A construção do papel do psicólogo hospitalar Psicologia ou Psicologias? • Muitas perspectivas: – – – – Filosóficas; Abordagens teóricas; Visões sobre homem; Campos de atuação. Uma delicada transição • Campo de destaque do psicólogo? – Psicologia clínica • Que clínica é essa que se faz em uma instituição? Uma delicada transição • Características da psicologia clínica: – Setting terapêutico que privilegia: • • • • • Encontro individual; Silêncio; Privacidade; Sigilo; Atenção exclusiva àquele paciente; Uma delicada transição • Características da psicologia clínica: – Abordagem: • Ampla, quando não é uma terapia breve; • Os assuntos emergem de acordo com a necessidade do paciente; • O tempo não costuma definir a terapia; • Questões relacionadas aos períodos da vida irão ser abordados em algum momento (infância, adolescência, relação com familiares, amigos, etc). Uma delicada transição • Características da psicologia clínica: – Resultados: • A curto, médio e longo prazo; • Muitas vezes não imaginados, uma vez que são resultado de uma ampla e profunda reconfiguração do campo; – Interação com outros profissionais: • Pode ou não ocorrer; • O contato pode ser por telefone, relatórios, etc. Uma delicada transição • Psicologia clínica e psicoterapia como sinônimos? – Chiattone (2000) diferencia: • “psicoterapia vincula-se ao fazer do psicólogo clínico” (p. 91); • Psicologia clínica nas instituições: muitas adaptações; • Quando consideradas como sinônimo: psicólogo tende a desconsiderar o tipo de serviço e as necessidades presentes. Uma delicada transição • Transposição do modelo clínico ao hospital: – Tendência a atividades individuais de consultas em consultórios; – Isolado do equipe; – Pouco presente nas Unidades/setores do hospital; Uma delicada transição • Transposição do modelo clínico ao hospital: – Pouco contato com a família; Retirada do contexto da hospitalização Uma delicada transição • Muitas vezes, baseados no modelo clínico tradicional, psicólogos: – Duvidam da cientificidade de sua prática; – Questionam a eficácia de suas intervenções; – Não reconhecem a diferença do seu papel. Uma delicada transição • Se o papel para o psicólogo é confuso, para o Hospital também é: – Para os outros, o psicólogo é especialista em problemas psicológicos; – Para o psicólogo, a assistência é para pessoas com problemas orgânicos; Uma delicada transição • Um paradigma dominante: biomédico; • Psicólogo: visão mais holística do adoecimento; • Diante da prática biomédica, “o diferente é o profissional de saúde mental que adentra ao hospital com um saber distinto e uma prática quase sempre estranha à rotina hospitalar” (Chiattone, 2000) Uma delicada transição • Muitas vezes: a prática encontra resistências: – Questionamento do papel; – Encaminhamentos indevidos; – Relação de poder muito autoritária; • Mesmo contexto, mas modelos de atuação diferentes; Uma delicada transição • Nesse sentido: – Um psicólogo aplicador de testes apenas para complementar diagnósticos médicos; – Um psicólogo consultor; – Um psicólogo que presta assistência psicológica à equipe ou de treinamento, não está realizando uma tarefa característica da psicologia hospitalar. Uma delicada transição • Interesses institucionais: – “Bombeiro”: convencer a fazer uma cirurgia, tomar medicação, não sair de alta a pedido; – Interesses institucionais envolvidos na tarefa na medida em que ela se refere ao bem-estar do paciente. Uma delicada transição • No contexto hospitalar: – Psicólogo está onde está o paciente e os acontecimentos: enfermaria, U.T.I., C.C/C.O., ambulatório; – Nova espacialidade; Uma delicada transição • Nova espacialidade: – Legitima a inserção em uma instituição; – Admite outros profissionais; – Admite outros pacientes: • Microcosmos social; – Considera a família; Uma delicada transição • Nova espacialidade: – Admite a formação de grupos; – O atendimento considera a demanda; • Atendimento psicoterápico; • Psicoeducação. Uma delicada transição • Está inserido em um tempo da instituição e da evolução da doença: nova temporalidade; • Nova temporalidade: – Grande rotatividade; – Tempos sobrepostos (psicanálise): tempo de ver, tempo de compreender, tempo de concluir Uma delicada transição • Tempo de ver: o sujeito é impessoal; • Tempo de concluir: é quando o sujeito se declara o que é; • Urgência: diante do desespero, não se fala ou, quando se fala, a fala não se articula ao dizer (Silva, 2003). Uma delicada transição • Tempo de compreender: precisa ser privilegiado: – Nas urgências, a pressa escancara as verdades, nem sempre suportáveis, e o sujeito instaura um tempo fora do simbólico; – A compreensão é atribuir sentido ao que ocorre, poder fazer contato com a realidade sem desestruturar-se; Uma delicada transição • Nova temporalidade: não há definição do quanto deve durar um atendimento: – Longo atendimento pré-cirúrgico, na sala de quimioterapia; – Curto atendimento a pessoas com dor intensa, sonolentas; – Pode ser um único atendimento ou ocorrer durante um longo tempo de internação; Uma delicada transição • O atendimento precisa trazer alívio, diminuição do estresse, algum nível de elaboração da situação trazida, ampliação da consciência sobre o adoecimento o tão rápido quanto possível; • Consciência de que o efeito do atendimento não termina com o final do atendimento. Do modelo clínico tradicional à psicoterapia no hospital • Existência de um momento crítico: doença e hospitalização – possibilidade de morte; • Crise: intervenção focada nela; • Aspecto preventivo: evitar a progressão do desequilíbrio diante do adoecimento, internação e hospitalização: – Ameaça de aniquilamento e morte; – Sentimentos e fantasias “primitivas” Do modelo clínico tradicional à psicoterapia no hospital • Intervenções podem adquirir potencial terapêutico muito amplo; • Ação terapêutica predominantemente egóica: – – – – – Táticas de interpretação educativa; Validação das emoções; Organização da realidade; Tentar evitar a regressão emocional; Estímulo à afirmação pessoal. O papel do psicólogo hospitalar • Considerando: – – – – – A instituição; A nova espacialidade; A nova temporalidade; A urgência; A família e a equipe, além do paciente... O papel do psicólogo hospitalar • Psicólogo no hospital: • Atua no nível (Romano, 1999): – Psicoprofilático; – Psicopedagógico; – Psicoterapêutico. O papel do psicólogo hospitalar • Psicoprofilaxia: – Estabelece vínculo entre paciente e psicólogo; – Atua no preparo para uma situação; – Voltada para a prevenção de um agravo; – Possibilita dar retorno à equipe sobre a situação do paciente; O papel do psicólogo hospitalar • Psicoprofilaxia: – Envolve oferecer informações; – Checar o estado emocional atual, – Avaliar possíveis elementos que precisam ser trabalhados para não serem geradas dificuldades posteriores. O papel do psicólogo hospitalar • Psicoprofilaxia: – Cirurgias; – Procedimentos novos; – Procedimentos invasivos. O papel do psicólogo hospitalar • Psicopedagógico: – Informação contribui para a diminuição do estresse; – Essa informação pode potencializar-se: cuidado, autonomia, autoresponsabilização, melhora na interação com a equipe; – Envolve dizer várias vezes: psicólogo checa como essa informação chega para o outro – “como você se sente quando te digo isso”; O papel do psicólogo hospitalar • Psicopedagógico: – O psicólogo precisa conhecer a situação em que o paciente está envolvido: O papel do psicólogo hospitalar • C O papel do psicólogo hospitalar • Psicopedagógico: – Envolve a equipe: • • • • Humanização; Grupos sobre morte e morrer; Discussão de casos no ponto de vista da psicologia; Como se comportar frente a uma questão sobre sexualidade ou violência O papel do psicólogo hospitalar • Psicoterápico: – Foco é no adoecimento; – Envolve oferecer o atendimento e gerar uma demanda; – Envolve reconhecer e sustentar a demanda; – Abordar os aspectos que o paciente elege como importantes; – Introduzir elementos que ele desconhece e que favorecerão uma elaboração; O papel do psicólogo hospitalar • Psicoterápico: – O atendimento pode se repetir, mas a sessão se encerra nela mesma; – A idéia é potencializar a intervenção, mas também considerar que “pouco” pode ser muito; – Corredores, elevadores, sala de ordenha, centro cirúrgico, portaria, admissão, beira do leito, emergência são lugares de trabalho. O papel do psicólogo hospitalar • Somos os únicos a oferecer essa escuta diferenciada que privilegia o sujeito, o seu campo, a sua subjetividade; • Essa escuta contempla a doença, mas a atravessa; • Estamos na busca do Ser.