Universidade Anhanguera-Uniderp Perspectivas de Futuro na Saúde Suplementar do Brasil Herbert Dutra da Silva Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado no Pós-Graduação em Gestão de Planos de Saúde Área de concentração: Gestão da Atenção à Saúde Orientador: Prof. Ana Lúcia Spina São Paulo (SP) 2010 2 RESUMO O objetivo deste trabalho é o de fazer uma breve análise da situação do mercado de saúde suplementar, discutindo as razões para o atual crescimento do setor e fazendo um paralelo com as perspectivas de futuro do mercado de saúde suplementar, alertando que apesar do sucesso atual, caso não sejam realizadas mudanças com o objetivo de reduzir custos e mudar o modelo de custeio, o setor, a médio prazo, correrá sério risco de entrar em colapso. Palavras-chave: Saúde suplementar; regulação; crescimento do setor. ABSTRACT The objective is to make a brief analysis of the market situation of health insurance, trying to explain the reasons for the current growth of the sector and making a parallel with the future prospects of the health plan market, warning that despite the current success if no changes are made in order to reduce costs and change the cost model, the sector in the medium term, you run serious risk of collapse. Key words: Supplementary health care; regulation; growth of sector. 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 3 CAPÍTULO 1 1 – O crescimento do setor de saúde suplementar nos últimos anos 6 1.1 - Aspectos populacionais 7 1.2 - Aspectos relacionados à renda 8 1.3 - Aspectos relacionados à economia do país 9 1.4 – A relação entre os aspectos populacionais e econômicos 10 com a saúde suplementar CAPÍTULO 2 2 - A Saúde Suplementar no futuro 11 2.1 - Envelhecimento da população 12 2.2 - Novas regulamentações 14 2.3 - Aumento dos custos assistenciais 15 CONCLUSÃO 18 REFERÊNCIAS 20 4 INTRODUÇÃO O financiamento da saúde é um problema que tem preocupado inúmeros países, tanto os que adotam sistemas públicos quanto os que adotam sistemas privados de atenção à saúde. No Brasil, a Constituição Federal criou um sistema misto ao estabelecer em seu artigo 196 que “a saúde e direito de todos e dever do Estado”, ao tempo que, no artigo 199, admite que: “a assistência à saúde é livre à iniciativa privada” tal fato é uma declaração de que o Estado é incapaz de assumir integralmente o financiamento da saúde. Conforme menciona José Antônio Diniz Oliveira1: “É quase que uma heresia essa admissão antecipada da incapacidade do primeiro; pior, é a confissão da necessidade de um outro sistema para servir a determinada parcela da população que possa pagar por ele. Talvez seja muito forte registrar como constatação o fato de que o próprio texto constitucional oficializa a desigualdade do acesso à assistência à saúde no Brasil, mas não há como não fazê-lo”. Talvez este sistema misto, com amplas coberturas, seja algo extremamente incompatível e prejudicial para a população que não tem a assistência da saúde suplementar, pois quanto melhor o sistema de saúde público, mais este sistema atrairá usuários que deixarão de pagar pelo sistema suplementar, e quanto pior o sistema público melhor será para o suplementar, ou seja, o sistema suplementar tem a sua existência condicionada ao fracasso do sistema público. Pois, poucos pagariam por um sistema privado de assistência à saúde se o sistema público, custeado com seus impostos, oferecesse um atendimento de boa qualidade. Por outro lado, a “quebra” do sistema suplementar, ou o seu mau funcionamento, tornaria o sistema público ainda mais caótico. Nesse contexto, pode-se prever que dificilmente o Estado oferecerá uma assistência à saúde de boa qualidade à população. 1 DE OLIVEIRA, José Antônio Diniz, e OLIVEIRA Isabela Vasconcelos. O Modelo Assistencial e o Financiamento da Saúde. Material da 14ª aula da Disciplina Visão Sistêmica Na Gestão da Saúde, ministrada na aula do Curso de Pos-Graduação Lato Sensu Televirtual em Gestão de Planos de Saúde – UNIDERP/REDE 5 Diante desta interdependência entre os sistemas, e em razão de inúmeros conflitos provenientes das restrições de cobertura e pressões dos institutos de defesa do consumidor, o Estado, em 1998, passou a regulamentar o setor de saúde suplementar por meio da lei 9656/98. A regulamentação trouxe segurança para os seus usuários e para o Estado, pois fixou coberturas mínimas, proibiu algumas exclusões de coberturas, estabeleceu critérios para formação de reservas, etc. Com regulamentação estabelecida pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) criou-se no País um modelo de contribuição baseado na solidariedade, onde os mais jovens e em maior número, contribuem mais do que efetivamente utilizam, com o objetivo de subsidiar as carteiras dos mais idosos que contribuem menos do que efetivamente utilizam. O caderno de informações de saúde suplementar de março/09 retrata o assunto quando conclui que2: “A análise das despesas assistenciais indicou que a medida em que houve a elevação da participação percentual de idosos nas carteiras das operadoras, também ocorreu aumento da despesa média por beneficiário. Paralelamente, foi possível observar que as variações da despesa assistencial foram acompanhadas por variações na receita de contraprestações, sendo os maiores gastos acompanhados pelas maiores receitas, independentemente das composições etárias das carteiras das operadoras. Ainda assim, como estas variações não ocorreram exatamente na mesma proporção, a sinistralidade3 das operadoras, no período analisado, tendeu a aumentar em operadoras com maior proporção de idosos”. O que define, implicitamente, este modelo solidário é a lei 9656/98 juntamente com o Estatuto do Idoso por meio da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, que regulou os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior aos 60 anos. No mercado de planos privados de saúde, a aplicação do Estatuto do Idoso provocou profundas mudanças com relação às regras para o reajuste por faixa etária, que passaram a vigorar a partir de 1º de janeiro de 2004 para planos 2 Agência Nacional de Saúde ANS - Caderno de informações da Saúde Suplementar – março/2009 p 24 Extraído da internet em 15/04/2010, site www.ans.gov.br 3 Relação, expressa em porcentagem, entre a despesa assistencial e a receita de contraprestações das operadoras. 6 contratados ou adaptados à Lei nº 9.656, de 1998, após a publicação pela ANS da RN nº 63, em 22 de dezembro de 2003. Desde então, além de vedado o reajuste das mensalidades por faixa etária dos beneficiários com 60 anos ou mais, ficou determinado que o valor fixado para a mensalidade da última faixa etária (59 anos ou mais) não poderá ser superior a seis vezes o valor da primeira faixa (0 a 18 anos). O atual modelo tem se mostrado eficiente, pois possibilita o acesso ao Sistema de pessoas mais jovens, sem inviabilizar o ingresso de pessoas mais idosas, viabilizando ainda o crescimento do setor, que cresceu nos últimos anos a ritmos mais acelerados que a própria economia do País e a renda da população. Este trabalho busca explicar as possíveis razões para o atual crescimento do setor de saúde suplementar e traçar algumas perspectivas de futuro para o setor. 7 1 – O CRESCIMENTO DO SETOR DA SAÚDE SUPLEMENTAR NOS ÚLTIMOS ANOS Apesar de sofrer inúmeras críticas, o modelo de regulação adotado no País tem se mostrado eficiente, pois tem possibilitado o acesso ao Sistema de pessoas mais jovens, sem inviabilizar o ingresso de pessoas mais idosas, e viabilizando ainda o crescimento do setor, que nos últimos anos alcançou crescimentos significativos. Com o objetivo de avaliar o crescimento do setor de saúde suplementar, foi montado o quadro abaixo que reflete em termos quantitativos as variações da população assistida pelo sistema de saúde suplementar 4 e o total estimado da população brasileira5. Nº DE TOTAL DA BENEFICIARIOS % CRESCIMENTO POPULAÇÃO % CRESCIMENTO (x1.000) ANUAL ANUAL (x 1.000) 2000 30.670 171.280 2001 31.097 1,39% 173.808 1,48% 2002 31.067 -0,10% 176.304 1,44% 2003 31.734 2,15% 178.741 1,38% 2004 33.637 6,00% 181.106 1,32% 2005 35.078 4,28% 183.383 1,26% 2006 36.898 5,19% 185.564 1,19% 2007 38.753 5,03% 187.641 1,12% 2008 40.850 5,41% 189.613 1,05% 2009 42.835 4,86% 191.481 0,99% A partir do quadro, verifica-se claramente que a população brasileira tem crescido em ritmo cada vez mais lento (hoje, menos de 1% a.a). Em contrapartida, observa-se que o segmento de assistidos pelo Sistema de Saúde Suplementar tem, nos últimos anos, crescido em um ritmo bem mais acelerado que 4 Dados extraídos do caderno de informações da Saúde Suplementar – março/2009 p 14 Extraído da internet em 15/04/2010, site www.ans.gov.br 5 Dados extraídos do Relatório número 28 de Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade – Revisão 2008. p 74 - IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Extraído da internet em 15/04/2010, site www.ibge.gov.br 8 o da população (aproximadamente 5% a.a, nos últimos cinco anos). O que têm gerado este crescimento no setor de saúde suplementar? 1.1 - Aspectos populacionais Um dos fatores que pode ter influenciado o crescimento do setor de saúde suplementar é o do Brasil estar passando por um período de relativo “conforto” em relação ao aumento da população economicamente ativa, conseqüência das altas taxas de fecundidade do passado, o que resulta na fase do chamado “bônus demográfico”, mas, segundo as projeções do IBGE, dentro de vinte anos este cenário deverá começar a mudar com a redução desta população ativa, conforme revela o Relatório número 25 de Indicadores Sociodemográficos e de Saúde no Brasil 6: “Importante chamar atenção para o fato de que a tendência do aumento progressivo de pessoas em idade ativa, previsto para o País até 2030, consubstancia o fenômeno denominado “bônus demográfico”. A expressão vem sendo muito utilizada na área da demografia, objetivando chamar atenção dos gestores das políticas públicas para o momento que se está verificando na dinâmica populacional brasileira” que é o aumento progressivo da população em idade ativa (15 a 60 anos). Segundo as primeiras análises do IPEA constantes do relatório nº 31 relativo ao PNAD 2008 7, verificou-se que a alta velocidade da queda da fecundidade e o aumento da expectativa de vida vêm acarretando alterações rápidas no ritmo de crescimento da população e, também, na distribuição etária e na oferta de força de trabalho, dentre outras. A mudança mais importante ocorrida nos últimos anos foi o envelhecimento populacional, ou seja, uma mudança nos pesos da população. Na análise verificou-se ainda que a população em idade ativa cresceu a sua participação, tendo passado de 58,3% (1992) para 64,3% (2008), fruto do bônus demográfico do qual o País está usufruindo. 6 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Relatório número 25 de Indicadores Sociodemográficos e de Saúde no Brasil – 2009,p 38. Extraído da internet em 15/04/2010, site www.ibge.gov.br 7 IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Relatório número 31, PNAD 2008 Primeira Análises. p 4 Extraído da internet em 15/04/2010, site www.ipea.gov.br 9 1.2 - Aspectos relacionados à renda Uma outra possível motivação encontrada para o crescimento do setor de Saúde Suplementar é o aumento da renda no País. A partir das primeiras análises do IPEA constantes do relatório nº 31 relativo ao PNAD 20088, verifica-se que o rendimento real médio dos trabalhos em 2008 correspondeu ao maior valor desde 2001. O gráfico a seguir mostra que nos últimos anos os rendimentos reais vêm apresentando uma trajetória de recuperação, após reduções expressivas no início da década. Rendimento médio de todos os trabalhos 1000 950 944,38 920,69 900 888,98 865,18 850 841,21 822,76 800 784,14 792,03 750 700 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Cabe ainda ressaltar que a partir do PNAD 2007, pesquisadores do IPEA verificaram que entre 2001 e 2007 13,8 milhões de pessoas subiram de faixa social: a classe média recebeu 10,2 milhões de pessoas e a classe alta 3,6 milhões. Segundo o economista do instituto Ricardo Amorim9, um dos pesquisadores que anunciaram os resultados do levantamento, "Nesse período, começamos a ter uma mobilidade social ascendente que não tínhamos faz tempo". 8 IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Relatório número 31, PNAD 2008 Primeira Análises. p 21 Extraído da internet em 15/04/2010, site www.ipea.gov.br 9 Reportagem do caderno de economia do Estadão datada de 22/09/2008e Extraído da internet em 18/04/2010, site www.estadao.com.br 10 1.3 - Aspectos relacionados à economia do país O bom momento econômico pelo qual vem passando o País, como mostram os índices de crescimento econômico do País – medido pelo PIB (Produto Interno Bruto), é outro fator que pode ser levantado para justificar o crescimento do setor. É nítido o crescimento do Brasil nos últimos anos. O Brasil conseguiu superar com certa tranqüilidade o recente período de crise internacional e agora está com previsões de taxas crescimento superiores aos inicialmente previstos. O desempenho do PIB nacional pode retratar essa crescente evolução, pois mesmo em períodos de crise internacional ainda obteve um razoável crescimento. Em 2008, o PIB a preços de mercado acumulado cresceu 5,1% em relação a 2007, segundo os dados do IBGE conforme se vislumbra do gráfico abaixo: 11 1.4 – A relação entre os aspectos populacionais e econômicos com a saúde suplementar A partir dos temas tratados nos tópicos 1.1, 1.2 e 1.3, tentando fazer uma relação entre os crescimentos do setor de saúde suplementar, da renda média e do PIB, foi montado um gráfico comparando as porcentagens de crescimento de cada item analisado: 10,00% 8,00% 6,00% BENEFICIÁRIOS SAÚDE SUPLEMENTAR 4,00% 2,00% CRESCIMENTO DO PIB 0,00% -2,00% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 CRESCIMENTO DA RENDA INDIVIDUAL -4,00% -6,00% -8,00% Apenas para fins didáticos, ligando-se as pontas de cada linha do gráfico observa-se que os três itens analisados estão em ritmo de crescimento com destaque especial ao segmento de saúde suplementar. Daí, pode-se concluir que o crescimento do segmento de saúde suplementar no Brasil está diretamente relacionado ao crescimento do País, e, sobretudo da renda. 12 2 - A Saúde Suplementar no futuro Apesar do aparente sucesso, alguns fatores têm preocupado os estudiosos do seguimento de Saúde Suplementar, são fatores que podem ameaçar o futuro do setor; entre eles podemos destacar: - o envelhecimento da população; - a forma de regulação do setor; - o crescente aumento dos custos assistenciais; Nos próximos tópicos serão abordados os temas retro mencionados. 2.1 - Envelhecimento da população O envelhecimento da população conforme menciona José Antônio Diniz10: 10 DE OLIVEIRA, José Antônio Diniz, e OLIVEIRA Isabela Vasconcelos. O Modelo Assistencial e o Financiamento da Saúde. Material da 14ª aula da Disciplina Visão Sistêmica Na Gestão da Saúde, ministrada na 13 “não deixa de significar uma conquista para a humanidade, mas representa um grande peso para o sistema de saúde. A mesma motivação que se observa para resolver o problema do sistema previdenciário, objeto de mobilização do Executivo, Legislativo, Judiciário e da sociedade não se verifica com relação à assistência à saúde, embora esta seja tão ou mais afetada pelo fenômeno”. Um dos fatores afligem os gestores do setor é o rápido processo de envelhecimento da população que traz consigo um inquestionável acréscimo nos custos assistenciais do setor. O envelhecimento da população brasileira é fruto do aumento da expectativa de vida das pessoas e principalmente, da rápida redução da taxa de fecundidade das mulheres no Brasil, vide gráficos abaixo: Taxa de Fecundidade no Brasil (Fonte: IBGE) 5,0 4,5 4,4 4,0 3,5 2,9 3,0 2,4 2,5 2,1 2,0 2005 2006 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 1980 1991 2000 Expectativa de vida ao nascer (Fonte: IBGE) 74,0 72,1 72,0 70,4 70,0 68,0 66,9 66,0 64,0 62,5 aula62,0 do Curso de Pos-Graduação Lato Sensu Televirtual em Gestão de Planos de Saúde p 9 – UNIDERP/REDE LFG. 60,0 58,0 56,0 14 Ocorre que, conforme mencionado no tópico 1.1, a população brasileira vêm envelhecendo em razão do aumento da expectativa de vida e, principalmente, em razão da redução da fecundidade conforme mencionam CARVALHO, J. A. M. & GARCIA, R. A11: “Do ponto de vista puramente demográfico, o processo, ora em operação no Brasil, de envelhecimento da população deve-se, unicamente, ao rápido e sustentado declínio da fecundidade. Se, porventura, no futuro próximo, houver avanços em termos de queda significativa de mortalidade, concentrada nas idades avançadas, haverá aceleração do processo. O envelhecimento da população brasileira se dará, necessariamente, a ritmo maior do que aquele ocorrido nos países do Primeiro Mundo, principalmente naqueles que iniciaram sua transição da fecundidade ainda no século XIX. Por outro lado, esses países, antes do início do processo, já conviviam com populações menos jovens, por nunca terem experimentado níveis tão altos de fecundidade quanto o Brasil”. 2.2 – A regulação do setor Hoje no Brasil o setor de saúde suplementar é responsável hoje por mais de 20% (vinte por cento) da população total, logo se fez necessário a regulação do setor. De acordo com Silveira Bueno, regular significa sujeitar a regra; regulamentar; acertar. A regulação é realizada por meio da intervenção do governo, criando regras, leis e 11 CARVALHO José Alberto Magno. & GARCIA, Ricardo Alexandrino – O envelhecimento da População Um enfoque demográfico p.7 – Artigo acessado em 10/05/2010 em www.scielo.br 15 normas, no mercado de prestação de saúde suplementar. Incorpora uma grande variedade de mecanismos, além de incentivos positivos e negativos. Essa função regulatória pode ter várias formas, como a definição da legislação aplicada ao setor, a regulação da competitividade, os parâmetros mínimos e de excelência e, em particular, as várias formas de incentivo financeiro. A regulação da saúde suplementar é fator determinante para a sobrevivência do setor. Todo o arcabouço legal, as regras, normas poderão levar o setor à falência ou ao sucesso. Conforme menciona José Antônio Diniz12: “O modelo assistencial adotado e a forma de organização do sistema apontam para a falência econômica do financiamento e para a necessidade da construção de uma alternativa”. O atual modelo de contribuição que estabelece limites de cobrança em relação as faixas de idade, conforme já mencionado neste trabalho, inevitavelmente, terá que ser alterado sob pena de sucumbir com o setor de saúde suplementar, uma vez que, em razão da redução da população jovem, não haverá “financiadores” suficientes para a população mais idosa conforme afirma em reportagem ao Correio Brasiliense a ex-vice-presidente da Unidas13, a médica Regina Parizi: “o envelhecimento da população brasileira e a queda nas taxas de fecundidade representam mais problemas. Atualmente, segundo os representantes do setor, para manter os atendimentos de um único beneficiário idoso ou com doença crônica, são necessários 29 jovens saudáveis na carteira de um plano. Em alguns anos, não teremos essa quantidade de jovens e os custos ficarão cada vez mais altos” Complementando o raciocínio, Alberto Hideki Kanamura14 menciona em seu trabalho que “O financiamento da saúde à semelhança do sistema previdenciário depende de uma proporção de população jovem sobre população idosa positiva, mas esta relação caminha muito rápido para inversão” 12 DE OLIVEIRA, José Antônio Diniz, e OLIVEIRA Isabela Vasconcelos. O Modelo Assistencial e o Financiamento da Saúde. Material da 14ª aula da Disciplina Visão Sistêmica Na Gestão da Saúde, ministrada na aula do Curso de Pos-Graduação Lato Sensu Televirtual em Gestão de Planos de Saúde – UNIDERP/REDE LFG. 13 Acesso em 12/05/2010 em www.sissaude.com.br 14 Kanamura, Alberto Hideki - Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Medicina da USP em 2005 p.3 16 2.3 - Aumento dos custos assistenciais O aumento dos custos assistenciais tem sido uma preocupação mundial. No Brasil, a situação não é diferente dos outros países, a inflação da assistência médica é sempre superior à inflação geral, prova disso é que foi criado um índice específico medir a inflação da saúde, indicador este que vem refletindo uma inflação da saúde bem superior à geral. Verificando-se o valor acumulado dos índices de preços geral e de saúde nos últimos anos (janeiro/2005 a dezembro/2009) 15 observamos: - variação acumulada do IPC - Geral (FIPE) 23,12%; - variação acumulada IPC - Saúde (FIPE) 39,6%. Outro fator determinante para o crescente aumento dos custos assistenciais é a incorporação de novas tecnologias, cada vez mais caras, e sem que haja um estudo prévio para avaliação do custo benefício destas novas tecnologias. Em geral, a cada nova tecnologia que se cria para a saúde, se agrega custo em relação ao modelo anteriormente utilizado. Conforme menciona o professor Diniz em sua aula16: “Em 1998, o economista Michael Chernew, professor da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, publicou estudo onde conclui, após uma revisão das evidências que causam o crescimento acelerado dos custos em saúde, que a maior causa desse crescimento são as novas tecnologias: ”Não é o aumento das utilizações, não são as fraudes, não é o fortalecimento das regulamentações, não é o envelhecimento da população – tudo isso contribui, mas o fator determinante para o aumento dos custos é o desenvolvimento e a utilização de novas tecnologias”. 15 Informação colhida no site www.fipe.org.br em 20/05/2010. DE OLIVEIRA, José Antônio Diniz, e OLIVEIRA Isabela Vasconcelos. O Modelo Assistencial e o Financiamento da Saúde p.8. Material da 14ª aula da Disciplina Visão Sistêmica Na Gestão da Saúde, ministrada na aula do Curso de Pos-Graduação Lato Sensu Televirtual em Gestão de Planos de Saúde – UNIDERP/REDE LFG. 16 17 No Brasil, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é a agência responsável pela concessão das permissões para comercialização de materiais e medicamentos, porém estas liberações para comercialização avaliam apenas os aspectos relativos à eficiência funcional/técnica deixando de lado a questão do custo benefício. Assim como ocorre em outros países, a cada dia são oferecidos novos materiais que muitas vezes não trazem praticamente nenhum benefício aos pacientes em relação à utilização de técnicas anteriores, são materiais que visam, principalmente, simplificar, para o médico, a realização dos procedimentos, porém o custo desta simplificação é inevitavelmente transferido para as operadoras, elevando assustadoramente os custos de alguns procedimentos. A pressão da indústria sobre o mercado é muito grande e, em geral, utiliza-se dos médicos para “vender” os seus produtos o que é algo até imoral. Atualmente, os representantes das indústrias estão dentro dos centros cirúrgicos para mostrar as facilidades e as vantagens proporcionadas pelos seus equipamentos. A evolução das técnicas, medicamentos e equipamentos é algo muito importante para a evolução da medicina, conforme DINIZ menciona em sua aula17: ”È inegável a importância do surgimento de novas tecnologias, em todas as suas formas. A longevidade e a melhor qualidade de vida da população são influenciadas em alto grau pelas novidades cientificas. Mas não há como negar também que é preciso saber decidir por quais práticas incorporar, elegendo aquelas que de fato tragam benefício à saúde das pessoas e que encerrem uma avaliação custo-efetiva positiva para o sistema”. Nessa linha de pensamento se observa claramente que há a necessidade, urgente, do Estado intervir na liberação da utilização destes itens. O Estado deve considerar não somente os aspectos técnicos/funcionais, mas, também, a relação entre o real benefício à saúde das pessoas “versus” o custo incorporado em relação à tecnologia anterior. A liberação deve preceder à uma avaliação relativa ao custo/benefício de cada item a ser incorporado ao “pool” tecnológico. 17 DE OLIVEIRA, José Antônio Diniz, e OLIVEIRA Isabela Vasconcelos. O Modelo Assistencial e o Financiamento da Saúde p.8. Material da 14ª aula da Disciplina Visão Sistêmica Na Gestão da Saúde, ministrada na aula do Curso de Pos-Graduação Lato Sensu Televirtual em Gestão de Planos de Saúde – UNIDERP/REDE LFG. 18 Considerações Finais Acreditamos que a saúde suplementar no Brasil passará por um período de decisões que definirão o futuro do setor. O Estado tem um papel fundamental nessa fase, pois suas decisões terão enorme impacto na sobrevivência do setor. Atualmente, em razão do aumento da renda, do crescimento do país e do bônus demográfico do qual o país tem usufruído o setor tem tido um considerável crescimento. A regulamentação do setor contribuiu para o fortalecimento do segmento, no momento que trouxe mais confiabilidade ao consumidor. Entretanto a atual regulamentação do setor terá que acompanhar as mudanças e pressões pelas quais a sociedade e o mercado passarão. Um dos principais aspectos que deverão ser observados é o envelhecimento da população. Conforme demonstrado anteriormente, a partir de 2030 o país deixará de usufruir do chamado bônus demográfico e estará com sua população bem mais velha. A regulamentação do setor terá que achar alternativas para sua subsistência no novo cenário, pois o atual modelo de contribuição, faixas e limites entre as faixas, possivelmente, não será aplicável à nova realidade. Essa mudança não é urgente em razão do envelhecimento da população, apesar de acelerado, não ser imediato, mas é inevitável a médio prazo. 19 O elemento mais grave e que poderá levar o atual modelo à bancarrota antes mesmo do envelhecimento da população, é sem dúvida o aumento dos custos assistenciais. Em face do crescimento assustador dos custos assistenciais, em boa parte justificado pelos ingressos de novas tecnologias. Entendendo-se por novas tecnologias não apenas as novas coberturas impostas pela ANS às operadoras sem que haja uma compensação financeira para tal, mas sim os novos medicamentos e materiais que são utilizados para patologias que já eram tratadas eficientemente com outros medicamentos e materiais de custo muito menor. Nesta seara, o Estado, até o momento, muito pouco, ou em nada, interveio. Há a necessidade urgente do Estado iniciar uma forte regulação nesta área do mercado de saúde. As novas tecnologias vem chegando aos montes, pressionando o mercado, de várias maneiras a incorporá-las. O Estado deve regular o setor impondo que a liberação para comercialização de novos materiais e medicamentos estaria condicionada a uma avaliação do seu custo x benefício. Alguns países do mundo já vêm regulando a utilização de materiais e medicamentos que aumentam muito o custo, mas pouco, ou nada, melhoram os resultados finais do tratamento para o paciente. A indústria farmacêutica e de materiais médicos vê, hoje, no Brasil um grande mercado com grande potencial de crescimento, e quanto maior a pressão da indústria, maiores e menos previsíveis serão os custos da assistência no segmento da saúde suplementar. Apesar da perspectiva de crescimento da renda, de crescimento do País, e do usufruto do bônus demográfico, a Saúde Suplementar está ameaçada pelo aumento exagerado dos custos assistenciais mesmo antes do agravamento da situação relativa ao envelhecimento da população, a partir de 2030. A sobrevivência do setor nos próximos vinte anos dependerá muito mais de uma nova regulação que tenha como objetivo reduzir a velocidade de aumento dos custos que uma regulação que vise a manutenção do equilíbrio entre as contribuições por faixa etária. Porém, de acordo com a literatura, dentro de alguns anos, com o cenário que se vislumbra, a ANS será obrigada a criar um novo modelo de contribuição compatível com a pirâmide demográfica prevista para 2030, sob pena de o Estado ter que assumir sozinho grande parte das despesas assistenciais relativas à saúde em razão dos 20 altos preços que terão que ser cobrados pelas operadoras de saúde, inviabilizando a permanência de grande parte dos seus usuários. REFERÊNCIAS BRASIL - IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Relatório número 28 de Indicadores Sociodemográficos e de Saúde no Brasil – 2008 BRASIL - IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Relatório número 25 de Indicadores Sociodemográficos e de Saúde no Brasil – 2009 BRASIL – IPEA Instituto de Pesquisa Aplicada - Resumo desigualdade de renda no Brasil BRASIL – IPEA Instituto de Pesquisa Aplicada - PNAD 2008: Primeiras análises BRASIL – ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar - Caderno de informações da saúde suplementar março/2010 CARVALHO José Alberto Magno. & GARCIA, Ricardo Alexandrino envelhecimento da População – O DE OLIVEIRA, José Antônio Diniz, OLIVEIRA Isabela Vasconcelos. O Modelo Assistencial e o Financiamento da Saúde p.8. Material da 14ª aula da Disciplina Visão Sistêmica Na Gestão da Saúde, ministrada na aula do Curso de PosGraduação Lato Sensu Televirtual em Gestão de Planos de Saúde – UNIDERP/REDE LFG. KANAMURA, Alberto Hideki - Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Medicina da USP em 2005 21 2010 TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito e que se fizerem necessários, que isento completamente a Universidade Anhanguera-Uniderp, a Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes, e os professores indicados para compor o ato de defesa presencial de toda e qualquer responsabilidade pelo conteúdo e idéias expressas no artigo científico. Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado. Brasília, 27 julho de 2010.