Uma semana de reviravoltas...
Após um início de março positivo, os preços da soja registraram fortes perdas
na última semana em Chicago. O movimento, importante sob o ponto de vista
gráfico, já que mais uma vez os vencimentos curtos demonstraram dificuldade
em romper a barreira dos 15,00/bushel, esteve associado a um maior fluxo de
venda especulativo, mas também uma visão mais cautelosa do lado comercial
do mercado, cenário esse que demanda atenção.
Buscando compreender essa realidade, retornaremos um pouco no tempo. Nas
últimas semanas/meses, embora tenha ocorrido uma relativa falta de tendência
sobre os preços da soja em Chicago, os agentes evidenciavam grande
preocupação quanto à realidade dos estoques norte-americanos, já que diante
da problemática safra 2012/13 na América do Sul, o Estados Unidos que por
sua vez também teve percalços no desenvolvimento das lavouras em 2012,
registrou uma demanda mais intensa que o normal no último trimestre do ano
passado e no primeiro bimestre de 2013. Essa expectativa ganhou força,
conforme comentado na semana anterior, quando a precariedade logística
brasileira tornou-se prática e o fluxo de embarques não atingiu o ritmo
necessário esperado pelo mercado. Como resultado deste cenário, o mercado
fortalecia a inversão do preços (ágio dos vencimentos curtos em relação aos
vencimentos mais longos) de forma cada vez mais forte na busca pelo
racionamento da demanda.
No início de março porém, este sentimento positivo presente passou a
demonstrar certo cansaço com recuo dos prêmios de exportação e queda nas
margens de esmagamento no mercado norte-americano e brasileiro, redução
de margens do setor suíno chinês (o maior direcionador da demanda por soja
no país) e, logo em seguida a realidade tornou-se clara: a demanda real pela
soja e derivados norte-americanos estaria perdendo ritmo. No início da semana
passada, dados de inspeções semanais de exportação nos EUA (dados do
USDA que compilam os montantes semanais liberados para exportação)
registraram o menor montante desde o início da colheita no país em outubro de
2012. Na sexta-feira, a principal associação das indústrias esmagadoras de
soja dos EUA (a NOPA), reportou dados de processamento da oleaginosa em
fevereiro significativamente abaixo das expectativas do mercado, ao mesmo
tempo em que confirmou demanda interna por farelo inferior as mais
pessimistas projeções.
Como resultado disto, o mercado respondeu rápido com perdas de mais de 48
centavos/bushel na semana (-3,3%) para o vencimento maio 2013 em Chicago
já que, diante de uma percepção de demanda mais lenta/fraca, a pressão da
safra sul-americana sobre o mercado torna-se mais intensa, ao menos até que
as especulações sazonais em torno do clima norte-americano voltem à tona.
No mercado brasileiro, as perdas também foram relevantes, refletindo além da
movimentação em Chicago, mais um período de fortes quedas nos prêmios de
exportação que por sua vez expõe não somente o fluxo de comercialização,
mas também comprovam a lentidão da demanda/logística.
Mesmo que após as quedas recentes, os preços podem ter espaço para
movimentos pontuais de recuperação, em meio a este cenário temporário de
demanda e a renovação das preocupações com o quadro fiscal europeu, a
expectativa é de que a tônica de cautela predomine sob a movimentação dos
preços nesta semana. É fato que os referencias em Chicago ainda podem
buscar suporte no decorrer do desenvolvimento da safra norte-americana
diante do cenário de estoques de soja no país, mas no curto prazo isto está
distante das lentes do mercado.
Ricardo Lorezent
Coord. De Negócios BSBIOS
Em 18/03/2013
Download

Uma semana de reviravoltas... Após um início de março