UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
COMPORTAMENTO FENOLÓGICO DE VITIS VINIFERA L.
FACE À VARIABILIDADE CLIMÁTICA NA REGIÃO DE
LISBOA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM
ENGENHARIA DO AMBIENTE
ANA RITA ALVES DA FONSECA QUEIRÓS CAMPOS
Orientador: Prof. Doutor João Andrade Santos
Coorientador: Prof. Doutor Aureliano Malheiro
Vila Real, 2013
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
COMPORTAMENTO FENOLÓGICO DE VITIS VINIFERA L.
FACE À VARIABILIDADE CLIMÁTICA NA REGIÃO DE
LISBOA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM
ENGENHARIA DO AMBIENTE
ANA RITA ALVES DA FONSECA QUEIRÓS CAMPOS
Composição do Júri:
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
Vila Real, 2013
I
Agradecimentos
O desenvolvimento deste trabalho não seria possível sem a colaboração de várias
pessoas que me ajudaram e apoiaram ao longo das diversas fases. Gostaria, assim, de
agradecer a todos os que de alguma forma, direta ou indiretamente, contribuíram para
que a sua realização fosse possível:
- Aos meus orientadores, Prof. Dr. João Carlos Andrade dos Santos e Prof. Dr. Aureliano
Malheiro, pela disponibilidade que sempre demonstraram, pela orientação no decorrer
deste trabalho e também pela compreensão, paciência e conselhos.
- Ao Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (Estação Vitivinícola
Nacional, Dois Portos) pela disponibilização dos dados fenológicos, permitindo a
concretização deste estudo.
- Aos meus pais, pelo amor e confiança demonstrada ao longo da minha vida académica
e vida em geral.
- A todos os meus amigos, pela disponibilidade e pela amizade ao longo de todos estes
anos.
- Ao meu namorado, por estar presente nos bons e maus momentos, agradeço todo o
incentivo, força, confiança e amor.
III
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à
variabilidade climática na Região de Lisboa
Resumo
O clima tem extrema importância no crescimento e desenvolvimento da videira,
atuando diretamente na sua fenologia e influenciando a qualidade das uvas e do vinho. O
principal objetivo deste trabalho consiste no estudo das relações entre a temperatura
mensal (máxima, média e mínima) do ar e as datas de ocorrência dos principais estados
fenológicos (abrolhamento, floração e pintor), assim como com os respetivos intervalos
entre estados no período 1990-2011 (22 anos). Adicionalmente é utilizada a data de
vindima, quando um teor de álcool provável de 11,5% é alcançado. Para o efeito são
usadas duas castas brancas (Chasselas e Fernão Pires) e duas castas tintas (Aragonez
e Castelão) plantadas numa vinha experimental da Estação Vitivinícola Nacional, Dois
Portos, Região Vitivinícola de Lisboa.
Através de um modelo de regressão linear multivariada utilizaram-se as
temperaturas do ar como variáveis independentes (preditores) e as variáveis fenológicas
como variáveis dependentes (preditandos). Este modelo estatístico dá-nos informação
sobre os períodos (meses) em que as temperaturas médias (máxima, mínima e média)
têm maior influência para cada casta e para cada estado fenológico, permitindo
aprofundar o conhecimento em termos de efeitos na variabilidade temporal da fenologia.
O presente estudo evidencia a forte influência das condições atmosféricas na
fenologia da videira, em particular da temperatura do ar. Esta influência varia entre castas
e de ano para ano. Anomalias da temperatura, particularmente nos meses de fevereiro,
março e abril têm implicações significativas nos estados fenológicos, principalmente no
abrolhamento e floração.
Este trabalho evidencia ainda a elevada importância de estudos de variabilidade
climática na fenologia da videira, pois num possível cenário de alterações climáticas os
impactos no ciclo vegetativo da planta e, consequentemente, nas atividades vitivinícolas
poderão ser acentuados.
Palavras-chave: Vitis vinifera L., fenologia, variabilidade da temperatura, Região
Vitivinícola de Lisboa
V
Phenological behaviour of Vitis Vinifera L. under
climate variability in the Lisbon region
Abstract
Climate plays a key role on the development of the grapevine, acting directly in the
growth stages of their life cycle and influencing the quality of grapes and wine. The main
goal of the present study is to assess the relationships between monthly mean air
temperatures (maximum, mean and minimum) and dates of occurrence of the main
growth stages (budbreak, flowering and veraison), as well as the respective intervals
between stages in the period 1990 - 2011 (22 years). Furthermore, the harvest date is
used when a probable alcohol content of 11.5% is reached. For this purpose, two white
(Chasselas and Fernão Pires) and two red (Aragonez and Castelão) varieties, grown in
the experimental vineyard of the Estação Vitivinícola Nacional (Dois Portos, Lisbon Wine
Region), are used.
A multivariable linear regression model was applied to the air temperatures, as
independent variables (predictors), and to the phenological variables, as dependent
variables (predictands). This model provides information on the temperatures that mostly
influence each grapevine variety and each phenological stage, thus allowing the grower to
predict the date of occurrence of each stage.
This study reveals a strong influence of the atmospheric conditions on grapevine
phenology, particularly air temperature. This forcing significantly varies amongst varieties
and from one year to the other. Temperature anomalies in February, March and April have
significant implications for the phenological stages, especially in budbreak and flowering.
The present study also highlights the relevance of studies assessing the role of
climate variability on grapevine phenology, as changing climates can have strong impacts
on the grapevine vegetative cycle and, as a result, on viticultural activities.
Keywords: Vitis vinifera L., phenology, temperature variability, Lisbon Wine Region
VII
Índice
Agradecimentos ................................................................................................................III
Resumo ............................................................................................................................ V
Abstract .......................................................................................................................... VII
Índice ............................................................................................................................... IX
Índice de Figuras ............................................................................................................. XI
1-INTRODUÇÃO ...............................................................................................................1
1. Introdução ..................................................................................................................3
2-REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...........................................................................................7
2.1 Fenologia da videira .................................................................................................9
2.2 Exigências climáticas da videira .............................................................................10
3-MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................................15
3.1 Estação Vitivinícola Nacional, Dois Portos .............................................................17
3.2 Dados de temperatura ............................................................................................18
3.3 Fenologia ...............................................................................................................21
3.4 Relações entre fenologia e temperatura do ar ........................................................23
4-RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................25
4.1 Clima ......................................................................................................................27
4.1.1 Normais climatológicas ....................................................................................27
4.1.2 Dados meteorológicos: 1990-2011...................................................................28
4.2 Variabilidade inter-anual da fenologia .....................................................................29
4.2.1 Abrolhamento ..................................................................................................29
4.2.2 Floração ...........................................................................................................32
4.2.3 Pintor ...............................................................................................................34
4.2.4 Vindima ............................................................................................................37
4.3 Intervalo entre estados fenológicos ........................................................................39
4.4 Relações fenologia e temperatura ..........................................................................42
4.4.1 Modelo ................................................................................................................45
5-CONCLUSÕES ............................................................................................................47
5. Conclusões ..............................................................................................................49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................51
ANEXOS..........................................................................................................................57
IX
Índice de Figuras
Figura 1- Ilustração da videira europeia, Vitis vinifera L.. ...................................................3
Figura 2- Indicações Geográficas e Denominações de Origem em Portugal......................6
Figura 3- Ciclo vegetativo, ciclo reprodutivo e estados fenológicos da videira, para o
Hemisfério Norte. ...............................................................................................................9
Figura 4- Estados fenológicos da videira, onde a) corresponde à fase fenológica
abrolhamento, b) à floração, c) ao pintor e d) à fase maturação. .....................................10
Figura 5- Regiões vitícolas mundiais. Os contornos limitam a maioria das áreas onde
existe cultura vitícola e os pontos representam regiões vinícolas. ...................................11
Figura 6- Temperaturas limite e críticas da videira. ..........................................................11
Figura 7- Quinta da Almoínha, Estação Vitivinícola Nacional em Dois Portos. .................17
Figura 8- Esquema que sintetiza o processo pela qual se estimou os valores de
temperatura de Dois Portos para o período completo de estudo, 1990-2011 ...................19
Figura 9- Regressão linear entre a temperatura média mensal (TG em °C) dos dois locais
(Lisboa e Dois Portos). Os marcadores a azul correspondem aos pares de valores em
cada série temporal e a reta de regressão está indicada pela curva a preto. A respetiva
equação de regressão está indicada, bem como o coeficiente de determinação (R 2). .....20
Figura 10- Regressão linear entre a temperatura mínima mensal (TN em °C) dos dois
locais (Lisboa e Dois Portos). Os marcadores a azul correspondem aos pares de valores
em cada série temporal e a reta de regressão está indicada pela curva a preto. A
respetiva equação de regressão está indicada, bem como o coeficiente de determinação
(R2). .................................................................................................................................20
Figura 11- Regressão linear entre a temperatura máxima mensal (TX em °C) dos dois
locais (Lisboa e Dois Portos). Os marcadores a azul correspondem aos pares de valores
em cada série temporal e a reta de regressão está indicada pela curva a preto. A
respetiva equação de regressão está indicada, bem como o coeficiente de determinação
(R2). .................................................................................................................................21
Figura 12- Imagem referente às quatro castas estudadas a) Chasselas, b) Fernão Pires,
c) Aragonez e d) Castelão ...............................................................................................22
Figura 13- Valores médios mensais da temperatura máxima (TX), média (TG) e mínima
(TN) (em °C) para Lisboa e Dois Portos no período 1951-1980 .......................................27
Figura 14- Valores médios mensais da precipitação acumulada (mm) para Lisboa e Dois
Portos no período 1951-1980. .........................................................................................28
XI
Figura 15- Temperatura média mensal (°C) para Lisboa e Dois Portos no período 19902011. ...............................................................................................................................29
Figura 16- Diagramas de caixa das datas de ocorrência (em dias julianos) para o
abrolhamento, para cada uma das quatro castas (Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e
Castelão) no período 1990-2011. Nestes diagramas as linhas horizontais dentro das
caixas correspondem às medianas, os limites inferiores (superiores) das caixas ao
primeiro (terceiro) quartil, os limites inferiores (superiores) dos bigodes correspondem aos
máximos (mínimos) não extremos. ..................................................................................30
Figura 17- Data de ocorrência da fase fenológica abrolhamento para as castas
Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão e para o período 1990-2011. .................31
Figura 18- Número de dias desde 1 de janeiro até ao estado fenológico abrolhamento,
para as castas Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão e para o período 19902011. ...............................................................................................................................31
Figura 19- Diagrama de caixa, data de ocorrência (em dias julianos) para a floração, para
quatro castas (Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão), no período 1990-2011.
Nestes diagramas as linhas horizontais dentro das caixas correspondem às medianas, os
limites inferiores (superiores) das caixas ao primeiro (terceiro) quartil, os limites inferiores
(superiores) dos bigodes correspondem aos máximos (mínimos) não extremos. Os
extremos de 1º (2ª) ordem estão indicados pelos círculos (asteriscos). ...........................32
Figura 20- Data de ocorrência da fase fenológica floração para as castas Chasselas,
Fernão Pires, Aragonez e Castelão e para o período 1990-2011.....................................33
Figura 21- Número de dias desde a data de ocorrência da fase fenológica abrolhamento
até ao dia de ocorrência da fase fenológica floração, para as castas Chasselas, Fernão
Pires, Aragonez e Castelão e para o período 1990-2011. ................................................34
Figura 22- Diagrama de caixa, data de ocorrência (em dias julianos) para o estado
fenológico pintor, para quatro castas (Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão), no
período 1990-2011.Nestes diagramas as linhas horizontais dentro das caixas
correspondem às medianas, os limites inferiores (superiores) das caixas ao primeiro
(terceiro) quartil, os limites inferiores (superiores) dos bigodes correspondem aos
máximos (mínimos) não extremos. Os extremos de 1º (2ª) ordem estão indicados pelos
círculos (asteriscos). ........................................................................................................35
Figura 23- Data de ocorrência da fase fenológica pintor para as castas Chasselas, Fernão
Pires, Aragonez e Castelão e para o período 1990-2011. ................................................36
Figura 24- Número de dias desde o dia de ocorrência da fase fenológica floração até ao
dia de ocorrência da fase fenológica pintor para as castas Chasselas, Fernão Pires,
Aragonez e Castelão e para o período 1990-2011. ..........................................................36
Figura 25- Diagrama de caixa, data de ocorrência (em dias julianos) para a vindima, para
quatro castas (Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão), no período 19902011.Nestes diagramas as linhas horizontais dentro das caixas correspondem às
medianas, os limites inferiores (superiores) das caixas ao primeiro (terceiro) quartil, os
limites inferiores (superiores) dos bigodes correspondem aos máximos (mínimos) não
extremos. .........................................................................................................................37
Figura 26- Data de ocorrência da vindima para as castas Chasselas, Fernão Pires,
Aragonez e Castelão, para o período 1990-2011.............................................................38
Figura 27- Número de dias, desde o dia de ocorrência da fase fenológica do pintor até à
vindima, para as castas Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão para o período
1990-2011). .....................................................................................................................38
Figura 28- Duração dos períodos entre os estados fenológicos: 1Jan-Abr (1 janeiroabrolhamento), Abr-Flo (abrolhamento-floração), Flo-Pin (floração-pintor) e Pin-Vin
(pintor-vindima), para a casta Chasselas, no período 1990-2011. ...................................39
Figura 29- Duração dos períodos entre os estados fenológicos: 1Jan-Abr (1 janeiroabrolhamento), Abr-Flo (abrolhamento-floração), Flo-Pin (floração-pintor) e Pin-Vin
(pintor-vindima), para a casta Fernão Pires, no período 1990-2011. ................................40
Figura 30- Duração dos períodos entre os estados fenológicos: 1Jan-Abr (1 janeiroabrolhamento), Abr-Flo (abrolhamento-floração), Flo-Pin (floração-pintor) e Pin-Vin
(pintor-vindima), para a casta Aragonez, no período 1990-2011. .....................................41
Figura 31- Duração dos períodos entre os estados fenológicos: 1Jan-Abr (1 janeiroabrolhamento), Abr-Flo (abrolhamento-floração), Flo-Pin (floração-pintor) e Pin-Vin
(pintor-vindima), para a casta Castelão, no período 1990-2011. ......................................41
Figura 32- Escala à esquerda: Dia de ocorrência (dias Julianos) do abrolhamento para as
castas Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão. Escala à direita: média de TN
(temperatura mínima) de fevereiro-março e para o período 1990-2011. ..........................43
Figura 33- Escala à esquerda: Dia de ocorrência (dias Julianos) da floração para as
castas Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão. Escala à direita: média de TX
(temperatura máxima) de março-abril e para o período 1990-2011. ................................44
Figura 34- Escala à esquerda: Dia de ocorrência (dias Julianos) do pintor para as castas
Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão. Escala à direita: média de TN
(temperatura mínima) de março-abril e para o período 1990-2011. .................................44
Figura 35- Escala à esquerda: Dia de ocorrência (dias Julianos) da vindima (álcool
provável de 11,5%) para as castas Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão.
Escala à direita: média de TG (temperatura média) de abril e para o período 1990-2011.
........................................................................................................................................44
XIII
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
1-INTRODUÇÃO
1
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
1. Introdução
Desde os tempos mais remotos que a vinha assume um papel social e económico
relevante, acompanhando a cultura e a subsistência dos povos. Estima-se que o cultivo
da vinha tenha tido início na zona do Cáucaso, progredindo depois para a Mesopotâmia,
Hebreia, Fenícia, Grécia e Egipto (Phillips, 2000). Com a expansão do império grego é
provável que a vinha tenha sido introduzida na Europa em 1600 A.C. (Magalhães, 2008).
A videira, é uma trepadeira da família das vitáceas, com tronco retorcido, ramos
flexíveis, folhas grandes e repartidas em lóbulos pontiagudos, flores esverdeadas em
ramos, e cujo fruto é a uva.
A videira (Vitis) compreende 3 grupos: a Europeia com uma única espécie, a Vitis
vinifera; a Americana, com cerca de 20 espécies, e a Asiática, com cerca de 15 espécies.
A Europeia, Vitis vinifera L. (Figura 1), é considerada como sendo a espécie que
produz os vinhos de maior qualidade e é a mais usada em toda a Europa.
Figura 1- Ilustração da videira europeia, Vitis vinifera L..
O clima é um dos fatores que maior influência tem na cultura da vinha. Elementos
meteorológicos/climáticos, tais como a temperatura do ar, precipitação e radiação solar,
podem ser fatores limitantes ou condicionantes do seu desenvolvimento. Por este motivo,
são de extrema importância estudos que avaliem a influência da variabilidade climática,
quer no espaço, quer no tempo, sobre a videira.
Relativamente à campanha de 2008/2009 é na Europa que se encontram os
países com mais produção de vinho, destacando-se a Itália (45,981 Mhl) e a França
3
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
(45,672 Mhl). Portugal Continental, em 2011, segundo dados do Instituto da Vinha
e do Vinho (IVV, 2011), possuía uma área de vinha de 234.663 ha (Quadro 2) e ocupava
o 5º lugar entre os principais países produtores de vinho da União Europeia (Quadro 1).
Dadas as características tipicamente mediterrâneas do clima em Portugal Continental,
suavizadas pela influência atlântica, esta posição é facilmente compreendida.
Quadro 1- Produção (Mhl) dos principais países produtores de vinho a nível mundial (adaptado de
IVV, 2011).
Portugal
6,073
Chile
8,227
Alemanha
10,261
África do Sul
9,783
Austrália
9,620
Argentina
15,046
China
12,000
EUA
19,870
Espanha
34,755
França
45,672
Itália
45,981
Outros
48,706
Total Mundial
265,994
Atualmente existem diversas regiões vitícolas (Figura 2) com denominação de
origem (DO), designação adotada para os produtos vitivinícolas cuja originalidade e
individualidade estão ligados de forma indissociável a uma determinada região (IVV,
2011). Cada região vitícola apresenta ainda sub-regiões (com DO), que são
tendencialmente consideradas de maior aptidão para o cultivo da vinha e para a
produção de vinhos de elevada qualidade.
4
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Quadro 2 - Área de vinha total (ha) em Portugal (adaptado de IVV, 2011).
A região vitivinícola de Lisboa corresponde a uma das maiores regiões do país em
termos de área de vinha e de produção de vinho. O relevo desta região não é em geral
muito acentuado, exceto no alinhamento do sistema Sintra-Montejunto-Aire (que se
estende do extremo sudoeste para o extremo nordeste desta região, em grande parte ao
longo da fronteira com a região vitícola do Tejo), onde ressaltam alguns estratos de
basalto, calcário e granito. O clima é temperado mediterrânico, mas com amplitudes
térmicas anuais e diurnas muito moderadas pela importante influência marítima. Na parte
central desta região (antiga Estremadura) encontramos as mais vastas manchas de vinha
desta
região,
reconhecidas
pelas
suas
características
de
elevada
qualidade,
nomeadamente as DO “Alenquer”, “Arruda”, “Torres Vedras” e “Óbidos”. Os tipos de
vinhos desta região vitícola são: tinto, branco e rosado, espumante, licoroso e “vinho
leve” (IVV, 2011).
O objetivo deste trabalho consiste na avaliação da influência da temperatura na
fenologia da videira, em particular no abrolhamento, floração, pintor e também na data da
vindima (apesar de não ser considerada um “verdadeiro” estado fenológico, pois depende
de práticas enológicas, disponibilidade de mão-de-obra, logística, entre outras). Para este
efeito são consideradas duas castas brancas (Chasselas e Fernão Pires) e de duas
castas tintas (Aragonez e Castelão), localizadas numa vinha experimental da Estação
Vitivinícola Nacional, situada em Dois Portos, Torres Vedras (DO 8.9, na metade sul da
região vitícola de Lisboa, Figura 2).
5
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Figura 2- Indicações Geográficas e Denominações de Origem em Portugal (adaptado de
Viniportugal® 2013).
6
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
2-REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
7
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
2.1 Fenologia da videira
A fenologia é um ramo da ecologia que estuda os fenómenos periódicos dos seres
vivos e as suas relações com o meio ambiente, como a luz, temperatura e humidade (De
Fina & Ravelo, 1973). Para estes autores, a fase de desenvolvimento é o aparecimento,
transformação ou desaparecimento dos órgãos das plantas, sendo que duas fases
sucessivas delimitam um subperíodo.
Ao longo de um ano, a videira sofre transformações morfológicas e funcionais,
correspondendo às diversas fases englobadas no ciclo vegetativo anual (Figura 3).
CICLO REPRODUTIVO
Figura 3- Ciclo vegetativo, ciclo reprodutivo e estados fenológicos da videira, para o Hemisfério
Norte (adaptado de Magalhães,2008).
O ciclo vegetativo divide-se em duas fases, a fase do repouso vegetativo e a fase
de vida ativa. A fase de repouso vegetativo, quando a videira mantém inalterado o seu
aspeto exterior e apresenta uma atividade fisiológica muito reduzida (Magalhães, 2008),
ocorre nas regiões extratropicais do Hemisfério Norte (região onde Portugal se localiza)
de dezembro a março (aproximadamente). A fase de vida ativa, quando se observam
constantes modificações na morfologia da planta (Magalhães, 2008), ocorre de
março/abril a fim de novembro.
O ciclo vegetativo inicia-se quando a videira perde seiva, denominado por “choro”
da videira, devido à rápida atividade radicular resultante do aumento da temperatura do
solo (Magalhães, 2008). Este fenómeno ocorre cerca de 2 semanas antes do
abrolhamento (rebentação das gemas), Figura 4a. A floração (abertura das flores), Figura
4b, ocorre entre finais de maio e inícios de junho e, após esta fase, dá-se a fase do
9
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
pintor, Figura 4c, que também marca o início da maturação (mudança de cor até à
colheita) Figura 4d.
A duração de cada fase fenológica difere de acordo com cada uma das castas
(variedades) de videira. Estas diferenças podem ser muito marcadas e estão geralmente
associadas às condições térmicas de cada região e às exigências específicas de cada
casta (Mandelli et al., 2005).
A caracterização fenológica e a quantificação das necessidades térmicas
necessárias para a videira completar as diferentes fases do ciclo vegetativo fornecem ao
viticultor o conhecimento das prováveis datas de colheita (Pedro Jr. et al., 1993),
permitindo assim o planeamento adequado das atividades agrícolas. Esta planificação
atempada reveste-se de particular interesse para os grandes produtores de vinho, dadas
as elevadas extensões de vinha que têm de gerir e toda a logística complexa associada à
produção, armazenamento e comercialização do vinho.
Figura 4- Estados fenológicos da videira, onde a) corresponde à fase fenológica abrolhamento,
b) à floração, c) ao pintor e d) à fase maturação (adaptado de drapc.min-agricultura.pt).
2.2 Exigências climáticas da videira
Ainda que a videira seja moderadamente resiliente a condições ambientais
desfavoráveis, o seu cultivo para produção de vinho de elevada qualidade e projeção
internacional torna o seu cultivo limitado a algumas regiões específicas, que reúnem um
conjunto de condições essenciais para o desenvolvimento adequado e equilibrado da
videira. O clima varia naturalmente de região para região, tendo cada região a sua própria
identidade. Atualmente as regiões de produção vitícola estão localizadas numa
determinada zona geográfica e climática (Figura 5). Em termos de latitude, considera-se
que a produção global de vinho se instalou no Hemisfério Norte entre os paralelos 30 e
50º, e no Sul entre os 30 e 40º (Branas, 1974).
10
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Figura 5- Regiões vitícolas mundiais. Os contornos limitam a maioria das áreas onde existe cultura
vitícola e os pontos representam regiões vinícolas (adaptado de De Blij, 1983).
Nestas latitudes encontram-se regiões pertencentes às classes de clima
temperado (que inclui o clima mediterrânico), segundo a classificação Köppen-Geiger.
Para latitudes sensivelmente inferiores a 30ºN ou S, o clima assume características
subtropicais ou tropicais, cujas temperaturas médias ao longo do ano são sempre
superiores ao zero-vegetativo da videira (Magalhães, 2008). O valor da temperatura a
partir do qual se inicia a atividade vegetativa denomina-se por zero-vegetativo (To),
correspondendo sensivelmente a 10ºC (Figura 6). Contudo, este valor pode variar,
dependendo da latitude onde é cultivada e das castas. De facto, para além da localização
geográfica, a temperatura do ar é considerada um dos elementos climáticos mais
importantes no crescimento e produtividade da videira (Jones e Alves, 2012), controlando
o ritmo a que ocorrem os vários estados fenológicos do seu ciclo vegetativo (Clímaco et
al., 2008). Na Figura 6, pode-se verificar quais os valores de temperaturas limite e críticas
para a videira, segundo Crespy (1987).
Figura 6- Temperaturas limite e críticas da videira (Crespy, 1987).
11
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
´
A videira é bastante resistente às baixas temperaturas no Inverno, quando se
encontra em período de repouso vegetativo. No entanto, temperaturas inferiores a -17ºC
podem afetar órgãos vitais da videira (Hidalgo, 1999), sendo portanto uma temperatura
crítica para esta (Figura 6). As geadas primaveris, com temperaturas inferiores a cerca de
-1ºC, são também consideradas críticas, pois podem causar a destruição dos órgãos
herbáceos da planta (Branas, 1974). Pelo exposto, regiões com invernos frios, com risco
elevado de temperaturas inferiores a -17ºC, e com risco elevado de geadas durante o
período vegetativo da videira não são adequadas à viticultura. Estas regiões geralmente
encontram-se em latitudes superiores a 50º (HS) ou 40º (HS), em altitudes elevadas ou
em regiões com climas continentais de grande amplitude térmica anual.
Relativamente às temperaturas elevadas, a videira apresenta uma tolerância
considerável. Para os autores como Moutinho-Pereira et al. (2007) ou Schaffer e
Andersen (1994) este é um parâmetro que depende muito da casta. Apesar da maioria
das castas resistir a temperaturas acima dos 40ºC por curtos períodos de tempo, a
maioria não resiste a temperaturas superiores a 47ºC devido a lesões foliares
irreversíveis. O limiar de 43ºC é geralmente considerado crítico para a videira (Figura 6).
A precipitação anual e sua sazonalidade também influenciam fortemente a
viticultura. Por exemplo, uma humidade adequada do solo durante o abrolhamento é
fundamental para o início do crescimento da videira (Hardie e Martin, 2000;
Paranychianakis et al, 2004.). Pelo contrário, humidades excessivas durante estes
estados iniciais podem conduzir ao aparecimento de doenças nas folhas (During, 1986).
Da floração à maturação, humidades moderadas e condições atmosféricas estáveis são
consideradas favoráveis para vinhos de alta qualidade (Jones e Davis, 2000; Nemani et
al, 2001; Ramos et al, 2008). Durante a maturação, enquanto humidades excessivas são
desfavoráveis à qualidade do vinho (Tonietto, 1999), pois ocorre uma maior diluição dos
açúcares (Reynolds e Naylor, 1994), já a secura moderada tende a aumentar a qualidade
do vinho (Storchi et al., 2005). Ora esta é uma limitação muito importante, dado que
muitas regiões com condições térmicas adequadas têm verões predominantemente
chuvosos, o que limita o cultivo da vinha em muitas regiões temperadas quentes mas de
clima continental (o verão é a estação mais chuvosa). Restam, portanto, essencialmente
as regiões de climas temperados quentes de tipo mediterrânico ou de tipo marítimo sem
humidade excessiva de verão. Tendo em conta que para a maioria dos climas do planeta
a estação mais chuvosa corresponde ao período mais quente do ano, esta é de facto
uma limitação importante para a distribuição geográfica do cultivo da vinha, bem
adaptada às peculiaridades do clima mediterrânico. Assim se explica que as grandes
regiões vitícolas mundiais se situam preferencialmente não apenas nas faixas de
12
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
latitudes 30-50ºN ou 30-40ºS, mas também na parte mais ocidental das grandes massas
continentais (de verão seco), frequentemente banhadas por correntes marítimas frias e
sob forte influência de anticiclones subtropicais (e.g. Europa Ocidental e do Sul,
Califórnia, Sudoeste da Austrália e da África do Sul, centro-norte do Chile).
A videira é também muito exigente em radiação solar direta, sendo que baixos
níveis de radiação solar (de curto comprimento de onda) causa problemas,
principalmente durante as fases de floração e maturação (Manica et al., 2006). Durante a
fase de maturação das uvas a evolução do teor de açúcares é favorecido pela ocorrência
de dias sol e, portanto, de níveis elevados de radiação solar direta (Riou et al., 1994).
Assim, em regiões de baixa insolação (numero de horas de sol) durante o ciclo vegetativo
é frequente obter vinho de menor qualidade. No caso português, como na generalidade
dos climas mediterrânicos, salvo raras exceções em mesoclimas de altitude e de regiões
costeiras, a radiação solar média disponível é elevada, não sendo por isso, em geral, um
fator limitativo à produção e qualidade do vinho. Mais uma vez, as exigências da videira
adaptam-se particularmente bem aos climas mediterrânicos, caracterizados por verões
quentes, longos, secos e com elevados níveis de radiação solar direta disponível, o que
torna Portugal num país com elevada aptidão vitivinícola.
13
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
3-MATERIAL E MÉTODOS
15
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
3.1 Estação Vitivinícola Nacional, Dois Portos
O estudo incidiu em 4 castas, 2 brancas (Chasselas e Fernão Pires) e 2 tintas
(Aragonez e Castelão), pertencentes à Coleção Ampelográfica Nacional (CAN) instalada
na Quinta da Almoínha (Figura 7), Instituto Nacional de Investigação Agrária e
Veterinária, INAV (Estação Vitivinícola Nacional, EVN), em Dois Portos (latitude 39º 02’
N, longitude 9º 11’ W), Torres Vedras (sub-região DO 8.9 da região vitícola de Lisboa;
Figura 2). Nas suas instalações funcionam laboratórios e oficinas tecnológicas
modernamente equipadas. É ainda detentora de valiosíssimas coleções de referência
nacional e internacional (INRB, 2012).
Figura 7- Quinta da Almoínha, Estação Vitivinícola Nacional em Dois Portos (adaptado de
www.inrb.pt).
17
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
3.2 Dados de temperatura
Para estudar a influência da variabilidade climática numa região, neste caso em
particular da região de Dois Portos (DOC Torres Vedras), nos estados fenológicos da
videira são necessários registos meteorológicos locais e/ou regionais. Estes registos são
obtidos a partir de estações meteorológicas (clássicas ou automáticas) e têm de ser
sujeitos a uma análise prévia criteriosa, a fim de aferir a qualidade e fiabilidade dos dados
recolhidos. Tendo em conta a reconhecida importância da temperatura (média, mínima e
máxima) do ar no desenvolvimento vegetativo da videira, conforme já foi referido
anteriormente, a obtenção de séries temporais da temperatura no local é decisiva para a
prossecução deste estudo e para o cumprimento dos objetivos inicialmente propostos.
Para o período de estudo, 1990-2011, foram utilizados dados fenológicos (Dois
Portos) e duas bases de dados de temperatura (Dois Portos e Lisboa). Utilizaram-se
estas duas bases de dados por 1) os dados de Dois Portos não cobrirem a totalidade do
período temporal dos dados fenológicos (1990-2011) e 2) por não ser possível encontrar
dados meteorológicos nas proximidades com registos fiáveis no período de estudo.
A base de dados de Dois Portos contém informação de temperatura para o
período de 1999 a 2010 e foi disponibilizada, juntamente com os dados de fenologia para
as quatro castas referidas acima, pela EVN. Os dados da estação meteorológica de
Lisboa/Geofísico contêm informação para o período completo de estudo 1990-2011
(Figura 8) e foram cedidos pelo projeto European Climate Assessement and Dataset
(ECA&D; http://eca.knmi.nl/). Uma descrição detalhada sobre este projeto pode ser
encontrada em Tank et al. 2002. As médias mensais de TG (temperatura média), TN
(temperatura mínima) e TX (temperatura máxima) foram então calculadas, quer para Dois
Portos, quer para Lisboa.
Através de regressões lineares simples entre os valores médios mensais da
temperatura de Lisboa e Dois Portos, estimou-se uma série completa para Dois Portos.
As regressões lineares foram estabelecidas separadamente para as médias mensais da
temperatura média (TG; Figura 9), mínima (TN; Figura 10) e máxima (TX; Figura 11).
Todos os meses foram considerados em conjunto nas regressões por não ser possível
um ajuste adequado utilizando apenas 11 valores (número de anos comuns às duas
bases de dados; 1999-2010). Deste modo, as regressões foram aplicadas sobre 11 anos
× 12 meses = 132 valores. Contudo, um estudo de sensibilidade mostrou que os
resultados não são muito diferentes quando se aplicam as regressões mês a mês, pelo
que se admite que a metodologia seguida seja estatisticamente robusta.
18
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Figura 8- Esquema que sintetiza o processo pela qual se estimou os valores de temperatura de
Dois Portos para o período completo de estudo, 1990-2011. 1) Base de dados de Dois Portos com
valores de temperatura de 1999-2010. 2) Base de dados de Lisboa com valores de temperatura
para o período completo de 1990-2011. 3) Valores estimados (1990-2011) de temperatura mensal
para Dois Portos a partir de regressão linear com os valores de Lisboa. Estes novas dados foram
utilizados com os dados fenológicos de Dois Portos para esse mesmo período.
O objetivo único desta análise de regressão linear simples é estimar o valor da
variável dependente Y, que neste caso concreto corresponde à temperatura média
mensal (TG, TN ou TX) em Dois Portos, sendo conhecido o valor da variável
independente X, que corresponde à mesma variável em Lisboa. A equação de regressão
é a fórmula algébrica pela qual se determina Y. Conforme se pode constatar dos
resultados apresentados nas Figuras 9-11, os coeficientes de determinação (R2) são
bastante elevados (> 95%), o que mostra que o ajuste linear entre as duas bases de
dados é bastante satisfatório. Por este motivo, dado que não há evidência em contrário,
pode-se inferir que no período com dados em falta em Dois Portos (1990-1998) o mesmo
ajuste tenha permanecido adequado. Desta forma, os dados nesse período são
estimados com base nas equações de regressão e são obtidas as séries médias mensais
de TG, TN e TX para Dois Portos no período completo de 1990-2011. Esta metodologia
permite, pois, a utilização da totalidade dos dados fenológicos, o que resultará também
numa maior robustez estatística dos resultados a obter nas análises seguintes (maiores
dimensões da amostra, que passa de 11 para 22 anos).
19
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Figura 9- Regressão linear entre a temperatura média mensal (TG em °C) dos dois locais (Lisboa
e Dois Portos). Os marcadores a azul correspondem aos pares de valores em cada série temporal
e a reta de regressão está indicada pela curva a preto. A respetiva equação de regressão está
indicada, bem como o coeficiente de determinação (R2).
Figura 10- Regressão linear entre a temperatura mínima mensal (TN em °C) dos dois locais
(Lisboa e Dois Portos). Os marcadores a azul correspondem aos pares de valores em cada série
temporal e a reta de regressão está indicada pela curva a preto. A respetiva equação de regressão
está indicada, bem como o coeficiente de determinação (R2).
20
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Figura 11- Regressão linear entre a temperatura máxima mensal (TX em °C) dos dois locais
(Lisboa e Dois Portos). Os marcadores a azul correspondem aos pares de valores em cada série
temporal e a reta de regressão está indicada pela curva a preto. A respetiva equação de regressão
2
está indicada, bem como o coeficiente de determinação (R ).
3.3 Fenologia
Para as quatro castas (Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão) recorreuse a informação das datas de ocorrência dos estados fenológicos abrolhamento, floração
e pintor. Adicionalmente, a data da vindima foi igualmente considerada, com exceção de
1996 (sem informação para as 4 castas). Para a casta Aragonez, existem ainda dados
em falha nos anos de 1991, 1992 e 1993 para todos os estados fenológicos.
Considerou-se a data de ocorrência da vindima quando as castas de referência
(Fernão Pires e Castelão) apresentaram um teor de álcool provável de 11,5% (v/v). As
datas de vindima das restantes duas castas (Aragonez e Chasselas) foram estimadas,
considerando idêntico valor de álcool provável (11,5%) a ser atingido durante a
maturação.
Para este estudo, foram escolhidas estas quatros castas pois eram as que
apresentavam mais dados fenológicos disponíveis para o período 1990-2011.
As quatro castas estudadas apresentam diferenças entre si, para além de duas
serem brancas (Chasselas e Fernão Pires) e duas serem tintas (Aragonez e Castelão),
conforme já foi referido anteriormente. A casta Chasselas (Figura 12a) é cultivada em
muitos vinhedos na Europa e foi durante muitos anos a principal variedade cultivada na
21
Suíça (www.swisswine.ch, 2013). O abrolhamento desta casta é precoce, ocorrendo nos
finais de março, a floração nos inícios de junho, o pintor em inícios/meados de agosto e a
vindima na costa mediterrânia no final de julho. Em média, a vindima ocorre cerca de 110
dias após a floração, daí também a sua precocidade.
Figura 12- Imagem referente às quatro castas estudadas a) Chasselas, b) Fernão Pires, c)
Aragonez e d) Castelão (adaptado de Magalhães, 2008).
A casta Fernão Pires (Figura 12b) é característica da região do Tejo, ocorrendo
também em grande percentagem na Bairrada, Douro e Lisboa (Magalhães, 2008).
Apresenta uma produtividade elevada e uma maturação muito precoce, sendo uma das
primeiras castas a ser vindimadas, originando vinhos com elevada graduação alcoólica. É
uma casta sensível à geada e à secura excessiva, com melhor adaptação a solos férteis
de clima temperado ou quente.
A casta tinta Aragonez (Figura 12c), com sinonímia autorizada de Tinta Roriz, é
tradicional das regiões do Douro, Alentejo, Dão, Lisboa, Tejo, Setúbal e Algarve
(Magalhães, 2008). É uma das castas mais conhecidas da Península Ibérica, sendo
originária do norte da Espanha. O seu potencial enológico é muito diversificado e
apresenta uma produtividade irregular, geralmente média a alta. Esta casta origina vinhos
de elevado teor alcoólico e de baixa acidez.
Por fim, a casta Castelão (Figura 12d), apesar de ser cultivada em todo o país,
esta casta apresenta maior destaque nas regiões costeiras a sul, sendo característica da
Península de Setúbal, Alentejo, Tejo e Lisboa. Desenvolve-se melhor em climas quentes,
mas pode adaptar-se a uma relativamente grande diversidade de condições. Vigorosa,
com tendência para rebentação múltipla, origina vinhos macios de cor rubi.
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
3.4 Relações entre fenologia e temperatura do ar
Através das datas anuais dos estados fenológicos de abrolhamento, floração,
pintor e vindima foram realizadas comparações entre as várias castas (variabilidade intercasta), da mesma casta ao longo dos anos (variabilidade inter-anual) e das castas com a
temperatura ao longo do período de estudo (forçamento térmico).
Determinaram-se os intervalos, em dias julianos, entre os diferentes estados
fenológicos (1 janeiro- Abrolhamento, Abrolhamento-Floração, Floração-Pintor, PintorVindima e Abrolhamento-Vindima). Foram também calculadas correlações entre TG, TN
e TX e as datas de ocorrência de cada estado fenológico, através das quais identificámos
os meses com maior correlação para cada estado e para cada casta. O coeficiente de
variação (CV) e o coeficiente de determinação (R 2) foram calculados para cada casta e
para todos os estados fenológicos. Foram também calculadas anomalias para as
temperaturas do ar de forma aclarar a forçamento térmico sobre os estados fenológicos.
Estas anomalias foram calculadas subtraindo a temperatura média do mês para o ano em
questão à temperatura média do período 1990-2011 para esse mês. Por razões óbvias,
apenas os meses anteriores à data de ocorrência de cada estado fenológico foram
utilizados nas análises.
Posteriormente procedeu-se à aplicação de modelos de regressão linear
multivariada (Wilks, 2006), onde foram determinadas as variáveis com maior correlação
para cada estado fenológico. Os valores médios mensais de TG, TN e TX foram
utilizados como variáveis independentes (preditores) e as variáveis fenológicas como
variáveis dependentes das anteriores (preditandos).
23
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
4-RESULTADOS E DISCUSSÃO
25
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
4.1 Clima
4.1.1 Normais climatológicas
Na Figura 13 são apresentadas as normais climatológicas (1951-1980) para
Lisboa e Dois Portos (INMG, 1991). Lisboa apresenta sempre valores de temperatura
superiores, o que já era esperado (até tendo em conta os coeficientes de regressão
apresentados na Figura 9). Também já esperado pelos resultados das Figuras 9-11,
verifica-se um padrão semelhante das temperaturas, sendo este mais evidente nos
meses de Verão. Constata-se que as temperaturas máximas são semelhantes entre as
duas estações meteorológicas, particularmente para o Outono-Inverno. Contrariamente
existem diferenças evidentes nas temperaturas mínimas. A título de exemplo, para o
mês de agosto, a média da temperatura máxima para o período 1951-1980 é de 27,8ºC
para Lisboa enquanto para Dois Portos é de 26ºC. Fazendo a mesma comparação, mas
agora para a temperatura mínima, verifica-se para o mesmo mês uma maior diferença
de temperaturas (2,5ºC). Em relação aos meses de inverno, as temperaturas médias e
máximas das duas localidades são muito semelhantes, notando-se uma maior diferença
nas temperaturas mínimas, como é o exemplo do mês de dezembro, em que se
verificou uma média de 8,6ºC para Lisboa e de 6ºC para Dois Portos.
Figura 13- Valores médios mensais da temperatura máxima (TX), média (TG) e mínima (TN) (em
°C) para Lisboa e Dois Portos no período 1951-1980. Fonte: INMG (1991).
27
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
A precipitação (Figura 14), como esperado num clima mediterrânico, é superior no
Inverno e relativamente escassa no Verão. Verifica-se que Lisboa e Dois Portos seguem
o mesmo padrão da precipitação. No mês de dezembro, para o período de 1951-1980, o
total de precipitação para Lisboa foi de 106,7 mm e para Dois Portos 96,6 mm. Em
termos comparativos Lisboa apresenta valores superiores comparativamente a Dois
Portos, com particular diferença no mês de novembro. Contudo, estes valores não estão
de acordo com dados preliminares de outro estudo, que indicam valores de precipitação
anuais similares entre as duas localidades (Fraga, comunicação pessoal, 2012).
140
120
Precipitação
100
80
Lisboa
60
Dois Portos
40
20
0
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Figura 14- Valores médios mensais da precipitação acumulada (mm) para Lisboa e Dois Portos no
período 1951-1980. Fonte: INMG (1991).
4.1.2 Dados meteorológicos: 1990 -2011
No período de 1990-2011, compararam-se as médias mensais para os dois locais
(Figura 15). Em concordância com a Figura 13, as duas localidades, para o período de
1990-2011, seguem o mesmo padrão de temperaturas, sendo esta sempre superior para
Lisboa. Para o mês de agosto, em Lisboa a média da temperatura foi de 23,7ºC enquanto
para Dois Portos foi de 21,8ºC. Nos meses de verão, em média, a diferença entre a
temperatura de Lisboa e Dois Portos é de 2ºC. Relativamente aos meses de inverno,
como verificado no ponto anterior, a diferença entre as temperaturas médias é menor,
sendo neste caso de 1,8ºC.
28
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
26,0
24,0
Temperatura (ºC)
22,0
20,0
18,0
Lisboa
16,0
14,0
Dois Portos
12,0
10,0
8,0
Jan Fev Mar Abr Maio Jun
Jul Ago Set Out Nov Dez
Figura 15- Temperatura média mensal (°C) para Lisboa e Dois Portos no período 1990-2011.
4.2 Variabilidade inter-anual da fenologia
4.2.1 Abrolhamento
Os resultados apresentados nas Figuras 16, 17 e 18 correspondem à data de
ocorrência do abrolhamento, ou seja, o número de dias desde 1 de janeiro até ao dia do
abrolhamento para cada casta e para cada ano.
As castas Fernão Pires e Aragonez são as mais tardias, ocorrendo em média no
dia 14 de março (dia 74) e 19 do mesmo mês (dia 79), respetivamente (Figura 16), sendo
então as castas Chasselas e Castelão mais temporãs. O coeficiente de variação é mais
baixo para a casta Fernão Pires, 10%, e mais elevado para a casta Castelão, 12%, sendo
portanto a que apresenta maior irregularidade. As restantes castas apresentam um
coeficiente de variação intermédio de 11%.
A data de ocorrência mais precoce do abrolhamento foi verificada no dia 26 de
fevereiro de 2001 para as castas Chasselas e Castelão (Figura 17), o que está em linha
com a sua precocidade. Constata-se, na mesma figura, que o abrolhamento mais tardio
ocorreu no ano de 2005 para as quatro castas, correspondendo ao dia 29 de março para
as castas Chasselas e Castelão, a 30 de março para a casta Fernão Pires e a 5 de abril
para a casta Aragonez, sendo esta última a data mais tardia deste estado.
29
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Para a casta Chasselas, o intervalo de dias mais curto para o estado fenológico
abrolhamento foi verificado nos anos de 1997 (61) e 2001 (57 dias), já o intervalo mais
longo ocorreu nos anos 2005 (89), 2006 (85) e foi de 81 dias nos anos 1993 e 2010
(Figura 18). Por exemplo, no ano de 2005, o abrolhamento da Chasselas foi o mais
tardio. Verifica-se para as duas castas brancas um paralelismo ao longo de todo o
período de estudo (Figura 18), apresentando estas uma correlação significativa (R 2 =
0,98, Anexo I, Quadro II).
Figura 16- Diagramas de caixa das datas de ocorrência (em dias julianos) para o abrolhamento,
para cada uma das quatro castas (Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão) no período
1990-2011. Nestes diagramas as linhas horizontais dentro das caixas correspondem às medianas,
os limites inferiores (superiores) das caixas ao primeiro (terceiro) quartil, os limites inferiores
(superiores) dos bigodes correspondem aos máximos (mínimos) não extremos.
No ano de 2001 ocorreu um abrolhamento mais precoce para duas castas
(Chasselas e Castelão), como foi anteriormente referido. Neste ano a média das
temperaturas mínimas de janeiro e fevereiro foram superiores em 2ºC e 1,4ºC,
respetivamente, em relação à média anual (1990-2011).
São visíveis mais dois anos excecionais, 2005 e 2006, em que foi verificado um
abrolhamento tardio para as quatro castas. Em 2005 foram verificadas anomalias na
temperatura nos meses de Inverno, que estão relacionadas com os meses de janeiro e
30
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
fevereiro mais frios, onde foi verificada uma anomalia de -2,6ºC para a temperatura
mínima de fevereiro. Também foram verificados valores significativos no mês de março,
com uma anomalia de -1,6ºC na temperatura mínima média dos meses de fevereiro e
março (TN Fev_Mar). Para o ano de 2006, foram verificadas duas anomalias de -2ºC
para as temperaturas mínimas e máximas de fevereiro.
Pode-se constatar então uma forte influência do aumento da temperatura mínima
de janeiro e fevereiro nas castas, que acelerou o processo de abrolhamento. Se por outro
lado existir uma diminuição da temperatura mínima dos mesmos meses, então a data de
abrolhamento será mais tardia. Verifica-se então uma forte influência no abrolhamento
das temperaturas dos meses de janeiro, fevereiro e março, o que corrobora resultados
anteriores de e.g. Tomasi et al. (2011).
8-Abr
4-Abr
31-Mar
27-Mar
23-Mar
Chasselas
19-Mar
Fernão Pires
15-Mar
Aragonez
11-Mar
Castelão
7-Mar
3-Mar
28-Fev
24-Fev
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Figura 17- Data de ocorrência da fase fenológica abrolhamento para as castas Chasselas, Fernão
Pires, Aragonez e Castelão e para o período 1990-2011.
100
Número de dias
90
Chasselas
80
Fernão Pires
70
Aragonez
60
Castelão
50
40
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
Figura 18- Número de dias desde 1 de janeiro até ao estado fenológico abrolhamento, para as
castas Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão e para o período 1990-2011.
31
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
4.2.2 Floração
Os dados relativos à floração são apresentados nas Figuras 19, 20 e 21. Nas
castas brancas a floração ocorre, em média, no dia 19 de maio (dia 140) para a casta
Chasselas e no dia 20 de maio para a casta Fernão Pires. Já nas castas tintas, ocorre
mais cedo no Castelão, por volta do dia 17 de maio (dia 138), e mais tarde no Aragonez,
no dia 22 de maio (dia 143) (Figura19). O coeficiente de variação para as quatro castas é
de 6%, mostrando que têm irregularidades inter-anuais semelhantes.
A data de ocorrência mais precoce para todas as castas foi verificada no ano de
1997, um extremo (*8, Figura 19), que corresponde a 20 de abril nas castas Chasselas e
Castelão, a 24 de abril na casta Fernão Pires e a 27 de abril na casta Aragonez (Figura
20). Para esta última casta, foram verificados mais dois valores extremos (9 de maio no
ano de 1995 e 12 de maio 2011 (º6 e º22 na Figura 19, respetivamente).
Figura 19- Diagrama de caixa, data de ocorrência (em dias julianos) para a floração, para quatro
castas (Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão), no período 1990-2011. Nestes diagramas
as linhas horizontais dentro das caixas correspondem às medianas, os limites inferiores
(superiores) das caixas ao primeiro (terceiro) quartil, os limites inferiores (superiores) dos bigodes
correspondem aos máximos (mínimos) não extremos. Os extremos de 1º (2ª) ordem estão
indicados pelos círculos (asteriscos).
32
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Verificou-se uma forte influência das temperaturas máximas e mínimas de março
e abril para o ano de 1997. Constataram-se várias anomalias para este ano: +4,4ºC na
temperatura máxima de março, +2ºC na máxima de abril, +3,2ºC na temperatura máxima
média dos meses de março-abril (TX Mar_Abr) e +2,3ºC na média da temperatura
mínima média dos meses de março-abril (TN Mar_Abr). Como no estado fenológico
anterior (abrolhamento), um aumento da temperatura mínima e máxima nos meses de
Primavera vai implicar uma antecipação no desenvolvimento do estado fenológico, neste
caso em concreto do ano de 1997, leva a que o estado ocorra muito mais cedo que o
normal.
8-Jun
3-Jun
29-Mai
24-Mai
19-Mai
14-Mai
Chasselas
Fernão Pires
9-Mai
Aragonez
4-Mai
Castelão
29-Abr
24-Abr
19-Abr
14-Abr
9-Abr
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
Figura 20- Data de ocorrência da fase fenológica floração para as castas Chasselas, Fernão Pires,
Aragonez e Castelão e para o período 1990-2011.
Já no ano de 1993 ocorreu a floração mais tardia para três castas (Chasselas,
Fernão Pires e Castelão), sendo a data de ocorrência a mesma para as duas castas
brancas (6 de junho) e 2 de junho para a casta tinta (Figura 20). Para a casta Aragonez, a
floração mais tardia ocorreu dia 1 junho de 2000 e 2008.
Uma anomalia de -2ºC foi verificada para temperatura mínima de abril (TN Abr) no ano de
1993 e de -1,5ºC e -1,2ºC para a TX (Mar_Abr) e TN (Mar_Abr), respetivamente. No ano
de 2000, a temperatura máxima de abril foi de 16,8ºC, enquanto a média climática (19902011) foi de 19,4ºC, o que revela um mês de abril significativamente mais frio que o
normal, com uma anomalia de -2,6ºC.
33
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Para este estado fenológico, as quatro castas apresentam um paralelismo ao
longo do período de estudo, o que pode ser atestado pelas elevadas correlações (Figura
21): 0,94 < R < 0,97 entre todas as castas para este evento (Anexo I, Quadro IV).
100
Número de dias
90
Chasselas
80
Fernão Pires
70
Aragonez
60
Castelão
50
40
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
Figura 21- Número de dias desde a data de ocorrência da fase fenológica abrolhamento até ao dia
de ocorrência da fase fenológica floração, para as castas Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e
Castelão e para o período 1990-2011.
4.2.3 Pintor
À semelhança do abrolhamento e da floração, os resultados das Figuras 22, 23 e
24 correspondem à data de ocorrência da fase fenológica do pintor e ao intervalo entre
este e o evento anterior (floração), ou seja, o número de dias entre estes estados para
cada casta e para cada ano.
Das castas brancas, a mais precoce é a Chasselas, ocorrendo em média
no dia 26 de julho (dia 208). Em relação às castas tintas, a mais precoce é o Aragonez,
ocorrendo em média no dia 28 de julho (dia 210), sendo a mais tardia o Castelão,
ocorrendo no dia 3 de agosto (dia 216) (Figura 22). O coeficiente de variação é maior
para as castas brancas, 5%, e mais baixo para as castas tintas, 4%.
Para as quatro castas, a data de ocorrência mais precoce, foi verificada no ano
1997, ocorrendo nos dias 1, 6, 10 e 15 de julho para as castas Chasselas, Fernão Pires,
Aragonez e Castelão, respetivamente (Figura 23). À semelhança do que se verificou no
34
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
estado fenológico anterior, é também visível para este ano (anomalamente quente) uma
ocorrência mais precoce do estado fenológico pintor.
Figura 22- Diagrama de caixa, data de ocorrência (em dias julianos) para o estado fenológico
pintor, para quatro castas (Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão), no período 19902011.Nestes diagramas as linhas horizontais dentro das caixas correspondem às medianas, os
limites inferiores (superiores) das caixas ao primeiro (terceiro) quartil, os limites inferiores
(superiores) dos bigodes correspondem aos máximos (mínimos) não extremos. Os extremos de 1º
(2ª) ordem estão indicados pelos círculos (asteriscos).
A data de ocorrência mais tardia ocorreu nos anos de 1993, 2000 e 2007. No ano
de 1993, em particular, verificaram-se duas datas tardias, uma no dia 15 de agosto, para
a casta Fernão Pires, e outra a 18 de agosto, para a casta Castelão (Figura 24). Este
resultado é coerente com os resultados anteriores para o estado fenológico floração, o
que é justificado pelas baixas temperaturas registadas nos meses de março e abril (já
apresentadas atrás). Neste ano, uma floração tardia implicou um pintor mais tardio.
Nesta fase fenológica ainda são evidentes paralelismos entre algumas castas,
apesar de não tão evidentes como nas fases anteriores (Figura 24). O paralelismo é mais
notório entre as castas Chasselas e Fernão Pires, tendo estas uma correlação ainda
bastante significativa de 0,945 (Anexo I, Quadro VI).
35
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
19-Ago
15-Ago
11-Ago
7-Ago
3-Ago
30-Jul
Chasselas
26-Jul
Fernão Pires
22-Jul
Aragonez
18-Jul
Castelão
14-Jul
10-Jul
6-Jul
2-Jul
28-Jun
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
Figura 23- Data de ocorrência da fase fenológica pintor para as castas Chasselas, Fernão Pires,
Aragonez e Castelão e para o período 1990-2011.
100
Número de dias
90
Chasselas
80
Fernão Pires
70
Aragonez
60
Castelão
50
40
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
Figura 24- Número de dias desde o dia de ocorrência da fase fenológica floração até ao dia de
ocorrência da fase fenológica pintor para as castas Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão
e para o período 1990-2011.
36
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
4.2.4 Vindima
Como explicado anteriormente, a data da vindima foi definida considerando que
todas as castas atingiram um teor de álcool provável de 11,5% (v/v).
Os resultados das Figuras 25, 26 e 27 correspondem à data de vindima, ou seja,
ao número de dias desde 1 de janeiro até ao final da maturação para cada casta e para
cada ano e ao intervalo de dias entre o pintor e a vindima.
Em média, a vindima para a casta branca de referência ocorre no dia 16 de
setembro (dia 260). Já para a casta tinta de referência, esta ocorre no dia 19 de setembro
(dia 263) (Figura 25). O coeficiente de variação é maior para a casta Chasselas, 4%, e
mais baixo para as restantes castas, 3%.
Figura 25- Diagrama de caixa, data de ocorrência (em dias julianos) para a vindima, para quatro
castas (Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão), no período 1990-2011.Nestes diagramas
as linhas horizontais dentro das caixas correspondem às medianas, os limites inferiores
(superiores) das caixas ao primeiro (terceiro) quartil, os limites inferiores (superiores) dos bigodes
correspondem aos máximos (mínimos) não extremos.
.
A data de ocorrência mais precoce da vindima foi no dia 27 de agosto de 2011
para a casta Fernão Pires, pois neste ano ocorreu uma anomalia de +3,5ºC na média da
temperatura de abril e de +1,5ºC na temperatura média dos meses março-abril (TG
Mar_Abr), o que terá promovido uma vindima mais precoce.
37
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
A data de vindima mais tardia foi para a casta Chasselas, dia 11 de novembro de
1993 (Figura 26), ano este que também é comum à floração e ao pintor, o que demonstra
que baixas temperaturas nos meses de março e abril levam a uma floração, a um pintor
e, posteriormente, a uma vindima mais tardia. É importante referir que a vindima,
comparativamente com o abrolhamento, floração ou pintor, tende a apresentar menor
relação com as condições atmosféricas, pois não só depende da temperatura, mas
também das práticas culturais e enológicas, de disponibilidades de mão-de-obra e de
outras questões logísticas (Tomasi et al., 2011).
16-Out
6-Out
26-Set
Chasselas
16-Set
Fernão Pires
Aragonez
6-Set
Castelão
27-Ago
17-Ago
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Figura 26- Data de ocorrência da vindima para as castas Chasselas, Fernão Pires,
Aragonez e Castelão, para o período 1990-2011.
80
70
60
Chasselas
Fernão Pires
50
Aragonez
40
Castelão
30
20
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Figura 27- Número de dias, desde o dia de ocorrência da fase fenológica do pintor até à vindima,
para as castas Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão para o período 1990-2011).
38
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
No entanto, nesta fase fenológica já não são tão evidentes os paralelismos entre
castas, tal como se tinha verificado nos três estados anteriores. Verifica-se ainda entre
2007 e 2011 um aumento do intervalo desde o dia de ocorrência do estado fenológico
anterior (pintor) e a vindima, sendo este comportamento mais evidente para a casta
Chasselas (Figura 27).
4.3 Intervalo entre estados fenológicos
O ciclo vegetativo (abrolhamento-vindima), para a casta Chasselas, foi o mais
curto (249 dias) no ano de 2005 (Figura 28). Neste mesmo ano, verificou-se o intervalo 1
janeiro-abrolhamento mais longo (89 dias) e o intervalo pintor-vindima mais curto, 30
dias. Já em 2001, ao 57º dia, ocorreu o intervalo 1 janeiro-abrolhamento mais precoce
mas em contrapartida, o intervalo abrolhamento- floração foi o mais tardio (79 dias). No
ano de 2011, registou-se um curto intervalo floração-pintor (53 dias) e um longo intervalo
pintor-vindima (77 dias). O ciclo (abrolhamento-vindima) mais longo (286 dias) foi
verificado em 1993.
75
81
74
79
77
85
89
72
69
69
2010
2008
2006
2004
2002
57
57
2000
1996
1994
1992
1990
0
20
77
55
59
64
40
30
58
50
62
ABR-FLO
60
61
67
FLO-PIN
60
72
PIN-VIN
69
77
66
66
74
67
70
47
65
77
59
63
70
69
59
64
77
66
71
100
1JAN-ABR
41
69
65
64
77
80
65
38
46
68
77
65
60
67
71
80
79
72
73
74
76
79
69
80
63
61
70
64
68
81
78
76
66
1998
53
62
65
65
68
55
58
73
70
70
62
120
140
160
76
180
200
220
240
260
280
300
320
Figura 28- Duração dos períodos entre os estados fenológicos: 1Jan-Abr (1 janeiro-abrolhamento),
Abr-Flo (abrolhamento-floração), Flo-Pin (floração-pintor) e Pin-Vin (pintor-vindima), para a casta
Chasselas, no período 1990-2011.
Para a casta Fernão Pires, o período (abrolhamento-vindima) mais curto ocorreu
no ano 2011 com 240 dias e o mais longo no ano de 1993, ano em que todos os estados
fenológicos ocorreram mais tarde, com 278 dias (Figura 29). Tal como para a casta
39
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
anterior, foi nos anos de 2001 e 2005 que se registou o intervalo 1 janeiro-abrolhamento
mais curto (60 dias) e mais tardio (90 dias), respetivamente. No ano de 1997, o intervalo
abrolhamento-floração, foi o mais curto com 51 dias e ao 79º dia do ano de 2000,
verificou-se o intervalo abrolhamento-floração mais tardio. O mesmo número de dias (60)
foi verificado para o menor intervalo floração-pintor nos anos de 2009 e 2010. No ano de
2007 registou-se o intervalo pintor-vindima mais curto, com 25 dias, já o mais longo foi de
55 dias no ano de 1999.
75
82
74
78
78
84
90
70
72
69
60
69
80
64
64
74
67
68
81
78
79
70
2010
2008
2006
2004
2002
2000
1998
1996
1994
1992
1990
0
20
40
55
63
47
61
69
66
68
58
54
72
69
70
78
79
65
73
60
60
67
44
50
44
81
83
75
81
77
81
FLO-PIN
41
55
52
73
PIN-VIN
62
73
70
74
47
74
70
53
77
70
60
50
80
70
53
45
54
70
67
100
ABR-FLO
51
73
72
78
63
80
1JAN-ABR
50
69
51
60
25
30
31
32
36
76
120
140
160
180
200
220
240
260
280
300
Figura 29- Duração dos períodos entre os estados fenológicos: 1Jan-Abr (1 janeiro-abrolhamento),
Abr-Flo (abrolhamento-floração), Flo-Pin (floração-pintor) e Pin-Vin (pintor-vindima), para a casta
Fernão Pires, no período 1990-2011.
O ciclo vegetativo (abrolhamento-vindima) para a casta tinta Aragonez mais curto
ocorreu nos anos de 1997 e 2003, com 251 dias, já o mais longo (272 dias) ocorreu no
ano de 1999 (Figura 30). Tal como nas duas castas anteriores, o intervalo 1 janeiroabrolhamento mais curto ocorreu no ano de 2001 e 1998 (67 dias) e o mais longo (96
dias) em 2005. No ano de 2011, o intervalo abrolhamento-floração foi mais precoce, com
47 dias, mas para esse mesmo ano o intervalo pintor-vindima foi o mais tardio (61 dias),
tal como verificado na casta Chasselas. Em 2009, à semelhança da casta Fernão Pires,
ocorreu o intervalo floração-pintor mais curto (56 dias).
Nos anos de 1995 e 2001, para a casta Castelão, ocorreu o ciclo vegetativo
(abrolhamento-vindima) mais curto (251 dias) e foi em 1992 que ocorreu o mais longo
(277 dias) (Figura 31). À semelhança do verificado em todas as castas anteriores, o
intervalo 1 janeiro-abrolhamento mais curto (57 dias) ocorreu no ano de 2001 e o mais
longo (89 dias) no ano de 2005. No ano de 2011 ocorreram os intervalos abrolhamento-
40
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
floração e floração-pintor mais curtos, com 54 e 68 dias respetivamente, já o intervalo
pintor-vindima, para este mesmo ano, foi o mais longo, com 59 dias.
86
88
2010
47
2008
88
86
89
96
2006
2004
75
77
76
67
77
84
67
68
77
71
72
2002
2000
1998
1996
1994
59
61
55
68
65
65
57
53
71
66
66
76
76
61
77
77
59
56
55
55
44
41
48
37
39
36
56
43
59
67
65
66
69
72
72
68
74
ABR-FLO
41
56
71
67
50
1JAN-ABR
FLO-PIN
51
74
PIN-VIN
59
70
70
59
77
70
49
49
70
1992
1990
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
240
260
280
300
Figura 30- Duração dos períodos entre os estados fenológicos: 1Jan-Abr (1 janeiro-abrolhamento),
Abr-Flo (abrolhamento-floração), Flo-Pin (floração-pintor) e Pin-Vin (pintor-vindima), para a casta
Aragonez, no período 1990-2011.
76
78
71
74
74
82
89
64
67
58
57
68
77
60
61
70
64
68
81
78
76
70
2010
2008
2006
2004
2002
2000
1998
1996
1994
1992
1990
0
20
40
54
68
63
69
69
69
59
55
74
69
59
69
69
71
78
81
73
78
80
85
74
78
75
84
75
81
78
65
77
50
86
FLO-PIN
PIN-VIN
47
80
47
73
77
60
70
67
100
ABR-FLO
74
77
67
80
1JAN-ABR
55
73
63
60
57
55
50
41
40
38
39
39
52
39
38
56
48
41
55
42
50
84
81
83
120
140
160
180
200
220
240
260
280
300
Figura 31- Duração dos períodos entre os estados fenológicos: 1Jan-Abr (1 janeiro-abrolhamento),
Abr-Flo (abrolhamento-floração), Flo-Pin (floração-pintor) e Pin-Vin (pintor-vindima), para a casta
Castelão, no período 1990-2011.
41
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
4.4 Relações fenologia e temperatura
Foram definidas correlações entre as datas de ocorrência do abrolhamento,
floração, pintor e colheita (estimada no caso da Chasselas e Aragonez) das quatro castas
com as temperaturas médias mensais: TN, TX e TG. De modo a aumentar a significância
das relações, em alguns casos optou-se por combinar meses (Quadro 3). Em todas as
fases fenológicas, o sinal da correlação é negativo, o que significa que quanto maior for a
temperatura mais cedo ocorrem os estados fenológicos (antecipação). Esta correlação é
mais notória nos primeiros dois estados (abrolhamento e floração), onde um aumento da
temperatura provocará uma data de ocorrência mais precoce.
Para a fase fenológica abrolhamento, todas as castas apresentam uma elevada
correlação para as mesmas variáveis, que neste caso são a TG média dos meses de
fevereiro-março (TG Fev_Mar) e a média de TN dos meses de fevereiro-março (TN
Fev_Mar). A casta que apresenta maiores coeficientes de correlação é a Fernão Pires
com a variável TG(Fev_Mar), 0,74, e com a variável TN(Fev_Mar), 0,81. A casta que
apresenta menor correlação é o Aragonez, sendo de 0,65 para TG(Fev_Mar) e de 0,68
para TN(Fev_Mar).
Quadro 3 - Variáveis com maiores coeficientes de correlação para o Abrolhamento, Floração,
Pintor e Vindima) das castas Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão, em relação à sua
data de ocorrência (em dias julianos) para o período de 1990-2011.
Abrolhamento
Floração
Pintor
Vindima
Chasselas
TG(Fev_Mar) -0,71
TN(Fev_Mar) -0,79
TN (Mar_Abr) -0,83
TX (Mar_Abr) -0.88
TN (Mar_Abr) -0,66
TG Abr -0,58
Fernão
Pires
TG(Fev_Mar) -0,74
TN(Fev_Mar) -0,81
TN (Mar_Abr) -0,77
TX (Mar_Abr) -0,88
TN (Mar_Abr) -0,76
TG Abr -0,69
Aragonez
TG(Fev_Mar) -0,65
TN(Fev_Mar) -0,68
TN (Mar_Abr) -0,73
TX (Mar_Abr) -0,86
TN (Mar_Abr) -0,65
TG Abr -0,46
Castelão
TG(Fev_Mar) -0,70
TN(Fev_Mar) -0,78
TN (Mar_Abr) -0,75
TX (Mar_Abr) -0,89
TN (Mar_Abr) -0,77
TG Abr -0,46
Verifica-se então uma forte influência no abrolhamento das temperaturas
dos meses de janeiro, fevereiro e março o que veio corroborar mais uma vez os
resultados de Tomasi et al. (2011).
42
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Para a fase fenológica floração são novamente duas as variáveis que apresentam
maior correlação para as quatro castas. É nesta fase fenológica que as variáveis da
temperatura têm mais influência, pois foram verificados coeficientes de correlação mais
elevados. As variáveis são a média de TN dos meses março-abril (TN Mar_Abr) e a
média de TX dos meses março-abril (TX Mar_Abr). Daqui destaca-se novamente a
influência de Março neste estado. A casta Chasselas apresenta uma correlação de 0,83
com a variável TN(Mar_Abr) e a casta Castelão uma correlação de 0,89 com a variável
TX(Mar_Abr). A casta Aragonez é igualmente a que apresenta valores mais baixos de
correlação com as duas variáveis.
Relativamente à fase fenológica pintor é apenas uma a variável com maior
correlação para as quatro castas, média de TN dos meses março-abril (TN Mar_Abr). A
casta que apresenta maior correlação com esta variável é o Castelão, 0,77, e a que
apresenta menor correlação é o Aragonez, 0,65.
Por fim, relativamente à vindima, verifica-se que todas as castas apresentam uma
correlação com a TG de abril (TG Abr). A casta que apresenta maior correlação é o
Fernão Pires, com 0,69. O valor mais baixo de correlação, 0,46, é verificado nas castas
tintas. A vindima é a que apresenta menores coeficientes de correlação com a
temperatura, pois existem outros fatores que a influênciam.
Nas Figuras 32, 33, 34 e 35, é possível observar a variável da temperatura que
tem maior correlação com a data de ocorrência de cada fase fenológica a fim de se poder
analisar mais em detalhe a semelhança entre os seus comportamentos e o respetivo
forçamento térmico sobre o desenvolvimento da videira.
100
10
9
8
7
80
6
70
5
4
60
3
Temperatura (ºC)
Dia de ocorrência
90
Chasselas
Fernão Pires
Aragonez
Castelão
TN(Fev_Mar)
2
50
1
40
0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
Figura 32- Escala à esquerda: Dia de ocorrência (dias Julianos) do abrolhamento para as castas
Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão. Escala à direita: média de TN (temperatura
mínima) de fevereiro-março e para o período 1990-2011.
43
160
23
150
22
21
140
20
130
19
120
18
Temperatura (ºC)
Dia de ocorrência
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Chasselas
Fernão Pires
Aragonez
Castelão
TX(Mar_Abr)
110
17
100
16
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
240
12
230
10
220
8
210
6
200
4
190
2
180
0
Temperatura (ºC)
Dia de ocorrência
Figura 33- Escala à esquerda: Dia de ocorrência (dias Julianos) da floração para as castas
Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão. Escala à direita: média de TX (temperatura
máxima) de março-abril e para o período 1990-2011.
Chasselas
Fernão Pires
Aragonez
Castelão
TN(Mar_Abr)
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
Figura 34- Escala à esquerda: Dia de ocorrência (dias Julianos) do pintor para as castas
Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão. Escala à direita: média de TN (temperatura
mínima) de março-abril e para o período 1990-2011.
290
20
18
280
260
12
Dia de ocorrência
14
10
250
8
240
6
Temperatura (ºC)
16
270
Chasselas
Fernão Pires
Aragonez
Castelão
TG Abr
4
230
2
220
0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
Figura 35- Escala à esquerda: Dia de ocorrência (dias Julianos) da vindima (álcool provável de
11,5%) para as castas Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão. Escala à direita: média de
TG (temperatura média) de abril e para o período 1990-2011.
44
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
4.4.1 Modelo
Foram aplicadas regressões lineares multivariadas para cada estado fenológico,
com as diversas temperaturas e para cada casta separadamente. O método stepwise foi
aplicado para a seleção dos regressores mais significativos em cada caso. Os dados
utilizados para este estudo foram a duração, em dias, desde 1 de janeiro até cada fase
fenológica, e dados da temperatura de Dois Portos (TG, TN e TX).
O objetivo foi criar um modelo com informação das variáveis que maior influência
tem em cada fase fenológica e para cada casta. Identificámos as variáveis independentes
que estavam correlacionadas entre si e as que podem dar maior contributo para a
previsão da variável dependente (estados fenológicos das castas) (Quadro 4).
2
Quadro 4- Variáveis com maior coeficiente de determinação (R ajustado, após a aplicação de
validação cruzada) para o Abrolhamento, Floração, Pintor e Vindima das Chasselas, Fernão Pires,
Aragonez e Castelão, em relação à sua data de ocorrência (em dias julianos) para período de
1990-2011.
Chasselas
Abrolhamento
2
(R ajustado)
Floração
2
(R ajustado)
Pintor
2
(R ajustado)
Vindima
2
(R ajustado)
TN(Fev_Mar) (-)
60%
TG(Mar_Abr) (-)
TN Abr (-)
84%
TN (Mar_Abr) (-)
49%
TG(Mar_Abr) (-)
TN Ago (-)
61%
Fernão
Pires
TN(Fev_Mar) (-)
63%
TX(Mar_Abr) (-)
79%
TN(Mar_Abr) (-)
62%
TG Abr (-)
TN Jun (-)
TG Set (-)
62%
Aragonez
TN(Jan_Fev_Mar) (-)
46%
TX(Mar_Abr) (-)
75%
TG(Mar_Abr) (-)
57%
Castelão
TN(Jan_Fev_Mar) (-)
TX(Mar_Abr) (-)
78%
TG(Mar_Abr) (-)
TX Abr (-)
TN Abr (-)
TN Jan (-)
TN Jun (-)
74%
TN Mai (-)
TX Set (-)
TN Jun (-)
63%
TX Jul (-)
93%
45
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Para a fase fenológica abrolhamento, após análise do modelo, verifica-se que
foram selecionadas três variáveis. Para as castas brancas, a variável é a média de TN de
fevereiro-março (TN Fev_Mar), sendo o coeficiente de determinação de 63% para a casta
Fernão Pires e 60% para a Chasselas. As castas tintas partilham a mesma variável,
média de TN de janeiro-fevereiro-março (TN Jan_Fev_Mar), juntando TN Abr para a
casta Castelão. Para esta fase é notória a influência da temperatura mínima no início do
ciclo da planta.
Na fase fenológica floração, também são três as variáveis selecionadas. A casta
Chasselas apresenta maior coeficiente de determinação ajustado, 84%, com a média de
TG dos meses de março-abril (TG Mar_Abr). Para as restantes castas, a variável é a
média de TX dos meses março-abril (TX Mar_Abr), sendo maior no Fernão Pires com
79%.
Relativamente à fase fenológica pintor, para as castas brancas, a variável
selecionada foi a média de TN dos meses março-abril (TN Mar_Abr). Para a casta
Aragonez, a variável é a média de TG dos meses de março-abril, sendo um coeficiente
de determinação de 57%. Para a casta Castelão, foram selecionadas cinco variáveis, por
ordem de importância, média de TG dos meses março-abril (TG Mar_Abr), TN de janeiro
(TN Jan), TN de maio (TN Maio), TN de junho (TN Jun) e TX de julho (TX Julho). O
coeficiente de determinação desta casta é de 93%.
Por fim, em relação à vindima, para a casta Chasselas foram escolhidas duas
variáveis, a média de TG dos meses março-abril (TG Mar_Abr) e TN de agosto (TN Ago),
com um coeficiente de determinação de 61%. Para a casta Fernão Pires, foram
selecionadas três variáveis, a TG de abril (TG Abr), a TN de junho (TN Jun) e a TG de
setembro (TG Set). Devido ao menor número de dados disponíveis para a casta
Aragonez (17 anos), não foi possível obter uma variável com coeficiente de
determinação. Para a casta Castelão foram três as variáveis escolhidas, TX de abril (TX
Abr), a TN de junho (TN Jun) e a TX de setembro (TX Set), com um coeficiente de 63%.
Verifica-se para ambos os estudos efetuados (Quadro 3 e Quadro 4) uma
concordância nos resultados. Em ambos constata-se a importância dos meses de
fevereiro, março e abril, com maior incidência nos primeiros estados fenológicos, o que
vem reforçar os resultados do modelo criado. O modelo representado no Quadro 4 é o
mais realista, pois as variáveis foram escolhidas pelo programa estatístico e temos
informação mais detalhada de outras variáveis que influenciaram os estados fenológico.
Enquanto no Quadro 3 as variáveis foram introduzidas já com base nas altas correlações
que apresentavam.
46
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
5-CONCLUSÕES
47
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
5. Conclusões
Este estudo confirma a forte influência das condições atmosféricas, em particular
da temperatura do ar na fenologia da videira.
Anomalias da temperatura nos meses precedentes à data de ocorrência do estado
fenológico, principalmente nos meses de fevereiro, março e abril, têm grandes
implicações no ciclo da planta. Este forçamento térmico é particularmente claro nos
estados de abrolhamento e floração, fazendo com que as suas datas de ocorrência sejam
mais tardias ou precoces, consoante as anomalias da temperatura.
Num cenário de alterações climáticas e, por conseguinte, num padrão de
alterações da temperatura, seria grande o impacto no ciclo da planta e em todas as
atividades vitivinícolas. Por sua vez, a produção e a qualidade do vinho seria afetada,
bem como o rendimento do viticultor. Encontrando-se Portugal em 5º lugar entre os
principais países produtores de vinho da União Europeia e sendo o sector vitícola uma
grande fonte de rendimento para o nosso país, estudos sobre a influência do clima na
fenologia são de extrema importância, de forma a tornar este sector menos vulnerável a
possíveis alterações climáticas, mantendo a sua sustentabilidade nas vertentes
ambiental, económica e social.
Os modelos estatísticos desenvolvidos no presente estudo permitem identificar de
forma rigorosa e objetiva as variáveis de temperatura que mais influenciam cada estado
fenológico de cada casta em particular, permitindo uma melhor compreensão da
variabilidade na data de ocorrência de cada estado. Se por um lado estes resultados
permitem confirmar o conhecimento empírico adquirido ao longo dos anos relativamente
ao forçamento térmico, por outro lado permitem uma quantificação precisa desse mesmo
forçamento. Este estudo poderá ser em grande parte extrapolado, não apenas para
outras regiões vitícolas portuguesas, mas também para outras regiões vitícolas mundiais,
como de resto sugerem estudos anteriores desenvolvidos noutras regiões, mas com
resultados semelhantes.
49
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
51
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
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55
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
ANEXOS
57
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Anexo I
Quadro I: Estatística descritiva (média, mínima, máxima, desvio padrão) relativa aos dados para a
fase fenológica abrolhamento, no período 1990-2011.
N
Range
Statistic Statistic
Minimum Maximum
Statistic
Statistic
Mean
Std. Deviation
Skewness
Statistic
Statistic
Statistic Std. Error
Chasselas
22
32
57
89
72.86
8.108
-.004
.491
Fernão Pires
22
30
60
90
73.91
7.387
.144
.491
Aragonez
18
29
67
96
78.94
8.530
.280
.536
Castelão
22
32
57
89
71.05
8.358
.098
.491
Valid N (listwise)
18
Quadro II: Correlações entre as castas (Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão) para a
fase fenológica abrolhamento, no período 1990-2011.
Chasselas Fernão Pires Aragonez Castelão
Chasselas
Pearson Correlation
**
1
.979
Sig. (2-tailed)
N
Fernão Pires Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Aragonez
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Castelão
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
22
**
.979
**
.959
.000
.000
.000
22
18
22
1
**
.953**
.000
.000
22
.000
.962
22
22
18
**
**
1
.959
**
.926
.962
**
.926
.000
.000
18
18
18
18
**
**
**
1
.926
.953
.000
.926
.000
.000
.000
22
22
18
59
22
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Quadro III: Estatística descritiva (média, mínima, máxima, desvio padrão) relativa aos dados
para a fase fenológica floração, no período 1990-2011.
Std.
N
Range
Minimum Maximum
Mean
Deviation
Skewness
Std.
Statistic
Statistic
Statistic
Statistic
Statistic
Statistic
Statistic
Error
Chasselas
22
47
111
158
140.36
8.808
-1.561
.491
Fernão Pires
22
43
115
158
140.82
8.393
-1.185
.491
Aragonez
18
35
118
153
142.94
8.537
-1.676
.536
Castelão
22
43
111
154
138.32
8.409
-1.522
.491
Valid N
18
(listwise)
Quadro IV: Correlações entre as castas (Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão), para a
fase fenológica floração, no período 1990-2011.
Chasselas Fernão Pires Aragonez Castelão
Chasselas
Pearson Correlation
**
1
.966
Sig. (2-tailed)
N
Fernão Pires Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Aragonez
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Castelão
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
22
**
.966
**
.940
**
.967
.000
.000
.000
22
18
22
1
**
.000
.952
**
.969
.000
.000
22
22
18
22
**
**
1
.964**
.940
.952
.000
.000
18
18
18
18
**
**
**
1
.967
.969
.000
.964
.000
.000
.000
22
22
18
60
22
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Quadro V: Estatística descritiva (média, mínima, máxima, desvio padrão) relativa aos dados para a
fase fenológica pintor, no período 1990-2011.
N
Range
Statistic Statistic
Minimum Maximum
Statistic
Statistic
Mean
Std. Deviation
Skewness
Statistic
Statistic
Statistic Std. Error
Chasselas
22
42
183
225
208.27
10.846
-.881
.491
Fernão Pires
22
40
188
228
213.68
10.403
-.964
.491
Aragonez
18
35
192
227
210.44
8.873
-.784
.536
Castelão
22
34
197
231
215.82
8.421
-.725
.491
Valid N (listwise)
18
Quadro VI: Correlações entre as castas (Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão), para a
fase fenológica pintor, no período 1990-2011.
Chasselas Fernão Pires Aragonez Castelão
Chasselas
Pearson Correlation
1
Sig. (2-tailed)
N
Fernão Pires Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Aragonez
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Castelão
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
22
**
.945
.945**
.880**
.787**
.000
.000
.000
22
18
22
1
**
.000
.886
**
.908
.000
.000
22
22
18
22
.880**
.886**
1
.892**
.000
.000
18
18
18
18
**
**
**
1
.787
.908
.000
.892
.000
.000
.000
22
22
18
61
22
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
Quadro VII: Estatística descritiva (média, mínima, máxima, desvio padrão) relativa aos dados para
a fase fenológica vindima, no período 1990-2011.
Std.
N
Range
Minimum Maximum
Mean
Deviation
Skewness
Std.
Statistic Statistic
Statistic
Statistic
Statistic
Statistic
Statistic
Error
Chasselas
21 36.3367 249.4375 285.7742 267.693389
9.9158434
-.471
.501
Fernão Pires
21 38.0938 240.3866 278.4804 258.850814
9.7093698
.218
.501
Aragonez
17 20.9381 251.0000 271.9381 258.373525
6.4650943
.983
.550
Castelão
21 26.5615 250.6121 277.1736 262.804469
7.7834133
-.027
.501
Valid N
17
(listwise)
Quadro VIII: Correlações entre as castas (Chasselas, Fernão Pires, Aragonez e Castelão), para a
fase fenológica vindimam, no período 1990-2011.
Chasselas Fernão Pires Aragonez Castelão
Chasselas
Pearson Correlation
1
Sig. (2-tailed)
N
Fernão Pires Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Aragonez
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Castelão
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
21
**
.744
.744**
.643**
.753**
.000
.005
.000
21
17
21
1
**
.000
.803
**
.720
.000
.000
21
21
17
21
**
**
1
.782**
.643
.803
.005
.000
17
17
17
17
**
**
**
1
.753
.720
.000
.782
.000
.000
.000
21
21
17
62
21
Comportamento fenológico de Vitis vinifera L. face à variabilidade climática na Região de Lisboa
63
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