OS PROJETOS ESPECIAIS E O TEMA ÁGUA NO ENSINO
FUDAMENTAL.
ANANIAS, Natália Teixeira- FCT/UNESP
[email protected]
MARIN, Fátima Aparecida Dias Gomes- FCT/UNESP
[email protected]
Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas.
Agência Financiadora: CAPES.
Resumo
Este artigo apresenta algumas considerações da Pesquisa de Mestrado denominada “Educação
Ambiental e águas: concepções e práticas educativas em escolas municipais” do Programa de
Pós-Graduação em Educação, linha de pesquisa: Infância e Educação, da Faculdade de
Ciências e Tecnologia- FCT, Universidade Estadual Paulista-UNESP, Presidente Prudente SP. A investigação tem por objetivo esclarecer como o tema água é tratado nas Escolas de
Ensino Fundamental de um município do interior do estado de São Paulo, especificamente
nos quarto e quinto anos (antiga terceira e quarta série), por meio da análise de seus Projetos
Político-Pedagógicos, Propostas Curriculares, Livros Didáticos de Geografia e de Ciências e
ainda como é abordado pelos docentes, a partir das suas concepções teórico-metodológicas . É
fundamentada nos estudos de Rebouças (2002), Tundisi (2005), Guimarães (2004), Sobarzo
(2007), Carvalho (2008), Dias (2001), entre outros. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, do
tipo estudo de caso, onde os dados são obtidos a partir da análise documental, aplicação de
questionários e entrevistas com coordenadores pedagógicos, professores do Ensino
Fundamental e especialistas da universidade. Neste artigo são feitas considerações sobre a
pesquisa documental realizada nos Projetos Político-Pedagógicos. A partir da análise de vinte
e dois projetos especiais contidos nos Projetos Político-Pedagógicos, pôde-se verificar que o
tema água é objeto de ensino em sete deles. Constatou-se nos projetos uma abordagem
“generalista” com relação aos problemas ambientais, e de certa forma, uma banalização a
respeito da problemática ambiental. O tema água é citado em “segundo plano” ou nas
“entrelinhas” de discussões o que fragiliza o aprofundamento necessário para a compreensão
da complexidade que envolve a questão da água.
Palavras-chave: Educação Ambiental.
Fundamental. Projetos Especiais.
Projeto
Político-Pedagógico.
Água.
Ensino
7208
Introdução
Este trabalho apresenta e analisa parte dos dados coletados pela pesquisa de Mestrado
intitulada “Educação Ambiental e Águas: concepções e práticas educativas em escolas
municipais”, pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Faculdade de
Ciências e Tecnologia – FCT/UNESP, campus de Presidente Prudente.
A pesquisa tem por objetivo elucidar como o tema água é tratado nas escolas
municipais do ensino fundamental, especificamente nos quarto e quinto anos, de uma cidade
do interior do estado de São Paulo.
De acordo com a natureza da investigação adotamos uma abordagem qualitativa e
como técnicas de coleta de dados a pesquisa documental e entrevistas semi-estruturadas. Será
realizada uma análise documental das propostas curriculares, dos Projetos PolíticoPedagógicos das escolas, dos livros didáticos adotados no município e dos planos de ensino
dos professores. A intenção é entrevistar os docentes para identificar as suas concepções
teórico-metodológicas e as práticas educativas com relação ao tema água.
A abordagem qualitativa exprime e considera a qualidade dos dados a serem
coletados, indo ao encontro com os estudos de Bauer e Gaskell (2002, p.23), em que esse tipo
de método “... evita números, lida com interpretações das realidades sociais.”.
A pesquisa constitui-se em um estudo de caso. Para Severino (2007, p.121), o estudo
de caso é uma “[...] pesquisa que se concentra no estudo de um caso particular, considerado
representativo de um conjunto de casos análogos, por ele significativamente representativo”.
Desse modo, esta pesquisa possui como caso investigar a incidência da Educação Ambiental e
o tema água nos projetos especiais pertencentes aos Projetos Político-Pedagógicos da Rede
Municipal de Ensino de uma cidade do interior do estado de São Paulo.
Este artigo apresenta o referencial teórico sobre água e Educação Ambiental
fundamentado nos estudos de Rebouças (2002, 2004), Tundisi (2005), Carvalho (2008), Dias
(2000) Bortolozzi (1997), Silva (2009), Sobarzo (2008, 2011), Guimarães (2004), Monticeli e
Martins (1993) entre outros, e tece algumas considerações preliminares sobre a pesquisa
documental realizada em 22 Projetos Político-Pedagógicos a respeito da Educação Ambiental
e água para o Ensino Fundamental.
Água: elemento essencial para a vida.
7209
Água, water, acqua, mizú, l’eau, el água, aqua. Cada idioma, cada povo, cada cultura,
representa, à sua maneira, um significado para a Água, porém, é sempre a mesma substância
em todas as partes do mundo. Reconhecida mundialmente, evocada em orações, presente em
poesias, tema de músicas, ou até mesmo como mote de movimentos sociais, a água apresentase como protagonista em nosso cotidiano desde a origem dos tempos, ou por explicações de
cunho religioso (como uma criação de Deus), ou ainda por um contexto científico (pela teoria
do Universo –“Big Bang”).
A água é um recurso natural de extrema importância, tanto para animais como para as
plantas. Esse aspecto nos remete ao início dos primeiros grupos de pessoas que sempre
procuravam localizar-se ao redor de rios, lagos ou algum local que pudesse oferecer água,
promovendo, dessa maneira, a continuidade da vida.
Sendo assim, a água é considerada um elemento essencial para a vida de um indivíduo.
A sua presença é fundamental no corpo humano e nas diversas situações cotidianas que
requerem o uso desse recurso, como por exemplo: agricultura, processo produtivo e indústrias
em geral, higiene, saúde, pecuária, navegação, geração de energia, pesca e subsistência,
turismo, entre outras.
Vale destacar que, de acordo com os apontamentos de Buonafina (2003, p.38):
[...] a água cobre 70% da superfície terrestre; sendo que 97,4% da água do planeta é
salgada, e 2,6% doce, considerando ainda 1,58% está congelada nos pólos e 0,59%
encontra-se nos lençóis freáticos. O restante, 0,03% localiza-se nos lagos e rios [...].
Esta pequena parcela de água doce está sendo deteriorada pela ação antrópica o que
tem revelado a urgência de ações no sentido de recuperar, conservar e preservar os recursos
hídricos.
A respeito da quantidade de água na superfície terrestre, Tundisi (2005) também
compartilha de algumas idéias presentes nos estudos de Buonafina (2003), já que a grande
questão recai sobre a escassez de água no mundo. De fato, o que pode faltar em nossa
sociedade é a água potável, que é fonte de vida, porém, se consideramos a água no contexto
geral, esta não possui riscos de faltar, pois, sempre será a mesma em função do ciclo
hidrológico.
7210
O Brasil é considerado um dos ambientes com maior concentração de água doce no
mundo, porém, apresenta uma concentração desigual desse recurso para atender a população.
Conforme dados apresentados pelo IBGE no Censo 2010, o país dispõe de uma
população de 185.712.713 pessoas, entre meio rural e urbano. A grande parte da população
brasileira reside no meio urbano. Outro dado relevante diz respeito à localização geográfica,
que privilegia o país em apresentar diante de outras localidades do mundo a disposição de
12% de toda a água do planeta.
Contudo, Rebouças (2003, p.342) assinala que:
Num dos países mais ricos em água doce do planeta, as cidades enfrentam crises de
abastecimento, das quais não escapam nem mesmo as localizadas na Região Norte,
onde estão perto de 80% das descargas de água dos rios do Brasil.
De acordo com Barros (2010) 89% do volume total da água doce do Brasil que está
concentrada na Região Norte e Centro-Oeste é colocada à disposição de 14,5% da população
total do Brasil, enquanto que para as regiões Nordeste, Sudeste e Sul, onde estão distribuídas
85,5% da população do país, há disponível apenas 11% de água. Semelhante ao que ocorre
em alguns pontos do mundo, esses dados indicam uma desigual distribuição de água. Nesse
sentido, o Brasil dispõe de áreas ricas de água doce com poucos habitantes e em
contrapartida, localidades populosas que sofrem com a carência dos recursos hídricos.
A respeito da carência da água potável, é importante citarmos dois fatores
influenciadores presentes na sociedade, ou seja, o desperdício e a poluição. Com o avanço das
cidades e o predomínio populacional no meio urbano, muitas pessoas adotam para seu
cotidiano hábitos impróprios, como por exemplo, o mau uso da água em casa ou em
necessidades diárias, que levam de certa forma a ocorrência de desperdício.
Com relação à poluição pode-se afirmar, de acordo com Monticeli e Martins (1993,
p.250) que um ambiente torna-se poluído na medida em que suas condições naturais são
modificadas, por ações efetuadas pelo homem.
A poluição/contaminação da água no meio urbano e rural afeta diretamente a
qualidade de vida. São várias as doenças de veiculação hídrica. Atitudes em prol de um
ambiente limpo e seguro são necessárias, para que doenças como a dengue, a malária, a
cólera, a leptospirose, a hepatite e a esquistossomose não venham a causar sofrimento nas
7211
pessoas acometidas por estes males, muitas delas conseqüência da poluição no meio
ambiente.
Concordando com Tundisi (2005), vivemos hoje uma crise hídrica, ou seja, conflitos,
políticas e crises ambientais que possuem como mote a água, devido a fatores diversos, tais
como: crescimento populacional que afeta as áreas de mananciais hídricos; processo de
urbanização, transformando locais de preservação ambiental em cidades e empreendimentos
comerciais; padrões de vida e de consumo desenfreados, que não valorizam os recursos
naturais; poluição; falta de planejamento do poder público e de sensibilização ambiental;
ponto este que afeta diretamente a Educação, em que indivíduos mais esclarecidos sobre os
fatos que norteiam o seu cotidiano podem contribuir significativamente com ações no sentido
de recuperar, conservar e preservar os recursos hídricos.
É nesse sentido que defendemos uma Educação Ambiental, que não se restrinja a
apontamentos ou denúncias a respeito de problemas ambientais, mas que estabeleça princípios
educativos que contribuam para a aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes a
respeito dos recursos naturais e em especial a água potável, essencial para a manutenção da
vida.
Guimarães (2006 apud SILVA, 2009, p.123) avalia que:
[...] a simples difusão sobre a gravidade dos problemas ambientais e suas
conseqüências para o meio ambiente é incapaz de fornecer subsídios para
compreender as origens causadoras dos problemas ambientais e em nada colaboram
para a superação da crise ambiental atual.
Com o intuito de discutir como o tema água é tratado nas escolas de ensino
fundamental, faz-se necessário definir o que compreendemos por Educação Ambiental.
A Educação Ambiental nas Escolas
A Lei nº 9.795/99, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, define
Educação Ambiental como:
[...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
7212
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999)
Carvalho complementa esta definição ao considerar a Educação Ambiental como:
[...] um processo crítico-transformador capaz de promover no indivíduo um
questionamento mais profundo sobre a realidade ambiental onde este se encontra
inserido, levando-o a assumir uma nova mentalidade ecológica, pautada no respeito
mútuo para com o meio ambiente e os que nele convivem. (CARVALHO, 2002
apud CARVALHO 2008, p.36).
Por meio dessas definições, é essencial que a Educação Ambiental esteja presente nas
discussões sobre a água no ambiente escolar, para que nossos alunos e docentes adquiram
uma nova “mentalidade ecológica”, como afirma Carvalho (2008).
A Educação Ambiental pode se definir como um dos principais desafios da atualidade,
conforme destaca Dias (2001, p.111), que elenca cinco objetivos que são interligados ao se
propor uma atividade em Educação Ambiental:
[...] 1- Consciência: ajudar os indivíduos e grupos sociais a sensibilizarem-se e a
adquirirem consciência do meio ambiente global e suas questões;
2- Conhecimento: a adquirirem diversidade de experiências e compreensão
fundamental sobre o meio ambiente e seus problemas;
3- Comportamento: a comprometerem-se com uma série de valores, e a sentirem
interesse pelo meio ambiente, e participarem da proteção e melhoria do meio
ambiente;
4- Habilidades: adquirirem habilidades necessárias para identificar e resolver
problemas ambientais;
5- Participação: proporcionar [...] a possibilidade de participarem ativamente das
tarefas que têm por objetivo resolver os problemas ambientais.
A inquietação sobre a qualidade dos trabalhos desenvolvidos no âmbito escolar a
respeito da Educação Ambiental e águas se deve, muitas vezes, às práticas educativas que se
restringirem à abordagem do tema de maneira superficial, como, por exemplo, durante a
comemoração do dia da água no calendário escolar. Estas ações pontuais, apesar de
significativas, são pouco eficazes para a formação do aluno.
Embora os educadores concordem
com a importância do tema água e com a
relevância da Educação Ambiental, muitos não têm formação adequada nesta área, o que
7213
prejudica as ações empenhadas na luta por um ambiente saudável. Araújo (2004, p.75)
manifesta a pertinência de uma adequada formação dos professores para desenvolverem ações
de Educação Ambiental, de maneira que:
[...] além do seu compromisso com a causa ambiental e com uma educação
transformadora e dialógica, deve haver um conhecimento que lhe permita construir e
reconstruir, num processo educativo de ação e reflexão, o conhecimento sobre a
realidade de modo dialógico com os sujeitos no processo educativo, no sentido de
superar a visão fragmentada sobre a mesma.
Muitos professores se sentem “perdidos” quando se deparam com conteúdos sobre o
meio ambiente. A sua formação inicial polivalente nem sempre é atenta a questões
ambientais. É comum que este tema não tenha espaço nos currículos de Pedagogia.
Por outro lado, evidenciam-se experiências bem sucedidas por parte de profissionais
comprometidos com a educação ambiental. De acordo com Tardif (2000), os saberes docentes
são plurais e heterogêneos derivados da sua formação profissional, do acesso a propostas
curriculares e da sua experiência. Sendo assim, são várias situações, além da formação
universitária, que estruturam os saberes docentes.
[...] Em seu trabalho, um professor se serve de sua cultura pessoal, que provém de
sua história de vida e de sua cultura escolar anterior; ele também se apóia em certos
conhecimentos disciplinares adquiridos na universidade, assim como em certos
conhecimentos didáticos e pedagógicos oriundos de sua formação profissional; eles
se apóia também naquilo que podemos chamar de conhecimentos curriculares
veiculados pelos programas, guias e manuais escolares; ele se baseia em seu próprio
saber ligado à experiência de trabalho, na experiência de certos professores e em
tradições peculiares ao ofício de professor. (TARDIF, 2000, p.14).
As ações de Educação Ambiental presentes na escola, de acordo com Dias (2000,
p.108) devem ser condizentes a uma legislação, a uma política, a medidas de controle e a
parâmetros governamentais em relação ao meio ambiente.
O documento construído como referência para o trabalho pedagógico das instituições
escolares de acordo com perfil de aluno que se quer formar e as peculiaridades do contexto de
cada cultura escolar é o Projeto Político- Pedagógico. Este documento tem a indicação de
7214
contemplar nos seus objetivos e conteúdos educacionais, entre outros assuntos, temas
relacionados ao meio ambiente que são de relevância para a formação dos alunos.
Projetos Político-Pedagógicos: um referencial para a prática educativa nas escolas
O Projeto Político-Pedagógico é um documento da instituição escolar que contêm a
identidade da escola, e ainda indica caminhos para ensinar com qualidade. As palavras que
compõem a denominação deste documento, de acordo com Lopes (2010, p.23) apresentam
algumas particularidades que merecem destaque:
[...] É projeto porque reúne propostas de ação concreta a executar durante
determinado período de tempo. É político por considerar a escola como espaço de
formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos, que atuarão individual e
coletivamente na sociedade, modificando os rumos que ele vai seguir. É pedagógico
porque define e organiza as atividades e os projetos educativos necessários ao
processo de ensino e aprendizagem.
O Projeto Político-Pedagógico indica desse modo, possibilidades de trabalho não só
para professores e equipe gestora da escola, mas inclui a participação de funcionários, alunos
e famílias, rumo a novas perspectivas educacionais.
O Projeto Político-Pedagógico de acordo com Lopes (2010) e Veiga (2000) deve
contemplar os seguintes tópicos: missão, clientela, dados sobre a aprendizagem, relação com
as famílias, recursos, diretrizes pedagógicas, planos de ação, avaliação, bibliografia, entre
outros pontos que cada escola julgue necessário para a formulação e concretização de seu
documento, e ainda, que seja condizente com a realidade de cada ambiente escolar.
[...] O Projeto Político-Pedagógico exige profunda reflexão sobre as finalidades da
escola, assim como a explicitação de seu papel social e a clara definição de
caminhos, formas operacionais e ações a serem empreendidas por todos os
envolvidos com o processo educativo. Seu processo de construção aglutinará
crenças, convicções, conhecimentos da comunidade escolar, do contexto social e
científico, constituindo-se em compromisso político e pedagógico coletivo. Ele
precisa ser concebido com bases nas diferenças existentes entre seus autores, sejam
eles professores, equipe técnico-administrativa, pais, alunos e representantes da
comunidade local. É, portanto, fruto de reflexão e investigação. (VEIGA, 2000, p.9)
7215
Como já foi explicitado, uma das técnicas de coleta de dados desta pesquisa é a
análise documental dos Projetos Político-Pedagógicos das escolas para identificar as
concepções teórico-metodológicas e as práticas educativas com relação ao tema água.
O que revelam os Projetos Especiais contidos nos Projetos Político-Pedagógicos:
concepções e práticas educativas com relação à educação ambiental e ao tema água.
Do universo de trinta e duas escolas de Ensino Fundamental da Rede Municipal de
Ensino1, foram disponibilizados pela Secretaria Municipal de Educação (SEDUC) até o
prezado momento para nossa análise vinte e dois Projetos Político-Pedagógicos, levando em
conta o triênio 2010-2012.
Todas as escolas municipais de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação de
Jovens e Adultos recebem, em reuniões de planejamento, no final de cada ano letivo,
orientações pedagógicas para elaborarem seus projetos. As escolas são orientadas a realizar
algum projeto sobre Educação Ambiental. Entretanto, algumas instituições não acatam a
proposta, descumprindo o Artigo 43 do Regimento Comum das Escolas Municipais (1997,
p.16-17), que apresenta os projetos especiais como item para o Plano Diretor e para o Projeto
Político-Pedagógico.
Geralmente, ao final de cada Projeto Político-Pedagógico, são expostos os projetos
especiais, elaborados por docentes e equipe gestora das escolas, a respeito de temas atuais ou
do contexto social de interesse de cada instituição. Os projetos especiais são organizados, a
partir
dos
seguintes
itens:
introdução,
justificativa,
objetivos,
conteúdos,
metodologia/procedimentos metodológicos, recursos e avaliação.
Ainda sobre os projetos especiais, de acordo com Moura e Barbosa(2006 apud SILVA,
2009,p.136-137) um projeto conceitua-se como “um empreendimento que tem em vista
produzir algo novo”, já que sempre parte de um tema pré-determinado. Mas, para que ele se
concretize, os autores se referem também a uma “tipologia de projetos”, já que cada projeto
segue uma atividade predominante. São classificados em “projetos de intervenção”, “projetos
de pesquisa”, “projetos de desenvolvimento (ou de produto)”, “projetos de ensino” e “projetos
de trabalho”, podendo ser complementares um do outro.
1
. O total de trinta e duas escolas de Ensino Fundamental contemplam aquelas que estão localizadas no
município e nos quatro distritos pertencentes, porém, são objeto de investigação somente as escolas do
município, de acordo com critérios adotados para a pesquisa.
7216
Por meio da coleta de dados realizada até o momento, os projetos especiais
encontrados nos Projetos Político-Pedagógicos apresentam as características de “projetos de
ensino”, pois, de acordo com Moura e Barbosa (2006 apud SILVA 2009, p.137) “são projetos
elaborados dentro de uma (ou mais) disciplina(s), dirigidos à melhoria do processo de ensinoaprendizagem e dos elementos dos conteúdos relativos a essa disciplina”.
A Educação Ambiental que comumente comparece nos projetos especiais é
considerada como um tema transversal, pois, de acordo com os Parâmetros Curriculares
Nacionais – Temas Transversais (BRASIL, 1997, p.36) aborda conteúdos de meio ambiente
integralizados ao currículo das diversas áreas do conhecimento.
[...] As questões ambientais oferecem uma perspectiva particular por tratar de
assuntos que, por mais localizados que sejam, dizem respeito direta ou indiretamente
ao interesse do planeta como um todo. Isso determina a necessidade de se trabalhar
com o tema Meio Ambiente de forma não-linear e diversificada. Portanto, para que
os alunos possam compreender a complexidade e a amplitude das questões
ambientais, é fundamental oferecer-lhes, além da maior diversidade possível de
experiências, uma visão abrangente que englobe diversas realidades e, ao mesmo
tempo, uma visão contextualizada da realidade ambiental, o que inclui, além do
ambiente físico, as suas condições sociais e culturais. (BRASIL, 1997, p.36)
Dos vinte e dois Projetos Político-Pedagógicos analisados, oito não apresentam
propostas de trabalhos na área ambiental. As escolas restantes possuem projetos sobre
Educação Ambiental, com foco na reciclagem, resíduos sólidos, reflorestamento, lixo,
sustentabilidade ambiental, recursos naturais e água.
É importante considerar que, dos catorze projetos a respeito da Educação Ambiental,
apenas sete citam o tema água nas justificativas, objetivos, conteúdos, metodologia e/ou
procedimentos metodológicos, avaliação, referências bibliográficas ou bibliografia. Contudo,
isso geralmente é feito de maneira “vaga” ao mencionar o meio ambiente. O restante dos
projetos suscita discussões que podem ou não ter conexão com o tema água, ponto este que
permanece nas “entrelinhas dos projetos”.
No entanto, um dado que aparece com maior incidência nos projetos existentes sobre
Educação Ambiental diz respeito ao tema água como um conteúdo a ser trabalhado na
realização do projeto, conforme assinala o trecho abaixo:
[...]-Falar sobre as necessidades das plantas. (luz, calor, umidade, água, terra).
7217
-Contar a história em seqüência “A água”, ressaltando sua importância para os seres
vivos
-Confeccionar um fantoche com a gotinha da água.
-falar sobre água potável e poluída. Comentar sobre os diversos usos da água:
Sabesp e Caiuá (origem da água para nossas casas e geração de energia)
-Comentar sobre não deixar água acumular em recipientes para evitar doenças como
a dengue.
Zabala (2002) indica em seus estudos algumas considerações sobre os conteúdos
escolares, que são motivadores para a realização dos projetos especiais nas escolas de Ensino
Fundamental, conforme um conjunto de disciplinas que segue uma lógica disciplinar. Com
essa idéia, o tema água e a Educação Ambiental estão extremamente ligados a função social
do ensino expressada nos planos diretores:
Por trás dessa seleção e da importância relativa que se atribui a cada uma das
disciplinas, existe uma clara determinação das finalidades que deverá ter o ensino,
ou seja, sua função social. O porquê de algumas matérias e não de outras, o papel
que cada uma delas tem no currículo é o resultado da resposta à principal pergunta
de toda proposta educativa: qual é função que deve ter o sistema educativo? E
conseqüentemente, que tipo de cidadãos e cidadãs o ensino deve promover? A
resposta a tais perguntas deverá responder também a pergunta: o que ensinar? Os
conteúdos de aprendizagem selecionados tornam concretas as respostas que definem
a função social que cada pais ou cada pessoa atribui ao ensino.(ZABALA,
2002,p.19)
De todo modo, os estudos de Zabala (2002) mostram a importância de se escolher e
aprofundar os conteúdos escolares, já que eles colaboram para formação dos cidadãos e
cidadãs inseridos na escola. Esse questionamento é pertinente na medida em que, a
abordagem do tema água tem como função social de “ir além” dos conhecimentos básicos,
como por exemplo, saberes que perpassam a conservação, utilização, contaminação da água e
que atinjam a sensibilização sobre os problemas ambientais que colocam a água em situação
de crise hídrica, e que afeta outras áreas ambientais também.
Outros itens que encontramos nos projetos analisados, tais como objetivos,
metodologias e avaliação, apontam algumas lacunas que comprometem a realização das
práticas educativas ligadas a Educação Ambiental e o tema água, já que vários assuntos e
ações propostas não são específicas a crise hídrica e suas particularidades, incluindo ainda,
pouco detalhamento nas atividades propostas, que se destinam a tópicos pontuais, como
exemplifica o excerto:
7218
Metodologia: Leitura de diferentes textos: informativos, literários, elaboração de
maquetes, cartazes; caça-palavras, cruzadinhas, trabalho com dobraduras; música,
poesias e quebra-cabeças, paródias, parlendas; fantoches com elementos da natureza.
Passeio ao Colégio Agrícola, para contato do aluno com o meio ambiente de forma
natural e prazerosa. (COLETA DE DADOS, 2011.)
Sete projetos especiais citam na sua estrutura o tema água, porém não realizam uma
abordagem aprofundada e necessária para o entendimento do tema, como exemplifica um
excerto de um desses projetos:
[...] As agressões efetuadas continuamente à natureza ao longo dos anos pelo
homem, têm como consequência a destruição do meio ambiente, provocando vários
problemas que nos afetam diretamente como a poluição do ar e da água, a erosão do
solo, destruição da camada de ozônio, etc; no entanto, percebemos que a maioria das
pessoas não têm consciência e não se sentem responsáveis por um trabalho efetivo,
com ações concretas que demonstrem o quanto cada cidadão pode se mobilizar para
melhorar o meio em que vive. (COLETA DE DADOS, 2011)
Um aspecto que consideramos necessário mencionar ainda, diz respeito as referências
bibliográficas ou bibliografia dos projetos especiais, pois, de acordo com os dados coletados
até o momento, nenhum dos projetos analisados consta este item em seus escritos, ou ainda,
citações e discussões com embasamento teórico para justificar o trabalho e os saberes que a
Educação Ambiental apresenta em suas diretrizes, demonstrando fragilidades nos projetos
especiais desenvolvidos pela Rede Municipal de Ensino.
Todavia, as primeiras análises a respeito das catorze escolas que possuem nos seus
Projetos Político-Pedagógicos projetos especiais relativos à Educação Ambiental apresentam
que o principal objetivo que direciona os trabalhos é a preservação do meio ambiente e
conhecimentos sobre os recursos naturais existentes que são importantes para as próximas
gerações. De certo modo, proporcionar aos alunos discussões sobre o meio ambiente e os
problemas ambientais são momentos importantes, mas, os projetos merecem um cuidado
maior com relação aos conteúdos específicos, como por exemplo, no caso da água, para que o
tema não seja banalizado, e sim, enfocado em todas as áreas do conhecimento de maneira
interdisciplinar, em prol da formação integral do aluno.
É relevante abordar a crise hídrica; o ciclo hidrológico; a disponibilidade e a
distribuição de água potável no mundo; os usos da água; as formas de evitar o desperdício; a
origem da poluição/contaminação das águas; a importância da preservação das matas ciliares,
7219
entre outros assuntos importantes ligados ao meio ambiente, como o aquecimento global,
preservação da fauna e flora, etc.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) – Temas Transversais sugerem a
respeito do meio ambiente e particularmente o tema água, alguns conteúdos e estratégias de
ensino que poderiam estar presentes nos projetos especiais:
[...] a necessidade desse recurso para a vida em geral; a importância que sempre teve
na história dos povos; a noção de bacia hidrográfica e a identificação de como se
situa a escola, o bairro e a região com relação ao sistema de drenagem; a ação
antrópica e a conseqüente tendência de escassez de água com qualidade suficiente
para os objetivos do uso humano; de que forma a reciclagem natural pode ser
prejudicada por processos de degradação irreversíveis, a importância para a
sociedade dos recursos dos rios, do mar e dos ecossistemas relacionados a eles, etc.
(BRASIL, 1997, p.39)
Neste sentido, faz-se necessário uma prática educativa que proporcione aos alunos
uma visão integrada da realidade que possibilite o acesso aos conhecimentos que foram
produzidos historicamente sobre este tema. O objetivo é que os alunos tenham condições de
promover no seu cotidiano atitudes em favor de um ambiente equilibrado atento a melhoria da
qualidade de vida. Caso contrário, corre-se o risco da educação ambiental tornar-se um
discurso vago, “alarmista”, desprovido de significados para a tomada de decisões voltadas
para a conservação do meio ambiente.
Nas palavras de Buonafina (2003, p.38), o tema água “[...] é um assunto muito sério.
Se a escassez de água pode ser motivo para a guerra, cuidar bem dela é construir a paz [...].”.
Algumas Considerações
Os projetos especiais a respeito do tema água são pertinentes para as discussões no
ambiente escolar, porém, necessitam receber atenção dos docentes e equipe gestora de cada
escola ao planejar esses projetos, para que não se tornem ações obrigatórias, mas propostas
significativas que possibilitem a todos os envolvidos no universo escolar a sensibilização
ambiental e a aquisição de conhecimentos voltados para a conservação do meio ambiente, em
especial das águas. A Educação Ambiental assegurada pela Lei nº 9795/99, sugere as escolas
o trabalho com as questões ambientais, que podem aparecer nos projetos especiais ou em
qualquer parte do processo educativo, de forma integral, contínua e permanente, ponto este
7220
que necessita ser adequado na Rede Municipal de Ensino, precisamente nos documentos
pedagógicos das escolas de Ensino Fundamental investigadas até o momento.
REFERÊNCIAS
ARAÙJO, M. I de O. A universidade e a formação de professores para a educação ambiental.
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http://assets.wwfbr.panda.org/dowloads/revbea_n_zero.pdf.=page13
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Acesso em Jan.2011.
BAUER, M.W,; GASKELL, G. Pesquisa
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qualitativa com texto, imagem e som: um
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os projetos especiais e o tema água no ensino fudamental.