ÉTICA E EDUCAÇÃO INFANTIL... CAMINHOS A
SEREM PERCORRIDOS
Célio José Borges
Professor do Departamento de Educação Física-UNIR
Resumo
O presente artigo tem o propósito de apresentar e discutir questões
relacionadas à Ética na Educação Infantil, porém procurando
compreender Ética e Educação Infantil e assuntos relacionados ao
desenvolvimento dos alunos, à escola e às relações constituídas e
construídas em seu interior e na comunidade relacionada a ela. Como
ponto de partida, busca-se refletir questões conceituais, garantias
legais de proteção à criança, para então discutir a escola. Como
conseqüência discute-se também o campo do ambiente sócio-moral,
tanto fora quanto dentro da escola, na sala de aula e aspectos da ação
do professor. Tem-se nesse universo o lúdico como suporte de
atividades que possibilitam a descoberta e a construção de relações,
facilitando aproximações entre professores e alunos. Pensando em
ética e moral como foco do assunto, perpassa também por questões
da prática reflexiva e a construção de identidade e autonomia dos
alunos como sujeitos.
Palavras-Chave: ética; educação infantil;moral; jogos infantis.
Introdução
Ética e Educação Infantil, por si só, são assuntos provocantes,
desafiadores. Em particular, Ética na Educação Infantil revela-se de
extrema importância, daí ser oportuna sua discussão, pois trata-se de
etapa de escolaridade inicial.
Nesse sentido, o desafio aqui não é apenas defini-la e compreendê-la
como uma teoria ou argumento, mas refletir sobre sua abrangência e
sua importância nessa etapa de escolaridade.
Assim, o propósito é situar e possibilitar sua compreensão de forma
abrangente, de como se constituem os ambientes e como se dão as
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relações na escola, na família e da criança com esses segmentos,
além da criança com outras crianças.
Busca-se compreender também as relações entre criança e
educador(a) no contexto das relações professor-aluno, os ambientes
existentes, constituídos e construídos e ainda as estratégias de
aprendizagem, identificando ações pedagógicas que possibilitem
vivenciar a ética.
Utiliza-se, portanto de argumentos com destaque para atividades
lúdicas, por meio de Jogos Infantis, pois, por intermédio de ações do
brincar possibilita-se o estabelecimento, a construção e consolidação
de relações e dos aspectos do desenvolvimento físico, social,
intelectual, emocional e conseqüentemente o moral.
Busca-se, também, na prática reflexiva e na interdisciplinaridade,
sustentação como caminhos, para reflexão e ação sobre a construção
das relações no interior da escola.
Para a discussão desse tema poderão ser estabelecidos alguns
objetivos tais como:
– Refletir sobre os conceitos e dimensões da ética, os
elementos constitutivos do processo ensino e aprendizagem e
as relações entre a escola, a família e os alunos/criança.
– Oportunizar momentos para reflexão sobre os papéis e
funções social e política da escola, quanto a identidade dos
sujeitos e aos segmentos envolvidos com e na ação educativa
da escola.
– Visualizar o estabelecimento das relações no interior da
escola a partir da construção coletiva de seu projeto político
pedagógico.
– Refletir sobre o espaço no projeto pedagógico para utilização
de atividades lúdicas com jogos e brincadeiras para crianças
da educação infantil.
– Discutir sobre os aspectos do crescimento e desenvolvimento
do aluno e da socialização da criança por meio de
brincadeiras e dos jogos infantis.
– Possibilitar aos professores a refletirem suas práticas
pedagógicas e compreenderem a inserção da ética no espaço
do fazer pedagógico. E ainda,
– Propiciar alternativas e experiências sócio-educativas que
resultem em ações participativas e interativas, capazes de
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estimular a formação do verdadeiro espírito de cooperação e
cidadania solidária.
Em se tratando de Ética na Educação Infantil, identifica-se o lúdico,
o jogo e as brincadeiras como fio condutor do crescimento e
desenvolvimento e das formas de pensar da criança, nas
argumentações dos vários autores aqui estudados.
Percebe-se que esse é um assunto pouco discutido no contexto da
educação e no interior da escola, porém, são muitos os autores que
buscam discutir esse assunto, ainda que com nomes diferentes,
procurando situá-lo em situações diversas, relacionando-o com a sala
de aula e nas relações tanto construtivistas, quanto
sociointeracionistas do ambiente escolar.
Para discutir Ética e Educação Infantil, inicialmente busca-se
compreender sua definição, seu conceito, para em seguida
compreendê-lo no contexto da escola e das relações.
Segundo Aurélio Buarque de Holanda(1999)Ética – É o estudo
dos juízos de apreciação referentes à conduta humana,
suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal,
seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo
absoluto. Conjunto de normas e princípios que norteiam a boa
conduta do ser humano. E, Moral – Conjunto de regras de
conduta ou hábitos julgados válidos, quer de modo absoluto,
quer para grupo ou pessoa determinada...Conjunto das nossas
faculdades morais; brio.O que há de moralidade em qualquer
coisa.
E ainda, do mesmo modo, a Declaração Universal dos Direitos
das Crianças – Unicef - de 20 de Novembro de 1959,
estabelece que:As Crianças têm Direitos. Mas na prática,
quanto e em que proporção esses direitos são respeitados e
assegurados às crianças?
1 - Ética na Educação Infantil
Segundo a educação construtivista, considera-se como princípio
fundamental, que um ambiente sócio-moral deve ser cultivado, no
qual o respeito por outros deva ser continuamente praticado. Assim,
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por ambiente sócio-moral, refere-se a toda uma rede de relações
interpessoais em uma sala de aula, permeando todos os aspectos da
experiência da criança na escola.
Entende-se e recomenda-se a convicção de que todas as interações
entre as crianças e delas com seus educadores e seus responsáveis
exerçam um impacto sobre a experiência e desenvolvimento social e
moral das crianças.
Alem disso, há que se considerar ainda, não só o estabelecimento,
mas também a manutenção de um ambiente interpessoal na sala de
aula que apóie, além do social e o moral, o desenvolvimento
emocional e da personalidade.
Ainda que se discuta por esse prisma das relações no ambiente
escolar, há que se considerar a construção das relações da criança
também fora da escola, seja na família, seja na sociedade onde vive,
pois tais vivências influenciam também nas suas relações dentro da
escola.
Tomando por base os estudos de Rheta DeVries(1998), observa-se
que seu trabalho sobre o ambiente sócio-moral sustenta-se em
pesquisas e nas teorias de Piaget, ainda que seu foco primário tenha
sido a epistemologia genética, ou seja, as origens e o
desenvolvimento do conhecimento.
A mesma autora destaca que Piaget(1948), salientou que a vida
social entre crianças é um contexto necessário para o
desenvolvimento da inteligência, moralidade e personalidade.
Aqui cabe uma questão: do ponto de vista das relações entre teoria,
discurso e prática, como se dão as relações entre as crianças e delas
com os professores, no dia–a-dia no contexto da escola, ou seja,
como ela brinca, como ela estuda, como ela pensa, como se
relaciona. Como são construídas essas relações?
Rheta DeVries(1998), afirma que, ainda que Piaget não tenha
continuado seus estudos nessa direção sobre o julgamento moral, ele
demonstra em trabalhos posteriores com propriedade, a
indissociabilidade do desenvolvimento intelectual, social, moral e
afetivo. Direção esta, indicada por Piaget(1954/1981), quanto as
estruturas e funções paralelas para a construção do conhecimento do
mundo físico e social pela criança.
Pode-se então afirmar que a base teórica, desse enfoque sobre o
ambiente sócio-moral e desenvolvimento sócio-moral, sustenta-se
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em alguns paralelos na teoria do desenvolvimento sócio-moral e
cognitivo de Piaget.
O primeiro ponto a ser destacado, é que, da mesma forma que o
conhecimento do mundo físico é construído pela criança, também se
constrói o conhecimento psicossocial, ou seja, o pensamento sóciomoral e o entendimento sócio-moral uma vez em ação passam
necessariamente por transformações qualitativas, daí a necessidade
de compreender essas questões e essas relações como um processo.
O segundo ponto a ser considerado, é que do mesmo modo que o
afeto é um elemento motivacional indissociável no desenvolvimento
intelectual, também os vínculos sócio-afetivos, ou a falta desses,
motivam o desenvolvimento sócio-moral.
Buscando fortalecer a argumentação sobre esse aspecto do sóciomoral, Go Tani, et alii(1988), em seus estudos, também discutem
sobre o desenvolvimento afetivo-social, e nesse momento ajuda a
compreender melhor esse tema pois abordam por um prisma um
pouco diferente. Destacam algumas questões que servem como
pontos para reflexão: Quais as razões que motivam a criança a ter
uma atitude classificada socialmente como agressiva? Quais seriam
os meios para se chegar à compreensão das crianças?
Daí afirmar que há pelo menos duas maneiras que podem ser
utilizadas para poder entendê-las:
- Observando características objetivas da sua maneira de ser e seus
comportamentos evidentes, como a linguagem e a motricidade;
- Observando os aspectos subjetivos ou internos da experiência
individual da criança, estudando qual é a sua consciência em relação
à própria existência e o significado das suas sensações, pensamentos
e sentimentos, segundo ela mesma.
Assim afirmam que essas características, tanto objetivas como
subjetivas, são manifestações processuais do desenvolvimento e,
para conhecê-las e compreendê-las, em qualquer etapa, é necessário
estudar o seu começo. Daí a necessidade de se saber sobre as
influências externas. O que tem sido motivo de estudos com
informações úteis do tipo de forças ambientais que interferem no
comportamento infantil.
Retomando à perspectiva construtivista, aponta-se, ainda para um
terceiro ponto, onde indica que um processo de equilíbrio ou autoregulação pode ser descrito tanto para o desenvolvimento social e
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moral quanto para o cognitivo, ou seja, este equilíbrio envolve,
certamente, a afirmação de si mesmo e o reconhecimento do outro
como um parceiro desejado.
Nesse sentido, o descentramento para se tornar consciente de
diferentes pontos de vista é necessário para ajustes recíprocos,
compreensão mutua em sistemas compartilhados de significado e
coordenação social, para o estabelecimento de limites, pois o conflito
intra e interpessoal exercem papeis fundamentais no
desenvolvimento da auto-regulação nos domínios tanto intelectual
quanto sócio-moral.
Piaget, citado por DeVries(1998), destacou que “auto-regulação”
referia-se a um sistema interno que regula o pensamento e a ação.
Nesse sentido, esses paralelos indicam que as condições para o
desenvolvimento sócio-moral são as mesmas condições para o
desenvolvimento intelectual.
Estudos nessa direção apontam o objetivo educacional do
desenvolvimento cognitivo, aliados a outros que reconhecem
também a importância dos aspectos físicos e afetivo-social,
destacando-se os jogos infantis tanto individuais quanto em grupo, o
que sugere que a educação construtivista não se resume apenas a
conhecimentos físico, jogos grupais, jogos de fantasias, montagem
de blocos, atividades de leitura e escrita como algo mecânico, vai
além disso, ou seja, nessa perspectiva de implementação da educação
construtivista, pode-se perceber, em seus aspectos mais essenciais,
que se envolve mais do que atividades, materiais e organização de
sala de aula, está contida nela a construção das relações.
Dessa forma busca-se então compreender a ética na educação
infantil, nas perspectivas do desenvolvimento sócio-emocional e
sócio-moral. Como fazer uma discussão e compreender como se dão
essas relações? Qual o papel da vida social no desenvolvimento da
inteligência? Quais são os parâmetros para o estabelecimento de
regras para a criança, na família, na escola, na sociedade e/ ou para a
sociedade, mas para que sociedade? Que concepções se busca de
homem, de educação, de sociedade, de família, de escola?
Daí a necessidade de se discutir e compreender o que é social e o que
é moral, o estabelecimento de regras para a boa convivência e não
para o cerceamento, o silenciamento. Também se faz necessário
compreender aspectos da comunidade e responsabilidade, para então
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compreender as relações entre alunos, professores, escola, família e
sociedade, bem como os conflitos existentes nessas relações .
Há autores que a partir de seus estudos apontam a necessidade de que
as crianças devem construir seu entendimento moral a partir da
realidade bruta de suas interações cotidianas. Partindo dessa idéia,
apontam um conjunto de conceitos básicos construtivistas para
determinado tipo de ambiente sócio-moral, bem como o modo
prático pelo qual os professores podem desenvolvê-lo.
Qual é então o papel dos professores nesse processo de construção
das relações e do desenvolvimento da criança? Questão essa que
poderá encontrar argumentações favoráveis, também nos Parâmetros
Curriculares Nacionais para a educação infantil.
Nessa perspectiva das relações no interior da escola e do ambiente
sócio-moral há que se considerar também aspectos do currículo. O
que é educação moral na escola? Isso remete a uma compreensão do
currículo implícito, que consiste em normas e valores embutidos na
estrutura social das escolas, especialmente aqueles relacionados a
disciplina, a obediência. Como então cultivar princípios
democráticos e relacionamentos responsáveis e saudáveis?
Do ponto de vista construtivista, o ambiente sócio-moral, aplicado a
crianças, abrange mais do que princípios democráticos de justiça e
envolvimento pessoal. Há que se compreender a natureza
cooperativa do relacionamento construtivista entre professor e aluno
e a influência das experiências escolares, associadas às experiências
socialmente adquiridas e construídas, no processo de
desenvolvimento da criança, como foco central de uma educação
construtivista.
Compreende-se portanto, nesse caminho, que o ambiente escolar
mais desejável é aquele que promove, da melhor forma possível, o
desenvolvimento da criança quanto aos aspectos físico, social, moral,
afetivo e intelectual.
2 -Considerações sobre Educação Infantil
A educação infantil visa à criação de condições para satisfazer as
necessidades básicas da criança, oferecendo-lhe um clima de bemestar físico afetivo-social e intelectual, mediante a proposição de
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atividades lúdicas, que promovam a curiosidade e a espontaneidade,
estimulando novas descobertas e o estabelecimento de novas
relações, a partir do que já se conhece, das suas necessidades
intrínsecas e extrínsecas. Dentre os seus objetivos a escola pretende:
- Desenvolver, harmonicamente, os aspectos: físicos, emocional,
social, intelectual.
- Propor condições para o desenvolvimento da linguagem e da
capacidade sensório-motor e perceptiva;
- Estimular a capacidade criadora e interpretativa;
- Possibilitar a formação de atitudes morais, atitudes do convívio
social e de maturidade psicológica;
Porém, a escola em seu dia-a-dia tem se tornado um ambiente pouco
atrativo. Cheia de obrigações, de nãos e de regras, entretanto, podese constatar que, há a efetiva possibilidade de utilização do corpo,
exploração do espaço, estruturação temporal e a manifestação das
linguagens oral, corporal e escrita.
A criança, por diversas razões, está se tornando privada da sua
liberdade de criar. O avanço tecnológico e a quantidade de
brinquedos eletrônicos disponíveis e ainda a forte mercantilização do
brinquedo, vem ganhando espaço a cada dia.
Para Vygotsky, citado por Cezar(1995:35) :
... o ser humano trava relações com o meio através de
símbolos em que a linguagem interfere em todos os
processos mentais superiores e dá forma ao pensamento. Ao
interagir com o meio, pela linguagem, o homem vai
transformando o mundo e as suas próprias estruturas
mentais.
Esse desejo de agir irá encontrar além das resistências objetivas, a
recusa, a censura, o proibido, o julgamento do adulto. Este não se
contenta em proibir, tem a necessidade de justificar essa proibição
por um julgamento moral. Tais apreciações verbais, acompanhadas
das mímicas e gestos correspondentes, são freqüentemente
reforçadas por atos: temos aí a punição e a recompensa. Tais atitudes
podem ser percebidas em salas de aula, significando o tolhimento e o
cerceamento do desenvolvimento da criança.
Educação Infantil significa um ambiente intermediário, entre o lar e a
escola, num período de vida em que a personalidade começa a se
formar, é portanto um poderoso socializador e educador, levando a
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criança a desenvolver sua criatividade, promovendo, também, um
equilíbrio geral.
O ingresso na educação infantil representa um marco no
desenvolvimento do processo de separação e individualização da
criança. É necessário uma boa acolhida, um afeto sincero e muita
compreensão para com suas atividades e seus limites. Deve-se
oferecer atividades agradáveis e socializadoras para que possa ter um
desenvolvimento equilibrado, físico, social, intelectual, moral e
afetivo.
3 - A socialização da criança por meio do jogo e do brincar..
Recorrendo a Santomé, (s/d), o mesmo defende que ao nos fixarmos
nas características do jogo e da brincadeira e em suas implicações
para o trabalho curricular nas instituições escolares, há duas
peculiaridades que devemos tomar em consideração, por serem,
segundo Vygotsky(1977), os aspectos mais característicos da
atividade lúdica. A primeira é que o jogo permite criar uma situação
imaginária que facilita aos meninos e às meninas resolver ou
explorar desejos irrealizáveis (por exemplo, dirigir um carro, pilotar
um avião, ser comerciante etc).
O jogo de faz-de-conta, surge em um momento do desenvolvimento
humano em que os adultos exigem das crianças que aprendam a
suportar a não satisfação imediata de seus desejos. Por essa razão, o
jogo imaginativo adquire mais força durante a educação infantil, por
meio dele, as crianças criam situações imaginárias em que têm
possibilidade de obter gratificações imediatas, o que torna a vida real
mais fácil de ser levada.
A segunda característica das situações de jogo e de brincadeira é que
nelas se incluem normas de comportamento que as crianças precisam
seguir para obter êxito. Há sempre regras, mais ou menos
complicadas, que devem ser respeitadas. É impossível jogar ou
brincar sem regras mínimas, principalmente quando duas ou mais
pessoas participam da atividade. As situações de jogo contribuem
para a aprendizagem da auto-regulação.
Conseqüentemente, ganham consciência do valor das regras e
compreendem a necessidade de normas para viver em sociedade. É
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também pelos jogos que se desenvolvem atitudes e habilidades de
colaboração e que se aprende a importância do trabalho em grupo.
Porém, há jogos e brinquedos que constituem um meio de grande
poder de exploração do mundo real, não sendo, por conseguinte,
ideologicamente neutros. Isso nos permite detectar no mercado,
facilmente, brinquedos que reproduzem as mesmas concepções
ideológicas que existem na sociedade.
Em lojas de brinquedos podemos encontrar brinquedos sexistas,
racistas, militaristas, classistas. Incorporam uma visão de mundo e,
normalmente, traduzem os modelos de vida dos grupos sociais
hegemônicos, de suas instituições e formas de vida. Os jogos e
brinquedos se convertem, desse modo, em um recurso privilegiado
de socialização política.
Outros brinquedos, ao mesmo tempo pudicos e vulgares, preservam,
em sua reprodução dos corpos humanos, os mesmos medos das
sociedades vitorianas: pode-se apresentar e nomear todas as partes do
corpo humano, exceto os órgãos sexuais.
Também há jogos como os videogames como Combate mortal ou
Carmageddon são uma demonstração de como se propõe a violência
como única maneira de solucionar os problemas e conflitos humanos.
Estamos diante de jogos militaristas, cujo objetivo é aniquilar
fisicamente o inimigo: o assassinato é cometido de modo muito
realista, por meio de desenhos de grande qualidade. A proibição, na
maioria das situações, contribui para gerar mais curiosidade por
aquilo que se proíbe, chegando, mesmo, a torná-lo mais desejável.
Nesse sentido, o fundamental é converter em objeto de reflexão e
crítica as situações perigosas, injustas e imorais que tais brinquedos
veiculam. Assim como existe uma preocupação em vigiar os
conteúdos culturais dos programas e livros-texto com os quais as
crianças entram em contato, deveria existir uma atenção idêntica à
análise dos jogos e brinquedos que se comercializam no mercado.
É necessário, em síntese, considerar cuidadosamente as dimensões
social, cultural, política, econômica e educativa dos jogos e
brinquedos, bem como sua relação com o currículo e com o ambiente
sócio-moral.
Percebe-se, então, que muitos brinquedos são concebidos com base
em posições adultas e sem a participação das crianças. Isso
demonstra que no mundo do jogo e do brinquedo também se
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produzam censuras, silêncios e distorções da realidade muito
parecidas com as que se verificam nos livros-didáticos.
Ainda nesse contexto dos brinquedos/brincadeiras e do silenciamento
da criança de forma subliminar, encontram-se também músicas
infantis, que fazem parte do folclore brasileiro e do cotidiano da
criança, perpassando gerações. Destaco algumas, conhecidas como
canções de ninar e de brincadeiras de roda, recorrendo a um texto de
autor desconhecido:
- ´´Boi da cara preta ´´...pega essa menina que tem medo de careta....
Como explicar que, na verdade, a música ´´boi da cara preta ´´é uma
ameaça? Que incita um bovino de cor negra a pegar uma criança
(percebe-se ai o preconceito racial inserido nessa singela canção
infantil ao se usar a cor negra como algo negativo, maldoso)?
- ´´Nana neném que a cuca vem pegar...´´?... outra ameaça!Agora
com um ser ainda mais maligno que um boi de cara preta!
Nas cantigas de roda, também: Atirei o pau no gato-to ...demonstra a
falta de respeito aos animais e a crueldade.
Outra que prima pela pobreza: Eu sou pobre, pobre,pobre, De marre,
marre, marre... enfatizando a desigualdade social em versos tão
doces!!! Ainda não menos agressiva: Vem cá,Bitu! Vem cá,Bitu...
Na conhecidissima...Marcha soldado ..mais ameaça. Obedece ou será
punido(é o famoso toma lá dá cá)...induz a admitir tudo de cabeça
baixa... Sem falar que nessa canção está de maneira “inocente”
implícito o temor ao regime de ditadura militar.
Também esta outra...A canoa virou ...Ao invés de incentivar o
trabalho de equipe e o apóio mútuo, as crianças são ensinadas a
dedurar e condenar um semelhante ...
Mais uma ...Samba-lelê ta doente...A pessoa, conhecida como
Samba-lêlê, encontra-se com a saúde debilitada, necessita de
cuidados médicos, mas, ao invés de compaixão e apoio solidário, a
musica diz que ela precisa de palmadas!
Outra sutileza esta na música.. O anel que tu me deste...Como crescer
e acreditar no amor e no casamento?
Da mesma forma...O cravo brigou com a rosa ... retrata a desarmonia
e a violência conjugal.
Enfim esses são alguns cuidados que se precisa ter no processo de
formação e da construção sócio-moral das crianças, tanto na família
como na escola e na sociedade.
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4 - A Construção das Identidades e a Constituição de
Sujeitos e suas relações com a formação sócio-moral
Segundo Geraldi(1999, p.41), A linguagem como forma de interação
– é aquela que além de possibilitar uma transmissão de informações
é vista como um lugar de interação humana, possibilitando o falar e o
ouvir, conseqüentemente um instrumento de interlocução entre
professor e aluno.
Esta concepção situa a linguagem como o lugar de constituição e
construçoes de relações sociais, onde os falantes se tornam sujeitos.
Nessa perspectiva de construção e constituição de identidades,
produz-se sujeitos constituídos a partir de indivíduos. Segundo
Tourraine(1992), pode-se chamar de “sujeito o desejo de ser
indivíduo, de criar uma história pessoal, de atribuir significado a
todo o conjunto de experiências da vida individual”. (Souza, 2001,
p.222).
Pesquisas no campo da pedagogia, da psicologia e da didática
indicam que o ponto de partida e o de chegada para a construção do
conhecimento são as teias das relações sociais e que cada um
constrói seu próprio conhecimento, respeitando-se o contexto das
práticas culturais dos vários sujeitos.
Bakhtin (1988), afirma que:
O homem só pode ser estudado como produtor de textos,
como sujeito que tem voz, nunca como coisa ou objeto e,
nesse sentido, o conhecimento só pode ter caráter dialógico”.
Afirma ainda que... penetrar no mundo da linguagem é
penetrar no mundo da cultura, no interior das relações sociais
existentes, no âmago das interações sociais.
Estes são exemplos de como a linguagem é “palco” (Vogt, s/d), ou
seja, lugar onde os indivíduos se representam e constituem o mundo
e suas situações ao se constituírem e representarem de determinada
forma. Daí a necessidade de se ter e dar ao aluno a liberdade de
expressão, de manifestação, para construção de sua identidade.
Por fim, Vygotsky(1977) sustenta a tese de que a linguagem tem
função central de organizadora e mediadora da conduta, pois por
meio dela é que a consciência se constitui. Nesse processo, procura-
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se então demonstrar como se dá a construção social da consciência
individual, resgatando o papel da criação, do simbólico e do
significado.
Considerações Finais
Observa-se na prática que o desejado ambiente sócio-moral da
maioria das creches e escolas de educação infantil, deixam lacunas,
pois a ênfase está relacionada ao desenvolvimento intelectual,
afetando de forma negativa o desenvolvimento sócio-moral e o
afetivo.
Tal realidade remete a uma reflexão quanto ao relacionamento
cooperativo entre professor e aluno, pautado no respeito mútuo,
minimizando o uso de autoridade desnecessária, do silenciamento, do
disciplinamento, em relação às crianças.
Tal compreensão requer uma visão ampla da relação entre teoria e
prática, pois ações práticas devem estar embasadas em apoios
teóricos, o que às vezes se torna difícil pela falta de uma ciência da
prática educacional, pois as teorias oscilam de uma tendência para
outra ou por modismos pedagógicos numa espécie de tentativas de
erros e acertos.
A convicção dos professores poderá ser reforçada e sustentada a
partir dessa relação, conduzindo-se assim para uma prática reflexiva
sobre o que fazem e como fazem, possibilitando lhes compreender
também o porque ensinam e como ensinam, evitando-se receitas
prontas para forjar o modo de pensar dos alunos, determinados para
serem cumpridos de forma quantificada.
Nessa perspectiva, de um ambiente sócio-moral, há que se dar ao
professor, também, a autonomia da iniciativa e das adequações, onde
ele possa se sentir encorajado e confiante de ser capaz de conduzir
um processo e não de apenas reproduzi-lo, onde possam aprender
como professores e como pessoas. O que recomenda que os
professores não devem ser técnicos de ensino, mas profissionais
teoricamente bem embasados.
Como são constituídas as salas de aula diante da diversidade e do
multiculturalismo que se depara nas escolas? Daí como definir o que
são salas de aula morais? Quando se encontra em escolas públicas a
miscigenação de raças e condições sócio-econômicas variadas, ás
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vezes predominando as famílias de baixa renda. Daí os ambientes
sócio-morais são bem diferentes.
O que são crianças morais? Não necessariamente são aquelas
meramente obedientes e disciplinadas, que conhecem regas morais
de outros, conformadas com as convenções sociais de boa educação.
Mas o que é boa educação?
DeVries(1998) afirma que por crianças morais se entende pessoas
que lidam com questões interpessoais, as quais retratam o seu
cotidiano, fazendo parte de suas vidas.
Qual é o julgamento da criança entre o certo e o errado, o bom e o
mau, ou ainda entre o bem e o mal?
Nessa perspectiva ainda encontram-se argumentos que buscam
esclarecer “como o ambiente sócio-moral influencia o
desenvolvimento da criança”?
Nesse ponto reside o aspecto mais significativo da teoria de Piaget,
em relação ao ambiente sócio-moral, que é a distinção entre os tipos
de relacionamento entre adultos e crianças, gerando efeitos muito
diferentes sobre o desenvolvimento infantil, bem como os benefícios
da interação entre companheiros, em uma sala de aula.
Conclui-se então que muitos são os fatores que estão interrelacionados a essas questões do sócio-moral.
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