1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” ÉTICA NA EDUCAÇÃO AUTORA: ILMA GONÇALVES PEREIRA ORIENTADOR: ANTONIO FERNANDO VIEIRA NEY Rio de Janeiro Agosto / 2002 2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” ÉTICA NA EDUCAÇÃO AUTORA: ILMA GONÇALVES PEREIRA Monografia apresentada à próReitoria de Pesquisa e Pós Graduação do Curso de Docência do Ensino Superior da Universidade Cândido Mendes para obtenção do grau de Especialista. Rio de Janeiro Agosto / 2002 3 4 Dedicamos este trabalho aos nossos familiares, principalmente aos amigos professores, que se tornaram nosso pilar de apoio e aprendizado “nesta curta jornada”. 5 Agradecimento Ao prof. Antônio Fernando Vieira Ney pela dedicação ao ensino. Ao meu amigo Márcio Freitas Ribeiro pela cooperação da pesquisa. 6 Enfrentamos, a meu ver, situação inteiramente nova em matéria de educação, cujo objetivo, se quisermos sobreviver, é o de facilitar a mudança e a aprendizagem. Carl R. Rogers (1973) 7 SUMÁRIO RESUMO Introdução CAPÍTULO I - MORAL E ÉTICA ATRAVÉS DOS TEMPOS............................................ 10 1.1 O que é moral e ética..................................................................................................... 10 1.2 Problema Social ou Religioso....................................................................................... 13 1.3 A importância da Educação Familiar no Desenvolvimento Moral e Ético .................. 15 1.4 Professores, A Necessidade de Conscientização de Debater Ética e Moral ................. 20 1.5 Implantar – Ética e Moral, Nos Currículos Escolares do Ensino Fundamental............ 23 CONCLUSÃO......................................................................................................................... 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 37 8 INTRODUÇÃO A educação moral não se faz simplesmente pela aprendizagem intelectual das normas éticas, mas pela aquisição dos habitus1 que elevam à formação do senso moral. Diante da ausência de um sistema de valores éticos de validade reconhecida e capaz de servir de fundamento à ação pedagógica da escola no campo da formação moral e, considerados os obstáculos que a ela se opõem, explica-se a dificuldade em responder satisfatoriamente à indagação: a educação ética e moral é possível? A ética pedagógica é a necessidade de princípios e valores fundantes2 ao processo de legitimação da autoridade do professor. O professor tem uma obrigação moral inerente à sua prática pedagógica, e esta obrigação sustenta-se numa livre escolha. Optar por essa profissão implica assumir um dever moral. E, para cumprir com esse dever, é necessário um procedimento, uma conduta ascética3 , estar “tendido para “ a interação do aluno. Significa dizer que, mesmo mantendose no seu lugar social, o professor fala a um outro que assim como ele é cognoscente4 , mas também sensível, que, além de sujeito epistêmico5 , é sujeito moral. A escola deve estruturar-se de modo a que cada aluno seja valorizado em sua individualidade, e jamais reduzido ao denominador comum de um tipo de aluno. A recomendação é que a escola ofereça oportunidades reais para que se crie em seu interior um processo educacional mais sensível às singularidades dos comportamentos dos estudantes, pois assim nela poderão desabrochar as virtualidades de cada aluno. 1 2 3 4 5 Fazer adquirir o hábito de: Pessoa que vive em prática de devoção Hegemonia Universal - Valores Legitimadores dos valores Que tem aptidão para conhecer ou aprender Que tem a faculdade de conhecer Adquire conhecimentos aplicados pelas ciências 9 Sendo assim, uma das funções da escola, senão a mais importante é possibilitar aos alunos a descoberta das suas potencialidades, para que utilizem melhores suas aptidões. Ética na Educação: uma preocupação de resgatar valores morais requer saber o que envolve os termos ética, educação e moral. No mundo da educação, quem propuser uma educação moral corre o risco de ser visto não somente como saudosista de um período ainda recente de nossa história, como favorável a uma imposição implacável de valores e condutas, privando o aluno da liberdade de escolha. Agora, falar em formação ética carece garantir uma imunidade pedagógica contra toda e qualquer tentação de autoritarismo6 (falar de moral). Se, temos duas palavras, moral e ética, é porque as herdamos de dois idiomas antigos que, cada qual com o seu termo (mores7 em latim e ethos8 em grego), referiam-se às normatizações das condutas humanas, situando-as seja do lado do bem, do desejável, do obrigatório ou do permitido, seja do lado do mal, do indesejável, do proibido ou do desaconselhável, ou seja, na sua raiz etimológica, os conceitos de moral e de ética são sinônimos. Na relação pedagógica, o educador dá de si mesmo, de seu ser, da sua existência. O termo ética pode ainda ser compreendido em duas significações: como realidade moral, envolvendo aspectos objetivos e subjetivos; como filosofia moral. No primeiro aspecto deduz que as relações entre educação e a moral não são acidentais e sim necessárias, porque a educação é fator de moralidade, contribuindo para a atualização e desenvolvimento de valores éticos, particularmente por meio da educação moral. No segundo aspecto, é da filosofia moral que a educação recebe os princípios e os critérios para a determinação dos fins e dos meios da ação educativa. Embora necessárias, as relações entre ética e educação são múltiplas e complexas, seja pela natureza de ambos, seja porque vivemos um período crítico no qual os valores morais estão muito conturbados. E é justamente em situação de crise que a educação moral se faz indispensável, embora sejam maiores as dificuldades para praticá-la. Portanto, o problema objeto do estudo é: 6 Caráter ou sistema autoritário (Despotismo) Costumes considerados, pelos membros do grupo social, absolutamente essenciais, invioláveis, indiscutíveis, de caráter sagrado. 8 Costumes, hábitos 7 10 “Até que ponto a introdução da ética e da moral nos currículos escolares pode resgatar valores morais da sociedade?” Diagnosticar, se ética e moral na educação pode resgatar os valores morais da sociedade. Verificar a possibilidade da introdução da ética e da moral nos currículos escolares do ensino fundamental. Perceber a importância dos limites familiares, na formação moral. Distinguir a importância da educação familiar no desenvolvimento escolar. Verificar se a presença dos familiares, participando na escola, facilita a educação ética e moral. Verificar se os professores estão conscientes da necessidade de debater com os alunos e a comunidade sobre ética e moral. Pode-se observar no PCN, a inclusão de ética e moral nos currículos do ensino fundamental? Até que ponto as atividades das crianças e dos jovens frente aos problemas sociais, são tratados na família? Pode-se observar a educação familiar refletindo no desenvolvimento escolar? A presença dos familiares e da comunidade na escola, facilita a educação ética e moral? Observa-se o envolvimento do professor nos debates, em geral, sobre ética e moral? ÉTICA - É a ciência normativa que serve de base à filosofia prática e o conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão. MORAL - Parte da filosofia que trata dos atos humanos, dos bons costumes e dos deveres em sociedade, perante os de sua classe. CURRÍCULOS ESCOLARES - Conjunto das matérias de um curso escolar. VALORES MORAIS - Designativo dos preceitos gerais de moral que devem ser observados por todos os membros da sociedade. 11 CAPÍTULO I - MORAL E ÉTICA ATRAVÉS DOS TEMPOS 1.1 - O que é moral e ética? A moral tem sido definida muitas vezes como um sinônimo de ética ou é um termo usado para designar códigos, condutas e costumes de indivíduos ou de grupos. Como estudo psicológico, a moral é explicada por nossos juízos éticos, indicando aprovação ou desaprovação a nossos atos. Está também relacionada com a história presente e passada. Ser moral é reconhecer o bem por aquilo que ele é e praticar a virtude enquanto totalidade. A ética distingue-se da moral porque é uma filosofia à qual interessa particularmente o estabelecimento e a recomendação de quais tipos de ações ou maneiras de viver devem ser seguidas para considerar as ações como corretas, boas ou virtuosas, em confronto com aquelas que se consideram como incorretas, más ou viciosas. A ética tem um interesse voltado mais para a ação do que para a aprovação de nossos atos; constitui-se mais em direção e explicação desses mesmos atos. Seu propósito principal é estabelecer um ideal, uma norma de conduta ou de caráter, ou seja, um critério ético. As instituições tradicionais, inerentes ao mito e a religião, comportam imperativos explícitos ou implícitos, mas conhecidos pelo homem que elas têm a finalidade de formar. Tais imperativos ou regras, um dia, não são mais considerados suficientes ou a evolução histórica e lógica induz a consciência humana a refletir sobre o que é sagrado ou sobre aquilo que já não o é mais. Todo indivíduo tem uma configuração física e social que depende das diversas sociedades no tempo e no espaço. Trata-se de preceitos sociais originados das instituições. A indagação sobre o problema da ética teve sua expressão em Sócrates através de suas teses sumariamente resumidas em quatro pontos: 1. A virtude pode ser ensinada pela Ciência (conhecimento). 2. Para fazer o bem e ser feliz, basta conhecer a própria natureza. 12 3. A sabedoria é a primeira das ciências, necessária a todas as coisas. 4. A ciência do homem sendo una9 , compreende tanto o que diz respeito à conduta individual quanto as que se referem aos negócios públicos. MARIETTI (1989, p. 32) O importante em Sócrates é o fato de distinguir julgamentos de método e não proposições dogmáticas. Era por meio da reflexão que ele transmitia as mais tradicionais máximas morais, sem que as substituísse por uma fórmula dogmática qualquer. Filosoficamente, a ética é a teoria que leva à prática, já que o conhecimento é um saber como viver. De qualquer modo, a moral relaciona-se com a teoria do valor, isto é, a teoria do que se deve fazer para alcançar o bem, enquanto a ética relaciona-se com a teoria do que se deve fazer. Na teoria do valor, a questão fundamental é saber se o bem pode ser definido e de como fazer para alcançá- lo, além de procurar saber se ele é objetivo ou subjetivo, absoluto ou relativo. Os intuicionistas10 ou naturalistas11 acham que a bondade é uma propriedade intrínseca, indefinível e, por isso, objetiva ou absoluta. Os moralistas metafísicos12 sustentam que o bem pode definir-se em termos psicológicos ou metafísicos e interpretam, como regra geral, que se determina coisa é boa é porque um sujeito ou grupo de sujeitos tenha tomado uma certa atitude a respeito. Para outros filósofos, o valor é objetivo ou absoluto no sentido de que se encontra em um mesmo lugar para todos. Aristóteles, por exemplo, definia o bem como aquilo a que todas as coisas tendem. A ubiqüidade13 do termo valor, para outros, varia de indivíduo para indivíduo e de grupo para grupo, isto é, que coisas diferentes podem ser bem para indivíduos ou grupos distintos. Outro aspecto do problema é saber que coisas são boas, qual é o bem, o que é o supremo bem, e assim por diante. A pergunta oscila entre aqueles que dizem que o bem consiste no prazer, na satisfação ou em algum estado sentimental e aqueles outros que 9 Único / sem divisões - Ciência como parte de um todo Pessoas partidárias do Intuicionismo - a intuição guia suas normas e padrões de vida 11 A natureza tudo prove, baseados na natureza. 12 Indivíduo incompreensível pela nebulosidade de suas teorias. 13 Caráter do ser presente em todas as partes 10 13 acham que o bem é uma virtude, um estado da vontade, do conhecimento ou um estado intelectual. LINS (1964, p. 142) cita que; Jean-Jacques Rousseau dizia ser “a piedade a única virtude natural e que desta qualidade derivam-se todas as virtudes sociais”. Pode-se inferir, então, que a piedade funciona como lei social. A educação moral suscita sempre muitas controvérsias. Sob o ponto de vista de alguns educadores, o currículo em si e a própria atividade escolar trazem subjacente à educação moral. Aqueles de convicções mais rígidas são de opinião que a educação moral não pode ser ministrada na escola porque a moral é a vontade de Deus, ao qual se deve obediência estrita. Os primeiros, isto é, os que defendem a moral como subjacente no próprio currículo a vêem em termos humanísticos mais amplos. A secularização do ensino14 e a educação humanística15 são a expressão das duas correntes. A secularização do ensino que, de forma geral, abandonou a educação religiosa, teve como conseqüência a idéia de que não haveria necessidade dessa modalidade de ensino desde que as crianças devidamente socializadas, pudessem corresponder às exigências do mundo. Mas mesmo alguns partidários da escola laica16 sustentam que a educação sem o apoio da religião torna-se incerta e precária. Para sanar essa dificuldade, são eles de opinião que a educação moral, em lugar de voltar-se para o sobrenatural, deveria estar voltada para a lei natural. No caso, a lei litúrgica17 e a ritualística18 seria substituída pelo método científico. Não endossando nem uma nem outra corrente, o fato é que mesmo num regime democrático necessita-se de uma moral secular para que o homem possa dirigir seu próprio destino, sem que os valores espirituais sejam desprezados. Além de ensinar a respeitá- los, a escola laica julga de sua obrigação ensinar a lealdade, a respeitar a liberdade acadêmica e a liberdade civil, como formas similares de valores que se acham presentes na democracia. 14 Passagem do ensino religioso ao estado Laico Conjunto de teorias e documentos atinentes às humanidades 16 Ensino por oposição ao eclesiástico - Leiga da Religião 17 Ciência que trata das cerimônias, conhecimentos e ritos eclesiásticos 18 Observância dos usos e costumes, pela pragmática, pelo cerimonial 15 14 1.2 - Problema social ou religioso? Da mesma forma como a democracia é direcionada para a dignidade e igualdade do homem, independentemente de raça, sexo, origem cultural e para a livre escolha dos governantes, todos têm direito aos valores espirituais. Partindo ainda do princípio de que a escola tem por objetivo a integração e a unidade social, os partidários da escola laica concluem que sua missão de educação moral está incluída implicitamente. A educação humanística como tal tem o homem como centro de reflexão e por base o respeito à autonomia moral da pessoa humana, atribuindo à comunidade o papel e a função da elaboração teórica e da ordem moral e sua definição prática. Segundo NISKIER (1989, p.57), dentro das chamadas correntes humanísticas, a cristã tanto quanto a marxista tem fé no poder da organização e manifesta uma desconfiança sistemática em relação à liberdade pessoal. É a prevalência do princípio da autoridade sobre o da liberdade individual. NISKIER (1992, p.203) afirma que as correntes libertária e existencialista partem do princípio de que a maioria da humanidade vive em situação de opressão e de alienação moral. Sob esse ponto de vista, essas correntes apontam a experiência comunitária como fonte de autêntica renovação moral, tanto em nível de sistema (normas) quanto no sentido pessoal de desempenho moral. A tendência dos adeptos da educação humanística religiosa é achar possível promover a aproximação de Deus através da experiência humana. Essa aproximação seria feita por meio da ciência e das relações sociais. Acham ainda que, tendo a comunidade o maior respeito pela personalidade humana, uma comunidade cristã chegará a seus propósitos se agir em termos de democracia moderna mais do que através do ensino da religião, em termos estritos. A educação em si mesma, mais do que a evangelização ou a catequização, faria com que o amor a Deus e o respeito pelo outro fossem mais bem apreendidos pela iniciativa humana do que divina. Tal forma de considerar a natureza humana relaciona-se com a teoria pedagógica de atividade do aluno, ou seja, ensinar a religião e aprender a religião são experiências criativas e todas elas levariam a Deus. Concluem então que a educação religiosa consiste na educação em seu sentido mais amplo. 15 Os teólogos da educação admitem que a educação humanística religiosa se situa um pouco acima da concepção laica, mas – ao mesmo tempo – está impregnada da idéia do secularismo. A teologia da educação baseia-se na idéia de algo sobrenatural, partindo não do princípio da autonomia do homem, mas do pensamento divino sobre ele, isto é, que o homem deveria crescer de acordo com as leis de sua própria existência. No entanto, pode-se perguntar: quais as leis que regem a existência? E a natureza humana pode ser determinada pelo que o homem possa saber de si mesmo? A teologia da educação vê a necessidade de suplementar a razão natural com a revelação divina. Tal ponto de vista, porém, incorre na possibilidade de tornar o professor dogmático19 e autoritário. Por sua vez, os adeptos da educação humanística religiosa contrapõem que conduzir a educação dessa forma seria atribuir- lhe um caráter unívoco, contrariando os princípios da educação democrática. Para LARROYO (1974, p.73), São Tomás de Aquino indicava a possibilidade de ser dado o ensino da Moral independentemente do argumento teológico, ao pedir que os professores de filosofia jamais provassem verdades filosóficas recorrendo as palavras de Deus, porque filosofia não é baseada em revelação, mas na razão. Assinalava ainda que a fé e a razão têm como ponto comum Deus, criador da razão e da revelação. Por isso, as duas ciências se harmonizam. Os principais problemas filosóficos da educação podem ser encontrados na moral e na educação do caráter. Nenhum planejamento sobre a educação moral e do caráter pode ignorar que deve existir uma teoria de base a respeito do assunto. A dificuldade, entretanto, reside em como educar para a moral sem incluí- la em um contexto religioso, ainda mais sabendo-se que a moral tem sua origem em usos e costumes de uma comunidade. Assim, moral e social seriam a mesma coisa. Laicistas20 e educadores humanistas têm pontos de vista coincidentes, mas encontram oposição nos teólogos da educação. Para estes, a moral é uma decorrência dos costumes e, também, têm sua origem divina, sendo Deus o regulador da lei moral e não o homem. 19 20 Que se pretende impor com autoridade, autoritário, sentencioso Acreditam no ensino leigo – sem bases religiosas 16 Os Laicistas insistem em que a moral decorre da pressão do grupo social: classe, escola, família. Por sua vez, os teólogos da educação acham que a pressão social é boa, mas não de todo suficiente. Esta corrente não confia numa educação moral sem o envolvimento de um comando divino. Pode-se objetar que o conhecimento do catecismo ou dos mandamentos não garantem com certeza uma conduta moral. 1.3 - A importância da educação familiar, no desenvolvimento moral e ético Outra dificuldade presente é determinar qual o conteúdo do currículo numa educação moral e de caráter. Alguns ensinam moral porque esta conduz à ação, enquanto deixam a ética de lado porque a seu ver, esta enfatiza somente o conhecimento. O fato é que a educação moral dissociada da interdisciplinaridade21 ensina virtudes abstratas e não sua prática. A inclusão de virtudes abstratas no currículo não significa necessariamente que o aluno vá se tornar virtuoso. A questão moral centraliza-se em assumir uma identidade ou criar um identidade própria. Todo sistema moral e uma construção humana e, por isso, deve girar em torno do homem. Existem, sistemas morais que vão de um extremo cultural a outro, mudando apenas de forma e de conteúdo. A moral não é imutável nem definitiva e qualquer sistema moral depende em grande parte do apoio social (político, ideológico, religioso e familiar), representado pelas instituições interessadas em mantê- lo. O juízo moral depende assim do que se entende por moral e ética. Enquanto a moral é a ciência dos costumes, como já vimos, a ética é o aspecto sob o qual esses costumes são encarados. Em outras palavras, a ética é a teoria e a sistematização do conteúdo das palavras nos quais se baseia a conduta de um povo ou de um grupo social. Sendo o sistema moral uma construção humana, a natureza do homem é o centro e o eixo de toda a problemática moral. Assim, um sistema moral teórico e a definição de um projeto moral pessoal encerram problemas fundamentais quanto a seu ponto de partida. Por exemplo, o moralista considera a moral como uma manifestação codificada de Deus; o 21 Comum a diversas disciplinas 17 humanista vê apenas a pessoa humana; o fisicista22 , apenas a natureza e a chamada ordem natural; o racionalista23 , por sua vez, identifica a ordem moral de acordo com os ditames da razão. Para o idealista, a moral é o reflexo de uma ordem ideal sem relação histórica com a realidade da vida humana. O existencialista, vê apenas a ideologia como seu ponto de partida, cabendo à “esquerda” a tarefa de elaborar uma moral autêntica, capaz de motivar a humanidade para as tarefas históricas que a aguardam. Qualquer que seja o sistema, entretanto, é imprescindível que a legitimidade de um sistema ético se expresse pelos efeitos que produz ou ajuda a produzir. Essa legitimidade não é adquirida por via autoritária, porque a legitimidade moral e a jurídica não são a mesma coisa. A ordem moral é que confere ao campo jurídico uma legitimidade própria. A obrigação legal pode ser imposta (a ninguém é dado desconhecer a lei), mas a questão moral transcende porque se trata de algo pessoal, baseado na consciência de cada um. Apesar de certo modo convergentes, a obrigação legal desconhece os aspectos subjetivos, enquanto a moral atenta para sua qualidade subjetiva. Da ordem legal surge o dever, da ordem moral surge a virtude. O papel da moral é indicar e orientar a partir da liberdade responsável, não a originada pela legalidade ou pela permissividade. Portanto, o melhor sistema moral não seria o resultado do maior apoio externo, mas aquele decorrente das relações interpessoais, pelo senso de solidariedade e pela responsabilidade coletiva. Seria partir de uma consciência coletiva para uma hiperconsciência. Quanto mais baixo o nível moral mais necessárias se tornam as leis e o exercício da autoridade e tanto mais esta é reforçada mais se dificulta a evolução moral sadia. A disciplina moral é indispensável para o desenvolvimento da personalidade humana. São dois os elementos importantes na disciplina moral: 1º. A possibilidade de opção; 2º. A capacidade de auto-regulação. Por possibilidade de opção entende-se um saber intuitivo a respeito de tudo de que o indivíduo necessita para seu pleno desenvolvimento; seria o senso moral. Já a capacidade de auto-regulação é uma atividade de autonomia, isto é, o indivíduo é legislador de si próprio, mas enfrenta a responsabilidade por suas ações. 22 Aplica a doutrina que pretende todos os fenômenos biológicos sejam fundamentalmente redutíveis a fenômenos fisico-químicos; mecanicismo 23 Que segue as idéias, na qual a razão é considerada fonte de conhecimento independente da experiência 18 Trata-se além do mais de uma realização comunitária, como se entre a comunidade e o indivíduo houvesse uma interação dialética24 . As medidas de controle externo não levam ao aprimoramento da responsabilidade moral e daí a responsabilidade social fica reduzida ao medo. A incapacidade de ser responsável significa a incapacidade para ser livre e quando a responsabilidade foge da pessoa para a estrutura anônima, a liberdade está em perigo. Sendo os atos humanos em seu sentido específico o objeto da moral, qualquer ação humana é ipso facto (por isso mesmo) moral. Não há ação humana neutra ou indiferente: ou é boa ou é má. Aristóteles via o objetivo da vida humana como uma atitude racional para com as sensações e os desejos. Para ele, a vida justa é aquela em que o homem concretiza a parte suprema de sua natureza, a razão. Além do mais, o homem não é forçado a agir (com nobreza, justiça, honestidade) de acordo com as virtudes porque sua própria natureza o impele para as boas ações e não por imposição de qualquer autoridade fora dela. A virtude é o maior bem do homem, mas na opinião de Aristóteles, ela é uma disposição ou hábito: o homem torna-se moral executando atos morais. O Iluminismo25 , declarava que existiam em todos os critérios, os do bem e do mal, que a razão natural prescindia da religião revelada e que um mundo moral e uma sociedade justa seriam possíveis sem os suportes dos ensinamentos da religião. No plano empírico, acreditava o Iluminismo que o homem se relaciona com o mundo exterior através das sensações. A moral seria fundada então na sensação do prazer e do desprazer e o interesse do homem estaria justamente em evitar o desprazer. Kant julgava que a moral não tinha fundamento nas paixões ou sensações, mas sim na própria razão. No que se refere ao individualismo, as relações do indivíduo, com a “polis”26 foram substituídas pelas noções de felicidade individual e pela auto-realização. O universalismo, assegurava que os homens são todos iguais, com as mesmas disposições racionais, movidos por motivos e interesses idênticos e com os mesmos valores. 24 Argumentação dialogada, segundo a filosofia antiga Movimento filosófico, a partir do séc. XVIII, em oposição ao obscurantismo da Idade Média, baseando-se na concepção mecanicista da vida natural e humana 26 Onde o conhecimento era conquistado por um ato de liberdade intelectual. O modelo individual era não o sábio, mas aquele que aspirava à sabedoria, o filósofo (Grécia clássica) 25 19 No mundo atual, esses princípios sofreram modificações. Como diz Sérgio Paulo Rouanet, não mais existe fé para que a escolha moral seja baseada na razão, na individualidade e na crença em verdades universais. Não há mais consciência moral no indivíduo, mas em normas, usos e instituições que resolvem os dilemas morais de cada um. No entanto, diz ele: “Tenho a impressão de que possamos reter os elementos positivos da filosofia ética da ilustração como a idéia da existência de um fundamento racional, secular para a moralidade; reter o direito à autovalorização individual e à autofelicidade, como também a idéia, que não deve desaparecer nunca, de que o indivíduo tem direito de julgar a sua comunidade, em vez de ser um mero objeto de uma engrenagem na vida coletiva. E reter o universalismo de uma maneira menos ingênua, reconhecendo plenamente a existência de diferenças, mas postulando acima das diferenças e, além delas, a necessidade de ajustar todas, nivelando as diferenças, sem que isto signifique o fim das particularidades em que reside a riqueza do ser humano, mas que deve estar no bojo de um projeto, de uma utopia, de uma comunidade argumentativa universal.” NISKIER (1992, P.103,104) “Educação como ponto de vista individual tem sua origem no verbo latino educare, que significa fazer sair, conduzir para fora. O verbo latino expressa nesse caso, a idéia de estimulação e liberação de forças latentes”. HAYDT (1998, p.11,12) Os dois termos para educação estão ligados ao aspecto formativo. Já definido o que vem a ser ética, moral e educação, precisamos saber a integração que existe entre esses termos. Concordamos com KONDER (1990, P.19,20), quando diz, desde o passado que já se fala em ética, moral e educação. A ética é a teoria, os conceitos, as teses, os ideais do ser humano. A moral é a prática, a vivência do ser humano. Ética e moral é um somatório onde se tem a virtuosidade, virtuosidade essa que Aristóteles defende. Aristóteles foi o verdadeiro fundador da ética como disciplina independente da metafísica. Questionou veementemente a idéia platônica27 de bem, considerando-a vazia por sua generalidade. Preocupou-se com o bem, em termos do que é bom nas ações humanas. Para o estagirita28 o fundamento do conhecimento moral do homem está no desejo, na vontade (oresis). Seu desenvolvimento se dá mediante uma atitude, uma disposição estável (hexis), que os escolásticos vieram a traduzir por habitus. 27 28 Alheio a interesses ou gozos materiais Pessoa natural de Estagira (Macedônia antiga – cidade de Aristóteles) 20 Assim o próprio nome ética indica que Aristóteles baseia a virtude (arete) na prática e no ethos. O que mais se destaca na reflexão aristotélica é um conjunto de conceitos bem precisos acerca da finalidade da ação humana, da felicidade, da virtude, da contemplação, da arte, da moral e de suas relações com a práxis29 e política. Suas idéias, foram amplamente aproveitadas pelos filósofos cristãos posteriores, tendo sido definitivamente incorporados à filosofia tomista. Se formos ler o texto de Aristóteles intitulado Ética a Nicômaco, verificaremos que o filósofo grego coloca na sua ética a virtuosidade. A razão pelo qual inclui tais virtudes é clara dentro da filosofia aristotélica: uma vez que a ética é definida como uma “arte de viver”, como uma busca da felicidade, faz sentido incluírem-se nela traços de caráter e condutas que são necessários ao alcance desta felicidade. A escola tem como obrigação educar resgatando valores, pois se fala em ética na política, ética no trabalho, ética profissional, designam certas pessoas como éticas e outras como não éticas, como não poderia deixar de acontecer, fala-se em ética na educação. No mundo da educação, quem propuser uma educação moral corre o risco de ser visto não somente como saudosista de um período ainda recente de nossa história, como favorável a uma imposição implacável de valores e condutas, privando o aluno da liberdade de escolha. Agora, falar em formação ética carece garantir uma imunidade pedagógica contra toda e qualquer tentação de autoritarismo (falar de moral) ou de laxismo (não falar de ensino de valores). O que se espera é que o educador faça o educando assumir sua existência segundo valores que não são imposto mais propostos e que o próprio educando atualiza. Na relação pedagógica, o educador dá de si mesmo, de seu ser, da sua existência. No primeiro aspecto deduz que as relações entre educação e a moral não são acidentais e sim necessárias, porque a educação é fator de moralidade, contribuindo para a atualização e desenvolvimento de valores éticos, particularmente por meio da educação moral. No segundo aspecto, é da filosofia moral que a educação recebe os princípios e o critérios para a determinação dos fins e dos meios da ação educativa. Embora necessárias, as relações entre ética e educação são múltiplas e complexas, seja pela natureza de ambos, seja porque vivemos um período crítico no qual os valores 29 O que habitualmente se pratica; uso estabelecido; pragmática 21 morais estão muito conturbados. E é justamente em situação de crise que a educação moral se faz indispensável, embora sejam maiores as dificuldades para praticá-la. Nossa sociedade é hedonista30 , ou seja, cada qual busca a satisfação de suas necessidades, tendo como objetivo o bem individual. Que moral os mestres devem ensinar, se a sociedade está caracterizada por extremado pluralismo ético ou apatia moral desagregadora da própria noção de valor e de valor e de obrigações morais? A educação moral não se faz simplesmente pela aprendizagem intelectual das normas éticas, mas pela aquisição dos habitus que elevam à formação do senso moral. Podem ser consideradas como tarefas da educação moral: Fazer conhecer as normas éticas e saber agir corretamente; Assegurar que a conduta do educando seja conforme essas normas. Constata-se uma certa perplexidade na escola moderna quando se trata da educação moral. Diante da ausência de um sistema de valores éticos de validade reconhecia e capaz de servir de fundamento à ação pedagógica da escola no campo da formação moral e, considerados os obstáculos que a ela se opõem, explica-se a dificuldade em responder satisfatoriamente à indagação: a educação ética e moral é possível? “Não há educação do homem em geral, mas a educação toda sempre está voltada para a formação de uma Personalidade concreta, um ser individual portador de uma originalidade irredutível. Por isso mesmo, todo processo educativo deveria ter como base o princípio da individualização.” (John Dewey, 1989, p.27) “O processo de desenvolvimento do aluno, enquanto ser capaz de aprender, sim, mas a partir de competências singulares.”(Preocupação constante de Sucupira) (OLIVEIRA, 1996, p.27) 1.4 - Professores – A necessidade de conscientização de debater ética e moral. “Educação é um conceito amplo que se refere ao processo de desenvolvimento unilateral de personalidade, envolvendo a formação de qualidades humanas (físicas, morais, intelectuais, estéticas) tendo em vista a orientação da atividade humana na sua relação com o meio social, num determinado contexto de relações sociais. A educação corresponde, pois, a toda modalidade de influências e inter-relações que convergem para a formação de traços de personalidade social e do caráter, implicando uma concepção de 30 Doutrina ética, ensinada por antigos epicureus, cirenaicos e por modernos utilitaristas, que afirma 22 mundo, ideais, valores, modos de agir, que se traduzem em convicções ideológicas, morais, políticas, princípios de ação frente a situações reais e desafio da vida prática31 ”. O trabalho docente constitui o exercício profissional do professor e este é o seu primeiro compromisso com a sociedade. Sua responsabilidade é preparar os alunos para se tomarem cidadãos ativos e participantes na família, no trabalho, nas associações de classe, na vida cultural e política. É uma atividade fundamentalmente social, porque contribui para a formação cultural e científica do povo, tarefa indispensável para outras conquistas democráticas. A característica mais importante da atividade profissional do professor é a mediação entre o aluno e sociedade, entre as condições de origem do aluno e sua destinação social na sociedade, papel que cumpre provendo as condições e os meios que assegurem o encontro do aluno com as matérias de estudo. Para isso, planeja, desenvolve suas aulas e avalia o processo de ensino. O sinal mais indicativo da responsabilidade profissional do professor é seu permanente empenho na instrução e educação dos seus alunos, dirigindo o ensino e as atividades de estudo de modo que estes dominem os conhecimentos básicos e as habilidades, desenvolvam suas forcas, capacidades física e intelectuais, tendo em vista equipá-los para enfrentar os desafios da prática no trabalho e nas lutas sociais pela democratização da sociedade. Como toda profissão, o magistério é um ato político, porque se realiza no contexto das relações sociais onde se manifestam os interesses das classes sociais. O compromisso ético-político é uma tomada de posição frente aos interesses sociais em jogo da sociedade. Isso é relatado no filme clássico “Sociedade dos poetas Mortos”, que nos faz entender a ética na educação, resgatando os valores éticos e morais de um colégio bem conservador, em 1959, na Inglaterra, a Welton Academy. Os quatro princípios básicos dessa escola era a tradição, honra, disciplina e excelência, quem deixasse de cumprir era expulso. A intenção era preparar os jovens (adultos) para as melhores universidades, fazendo isso eles se sentiam realizados com os resultados da fervorosa dedicação aos princípios ensinados na escola. Os pais desses jovens queriam que fosse da escola o dever de educar, ensinar, pois era considerada a melhor escola preparatória da Inglaterra. 31 Educação como meio de se chegar a perfeição do ser ético e moral – nota do autor 23 Devido a repressão que é dada a esses jovens, eles aprontam, deixam de cumprir as normas impostas, quando não estão diante dos olhos dos diretores e professores da escola, até mesmo fumando escondido. Os jovens consideram os quatro princípios da academia, como tramóia, horror, decadência e excremento. O pai de um dos jovens não aceita que seu filho seja repleto de tarefas, pois ele deve se dedicar a medicina, profissão que ele, o pai, e a mãe querem que seu filho siga e seu pai não aceita ser contestado, não deixando o filho optar, por isso, sendo motivo de zombaria por seus colegas. Quanto aos professores, passam muitos exercícios e a famosa “forma de decorar” é a ferramenta dos alunos; o rigor dos trabalhos e tudo valendo nota (bem tradicional), exceto o novo professor John Keating (ex-aluno), que tenta fazer com que eles comecem a pensar e descobrir novos caminhos, sozinhos. Começa por dar sua primeira aula no corredor, depois pede que arranquem as primeiras folhas do livro. Os professores tradicionais não entendem e acham que sua aula é mal conduzida. O novo professor procura fazer com que seus alunos pensem por si próprio, acha que os cursos são importantes, mas, os sentimentos são mais importantes que tudo. O significado de “Sociedade dos Poetas Mortos” simboliza os “mestres” a sugar a essência da vida dos discentes. Um dos alunos, decide fazer teatro e o pai é contra, mas acaba interpretando, tendo o papel principal da peça, o pai impede seu filho de continuar fazendo o que deseja e o leva para casa, não sabendo ele que seu filho acabaria com seu sonho de viver realizado e acaba se matando. Esse novo professor acaba sendo mandado embora, pois não segue o currículo estabelecido, pois para o professor, educar é ensinar a pensar sozinho e a escola prefere ficar com a tradição32 . A valorização demasiada, fez com algumas escolas e famílias esquecessem de pôr limites ou regras, tomando o ato da “liberdade33 em libertinagem34 ”, pois não se podia dizer não a uma criança por que deveria “causar um trauma”. Hoje, as crianças, tem uma liberdade, na qual a Escola Tradicional não oferece e os pais as colocam na intenção de 32 33 34 Filme: Sociedade dos Poetas Mortos, 1989, EUA, Abril Vídeo, Peter W., Diretor Que é garantida pelas leis constitucionais, sem que o Estado interfira nem na matéria, nem nos métodos. Desregrado nos costumes, dissoluto, licencioso. 24 resgatar os valores éticos e morais, pois na Escola Nova as ações dada para a liberdade não deram certo. As questões éticas precisam ser avaliadas por todos. A Escola Tradicional exige demasiadamente e a Escola Nova tem como objetivo a liberdade. Qual destas estará com a razão? O uso do celular (professor e aluno), walkman, bonés, o próprio uniforme, lista de chamada, o cigarro (professor e aluno), bem como outros fatores nos mostram que a ética e a moral estão deixando de existir. Qualidade na educação é fingir para o pai que você é rigoroso, fingir para o filho que você dá toda a liberdade e fazer o que tem de ser feito.” (WALDEZ, Luiz Ludwig. Qualidade na educação. O Globo, Rio de Janeiro, 11.out.1998. Educação p.3) Não há como ser ético em uma área e não ser ético em outra. Ao sermos éticos num mundo globalizado devemos ter o cuidado de não ultrapassarmos o direito do outro. Nos últimos anos a escola brasileira tem feito um esforço significativo no sentido de se aperfeiçoar. Uma boa definição do ato de pensar a ética e ser ético, é a busco das referências que conduzem a uma vida melhor. Formação moral se tornou sinônimo de vida escolar, ainda que, naturalmente, toda a formação moral estivesse ligada aos princípios de cada religião. Nas escolas ensinamos o que se precisa para passar nas provas, mas nas sabemos como falar da amizade, do respeito, não debatemos sobre a maldade, não meditamos sobre a alegria, o humor e o riso. 1.5 - Implantar – ética e moral – nos currículos escolares do ensino fundamental. A Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (LDB), no título V, dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino, no seu capítulo 1 da composição dos níveis escolares cita nos seus art. 21 e 32. Art. 21 – A educação escolar compõe-se de: I- Educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; 25 Artigo nº. 32 – Ensino Fundamental – Sobre ensino fundamental, Refiro- me aos anexos do texto, nos itens nº. II, III e IV, pois traduzem uma nova “concepção formativa” do aluno. II - A compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. A escola se tornou um vazio ético, preenchido de conhecimento por todos os lados. Não deveria surpreender que a relação entre professores e alunos tenha atingido níveis críticos de intolerância e desrespeito mútuo. Na vida cotidiana, atravessando a rua, dirigindo um carro, subindo num ônibus, vendo e convivendo com as misérias da vida, o desrespeito um ao outro. A capacidade técnica avançou muito mais do que a humanidade do ser humano. A escola não ensinará ética, porque ética não se ensina. Ética é coisa que se descobre e se interioriza através da reflexão e da problematização, por mais tenra seja a idade, por mais primária que seja a cultura. A família brasileira perdeu, ou está perdendo rapidamente, as referências que constróem o caráter moral do indivíduo e do cidadão. A escola é uma das poucas instituições capazes de atingir a todo o povo. Será certamente o melhor instrumento que teremos a mão para levar os conceitos morais a todos. As religiões que sempre foram o berço da formação moral, estão se tornando instituições concorrentes, disputam o mercado. Um Brasil ético nascera do ventre da escola. O problema não está, portanto, em saber se é importante introduzir na escola a problemática ética; a dificuldade reside apenas em saber como. A postura autoritária é contraditória ao espírito essencial da ética, que respeita a liberdade e a integridade inalienável de cada um. O debate ético aceita a instituição coletiva da autoridade, mas não tolera o abuso autoritário. A razão, no domínio ético, vem 26 de um único ponto: a razoabilidade, a adequação ao bem comum, a sintonia com o direito inalienável à felicidade pessoal. VALLS (1994,p.35) afirma que, ética é polêmica. Que ninguém pode dela participar sem envolver a si próprio. Ética não é ciência. Suas “verdades” podem sempre se alterar, conforme o “ângulo do olhar”. Nossa escola foi preparada para ensinar, os professores foram preparados para ensinar. O que ela sabe ensinar é que o Brasil foi abordado pelo primeiro lugar que avistaram, e foi batizado de Monte Pascal. A escola sabe mostrar que a soma dos ângulos internos de um triângulo é sempre cento e oitenta graus. A escola sabe explicar o movimento dos projéteis, e consegue compreender quando um cientista sustenta que o exercício do arremesso de projéteis, talvez, tenha tido origem na inteligência. Enquanto esses assuntos nos ocupavam, fomos desaprendendo a explorar a alma humana, a discutir a vida. Poucos ambientes são tão próprios à introdução dos problemas éticos quanto o escolar. Inequivocamente, um instituto destinado à construção do ser humano, baseado numa organização coletiva, mesmo que a contragosto ligado à autonomia do indivíduo, direcionando para o debate e tematização de problemas, o ambiente da escola é impregnado, por sua própria natureza, do problema ético. É verdade que a escola se distanciou, perdeu a capacidade de formular e coletivizar posições institucionais sobre seus próprios fundamentos éticos, do trabalho de reintroduzir em cada escola os valores que ela elegerá. Existe um princípio essencial a essa discussão e todos devem estar fartamente alertados para ele: ética, hoje, é conflito potencial. Não existe mais, salvo sobre raros pontos extremos, consenso sobre problemas éticos. Devemos ter consciência de que perdemos, em parte, o sentido destes registros simbólicos e precisamos resgatá- los. No sentido de dar vida à discussão, podemos capturar em programas de televisão problemas que envolvem a ética do comportamento individual, ou comportamento cidadão, trazendo-os para a sala de aula. “As novelas” são uma fonte permanente, com a vantagem de serem acompanhadas por quase todos, tanto crianças quanto professores. As situações e cenas que envolvem controvérsias seriam retomadas em sala e as posturas, então, conceituadas. Depois de conceituadas, podem ser avaliadas. 27 “Você decide” foi um conhecido programa interativo produzido pela Rede Globo mostra como a crise de referências éticas suscita tanto interesse. O programa teve sempre o mesmo formato: define-se uma situação que sempre envolve decisões alternativas, com diferentes implicações éticas. As alternativas básicas de desfecho são apresentadas e o público vota. Para estudantes mais maduros, trata-se de um material que proporciona forte interesse e suscita discussões de aprofundamento, inclusive na direção de identificar valores dominantes de nossa cultura. Uma outra linha de trabalho se encontra em eventos históricos. Os materiais podem ser extraídos de biografias de grandes personalidades, ou de estratégias de determinadas nações, focando os aspectos que envolveram decisões importantes. A análise dessas situações revelará que as decisões tomadas e implementadas nunca eram únicas, nunca inteiramente evidentes, desprovidas de alternativas e teriam conseqüências distintas. Educar não é apenas treinar a razão com vistas a aquisição de conhecimento, e também promover processos que imprimam caráter moral às atitudes. A escola moderna encontra-se perdida por não encontrar quais valores ela deseja ter em seus alunos; para que sociedade ela trabalha seu discípulo; que o aspecto da individualidade é importante. Parece estar, a educação atual, presa ao mito da caverna35 , permitindo que apenas sombras sejam vistas e vozes ouvidas; a luz do sol não é exagerada. Repensar a ética e começar a enxergar o sol, é permitir que outros o façam. Esse repensar deve acontecer com urgência. É preciso dar ao discípulo que hoje há condições para que ele alcance o saber. Para que isso aconteça, o respeito a individualidade e pela capacidade de reconhecer no próximo ser pensante, se efetive na vida daqueles que se definem como mestre da educação. E isso requer um comportamento ético. Levar o aluno a conhecer o seu universo enquanto pessoa particularmente o universo maior que é a sociedade, deve ser o grande empreendimento do educador. Para alcançar esse objetivo, deve o educador trabalhar com habilidades do pensamento, o raciocínio, da investigação, da formação de conceitos, da tradução de códigos. O aflorar dessas habilidades do educando permitirá a percepção de uma visão mais ampla da realidade que o cerca. O educador deve ter como tarefa primeira definir sobre seu papel; o porquê do seu existir. Defina-se como necessário a um projeto social que vai exigir dele ou desafiar, o 35 Aristóteles (1973,p.279) 28 provocar, o despertar do educando, o interesse pela pesquisa, pelo conhecimento que o levarão a uma busca de experiência e compromissos na perseguição ao saber. A atual situação da educação para atender a qualidade educacional está longe. Nós educadores devemos inovar as atividades escolares. Pedro Demo diz: “Que a exigência contínua de atualização pelo menos no sentido de aperceber-se de onde estamos e para onde vamos”. HAYDT (1998,p.52) A educação que precisamos é uma educação de excelência, aquela que permite a construção e reconstrução do conhecimento e sua atualização constante; é construir a atitude de aprender a aprender, é possibilitar ao educando tornar-se crítico, criativo e participativo, solidário como cidadão, em todo o trabalho que exerça. Nós educadores não somos possuidores do saber que transmitimos para o aluno e eles recebem com um ser copiador, mas devemos ser orientadores da aprendizagem, para que a escola se transforme no essencial do aprender a aprender, do aprender a pensar, a pesquisar, a indagar, a descobrir e a questionar. O professor que tem uma visão global do conhecimento, procura manter-se informado e inovar-se, não deve ser uma pessoa treinada, onde levará a repetição e o professor de hoje deve se preocupar com a avaliação, não uma avaliação da qualidade de conhecimento que o aluno adquiriu com o professor, mas do progresso na arte de aprender a aprender e recriar. Cientes de como o mundo nos proporciona um destino comum, um destino que partilhamos para o bem e para o mal, para melhor e para pior, as pessoas poderão desejar de si e dos outros que nossas ações sejam sempre direcionadas pela intenção de fazer com que seja para o melhor. Será isto uma educação para a ética em sintonia com o mundo contemporâneo. Mais que o ensinamento de temas e conceitos; mais que exploração do embate que as situações da vida proporcionam. Será colocar a si próprio em questão, colocar o próximo em questão, colocar a sociedade em questão. A ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, o da moral, considerado, porém na sua totalidade, diversidade e variedade. O valor da ética como teoria está naquilo que explica, e não no fato de prescrever ou recomendar com vistas à ação em situações concretas. 29 A ética parte do fato da existência da história da moral, isto é, toma como ponto de partida a diversidade de morais no tempo, com seus respectivos valores, princípios e normas. A ética não cria a moral. A ética é a ciência da moral, isto é, uma esfera do comportamento humano. “Este movimento de interiorização da reflexão e de valorização da subjetividade ou da personalidade começa com o filósofo Sócrates, e parece que ele culmina com o filósofo alemão Emmuel Kant, lá pelo final do século XVIII. Kant buscava uma ética de validade universal, que se apoiasse apenas na igualdade fundamental entre os homens. Sua filosofia se volta sempre, em primeiro lugar, para o homem, e se chama filosofia transcendental, porque busca encontrar no homem as condições de possibilidade de conhecimento verdadeiro e do livre agir. No centro das questões éticas, aparece o dever, ou a obrigação moral, uma necessidade diferente da natural. O dever obriga moralmente a consciência moral livre, e a vontade verdadeiramente boa deve agir sempre conforme o dever e por respeito ao dever.” VALLS (1994,p.18) A moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social sejam acatadas livres e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de maneira mecânica, externa ou impessoal. Cuvillier diz: 1. É pela profissão que o indivíduo se destaca e se realiza plenamente, provando sua capacidade, habilidade, sabedoria e inteligência, comprovando sua personalidade para vencer obstáculos. 2. Através do exercício profissional, consegue o homem elevar seu nível moral. 3. É na profissão que o homem pode ser útil a sua comunidade e nela se eleva e destaca, na prática dessa solidariedade orgânica. SÁ (1989,p.119) O valor profissional deve acompanhar-se de um valor ético para que exista uma integral imagem da qualidade. O sentido de utilidade pode existir e a ética não se cumprir. Um juízo ético que não é bom na prática deve ressentir-se também de um defeito teórico pois a questão fundamental dos juízos éticos é orientar a prática. As pessoas acreditam que a ética é inaplicável ao mundo real, pois imaginam que a ética seja um sistema de normas simples e breves, do tipo não minta, não roube, não mate. 30 A idéia de viver de acordo com padrões éticos está ligada a idéia de defender o modo como se vive, de dar- lhe uma razão de ser, de justificá- lo. A ética é universal. A ética exige que extrapolemos o “eu” e o “você” e cheguemos à lei universal. A educação é uma manifestação da cultura e depende do conteúdo histórico e social que está inserida. Todo sistema de educação está baseado numa concepção do homem e do mundo. A educação, ou seja, a prática educativa, é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades. Cada sociedade precisa cuidar da formação dos indivíduos, auxiliar no desenvolvimento de suas capacidades físicas e espirituais, prepará- los para a participação ativa e transformadora nas várias instâncias da vida social. Não há sociedade sem prática educativa nem prática educativa sem sociedade. A prática educativa não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mas também o processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais que os tomam aptos a atuar no meio social e a transformá- lo em função de necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade. Em sentido amplo, a educação compreende os processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos estão envolvidos de modo necessário e inevitável pelo simples fato de existirem socialmente; neste sentido, a prática educativa existe numa grande variedade de instituições e atividades sociais decorrentes da organização econômica, política e legal de uma sociedade, da religião, dos costumes, das formas de convivência humana. Em sentido estrito, a educação ocorre em instituições específicas, escolares ou não, com finalidades explícitas de instrução e ensino mediante uma ação consciente, deliberada e planificada, embora sem separar-se daqueles processos formativos gerais. 31 CONCLUSÃO Foi totalmente adequada a formação pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) dos novos parâmetros curriculares colocando a temática ética como um dos temas transversais36 . A questão ética deve receber atenção especial, mas sem ser trabalhada numa disciplina específica. O ideal é que seja explorada a partir de possibilidades abertas pelos diversos conteúdos curriculares. A Ética permeia todo o currículo. Está nas guerras estudadas nas aulas de História, no jeito certo ou errado de falar nossa língua ou no cuidado com o meio ambiente. Além disso, o tema está presente nas relações internas da escola. A convivência democrática entre professores e alunos ou entre colegas vale como uma bela experiência para os estudantes. Os valores morais e éticos que a família transmite as crianças têm sua importância em todo o contexto social, hoje tem se dado muito valor à inteligência e vem se esquecendo da moral e dos bons costumes, ter educação é saber usar tanto a inteligência, quanto a moral. É possível observar hoje que os pais estão muito mais preocupados em "depositar" seus filhos logo cedo em escolas para que aprendam a ler e escrever, do que realmente interessados em educá- los; chegam a pensar, ser da escola a obrigação de educar seus filhos, esquecem que a escola não educa e sim transmite conhecimentos, a maior preocupação da escola é o ensino-aprendizagem. A formação do caráter, a educação moral o despertar do fazer pensar e refletir é um dever da família, mas hoje observamos várias famílias se desestruturando e há uma decadência das estruturas sociais, hoje predomina o relaxamento dos laços morais; já não se sabe nem quem somos e nem para que vivemos. E mesmo com toda esta falta de estrutura a família ainda é a base de tudo, ainda hoje as crianças procuram por esse apoio, é necessário um resgate de valores. 36 Devem permear todos os conteúdos do currículo / Vivência escolar 32 "Vosso raciocínio moral sem dúvida influencia nossa fala moral. Mas às vezes falar apenas é insuficiente. A moralidade é também fazer a coisa certa, e o que fazemos depende, não apenas do nosso pensamento, mas também de influências sociais". MYERS (2000,p.85). Para que esse resgate aconteça é preciso que os pais dêem o exemplo com ações, assim será muito mais fácil a criança assimilar que, o falar e o fazer devem estar lado a lado. "As idéias morais se tornam mais fortes quando resultam em ações, nossas ações alimentam nossas atitudes. Somos tão capazes de passar da ação para uma maneira de pensa quanto de pensar e agir em seguida. Para desenvolver princípios morais mais profundos, as pessoas podem agir com base nos que já têm. Levantar e se manifestar, explicar e defender aquilo em que acreditamos, empenhar dinheiro e energia é crer em nossas convicções com mais vigor". MYERS (2000,p.85). A comunicação entre pais e filhos é primordial para um desenvolvimento saudável e intenso, quando esta comunicação é mal interpretada ou feita de forma a deixar dúvidas, é um dos fatores mais prejudiciais à educação infantil. O poder das palavras dos pais é enorme, através dela é possível estimular, mas também é possível agredir e até traumatizar; se um pai diz que o filho é burro, este pode aceitar e acreditar que o pai está dizendo a verdade e jamais irá se desenvolver. O diálogo é um espaço para mudança de comportamentos, tanto de pais quanto dos filhos, através do diálogo saudável e de reais sentimentos de interesse se de cuidados pelos filhos é possível grandes transformações. Pais bem informados e conscientes de seu "poder", são mais eficientes na "arte de educar" e "ajudar" para que seus filhos se tornem pessoas bem desenvolvidas internamente e socialmente, capazes de agir de forma racional e ainda assim com o poder de amar. Ou seja, os príncipes em potencial a que se destinaram ao nascer. São vários os fatores que fazem com que a família seja o principal pilar da construção do indivíduo como um todo. É na família que acontece o primeiro contato social, que se recebe as influências de cultura e costumes. "A socialização primária é a primeira socialização que o indivíduo experimenta na infância, em virtude da qual tornase membro da sociedade". BERGER e LUCKMAM (1991,p.175). Ao nascer, a criança já recebe toda a cultura da família, ou seja, a herança cultural, que é todo um conjunto de comportamentos; seja o credo, o meio em que se vive, os 33 costumes do grupo à sua volta. Mesmo sem perceber, esta cultura é assimilada pela criança, que ao nascer tem um número limitado de comportamentos para sua sobrevivência, que são as reações ligadas aos reflexos necessários a manter sua vida, é na família que vai aprender uma série de costumes, de manias e de comportamentos sociais, e por isto a família e suas influências são tão importantes ao desenvolvimento escolar e social da criança. "Os psicólogos concordam sobre a grande importância da família na determinação de nosso traços de personalidade. Os pais e as condições do lar moldam a criança, em seus primeiros anos de vida" BARROS (2001,p.55). O respeito mútuo, a justiça, o diálogo e a solidariedade são pontos de destaque dentro do conteúdo de Ética nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental. A importância de incluí- los no programa se torna clara quando as diversas etnias, culturas, religiões e opiniões presentes na formação da população brasileira são levadas em conta. Essa diversidade gera preconceitos que se manifestam na forma de intolerância ou desprezo com relação ao que é diferente. Seus alunos devem saber que todas as pessoas são dignas de respeito, não importa sexo, idade, cultura, raça, religião, classe social ou grau de instrução. Parâmetros Curriculares Nacionais - 1ª a 4ª - ÉTICA - Deixe claro para a turma que todos devem ser respeitados, não importando o sexo, a religião ou a etnia. Conflitos são resolvidos com diálogo. Respeitar as diferenças é fundamental. É preciso construir uma sociedade justa. O trabalho do professor em sala de aula no que diz respeito à Ética deve possibilitar ao aluno ser capaz de: Compreender o conceito de justiça e perceber a necessidade da construção de uma sociedade justa; Respeitar as diferenças entre as pessoas; Ser solidário e rejeitar discriminações; Aplicar os conhecimentos adquiridos na escola para construir uma sociedade democrática e solidária; Valorizar o diálogo como forma de esclarecer conflitos e tomar decisões coletivas; 34 Construir uma imagem positiva de si, confiar em sua capacidade de escolher e realizar seu projeto de vida e legitimar as normas morais que garantam a todos essa realização; Assumir posições, considerando diferentes pontos de vista e aspectos de cada situação. Parâmetros Curriculares Nacionais - 5ª a 8ª - ÉTICA - Para falar de ética é preciso lembrar conceitos como respeito mútuo, justiça, solidariedade e diálogo. · A ética está em todas as disciplinas. · Faça da escola um ambiente participativo. · Saiba lidar com a punição de alunos. Fazer parte de um grupo ou de uma comunidade exige do cidadão conhecer as normas que regem a conduta aceita nos mais variados âmbitos, como o social, o cultural e o político. Os PCN definem quatro blocos de conteúdo para o ensino da Ética. Eles foram organizados para que os alunos tenham informações sobre como atuar autônoma e criticamente em uma sociedade democrática. Respeito mútuo - É a valorização de cada pessoa, independentemente de sua origem social, etnia, religião, sexo, opinião. Revelar seus conhecimentos, expressar sentimentos e emoções, admitir dúvidas sem ter medo de ser ridicularizado, exigir seus direitos são atitudes que compreendem respeito mútuo. Justiça - Num primeiro momento pode remeter à obediência às leis. Mas o conceito de justiça vai muito além disso. É a busca da igualdade de direitos e de oportunidades, o que pressupõe o julgamento do que é justo ou injusto. Solidariedade - É a expressão de respeito dos indivíduos uns pelos outros. Ser solidário é partilhar um sentimento de interdependência e tomar para si questões comuns. Solidariedade inclui desde a ajuda a um amigo até a luta por um ideal coletivo da sociedade. Diálogo - A comunicação entre as pessoas pode ser fonte de riquezas e alegrias. É uma arte a ser ensinada e cultivada. Mas atenção: o diálogo só acontece quando os interlocutores têm voz ativa. Limitar-se a impor visões de mundo sem considerar o que o outro tem a dizer não constitui um diálogo. 35 A perspectiva transversal permitirá à criança ter claro que a questão ética não configura um domínio específico, como a história política de sua cidade, o microclima de sua região, as reações químicas entre gases ou as leis de colocação de satélites no espaço geodésico. As crianças perceberão que a dimensão ética remete a alternativas sempre presentes na conduta dos homens. Que não se trata de algo que se aprende como se aprende a subtrair, mas de uma sensibilidade, uma atenção que é construída, e, em alguns momentos, aplicada. A exploração dos temas éticos deve ser feita no sentido de cultivar a percepção de que a vida envolve sempre decisões alternativas, e que isso gera dilemas, controvérsias, dramas. Mais relevante ainda, que a arte mais sublime que pode ser exercida pelo homem é a construção de sua vida com beleza, com elegância, como se fosse um trabalho artístico. A cultura ética os levará a perceber que, efetivamente, vida é uma obra de arte aberta, que os preceitos éticos são como técnicas de uma arte de viver melhor a vida, uma arte, que envolve sempre a sua própria vida e a vida dos que estão ao seu lado, voluntária ou involuntariamente, todos juntos na mesma travessia". VALLS (1994,p.85) Se nós educadores não mudarmos os diversos aspectos das relações sociais na escola, ficaremos vivendo de sonhos, ou somente no que está registrado no regimento escolar. E é o que está acontecendo, quando nos referimos a formação ética, observamos que é muito bonito e fácil o que está escrito ou falado, mas a prática não acontece. A busca pelo bem comum está envolvendo discussões e reflexões éticas e morais. A prática do professor deve estar baseada na prática do aluno para que tenha um sentido e possa refletir sobre problemas éticos e morais. A importância da família na educação é fator primordial ao desenvolvimento escolar e social da criança, é na família que se tem os primeiros contatos com os valores e as culturas sociais, é a partir daí que se formará o caráter e se desenvolverá todo o modo de ser e agir da criança, seja com grupos de colegas (amigos), como no seu desenvolvimento escolar. "Nenhum cientista social duvida que a família seja importante no desempenho educacional dos jovens" FERREIRA (1993,p.66). "A criança compartilha originalmente dos valores e atitudes de seus pais, não, exatamente, pelo modelo, mas através do próprio "superego" deles. Assim, recebe idêntico conteúdo e o superego torna-se o veículo de tradição e de todos os ancestrais valores que, por esse processo, tem sido transmitidos de geração em geração". SIMÕES (1993,p.18) 36 A forma que a criança vai reagir frente aos problemas sociais vai depender das experiências recebidas nos primeiros anos de vida; sua capacidade de tolerar e de saber lidar com toda a tensão da sociedade, é um reflexo da segurança ou insegurança de seus pais, ao passar a realidade do que acontece na sociedade, de modo verdadeiro sem tentar enganar a criança, é preciso que a criança aprenda desde cedo que existem momentos difíceis e de grandes sofrimentos na vida de todos, se não foi dada a criança à oportunidade de viver esta realidade, estará sendo negado a oportunidade de se crescer com as adversidades da vida e não se terá boa reação frente aos inúmeros problemas sociais do dia-a-dia. Se as crianças não fizerem parte do processo de desenvolvimento social e não tiverem plena consciência disso, ao se deparar com algum problema vai preferir não "crescer", não crescendo, não se assumem responsabilidades e não se desenvolve. Por isso o diálogo é parte integrante do desenvolvimento social e escolar da criança. A questão dos limites na educação é outro fator de grande influência no desenvolvimento da criança, uma tarefa nada fácil para os pais, afinal é muito fácil confundir limites com autoritarismo, existe um certo "medo" instalado nos pais em relação a colocar limites, o dizer não aos filhos achando que isso irá torná- los seres traumatizados, frustados e revoltados, o fato de não dizer não irá sim deixar as crianças sem limites achando que são os donos do mundo e o centro de tudo e a partir daí os pais irão perder o controle de seus filhos e também o respeito que deveria ter sido conquistado com uma certa dose de autoridade, através de muito diálogo, onde devem mostrar o porque de se dizer sim e não, o porque de poder fazer ou deixar de fazer algo e que o direito de um vai até onde o do outro começa. "Verdade. Educar é uma tarefa enorme, variada, complexa, difícil. Mas se tivermos que reduzir a educação a apenas um item, então não resta dúvida: educar é colocar limites corretamente". LOBO (2000,p.523). Os limites precisam ser claros, justos, precisam ser entendidos, para poderem ser aceitos e cumpridos. E fazer cumprir os limites é reforçar na criança a necessidade de têlos em sociedade, afinal sempre que possível, a criança irá tentar transpo- los como que fazendo um teste com os pais, então não é apenas importante colocar limites é importante se fazer cumprir e saber como fazer, porque dependendo do modo da repreensão dos pais, isso poderá trazer influências para o futuro da criança. É importante saber onde e como cobrar os limites, que já devem estar sempre pré-estabelecidos na relação entre pais e 37 filhos esta aí então a importância do bom relacionamento, o que não significa ceder, mas sim serem justos, calmos e compreensíveis dentro do possível limite. É preciso que os pais acreditem que dar limites é um ato de educação, só sabendo seus limites a criança poderá se desenvolver e crescer respeitando os outros e assim serem mais educados e integrados de forma positiva na sociedade. Os pais devem procurar sempre usar de autoridade sem serem autoritários. Ter autoridade não significa ser autoritário, hoje sabemos que o autoritarismo não ajuda na educação e sim amedronta, só que hoje alguns pais chegam mesmo a abrir mão de suas autoridades, e crianças criadas sem autoridade não tem limites e isso traz prejuízos muito sérios a educação. Os pais precisam ter poder sobre a criança, pois isso ajuda na hora que elas precisem tomar alguma decisão. Pais com poder passam para os filhos uma certa segurança, e com segurança aprendem a ter autonomia e independência. É claro que os pais devem dizer a seus filhos o que fazer e como fazer, mas isso apenas até que eles sejam capazes de decidir por si mesmos. Com a presença dos pais junto aos filhos, passando valores, colocando limites, procurando estar presentes, procurando sempre o diálogo e um entendimento, a criança terá uma maior possibilidade de um bom desenvolvimento social e escolar. 38 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ADAMOV, J. e outros. O iluminismo - Século XVIII. Lisboa: Publicação Dom Quixote, 1983. ARANHA, M. L. de A. História da educação. São Paulo: Moderna, 1996. ARISTÓTELES. Ética a nicômacos. São Paulo: Editora Abril, 1973. CAPORALI, Renato. Ética e educação: Educação em diálogo. Rio de Janeiro: Gryphus, 1999. Escola do futuro da Universidade de São Paulo. A biblioteca virtual do estudante brasileiro. Disponível na Internet em: http://www.bibvirt.futuro.usp.br/acervo/paradidat/pens/fundamental/. 10 de fevereiro de 2000 - Arquivo capturado em 29 de agosto de 2001. ESCOLA, Nova. Parâmetros Curriculares Nacionais. São Paulo, especial, 1ª a 4ª, p.67, 2000. ______.Nova. Parâmetros Curriculares Nacionais. 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