Uma análise de indicadores de sustentabilidade fiscal para o Brasil Tema: Ajuste Fiscal e Equilíbrio Macroeconômico 1. INTRODUÇÃO Parece pouco discutível nos dias de hoje o fato de que o crescimento econômico sustentável somente é possível dentro de uma estrutura macroeconômica saudável em que o setor público ocupa uma posição importante, tendo a política fiscal um papel determinante na estabilidade macroeconômica através seus efeitos sobre a alocação de recursos e preços. Nesse sentido, o comportamento da dívida e do déficit público torna-se relevante na determinação, por exemplo, da taxa de juros e das expectativas acerca do futuro da economia. No caso brasileiro, o sucesso do Plano Real, enquanto plano de estabilização, foi assegurado em parte por condições fiscais relativamente favoráveis que permitiram a geração por parte do setor público de um superávit primário da ordem de 5% do produto no ano de 1994. Após os déficits incorridos no período 1996/98, a reversão dos resultados nos dois últimos anos e a permanência dessa última tendência tem-se mostrado como um esforço do governo tendo em vista a continuidade da estabilização. De outra parte, o crescimento da dívida pública a partir de 1994, com seu estoque ultrapassando a magnitude de 50% do produto no final do ano de 2001, levanta sérias dúvidas acerca da sustentabilidade da política fiscal corrente. Nesse sentido, paralelamente à análise dos efeitos da política fiscal sobre a economia, uma questão igualmente importante à qual a ciência econômica deve estar apta a responder refere-se à própria sustentabilidade de tal política. Em outros termos, torna-se necessário saber se a existência e a permanência de déficits fiscais presentes não comprometerão a trajetória futura 2 da dívida, ou se serão necessários ajustes futuros em termos de corte de gastos, aumento da carga de impostos ou algum tipo de repudiação do débito, tal como o ocorrido com o Brasil em março de 1990. Naquele momento, o bloqueio dos ativos financeiros representou um default implícito, em razão das mudanças de regras com respeito ao pagamento da correção monetária. Por outro lado, não é possível analisar o atendimento da restrição orçamentária intertemporal do governo observando apenas para alguns anos seus resultados primários e a trajetória da dívida pública, visto que a ocorrência de uma seqüência de superávits fiscais poderá suceder a ocorrência de uma série de déficits. Existe sempre um considerável elemento de subjetividade quando se avalia a sustentabilidade da dívida pública fiscal, com respostas diretamente atreladas ao cenário econômico e institucional futuro sugerido. Nesse sentido, avaliar sustentabilidade envolve necessariamente algum tipo de conhecimento sobre o futuro, de modo que um indicador que tenha essa pretensão não pode evitar tal tarefa previsora. Conforme coloca Blanchard (1990a), um bom indicador de sustentabilidade deve fornecer sinais claros de quando uma política fiscal corrente está levando a um rápido e excessivo crescimento da relação dívida/produto. Isto posto, a presente análise tem por objetivo avaliar indicadores alternativos de sustentabilidade fiscal, visto que aquele que denominaremos posteriormente “indicador verdadeiro”, requer um volume muito grande de informações, não disponíveis aos gestores de política fiscal, referentes à trajetória futura das variáveis pertencentes à restrição orçamentária do 3 governo. Justamente por esse motivo, as análises que atentam para o problema fiscal brasileiro estão preocupadas mais com a verificação do cumprimento ou não da restrição intertemporal do governo do que com a análise dos possíveis indicadores de sustentabilidade. Tais estudos baseiamse em análises econométricas de séries de tempo ou em simulações da equação de movimento da dívida pública para diferentes cenários das variáveis macroeconômicas relevantes, tais como juros, déficit fiscal, crescimento do produto, entre outros. Dessa forma, o ineditismo introduzido diz respeito não apenas à análise de indicadores de sustentabilidade para o Brasil, mas também ao uso de modelos de equilíbrio geral dinâmicos para gerar as trajetórias das variáveis relevantes através das técnicas de calibração e simulação. Além disso, um novo modelo é introduzido, incorporando a restrição orçamentária do governo como um elemento importante na determinação do equilíbrio da economia artificial. O trabalho está estruturado em quatro seções, além desta introdução. Na segunda seção, realiza-se uma breve revisão dos estudos que tratam do problema fiscal brasileiro; na terceira, expõe-se os indicadores de sustentabilidade fiscal; na quarta seção, apresentam-se o modelo utilizado; na quinta encontram-se os resultados, enquanto que a última refere-se às considerações finais. 2 BREVE REVISÃO DOS TRABALHOS EMPÍRICOS Conforme colocado na introdução, as análises que atentam para o problema fiscal brasileiro estão preocupados mais com a verificação do cumprimento ou não da restrição intertemporal do governo do que com a análise dos possíveis indicadores de sustentabilidade. Mesmo assim, considera-se oportuna uma breve revisão dos estudos que versam de algum modo sobre a sustentabilidade fiscal do país, constituindo pano de fundo para o restante do presente trabalho. O crescimento expressivo da dívida líquida do setor público após o ano de 1994, conforme pode ser visto no gráfico 1, abaixo, tem levantado muitas dúvidas acerca da sustentabilidade da atual política econômica brasileira 1 . GRÁFICO 1 Resultado primário e dívida total líquida do setor público como proporção do PIB - 1985/2001 2 60 1 50 0 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 40 -1 -2 30 -3 20 -4 -5 -6 Resultado primário (%PIB) Dívida total líquida (%PIB) 10 0 Fonte: Boletim do Banco Central do Brasil. 1 Para maiores informações sobre os possíveis determinantes do comportamento da dívida pública nas últimas duas décadas, ver, entre outros, Pastore (1995), Bevilaqua e Werneck (1997) e Giambiagi (2000). 5 Nesse sentido, Bevilaqua e Werneck (1997a) centram sua análise nos determinates da dinâmica da dívida pública, entendendo ser esta um ponto chave para a avaliar o problema da sustentabilidade fiscal. Segundo esses autores, além da política macroeconômica, pelo menos três outros fatores são importantes determinantes da dinâmica da dívida. Primeiro, os chamados “esqueletos” (hidden liabilities), que representam prováveis compromissos futuros que serão contabilizados como dívida, tal como as estimativas de déficit do Fundo de Compensação de Variações Salarias, as quais eventualmente serão assumidas pelo governo federal. Segundo, o efeito do processo de privatização sobre a dinâmica da dívida, cujo impacto depende não apenas do próprio fluxo de recursos obtidos, mas também da parte deste fluxo usada efetivamente para o resgate da dívida pública. O último fator destacado refere-se à receita de senhorinhagem, cuja importância como fonte de financiamento tem reduzido-se fortemente após a implementação do plano de estabilização em meados de 1994. Com relação ao comportamento futuro da dívida, os autores realizam simulações do comportamento do débito usando cenários exógenos para o resultado primário do setor público. Dessa forma, dada uma trajetória exógena para o resultado primário, o modelo utilizado, baseado em equações de comportamento para a dívida e spread sobre juros, determina o volume de pagamento de juros e o resultado operacional para o primeiro período. O estoque de dívida é então determinado levando em consideração também o volume esperado de venda de ativos públicos, a possibilidade de emergência de “esqueletos” e a importância das receitas de senhoriagem. O volume de 6 dívida adicional criado é dividido em proporções fixas entre títulos denominados em moeda nacional e títulos denominados em moeda estrangeira. Após a obtenção do valor do estoque de dívida para o primeiro período, o modelo repete o mesmo exercício para os períodos posteriores. Após a consideração de três cenários diferentes com relação ao resultado primário, os autores concluem que a trajetória fiscal observada até aquele momento não poderia ser considerada sustentável, sendo uma política fiscal sustentável definida como uma política em que a razão dívida-produto eventualmente converge para determinado nível. De acordo com o exercício de simulação, um rápido crescimento da dívida como proporção do produto será inevitável caso não ocorra uma melhora no resultado primário até então observado nas contas públicas. Por outro lado, Bevilaqua e Werneck (1997b), baseados no fato que, entre 1990/94 e 1995/96 o déficit operacional aumentou 5% do PIB (sendo que dois terços de tal variação deu-se por intermédio da piora do resultado primário), desenvolvem um indicador alternativo que permite uma interpretação mais refinada da situação fiscal brasileira. A idéia é que as flutuações na taxa de inflação e a performance do crescimento do produto afetam tanto as receitas, como os gastos do governo, de tal forma que o indicador construído corrige as medidas fiscais convencionais levando em conta os efeitos do ciclo econômico2, ao mesmo tempo em que se obtém um índice de mudanças 2 Com relação à sugestão de corrigir as medidas de déficit público levando em conta o efeito do ciclo econômico, ver, por exemplo, Blanchard (1990a) e Blejer e Cheasty (1991). 7 discricionárias na política fiscal. Nesses termos, a medida proposta captura a variação no resultado primário que não pode ser atribuída ao ciclo. Como conclusão do referido trabalho, os autores mostram que os déficits ajustados mostram, na média, uma política fiscal mais expansionista do que àquela inferida pelos resultados primários realmente observados, ainda que a média esconda diferenças importantes dentro do período analisado (1989/96), como, por exemplo, os anos de 1992 e 1993, cujos superávits ajustados mostraram-se superiores aos observados. Em outro trabalho, Rocha (1997) procura verificar se a restrição intertemporal de endividamento do setor público é respeitada. Em especial, a autora preocupa-se em avaliar a consistência das trajetórias da dívida, gastos e receitas do governo federal brasileiro para o período jan./80 — jul./93. Com esse objetivo, dois testes econométricos são realizados: um deles busca avaliar o processo gerador da dívida, enquanto o outro testa a relação de longo prazo entre receitas e gastos do governo (incluindo despesas com juros). Ambos os testes mostram-se consistentes no sentido de comprovar que o orçamento do governo é balanceado em termos de valor presente. Como resultado complementar, os procedimentos econométricos indicam que a senhoriagem foi uma fonte extremamente importante de receita para o governo no período em questão, de tal forma que com a desconsideração da senhoriagem como receita, o orçamento do governo não se torna equilibrado em termos de valor presente. Assim, como coloca a autora, parece mais realista assumir que o governo brasileiro segue um regime 8 do tipo “deficit-financing”, sendo que a persistência de déficits fiscais requer incrementos da base monetária em ordem para manter a solvência. Conclusão bastante similar é obtida em Pastore (1995), que testa a violação da restrição orçamentária intertemporal do governo para o período 1974/89, não encontrando evidências que esta tenha sido violada. Os resultados encontrados, conforme coloca o autor, não são uma evidência de que existe disciplina fiscal. A senhoriagem torna possível o cumprimento da restrição orçamentária intertemporal através da monetização dos déficits. Por outro lado, resultados semelhantes com relação às receitas de senhoriagem são obtidos por Issler e Lima (2000), que analisam a trajetória da dívida pública durante o período 1947/92 e a maneira pela qual o balanço do governo reage a choques. Os autores, realizando testes de raiz unitária para a primeira diferença da série da dívida e testes de cointegração entre gastos e receitas do governo, concluem que a dívida é sustentável, ao mesmo tempo em que o orçamento do governo é balanceado quase inteiramente através de mudanças pelo lado da arrecadação, independente da forma pela qual o descompasso inicial entre receitas e despesas foi gerado. Com relação à senhoriagem, os resultados econométricos encontrados ao excluir esta das receitas do governo mostram que as receitas advindas de tal fato gerador são de extrema importância para restabelecer o equilíbrio orçamentário. Conforme colocam os autores, foi provavelmente através da receita de senhoriagem que a maior parte do aumento dos gastos públicos pôde ser financiada. 9 Em outro estudo, Bevilaqua e Garcia (1999) avaliam a administração da dívida pública federal brasileira no período recente, com ênfase nas questões relativas à estrutura da dívida, colocando a sua curta maturidade como um complicador adicional do problema da sustentabilidade fiscal brasileira. Simulações são realizadas na mesma linha daquelas existentes em Bevilaqua e Werneck (1997a). De acordo com os resultados encontrados, mesmo sob condições macroeconômicas muito favoráveis, a evolução da razão dívida líquida em termos do produto permanecerá como preocupação para os gestores de política econômica nos próximos anos. Neste contexto, os autores, ao avaliar o papel do manejo da dívida pública por parte de seus administradores, colocam como prioridade central na administração da dívida a curto e médio prazo o aumento da maturidade média dos títulos, de tal forma a reduzir a carga do serviço de juros. Em especial, conforme colocam os autores, o alargamento da maturidade média requer a emissão de títulos indexados, desde que títulos nominais de prazo mais alongado podem ser emitidos a um prêmio de risco mais e levado. Por fim, Goldfajn (2002) analisa a sustentabilidade da dívida pública no Brasil analisando diferentes cenários futuros. Segundo o autor, sob hipóteses razoáveis, a relação dívida/PIB deve começar a declinar ao longo dos próximos anos. Esse resultado é válido mesmo na ocorrência de resultados negativos dos determinantes relevantes, tais como taxa de juros real, crescimento do PIB, taxa de câmbio real e passivos contingentes. A condição-chave necessária é a manutenção de superávit primário de 3,75% do PIB. O estudo enfatiza que 10 reformas institucionais importantes foram implementadas nos últimos anos com o objetivo de assegurar a manutenção de superávits fiscais primários em níveis apropriados e a sustentabilidade da dívida, tais como o Programa de Estabilização Fiscal, os acordos de reestruturação da dívida firmados entre os governos federal e dos estados e municípios e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Nesse sentido, se um cenário, pouco provável, mas negativo se materializar, correções posteriores na relação entre receitas e despesas são factíveis para estabilizar a relação dívida-PIB. 3. INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE FISCAL DO GOVERNO3 O ponto de partida de qualquer discussão acerca da sustentabilidade do governo é a sua restrição orçamentária intertemporal, que em termos nominais é dada por: Bt = (1 + Rt ) Bt−1 + Gt − Z t (1) onde Bt-1 representa o estoque de dívida pública ao final do período “t1”, Gt e Zt referem-se, respectivamente, ao gasto público (excluindo o pagamento de juros) e ao total de receitas governamentais durante o período ”t”, enquanto que Rt refere-se à taxa de juros incidente sobre o estoque de títulos emitidos no período “t-1”. Em economias que apresentam crescimento do produto positivo, tornase útil expressar a restrição orçamentária em termos do produto 4, obtendo-se, após o deflacionamento de (1), a seguinte expressão: (1 + r ) t −1 b bt = +d (1 + θ ) t −1 t t (2) onde as letras minúsculas representam variáveis reais como proporção do produto, a taxa de inflação e a taxa real de juros são definidas, respectivamente, como π t= Pt/Pt-1 - 1 e rt= (1 + Rt)/(1 + π t) – 1, π t refere-se a 3 A presente seção baseia-se fortemente em Talvi e Végh (1998). A prática comumente utilizada na literatura hoje em dia, de analisar não a trajetória do nível da dívida pública, mas sim a evolução da relação dívida/produto, parece ter sido originada por Domar (1944), ao colocar que, independente dos efeitos favoráveis ou desfavoráveis que a existência e crescimento da dívida pública possa ter, o que interessa é a sua relação com outras variáveis econômicas, tais como a renda nacional, os recursos do sistema bancário, entre outras, dependendo do caráter do problema em questão. 4 12 taxa de crescimento do produto e dt= gt - zt representa o déficit primário do governo. A expressão (2) é fundamental para qualquer discussão acerca da sustentabilidade fiscal. Ela diz que a evolução da razão dívida-produto depende de dois fatores.. O primeiro, que reflete a herança da política fiscal praticada nos períodos passados, é representado pelo produto entre a razão débito acumulado-produto e a diferença geométrica entre a taxa real de juros e a taxa de crescimento econômico. O segundo fator reflete a situação corrente da política fiscal, representado pelos gastos, receitas e transferências do governo Caso esta diferença seja positiva, torna-se necessário um determinado montante de superávit primário para manter a razão dívida-produto constante. Por outro lado, quanto maior for a eficiência dos gastos e das taxações do governo, maior será o déficit que pode ser sustentado, desde que o crescimento econômico esperado seja maior. 3.1 O INDICADOR “VERDADEIRO” DE SUSTENTABILIDADE FISCAL Supondo que o período corrente é o período “t”, avançado um período a expressão (2), isolando b t e substituindo em (1), tem-se: (1 + θ t+1 ) (1 + rt ) (1 + rt +1 ) bt +1 = bt−1 + d t + d (1 + rt ) (1 + θ t ) (1 + θ t+1 ) t +1 (3) Repetindo o mesmo procedimento acima, pode-se expressar bt+n como: 13 Rt+ n bt + n = onde n (1 + rt ) bt −1 + ∑ [Rt +s d t + s ] (1 + θ t ) s= 0 (4) t+s Rt + s = ∏v =t +1ψ v e ψ t + i = 1 + rt+ i . 1 + θ t +i Para um “n” suficientemente grande, a condição usual de solvência requer que o valor descontado da razão dívida-produto tenda a zero: lim n →∞ ( Rt + nbt + n ) = 0 (5) Sob a hipótese de que a taxa de juros seja maior que a taxa de crescimento do produto, assegurando assim que a taxa de desconto é menor que um, a condição expressa em (5) implica que a dívida pública deve possuir valor nulo em termos de valor presente. No entanto, tal condição não requer que a razão dívida-produto não apresente crescimento ao longo do tempo, mas sim que o nível da dívida não cresça a uma taxa igual ou superior a taxa real de juros. Conforme coloca Blanchard (1990b), isso se deve ao fator de desconto, de tal forma que dois níveis diferentes da razão dívida-produto distantes no futuro possuem, no limite, a mesma significância em termos de valor presente. Com relação à hipótese de que a taxa de juros seja maior que a taxa de crescimento do produto, vale destacar que a própria discussão acerca da sustentabilidade fiscal mudaria de termos caso o contrário fosse admitido. Para ver isto, basta verificar que na expressão (2), se o governo incorrer em resultados primários nulos ao longo do tempo, a relação dívida-produto apresentará necessariamente comportamento de decréscimo, ao passo que se 14 apresentar déficits sucessivos, mesmo assim ainda poderá apresentar uma trajetória não crescente da relação débito-produto 5. Conforme coloca Blanchard (1990b), no caso de ineficiência dinâmica, o governo deve, em termos de bemestar, elevar a emissão de títulos até que a pressão sobre a taxa de juros faça com que esta no mínimo iguale a taxa de expansão do produto. A expressão (4) pode ser reescrita impondo a condição (5) para um “n” suficientemente grande, resultando em: 1 +θt ∞ bt −1 = R ( − d ) ∑ t + s t + s 1+ rt s=0 (6) A equação (6) diz que um governo que possui um estoque de dívida positivo deve, mais cedo ou mais tarde, incorrer em superávits primários. Além disso, tais superávits devem ser suficientemente grandes de modo que, em termos de valor presente, sejam iguais ao valor do estoque inicial de débito.. Levando em conta essa última equação, segue-se abaixo a definição de sustentabilidade fiscal. Definição: Uma política fiscal sustentável é uma seqüência de {Gt , Z t }∞t=0 e estoque inicial de dívida B 0 que satisfaz a equação (6). 5 Adianta-se desde já que nos exercícios de simulação realizados a hipótese da superioridade da taxa de juros sobre a expansão do produto é respeitada. 15 Cabe salientar que, de acordo com o uso dos termos “sustentabilidade” e “solvência” pela literatura 6, a definição acima assume que a continuidade da política fiscal no futuro ocorre sem mudanças relevantes no ambiente macroeconômico em questão, tal como o calote da dívida pública, para que a equação (6) seja respeitada. Com o objetivo de construir um indicador que torne a definição acima operacionalizável, procedendo de maneira semelhante a Talvi e Végh (1998), define-se o déficit primário permanente, dt*, como o nível constante de déficit primário cujo valor presente descontado no período “t” é igual ao valor presente descontado da trajetória real de déficits de determinado governo, ou seja: α dt = ∑ Rt + sd t + s R t +s convirja , fazendo St = ∑ Rt + s , e resolvendo s =0 ∑ s =0 * t +s (7) s =0 ∞ ∞ Supondo que ∞ ∑R 7 s =0 a equação (7) para d t*, obtém-se: d *t = 1 St ∞ ∑(R s =0 d t +s t +s ) (8) Usando a equação (8), a expressão (6) pode ser reescrita como: ( 1 +θ t 1 bt −1 = − dt +s St 1 + rt 6 7 ) (9) Ver, por exemplo, Ferretti e Razin (1996) e Corsetti, Pesenti e Roubini (1998). Que será o caso quando a hipótese de ineficiência dinâmica for falsa. 16 Assim, o “verdadeiro” indicador de sustentabilidade fiscal, It*, pode ser definido como: It = * ( ) 1 +θ t * 1 bt−1 + d St 1 + rt t (10) Caso It* = 0, a política fiscal do período “t” é sustentável. Com It * > 0 , a trajetória de resultados primários viola ex-ante a restrição intertemporal do governo, ao passo que, se It* < 0, a política fiscal em prática está sobreutilizando os recursos, ou seja, taxando muito, ou gastando pouco, ou ambos. Cabe salientar que tI* deve ser encarado como um conceito ex-ante, visto que , obviamente, a restrição orçamentária dada pela expressão (6) será sempre atendida ex-post, desde que o mercado de crédito não aceitará financiar um governo cujos gastos superam seus recursos em termos de valor presente, exigido, dessa forma, algum ajustamento nos gastos, nas taxas, ou algum tipo de repudiação da dívida. Talvez uma questão tão relevante quanto a análise da sustentabilidade de determinada política fiscal, seja a magnitude do ajuste necessário, caso o governo incorra em uma situação de insustentabilidade ex-ante. Nesse sentido, o valor de It * possui uma interpretação direta e clara: refere-se à magnitude do ajuste fiscal necessário no período “t” para tornar tal política sustentável. 3.2 INDICADORES ALTERNATIVOS 17 Apesar de sua extrema utilidade com relação à avaliação da sustentabilidade e da magnitude de um provável ajuste necessário, na prática, o cálculo de It * requer um volume de informações não disponível aos gestores da política fiscal, referente à trajetória futura dos resultados primários e às taxas real de juros e de crescimento econômico. Dada a necessidade de um volume significativo de previsões, em termos práticos tem-se optado pelo uso de indicadores que requerem uma quantidade bem menor de informações. O indicador mais simples, cuja implementação não necessita de previsão alguma, e provavelmente o mais usado justamente por essa razão, seja o déficit operacional como proporção do produto, que aqui será denominado como It D e dado por8: It = D (rt −θ t ) b +d (1 + θ t ) t−1 t (11) Apesar de apresentar como vantagem a sua fácil implementação, o indicador baseado no déficit operacional tem como principal desvantagem o fato de não levar em consideração mudanças futuras esperadas nos gastos ou receitas do governo. Conforme coloca Blanchard (1990b), existem no mínimo duas razões pelas quais se espera que os resultados primários mudem no futuro. Uma delas diz respeito aos movimentos cíclicos do produto, que afetam as receitas e os dispêndios públicos, enquanto que a outra razão relaciona-se a 8 O déficit operacional é normalmente calculado ignorando o impacto do crescimento econômico. No entanto, tal efeito deve ser levado em conta desde que a medida relevante do débito público refere-se à sua proporção no produto. Caso a taxa de expansão da economia seja nula, (θt = 0), ambas medidas são iguais. Cabe salientar que o indicador expresso em (11) equivale a calcular a mudança na razão dívida-produto. Para ver isso, basta somar e subtrair (1 + θt )/(1+ θt ) dentro dos parênteses da expressão (2) e rearranjar seus termos. 18 mudanças no longo prazo da estrutura da população e do preço relativo dos serviços e subsídios providos pelo governo. Com o objetivo de ilustrar a importância de construir indicadores alternativos a It *, proceder-se-á aqui tal como Talvi e Végh (1998), elaborando um exemplo bastante simples relativo às variáveis econômicas relevantes para avaliar a questão da sustentabilidade e comparando posteriormente o comportamento de It* e ItD. Nesse sentido, assume-se que rt= 0.05, θ = 0, π = 0 e dt= -0.015 – 0.03*sen(t) para t ≥ 0 . Além disso, supõe-se também que b0 = 0.326. A presente formulação do resultado primário tem como intenção capturar variações na política fiscal devidas ao ciclo de negócios, como, por exemplo, a variação da base tributável. Conforme mostra o gráfico 2, que apresenta o comportamento dos indicadores para 2 ≤ t ≤ 60 , enquanto a política fiscal é sustentável durante todo o período em questão, o indicador baseado no déficit operacional flutua entre valores positivos e negativos (refletindo as variações cíclicas do resultado primário), sugerindo erroneamente situações em que o governo se desloca de situações sustentáveis para insustentáveis e vice-versa. A partir da exemplificação da errônea percepção da situação fiscal que pode ser oferecida pelo indicador baseado no déficit operacional, o restante desta seção discute brevemente dois esforços em construir melhores aproximações do indicador tI*, encontrados em Blanchard (1990b) e Talvi e Végh(1998). GRÁFICO 2 19 Comparação dos indicadores “It *” e “ItD”no exercício simulado 0,04 It* Idt 0,03 0,02 59 56 53 50 47 44 41 38 35 32 29 26 23 20 17 14 11 8 5 0 2 0,01 -0,01 -0,02 -0,03 -0,04 Com o objetivo de diminuir a quantidade de informações necessárias à construção do indicador, Blanchard (1990b) sugere uma aproximação do déficit primário permanente definido em (7) baseada em um número finito de períodos. Denotando essa aproximação por dtB(n) e supondo as taxas real de juros e de crescimento econômico constantes, tem-se que: n 1 + θ B 1 + θ d = ∑ 1 + r t ∑ 1 + r s =0 s =0 s n s d t+ s (12) De acordo com Blanchard (1990b), caso r - θ não seja muito grande, dtB dado em (12) pode ser aproximado pela média simples do período em questão, ou seja: dt B ∑ ( n) ≈ n s =0 dt +s n +1 (13) Dessa forma, o indicador proposto é definido como: I t (n ) = B (rt −1 − θ t ) b + d B ( n) (1 + θ t ) t −1 t (14) 20 O referido autor sugere que a escolha do horizonte de tempo a ser usado na expressão acima deva ser o horizonte máximo no qual estimativas do resultado primário sejam avaliáveis. Por outro lado, Talvi e Végh (1998), com o propósito de desenvolver um esquema de trabalho que auxilie no desenvolvimento de indicadores fiscais de sustentabilidade para economias que operam sob ambientes altamente voláteis, reduzem o requerimento de informações para a construção de seu indicador ao propor o conceito de “déficit primário macro-ajustado” (macroadjusted primary deficit), definido como o nível de déficit primário que prevaleceria sob condições macroeconômicas “normais”. Dessa forma, denotando o déficit primário macro-ajustado como dtM, o indicador proposto por Talvi e Végh (1998) é dado por: It = M (rt −1 − θt ) b + d M (1 + θt ) t −1 t (15) Conforme ressaltam os autores, tal definição é propositalmente nãoespecífica, na medida em que condições macroeconômicas consideradas “normais” provavelmente diferem entre países. Além disso, é exatamente a definição de condição “normal” que reduz consideravelmente o requerimento de informações para avaliar a situação de determinada política fiscal. No entanto, a contra-parte dessa vantagem em termos de redução de informações necessárias, reside no conhecimento do comportamento das variáveis macroeconômicas relevantes para a determinação de seus valores “normais”, e o próprio entendimento de como essas variáveis afetam os agregados fiscais. 21 Por fim, para ilustrar o uso desses dois indicadores, calculou-se as expressões dadas por (14) e (15) para o exemplo anterior, sob a hipótese que os gestores de política conheçam os valores das variáveis macroeconômicas relevantes sob condições “normais” 9 e os resultados primários necessários ao cálculo do indicador de Blanchard. Os resultados encontram-se no gráfico 3, onde It M refere-se ao indicador baseado no déficit macro-ajustado, ItB(2) o indicador de Blanchard com horizonte de previsão de dois períodos para o resultado primário, ItB(40) o indicador de Blanchard com horizonte de quarenta períodos e ItD o indicador baseado no déficit operacional. GRÁFICO 3 Comparação dos indicadores “It D”, “ItB (2)”, “ItB(40)” e “It M” no exercício simulado 9 Nesse caso, usou-se o valor médio do resultado primário para o déficit primário macroajustado. 22 Como se observa, apesar do indicador de Blanchard com horizonte de dois períodos flutuar em torno do indicador verdadeiro, que, como se viu no gráfico 2, aponta para uma situação sustentável, suas flutuações são menores do que aquelas apresentadas pelo indicador baseado no déficit operacional. Como se pode perceber, a inclusão do indicador ItB(40) justifica-se pelo fato deste ter se mostrado como o melhor indicador disponível para o exercício simulado, com desempenho superior ao indicador baseado no déficit macroajustado. Os erros de sinalização dos indicadores It D, ItB(2), ItB(40) e It M foram, respectivamente, de 49.15%, 49.15 %, 13.56% e 40.68%. Essa informação refere-se à quantidade de ocasiões em que os indicadores alternativos mostraram uma situação diferente daquela exposta pelo indicador verdadeiro. Dessa forma, apesar do indicador ItB(2) ter mostrado menor flutuação em relação ao indicador baseado no déficit operacional, seu desempenho foi idêntico a esse último com relação ao critério relevante para a análise de sustentabilidade. Por fim, a performance do indicador It B(40) indica que uma previsão acurada da média de quarenta resultados primários permite neutralizar com uma certa margem de sucesso o efeito do ciclo econômico sobre o indicativo da sustentabilidade da política fiscal para o ciclo proposto no exercício. 4. MODELO A presente seção busca desenvolver um modelo de equilíbrio geral dinâmico e computável dentro da tradição da Teoria dos Ciclos Reais de Negócios, incorporando a restrição orçamentária do governo como um elemento importante na determinação do equilíbrio da economia artificial. O modelo desenvolvido leva em consideração as principais variáveis fiscais de uma economia moderna: estoque da dívida, taxa de juros, arrecadação de impostos, gastos do governo, receitas advindas da senhoriagem e transferências. O instrumental utilizado permite, por meio do uso de ferramentas computacionais, calcular o equilíbrio de economias artificiais e estudar suas propriedades empíricas. Nesse sentido, o objetivo dessa linha de pesquisa é entender melhor o comportamento de economias reais através do estudo das relações de equilíbrio de economias artificiais, levando em conta, dentro do mesmo ferramental analítico, questões relativas ao crescimento e flutuações econômicas. O modelo apresentado tem como características gerais a presença de concorrência monopolista e rigidez de preços pelo lado das firmas, a existência de uma autoridade monetária que fixa a taxa de juros nominal de acordo com uma regra de Taylor a ser especificada e a presença de moeda e gastos do governo na função utilidade das famílias. A rigidez nominal de preços advém do esquema de formação de preços proposto por Calvo (1983) e utilizado em muitos trabalhos recentes, tal como Araujo(2001) e Monacelli e Galí(1999) . Além disso, o fator trabalho é heterogêneo entre as firmas, tal como em 24 Woodford(1999c). Assume-se que o trabalho das famílias representa o único insumo necessário à produção. Isto se justifica em termos da solução numérica do modelo. No caso em que se assume que a função de produção das firmas depende do trabalho e do estoque de capital, e que as decisões de investimento são realizadas pelas famílias, o algoritmo utilizado não consegue ser aplicado. Isso decorre da existência de uma variável a mais em relação ao número de equações disponíveis, quando se considera a restrição orçamentária do governo. Uma alternativa a essa estratégia seria a escolha do nível de investimento por parte das firmas, num ambiente de formação de preços a la Calvo, como em Woodford (1999c). Dada sua relativa simplicidade, a primeira estratégia foi escolhida. O modelo apresentado é log-linearizado e resolvido numericamente de acordo com o algoritmo proposto em Uhlig (1997). Cabe também salientar as diferenças entre o presente trabalho e aquele desenvolvido por Kanczuk (2000), primeiro trabalho aplicado à economia brasileira que incorpora a restrição orçamentária de uma autoridade fiscal que incorre em déficits/superávits primários ao longo do tempo. Tais diferenças residem na inclusão de moeda e, portanto, da receita de senhoriagem na restrição orçamentária da autoridade fiscal; na introdução de choques nos gastos do governo, estes últimos sendo independentes de qualquer variável endógena da estrutura apresentada 10 ; e na rigidez de preços da economia artificial. 10 Em Kanczuk (2000), o dispêndio do governo é função de sua receita tributária. 25 4.1 - ESTRUTURA DO MODELO A economia artificial proposta possui um continuum de famílias idênticas e com vidas infinitas, numeradas no intervalo [0, 1]. No período inicial, estas famílias recebem uma dotação de títulos públicos (b0 unidades) que rendem a taxa nomina l de juros Rt. A cada período, as famílias também recebem uma dotação de tempo, que deve ser dividida entre os diversos tipos de trabalho (ht (i)) ofertados às firmas e lazer (lt ). Normalizando a dotação de tempo das famílias para a unidade, tem-se que ∫ h (i)d 1 0 t i + lt = 1 . As decisões de oferta de trabalho, consumo, demanda por títulos e demanda por moeda por parte das famílias baseiam-se em um problema intertemporal sobre seqüências estocásticas de consumo (ct’) 11 , oferta de trabalho (h’ t(i)) per capita, gastos do governo (Gt’) e moeda (mt’). Dada a presença de choques estocásticos no modelo, que serão especificados posteriormente, as referências dos agentes podem ser representadas pela seguinte função de utilidade intertemporal: ∞ t− s U s = E s ∑ [(1 + η )β ] t =s mt log (c t + ν G t ) + χ log Pt 1 + ξ ∫ (1 − ht (i ) )d i 0 (16) onde Es é o operador esperança, condicional ao conjunto de informação do período ”s”, ht(i) é a quantidade de trabalho do tipo ”i” ofertado à empresa que produz o bem ”i”, ß ∈ [0, 1] representa o fator de desconto 11 A partir de agora, para melhor definição do modelo apresentado, adotar-s e-á a convenção na qual “ A’ “ representa a variável “A” agregada, enquanto que “ a’ ”se relaciona à mesma variável individual. Adicionalmente, dado que o estado estacionário para a economia artificial é representado por uma trajetória de crescimento balanceado, e considerando η a taxa de crescimento populacional, e γ a taxa de crescimento tecnológico, trabalhar-se-á com variáveis t divididas pelo fator de crescimento econômico, (1+ γ)(1+η), de maneira que At = At ’/[(1+γ)(1+η)] , t e para a variável já em termos per capita, tem-se que at = at ’/(1 + γ) . 26 intertemporal, ν ∈ [0, 1] representa em sinal e magnitude a derivada da utilidade marginal do consumo privado em relação aos gastos do governo e Pt o nível de preços da economia. A formulação utilizada em (1) implica que os saldos monetários reais das famílias interferem diretamente na sua função utilidade, tal como o proposto por Sidrauski (1967). Conforme coloca Woodford (1999a), tal estratégia de modelagem deve ser entendida de acordo com os serviços de liquidez que esta categoria de ativo financeiro proporciona aos agentes, reduzindo fricções existentes nas transações econômicas. Por outro lado, os gastos do Governo também afetam a utilidade das famílias, de modo idêntico ao apresentado em Christiano e Eichenbaum (1992), sendo que as famílias consideram os gastos do governo como um elemento exógeno nas suas decisões. Os referidos autores analisam dois casos: ν = 1 e ν = 0. No caso em que ν = 1, as famílias substituem consumo privado por gastos do governo quando ocorre um aumento inesperado no dispêndio público, ao passo que, no caso em que ν = 0, variações nos gastos do governo não afetam a utilidade das famílias, interferindo apenas na restrição agregada de recursos. Também estamos assumindo que cada diferente bem, indexado por ”i” ao longo do intervalo [0, 1], utiliza um insumo específico na produção. Conforme coloca Woodford (1999c), essa hipótese aumenta a ”complementariedade estratégica” entre as firmas no que se refere às decisões de produção e de preços, quando comparada ao caso em que a produção é função de um insumo homogêneo. Nesse último caso, quando o trabalho é o 27 único insumo, o custo unitário de produção torna -se igual entre as firmas, ocasionando quantidades produzidas idênticas em equilíbrio, independente das decisões de preços das firmas. A cada período, as famílias estão sujeitas a uma restrição orçamentária, dada em termos nominais por: c t (1 + τ + c )+ bt + m t = 1 ∫ (1 − τ )L l t ( i ) di + 0 (1 + 1 ∫w t R t (1 − τ r ))b t − 1 + m t − 1 + (1 + η )(1 + γ ) ( (i ) 1 − τ h )h t (17) ( i ) di + T t 0 onde Lt(i) representa o lucro da firma ”i” (cuja propriedade é das famílias),τl é o imposto associado a esse fato gerador, wt(i) é o salário nominal pago pela firma que produz o bem ”i”, bt refere-se à escolha de títulos no período ”t”, τc e τr são, respectivamente, as alíquotas de imposto sobre o consumo e remuneração dos títulos e Tt são as transferências do governo aos agentes. Assume-se que cada família possui uma igual participação de todas as firmas da economia. A maximização de (16) sujeita à série de restrições orçamentárias dadas em (17), produz as seguintes condições de primeira ordem com relação a b t, mt, e ht respectivamente: −1 c + νG Pt +1 1+ γ t t = Et (1 + Rt (1 − τ r )) β c + ν G t +1 t +1 Pt 1= χ (ct + νGt )(1 + τ c ) mt / Pt c + νG P −1 β t t +1 + Et t 1 + γ ct +1 + νGt +1 Pt ( ) ξ w (i ) 1 −τ h = t 1 − ht (i ) Pt (1 + τ c )(ct +νGt ) (18) (19) (20) 28 As equações (18), (19) e (20) possuem suas respectivas interpretações usuais, sendo agora incluídos os gastos do governo como elemento potencialmente determinante das decisões das famílias. A equação (18) diz que sob uma trajetória ótima de consumo, não devem existir ganhos esperados na mudança do nível de consumo entre dois períodos do tempo, levando em consideração a expectativa da taxa real de juros efetiva futura e do nível de gastos do governo no caso em que ν ≠ 0. A equação (19) expressa que sob uma escolha ótima de moeda, em termos da utilidade, a perda ao trocar consumo por moeda deve ser igual ao ganho presente da detenção de moeda mais o ganho esperado descontado do período seguinte ao converter moeda em consumo. Já a equação (20) diz que a escolha ótima de oferta de trabalho de determinado tipo ”i” deve ser guiada de tal maneira que a perda de utilidade associada ao trabalho seja igual ao ganho, em termos da utilidade do consumo, associado ao salário real efetivo. Pelo lado da produção, existem dois setores na economia proposta: setor de bens finais e setor de bens intermediários. Assume-se que existe um continuum de firmas produtoras de bens intermediários atuando sob um regime de concorrência monopolística, cujo índice ”i” pertence ao intervalo [0,1] .Supõe-se que a tecnologia de produção no setor de bens intermediários é dada pela seguinte função, já descontados os efeitos do crescimento populacional e da tendência do produto: yt (i) = F (zt , H t (i ) ) = exp( zt ) (H t (i ) )α (21) 29 onde Ht(i) representa a quantidade de trabalho usada na produção do bem ”i” e zt o choque de produti vidade, a ser especificado posteriormente, que afeta igualmente todas as firmas do setor. Conforme coloca Woodford (1999c), a expressão acima pode ser pensada em termos de uma economia cuja alocação de capital é fixada para cada firma, com depreciação igual a zero e produção de novo capital nula. Supondo que o estoque de capital é específico para cada firma que o utiliza, não ocorre realocação de capital entre as firmas e o referido termo pode ser omitido em (21). No setor de bens finais, firmas competitivas produzem um bem homogêneo ao agregar os bens intermediários segundo uma tecnologia que é representada pela função de produção com elasticidade de substituição constante (CES) dada por: θ θ −1 1 θ −1 θ yt = ∫ yt (i) di 0 (22) onde ? > 0 é a elasticidade de substituição entre os bens intermediários. O problema de maximização de lucro das firmas produtoras do bem final é dado por: max Pt yt − ∫ pt (i ) yt (i) di 1 0 (23) A condição de primeira ordem relativa a escolha do bem intermediário yt(i) utilizado na produção é dada por: 30 −θ p (i) y t (i ) = t y t Pt D (24) onde ydt (i) é a quantidade demanda pelo bem intermediário ”i”. Dada a livre concorrência no setor, a condição de lucro zero, em equilíbrio, na produção de bens finais implica que o índice de preços Pt da economia relaciona-se com os preços dos bens intermediários segundo a expressão dada por: Pt 1−θ 1 = ∫ p t (i )1−θ di 0 (25) Tendo em vista que a função de produção dada em (22) é homogênea de grau zero e, conseqüentemente, o número de firmas é indeterminado em equilíbrio, assume-se a partir de agora, sem perda de generalidade, que existe apenas uma firma operando nesse mercado, com produção igual a Yt . Com relação às escolhas das firmas produtoras de bens intermediários, como us ualmente é feito, assume-se que cada firma deste setor é composta por duas unidades: unidade de produção e unidade formadora de preço. A unidade de produção da firma ”i” escolhe a quantidade do insumo trabalho com o objetivo de minimizar o seu custo total nominal wtHt(i), sujeito à restrição tecnológica, tomando como dado o valor dos salários. A condição de primeira ordem do problema em questão e a função custo total resultante são representados, respectivamente, por: wt (i) = λα exp( z t ) H t (i )α −1 C (w t , y t (i ) ) = λα y t (i ) (26) (27) 31 onde ? representa o multiplicador de Lagrange relativo à restrição tecnológica. Como se pode perceber, o termo ?a representa o custo unitário nominal de produção. Com relação à unidade formadora de preços, assume-se aqui uma variante discreta do esquema de formação de preços proposto por Calvo (1983). Nesse sentido, a cada período as firmas podem reajustar seus preços de acordo com uma regra estocástica dependente do tempo. Mais especificamente, a cada instante do tempo, somente as firmas que recebem um sinal aleatório, com probabilidade igual a (1 - κ) , podem reajustar seus preços. Tal sinal é independente tanto do último momento do tempo em que a firma recebeu o sinal, quanto entre as firmas. Dessa forma, a probabilidade que o preço estabelecido em ”t” continue a permanecer em ”t + k” é dado por κk . Conforme coloca Calvo (1983), a principal vantagem da presente formulação refere-se a sua simplicidade analítica, sendo que a forma na qual o sinal é emitido é mais consistente com situações nas quais as firmas estão sujeitas a choques aleatórios que impedem a realização de revisões de preços contínuas ou que as impede a verificação contínua de mudanças no estado da natureza que ocasionariam mudanças de preços. Dada as hipóteses acima e a existência de um continuum de firmas, uma parcela κ das firmas permanece com seus preços inalterados, enquanto à arcela (1 - κ) é dada a permissão do reajuste de preços. Um vez que cada firma que restabelece seu preço no período ”t” depara-se com o mesmo problema em questão, o preço ótimo pnt é o mesmo para todas estas, e em 32 equilíbrio, todos os preços escolhidos em ”t” por este tipo de firma terão o mesmo valor (pnt ). Por outro lado, a parcela ? dos preços representa um subconjunto dos preços escolhidos no período anterior. Dado que cada firma tem uma probabilidade igual de ter seu preço reajustado em um determinado período, a distribuição dos preços inalterados em ”t” terá a mesma frequência relativa da distribuição dos preços inalterados em ”t - 1”. Usando (25), tem-se que: Pt 1 −θ = (1 − κ ) p n 1 −θ t 1 1 −θ + κ ∫ pt −1 (i ) di 0 (28) e portanto 1 1−θ Pt = (1 − κ )p n t + κ ∫ pt −1 (i)1−θ di 0 1−θ (29) O problema de otimização da firma que se depara com um sinal em ”t” que lhe permite a revisão de preços é dado por: ∞ {[ ] } max Et ∑ κ k p n t (i) − Cunt + k (i) y t + k (i) Qt, t + k pt n( i ) k =0 (30) sujeito à restrição de demanda por parte das firmas de bens finais dada por (24). O termo Cunt refere-se ao custo unitário nominal do período ”t”, enquanto Qt,t+k representa a taxa marginal de substituição intertemporal do consumo, já que as firmas são de propriedade das famílias . A presença do fator ?k indica a probabilidade que o preço ptn(i) continuará a prevalecer em ”t + k”. A condição de primeira ordem é dada por: 33 ∞ θ θ Et ∑ κ k Qt ,t +k yt +k (i) Pt + k p n t (i) − Cunt + k (i) = 0 θ −1 k =0 (31) Dessa forma, pnt t é escolhido de modo que seu valor seja uma média ponderada dos custos médios nominais prevalecentes durante o período em que as firmas esperam que seus preços permaneçam inalterados, multiplicados pelo markup. Note que, no estado estacionário, o custo médio em termos reais é dado pelo inverso do markup, resultado usualmente encontrado em modelos de concorrência imperfeita. Visto que (31) não oferece uma expressão analítica fechada para a decisão de preços, dado que Cunt depende do preço escolhido pela firma em razão da restrição de demanda dada por (24) e da condição de primeira ordem referente à escolha de trabalho, usa-se aqui a estratégia usual de log-linearizar a referida expressão. Nesse ponto, a hipótese de trabalho heterogêneo desempenha um papel importante no modelo, ao impedir a equalização dos salários entre as diferentes firmas, e conseqüente, em equilíbrio, dos níveis de produção, independente das firmas estarem revisando seus preços ou não em determinado instante do tempo. Essa característica torna a dinâmica do modelo mais rica, ao permitir que os preços dos fatores variem entre produtores durante o período em que os choques afetam as decisões de firmas e famílias. Como coloca Woodford (1999c), é principalmente essa dinâmica diferenciada de curto prazo com relação ao preço dos fatores que interessa para a determinação do ajustamento dos preços aos choques. Procedendo da mesma forma que Woodford (1999c), a loglinearização em torno de Yt = Y e de um vetor nulo de choques aleatórios do 34 modelo possui uma solução com inflação igual a zero, em que Pt = Pt-1 = pnt em cada período. No caso de pequenas flutuações em torno do vetor de choques aleatórios e das demais variáveis do modelo, pode-se analisar a solução do modelo em que Pt/Pt-1 e Pt/pnt permanece próximo da unidade em todos os instantes do tempo 12 . Procedendo dessa forma, a log-linearização de (29) e (31) produz as respectivas expressões: ^ Pt = (1 − κ ) p n t + κ Pt −1 ^ ^ (1 − κ )(1 − βκ ) c ^ ^ πt = (32) ^ un t + βEt π t +1 κ (33) Onde as variáveis com sobrescrito ”^” representam as versões loglinearizadas em torno do estado estacionário das variáveis originais, cunt representa o custo unitário real de produção das firmas que estão revisando ^ ^ ^ seus respectivos preços e π t = Pt − Pt−1 . Como se pode perceber, o desvio da inflação com relação ao seu estado estacionário depende tanto do desvio do custo unitário real das firmas que revisam seus preços, quanto da expectativa do desvio da inflação futura em torno de seu estado estacionário. Adicionalmente, quanto maior a parcela das firmas que reajusta seus preços em determinado período em relação às 12 Conforme coloca Woodford (1999c), a log-linearização em torno de um estado estacionário com inflação igual a zero simplifica em grande parte a álgebra em questão. No entanto, isto não significa que devemos analisar apenas regras de política que fazem a taxa média de inflação ser exatamente igual a zero, ou que envolvam um target de inflação igual a zero. Para a análise desses outros casos, é necessário que a taxa média de inflação permaneça dentro de uma vizinhança suficientemente pequena ao redor da inflação zero. Quanto maior a proximidade da inflação zero, dentro da vizinhança referida, menor será o erro da caracterização da evolução das variáveis do modelo. 35 firmas que mantém seus preços fixados, maior é o efeito do desvio do custo unitário real para a determinação do desvio da inflação. Por outro lado, quanto menos impacientes forem os agentes de determinada economia, maior será o peso da expectativa da inflação futura para a determinação do desvio da inflação corrente. A log-linearização de (31) não apresenta a presença de termo algum referente às utilidades marginais do consumo, pois o valor do termo entre as chaves desta expressão é nulo no estado estacionário. Com relação à política fiscal, o governo depara-se com a seguinte restrição orçamentária: Bt G − Bt −1G M t −1G Bt −1G + MtG − = Rt (1 − τ r ) +X (1 + η )(1 + γ ) (1 + η )(1 + γ ) (1 + η )(1 + γ ) t (34) onde BGt-1 é o estoque de títulos públicos cuja maturação ocorre no período ”t”, X t representa o déficit primário (excluindo a receita de senhoriagem) e MGt a oferta de moeda. O resultado primário é formado pelos gastos do governo mais as transferências (Tt) menos as receitas governamentais oriundas dos impostos cobrados (F t). Essas últimas são dadas por: 1 1 0 0 Ft = τ h ∫ wt (i ) H t (i ) di + τ c Ct + τ l ∫ Lt (i ) di (35) O governo transfere para as famílias uma parcela de sua receita total e da receita de senhoriagem, ao passo que seus gastos são exógenos: G M t−1 G Tt = ω Ft + M t − (1 + η )(1 + γ ) (36) 36 Gt = exp( gt )G (37) onde ϖ ∈ [0, 1], g t representa o choque nos gastos do governo e G é o nível fixo de gastos, já descontados os efeitos do crescimento populacional e a tendência do produto. Tal estratégia de modelagem permite encarar o componente dos gastos do governo como sendo puramente exógeno, cujos choques estocásticos afetam as decisões das firmas via mudanças na demanda agregada da economia, e as decisões das famílias através de seus efeitos sobre a função de utilidade dessas e sobre a restrição agregada de recursos da economia. Conforme a tradição da literatura baseada na Teoria de Ciclos Reais, os choques tecnológicos, descritos pela lei de movimento expressa em (39), abaixo, são a maior fonte geradora de flutuações de alta freqüência no nível de atividade econômica. No entanto, a importância e o papel dos diferentes choques que afetam a economia representam pontos em aberto no debate acadêmico. Supõe-se que no período inicial o governo estabelece todos os parâmetros de política fiscal (? , τc , τl , τr e τh), que, juntamente com um nível inicial de estoque de dívida pública, B0, determinam a trajetória futura da política fiscal em razão das decisões das famílias e firmas, e da fixação da taxa nominal de juros pela autoridade monetária. Por fim, assume-se que a taxa nominal de juros é fixada pela autoridade monetária de acordo com uma regra de Taylor que responde a variações na taxa de inflação em relação a um certo target ( π t − π ) e a desvios 37 do produto em relação ao seu nível de estado estacionário ( Yt − Y ), dependendo também da taxa de juros do período anterior e de um choque exógeno ert . Este último elemento representa um componente de inércia da política monetária, podendo representar a relutância da autoridade monetária em fazer mudanças drásticas nos juros. ( Rt = Rt π t − π ; Yt − Y ;ε rt ) (38) Os outros dois tipos de choques que afetam o comportamento da economia artificial são dados pelos seguintes processos estocásticos: zt = ρ z zt −1 + ε zt g t = ρ g g t −1 + ε gt (39) (40) onde ezt e egt são normalmente e independentemente distribuídos com média igual a zero e variâncias s 2z e s 2g respectivamente, finitas por hipótese. 4.2 EQUILÍBRIO No equilíbrio, existirão dois tipos de firmas, desde que cada tipo se depara com dois problemas idênticos de produção e escolha de preços 13. Os dois tipos de firmas serão diferenciados aqui pelos sobrescritos ”F” e ”N”. O primeiro refere-se às firmas cujos preços permanecem fixos em determinado instante do tempo, enquanto o segundo diz respeito àqueles produtores cujos preços são revisados. A simetria das firmas produtoras de bens intermediários 13 Obviamente, somente as firmas que podem ajustar seus preços em determinado instante do tempo se deparam com esse último problema de maximização. 38 entre os dois tipos diferentes de firmas faz com que as seguintes relações sejam respeitadas: y N t (i) = y N t (i) = y N t ∀ i, j ∈ [0,1] H N t (i) = H N t (i) = HN t ∀ i, j ∈ [0,1] λN t (i) = λN t (i) = λN t ∀ i, j ∈ [0,1] LN t (i) = LN t (i) = LN t ∀ i, j ∈ [0,1] wN t (i) = w N t (i) = w N t ∀ i, j ∈ [0,1] ∀ i, j ∈ [0,1] y F t (i) = y F t (i) = y F t H F t (i) = H F t (i) = H F t (41) ∀ i, j ∈ [0,1] λF t (i) = λF t (i) = λF t ∀ i, j ∈ [0,1] LF t (i) = LF t (i) = LF t ∀ i, j ∈ [0,1] wF t (i) = wF t (i) = wF t ∀ i, j ∈ [0,1] Yt = κy F t + (1 − κ ) y N t Lt = κLF t + (1 − κ )LN t Em linha com a diferenciação das firmas, a expressão (33) deve ser substituída pela expressão abaixo, que salienta que o custo real unitário que importa para a determinação da inflação é aquele que recai sobre as empresas que estão revisando seus preços no período ”t”. ^ πt ( 1 − κ )(1 − βκ ) N^ = c κ un t ^ + βEt π t +1 (42) Agregando as restrições orçamentárias dadas por (17) entre as famílias e usando o conjunto de condições dadas em (41), mais (35), (36) e (37), além 39 da condição de equilíbrio no mercado monetário (mt = MGt , ∀t) e de títulos (bt = BGt, ∀t), obtém-se a restrição agregada de recursos da economia: Ct + Gt = Yt (43) Utilizando o conceito de Recursive Competitive Equilibrium (RCE), tem-se que um RCE para esta economia artificial consiste em uma função valor M V zt , gt , Rt , Bt , π t , t Bt um conjunto de regras de decisões para as famílias M ct zt , gt , Rt−1, Bt −1 ,π t −1 , t −1 Bt−1 M ht (i ) zt , gt , Rt−1 , Bt −1 , π t −1, t−1 Bt−1 M mt z t , g t , Rt −1, Bt−1 ,π t −1 , t −1 Bt−1 M bt zt , gt , Rt−1, Bt −1 ,π t −1 , t −1 Bt−1 um conjunto de regras agregadas M wF t zt , gt , Rt−1 , Bt −1 , π t −1, t−1 Bt−1 M wN t zt , gt , Rt −1 , Bt −1, π t−1, t −1 Bt −1 M H F t z t , g t , Rt −1, Bt−1, π t−1 , t −1 Bt −1 M H N t z t , g t , Rt −1, Bt −1 ,π t −1 , t −1 Bt−1 satisfazendo: 40 (a) O problema da firma produtora de produtos finais; (b) O problema das firmas produtoras de insumos intermediários; (c) O problema do consumidor; (d) Política monetária e fiscal do governo; (e) As condições de equilíbrio nos mercados: M M H F t z t , g t , Rt −1, Bt −1 ,π t −1 , t −1 = h F t zt , g t , Rt −1 , Bt −1, π t−1, t−1 Bt−1 Bt −1 M M H N t z t , g t , Rt −1 , Bt−1, π t−1, t −1 = h N t z t , g t , Rt −1 , Bt−1, π t−1 , t −1 Bt −1 Bt −1 M M Bt zt , gt , Rt−1, Bt −1 , π t −1 , t −1 = bt z t , g t , Rt −1 , Bt−1, π t−1, t −1 Bt−1 Bt −1 M M M t z t , g t , Rt −1 , Bt−1, π t−1 , t −1 = mt z t , g t , Rt −1, Bt −1 ,π t −1 , t −1 Bt −1 Bt−1 M M Ct z t , g t , Rt −1 , Bt−1, π t−1, t −1 = ct zt , gt , Rt−1, Bt −1 , π t −1 , t−1 Bt −1 Bt−1 Ct + Gt = Yt 4.3 CALIBRAÇÃO DO MODELO A calibração dos modelos foi realizada através do uso de dados trimestrais brasileiros do período 1994:1 a 2001:4. Todas as informações foram extraídas do sistema IPEADATA (www.ipeadata.gov.br). Por se tratar de um modelo monetário, optou-se por levar em consideração apenas as informações do período pós-Real da economia brasileira para a calibração. 41 A série de produto corresponde ao “PIB a preços de mercado - índice encadeado”. A série de gastos do governo corresponde ao ”consumo final da administração pública”, enquanto que a série de consumo corresponde à diferença entre o produto e a soma dos gastos do governo. A taxa nominal de juros corresponde à taxa SELIC trimestral acumulada, enquanto que o índice de preços utilizado para o cálculo da inflação refere-se ao IPCA. Usando a média sobre o período analizado, encontrou-se as taxas trimestrais R = 6.71% e π = 2.53%.Usando as taxas médias de crescimento populacional e crescimento do produto per capita, obtém-se os valores de η = 0.343% e γ = 0.358%. Com relação às alíquotas de impostos, e tendo em vista o objetivo do trabalho, a estratégia adotada consistiu em estabelecer os diferentes ”τ’s” que compõem o déficit de tal maneira a estabelecer uma receita tributária de 29.55% do produto (média do período) e um resultado primário de 1.814%(acumulado 4 trimestres) do produto. De outra parte, dado que o resultado primário do setor público divulgado não inclui a receita de senhoriagem, primeiro calculou-se tal magnitude para um estado estacionário considerando π = 2.53% e a relação M1/PIB = 6.77%, sendo que a série de M1 representa a quantidade de papel moeda em poder do público. Dessa forma, obteve-se uma receita de senhoriagem de 0.21% do PIB que foi adicionada ao resultado primário acima mencionado. Além disso, usando os resultados anteriores, inicialmente optou-se pela escolha de um único valor para todas as tarifas de tal maneira a alcançar a receita desejada de impostos em termos do produto. Dessa maneira, estabeleceu-se τc = τl = τh = 16.10%. 42 Usando a restrição orçamentária em termos reais e como proporção do produto, com o déficit já incluindo a receita de senhoriagem, tem-se: Bt (1 + Rt (1 − τ r ) ) Bt −1 + X t = Yt (1 + η )(1 + γ )(1 + π t ) Yt −1 Yt Usando a média do superávit primário em termos do produto no período e a média da dívida pública (líquida do setor público) de 40.08% do produto, obtém-se τ r = 26.12% ao avaliar a equação acima no estado estacionário. Conforme coloca Kanczuk (2000), τ r não representa uma taxa explícita sobre a remuneração dos títulos públicos, mas pode refletir a diferença entre a taxa SELIC e o rendimento médio sobre o estoque médio dos títulos. Adicionalmente, a calibração do parâmetro τ r permite a obtenção de um estado estacionário em que tanto o estoque da dívida pública em termos do produto, assim como o resultado primário em termos do produto coincida com os dados brasileiros, levando em conta a equação de estado da dívida em um modelo que não leva em consideração, por exemplo, a taxa de câmbio. O gráfico 4, abaixo, mostra a série construída da relação dívida-PIB levando em consideração as séries de inflação, juro nominal, resultado primário em termos do produto e a dívida inicial no primeiro semestre de 1994 com τ r =26.12%. Como se observa, a calibração desse último parâmetro proporciona um ajuste bastante razoável da série construída em relação à razão dívida-PIB observada. 43 GRÁFICO 4 Relação dívida-PIB observada e construída Usando a média da carga tributária na economia brasileira no período e o consumo do governo (19% do produto no período), juntamente com o resultado primário médio, calculou-se ? = 0.3393, referente à parcela da receita do governo que é transferida aos agentes. A ausência de uma série de horas trabalhadas para o Brasil no período escolhido não permite realizar o procedimento padrão na literatura internacional de calcular o resíduo de Solow e estimar os valores de a, ?z e sz. Seguindo uma prática comum nas simulações com dados brasileiros, optou-se por fixar os mesmos valores destes parâmetros encontrados para a economia norteamericana, ou seja, ? z = 0.95 e s z = 0.008. Assume-se que a fração correspondente à participação da remuneração do trabalho no produto é igual a 0.60, ainda que as contas 44 nacionais (IBGE) apontem para valores da remuneração do capital em torno de 50% do produto, mas essas últimas incluem parte da remuneração dos autônomos 14 . A partir da equação de Euler para os títulos do governo, em estado estacionário tem-se que ß=(1 + γ)/(1 + R(1 - τ r ))/(1 + π) = 0.98. Com relação ao parâmetro θ, na falta de informações sobre o markup das empresas brasileiras, seguindo os exercícios de calibração para a economia norte-americana 15, optou-se por estabelecer θ = 11, fazendo com que o markup seja igual a 10%. Por outro lado, dada a dificuldade da calibração do parâmetro referente ao grau de rigidez nominal de preços, escolheu-se κ = 0.21, de tal forma a encontrar uma volatilidade da taxa de inflação semelhante à encontrada nos dados brasileiros. Fazendo uso da equação de Euler para o trabalho: ξ= 1 − H (1 − τh )(1 − α ) 1 H ψ C / Y + υG / Y e estabelecendo ν = 0 e H = 0.33 no estado estacionário, calibrou-se ? =1.6101, resultando H = 0.33. No caso em que se usa ν = 1, tem-se ? = 1.3042 e resultando H = 0.33. A calibração do parâmetro 1 - α (parcela da remuneração do capital) para o Brasil apresenta resultados divergentes. Por exemplo, Botelho (2001) assume 1 - α = 0.40, Rosal e Ferreira (1998) fazem 1-α = 0.55, Araújo e Ferreira (1999) calibram 1-α = 0.4908, enquanto Kanczuk (2000), assim como Maziero e Nakane (2002), seguindo os exercícios de calibração para economia americana, estabelecem 1 - α = 0.36. 15 Ver Basu (1996). 14 45 Da mesma maneira, fazendo uso da condição de primeira ordem com (1 + γ )(1 + π ) − β υM / Y . relação a escolha de moeda χ = (1 + γ )(1 + π ) (1 + τ c )(υ C / Y + (1 − υ ) G / Y ) Usando M1/Y = 6.77%, calculou-se χ = 0.0067. Os parâmetros para o processo estocástico da taxa de juros foram obtidos por uma regressão por mínimos quadrados ordinários, como Taylor (1999) sugere. Em linha com a simulação numérica do modelo, estimou-se a seguinte regressão: ^ ^ ^ ^ Rt = φr Rt −1 + φπ π t + φ y Yt + ε Rt ^ 1 + Rt onde Rt = log . 1+ R Dado que o regime de metas de inflação no Brasil começou a ser praticado no início do ano de 1999, optou-se por fazer estimar uma regressão com dados mensais, para o período 1999:1-2001:12. A justificativa refere-se ao reduzido número de observações caso se fizesse uso de dados trimestrais. O coeficiente relativo ao hiato de produto mostrou-se estatisticamente insignificante, enquanto que o coeficiente relativo à taxa de juros defasada mostrou-se significante com φ r = 0.427 (parâmetro trimestralizado) na regressão com dados mensais. O coeficiente relativo à resposta à inflação mostrou-se significativo com φ π = 0.01 (parâmetro trimestralizado). O desvio padrão da regressão foi s r = 0.002. Com relação à estimação da função relativa aos gastos do governo, usando a série trimestral de consumo final da administração pública e extraindo 46 o logaritmo da equação (37), construiu-se uma série para gt. A regressão de gt em gt-1 resulto u em um parâmetro significativo a 5% com o valor ?g = 0.5733 e desvio padrão da regressão igual a 0.095. A tabela 1 resume os parâmetros calibrados. TABELA 1 Parâmetros calibrados κ 0.21 ζ 1.61 χ 0.0067 φr 0.42 φy 0 φπ 0.01 σr 0.02 β 0.98 θ 0.11 R(%) 6.71 π(%) 2.53 η(%) 0.343 γ(%) 0.358 τc (%) 16.10 τl(%) 16.10 τh(%) 16.10 τr(%) 26.12 ω 0.3393 ρz 0.95 ρg 0.5733 σz 0.008 σg 0.095 α 0.6 4.4 ANÁLISE DAS FUNÇÕES IMPULSO RESPOSTA Os resultados apresentados nessa seção referem-se às análise das funções impulso-resposta do modelo a choques temporários e permanentes que afetam a economia artificial e sobre os segundos momentos das principais variáveis, dando enfoque especial às variáveis fiscais. O gráfico A.1 mostra a resposta das variáveis a um choque de produtividade positivo. Como se observa, as firmas que podem reajustar seus preços aproveitam o aumento temporário da produtividade aumentando relativamente menos seus preços e, como consequência, aumentam seu produto de equilíbrio. Para isso, elevam os salários de seus trabalhadores, que em contrapartida aumentam a oferta de trabalho condizente ao maior volume produzido. Apesar do aumento dos salários, a maior produtividade faz com que 47 o custo unitário de produção nas firmas que reajustam seus preços se reduza 16. Por outro lado, aqueles produtores que estão com seus preços fixos, sofrem com a diminuição dos preços das firmas concorrentes, reduzindo os salários de seus trabalhadores e conseqüentemente o nível de produção em razão da menor oferta de trabalho. Apesar da menor produção, a redução da folha salarial por parte das firmas que mantém seus preços fixos permite um aumento de seus lucros nos períodos imediatamente posteriores ao choque. Somando as quantidades produzidas, observa -se que inicialmente a produção total sofre uma pequena redução, ultrapassando o nível de estado estacionário logo após o período em que o choque de produtividade ocorre. Mantido o nível de gastos do governo fixo, o mesmo comportamento qualitativo ocorre com o nível de consumo das famílias. Com relação às contas do governo, o aumento da taxa real de juros e a diminuição inicial do resultado primário elevam o estoque da dívida pública. A diminuição do resultado primário observada inicialmente é explicada pelo aumento das transferências (em razão da maior arrecadação tributária) e pela diminuição da receita de senhoriagem como consequência do nível mais elevado da taxa real de juros. Cabe salientar aqui o único mecanismo de transmissão da taxa de juros presente no modelo, referente à remuneração dos títulos públicos mantidos na carteira de portfolio das famílias em uma economia em que o governo é um devedor líquido. No presente exercício, como resultado do choque positivo de produtividade, a taxa real de juros aumenta em razão, principalmente, da queda da taxa de inflação, ocasionando uma mudança inicial na composição na carteira dos indivíduos: diminui a quantidade de 16 Variável não visualizada no gráfico 2.1. 48 moeda e aumenta a magnitude do valor real dos títulos possuídos. Em equilíbrio, essa mudança é permitida pela queda inicial do consumo e pelas variações já registradas na oferta de trabalho das famílias. O gráfico A.2 mostra a resposta das variáveis a um choque de produtividade na economia artificial em que ν = 0.8. O maior nível de rigidez de preços da economia ocasiona um ajuste mais lento na trajetória de retorno ao estado estacionário. As únicas diferenças qualitativas na trajetória das variáveis com relação ao gráfico A.1 são os comportamentos da quantidade de moeda, que aumenta inicialmente em razão ao maior crescimento do produto, e da receita de senhoriagem, com comportamento agora oscilatório. Além disso, observa-se que os gastos com transferências retornam bem mais lentamente ao nível de estado estacionário com relação ao primeiro exercício realizado, em razão do comportamento da receita tributária. No gráfico A.3, visualizam-se as respostas das variáveis a um choque nos gastos do governo. As firmas que escolhem o preço no momento do choque elevam este em razão, em parte, do aumento de seu custo unitário de produção. Apesar da elevação dos salários nas firmas que aumentam seus preços, a oferta de trabalho inicialmente diminui, fazendo com que o nível de produção de equilíbrio se reduza devido a existência de uma curva de demanda negativamente inclinada com relação ao preço escolhido. Já para as firmas que mantém seus preços fixos, o aumento da demanda agregada causado originalmente pela elevação dos gastos do governo eleva o seu produto em virtude do maior nível de preços das firmas concorrentes que elevam seus preços. No entanto, o aumento dos custos (não acompanhado por 49 um aumento de produtividade) sem a possibilidade do reajuste dos preços ocasiona um maior lucro por parte das firmas cujos preços são ajustados no período do choque. Com relação às contas públicas, o aumento inicial dos gastos do governo e das transferências não é compensado pela maior receita tributária e pelo aumento da senhoriagem, ocasionando uma diminuição inicial no superávit primário. No entanto, a queda da taxa real de juros incidente sobre o estoque de dívida passado mostra-se capaz de reduzir a dívida do governo. Nesse ponto, cabe destacar um fator de extrema importância para a determinação da trajetória da dívida em uma economia com uma relação dívida-produto elevada 17 : a ta xa real de juros incidente sobre o estoque passado da dívida. Em equilíbrio, a redução inesperada na taxa real de juros incentiva o aumento inicial do consumo e a maior demanda por moeda em razão da queda na remuneração dos títulos. Por outro lado, percebe-se que a receita tributária retorna ao nível de estado estacionário, assim como os gastos com transferências, muito mais rapidamente com relação à situação de um aumento temporário da produtividade da mão-de-obra. Deve-se ressaltar, no entanto, que se espera que os efeitos de um aumento de produtividade sejam mais persistentes do que os efeitos de um aumento dos gastos do governo em razão da própria diferença de persistência entre os processos estocásticos que guiam os choques. O gráfico A.4 mostra as respostas do produto e consumo a um choque nos gastos do governo na economia artificial em que o parâmetro ν tem valor igual a 1. Portanto, refere-se a uma economia em que os agentes substituem 17 40.08% na economia artificial proposta. 50 consumo privado por gastos do governo no momento em que ocorre um aumento inesperado no gasto público. Como se observa, os gastos com consumo privado inicialmente caem, refletindo a substituição entre consumos, para posteriormente ultrapassar o nível do estado estacionário, quando então se inicia sua trajetória de retorno. Como resultado, o aumento inicial do produto é inferior ao resultado encontrado no exercício anterior em razão da queda do nível de consumo. Já as firmas que reajustam seus preços no momento do choque, o fazem com magnitude relativamente menor, de tal forma que a taxa inicial de inflação é inferior com relação ao exercício em que ν = 0, dada a menor magnitude da demanda agregada inicial em razão da queda do consumo das famílias. Como consequência, a menor queda inicial da taxa real de juros em relação ao exercício anterior, juntamente com um superávit primário relativamente menor (devido em parte a uma arrecadação tributária inferior) faz com que o estoque da dívida pública aumente. No gráfico A.5, encontram-se as respostas das variáveis a um choque nos gastos do governo na economia artificial em que κ = 0.9 e ν = 0. A maior rigidez de preços da economia faz com que a resposta inicial da taxa de inflação seja menor com relação ao exercício em que κ = 0.21. A taxa real de juros relativamente maior faz, tal como no exercício em que κ = 0.21 e ν = 1, com que o estoque inicial da dívida aumente. Observa -se também que a maior rigidez de preços eleva inicialmente até mesmo o produto daquelas firmas que aumentam seus preços no momento do choque (elevam relativamente menos os preços em relação ao exercício com κ = 0.21 e ν = 0). 51 O exercício seguinte consistiu em um choque temporário positivo de 1% na taxa nominal de juros fixada pelo Banco Central. Como se observa no gráfico A.6, as firmas aptas a ajustar seus respectivos preços atuam no sentido de uma redução inicial destes no momento do choque, fazendo com as firmas concorrentes que permanecem com seus preços fixos vejam seu volume de produção reduzido. Apesar da diminuição dos salários nas firmas que reajustam seus preços, implicando um menor custo unitário de produção (não mostrado no gráfico), os trabalhadores dessas firmas aumentam sua oferta de trabalho para aproveitar o aumento temporário da remuneração dos títulos públicos, indicando o predomínio do efeito substituição sobre o efeito renda na escolha trabalho -lazer das famílias. Por outro lado, o consumo agregado da economia também decresce inicialmente em razão da elevação temporária dos juros. O aumento do estoque da dívida do governo em razão do maior nível de poupança ocasionado pelo aumento inesperado da taxa de juros é visto pelo lado das contas públicas pela maior taxa real de juros incidente sobre o estoque passado da dívida e pela piora temporária no resultado primário. Uma vez visualizados os principais efeitos de choques temporários no modelo, as análises seguintes referem-se a exercícios em que a economia artificial está sujeita a choques permanentes de juros e gastos do governo. O gráfico A.7 mostra a reação das principais variáveis fiscais a um choque permanente dos gastos do governo que elevam em 19% para 19.15% a relação gastos do governo-PIB no longo prazo. Cabe salientar que a escolha do tamanho do choque permanente nos gastos do governo de tal maneira a alcançar a nova magnitude acima citada deve-se à questão relativa ao erro de 52 aproximação das equações log-linearizadas. Isso porque, quanto mais afastado do estado estacionário original, menos acuradas são as relações de equilíbrio encontradas, uma vez que a solução das equações log-linearizadas aproxima a solução das equações exatas com um erro (de aproximação) que torna-se arbitrariamente pequeno no caso de flutuações suficientemente pequenas nas variáveis exógenas do modelo (Woodford (1999b)). Em outras palavras, buscamos analisar o caso de um choque permanente cujo resultado esteja numa vizinhança relativamente perto do estado estacionário anterior. O aumento permanente dos gastos do governo inicialmente reduz a relação dívida-produto estabilizando no nível de 39.87%. Por outro lado, a receita de impostos, que parte de 29.55% do produto, eleva-se inicialmente acima do novo nível de estado estacionário, decrescendo posteriormente e alcançando então 29.53% do produto. Já os gastos com transferências partem de 10.1% do produto, apresentando uma trajetória qualitativa bastante similar às receitas (como proporção do produto), alcançando 10.09% do produto. A receita advinda da senhoriagem também apresenta comportamento qualitativo parecido com a receita de impostos e transferências, partindo do instante inicial com uma magnitude de 0.213% do produto, elevando-se nos trimestres que seguem ao primeiro choque e decaindo posteriormente, mas alcançando um novo valor de estado estacionário (0.22%), superior ao antigo. Como resultado do comportamento das demais variáveis componentes do superávit primário, este último inicia o exercício com a magnitude de 0.66% do produto, chegando a 0.62% no novo estado estacionário. Em suma, em termos da situação da contabilidade das variáveis fiscais relevantes, a inflação gerada pelo aumento 53 permanente nos gastos do governo atua positivamente no sentido de diminuir a taxa real de juros incidente sobre o estoque passado da dívida (dada a magnitude dos parâmetros da regra de Taylor estimada) e aumentar a receita de senhoriagem advinda do aumento do preço do bem final. Apesar desses fatores atuarem positivamente para a posição fiscal do governo, a maior participação dos gastos do governo na economia e a menor arrecadação tributária em termos do produto fazem com que o resultado primário do novo estado estacionário seja inferior com relação ao anterior, sendo o estoque da dívida relativamente inferior em termos do produto. Nesse ponto, cabe salientar que a existência de uma autoridade monetária que atue de uma forma relativamente mais rígida com relação ao combate à inflação provavelmente resultaria numa piora da situação da dívida pública em razão de um possível aumento da taxa real de juros. Isso é confirmado no gráfico A.8, que mostra a reação das variáveis selecionadas a um aumento permanente nos gastos do governo (de igual magnitude ao exercício anterior) supondo a existência de uma autoridade cuja regra de Taylor tenha o parâmetro φ π = 4.5.Como se observa, a nova taxa real de juros de estado estacionário é superior à antiga, fato este que contribui para a maior relação dívida-produto de longo prazo, quando comparada ao exercício anterior. O exercício seguinte consistiu em um aumento permanente dos gastos do governo na economia artificial em que ν = 1. O gráfico A.9 mostra que a substitutibilidade entre consumo privado e gastos do governo ocasiona um menor produto de longo prazo com relação ao caso exposto no gráfico A.7, em 54 razão do menor nível de consumo privado, que eleva a poupança privada da economia e, como consequência, o estoque da dívida pública. Dessa forma, o aumento relativo do estoque da dívida e a diminuição relativa do produto explicam o aumento da relação dívida-produto com relação ao exercício em que ν = 0. Pelo lado das variáveis que compõem o resultado primário do governo, o menor nível de produto explica o aumento relativo das receitas de senhoriagem e dos gastos do governo em termos do produto. Por outro lado, a receita tributária em termos do produto cai em razão da diminuição do gastos com consumo, mas tal diminuição é compensada pelo menor nível de produto, de tal forma que a nova razão arrecadação tributária-produto possui igual magnitude (29.53%) ao exercício em que ν = 0. O último exercício realizado com as funções impulso-resposta refere-se a um aumento permanente da taxa nominal de juros fixada pela autoridade monetária, de 6.71% para 7%, cujas trajetórias das variáveis podem ser visualizadas no gráfico A.10. Como se observa, o aumento da dívida pública em termos do produto é explicado basicamente em termos do aumento da taxa real de juros (que passa de 4.08% para 4.36%) e da diminuição inicial no resultado primário em termos do produto. Esse último é explicado pela perda de arrecadação e aumento da relação gastos do governo-PIB em razão da queda inicial do produto. O comportamento da receita tributária em termos do produto é explicado pela queda inicial da arrecadação em razão do choque inicial da taxa de juros, recuperando-se posteriormente à medida que a economia ”aquece-se” (aumento do produto) para posteriormente diminuir sua taxa de crescimento com relação ao crescimento do PIB. 5. RESULTADOS A presente seção analisa os indicadores alternativos de sustentabilidade fiscal propostos na seção 3 em comparação ao “indicador verdadeiro” em vários tipos de exercícios através da utilização do modelo exposto anteriormente. Os experimentos referem-se à simulação do modelo em que, a todo instante do tempo, a economia artificial está sujeita aos choques de tecnologia, juros e gastos do governo. Supõe-se aqui que os gestores da política da fiscal tem capacidade de prever perfeitamente o valo r dos resultados primários em um horizonte de tempo de até oito períodos 18, de tal maneira que os indicadores IB(2)t, IB(4)t e IB(8)t levam em conta os verdadeiros valores dos resultados primários. Com relação ao indicador proposto por Talvi e Végh, supõe-se que as “condições normais da economia” sejam dadas pelo vetor das variáveis de estado com seus respectivos valores de estado estacionário, em consistência com o modelo proposto. Em todos os exercícios, a economia é simulada para um horizonte de tempo finito 19, ainda que a derivação do indicador verdadeiro tenha suposto um horizonte de tempo que no limite tende ao infinito. Em razão disso, pode-se esperar algum tipo de erro de aproximação em razão, ou da própria simulação numérica do modelo, ou da consideração de um limite de tempo finito, ainda que uma taxa de desconto positiva faça com que valores muito distantes no futuro tenham pouca importância em termos de valor presente. Adianta-se desde já que na maioria dos exercícios o indicador verdadeiro mostrou valores negativos, ou 18 Dado que a calibração do modelo foi feita com a utilização de dados trimestrais, cada período refere-se a um trimestre. 56 seja, a política fiscal é sustentável ao longo do tempo. Por outro lado, dado que o presente trabalho tem por objetivo avaliar o desempenho de indicadores alternativos, e não a sustentabilidade da política fiscal brasileira, parece ser pouco discutível o fato de que o melhor benchmark para os indicadores alternativos é o indicador I*t calculado. O gráfico 5 e a tabela 2 ilustram o comportamento dos indicadores IDt , IB(2)t , IB (4)t , IB(8)t e IMt., comparados ao indicador verdadeiro I*t . no experimento em que a economia artificial, calibrada de acordo com a tabela 1 e ν = 0.1, está sujeita a choques a todo instante do tempo. Como se pode observar, o melhor desempenho refere-se ao indicador baseado no déficit operacional, quando se utiliza como critério de comparação o erro de sinalização. TABELA 2 Desempenho dos indicadores na economia artificial com ν=0.1 Indicador * It D I t B I (2)t B I (4)t B I (8)t M I t 19 Erro de sinalização (em %) 0.00 10.42 25.00 33.33 45.83 Mais especificamente, simula-se a economia para um horizonte de tempo de 400 períodos, equivalente a 100 anos. 57 GRÁFICO 5 -50 46 41 36 31 26 21 16 11 1 46 41 36 31 26 21 16 0 11 0 6 50 1 50 6 Desempenho dos indicadores na economia artificial -50 It -100 -100 IDt IBt(2) -150 IBt(4) It -150 Ivt IBt(8) -200 -200 Nota-se também que o comportamento dos indicadores alternativos é muito mais volátil em relação à trajetória do indicador verdadeiro, que apresenta um movimento mais suave. Ao contrário do exercício simulado na seção 3, o indicador baseado no déficit operacional mostrou-se como o mais capacitado para neutralizar o efeito do ciclo econômico sobre o diagnóstico da sustentabilidade da política fiscal, ainda que tenha mostrado magnitudes muito distantes do valor do indicador verdadeiro. Por outro lado, o indicador de Blanchard com horizonte de previsão de dois períodos exibiu melhor performance em relação aos indicadores com 58 horizonte de previsão maior (quatro e oito períodos), ao passo que o indicador baseado no valor de estado estacionário do resultado primário mostrou o pior desempenho. Buscando analisar a sensibilidade dos indicadores alternativos com relação ao valor do parâmetro ν, a tabela 3 exibe os resultados para as economias artificiais que sofrem choques a todo momento com a mesma magnitude mas diferem-se entre si pelo valor do parâmetro ν. TABELA 3 Desempenho dos indicadores nas economias artificiais com diferentes valores do parâmetro ν Indicador * It D I t B I (2)t B I (4)t B I (8)t M I t ν=0 Erro de sinalização (em %) 0.00 8.33 20.83 33.33 43.75 ν = 0.1 Erro de sinalização (em %) 0.00 10.42 25.00 33.33 45.83 ν = 0.25 ν = 0.5 Erro de Erro de sinalização sinalização (em (em %) %) 0.00 4.17 14.58 12.50 20.83 18.75 33.33 27.08 45.83 50.00 ν = 0.75 Erro de sinalização (em %) 8.33. 18.75 22.92 27.08 64.58 ν =1 Erro de sinalização (em %) 10.42 20.83 22.92 29.17 79.17 Como se percebe, o indicador baseado no déficit operacional mostrou o melhor desempenho em todas as economias artificiais expostas na tabela 3, ainda que seu erro de sinalização tenha se mostrado diferente de zero em algumas delas. Observa-se que tanto o indicador baseado no déficit operacional, quanto o indicador proposto por Talvi e Végh (1998) mostraram resultados piores em relação a si próprios nas economias com maior substituição dos gastos do governo por parte das famílias. Novamente, o indicador de Blanchard com horizonte de previsão de dois períodos mostrou melhor desempenho em relação aos indicadores com horizonte de previsão maior. 59 O exercício seguinte consistiu em simular a economia artificial na ausência de choques nos gastos do governo, ou seja, representa uma situação em que a autoridade fiscal não surpreende o setor privado com aumentos ou diminuições no gasto público, e, por conseqüência, mantém inalterada a restrição agregada de recursos da economia. Os resultados encontram-se na tabela 4, com o indicador baseado no déficit operacional mais uma vez se mostrando como o melhor indicador alternativo, seguido pelo indicador de Blanchard com horizonte de previsão de dois períodos. TABELA 4 Desempenho dos indicadores na economia artificial com σg = 0 e ν = 0.1 Erro de sinalização (em %) 2.08 8.33 20.83 35.42 43.75 Indicador * It D I t B I (2)t B I (4)t B I (8)t M I t A tabela 5, abaixo, mostra os resultados para o exercício em que a economia artificial não está sujeita a incertezas com relação a política monetária adotada, sendo a tecnologia e a política fiscal do governo as únicas fontes de choques estocásticos. Percebe-se que, em comparação com o exercício anterior e os resultados da tabela 2, a presença de incerteza com relação à política fiscal do governo faz melhorar o desempenho do indicador baseado no déficit operacional. TABELA 5 Desempenho dos indicadores na economia artificial com σr = 0 e ν = 0.1 Indicador * It D I t B I (2)t B I (4)t B I (8)t M I t Erro de sinalização (em %) 0.00 10.42 25.00 31.25 45.83 60 Por fim, o último experimento consistiu em analisar a robustez dos resultados anteriores a mudanças na estrutura tributária da economia artificial. Para isso, realizaram-se simulações da economia artificial com três configurações de estrutura tributária diferentes, sendo que em todos os experimentos as alíquotas são estipuladas de forma que a carga tributária da economia artificial coincida com o valor encontrado para economia brasileira (29.55%). Nesse sentido, a primeira configuração caracteriza uma estrutura tributária com maior peso na alíquota sobre o consumo das famílias, estabelecendo τc = 25% e τh = τ l = 9.07%. A segunda configuração estabelece um maior valor no imposto sobre o lucro das empresas, fazendo τl = 28.7% e τc = τh = 15.25%. A última estrutura tributária estipulada fornece maior valor à alíquota sobre o salário das famílias, estabelecendo τh = 20.28% e τc = τl = 12%. Os resultados são encontrados na tabela 6. TABELA 6 Desempenho dos indicadores na economia artificial de acordo com as diferentes configurações de estrutura tributária (ν = 0.1) Erro de sinalização (em %) configuração 1 2 3 D I t 4.17 0.00 0.00 B I (2)t 8.33 16.67 8.33 B I (4)t 16.67 22.92 20.83 B I (8)t 29.17 31.25 31.25 M I t 25.00 50.00 43.75 Em comparação com os resultados da tabela 1, percebe-se que a maior alíquota sobre o consumo melhora o desempenho de todos os indicadores, com exceção do indicador baseado no déficit operacional, que diminui sua performance. Com relação a esse último, percebe-se que, com exceção da variação da alíquota sobre o consumo, variações nas alíquotas sobre o lucro das empresas ou sobre os salários não afetam seu desempenho. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O crescimento da dívida pública a partir de 1994, com seu estoque ultrapassando a magnitude de 50% do produto no final do ano de 2001, tem levantado sérias dúvidas acerca da sustentabilidade da política fiscal corrente, no sentido que a atual trajetória das variáveis fiscais tem sido questionada com relação à garantia do cumprimento da restrição orçamentária intertemporal do governo sem algum tipo de mudança relevante no ambiente macroeconômico em questão. Uma vez que a tarefa de avaliar a sustentabilidade de determinado agente envolve necessariamente algum tipo de conhecimento sobre o futuro, o presente trabalho buscou diferenciar-se dos demais existentes na literatura brasileira ao analisar potenciais indicadores de sustentabilidade fiscal, deixando de lado as análises que usam conjuntamente a equação de movimento da dívida pública e a antevisão de cenários macroeconômicos futuros. O ineditismo introduzido diz respeito não apenas à análise de indicadores alternativos de sustentabilidade para o Brasil, uma vez que o denominado “indicador verdadeiro” requer um volume muito grande de informações, mas também ao uso de modelos de equilíbrio geral dinâmicos para gerar as trajetórias das variáveis relevantes através das técnicas de calibração e simulação. Além disso, um novo modelo foi introduzido, incorporando a restrição orçamentária do governo como um elemento importante na determinação do equilíbrio da economia artificial. O instrumental 62 analítico desenvolvido leva em consideração as principais variáveis fiscais de uma economia moderna: estoque da dívida, taxa de juros, arrecadação de impostos, gastos do governo, receitas advindas da senhoriagem e transferências. Tais variáveis são utilizadas para o cálculo do “indicador verdadeiro”, gerado, portanto, pelo modelo, que é comparado com os indicadores alternativos apresentados. Seguindo a tradição da Teoria dos ciclos Reais de Negócios, a calibração de grande parte dos parâmetros do modelo foi feita com base no estado estacionário da economia brasileira levando em consideração as informações do período 1994-2001. Por se tratar de um modelo monetário, optou-se por levar em consideração apenas as informações do período pósReal da economia brasileira. Um parâmetro em especial, relativo ao grau de substituição do consumo do governo pelas famílias foi deixado “livre” em razão da dificuldade de sua calibração. Posteriormente, a análise dos indicadores levou em consideração sua sensibilidade em relação a tal parâmetro. Os resultados mostraram que, apesar de sua simplicidade no que se refere ao volume de informações necessárias a sua implementação, o indicador baseado no déficit operacional obteve o melhor desempenho quando se utiliza o critério do erro de sinalização, ou seja, quando se compara a situação exposta pelo indicador alternativo (sustentabilidade ou não) com a sinalizada pelo “indicador verdadeiro”. Tal resultado não se mostrou sensível às várias mudanças de parâmetros realizadas e aos diferentes tipos de choques incidentes sobre as 63 economias artificiais exercitadas, ainda que sua eficiência tenha variado nos diversos experimentos realizados. Apesar de seu melhor desempenho em relação aos demais indicadores alternativos, destaca-se o fato de que o indicador baseado no déficit operacional apresentou um nível de erro não desprezível em alguns casos (chegando a pouco mais de 10%). Extensões futuras do presente trabalho apontam para várias direções. Uma delas refere-se ao aperfeiçoamento do modelo utilizado, que pode, por exemplo, incorporar outros tipos de rigidez nominal, a inclusão de decisões de investimento na economia artificial e da taxa de câmbio como variável importante na determinação do tamanho da dívida pública. Outra direção, ainda com relação ao instrumental analítico, refere-se a consideração da linguagem de programação e resolução numérica do modelo segundo uma forma de espaço de estado, que permite o tratamento de questões como desigualdades nas restrições da economia que podem se tornar relevantes ao estudar a restrição intertemporal do governo. Outro esforço refere-se a própria construção de indicadores alternativos de sustentabilidade levando em consideração o modelo utilizado e a própria realidade da situação fiscal brasileira. 8. APÊNDICE GRÁFICO A.1 Gráfico A.1 -Funções impulso-resposta a um choque de produtividade positivo (κ =0.21;ν = 0) 69 GRÁFICO A.2 Funções impulso-resposta a um choque de produtividade positivo (? = 0.8;? = 0) 70 GRÁFICO A.3 Funções impulso-resposta a um aumento dos gastos do governo (? = 0.21; ?=0) 71 GRÁFICO A.4 Funções impulso-resposta a um aumento dos gastos do governo (? = 0.21; ν = 1) 72 73 GRÁFICO A.5 Funções impulso-resposta a um aumento dos gastos do governo (κ = 0.9; ν = 0) 74 GRÁFICO A.6 Funções impulso-resposta a um aumento de 1% na taxa nominal de juros (κ = 0.21; ν = 0) 75 76 GRÁFICO A.7 Funções impulso-resposta a um aumento permanente nos gastos do governo (κ = 0.21; ν = 0) 77 GRÁFICO A.8 Funções impulso-resposta a um aumento permanente nos gastos do governo (κ = 0.21; ν = 0; φ π = 4.5) 78 GRÁFICO A.9 Funções impulso-resposta a um aumento permanente nos gastos do governo (κ = 0.21; ν = 1) 79 GRÁFICO A.10 Funções impulso-resposta a um aumento permanente na taxa nominal de juros (κ = 0.21; ν = 0) 80 7. BIBLIOGRAFIA Araújo, C. H. V., Ferreira, P. C. F. (1999). Reforma tributária, efeitos alocativos e impactos de bem-estar. Revista Brasileira de Economia, 53, (2), 133-166, abr./jun. Araújo, E. (2001). Comparing alternative monetary policy rules for a small open developing economy with and without a representative household. Working paper. Basu, S. (1996). Procyclical productivity: increasing returns or cyclical utilization? Quartely Journal of Economics, 11, 719-751. Bevilaqua, A. S, Werneck, R. L. F. (1997a). Public-sector debt dynamics in Brazil. Texto para discussão n. 376, Departamento de Economia, PUC-Rio, outubro. Bevilaqua, A. S, Werneck, R. L. F. (1997b). Fiscal impulse in the brazilian economy, 1989-1996. . Texto para discussão n. 379, Departamento de Economia,PUC-Rio, outubro. Bevilaqua, A. S, Garcia, M. G. P. (1999). Evaluation of the Real Plan and challenges ahead. Departamento de Economia, PUC-Rio, mimeo, novembro. Blanchard, O. et all (1990a). 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