25 SET 2014 • 21:00 • SALA SUGGIA ORQUESTRA METROPOLITANA DE LISBOA Concerto Caixa Geral de Depósitos pedro amaral direcção musical 1ª Parte 2ª Parte Richard Strauss Sinfonia nº 2 em Fá menor, op.12 Piotr Ilitch Tchaikovski Sinfonia nº 4 em Fá menor, op.36 [1884; c.48min.] [1878; c.44min.] 1. Allegro ma non troppo un poco maestoso 2. Scherzo 3. Andante cantabile 4. Finale: Allegro assai molto appassionato 1. Andante sostenuto – Moderato con anima 2. Andantino in modo di canzona 3. Scherzo: Pizzicato ostinato – Allegro 4. Finale: Allegro con fuoco Os modelos sinfónicos românticos e o jovem Richard Strauss APOIO A CASA DA MÚSICA É MEMBRO DE A Segunda Sinfonia de Richard Strauss (1864‑1949) é uma obra significativa do seu período de juventude, frequentemente se‑ cundarizado em relação a outras fases da sua carreira. A obra antecedeu a composi‑ ção dos poemas sinfónicos, género no qual a mestria de Strauss foi reconhecida, e das suas óperas. A sinfonia encontra‑se próxi‑ ma dos modelos germânicos do Classicis‑ mo tardio e do Romantismo, sendo que os géneros previamente referidos foram rece‑ bidos até à Primeira Guerra Mundial en‑ quanto expoentes do Modernismo alemão. Richard Strauss era filho do trompista vir‑ tuoso Franz Strauss, uma referência daque‑ le instrumento à época, que integrava a or‑ questra da corte de Munique. Este cargo foi central para Richard pois, dada a relação entre Luís II da Baviera e Richard Wagner, o seu pai tocou na estreia de diversos dramas musicais wagnerianos. Isso possibilitou o contacto do jovem compositor com música que se tornou rapidamente uma influên‑ cia marcante no seu estilo compositivo da maturidade. Paralelamente, desenvolveu uma sólida relação com o maestro e pia‑ nista Hans von Bülow, que já tinha dirigi‑ do o seu pai em Munique e que lhe abriu novas perspectivas de carreira. Por indica‑ ção do maestro, Richard Strauss foi con‑ vidado para ser seu assistente e substitu‑ to na orquestra da corte de Meiningen em 1885, permitindo‑lhe desenvolver as com‑ petências em direcção coral e orquestral pelas quais foi amplamente reconhecido ao longo da sua carreira. A mudança de Strauss para Meiningen afastou‑o temporariamente dos circuitos musicais de Munique e do seu círculo fa‑ miliar. Assim, a Segunda Sinfonia marca o encerramento de um capítulo na sua vida, especialmente marcado pela influência paterna e de amigos compositores como Ludwig Thuille. A obra foi estreada em Nova Iorque pela New York Philarmonic Society Orchestra, dirigida por Theodor Thomas, a 13 de Dezembro de 1884. No ano seguinte, a sinfonia foi apresentada diversas vezes na Alemanha, por vezes sob a direcção do compositor. A peça reflecte a relação empenhada do jovem músico com os modelos canónicos do Romantismo germânico de Beethoven a Brahms, destacando‑se um interesse pela chamada música absoluta, que será posteriormente entrelaçado nos modelos narrativos do poema sinfónico. A sinfonia encontra‑se dividida em quatro andamen‑ tos e tem início com um andamento na forma‑sonata no qual o lirismo romântico é evidenciado, bem como a clareza formal e o domínio das convenções do tonalismo diatónico. Paralelamente, esse modelo é enriquecido através do recurso a três temas principais divididos em dois grupos temá‑ ticos e da introdução de alterações signifi‑ cativas no plano tonal da obra aquando da reexposição. Os temas longos e contrastan‑ tes são pontuados por uma fanfarra que, por vezes, adquire características temáticas e o desenvolvimento orgânico e contrapontís‑ tico aponta para a concepção da sinfonia como uma forma orgânica. O Scherzo é um andamento cinético em forma ABA, onde emerge um carácter lúdico com traços de dança popular. O andamento obteve bas‑ tante sucesso na época, tendo sido repe‑ tido em diversas apresentações públicas da obra. Nesta sinfonia há uma constan‑ te tensão entre lirismo e pathos, o primei‑ ro dominando o terceiro andamento. Os 3 longos temas, cuja resolução é diferida através de mecanismos harmónicos que enfatizam e distendem a direccionalidade, são misturados com elementos de caracte‑ rísticas militares veiculados pelos sopros, interrompendo e pontuando as linhas te‑ máticas. A sinfonia termina com um an‑ damento movimentado em forma‑sonata, então a espinha dorsal da música absolu‑ ta. À época, escrever sinfonias ocupava um lugar especial no percurso de um composi‑ tor, o qual era avaliado pela forma de utili‑ zar os modelos de organização contrastan‑ tes do ideal sonata, aqui hibridizado por Richard Strauss. A instabilidade e a ambi‑ guidade harmónica promovem o percurso sinuoso do andamento, onde perpassa a abundância de materiais que permeia toda a obra, atingindo o auge na recapitulação. O mecenato no Império Russo: A Quarta Sinfonia de Tchaikovski A Quarta Sinfonia foi composta num perío‑ do de viragem na carreira de Tchaikovski (1840‑1893), quando este era já internacio‑ nalmente reconhecido. Inicialmente desti‑ nado a uma carreira no funcionalismo pú‑ blico no Império Russo, Tchaikovski estu‑ dou música em criança e aprofundou a sua formação em São Petersburgo, frequentan‑ do diversas instituições dinamizadas pelos irmãos Anton e Nikolai Rubinstein. Após os estudos, dedicou‑se ao ensino e à críti‑ ca musical até 1878, quando se pôde de‑ dicar exclusivamente à composição. Visto ter sido iniciada em Maio de 1877 e estrea‑ da em Fevereiro de 1878, a Quarta Sinfonia relaciona‑se com as mudanças ocorridas na vida do compositor na altura. Nesse pe‑ ríodo, Tchaikovski casou com a sua antiga aluna Antonina Ivanovna Miliukova. Essa relação breve, mas turbulenta, potenciou a degradação do estado emocional do com‑ positor que se atenuou com o seu afasta‑ mento de Antonina e com viagens pela Itália e Suíça, nas quais o compositor ter‑ minou duas obras que vieram a ser emble‑ máticas na sua produção: a Quarta Sinfonia e a ópera Eugene Onegin. Paralelamente, esse período marca o início da relação mecenática entre Tchaikovski e Nadezhda Filaretovna von Meck, viúva de um engenheiro de Riga que fez fortuna investindo em caminhos‑ de ‑ferro num período de grande expansão ferroviária. Nadezhda frequentava os cir‑ cuitos culturais moscovitas, cidade onde o compositor se fixou, e foi uma importante patrona da música, financiando regular‑ mente a actividade de Tchaikovski e, pos‑ teriormente, contratando Debussy para professor dos filhos. Libertado de cons‑ trangimentos financeiros, o compositor pôde dedicar‑se quase exclusivamente à criação enquanto durou essa relação, ter‑ minada em 1890. A Quarta Sinfonia é um compromisso interessante entre várias tendências mu‑ sicais europeias da segunda metade do século XIX, reflectindo a aprendizagem do compositor em moldes cosmopolitas, sobretudo o modelo educativo parisiense que foi exportado um pouco para todo o mundo. Neste processo, o ideal sinfónico germânico de pendor construtivista e or‑ ganicista é recebido de forma particular pelo compositor. Dessa forma, Tchaikovski tende a desvalorizar a procura da coerên‑ cia interna da obra através do trabalho de derivação motívica e foca‑se na sucessão de episódios relativamente estanques e de carácter narrativo. Assim, conjuga um modelo sinfónico fortemente enraizado 4 no final do Classicismo com elementos derivados do poema sinfónico românti‑ co, tendência encarnada num programa para a Quarta Sinfonia redigido posterior‑ mente pelo compositor para a sua patrona. A sinfonia começa com uma fanfarra, elemento que irá reaparecer como sepa‑ rador e integrador ao longo do andamento e no final da obra. O primeiro andamento reflecte a complexidade na abordagem do compositor à forma‑sonata, conciliando ‑a com uma forma rapsódica e de desen‑ volvimento contínuo. Assim, o princípio organizador compartimentado é subver‑ tido pelo carácter narrativo, evidenciando novas formas de concepção formal. Uma célula rítmica reminiscente da Quinta Sinfonia de Beethoven permeia o andamento, facilitando a associação da obra à ideia de destino inexorável e trágico, um tropo do Romantismo que ressoa com a vivência de Tchaikovski. O lirismo expressivo do se‑ gundo andamento remete para o imagi‑ nário da canção, em que as duas melodias principais são introduzidas pelos solos dos sopros e posteriormente trabalhadas pelas cordas. A simplicidade sofisticada do an‑ damento encontra‑se igualmente patente no desenrolar da harmonia, em que as re‑ soluções são diferidas e diluídas no contex‑ to expressivo, evocando o idílio nostálgi‑ co tão caro aos românticos. O Scherzo, em forma ABA, remete para o universo lúdico, onde a vivacidade rítmica enfatizada pelos pizzicati das cordas e o Trio protagonizado pelos sopros reforçam a leveza de carác‑ ter do andamento. A sinfonia termina com um andamento em forma‑sonata marcado pelo retorno da fanfarra inicial e sua inte‑ racção com uma melodia baseada numa canção tradicional russa. O final segue em crescendo até ao clímax numa coda dinâ‑ mica, como que libertando a energia acu‑ mulada nos andamentos anteriores. joão silva [2014] Pedro Amaral direcção musical Nascido em Lisboa (1972), o compositor e maestro Pedro Amaral é um dos músicos europeus mais activos da nova geração. Inicia os estudos em composição como aluno privado de Lopes‑ Graça, a partir de 1986, ao mesmo tempo que prossegue a sua formação musical geral no Instituto Grego‑ riano (1989/91). Ingressa depois na Escola Superior de Música de Lisboa onde conclui o curso de Composição na classe de Chris‑ topher Bochmann, em 1994. Instala‑se em Paris, onde estuda com Emmanuel Nunes no Conservatório Superior, graduando ‑se com o Primeiro Prémio em Compo‑ sição por unanimidade do júri. Estuda ainda direcção de orquestra com Peter Eötvös (Eötvös Institute, 2000) e Emilio Pomàrico (Scuola Civica de Milão, 2001). Paralelamente à sua formação musical prá‑ tica, prossegue os estudos universitários na École des Hautes Études en Sciences So‑ ciales, em Paris, obtendo, em 1998, o Mes‑ trado em Musicologia Contemporânea com uma tese sobre Gruppen de K. Stock hausen – com quem trabalha como assis‑ tente em diferentes projectos – e, em 2003, um Doutoramento com uma tese sobre Momente e a problemática da forma na música serial. Em Maio de 2010, estreou em Londres a sua ópera O sonho, a partir de um drama ina‑ cabado de Fernando Pessoa. Unanimemente aplaudida pela crítica, a obra foi interpretada por um prestigioso elenco de cantores por‑ tugueses acompanhados pela London Sin‑ 5 fonietta sob a direcção do compositor, tendo sido apresentada em Londres e Lisboa. Como compositor e/ou maestro, Pedro Amaral trabalha regularmente com di‑ ferentes ensembles e orquestras, nacio‑ nais e estrangeiros. Foi maestro titular da Orquestra do Conservatório Nacio‑ nal (2008/09) e do Sond'Ar‑Te Electric En‑ semble (2007/10). Desde o ano lectivo de 2007/2008, é Professor Auxiliar da Univer‑ sidade de Évora (Composição, Orquestra‑ ção e disciplinas afins). Desde Julho de 2013, Pedro Amaral é director artístico e pedagógico da AMEC | Metropolitana. Orquestra Metropolitana de Lisboa A Orquestra Metropolitana de Lisboa estreou‑se no dia 10 de Junho de 1992. Desde então, os seus músicos asseguram uma intensa actividade na qual a qualida‑ de e a versatilidade têm presença constan‑ te, permitindo abordar géneros diversos, proporcionando a criação de novos públi‑ cos e a afirmação do carácter inovador do projecto AMEC | Metropolitana, de que esta orquestra é a face mais visível. Nos programas sinfónicos, jovens intér‑ pretes da Academia Nacional Superior de Orquestra juntam‑se à Metropolitana, cuja constituição regular integra já músicos for‑ mados nesta escola, sinal da vitalidade da ponte única que aqui se faz entre a prática e o ensino da música. Este desígnio, que distingue a identidade da Metropolitana, por ser exemplo singular no panorama musical internacional, complementa‑se com a participação cívica, que se traduz na apresentação frequente em concertos de solidariedade e eventos públicos rele‑ vantes. Cabe‑lhe, ainda, a responsabilida‑ de de assegurar uma programação regular junto de várias autarquias da região centro e sul, para além de promover iniciativas de descentralização cultural por todo o país. Desde o seu início, a Metropolitana é re‑ ferência incontornável do panorama or‑ questral nacional. Um ano após a sua cria‑ ção, apresentou‑se em Estrasburgo e Bru‑ xelas. Deslocou‑se depois a Itália, Índia, Coreia do Sul, Macau, Tailândia e Áustria. Em 2009 tocou em Cabo Verde, numa oca‑ sião histórica em que, pela primeira vez, se fez ouvir uma orquestra clássica no arqui‑ pélago. No final de 2009 e início de 2010, efectuou uma digressão pela China. Mais recentemente, por ocasião do seu vigési‑ mo aniversário, a Metropolitana regressou à capital belga. Tem gravados onze CDs – um dos quais disco de platina – para diferentes edito‑ ras, incluindo a EMI Classics, a Naxos e a RCA Classics. Ao longo destas duas décadas, colabo‑ rou com inúmeros maestros e solistas de grande reputação no plano nacional e in‑ ternacional, de que são exemplo os maes‑ tros Christopher Hogwood, Theodor Gus‑ chlbauer, Michael Zilm, Arild Remmereit, Nicholas Kraemer, Lucas Paff, Victor Yam‑ polsky, Joana Carneiro e Brian Schembri ou os solistas Monserrat Caballé, Kiri Te Kanawa, José Cura, José Carreras, Felicity Lott, Elisabete Matos, Leon Fleisher, Maria João Pires, Artur Pizarro, Sequeira Costa, António Rosado, Natalia Gutman, Gerardo Ribeiro, Anabela Chaves, António Mene‑ zes, Sol Gabetta, Michel Portal, Marlis Pe‑ tersen, Dietrich Henschel, Thomas Walker e Mark Padmore, entre outros. A Direcção Artística da Orquestra Me‑ tropolitana de Lisboa é, desde Julho de 2013, assegurada pelo maestro e compo‑ sitor Pedro Amaral. 6 Flauta Nuno Inácio Ana Rita Pereira** Janete Santos Oboé Luis Auñón Pérez Andrew Swinnerton* Clarinete Jorge Camacho Filipe Dias*** Fagote Bertrand Raoulx Tatiana Martins*** Trompa Nuno Vaz Jérôme Arnouf Tiago Oliveira* Mickael Faustino* Trompete Sérgio Charrinho Rui Mirra Trombone Reinaldo Guerreiro* José Gato** Thierry Redondo** Tuba Adélio Carneiro*** Tímpanos Fernando Llopis Percussão Marco Fernandes* Lídio Correia* Andreu Rico* Violino I Ana Pereira Concertino Alexei Tolpygo Liviu Scripcaru Romeu Madeira*** Ana Filipa Serrão*** Diana Tzonkova Carlos Damas Lyza Valdman*** David Ascensão* José Nascimento** Viola Irma Skenderi Valentin Petrov Andrei Ratnikov Joana Cipriano* Joana Tavares*** Chiara Antico* Violoncelo Peter Flanagan Jian Hong Ana Cláudia Serrão Carolina Matos*** Pedro Serra e Silva** Contrabaixo Ercole de Conca Vladimir Kouznetsov Margarida Ferreira*** Violino II Ágnes Sárosi José Teixeira Anzhela Akopyan Tomás Costa*** Daniela Radu Micaela Sousa* Elena Komissarova André Martins** *Convidados | **Convidados da Academia Nacional Superior de Orquestra *** Convidados Ex‑Alunos da Academia Nacional Superior de Orquestra 7 APOIO INSTITUCIONAL