UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE
SEGURANÇA DO TRABALHO
RAFAEL FREITAS PREIS
ANÁLISE DE SINISTRO EM INDÚTRIA DE TINTAS E SOLVENTES
CRICIÚMA, ABRIL 2007
1
RAFAEL FREITAS PREIS
ANÁLISE DE SINISTRO EM INDÚTRIA DE TINTAS E SOLVENTES
Monografia apresentada à Diretoria de PósGraduação da Universidade do Extremo Sul
Catarinense- UNESC, para a obtenção do título
de especialista em Engenharia Segurança do
Trabalho.
Orientador: Prof. PhD. Hyppólito do Valle
Pereira Filho
CRICIÚMA, ABRIL 2007
2
RAFAEL FREITAS PREIS
ANÁLISE DE SINISTRO EM INDÚTRIA DE TINTAS E SOLVENTES
Criciúma, 27 de abril de 2007.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________
Prof. Hyppólito do Valle Pereira Filho, Pós Doutor – Orientador
_____________________________________________
Prof. Marcelo Fontanella Webster, Mestre
_________________________________________
Prof. Waldemar Pacheco Júnior, Doutor
3
Agradeço humildemente e primeiramente a
Deus pelo privilégio de poucos.
Aos
meus
pais,
Valério
e
Jucelei,
pela
educação e valores.
A minha esposa e filha, Tamara e Alice, pela
compreensão da ausência e vital motivação.
Aos estimados professores Hyppólito do Valle
Pereira Filho e Waldemar Pacheco Júnior.
E pelas grandes amizades proporcionadas
pelos companheiros de curso.
4
RESUMO
A análise deste projeto compreende um assunto de suma importância à manutenção
da integridade física dos colaboradores e do patrimônio de empresas produtoras de
tintas e solventes para impressão de embalagens flexíveis. O processo produtivo
desta linha de produtos será descrito com detalhismo afim de se compreender as
ações, procedimentos utilizados e as etapas executadas desde a manipulação de
matérias-primas à obtenção dos produtos acabados. O objetivo final deste trabalho é
levantar e analisar os principais fatores técnicos, internos e externos, e concluir
coerentemente quais acontecimentos influenciaram no princípio e no
desenvolvimento do incêndio ocorrido no pavilhão industrial da Anjo Química do
Brasil em outubro de 2005. Munido destas informações e baseando-se em fatos
concretos obtidos tanto nas investigações quanto no presenciamento do sinistro,
serão sugeridas algumas medidas que se mostram extremamente relevantes à
segurança da organização.
Palavras-chave: Sinistro; Nitrocelulose; Fatores Técnicos; Medidas Preventivas.
5
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CAS – Chemical Abstract Service
FISPQ – Ficha de Informação de Produtos Químicos
TLV – Threshold Limit Values
N.C. – Nirocelulose
ONU – Organização das Nações Unidas
6
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01 - Vista frontal do pavilhão em chamas.....................................................30
Figura 02 - Explosões de Nitrocelulose (30,00 metros de altura) ............................30
Figura 03 - Fluxograma do processo de fabricação da linha de impressão.............35
7
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 - Componentes de risco..........................................................................15
Tabela 02 - Processo de fabricação da linha de impressão ....................................33
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................10
1.1 Tema .................................................................................................................10
1.2 Justificativa ......................................................................................................10
1.3 Fenômeno – caracterização............................................................................11
1.3.1 Descrição ......................................................................................................11
1.4 Problemática ....................................................................................................11
1.5 Objetivos ..........................................................................................................11
1.5.1 Objetivo geral................................................................................................11
1.5.2 Objetivos específicos...................................................................................12
1.6 Metodologia .....................................................................................................12
1.7 Relevância à engenharia de segurança do trabalho ....................................12
2 ANÁLISE DOS FATORES POTENCIAIS DE RISCOS........................................13
2.1 Nitrocelulose ....................................................................................................13
2.1.1 Caracterização da nitrocelulose..................................................................13
2.1.2 Características técnicas...............................................................................15
2.1.2.1 Identificação...............................................................................................15
2.1.2.2 Componentes de risco ..............................................................................15
2.1.2.3 Propriedades físicas..................................................................................15
2.1.2.4 Dados sobre riscos à saúde .....................................................................16
2.1.2.5 Informações especiais de proteção .........................................................17
2.1.2.6 Riscos de incêndio e explosão.................................................................18
2.1.2.7 Dados sobre reatividade ...........................................................................19
2.1.2.8 Precauções especiais ...............................................................................19
2.1.2.9 Precauções de processo ..........................................................................21
2.1.2.10 Procedimentos em caso de derramamento ou vazamento..................21
2.1.2.11 Métodos de disposição – produtos, resíduos, embalagens e materiais
contaminados ........................................................................................................22
2.2 Fatores técnicos de propensão de riscos .....................................................22
2.2.1 Caracterização de fatores técnicos.............................................................22
2.2.1.1 Máquinas e equipamentos ........................................................................23
2.2.1.2 Variações de temperatura.........................................................................23
9
2.2.1.3 Energia estática .........................................................................................24
2.2.1.4 Ventilação e exaustão ...............................................................................24
2.2.1.5 Instalações elétricas e iluminações .........................................................25
2.2.1.6 Aterramento ...............................................................................................25
2.2.1.7 Proteção anti-impacto ...............................................................................26
2.2.1.8 Manipulação e processo ...........................................................................26
2.2.1.9 Piso industrial ............................................................................................26
2.2.1.10 Incompatibilidades químicas..................................................................27
3 INFORMAÇÕES GERAIS E ESPECÍFICAS SOBRE A EMPRESA ....................28
3.1 Histórico ...........................................................................................................28
3.2 Caracterização da pesquisa ...........................................................................28
4 RESULTADOS .....................................................................................................32
4.1 Descrição da linha de impressão ...................................................................32
4.2 Processo produtivo .........................................................................................32
4.3 Descrição da planta produtiva........................................................................38
4.4 Descrição do layout.........................................................................................39
4.5 Fatores técnicos relacionados à linha de impressão...................................41
5 RESULTADOS .....................................................................................................44
5.1 Análise das potencialidades dos fatores técnicos .......................................44
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..............................................................46
REFERÊNCIAS .......................................................................................................48
ANEXOS .................................................................................................................49
10
1 INTRODUÇÃO
O fogo é uma necessidade indiscutível à vida moderna, como sempre o foi
aos nossos antepassados, desde a Idade da Pedra, quando era usado
exclusivamente para o aquecimento do homem da caverna. Na vida moderna, o fogo
ou melhor, dizendo a combustão é usada para a indústria, para os transportes, para
a produção de energia e inúmeras outras necessidades indispensáveis; é usado
intensamente tanto no lar como nas indústrias.
Tecnicamente, sabe-se que o fogo (ou a combustão) surge a partir de
elementos essenciais, que são: combustível, calor, comburente. Com esses
elementos, podemos construir um triângulo que denominamos "Triângulo do Fogo".
Quando se trata de uma indústria de tintas e solventes para impressão, o
primeiro elemento do triângulo torna-se expressivamente presente em todo processo
produtivo. Manipulação de Nitrocelulose e ambientes saturados com vapores
orgânicos provindos de solventes são pontos a serem analisados posteriormente
que exigem a essa empresa cuidado redobrado. Munido dessas informações,
procurar-se-á investigar, analisar e detalhar o sinistro ocorrido em quatro de outubro
de 2005 em fábrica de tintas e solventes para impressão de embalagens flexíveis.
1.1 Tema
Sinistro em indústria de tintas e solventes para impressão de embalagens
flexíveis.
1.2 Justificativa
Levando-se em consideração o pressuposto de que incêndios podem ser
prevenidos, inevitavelmente após ocorrer um sinistro se constata que com poucas
regras de segurança e alguma disposição de colocá-las em prática ele poderia ser
evitado.
A manutenção da integridade física dos colaboradores é sem dúvida um
dos pontos mais relevantes desta pesquisa, principalmente levando-se em
consideração os riscos inerentes à esta linha de produção. Manipulação de produtos
11
inflamáveis e explosivos tornam as medidas preventivas de incêndios fundamentais
ao bom decorrer do processo.
Com isso, a análise crítica baseada na Norma de Segurança Contra
Incêndio – NSCI/94 do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina e nas experiências e
conhecimentos técnicos nos cuidados no trabalho com produtos dessa linha, como a
Nitrocelulose, serão de vital importância na caracterização deste trabalho.
1.3 Fenômeno - caracterização
Influência da Nitrocelulose em sinistro em fábrica de tintas e solventes
para impressão de embalagens flexíveis.
1.3.1 Descrição
O incêndio ocorrido ,em outubro de 2005, em fábrica de tintas e solventes
para impressão de embalagens flexíveis, trouxe muitas interrogações aos processos
de fabricação de tintas para impressão. Uma delas, e provavelmente a de maior
relevância, trata da manipulação de nitrocelulose no processo produtivo. Fatores
técnicos
abrangerão
as
diversidades
ocorridas
e
suas
características
contextualizarão o estudo e seus objetivos.
1.4 Problemática
Dentre os fatores técnicos, a Nitrocelulose foi preponderante para o
sinistro na fábrica de tintas e solventes?
1.5 Objetivos
1.5.1 Objetivo geral
Verificar se, dentre os fatores técnicos a Nitrocelulose foi preponderante à
ocorrência de sinistro na fábrica de tintas e solventes.
12
1.5.2 Objetivos específicos
♣ Descrever a nitrocelulose especificando suas características técnicas;
♣ Identificar os fatores técnicos internos e externos de exposição das
matérias-primas que possibilitem a ocorrência de incêndios.
1.6 Metodologia
Este trabalho foi desenvolvido através da metodologia do Estruturalismo,
método Descritivo, de Caracterização Qualitativa, Exploratória e Estudo de Caso. As
técnicas utilizadas foram observações “In Loco”, entrevistas, pesquisas nos laudos
periciais e outras documentações, observação de fotos e vídeos, verificação do
sistema preventivo de incêndios no período do sinistro e do seu desempenho
durante o incêndio. Após os levantamentos dos pontos fortes e pontos fracos,
potencialidades e fragilidades, far-se-á sugestões de melhoria. Visa-se destacar os
pontos de riscos identificando e caracterizando-os, e a partir disso utilizar
tecnologias e conhecimentos que propiciem um alto nível de proteção aos
colaboradores e ao patrimônio da empresa.
1.7 Relevância à engenharia de segurança do trabalho
Procurou-se embasamento técnico e teórico principalmente na Norma de
Segurança Contra Incêndio – NSCI/94 do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina,
em virtude não só da exigência da legislação regional, mas também da profundidade
de detalhes com relação a equipamentos e dimensionamentos.
A NR – 23 – Proteção contra Incêndios, trata das informações de maneira
generalista e superficial, por isso não foi utilizada como base de informações à
elaboração deste trabalho, mas de maneira observadora.
13
2 ANÁLISE DOS FATORES POTENCIAIS DE RISCOS
2.1 Nitrocelulose
2.1.1 Caracterização da nitrocelulose
Em 1838 começa a era moderna dos explosivos, quando o químico
francês Théophile Jules Pelouse (1807-1867) conseguiu preparar a nitrocelulose.
Em 1846, o químico alemão Christian Shönbein verificou que a celulose nitrada é
altamente explosiva. A celulose é um polímero natural, cuja estrutura é a repetição
da unidade C6H10O5; em cada uma dessas unidades existem três hidroxilas que
podem ser esterificadas. O ácido nítrico pode esterificar uma, duas ou três das
hidroxilas, produzindo vários tipos de nitrocelulose, cujo caráter inflamável e
explosivo aumenta com o teor de nitrogênio na molécula. É considerada uma das
mais antigas resinas sintéticas utilizadas na fabricação de tintas e vernizes de alta
performance. Produzida pela primeira vez há mais de 160 anos, passou a ser
largamente empregada em tintas após a 1ª Guerra Mundial.
A nitrocelulose representou um marco no desenvolvimento da indústria de
tintas mundial, foi responsável pela popularização das lacas automotivas e
industriais, propiciando acabamentos de fácil aplicação, rápida secagem e alto
desempenho. Devido à sua rápida secagem, foi o principal fator que tornou possível
a produção em massa na indústria automobilística.
Mesmo com o aparecimento de novos sistemas de resinas, a nitrocelulose
continua tendo um lugar de destaque nos segmentos de repintura automotiva,
seladores e acabamentos para madeira, tintas de impressão, esmalte para unha e
acabamentos para couros, aparecendo sempre novas aplicações.
Há muito tempo foram detectadas propriedades explosivas do algodão
nitrado. A descoberta de métodos de gelificar o material, transformando-o numa
massa uniforme e densa, de aparência resinosa, reduziu a superfície e a rapidez da
explosão. Com a descoberta de métodos apropriados de estabilização, para
prolongar a vida em depósitos, a nitrocelulose logo deslocou a pólvora negra como
propelente militar. É uma das principais matérias-primas para pólvoras e dinamites.
São do tipo:
14
• N.C.- Alta (fabricação de pólvoras);
• N.C.- Baixa (fabricação de pólvoras);
• N.C.- Colódio (usado na fabricação de tintas, vernizes, etc.);
• N.C.- Dinamite.
O processo de fabricação consiste na purificação do linter bruto para
obtenção de celulose, nitração da celulose com mistura sulfonítrica, estabilização e
fervimentos para extração de ácido residual ocluso nas fibras da NC.
As Nitroceluloses são particularmente perigosas pelas formações de
gases explosivos e propagação rápida do fogo. Todas as substancias que entram na
composição destes corpos são sensíveis as variações de temperatura e a umidade
seguida de secura, determinando a decomposição lenta. Sob a ação do tempo, sem
que tenha havido a ação de um agente físico ou mecânico, inflamam-se e as
chamas de calor intenso provocam incêndios de propagação violenta.
A celulose, a dinamite, a hulha, devem ser cuidadosamente armazenados.
Não podem ficar nesta situação por longo tempo, pois sofrem modificações químicas
muito lentas e por isso incendeiam-se com o agravante da celulóide produzir gases
explosivos e letais.
A característica de combustão espontânea é fator gerador de muitos
incêndios industriais. O fenômeno químico da combustão é uma reação que se
processa em cadeia e manifesta-se através de uma reação exotérmica, convertendo
energia química em energia calorífica. A decomposição das moléculas ainda intactas
provoca a propagação do fogo. Quando esta reação processa-se com muita
velocidade, num ambiente confinado além de combustão, havendo aumento de
pressão, o sistema explode. Segundo Silveira (1982, p. 22), “toda reação química
que desprende calor vai sendo aquecida pelo aumento de temperatura e calor,
atingindo o ponto de ignição passando a ter combustão pelo aparecimento de luz e
calor”.
15
2.1.2 Características técnicas
2.1.2.1 Identificação
• Nome Químico: Nitrocelulose embebida em álcool etílico / isopropílico;
• Sinônimos: Nitrato de Celulose, Piroxilina, Algodão Colódio;
• Família Química: Ésteres;
• Fórmula: [C6H10-x(ONO2)x]n para 2 < x < 2,4
• CAS: 9004-70-0
• ONU: 2556
2.1.2.2 Componentes de risco
Os produtos componentes da Nitrocelulose possuem o número específico
do CAS, bem como sua composição em fórmula e os Limites de Tolerância com
base na ACGIH e TVL, conforme a Tabela 01 – Componentes de risco.
Tabela 01 - Componentes de risco
Nome
Nº CAS
% Opcional
Nitrocelulose
009004-70-0
70%
Álcool Etílico
64-17-5
30%
67-63-0
30%
Químico
Álcool
Isopropílico
Limites de Tolerância
TLV (ppm)
Fonte
TWA – Não
ACGIH
estabelecido
TLV
TWA: 1000
ACGIH
(1900 mg/m³)
TLV
TWA: 400
ACGIH
STEL: 500
TLV
Fonte: Nitrocelulose - Manual Técnico de Aplicações. Cia. Nitroquímica Brasileira.
2.1.2.3 Propriedades físicas
• Aparência e Odor: Nitrocelulose embebida em álcool é um tipo de
polpa, sólido semelhante ao algodão, em forma de flocos, com odor característico
de álcool;
16
• Densidade do Vapor (ar = 1): 1,6 (álcool etílico);
• Gravidade Específica: Nitrocelulose: 1,6 a 20 ºC;
• Densidade aparente: 0,6 (600 Kg/m³);
• Percentagem de Voláteis: 25 a 32%;
• Ponto de Ebulição (760 mmHg): Etanol = 12,7 ºC e Isopropanol = 82,3
ºC;
• Ponto de Fulgor: Álcool Etílico = 12,7 ºC e Isopropílico = 11,7 ºC
(closed cup);
• Temperatura de Auto-ignição: Nitrocelulose: min. 180 ºC (taxa de
aquecimento de 5 ºC/min.)
• Pressão de Vapor: 40 mmHg a 20 ºC e 33 mmHg a 19 ºC (álcool
etílico);
• Solubilidade em Água: Insolúvel;
• Solubilidade em outros Solventes: Nitrocelulose é solúvel em acetona,
ésteres, solução de álcool e éter, acetado de amila e ácido acético glacial;
• Taxa de Evaporação (Acetato de Butila) = 1): > 1 (álcool).
2.1.2.4 Dados sobre riscos à saúde
• Efeitos Agudos:
¬ Ingestão: Tóxica, devido à presença de álcool etílico / isopropílico
(pode causar gastrite);
¬ Inalação: Os vapores de álcool etílico podem afetar as vias
respiratórias e os olhos. Altos teores podem afetar o sistema nervoso central;
¬ Contato com a pele: Devido à presença de álcool etílico / isopropílico,
pode produzir leve irritação, bem como ressecamento e fissuras na pele;
¬ Conato com os olhos: Produz irritação devido à presença de álcool
etílico.
• Efeitos agudos sistêmicos:
¬ A inalação prolongada de álcool etílico / isopropílico em alta
concentração, além dos efeitos localizados sobre os olhos e o trato respiratório
superior, podem produzir dores de cabeça, sonolência, tremores e fadiga.
17
• Efeitos crônicos:
¬ Não observados, mas caso a pele se tornar avermelhada ou
apresentar bolhas, consultar o médico.
• Condições de saúde agravadas pela super-exposição (álcool):
¬ Não reportado.
• Procedimentos de emergência e primeiros socorros:
¬ Ingestão: Nunca dê algo oralmente se a vítima estiver inconsciente. Se
estiver consciente, faça com que a vítima beba de 1 a 2 copos de água (efeito
diluição). Não induza a vítima ao vômito;
¬ Inalação: Remover a vítima para um local arejado;
¬ Pele: Remover rapidamente a roupa contaminada e aplicar água
corrente. Lavar a área exposta com água e sabão;
¬ Olhos: Não permitir que a vítima mantenha os olhos fechados; separar
as pálpebras cuidadosamente e lavar continuamente com água corrente. Consultar
um médico assim que possível.
• Dados toxicológios:
¬ LD50 (Oral em ratos): 5 mg/Kg;
¬ LC50 (Inalação em ratos): 20.000 ppm/10horas.
2.1.2.5 Informações especiais de proteção
• Ambiente de trabalho: Evitar a inalação dos vapores de álcoois e
formação de atmosfera com risco de incêndio, com instalação de um sistema de
exaustão adequado que mantenha as concentrações de álcool no ar dentro dos
limites estabelecidos. Máscaras respiratórias individuais devem ser selecionadas de
forma a assegurar a proteção para o indivíduo dentro das condições do local de
trabalho, do nível de contaminantes no ar, bem como garantir o nível de oxigênio. A
concentração de solventes (álcoois) no ar deve ser monitorada constantemente.
• EPI’s para manuseio: Em situações de emergência de incêndio, utilize
máscaras autônomas. Para utilização de máscaras respiratórias, recomenda-se
preparar um programa formal de proteção respiratória, incluindo: exame médico,
18
teste físico individual, monitoramento ambiental peródico, manutenção inspeções,
locais adequados para estocagem dos equipamentos. EPI’s para manuseio e
proteção da pele: luvas de PVC, máscara com filtro para vapores orgânicos, botas
com biqueiras e aço, camisa e meias de algodão.
• Estações de segurança: As áreas de trabalho devem prever a
instalação de chuveiros de segurança e lava olhos. As roupas contaminadas devem
ser separadas das roupas comuns e lavadas antes de serem reutilizadas.
• Observação importante: Nunca comer, beber ou fumar em locais de
manipulação de Nitrocelulose. Praticar higiene pessoal adequada após utilizar este
material, especialmente antes de comer, beber, fumar, usar o toalete ou aplicar
quaisquer cosméticos.
2.1.2.6 Riscos de incêndio e explosão
• Ponto de Fulgor: 12,7 ºC;
• Temperatura de Auto-Ignição: min. 180 ºC (taxa de aquecimento de
5ºC/min.);
• Limites de Inflamabilidade no ar (% em volume):
¬
Etanol: inferior = 3,3% e superior = 19%;
¬
Isopropanol: inferior = 2% e superior = 12%;
• Procedimentos especiais de combate ao fogo:
¬
Para pequenos incêndios utilizar pó químico seco, água ou espuma
¬
Para grandes incêndios água ou espuma normal;
¬
O álcool reduz a velocidade de queima da Nitrocelulose, assim é
normal;
importante não permitir que ela seque. Caso o álcool se evapore, a ignição da
Nitrocelulose ocorre, queimando com intenso calor e podendo explodir se confinada
e exposta a choques;
¬
Containers podem explodir sob ação do calor de um incêndio. A
Nitrocelulose contém suficiente O2 para auto sustentar sua queima mesmo em
atmosferas com deficiente nível de O2;
¬
Face
à
possibilidade
de
geração
de
produtos
tóxicos
por
decomposição térmica, em caso de incêndio utilizar máscara autônoma operada
19
com pressão positiva;
¬
Aplicar água para resfriamento dos containers mesmo após a
extinção total do fogo. Manter-se à distância dos terminais dos tanques. Se ocorrer
um incêndio de grandes proporções nas áreas de carregamento, utilizar canhões
monitores ou mangueiras desguarnecidas sobre suportes. Se isto não for viável,
retirar-se do local e deixar o fogo queimar;
¬
Não descartar a água utilizada no esforço de combate ao incêndio
para o esgoto ou qualquer outro sistema; coloque-a em diques para que possa ser
adequadamente disposta e tratada;
¬
Subprodutos da Combustão: óxidos de nitrogênio, cianeto de
hidrogênio e monóxido de carbono.
2.1.2.7 Dados sobre reatividade
• Estabilidade: Nitrocelulose é estável se mantida confinada sem
vibrações, embebida em álcool ou água. Entretanto, a Nitrocelulose seca é sensível
ao choque e pode incendiar-se e explodir se estiver confinada;
• Condições a Evitar: Não expor o produto à luz do sol, fontes de calor
ou de ignição, bem como com os produtos incompatíveis listados abaixo. Não
permitir, sob qualquer hipótese, que o produto se torne seco;
• Incompatibilidade: Nitrocelulose é incompatível com peróxido acético,
bromoazida, cloro, oxidantes fortes, ácidos e bases;
• Produtos perigosos resultantes da decomposição: A decomposição por
oxidação térmica pode produzir Óxidos de Carbono (COx), Óxidos de Nitrogênio
(NOx) e Gás Cianídrico (HCN);
• Riscos de Polimerização: Não há riscos de polimerização.
2.1.2.8 Precauções especiais
• Precauções a serem tomadas no manuseio e armazenagem: O produto
é colocado em sacos plásticos anti-estáticos ou não condutivos e acondicionados
em barricas ou caixas. O local de estocagem deve ser mantido fresco, seco e bem
ventilado, distante de fontes de ignição. Prever proteção contra possíveis impactos.
20
Não permita que o produto seque (enfatizar a necessidade de estar embebida em
álcool ou água). Locais de estocagem e de trabalho devem ser resistentes ao fogo e
prover disponibilidade abundante de água. O piso deve ser executado com material
anti-faísca, tacos, pisos grafitados). Equipamentos de processo e tanques de
estocagem devem prever “vents” para alívio de pressão. Para acondicionar o
produto em barricas, as áreas operacionais devem ter um número máximo de
barricas (normalmente uma quantidade suficiente para o turno). As barricas devem
ser abertas na área operacional, nunca na área de estocagem. Utilizar sempre
ferramentas de bronze ou outros não ferrosos. Barris cheios ou parcialmente cheios
e que não estejam em uso, devem ser mantidos hermeticamente fechados. Recolher
imediatamente todo material derramado nos pisos ou nos equipamentos, colocar em
tambores e umedecê-los novamente.
• Controles de Engenharia: Para evitar quaisquer riscos potenciais à
saúde, usar diluição suficiente ou ventilação / exaustão local para controlar a
presença de contaminantes no ar, de forma a manter as concentrações dentro de
níveis mínimos. Para minimizar o risco de explosão devido à presença de vapores
dos solventes, a iluminação deve atender à essa classe de especificação. Para
evitar faíscas elétricas, preveja aterramento elétrico.
• Controles administrativos: Prever exame médico pré-admissional e
exame médico periódico para os trabalhadores que possam estar expostos aos
vapores de álcool.
• Rotulagem de embalagem / recipientes: O rótulo deve conter os
seguintes dados:
¬
Nitrocelulose, cuidado e inflamável;
¬
Em caso de incêndio usar grandes quantidades de água;
¬
Evitar a evaporação do álcool;
¬
Não expor o produto a atritos e em caso de derrame molhar com
água e recolher o resíduo.
• Materiais Adequados para Embalagens: Containers ou tambores de
aço ou galvanizados, barricas de fibra e caixas.
• EPI’s Adequados: Óculos de proteção panorâmicada, luvas, avental,
calçado de segurança e máscara com filtro químico para vapores orgânicos (no caso
21
de ambientes onde se excede o L.T.).
2.1.2.9 Precauções de processo
• Prever pelo menos duas saídas para cada dependência ou edifício
onde a Nitrocelulose é armazenada, manuseada ou utilizada. As portas devem abrir
para fora e com fechaduras apropriadas;
• Prever “sprinklers” nos edifícios de armazenagem e de processo do
produto em função do calor do edifício e quantidade estocada;
• Equipamentos e vasos de processo devem preferencialmente ser
isolados de outras dependências por paredes e portas resistentes ao fogo.
2.1.2.10 Procedimentos em caso de derramamento ou vazamento
• Notificar a supervisão imediata, isolar e manter o local arejado, proibir o
acesso de pessoal não envolvido com o atendimento à emergência;
• Manter-se fora da direção de ação predominante do vento;
• Interromper quaisquer fontes de ignição;
• Pessoal envolvido no atendimento à emergência e para a limpeza do
local deve estar protegido contra inalação ou do contato com o produto na pele e
nos olhos;
• Molhar o material derramado e a embalagem com água. Recolher
cuidadosamente o produto em um recipiente seco;
• Dirigir os vazamentos de grandes quantidades pelas áreas de
contenção para posterior descarte. Evitar que o produto derramado seja desviado
para esgoto industrial ou outro sistema de drenagem;
• Em pequenos vazamentos, manter o derramamento molhado com
água e colhendo para containers / tambores e afastar as fontes de ignição ou
faíscas;
• Em grandes vazamentos, não permitir que o produto seque, mantendoo molhado com água e recolher o produto imediatamente em tambores ou containers
completando o volume com água.
22
2.1.2.11 Métodos de disposição – produtos, resíduos, embalagens e materiais
contaminados
• A porção do produto vazado deve ser embebida em água e recolhida
em saco plástico. O resíduo poderá ser tratado com um álcali e em seguida tratado
biologicamente;
• Outro método de disposição consiste em desnitrar o resíduo com soda
cáustica ou sulfeto de sódio e manuseá-lo em crematório em camadas finas (não
mais que 5 cm de altura). Não queimar em caldeiras, incineradores ou qualquer
outro equipamento fechado.
• Embalagem: Retirar todo resíduo do saco plástico e lavá-lo; esse saco
não deve ser reutilizado. Após esvaziamentos, os tambores devem ser
inspecionados, para assegurar que toda a Nitrocelulose foi removida (o
remanescente deve ser eliminado com panos de limpeza). Manter a embalagem /
sacos plásticos sempre fechados;
• Nunca descartar tambores e / ou sacos plásticos com resíduos de
Nitrocelulose.
2.2 Fatores técnicos de propensão de riscos
2.2.1 Caracterização de fatores técnicos
Com a manipulação de inúmeros produtos perigosos dentro do processo
produtivo, evidenciam-se uma variedade de riscos inerente à essa atividade. Dentro
dos procedimentos das atividades e da própria estrutura física da empresa
encontram-se características que são potenciais riscos à deflagração de incêndios.
Fazendo-se uma correlação ao cotidiano de nossas casas, seria conviver com
tubulações ou botijões de gás, instalações elétricas, aparelhos com resistências
elétricas como chuveiros e aquecedores, fogões, produtos inflamáveis como o álcool
hidratado. Assim, as atividades dentro da planta industrial são agravadas em virtude
da presença de materiais inflamáveis e explosivos, como os vapores orgânicos
gerados por solventes e principalmente o convívio com a Nitrocelulose. Podem-se
citar alguns fatores técnicos de riscos: máquinas, temperatura, energia estática,
ventilação, instalações elétricas, aterramentos. A descrição dos riscos potenciais a
23
seguir pedem algumas definições que se mostram importantes à compreensão da
linha de pesquisa. Segue as definições:
• Explosão: é um processo caracterizado por súbito aumento de volume
e grande liberação de energia, geralmente acompanhado por altas temperaturas e
produção de gases;
• Incêndio: é uma ocorrência de fogo não controlado, que pode ser
extremamente perigosa para os seres vivos e as estruturas. A exposição a um
incêndio pode produzir a morte, geralmente pela inalação dos gases, ou pelo
desmaio causado por eles, ou posteriormente pelas queimaduras graves;
• Acidente: é um evento indesejável e inesperado que causa danos
pessoais, matérias (danos ao patrimônio), danos financeiros e que ocorre de modo
não intencional;
• Sinistro: é um fato natural ou provocado pelo homem que afeta
negativamente à vida ou patrimônio segurado;
• Normas: disciplinam as relações entre os indivíduos, desses para com
o Estado e do Estado para com seus cidadãos, por meio de regras que permitam
solucionar os conflitos.
2.2.1.1 Máquinas e equipamentos
A recomendação para uma manipulação segura da Nitrocelulose é que se
utilizem ferramentas de bronze ou outros não ferrosos.
2.2.1.2 Variações de temperatura
Sugere-se a armazenagem de Nitrocelulose em ambientes isentos de
variações bruscas de temperatura, bem como da exposição à luz do sol. Segundo
Gomes (1998, p. 20), “existem materiais sólidos que incendeiam facilmente em
função da absorção de pequena quantidade de calor, como o Nitrato de Celulose
(Nitrocelulose)”.
24
2.2.1.3 Energia estática
Tecnicamente define-se energia estática como sendo a carga elétrica num
corpo cujos átomos apresentam um desequilíbrio em sua neutralidade. Este
fenômeno ocorre quando a quantidade de elétrons gera cargas positivas ou
negativas em relação à carga elétrica dos núcleos dos átomos.
Existem muitas formas de "produzir" energia estática, uma delas é
friccionar certos corpos, para produzir o fenômeno da eletrização por fricção.
Conforme Gomes (1998, p. 10), “é uma carga elétrica acumulada na superfície de
dois corpos que foram produzidos unidos e são separados abruptamente. Estes
corpos não estando aterrados poderão acumular uma carga elétrica suficiente para
produzir uma centelha.”
A energia estática é objeto de estudo e pesquisa, pois muitos são os
danos causados pela eletrização dos corpos e sua conseqüente descarga em
equipamentos e componentes sensíveis, como por exemplo, computadores,
balanças e máquinas industriais em geral. Em 2003, ocorreu um acidente que,
presume-se, foi causado por uma centelha devida a uma descarga eletrostática num
foguete brasileiro na base aeroespacial de Alcântara, cuja explosão causou a morte
de diversos técnicos e engenheiros.
Com isso, a utilização de aterramentos em todas as máquinas que
processam a Nitrocelulose torna-se inevitável.
2.2.1.4 Ventilação e exaustão
A utilização de tecnologias como ventiladores centrífugos, axiais e naturais
ou insufladores dimensionados para a necessidade identificada, garantem a
concentração mínima por norma de vapores orgânicos no ambiente da fábrica,
garantindo não só a integridade momentânea do colaborador, mas também a sua
saúde em longo prazo, além do conforto térmico ao longo da jornada de trabalho.
Outra conseqüência positiva da utilização desses equipamentos é evitar que ocorra
variações bruscas de temperatura, principalmente para os produtos químicos mais
sensíveis ao calor.
25
2.2.1.5 Instalações elétricas e iluminações
A eletricidade é uma das principais fontes de ignição em ambientes com
atmosferas explosivas, através dos equipamentos e instrumentos, descargas
atmosféricas ou cargas estáticas.
Conforme a definição da ABNT, área classificada é a área na qual uma
atmosfera explosiva de gás está presente ou na qual é provável sua ocorrência a
ponto de exigir precauções especiais para a construção, instalação e utilização de
equipamento elétrico. Já a Área não classificada é a área na qual não é provável a
ocorrência de uma atmosfera explosiva de gás a ponto de exigir precauções
especiais para a construção, instalação e utilização de equipamento elétrico. Com a
classificação de área procura-se estabelecer medidas para que a eletricidade não
provoque ignição da mistura inflamável que estiver presente no ambiente, seja
através da escolha adequada do equipamento, instrumento ou método de
instalação. Uma das atitudes é utilizar equipamentos, motores, interruptores, cabos e
luminárias à prova de explosão.
2.2.1.6 Aterramento
Aterramento é arte de se fazer uma conexão com toda a terra. A conexão
com a terra é na realidade a interface entre o sistema de aterramento e toda a terra,
e é por esta interface que é feito o contato elétrico entre ambos: “terra” e sistema de
aterramento. Através desta interface passarão os eventos elétricos para o
mencionado sistema. Estes eventos elétricos incluem energia surtos e transientes e
a energia proveniente das descargas atmosféricas.
Energia Térmica pelo Raio é resultante de uma carga elétrica que passa de
uma nuvem para outra, eletricamente contrárias ou para a Terra. Na
passagem para a Terra, poderá liberar muito calor, de altíssima
temperatura, para um corpo que esteja em seu caminho, mesmo que este
corpo tenha elevada resistência. (GOMES, 1998, p. 10).
O aterramento é obrigatório e a baixa qualidade ou a falta do mesmo
invariavelmente provoca queima de equipamentos. Suas características e eficácia
devem satisfazer às prescrições de segurança das pessoas e funcionais da
instalação. O valor da resistência deve atender as condições de proteção e de
26
funcionamento da instalação elétrica. Conforme orientação da ABNT, a resistência
deve atingir no máximo 10 Ohms, quando equalizado com o sistema de pára-raios
ou no máximo 25 Ohms quando o sistema de pára-raios não existir na instalação.
Resumidamente, aterramento significa acoplamento permanente de partes
metálicas com o propósito de formar um caminho condutor de eletricidade tanto
quanto assegurar continuidade elétrica e capacitar uma condução segura qualquer
que seja o tipo de corrente.
2.2.1.7 Proteção anti-impacto
A Nitrocelulose, em função de sua estrutura explosiva, necessita cuidados
especiais na proteção contra possíveis impactos. Para sua alocação deve-se prever
o meio no qual será disposta, levando-se em consideração o tipo e a quantidade de
fluxo de transporte, como por exemplo, a utilização de empilhadeiras e carros
hidráulicos. Preferencialmente, armazenar na superfície do piso evitando-se
prateleiras ou porta-pallets, para prevenção de quedas.
2.2.1.8 Manipulação e processo
Este quesito observa diretamente os procedimentos utilizados no processo
produtivo. Modo de transporte, local de utilização e atividades sobre a Nitrocelulose
são de extrema importância. Observa-se cuidado ao transportar esta matéria-prima
de um local para outro, manipulá-la apenas na área operacional e nunca na área de
estocagem, e enfatizar a necessidade de estar sempre embebida em álcool ou água
evitando que ela seque.
2.2.1.9 Piso industrial
O sugerido para o processo é o anti-faísca construído com tacos de
madeira ou concreto grafitado, evitando-se a geração de faísca em conseqüência do
atrito entre carros transportadores de aço carbono e o piso.
27
Calor por Atrito ou Fricção é a energia mecânica aplicada para vencer a
resistência ao movimento, quando dois corpos são esfregados ou
friccionados um contra o outro. Qualquer atrito ou fricção gera calor. O
impacto, outra forma de fricção, quando ocorre entre dois corpos duros, um
deles sendo metálico, pode produzir uma centelha. (GOMES, 1998, p. 10).
2.2.1.10 Incompatibilidades químicas
A Nitrocelulose mostra-se incompatível os produtos peróxido acético,
bromoazida, cloro, oxidantes fortes, ácidos e bases, e o contato entre eles gera
gases, calor excessivo, explosões e reações violentas. Assim sugere-se ao
departamento
de Pesquisa
e
Desenvolvimento
da
empresa
analisar
tais
incompatibilidades evitando a armazenagem no mesmo local desses produtos. Caso
mostre-se inevitável a utilização desses materiais, procurar separá-los por alvenaria
ou confinamento.
28
3 INFORMAÇÕES GERAIS E ESPECÍFICAS SOBRE A EMPRESA
3.1 Histórico
A empresa iniciou suas atividades em abril de 1986, em Criciúma (SC), em
um pequeno galpão alugado, sob a denominação de “Colombo Indústria e Comércio
de Massas Plásticas” e com uma produção de 2 toneladas de massa plástica por
mês, surgia a Anjo Tintas e Solventes.
Em 1987, já com a marca Anjo, a produção de massa plástica alcançou 20
toneladas por mês. A empresa então passou a funcionar nos fundos da residência
de seu diretor, em um galpão de 144 m².
Em 1993, a Anjo se torna líder no mercado brasileiro em massa plástica,
exigindo a transferência de suas instalações. Em 1994, a massa plástica supera a
marca de 252 toneladas por mês, assumindo definitivamente a liderança do mercado
nacional. A partir daí, a empresa começa a produzir thinners e solventes.
A Anjo Tintas e Solventes conquistou em abril de 1999, a Certificação da
Norma ISO 9002. Em 2002, foi recertificada com a Norma ISO 9001/Versão 2000.
Em 2000, monta uma nova unidade de negócio para atender indústrias do
setor de impressão, oferecendo solventes e tintas
Em 2002, a empresa inaugura a linha imobiliária, também localizada no
município de Criciúma (SC). E em maio de 2004, a Anjo inaugura a fábrica da Linha
Industrial, também em Criciúma. Possui também três filiais, uma em São Paulo (SP),
uma em Aparecida de Goiânia (GO) e outra em Recife (PE).
Assim, a Anjo é marca de produtos de quatro linhas: Linha Automotiva,
Linha Imobiliária, Linha de Impressão e Linha Industrial.
3.2 Caracterização da pesquisa
O procedimento de pesquisa baseou-se primeiramente em análises sobre
os fatos ocorridos no início e desenvolvimento do sinistro, além do embasamento em
informações técnicas. Fez-se observações “In Loco”, entrevistas, pesquisas nos
laudos periciais e outras documentações, observação de fotos e vídeos, verificação
do sistema preventivo de incêndios no período do sinistro e do seu desempenho
29
durante o incêndio. O foco do estudo surgiu com o depoimento da única testemunha,
Rogério Fernandes, Operador Industrial responsável pela formulação de thinners e
solventes de impressão no período da manhã. Segue abaixo as informações obtidas
no Laudo Pericial da Polícia Técnica:
• Depoimento de Rogério Fernandes: Cheguei à empresa por volta das 7
horas e 45 minutos do dia 04 de outubro de 2005. Depois de registrar minha entrada
no cartão-ponto, me dirigi ao vestiário para colocar a roupa de trabalho. Depois de
pronto, umas 7 horas e 52 minutos, chegaram ao vestiário mais dois profissionais,
Marcelo Oliveira e Jaílson Urbano. Saí do vestiário e fui em direção ao meu setor,
formulação de thinner, quando às 7 horas e 55 minutos houve um grande estouro,
parecido com fogos de artifício, vindo da área de matérias-primas, a uns 15 metros
de mim. Instantaneamente subiram labaredas de fogo e uma fumaça densa cor
bege. Peguei um extintor de 6 kg de CO2 e fui em direção ao princípio. Verifiquei
então que as chamas estavam com 1,5 metros de altura e vinham da Nitrocelulose,
produto que conhecemos ser extremamente perigoso. Gastei toda carga do extintor
mas infelizmente não surtiu efeito. Rapidamente as chamas atingiram uns 5 metros,
impossibilitando mais investidas minhas. Tentei chamar os demais profissionais, mas
eles já haviam evacuado o local. Também tentei ir em direção aos hidrantes, que
ficavam na parte interna do galpão, mas o calor era muito forte e não consegui me
aproximar. O fogo se espalhou extremamente rápido tomando toda área de
matérias-primas impossibilitando o combate. Sai por uma das portas da frente, a da
direita, e me distanciei o máximo possível. Nesse momento as chamas
ultrapassavam a altura do teto e aconteciam explosões continuamente. O impacto
era tão forte que tremia o chão e bolas de fogo chegavam a uns 30 metros de altura,
como pode ser apreciado na Figura 01 - Vista frontal do pavilhão em chamas e na
Figura 02 - Explosões de Nitrocelulose. Presenciei algumas pessoas tentando fazer
algo, mas era impossível entrar no galpão para chegar aos hidrantes. Cerca de 20
minutos após o início o Corpo de Bombeiros de Criciúma chegou ao local e iniciou
seu trabalho.
30
Figura 01 - Vista frontal do pavilhão em chamas
Fonte: Do pesquisador.
Figura 02 - Explosões de Nitrocelulose (30,00 metros de altura)
Fonte: Do pesquisador.
A partir disso, bem como contato com outras pessoas e os fatos
pessoalmente presenciados partiu-se que o foco de pesquisa seria indiscutivelmente
a Nitrocelulose. Além de suas características físico-químicas, os cuidados com sua
manipulação e os fatores técnicos que pudessem influenciar no desencadeamento
de um incêndio foram os pontos mais relevantes nesse trabalho. As informações
técnicas sobre Nitrocelulose foram obtidas com a empresa Nitroquímica do Grupo
Votorantim, maior produtor nacional, através da FISP. No Laudo Pericial da Polícia
31
Técnica consta, além do depoimento do profissional, o encerramento do processo
concluindo o início do sinistro na Nitrocelulose, mas sem garantir uma causa técnica
exata, apenas levantando as potencialidades do produto a uma combustão
espontânea.
32
4 RESULTADOS
4.1 Descrição da linha de impressão
A linha de tintas e solventes para impressão, visa fornecer produtos para
as empresas impressoras de embalagens plásticas flexíveis. Sua grande
proximidade aos consumidores se deve ao fato dos produtos comercializados serem
específicos para cliente, ou seja, são materiais desenvolvidos com base em
informações pré-determinadas como viscosidade, densidade, resistência, secagem,
atrito, aderência, tempo e quantidade de evaporação de solventes, tonalidade de
cor, peso específico, brilho, fineza, diluição, quantidade, permeabilidade do substrato
(superfície de aplicação da tinta) e força de pigmentação. Cada característica
anteriormente citada, corresponde à uma necessidade especificada pelo cliente,
baseada em fatores como a aparência, arte e finalidade da embalagem e o processo
produtivo (tipo de máquina impressora) da empresa.
O mercado consumidor mundial vem se tornando cada vez mais rigoroso e
criterioso. A diversidade de opções, faz com que a escolha dos produtos seja
realizada com base em fatores diferenciais. A flexibilidade na oferta do produtos, a
variedade para atender as diversas necessidades, a inovação no desenvolvimento e
lançamento de novos produtos, a repetibilidade no fornecimento dentro de uma
uniformidade regular de padrões são características dessa linha.
As tintas para impressão base solvente são compostas pelas seguintes
aplicações: geladeira, cereal, PP, primers, laminação, sacaria industrial, ráfia,
sacola, fralda, álcali, papel, alumínio, PPT, vernizes, corte, brilho, complemento,
proteção, pasta concentrada nitrocelulose, aditivos, rótulo adesivo, alta laminação,
nylon monocomponente, nylon bi-componente, PVC, alto brilho, nobre, limpador de
anilox, banda estreita e vernizes UV. Já os solventes e thinners para impressão são
compostos por flexográfico, rotogravura, retardadores, aceleradores e puros.
4.2 Processo produtivo
O processo produtivo de tintas funciona da seguinte maneira conforme
procedimentos registrados na ISO 9001/2000 e pode ser visualizado na Tabela 02 -
33
Processo de fabricação da linha de impressão e na Figura 03 – Fluxograma do
processo de fabricação da linha impressão:
Tabela 02 - Processo de fabricação da linha de impressão
O que
Processo: FABRICAÇÃO - LINHA IMPRESSÃO
Quem
Como
1 Receber a ordem de
carregamento do
setor comercial.
2 Emitir a Ordem de
Produção.
3 Imprimir as etiquetas.
4 Verificar o estoque
de matérias-primas
5 Informar recebimento
e aguardar posição
6 Comunicar Comercial
e aguardar chegada
da matéria-prima.
7 Emitir nova Ordem
de produção.
8 Fabricar o produto.
9 Efetuar registros na
ordem de produção.
10 Coletar amostra para
análise.
11 Fazer análise.
Expedição/recepção
Via sistema
Registros
Gerados
FR012
Expedição/recepção
Via sistema
FR067
Expedição/recepção
Expedição/Produção/
recepção
Expedição/recepção
Via sistema
FR001
Expedição/recepção
Memorando ou
telefone
-
Expedição/recepção
Via sistema
FR067
Formulador/Operador
Pré-mistura
conforme a
OP, Thinner
conforme IT03-002 e tintas
na seqüência
pastas,
aditivos, verniz
e solventes ou
conforme OP.
-
-
Formulador/Operador
Laboratório CQ ou
operador/formulador
Laboratório CQ
Conforme IT01-013
Tinta conforme
FC031 ou
FR149 e
thinneres
conforme ME01-003 ou ME03-042.
12 Definir parâmetros de Laboratório CQ ou P&D Conforme as
correção.
especificações
13 Fazer a correção.
Laboratório CQ
Conforme
ordem de
produção
-
FR067
FR141
FR067
-
34
Processo: FABRICAÇÃO - LINHA IMPRESSÃO
O que
Quem
Como
14 Abrir RNC.
15 Dispor o produto
conforme RNC.
16 Liberar o produto.
17 Envasar o produto e
anotar a quantidade
líquida.
18 Coletar a retenção.
19 Lançar materiais
consumidos no
sistema.
20 Analisar
discrepâncias.
21 Armazenar os
produtos na
expedição.
Fonte: Anjo Química do Brasil
Laboratório CQ
Definido no RNC
Laboratório CQ
Operador e Auxiliar de
Produção
Conforme
PGQ004
Conforme as
especificações
Conforme IT03-001
Registros
Gerados
FR067
Operador e Auxiliar de
Produção
Expedição/recepção
-
-
Via sistema
-
Expedição/recepção
-
-
Expedição/recepção
Conforme IT03-003
-
35
Figura 03 - Fluxograma do processo de fabricação da linha de impressão
4
1
2
3
Receber a ordem de
carregam ento do setor
com ercial
Em itir Ordem de
Produção
Im pim ir as etiquetas
Verificar o estoque de
m atérias-prim as
Faltará algum
m aterial?
6
Não
7
Com unicar COM ERCIAL
e aguardar chegada da
m atéria-prim a
5
Sim
Inform ar
RECEBIM ENTO e
aguardar posição
Em itir nova Ordem de
Produção (OP)
Não
8
Alterar
form ulação ou
quantidade?
Sim
Fabricar o produto.
9
10
13
Efetuar registros na
Ordem de Produção
Coletar am ostra e enviar
ao LABORATÓRIO
Fazer a
correção
11
Fazer a
análise
12
Definir
parâm etros de
correção
17
Não
16
Envasar o produto e
anotar a quantidade
líquida.
Sim
Possível
corrigir?
Sim
OK?
Liberar o produto.
Não
18
14
Abrir RNC
Coletar retenção
15
Dispor o produto
conform e RNC
20
19
Analisar
discrepâncias
Lançar m ateriais
consum idos no sistem a.
Não
Fim
21
Conferem ?
Ponto de
inspeção
Legenda
Fonte: Anjo Química do Brasil
Sim
Arm azenar
produtos na
EXPEDIÇÃO
36
O cliente fornece as características necessárias do produto ao laboratório
de pesquisa e desenvolvimento da Anjo, o qual desenvolve a fórmula. Depois de
estabelecido o custo de produção e o correspondente preço de venda, vem a
aprovação do cliente, juntamente com a quantidade do pedido. O pedido, ou ordem
de carregamento, chega ao departamento de produção através do setor comercial. A
ordem de produção é gerada e passada ao formulador, que segue as instruções e
as quantidades de matérias-primas e de semi-acabados (matérias-primas já
processadas) da fórmula. Após a atividade do formulador, vem a análise do
laboratório de controle de qualidade, que por sua vez analisa todos os parâmetros
essenciais
à
aprovação
do
produto,
como
controle
de
atrito
(COF),
espectrofotômetro (controle de tonalidade), monitoramento de umidade (Karl Fisher),
medição de brilho (Gloss Meter). Caso não necessite de acerto, a tinta é finalmente
encaminhada à filtragem e envase. Os produtos são embalados em baldes de 20
litros, e tambores de 100 e 200 litros, dependendo da necessidade. Posteriormente,
aloca-se os produtos acabados na área de expedição. O processo de produção dos
thinners e solventes difere das tintas apenas nas análises do controle de qualidade e
das embalagens envasadas. A analisa chama-se cromatografia gasosa, que analisa
os picos de evaporação dos compostos e as quantidades em fórmula, comparandose com a fórmula pré-estabelecida. Já as embalagens utilizadas são: bombonas de
20 litros, tambores de 100 e 200 litros, containers de 1000 litros e caminhões tanque
que vão de 15000 a 45000 litros.
Todo processo produtivo desenvolve-se para atender os parâmetros préestabelecidos através de um rígido controle de qualidade, com uma alta precisão na
formulação do produto e utilização de equipamentos que propiciem uma variação
máxima de 0,1% nas suas características e garantam uma repetibilidade de lotes.
Por exemplo, na formulação utiliza-se a máquina chamada “Inkmaker”, com
dosagem eletro-pneumática, de origem italiana e com precisão de uma grama, e
capacidade máxima de 1.500 Kg por lote produzido. Seu custo atual gira em torno
de 150.000,00 ∋. A capacidade de dosagem chega a 5000 kg por hora.
As produções mensais chegam a 200 toneladas de tintas e 500 toneladas
de thinners e solventes, dependendo das demandas sazonais de mercado. Os
meses de pico são novembro e dezembro.
Por se tratar de um processo produtivo com alto grau de automação, o
quadro de colaboradores conta com apenas 21 pessoas, que são divididas em dois
37
setores macros, a produção, correspondente ao chão de fábrica propriamente dito e
ao laboratório de controle de qualidade, vinculado diretamente e subordinado à
produção.
Produção:
• Supervisores de produção: 2 profissionais – função: possuem a função
de supervisionar o processo produtivo e seus colaboradores, atuando como
facilitador de melhorias, analisando estatísticas e parâmetros de produção,
dimensionando e administrando a capacidade produtiva da planta e prestando
suporte às necessidades que venham a surgir;
• Conferentes: 2 profissionais – função: controlam as entradas de
matérias-primas fazendo o recebimento, codificação interna e a alocação no local
determinado de estoque. Expedem os produtos acabados, separando-os por carga,
faturam as notas fiscais e conferem o carregamento tanto quantitativamente quanto
qualitativamente. Efetuam mensalmente o inventário de estoque de matérias-primas
e de produtos acabados, procedendo com a contagem real de estoques e
informando o sistema gerencial interno os resultados obtidos;
• Formuladores: 4 profissionais – função: a partir do acompanhamento
da ordem de produção, onde consta o produto, a quantidade e a fórmula a ser
produzida, o formulador dosa as matérias-primas e semi-acabados exatamente de
acordo com a fórmula. Possui a função de evitar a contaminação com outros
materiais não presentes na fórmula. Além da produção de produtos acabados, o
formulador é responsável pela formulação de semi-acabados e de solicitar a compra
de matérias-primas quando estas atingem os limites mínimos de estoques.
• Operadores Industriais: 5 profissionais – função: auxiliam o trabalhos
dos formuladores tanto nos produtos acabados quanto nos semi-acabados. Eles
fazem as pesagens intermediárias, auxiliam no controle de contaminações,
controlam estoques, transportam internamente as matérias-primas aos pontos de
pesagens, calibram equipamentos como balanças e bombas pneumáticas e de
engrenagem, ativam e desativam redes de solventes internas e externas à fábrica,
efetuam a manutenção preventiva nos equipamentos a partir de check list e seu
cronograma e fazem a filtragem e o envase das tintas e thinners
• Auxiliares de Produção: 3 profissionais – função: possuem as mesmas
funções e atribuições dos operadores industriais, com a exceção ao manuseio de
38
equipamentos, ou seja, os auxiliares de produção não operam máquinas;
Laboratório de controle de qualidade:
• Auxiliares de Laboratório: 3 profissionais – função: retiram amostras de
100 ml do produto acabado
analisam a viscosidade, densidade, resistência,
secagem, atrito através do COF, aderência, tempo e quantidade de evaporação de
solventes, peso específico através de pesagens, brilho com o “Meter Gloss”, fineza
com o método “Push”, diluição, monitoramento de umidade com o “Karl Fisher” e
efetuam os laudos de cromatografia gasosa de thinners através do cromatógrafo;
• Coloristas: 2 profissionais – função: analisam as amostras retiradas
pelos auxiliares de laboratório com foco na tonalidade das tintas. Utilizam o aparelho
chamado de espectrofotômetro para analisar o produto final e compará-lo com o
padrão de cor pré-estabelecido efetuando, se necessário, o acerto da tonalidade;
4.3 Descrição da planta produtiva
Todo processo produtivo da linha de tintas e solventes para impressão
alocava-se em um pavilhão industrial localizado na Rodovia SC 447, no quilômetro
de número 2, no Bairro Rio Maina, no município de Criciúma, estado de Santa
Catarina e CEP 88.802-170. O pavilhão possuía uma área construída de 2.100 m²
ou então 15.750 m³. Construído no ano de 2001 pela Engenharia Castanhel, o
pavilhão foi projetado para abrigar a empresa AM Montagens, montadora de
estruturas pesadas de torres de comunicação de celulares. Com isso, a sua
fundação foi dimensionada para abrigar pontes rolantes e o piso fck 250 MPa / m²
para trânsito pesado. Para a manipulação de grandes estruturas, seu pé direito
chegou a 7,5 m na média, e ao pico máximo de 9,0 m na altura da cumeeira.
Cobertura e fechamento lateral são feito com telhas metálicas, de aluzinco, prépintadas nas laterais apoiadas em terças também metálicas. Lateralmente também
há a utilização de alvenaria, com tijolos de barro de seis furos rebocados até a altura
de 3 metros, após isso vem as telhas já mensionadas. A ventilação é composta por
entradas laterais, da altura do piso até 1 metro por 2 metros de largura, propiciando
o fluxo de ar até o ventilador de cumeeira e chegando a 3 trocas de ar por hora, ou
então 47.250 m³ por hora.
39
4.4 Descrição do layout
Chão de fábrica possui 1.800 m² (Anexo 1) divididos entre os setores dos
processos produtivos de tintas e thinners para impressão. Os setores são na ordem
do fluxograma de processo: Recepção de matérias-primas e embalagens, Área de
trânsito de matérias-primas, Área de estocagem de matérias-primas, Área de
estoques de embalagens, Formulação de thinners e dosagem de solventes, Prémistura (produção de semi-acabados), Formulação de tintas, Área de dispersão ou
homogeneização das tintas, Controle de Qualidade de tintas, thinners e solventes,
Filtragem e Envase de tintas e finalmente a Expedição de produtos acabados. Os
setores acima citados foram dimensionados de acordo com a necessidade de cada
um, levando-se em consideração a manutenção da integridade física dos
colaboradores que ali trabalham, o conforto no desempenho das atividades e
também objetivo de se manter um fluxo otimizado e lógico de produção. Sendo
assim, segue a descrição dos setores com as áreas utilizadas:
• Recepção de matérias-primas e embalagens: 18,00 m² - local onde as
matérias-primas e embalagens são recepcionadas, conferido o estado aparente,
conferida a nota fiscal e lançamento no sistema gerencial interno da mesma e
codificação com código de utilização interna;
• Área de trânsito de matérias-primas: 40,00 m² - após a codificação, as
matérias-primas são alocadas numa área onde aguardarão a análise do controle de
qualidade para verificação dos parâmetros de aceitação dos materiais, o que é um
dos fatores que garante a boa continuidade do processo, já que as formulações são
desenvolvidas com faixa de aprovação mínimas e máximas, pois os produtos
químicos não garantem 100% de repetibilidade de fornecimento;
• Área de estocagem de matérias-primas: 170,00 m² - com a aprovação
do controle de qualidade, as matérias-primas são dispostas em palletes e estes em
porta-palletes com 24 m de comprimento e 1 metro de largura e capacidade máxima
de 3000 Kg por par de vigas, sendo o vão de 24 m dividido em 4 pares de vigas. A
capacidade máxima de estocagem é de 300 palletes de 1,20 m por 1,20 m. Estes
palletes são feitos de eucalipto. Cada matéria-prima é adquirida na quantidade
dimensionada com base no consumo histórico, possuem um ponto de pedido e suas
requisições são programadas;
• Área de estoques de embalagens: 180,00 m² - as embalagens são
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dividias em baldes plásticos de 20 litros, em tambores de 100 e 200 litros, em
containers de 1000 litros e em bombonas de 20 litros. Suas requisições e
quantidades em estoque seguem o exemplo das matérias-primas, baseadas no
consumo histórico;
• Formulação de thinners e dosagem de solventes: 100,00 m² - os
solventes utilizados nas formulações dos produtos chegam no interior da fábrica
através de tubulações de 2” de aço carbono galvanizadas. São direcionadas à
balança de dosagem. A balança utilizada possui as dimensões 1,50 m x 1,50 m e é
do tipo de chão, ou seja, sua plataforma fica disposta do mesmo nível do piso de
concreto do pavilhão, facilitando assim o trânsito sobre a mesma. As tubulações são
finalizadas sobre a balança com registros do tipo esfera, que são utilizados nas
dosagens;
• Pré-mistura (produção de semi-acabados): 450,00 m² - sendo um dos
principais setores do processo, a pré-mistura prepara os produtos semi-acabados
para formulação de tintas. Basicamente, as tintas possuem a mesma formação
técnica pelas suas matérias-primas: solventes, resinas e pastas. Solventes possuem
a função de diluição e são utilizados da mesma forma que chegam dos
fornecedores. As resinas possuem a função de fixar à tinta ao substrato ao qual foi
aplicada. São produzidas internamente com a adição de várias matérias-primas e
dispersadas. As pastas objetivam dar a tonalidade da tinta. São formuladas a partir
da mistura de pigmentos, aditivos e solventes, e na seqüência são dispersas e
moídas.
• Formulação de tintas: 150,00 m² - o formulador recebe a Ordem de
Produção onde consta a tinta com código, a quantidade e a fórmula a ser produzida.
As fórmulas constam em um banco de dados, assim o formulador digita o código e a
quantidade na área de controle e aloca o tanque sob os bicos de dosagem da
máquina.
• Área de dispersão ou homogeneização das tintas: 90,00 m² - neste
setor as tintas são dispersas através de misturadores tipo hélice com motores de 1 a
50 CV. Sua principal função é homogeneizar os compostos das tintas formando um
líquido aparentemente único.
• Controle de Qualidade de tintas, thinners e solventes: 120,00 m² - o
laboratório analisa tintas e solventes verificando o padrão de qualidade e de
41
características pré-estabelecidas.
• Filtragem e Envase de tintas: 60,00 m² - neste setor faz-se a filtragem
de tinta de acordo com a micragem necessária para impressão de qualidade. Os
padrões variam de 150,00 a 212,00 microns, ou então de 0,150 a 0,212 mm.
• Expedição de produtos acabados: 380,00 m² - este é o último contato
com o produto. Os produtos são separados por cargas e conferidos por quantidades
e clientes. Após isso são carregados e enviados ao cliente.
4.5 Fatores técnicos relacionados à linha de impressão
• Máquinas e Equipamentos: as máquinas e equipamentos utilizados
no processo são de aço-carbono e aço inox, e não sendo de bronze ou outro
material não-ferroso podem gerar faíscas durante o processo produtivo. As principais
máquinas são misturadores industriais, moinhos verticais e horizontais, tanques de
formulação, empilhadeiras e carros hidráulicos.
• Variações de Temperatura: a Nitrocelulose é um produto muito
sensível às variações de temperatura, principalmente em função da necessidade de
estar embebida em álcool ou em água. No processo de tintas para impressão
necessita-se da volatilidade do álcool, já que possui seu ponto de ebulição em 78,4º
C e o ponto de fulgor em 13,0º C. Em contrapartida, essa necessidade técnica
reflete equivalentemente na necessidade de elementos isolantes térmicos e
equipamentos para conforto térmico para minimização das variações sobre o
produto.
Energia Estática: a energia estática pode acumular-se em todos os
equipamentos do processo, principalmente por serem de aço carbono ou inox. Mais
especificamente, o atrito contínuo entre a hélice do misturador e o produto em
dispersão, pode carregar estaticamente tanto o eixo do misturador quanto o tanque
de formulação. Necessitam-se aterrar todos equipamentos para descarregar
constantemente a energia estática acumulada.
• Ventilação e Exaustão: a ventilação e a exaustão se fazem
necessárias em ambientes industriais que apresentem, além do desconforto térmico,
índices de saturação de vapores orgânicos ou partículas sólidas em suspensão. Tais
índices são quantificados com as análises necessárias conforme as Normas
42
Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e apresentadas no P.P.R.A. –
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. As ações imediatas atenuantes são
as utilizações de equipamentos como ventiladores axiais, centrífugos e naturais, e
insufladores, todos dimensionados conforme a necessidade de trocas de ar por
hora. O pavilhão apresentava ventilação por entradas laterais com venezianas e
saída por ventiladores naturais de cumeeira.
• Instalações Elétricas e Iluminações: com a verificação de ambientes
com concentração de vapores orgânicos, sugere-se, primeiramente, a classificação
da área do processo, e em seguida dimensionar as necessidades de instalações,
equipamentos e iluminações coerentemente inclusive com a viabilidade técnica. Ou
seja, utilização de materiais à prova de explosão ou não dependendo do
embasamento técnico da classificação das áreas. Observou-se a utilização de
motores elétricos à prova de explosão em todos equipamentos, mas sem as
características de áreas classificadas, e por conseqüência sem a profundidade
necessária das instalações à prova de explosões nos setores com concentração de
substâncias químicas.
• Aterramento: se faz necessário em todas as máquinas para minimizar
os efeitos de surtos e descargas elétricas, objetivando descarregar a corrente
elétrica na terra. Além da segurança ao equipamento, evita-se faíscas ou até mesmo
a queima de equipamentos em locais com vapores orgânicos e Nitrocelulose.
• Proteção Anti-Impacto: principalmente a Nitrocelulose, por ser
extremamente sensível a impactos, necessita de cuidados especiais evitando-se
quedas e choques na sua manipulação, transporte e movimento. Verificou-se
alocação de bombonas do produto em porta-palletes a dois metros de altura e outras
em locais com grande fluxo de circulação interna.
• Manipulação e Processo: em função de sua sensibilidade, a
Nitrocelulose precisa estar embebida, no caso das tintas para impressão, em álcool.
Outro fator importante é manipulá-la na área de processo e não no armazenamento
de matérias-primas. Verificou-se que os colaboradores não possuíam a preocupação
em vedar os sacos plásticos de Nitrocelulose evitando o contato da mesma com o
meio.
• Piso Industrial: sugere-se processar a Nitrocelulose em pisos antifaíscas construído com tacos de madeira ou concreto grafitado, entretanto verificou-
43
se no pavilhão piso fck 250 MPa / m² com concreto normal e armado, tendo a
potencialidade de gerar faíscas em situações propensas.
• Incompatibilidades
Químicas:
a
Nitrocelulose
apresenta
incompatibilidade química com os produtos peróxido acético, bromoazida, cloro,
oxidantes fortes, ácidos e bases, e havendo contato entre eles gera gases, calor
excessivo, explosões e reações violentas. Não verificou-se um plano para alocação
de matérias-primas que fosse procedimento vinculado à Norma ISO 9001/2000,
então assim que chegavam os produtos eram dispostos na área de trânsito de
matérias-primas, analisadas pelo Controle de Qualidade e deslocadas aos locais
fixos de estoque.
44
5 RESULTADOS
5.1 Análise das potencialidades dos fatores técnicos
Em análise aos fatores técnicos mencionados anteriormente, chega-se a
algumas potencialidades que possam ter influenciado no princípio e incêndio da
linha de tintas e solventes para impressão de embalagens flexíveis. Pode-se efetuar
as seguintes observações:
• Máquinas e Equipamentos: apesar dos equipamentos não serem de
bronze ou outro material não ferroso, descarta-se esta possibilidade já que a
Nitrocelulose não estava em processo de produção ou transporte, ou seja, não se
encontrava em contato com máquinas e equipamentos;
• Variações de Temperatura: a temperatura no dia estava em torno de
21º C sem grandes variações no decorrer da noite anterior e manhã posterior. A
influencia da temperatura ocorreu na liberação de vapores do álcool, já que seu
ponto de fulgor é de 13 º C, entretanto sem influência ao princípio do sinistro.
• Energia Estática: as embalagens de Nitrocelulose são de 200 litros, e
são de papelão com duas cintas metálicas nas extremidades inferiores e superiores.
São transportadas por carros hidráulicos de aço carbono ou mesmo rolando sobre o
piso de concreto. Pode-se considerar a possibilidade da cinta inferior carregar-se
com energia estática através atrito entre os materiais, e assim um acúmulo de
energia e uma diferença de potencial com a Nitrocelulose, ocorrendo assim uma
ignição auxiliada pelos vapores orgânicos liberados pelo álcool.
• Ventilação e Exaustão: apesar da presença de ventilação por
entradas laterais com venezianas e saída por ventiladores naturais de cumeeira,
verificou-se que tais equipamentos não eram dimensionados conforme a
necessidade de trocas gasosas baseando-se nas concentrações de vapores
orgânicos e sólidos em suspensão. Assim, dependendo da situação de fluxo de ar
externo, as diferenças de pressão poderiam não influenciar na renovação do ar.
Entretanto, as altas concentrações poderiam influenciar no desenvolvimento e não
no princípio do incêndio.
• Instalações Elétricas e Iluminações: sem dúvida, um dos pontos
45
mais relevantes ao princípio do sinistro. Observou-se a utilização de motores
elétricos à prova de explosão em todos equipamentos mas em contrapartida se
presenciou a utilização de interruptores, painéis, inversores de freqüência, cabos e
visores normais, ou seja, uma incoerência na prevenção. Assim, pode-se afirmar que
é possível de um curto ou surto elétrico ter iniciado o sinistro.
• Aterramento: o aterramento verificado foi o do pavilhão, mas o das
máquinas e equipamentos não existia, impossibilitando a minimização dos efeitos de
surtos e descargas elétricas. No momento do incêndio o processo produtivo não
havia iniciado e não havia descargas elétricas.
• Proteção Anti-Impacto: a sensibilidade da Nitrocelulose requer
cuidados a impactos, evitando-se quedas e choques na sua manipulação. Não foram
verificados procedimentos ou mecanismos que mantivessem a estabilidade física da
Nitrocelulose, mas no início do incêndio a mesma estava estática.
• Manipulação e Processo: verificou-se que o principal problema
quanto ao processo era a não vedação dos sacos plásticos de Nitrocelulose após a
sua manipulação, para se evitar o contato da mesma com o meio em função da
evaporação do álcool. Pode-se ter colaborado desta maneira para o rápido
desenvolvimento do sinistro, mas não iniciá-lo.
• Piso Industrial: apesar da utilização de piso fck 250 MPa / m² com
concreto normal e armado e não de piso anti-faísca, a ignição não partiu do piso por
não haver movimento próximo ao local de armazenagem de Nitrocelulose no
momento inicial do sinistro.
• Incompatibilidades Químicas: o fator técnico de maior relevância ao
princípio do sinistro, já que além de apresentar na lista de matérias-primas os
produtos peróxido acético, bromoazida, cloro e alguns oxidantes fortes não se
verificou um plano bem difundido para alocação de matérias-primas evitando o
contato entre essas substâncias químicas. Não se pode afirmar que no momento
havia produtos incompatíveis em contato, já que as matérias-primas eram dispostas
na área de trânsito aleatoriamente, mas existe uma grande possibilidade, já que
havia estes produtos no processo produtivo.
46
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Analisando-se o conteúdo apresentado de informações técnicas e
investigativas conclui-se que o sinistro iniciou no setor de trânsito de matériasprimas, e mais especificamente na Nitrocelulose. O desenvolvimento extremamente
rápido ocorreu pela grande quantidade de produtos inflamáveis, explosivos e muito
voláteis.
Os fatores técnicos de maior relevância à geração do princípio do incêndio
são a energia estática, instalações elétricas e iluminações e incompatibilidades
químicas, sendo este último como a mais provável causa.
Os acontecimentos pré e pós-sinistro desencadearam a necessidade de
uma série de ações internas voltadas à prevenção e segurança, inclusive com
melhorias no sistema preventivo de incêndios. São elas (Anexo 2):
• Classificação das áreas de acordo com o processo produtivo
objetivando investimentos técnico-financeiros de acordo com a real necessidade;
• Isolamento dos diferentes setores do processo por paredes e porta
corta-fogo;
• Voltar os hidrantes à parte externa do pavilhão industrial;
• Utilizar “Sprinklers” em todo processo;
• Aterramento nas máquinas e equipamentos;
• Instalação de câmeras de vigilância;
• Dimensionamento dos equipamentos e do sistema de ventilação e
exaustão;
• Plano de emergência bem difundido;
• Capacitação técnica aos colaboradores do processo produtivo com
relação aos produtos perigosos;
• Criação de um setor para manipulação da Nitrocelulose em algodão e
transformação em solução de Nitrocelulose para maior estabilidade do composto;
• Procedimento para alocação das matérias-primas tanto nos locais de
trânsito quanto nos fixos, avaliando-se as incompatibilidades químicas das
substâncias;
Com essas atitudes, entende-se que ocorrerá um grande salto no
47
desenvolvimento em prol da prevenção no processo produtivo desta linha de
produtos. A manipulação de produtos perigosos focada nos fatores técnicos
potenciais e o trabalho em informações tecnológicas minimizarão as possibilidades
de ocorrência de sinistros ou incidentes, objetivando principalmente a preservação
do patrimônio da empresa e a manutenção da integridade física dos colaboradores e
da comunidade.
48
REFERÊNCIAS
BAROLI, Guido. Incêndios: princípios de prevenção. São Paulo: Atlas, 1992.
BRIGADAS DE EMERGÊNCIA. Vonseg – Tecnologia em Segurança e Saúde
Ocupacional Ltda, 2002.
FISP. Ficha de informação de segurança do produto. Cia. Nitroquímica Brasileira,
2004.
GOMES, Ary Gonçalves. Sistemas de prevenção contra incêndios. 1.ed. Rio de
Janeiro: Interciência, 1998.
NITROCELULOSE. Manual Técnico de Aplicações. Cia. Nitroquímica Brasileira,
2005.
PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS. Telecomunicações do Paraná S/A –
TELEPAR, 1996.
SILVEIRA, Capitão Antônio Manoel. Prevenção e Combate a Incêndios. 1.ed.
Florianópolis: Editograf, 1982.
SANTA CATARINA. Polícia Militar Corpo de Bombeiros. Norma de Segurança
Contra Incêndios. 2.ed. Florianópolis: Edene, 1982.
SEGURANÇA e Medicina do Trabalho. Série: Manuais de Legislação. Atlas. 54.ed.
2004 (NR 23).
49
ANEXOS
50
ANEXO 1 - LAYOUT DA LINHA DE IMPRESSÃO
51
52
ANEXO 2 - NOVO LAYOUT: CLASSIFICAÇÃO DE ÁREA, PAREDES
E PORTAS CORTA-FOGO
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