de Sophia de Mello Breyner Andresen Era uma vez uma casa nas dunas, voltada para o mar. Nessa casa vivia um rapazito que passava os dias a brincar na praia. Era uma praia muito grande e quase deserta onde havia rochedos maravilhosos. Às vezes passavam peixes. Os caranguejos corriam por todos os lados com uma cara furiosa e um ar muito apressado. O menino tinha imensa pena de não ser peixe para poder ir ao fundo do mar. Um dia estava a tomar banho no mar, ouviu uma gargalhada muito esquisita, parecia uma gargalhada de ópera… Mas o mais extraordinário, foi que era uma gargalhada humana, muito pequenina, muito fina e muito clara. Foi então, que o rapazinho viu uma menina muito pequenina e com muita curiosidade perguntou-lhe. Como te chamas? Eu sou a menina do mar. Não sei onde nasci. Um dia uma gaivota trouxe-me para esta praia. Tenho muitos amigos aqui. Amanhã quando voltarmos, vou apresentar-tos e faremos uma orquestra. Os peixes batem palmas com as barbatanas, o polvo toca guitarra com os oito tentáculos, o caranguejo toca castanholas com as grandes tenazes e eu danço. Enquanto o concerto decorria o rapazinho e a menina do mar dialogaram. A Menina do Mar confidenciou ao amigo que gostava muito de ir à Terra mas que era impossível porque para viver precisava do oxigénio existente na água. Foi então que o rapazinho teve uma ideia! -Já sei, amanhã trago um balde, enchemo-lo com água e vamos a Terra para observares tudo o que gostares. -combinado disseram ambos e despediram-se felizes. No entanto, havia um animal marinho, o búzio, que ouviu a conversa e foi contar à Raia, para quem a Menina do Mar dançava. Esta ficou furiosa, e mandou os polvos fazerem um círculo à volta da Menina do mar para ela não poder ir ver as montanhas, as cidades e a Terra. Passaram-se dias e dias, chegou o Inverno, o frio e a chuva. O menino pensava na amiga e tinha saudades dela. Até que um dia o menino estava na praia e viu uma gaivota com uma coisa muito brilhante no bico. Era um frasco cheio de agua muito clara e luminosa. A gaivota saudou o menino, dizendo – Bom dia! Bom dia , respondeu o menino e perguntou: porque me dás este frasco? Sabes, disse a gaivota, venho da parte da menina do mar, ela manda perguntar se queres ir ter com ela para o fundo do mar. Quero, quero, mas como é possível sem me afogar? Perguntou o rapazinho. Se beberes a água mágica passarás a ser como a Menina do Mar. Ele sentiu-se alegre e feliz como um peixe. Assim o menino podia viver dentro de água como os peixes e fora de água como os homens. Nadaram, muitos, muitos dias e noites até que chegaram a uma ilha rodeada de corais. No fundo do mar estava um golfinho à sua espera para o levar mar fora ao encontro da Menina do mar. O golfinho parou junto de uma gruta e aí deixou o menino. O rapaz entrou na gruta e espreitou... Lá dentro estava a menina do mar que disse: - Estou aqui! Estou aqui! Cheguei. Sou eu, o teu amigo da Terra. Ficaram muito felizes. No dia seguinte, houve uma festa no palácio do rei. A menina do mar e todos os outros peixes dançaram até de madrugada. Estavam todos muito felizes.