alguns países tomaram medidas para eliminar a gasolina com chumbo. A gasolina sem chumbo tem sido introduzida nos países integrantes do CCG e no Líbano, além de ser o único combustível produzido em Barein desde julho de 2000 (BAPCO, 2000). Juntamente com a poluição atmosférica causada por atividades humanas, as tempestades sazonais de areia e de poeira contribuem com a poluição do ar na Ásia Ocidental de forma generalizada e particularmente ao longo da costa ao norte do Golfo Árabe (Pérsico) (ROPME, 1999). As tempestades de poeira absorvem poluentes como pesticidas e podem transportá-los por longas distâncias, causando efeitos nocivos ao meio ambiente, à economia e à qualidade de vida. Estima-se que a quantidade anual de 19 19 88 19 86 19 84 19 82 80 19 78 19 19 76 19 74 0 19 O nível de industrialização na Ásia Ocidental é baixo em comparação com a Europa e os Estados Unidos, mas o crescimento demográfico, a urbanização e o aumento do número de indústrias petrolíferas e de outras atividades industriais resultaram em zonas críticas de poluição atmosférica. Nas principais cidades e centros industriais da Ásia Ocidental, as concentrações dos principais poluentes atmosféricos freqüentemente excedem de duas a cinco vezes as diretrizes da OMS (World Bank, 1995). A queima de combustíveis fósseis é a principal causa da poluição atmosférica e das emissões antropogênicas de CO2. A prática é responsável por toda a produção de energia primária comercial na Ásia Ocidental, que aumentou de 665,5 milhões de toneladas de equivalente de petróleo (mtep) em 1972 para 974,2 mtep em 1997, enquanto o consumo de energia aumentou de 27,0 para 229,5 mtep no mesmo período (compilado a partir de IEA, 1999). As principais fontes de poluição atmosférica nos países integrantes do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) são as refinarias de petróleo, os centros de armazenamento de petróleo, as plataformas petrolíferas, indústrias petroquímicas e de fertilizantes e os veículos motorizados. Nos países do Mashreq, tecnologias obsoletas, principalmente de centrais elétricas, fábricas de fertilizantes, usinas siderúrgicas e fábricas de cimento, causaram a deterioração da qualidade do ar, não apenas em sítios industriais, como também em assentamentos próximos. Entre os poluentes atmosféricos emitidos, as partículas em suspensão representam uma grande preocupação, com níveis muito acima das concentrações máximas permitidas. Calcula-se que a perda econômica devido 1,200 72 Qualidade do ar Consumo e produção de energia: Ásia Ocidental (milhões de toneladas de equivalente de petróleo/ano) 19 Atmosfera: Ásia Ocidental A produção de energia do Ásia Ocidental excedeu atualmente seu nível máximo anterior, alcançado em 1979; o consumo continua a crescer a uma média de 3,5% ao ano. Fonte: dados compilados pela IEA, 1999 254 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS:1972-2002 precipitação de poeira ao longo da área costeira do Kuwait possa chegar a 1.000 toneladas/km2 com uma concentração média geral de 200 µg/m3 (Khalaf e outros, 1980; EPA, 1996). A poluição atmosférica transfronteiriça é um problema crescente na região. Para conter a poluição atmosférica, devem-se estabelecer medidas e regulamentos mais rígidos que controlem as emissões, promovam o uso de tecnologias modernas e eficientes e apóiem a reestruturação dos preços dos recursos energéticos. Para reduzir o consumo de energia e as emissões associadas de gases de efeito estufa, são necessários programas que promovam o uso eficiente de energia nos setores petrolífero, industrial, agrícola, residencial, de transporte e de eletricidade. Destruição da camada de ozônio estratosférico Os Estados da Ásia Ocidental (com exceção do Iraque) aderiram à Convenção de Viena e ao Protocolo de Montreal e suas emendas. Todos os países na região são usuários, mas não produtores de substâncias que destroem a camada de ozônio, e têm sido desenvolvidos programas que regulam a importação e o uso de SDO em âmbito tanto nacional como regional. Foram promulgadas normas quanto a especificações e emissões de SDO, e têm sido estabelecidos organismos para assuntos relacionados à camada de ozônio e comitês de coordenação para monitorar as atividades de empresas com respeito ao consumo, manejo e armazenagem dessas substâncias. As empresas estão eliminando gradualmente o uso de SDO, e a maioria dos países acabou com o consumo de SDO, conforme exigido pelo Protocolo de Montreal. Contudo, são necessários mais esforços para eliminar o brometo de metila, que ainda é consumido na Jordânia, no Líbano e na Síria. Mudança do clima A região da Ásia Ocidental tem a probabilidade de ser afetada pela mudança do clima. A Península Arábica e diversas ilhas (como Barein) provavelmente estarão sujeitas à elevação do nível do mar. As variações de temperatura e as mudanças nos padrões pluviométricos afetarão os recursos hídricos e a capacidade de produção alimentar. Os impactos da mudança do clima são considerados alta prioridade em alguns países, principalmente em países insulares como Barein. Após a ratificação da UNFCCC, foram estabelecidos comitês nacionais sobre mudança do clima, e alguns países começaram a monitorar a qualidade do ar e os parâmetros meteorológicos. Vários países concluíram seus inventários nacionais sobre gases de efeito estufa (Barein, Jordânia e Líbano), e o trabalho está em andamento em outros países. Esses inventários (AGU e MoHME, 2000; GCEP, 1997; Government of Lebanon, 1998) revelaram números 59%, 72% e 25% maiores, respectivamente, do que os relatados pelo PNUD, PNUMA, Banco Mundial e WRI (1998). As emissões per capita de CO2 na Ásia Ocidental aumentaram de 4,7 toneladas/ano em 1972 para 7,4 toneladas/ano em 1998, o que reflete as tendências regionais de crescimento demográfico, desenvolvimento e industrialização. As emissões nos países com índices muito altos de emissão per capita (Kuwait, Catar e Emirados Árabes Unidos) diminuíram durante esse período (Marland, Boden e Andres, 2001). Tal declínio foi um dos resultados produzidos pelas políticas que incluíam medidas como programas de desenvolvimento de energia mais limpa, introdução de tecnologias modernas mais eficientes e o estabelecimento de padrões de qualidade do ar. Referências: Capítulo 2, atmosfera, Ásia Ocidental AGU and MoHME (2000). Bahrain Inventory of Greenhouse Gas Emissions Report under UNEP/ GEF Project 2200-97-46. Manama, Bahrain, Arabian Gulf University and the Ministry of Housing, Municipalities and Environment BAPCO (2000). BAPCO Site for Information on the Introduction of Unleaded Gasoline. Frequently Asked Questions. Bahrain Petroleum Company http://www.unleadedbahrain.com/english/ faq.htm#3 [Geo-2-044] CAMRE and UNEP (1997). 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Middle East and North Africa Environmental Strategy: Towards Sustainable ATMOSFERA 350 setembro outubro 300 250 200 150 Ártico, tanto em extensão como em espessura, pelo degelo do pergelissolo, pela erosão costeira, por mudanças nos mantos e nas falésias de gelo e pela alteração da distribuição e da abundância de espécies nas regiões polares (IPCC, 2001a). Outros impactos da tendência de aquecimento incluem um aumento registrado de 15% na precipitação sobre o Ártico, maior ocorrência de tempestades, primaveras adiantadas e um começo tardio das condições de congelamento, bem como uma menor salinidade da água marinha (AMAP, 1997). O próprio degelo do pergelissolo agrava os problemas da mudança do clima – por exemplo, as emissões de metano na tundra podem aumentar, enquanto as reduções na extensão de neve e cobertura de gelo altamente reflexivas amplificarão o aquecimento. Esses efeitos podem prosseguir por séculos, por muito tempo após a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa, e podem causar impactos irreversíveis sobre os mantos de gelo, a circulação oceânica global e o aumento do nível do mar (IPCC, 2001a). Considerando que a maior parte dos países industriais se encontra no Hemisfério Norte, o Ártico está mais exposto à poluição atmosférica antropogênica do que a Antártida. Os ventos predominantes transportam substâncias poluidoras – incluindo metais pesados, POPs e às vezes radionuclídeos – para o Ártico, onde podem permanecer suspensas no ar 00 20 95 19 90 19 85 19 80 19 75 19 70 19 65 19 19 60 100 55 As principais questões atmosféricas no Ártico e na Antártida são a destruição da camada de ozônio estratosférico, o transporte de poluentes atmosféricos por longas distâncias e o aquecimento associado à mudança do clima global. Esses problemas são causados principalmente pelas atividades antrópicas em outras partes do mundo. A destruição sazonal da camada de ozônio estratosférico sobre a Antártida, e mais recentemente sobre o Ártico, tem sido uma das principais preocupações ambientais desde que foi percebida em 1985 (Farman e outros, 1985). A profundidade, a área e a duração do buraco da camada de ozônio sobre a Antártida têm aumentado constantemente, alcançando o recorde de aproximadamente 29 milhões de quilômetros quadrados em setembro de 2000 (WMO, 2000; NASA, 2001). No Ártico, os níveis médios anuais de ozônio estratosférico na década de 1990 caíram 10% desde o fim da década de 1970, aumentando o risco de cegueira pelo reflexo da neve e queimaduras causadas pelos raios solares. A recuperação da camada de ozônio estratosférico nas regiões polares depende principalmente da implementação do Protocolo de Montreal sobre as Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio. Portanto, os esforços das nações para eliminar o uso de SDO, mesmo que estejam distantes dos pólos, são de extrema importância (UNEP, 2000). Os ecossistemas naturais nas regiões dos pólos têm pouca capacidade de adaptação e são altamente vulneráveis a mudanças climáticas. Calcula-se que a mudança do clima seja mais extrema nas regiões polares do que em qualquer outro lugar (foi observada uma tendência de aquecimento de até 5ºC em grandes áreas de terra no Ártico, embora haja algumas áreas no leste do Canadá em que as temperaturas te-nham caído) e que provavelmente causará grandes impactos físicos, ecológicos, sociais e econômicos, tanto no Ártico como na Antártida (IPCC 2001a e b). Seja por causa de uma oscilação natural ou de mudanças climáticas globais, a temperatura atmosférica da Antártida está sofrendo mudanças. Uma notável tendência de aquecimento é evidente na Península Antártica, com imensas perdas de falésias de gelo e um aumento da cobertura vegetal em terrenos mais elevados, embora, como ocorre no Ártico, também haja áreas de notável resfriamento, como o Pólo Sul, por exemplo (Neff, 1999). A mudança do clima é quase que certamente responsável pela diminuição do gelo marinho do Níveis médios mensais de ozônio na Baía Halley, Antártida (unidades Dobson) 19 Atmosfera: as Regiões Polares 255 Níveis médios mensais de ozônio no sítio da Baía Halley, durante o início da primavera na Antártida. Fonte: BAS, 2000 “A área de pergelissolo cobre 58% do território da Federação Russa. Muitos assentamentos humanos, centros industriais e instalações de infra-estrutura estão localizados nessa área. Dada a atual tendência ao aquecimento, a fronteira da área de pergelissolo pode mover-se de 300 km a 400 km ao norte até 2100.” — Interagency Commission, 1998 256 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS:1972-2002 Transporte de poluentes por longas distâncias às regiões polares Algumas substâncias tóxicas persistentes, incluindo POPs e mercúrio, podem se tornar voláteis em ar quente e ser transportadas por massas de ar. Após serem depositadas, podem entrar novamente na atmosfera e prosseguir sua jornada, tornando-se poluentes a longa distância. O processo pode continuar até que atinjam as áreas polares mais frias, em que se condensam em partículas ou flocos de neve no ar, que eventualmente pousam no solo. Devido à baixa solubilidade em água e à alta solubilidade em gordura, essas substâncias são facilmente incorporadas nas redes de alimento polares ricas em gordura, e acumulam-se na biota. Devido à combinação de condições climáticas severas com as propriedades físico-químicas das substâncias tóxicas persistentes, as regiões polares (particularmente o Ártico) criam um depósito para essas substâncias, o que pode resultar no fato de que seus níveis serão mais altos do que os registrados nas regiões de origem (AMAP, 1997). A implementação da recém adotada Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, assinada em maio de 2001, pode levar a uma redução da precipitação de POPs nas regiões polares. durante semanas ou meses e ser transportadas por longas distâncias (Crane e Galasso, 1999). Em grande parte do Ártico, os níveis de certos tipos de poluentes são tão elevados que não podem ser atribuídos a fontes localizadas na região; são provenientes de fontes situadas muito mais ao sul. Entre as principais fontes de radionuclídeos no Ártico, encontram-se a precipitação proveniente de testes nucleares, emissões de usinas de reprocessamento de combustível nuclear e a precipitação causadas pelo acidente da usina nuclear de Chernobyl, ocorrido em 1986. Foi registrado um aumento significativo do nível de radiação em populações indígenas do Ártico após o acidente de Chernobyl, particularmente entre as que consumiam quantidades significativas de alimentos que concentram césio 137, tais como a carne de rena, peixes de água doce, cogumelos e frutas silvestres. O fenômeno foi observado principalmente no período de 1986-1989, na população Saami da Noruega e da Suécia, e até 1991 na população autóctone da Península de Kola, na Federação Russa. Desde então, os níveis vêm caindo gradualmente para os registrados antes do acidente (AMAP, 1997). Os complexos industriais da Federação Russa têm sido uma das principais fontes de poluição atmosférica no Ártico. As emissões de compostos de enxofre e metais pesados provenientes de usinas siderúrgicas causaram uma grande degradação florestal na Península de Kola e diminuíram o número de espécies na região. As áreas gravemente afetadas pela poluição do ar em torno das fundições de níquel Pechenga e Varanger aumentaram de aproximadamente 400 km2 em 1973 para 5 mil km2 em 1988 (AMAP, 1997). Desde 1990, as emissões provenientes de usinas siderúrgicas russas diminuíram ou se estabilizaram principalmente devido à queda da economia. O nível de poluição atmosférica no Ártico é tão elevado que a “névoa do Ártico” tornou-se um problema de grande importância. O termo foi cunhado na década de 1950 para descrever uma redução incomum da visibilidade que as tripulações de aviões de reconhecimento meteorológico da América do Norte observaram durante vôos em altas latitudes no Ártico. A névoa é sazonal, alcança sua densidade má-xima na primavera e origina-se das fontes antropo-gênicas de emissões fora da região ártica. Os aerossóis (material finamente particulado) da névoa são em sua maior parte sulfúreos (até 90%) que se originam da queima de carvão nas latitudes médias ao norte, particularmente na Europa e na Ásia. As partículas são aproximadamente do mesmo tamanho do comprimento de onda da luz visível, o que explica por que a né-voa é tão aparente a olho nu. A melhoria do estado do meio ambiente polar depende principalmente de políticas e medidas implementadas por pessoas dentro e fora das áreas polares. Os países do Ártico tomaram diversas medidas para melhorar a qualidade do ar, entre elas a assinatura da Contaminação radioativa depois de Chernobyl Níveis de césio 137 (1.000 becquereis/m²) na Escandinávia, na Finlândia e na região de Leningrado, na Rússia, após a explosão de Chernobyl, em 1986. Fonte: AMAP, 1997 ATMOSFERA Convenção sobre Poluição Transfronteiriça (CLRTAP) e seus protocolos relevantes, bem como o apoio ao desenvolvimento da Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes. Além disso, as medidas reguladoras internas implementadas nos Estados Unidos e no Canadá têm reduzido as emissões de alguns POPs, metais pesados e compostos de enxofre. As ações para lidar com a destruição da camada de ozônio estratosférico dependem do êxito da implementação do Protocolo de Montreal por parte de todas as nações (UNEP, 2000). Considerando o aumento previsto na temperatura média global, a mudança do clima submeterá as regiões polares a pressões significativas no século XXI. Provavelmente esses impactos serão agravados pela alta vulnerabilidade e baixa capacidade de adaptação dos ecossistemas polares e de algumas comunidades indígenas tradicionais. Apesar da crescente atividade, tanto em âmbito nacional como internacional, medidas apenas preliminares foram tomadas para lidar com o problema da mudança do A importância da névoa do Ártico A descoberta da névoa do Ártico deu um fim à noção anterior de que a poluição por aerossóis poderia ser apenas local ou regional. O ar frio e seco das regiões polares permite que as partículas permaneçam suspensas no ar por semanas, em vez de por dias, o que por sua vez permite que os poluentes de enxofre se espalhem a partir de fontes industriais da Eurásia por todo o Ártico e na América do Norte. As partículas da névoa podem facilitar o transporte de metais e outros poluentes para a região polar e dentro dela, como também podem resultar no depósito desses poluentes por meio de precipitações sobre as principais áreas oceânicas em torno do Ártico (AMAP, 1997). clima global. O principal desafio regional é, portanto, aumentar o potencial de adaptação à mudança, que deverá ajudar a mitigar os impactos negativos. Os países do Ártico iniciaram a Avaliação do Impacto sobre o Clima do Ártico, a ser concluída em 2003. Essa avaliação será integrada aos estudos regionais do IPCC (ACIA, 2001). Referências: Capítulo 2, atmosfera, as Regiões Polares ACIA (2001). Arctic Climate Impact Assessment. http://www.acia.uaf.edu AMAP (1997). Arctic Pollution Issues: A State of the Arctic Environment Report. Oslo, Arctic Monitoring and Assessment Programme BAS (2000). BAS Ozone Bulletin 01/00. British Antarctic Survey. http://www.nercbas.ac.uk/ public/icd/jds/ozone/bulletins/bas0100.html [Geo-2-100] Crane, K. and Galasso, J.L. (1999). Arctic Environmental Atlas. Washington DC, Office of Naval Research, Naval Research Laboratory Farman, J.C., Gardiner, B.J. and Shanklin, J.D. (1985). Large losses of total ozone in Antarctica reveals seasonal ClOX/NOZ interaction. 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Journal of Geophysical ResearchAtmospheres, 104, 27217-51 UNEP (2000). Report of the Twelfth Meeting of the Parties to the Montreal Protocol. UNEP Ozone Secretariat http://www.unep.org/ozone/12mop9.shtml [Geo-2-019] 257 258 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS:1972-2002 NOSSO MEIO AMBIENTE EM TRANSFORMAÇÃO: Chomutov, República Checa 1979 2000 A poluição causada por centrais elétricas movidas a carvão próximas a Chomutov, República Checa, se dirigiu à Alemanha por muitos anos, pelas montanhas de Krusne Hory – isto é, do canto inferior direito ao canto superior esquerdo das imagens ao lado. Os retângulos verdes são minas fornecedoras de lignita de baixo grau, rica em enxofre, para a geração de eletricidade. A queima desse carvão fóssil de baixo grau não apenas polui a atmosfera, mas também causa danos graves às florestas por todo o Leste Europeu. No início da década de 1980, as árvores que cresciam no alto das montanhas começaram a morrer. Os efeitos são mostrados na parte central esquerda das duas imagens. Na imagem de 1979, as áreas escuras representam uma floresta densa e saudável. Na imagem de 2000, essas áreas escuras são substituídas por áreas em cinza-claro, em que as árvores morreram, deixando uma superfície quase sem vegetação. Desde então, tem ocorrido um amplo desma-tamento de árvores mortas e condenadas. Os esforços para substituir as florestas danificadas têm Dados Landsat: USGS/EROS Data Center Compilação: UNEP GRID Sioux Falls ATMOSFERA 259 NOSSO MEIO AMBIENTE EM TRANSFORMAÇÃO: Kilimanjaro, Tanzânia O Monte Kilimanjaro, localizado a cerca de 300 km ao sul do equador na Tanzânia, é a montanha mais alta da África. O gelo e a neve permanentes de seu cume, que se erguem a 5 mil metros acima de uma planície de savana ondulante, sempre foram objeto de fascinação e atraíram muitos turistas à Tanzâ-nia e ao Quênia. Mas as geleiras do Kilimanjaro estão desaparecendo devido ao aquecimento regional, provavelmente associado ao aquecimento global. O ma-pa mostra a extensão decrescente das geleiras entre 1962 e 2000. Durante esses trinta e oito anos, o Kilimanjaro perdeu cerca de 55% de suas geleiras. Segundo o Centro Byrd de Pesquisa Polar, da Universidade do Estado de Ohio, “o Kilimanjaro perdeu 82% do manto de gelo que tinha quando foi minuciosamente estudado pela primeira vez em 1912”. O mapa mostra a extensão da geleira em 1962 (contorno amarelo, com base em estudos geológicos) e em 2000 (contorno preto, com base em imagens Landsat e levantamento aéreo) Vista da lateral sudeste do Kibo (pico mais alto do Kilimanjaro) Dados Landsat: USGS/EROS Data Center Fotografias: Christian Lambrechts, UNF/UNEP/KWS/University of Bayneuth/ WCST Vista da principal caldeira do Kibo Buraco crescente no que resta da lateral da geleira do norte Vestígios da lateral oriental da geleira do norte