Público Caderno P2 01022012 Periodicidade: Diário Temática: Cultura Classe: Informação Geral Dimensão: 182 Âmbito: Nacional Imagem: N/Cor Tiragem: 51453 Página (s): 9 Crítica de Música Natural como o curso da água Para lá da surpreendente novidade de um extraordinário soprano e de uma vigorosa interpretação da quarta sinfonia de Schubert o último concerto da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música OSPCdM poderia ter sido mais refinado A segunda versão do arranjo para orquestra de cordas que Arnold Schönberg 1874–1951 concluiu em 1943 do seu sexteto Verklärte Transfigurada de Nacht – op Noite 4 seria o momento musical mais interessante do evento não tivessem ocorrido esporádicos desvios na afinação e outros tantos pontos de menor precisão rítmica Mesmo não alcançando a perfeição afastando se disso em momentos como os dois acordes finais o penúltimo demasiado tímido vacilante e quase feio o último apenas sofrível o maestro Jérémie Rhorer conseguiu obter a desejável densidade dramática e uma progressão tímbrica bastante elegante e cuidada tirando partido da utilização das surdinas e de recursos de arco sem conduzir a orquestra a exagerados contrastes dinâmicos Se a obra seguinte se sugeria menos apelativa o soprano francês Julie Fuchs 1984 encarregou se de atenuar as diferenças respeitantes ao interesse musical que cada uma delas encerra Talvez nem Benjamin Britten 1913–1976 sonhasse com uma voz tão ágil fresca segura versátil e até homogénea entre registos como a que Fuchs fez soar em Les Illuminations op 18 para soprano e orquestra de cordas Baseada no homónimo conjunto de poemas de Arthur Rimbaud Les Illuminations foi composta para vozes agudas soprano ou tenor e apesar de dedicada ao soprano Sophie Wyss é o tenor Peter Peers que Britten tem em mente quando compõe pelo menos uma das partes da peça Being Beauteous É curioso pensar na significado afectivo que a obra terá encerrado para o compositor e constatar a simplicidade da escrita e a fluência de todas as linhas que Julie Fuchs fez acreditar serem tão naturais como o curso da água Após uma primeira parte mais programática a Sinfonia n º 4 Schubert 1797–1828 foi atacada com garra sendo este um dos elementos que a manteve acesa do início ao fim da sua execução Terminada quando o compositor tinha ainda 19 anos a obra foi posteriormente intitulada pelo próprio Sinfonia Trágica Talvez contagiada pelos vários esforços que em Portugal estão a ser feitos no sentido de racionalizar recursos e diminuir despesas a Casa da Música disponibilizou no seu sítio na Internet o programa do concerto com as respectivas notas substituindo assim as brochuras anteriormente entregues à entrada por uma simples folha de sala contendo o alinhamento do programa bem como o elenco da orquestra No final a orquestra não terá sido muito menos aplaudida do que a brilhante Julie Fuchs Diana Ferreira