A SUA HISTÓRIA DE VIDA 1885: Filhos de Maria Angelina Ribeiro de Abranches e do juiz José de Sousa Mendes, os gémeos César e Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches nascem em Cabanas de Viriato, Distrito de Viseu, Portugal. O seu pai, José de Sousa Mendes, era juiz no Tribunal da Relação de Coimbra. Esta família, muito importante na história de Portugal, torna-se numa das mais conhecidas da região. A SUA HISTÓRIA DE VIDA 1907: César e Aristides licenciam-se em Direito na Universidade de Coimbra e escolhem seguir a carreira diplomática. 1908: Em Portugal, o Rei D. Carlos e o príncipe herdeiro são assassinados A SUA HISTÓRIA DE VIDA 1909: Terminados os seus estudos, Aristides casa com Angelina, uma prima em segundo grau, cuja mãe, Clotilde Amaral de Abranches, também pertencia a uma linhagem nobre. Foi um belo casamento! Aristides e Angelina tiveram 14 filhos A SUA HISTÓRIA DE VIDA 1910: Aristides é nomeado cônsul em Demerara (na Guiana Britânica). Neste ano, ocorre a revolução de 5 de Outubro e a implantação da República. De 1911 a 1916: Aristides é nomeado cônsul em Zanzibar (na Tanzânia); o clima insuportável traz problemas de saúde a toda a família. Em 1914, dá-se início à Primeira Guerra Mundial. 1916: Portugal participa na Primeira Guerra Mundial ao lado dos Aliados. Na batalha de Verdun, ocorre o massacre do corpo expedicionário português. A SUA HISTÓRIA DE VIDA 1918: Termina a Primeira Guerra Mundial, com a vitória dos Aliados (França, Reino Unido, etc.). Aristides é nomeado cônsul em Curitiba (no Brasil), prosseguindo um longo périplo por todo o mundo 1919: Devido às suas convicções monárquicas, Aristides é demitido das suas funções. A SUA HISTÓRIA DE VIDA 1921/23: Aristides dirige temporariamente o consulado português em S. Francisco (no Estado da Califórnia); é nesta cidade que nascem Carlos e Sebastião, respectivamente o seu nono e décimo filhos. 1924: Aristides é nomeado cônsul em S. Luís do Maranhão (Brasil) e, seguidamente, dirige provisoriamente o consulado de Porto Alegre, também no Brasil. A SUA HISTÓRIA DE VIDA 1926: Aristides regressa a Lisboa para prestar serviço na Direcção-Geral dos Assuntos Comerciais e Diplomáticos. A 28 de Maio, ocorre a revolução militar encabeçada pelo Marechal Gomes da Costa. 1927: A ditadura militar portuguesa confia nos serviços de Aristides, nomeando-o cônsul em Vigo (Espanha). A SUA HISTÓRIA DE VIDA 1928: António de Oliveira Salazar é nomeado Ministro das Finanças. 1929: Aristides é nomeado Cônsul-Geral em Antuérpia (na Bélgica) e acreditado no Grão-ducado do Luxemburgo. Foram 9 anos de felicidade passados nesta região da Europa! A SUA HISTÓRIA DE VIDA A família decidiu fixar-se não em Antuérpia, mas em Lovaina. Como razão, Aristides invocou a dificuldade de encontrar alojamento em Antuérpia e a possibilidade de, em Lovaina, os seus filhos mais velhos poderem prosseguir os estudos na universidade. Para mais, em Lovaina existia uma Universidade Católica. A SUA HISTÓRIA DE VIDA Uma vez por semana, Aristides, a família e as criadas iam no pequeno autocarro familiar ver um filme. Todos adoravam as aventuras do Zorro ou um filme com Douglas Fairbanks, Sacha Guitry, etc. Aristides gostava de vestir a sua farda de oficial da Marinha em ocasiões importantes, consoante o protocolo português lhe permitia. Foi ao casamento de Isabelle com Jules d'Août, um estudante que ele conhecera na faculdade. A SUA HISTÓRIA DE VIDA A família Sousa Mendes vivia bem, numa casa muito grande, com criadas dedicadas. Estas, embora recebessem um salário baixo, sentiam que também faziam parte daquela família. A casa era o número 178 da Rue de Bruxelles, em frente à Igreja de Saint Jacques. Os sete anos passados em Lovaina foram de uma merecida estabilidade que muito agradou a todos. Os filhos de Aristides puderam durante estes anos fazer amizades e continuar a estudar sem interrupções. Seis deles frequentaram a Universidade de Lovaina, enquanto os outros seis terminaram o ensino primário e secundário. A SUA HISTÓRIA DE VIDA Todas as semanas, um professor de música e um de desenho iam a casa da família dar-lhes aulas. Os pais seguiam de perto e com atenção os estudos dos filhos. À noite, à volta da mesa, cada um contava como lhe tinha corrido o dia. Esta partilha permitia que todos se sentissem como parte da vida uns dos outros, tornando-os unidos. Era frequente receberem convidados em casa e de vez em quando celebravam algum evento que merecia especial honra. Nesses dias, à refeição seguiam-se concertos e recitais familiares. A SUA HISTÓRIA DE VIDA Os seis filhos mais velhos tocavam piano, violino, rabeca ou violoncelo. Sousa Mendes era um excelente anfitrião e mestre de cerimónias. Sousa Mendes era um excelente anfitrião e mestre de cerimónias. Além disso, cantava Puccini, Mascagni e Verdi e dirigia todo o serão com dignidade e jovialidade. Todavia, durante os anos que passaram na Bélgica, a fé da família foi posta à prova da pior forma, através de duas tragédias que sobre eles se abateram. Manuel, o segundo filho mais velho, que tinha acabado de concluir os estudos na Escola Diplomática, faleceu em Junho de 1934, com apenas 21 anos. José, um ano mais novo do que Manuel, e que lhe era muito chegado, ficou extremamente abatido, ficando incapaz de prosseguir os estudos. O falecimento do irmão marcou-o para o resto da vida... A SUA HISTÓRIA DE VIDA Em 1938: Salazar nomeia Aristides de Sousa Mendes para o cargo de Cônsul-Geral de Portugal em Bordéus, uma cidade bem mais próxima de Portugal. Porém, no início de Setembro de 1939, os habitantes de Cabanas de Viriato ficaram muito intrigados por verem o tio Silvério regressar ao "Passal" ao volante do autocarro familiar dos Sousa Mendes, transportando as crianças mais novas e as empregadas. A SUA HISTÓRIA DE VIDA A Alemanha tinha invadido a Polónia, e a França e a Inglaterra tinham declarado guerra a Hitler. Temendo o pior, Aristides e Angelina decidiram enviar os filhos mais novos para Portugal. Foi assim que Jean-Paul regressou à escola de Cabanas e reencontrou os colegas e amigos; os outros irmãos que regressaram a Portugal prosseguiram os seus estudos em Coimbra. A SUA HISTÓRIA DE VIDA Quando os Nazis invadiram a França em 1940, Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português em Bordéus, contrariando as ordens de Salazar, assinou vistas para fugitivos. Assim conseguiu salvar milhares de vidas, antes de ser afastado do cargo pelo ditador. A SUA HISTÓRIA DE VIDA Em 1940, dado o avanço das tropas alemãs de Norte para Sul e de Leste para Oeste, só Portugal era porta de saída segura para um algures a salvo dos desígnios de Hitler. Eis porque, solicitando um visto, acorriam ao consulado português de Bordéus inúmeros refugiados, sobretudo judeus. Mas a 13 de Novembro de 1939 já Salazar proibira, por circular, todo o corpo diplomático português de conceder vistos a várias categorias de pessoas, inclusive a "judeus expulsos dos seus países de origem ou daqueles donde provêm". A SUA HISTÓRIA DE VIDA Aristides começou por ignorar a circular para desrespeitando totalmente as ordens que vinham de Lisboa. Passava vistos a quantos lho solicitassem. Quando a 8 de Julho de 1940, já sem mais hipóteses de transgressão, regressou a Portugal. Tinha salvo milhares de vida, assinando vistos de dia e de noite até á exaustão física. A SUA HISTÓRIA DE VIDA Nada na biografia de Aristides, até então, fazia prever este acto. Com 55 anos à data dos acontecimentos, casado e pai de 14 filhos, servia o "salazarismo (fascismo) tal como antes servira a I República. Era de tradição monárquica e católico. Foi simplesmente comovido pela aflição de "toda aquela gente" que não "podia deixar de me impressionar vivamente", como ele disse no seu processo de defesa em Agosto de 1940. A SUA HISTÓRIA DE VIDA Regressando a Portugal, Aristides foi dado como culpado no inquérito disciplinar e despromovido Salazar reformá-lo-ia compulsivamente com uma pensão mínima. Os recursos de Aristides para os tribunais seriam em vão. Sem dinheiro, Aristides era socorrido pelo irmão e pela comunidade judia portuguesa. A SUA HISTÓRIA DE VIDA Do recheado solar da família, em Cabanas de Viriato tudo ia sendo vendido. Os filhos de Aristides iam-se dispersando, a mulher Angelina, morreu em 1948, e ele casou novamente mais tarde. No dia 3 de Abril de 1954, Aristides morre de uma trombose cerebral e de uma pneumonia no Hospital da Ordem Terceira em Lisboa. Embora o epitáfio na sua lápide reconheça os méritos de Aristides com as palavras "Quem salva uma vida, salva o mundo."