Domingos JBC, Pillon SC
O USO DE ÁLCOOL ENTRE MOTORISTAS NO INTERIOR
DO ESTADO DE SÃO PAULO
THE USE OF ALCOHOL AMONG DRIVERS ON THE COUNTRYSIDE OF
THE STATE OF SÃO PAULO, BRAZIL
EL USO DE ALCOHOL ENTRE MOTORISTAS EN EL INTERIOR DEL
ESTADO DE SAO PAULO, BRASIL
Josélia Benedita Carneiro DomingosI
Sandra Cristina PillonII
RESUMO: O uso de álcool entre motoristas é um tema preocupante devido às graves conseqüências e aos altos índices de
acidentes de trânsito que tem gerado. O estudo tem como objetivo identificar o uso do álcool entre os participantes de uma
campanha de saúde nas estradas em Ribeirão Preto-SP. O estudo é do tipo transversal e foi realizado em 2006. Participaram
1014 (85,5%) motoristas, a maioria homens, casados, com baixo nível de escolaridade, católicos e procedentes da Região
Sudeste. Quanto ao uso do álcool, 738(72,7%) bebem de 2 a 4 vezes por semana e se embriagam semanalmente. Consomem
bebidas alcoólicas em níveis de risco e de baixo risco, com índices preocupantes, pois se trata de motoristas. Um terço
afirmou que já sofreu acidente de trânsito, 19(2,5%) relataram essa ocorrência após consumo de álcool. Esses resultados
fornecem subsídios para o desenvolvimento de campanhas preventivas sobre o beber e dirigir.
Palavras-chave: Consumo de bebida alcoólica; condução de veículo; prevenção primária; acidente de trãnsito.
ABSTRACT
ABSTRACT:: The use of alcohol among drivers turns out to be a serious concern on account of dramatic consequences and
high levels of traffic accidents on the road. This study aimed at identifying the use of alcohol among participants of the health
campaign on the roads in Ribeirão-Preto, SP, Brazil. Design: Cross-sectional study on the basis of a systematic sample
including 1014 participants. 85.5% were men, married, with low educational levels, from the Southeast, and Catholic.
Regarding the use of alcohol, 738 (72.7%) drink two to four times per week and get intoxicated on a weekly basis. These
figures are remarkably high, considering the sample is made up of drivers. Those drivers make use of alcohol on levels of risk
and low risk. One third of them had already had car accidents, 19 (2.5%) of which having drunk before the accident. Those
data support the development of preventive campaigns on drinking and driving; traffic accident on the road.
Keywords: Alcohol consumption; driving; primary prevention.
RESUMEN: El uso de alcohol entre motoristas es un tema preocupante debido a las graves consecuencias y los altos
índices de accidentes de tránsito. El objetivo del presente estudio es identificar el uso de alcohol entre los participantes de
la campaña salud en las estradas en Ribeirao Preto-SP – Brasil. Es un estudio del tipo transversal y fue realizado em 2006. La
amuestra fue de 1014 (85,5%) participantes, hombres, casados, con bajo nivel de escolaridad, procedente de la región
sureste, religión católica.
Cuanto al uso de alcohol, 738(72,7%) beben de 2 a 4 veces por semanas y se emborrachan
semanalmente, índices considerados altos cuando se trata de motoristas. Ellos presentan uso de bebidas alcohólicas en
niveles de riesgo y de bajo riesgo. Un tercio de los motoristas ya sufrieron accidentes de tránsito, 19(2,5%) ocurrió después
de beber. Esos resultados fornecen subsídios para el desarrollo de campañas preventivas sobre el beber y conducir vehículos.
Palabras Clave: Consumo de bebida alcohólica; conducción de vehículo; prevención primaria; accidente de tránsito.
INTRODUÇÃO
O
Relatório Mundial sobre Prevenção de
Acidentes de Trânsito apresentou índices de
mortalidade e morbidade ocorridos nas estradas e
algumas medidas preventivas que devem ser tomadas
nos diversos paises, pois os altos índices têm gerado
prejuízos imensuráveis e inaceitáveis para a saúde
pública geral, social e econômica. Estima-se que por
ano 1,2 milhões de pessoas são mortas, e que mais de
50 milhões são mutiladas nas estradas1.
Ainda, quando são associadas estas conseqüências ao uso de substâncias psicoativas a preocupação é
maior. No que tange ao uso do álcool, a Organização
Mundial da Saúde2 reconhece que o uso problemático
(uso nocivo e dependência) impõe à sociedade uma
carga global de agravos indesejáveis e altamente
dispendiosos, sendo esta uma das principais doenças
do século XXI. Estima-se que, além dos acidentes nas
estradas, o ônus estimado nas conseqüências do
Mestre em Enfermagem Psiquiátrica. Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto USP. E-mail.
[email protected]
II
Professor Doutor; Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto. Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. Av
Bandeirantes 3900 Jd Monte Alegre. Campus USP-Ribeirão Preto - CEP 14 040-902. E-mail: [email protected].
I
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• p.393
O uso de álcool entre motoristas
consumo de álcool (doenças físicas e traumas causados
por acidentes automobilísticos, por exemplo) seria
responsável por 1,5% das mortes e 3,5% dos anos de
vida ajustados por incapacidade (DALYS), indicador que
especifica o percentual de anos perdidos em razão de
doença ou mortalidade precoce, colocando o controle
do uso de álcool como uma das prioridades de saúde
pública.
O presente estudo tem como objetivo avaliar o
uso de bebida alcoólica entre os motoristas
participantes da Campanha Saúde nas Estradas.
MARCO TEÓRICO
O Brasil se encontra em fase inicial de reconhecer
o comportamento do motorista alcoolizado como um
grave problema de saúde pública e que as poucas
estatísticas apontam um quadro preocupante3. Por um
lado, o álcool é a droga lícita mais consumida no
mundo, seu uso é aceito pela sociedade, é de fácil
aquisição e são diversos os fatores determinantes desse
consumo (econômico, por exemplo). A aceitação do
consumo também desempenha um papel fundamental, e isso é determinado em grande parte pelos
valores sociais e culturais da população, e tais
influências operam em vários níveis, por exemplo,
individual, grupal, ocupacional e familiar e nas
dimensões psicobiológicas, sociais e espirituais4.
Em nível individual, o álcool, mesmo quando
usado em pequenas quantidades, provoca alterações
no organismo, pois diminui a coordenação motora e
os reflexos, comprometendo a habilidade de dirigir
veículos automotores. No entanto, as conseqüências
podem ocorrer, mesmo com baixas doses (uma dose,
por exemplo). Os testes realizados com pessoas sob
influência do álcool têm demonstrado que a maioria
apresenta um baixo desempenho no tempo de
respostas aos estímulos de uma tarefa específica, à
medida que a alcoolemia (nível de álcool no sangue)
aumenta, e tal fato também pode causar problemas
na medida em que a alcoolemia diminui5.
Diante da complexidade do problema, a
literatura brasileira sobre esse tema ainda é escassa,
com produção limitada de estudos que avaliam a
relação dos acidentes automobilísticos com o uso
abusivo de álcool. Tal fato é apresentado nos estudos
sobre índices de acidentes de trânsito no Estado de
São Paulo, em que não constam as informações sobre
os acidentes conseqüentes ao uso do álcool.
Em 1999, ocorreram 9311 óbitos decorrentes de
acidentes de trânsito, correspondentes a 3,1% de todas
p.394 •
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as causas de mortes, com coeficiente de mortalidade
de 20,41 por 100.000 habitantes. Nesse mesmo ano,
Ribeirão Preto contabilizou 137 óbitos por acidentes
de transporte, obtendo o maior coeficiente entre as
cidades do Estado de São Paulo com mais de 200 mil
habitantes, com coeficiente de mortalidade de 28,9
por 100.000 habitantes6. Esses índices são ainda
maiores quando o uso de álcool está presente.
Como fatores de proteção para os acidentes de
trânsito, a literatura aponta a necessidade de uma
legislação rigorosa para os motoristas que dirigem
embriagados1-7. Nos anos que antecederam as mudanças
na Legislação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB)
em relação ao consumo de álcool e direção de veículos
automotores, houve acidentes que causaram a perda
de 40 mil vidas por ano e ferimentos em 450 mil pessoas;
os índices de morbidade e mortalidade têm diminuído
em função de maior rigor nas medidas de controle,
porém a falta de fiscalização continuada tem tornado a
prevenção e controle desses acidentes ineficientes de
acordo com a oscilação desses índices nos últimos anos7.
Vale ressaltar que não só no Brasil, mas na
maioria dos países, o dirigir embriagado ou sob efeito
do álcool é proibido por lei e as infrações acabam em
penalidades. No tópico a seguir, são descritos alguns
caminhos que contribuíram para a política restritiva
de controle do uso do álcool entre motoristas.
Limites Legais: o que é permitido
As medidas iniciais para prevenir o consumo
de álcool em situações de riscos são as medidas de
controle4. Este é um enfoque pontual para prevenção
do consumo de álcool ou embriagar-se e dirigir
veículos. Se existem altos índices de motoristas que
dirigem embriagados e se estes são pegos pela polícia
e se as penalidades são aplicadas de imediato e
severamente, esses motoristas evitariam dirigir
embriagados em situações posteriores. Dessa maneira,
os índices dess-as ocorrências vão depender da certeza
da punição e de sua severidade.
Esses pressupostos são válidos em relação à lei de
segurança quanto ao consumo do álcool; estudos8 sobre
as variações dos dispositivos legais e sua execução
demonstraram que existem três fatores inerentes às
medidas restritivas, a certeza, a rapidez e a severidade
da punição, sendo a primeira a mais eficaz. A restrição
legal do uso do álcool entre motoristas é também uma
medida efetiva na prevenção de acidentes9. Mesmo
que tenha ocorrido tardiamente, o Brasil promoveu
mudanças na legislação e no Código de Trânsito,
visando a aplicação das medidas restritivas de controle
do uso de bebidas alcoólicas.
Domingos JBC, Pillon SC
Dessa maneira, o Código de Trânsito Brasileiro10, atualizado em 1997, conforme a Lei nº 9503 do
Departamento de Trânsito, Ministério da Justiça, em
seu art. 165, considera infração administrativa
Dirigir sob a influência de álcool, em nível superior
a 0,6 g/l de sangue, ou de qualquer substância
entorpecente ou que determine a dependência
física ou psíquica.
Por outro lado, o art. 276, do CTB, estabelece
que o motorista, se apresentar uma concentração
alcoólica igual ou superior a 0,6 g/l, estará impedido
de dirigir veículos automotores. Finalmente, o artigo
subseqüente desse Código determina que o motorista
envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo
de fiscalização de trânsito, ou seja, suspeito de ter
abusado dos limites previstos, conforme o artigo
anterior, será submetido a teste de alcoolemia, exames
clínicos, perícia ou outro exame que se faça
necessário10.
A leitura do CTB demonstra que há rigor com o
motorista que dirige embriagado, o qual não coloca
apenas sua vida em risco, mas também a de outros. As
conseqüências legais são de natureza administrativa e
penal. Trata-se de uma infração gravíssima, com perda
de pontos na carteira de habilitação e multa de
R$957,65, com suspensão do direito de dirigir e o recolhimento da carteira de habilitação; é considerada
também um crime, com pena de detenção de 6 meses
a um ano, desde que fique comprovado que o condutor colocou em risco a vida humana.
O nível limite de alcoolemia ao dirigir estabelecido pelo Novo Código Brasileiro de Transito é
adequado, embora exista uma tendência, na literatura especializada11 para o valor de 0,5g/l (equivalente a duas latas de cerveja).
Os países que adotaram a política restritiva de
controle do uso do álcool entre motoristas, mais
precocemente, estão em fase de reavaliação dos seus
limites, pois consideram que existe uma tendência a
diminuir os níveis permitidos; por exemplo, na
Austrália, a redução de 0,8g/l para 0,5g/l associou-se
a um declínio de 6% dos acidentes12.
METODOLOGIA
O
método descritivo do estudo é do tipo
transversal. A pesquisa foi realizada na Campanha
Saúde nas Estradas em parceria com a concessionária
Autovias, em um posto de serviços na rodovia
Anhangüera SP-330, sentido capital-interior, em
Ribeirão-Preto, SP. A coleta de dados ocorreu em três
dias consecutivos, no segundo semestre de 2006.
A amostra foi constituída por motoristas que
participaram da Campanha de Saúde nas Estradas.
Foram realizados 1186(100%) atendimentos nos seis
dias e 1014(85,5%) aceitaram participar da pesquisa,
os quais compõem a amostra do presente estudo. Os
demais 14,5% não fizeram parte da pesquisa, pois eram
menores de idade, e também por que moravam no
bairro próximo ao local da Campanha, os quais
compareceram para a realização de exames.
A coleta de dados ocorreu por meio de um
questionário contendo informações sociodemográficas
(idade, sexo, estado civil, religião) e do teste de
identificação do uso de álcool (AUDIT) que é um
instrumento de rastreamento desenvolvido pela
Organização Mundial de Saúde13.
O AUDIT é composto por 10 questões com
três domínios, em que as três primeiras perguntas
identificam o padrão de consumo do álcool, as
questões de números 4 a 6 indicam os sinais e sintomas
da dependência e as quatro últimas representam os
problemas do uso do álcool. Para a leitura final do
teste, soma-se a pontuação (os valores das respostas),
em que o escore total varia de zero a 40 pontos,
possibilitando assim identificar zonas de risco do
beber. Foi aplicado o seguinte critério: uso de baixo
risco (0 a 7 pontos), uso de risco (8 a 15 pontos), uso
nocivo (16 a 19 pontos) e provável dependência (20
ou mais pontos). O tempo para respondê-lo foi de
aproximadamente 5 minutos.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo. Os motoristas
que aceitaram participar da pesquisa firmaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme previsto na Resolução nº 96/196 do Conselho Nacional de Saúde.
Para a leitura dos resultados, foi elaborado um
banco de dados no programa de estatística Statistical
Package for Social Science (SPSS) versão.11, que
possibilitou a análise estatística simples das variáveis
(freqüência, percentagem) e o teste Qui-quadrado
(X2) para a comparação entre as variáveis, com intervalo de confiança de 95%.
RESULTADOS
A amostra foi composta por 1014(85,5%) dos
motoristas participantes da Campanha Saúde nas
Estradas. A maioria 984(97%) é do sexo masculino,
com idade média de 41 anos (entre 18 a 72 anos);
842(83%) vivem com alguém e 690(68%) são de
cor branca. Quanto à escolaridade, 613(60,4%)
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O uso de álcool entre motoristas
possuem o 1°Grau completo ou incompleto;
727(71,8%) possuem religião católica; e 826(81,4%)
exercem a profissão de motorista de caminhão.
Identificou-se que, entre os motivos da viagem,
988(97,4%) estavam nas estradas por trabalho e
26(2,6%) por lazer ou motivos de estudo.
Quanto ao padrão do consumo, 738(72,7%)
fizeram uso do álcool nos últimos 12 meses e
276(27,3%) eram abstêmios. Entre os que consomem
álcool, 330(44,7%) são bebedores de baixo risco,
316(42,8%) fazem uso de risco, 65(8,8%) uso nocivo
e 27 (3,6%) apresentam provável dependência,
conforme mostra a Tabela 1.
TABELA 1: Distribuição dos motoristas por níveis de risco do
consumo de bebidas alcoólicas. Campanha Saúde nas Estradas.
Ribeirão Preto-SP, 2007 (n= 1014).
Em relação ao padrão de uso de bebidas
alcoólicas nos últimos 12 meses, o consumo ocorreu
numa periodicidade de duas a quatro vezes por mês,
em quantidade de 3 a 4 doses. No que concerne à
embriaguez (5 ou mais doses numa única ocasião),
ocorreu numa freqüência semanal, ou seja, fazem uso
de bebidas alcoólicas de 6 ou mais doses em uma
única ocasião. Foi verificado ainda que 456(45%)
bebem acima do limites recomendados pela OMS,
ou seja, 3 ou mais doses.
Quanto à presença dos sinais e sintomas da
dependência do uso de bebidas alcoólicas, os
participantes responderam que menos de uma vez
por mês não conseguem parar de beber uma vez começado e nesta mesma freqüência não conseguem
fazer o esperado, além de beber pela manhã.
O uso do álcool em níveis problemáticos (uso
de risco, uso nocivo e provável dependência) pode
trazer danos físicos (hepáticos e cardíacos entre
outros) e mentais (depressão e outros), mesmo sem a
presença da dependência13.
Entre os problemas decorrentes do uso do álcool,
nos últimos 12 meses, estão os esquecimentos, pelo
menos uma vez por mês, e, na mesma freqüência, foi
criticado devido às bebedeiras; por fim, 19% relataram que alguém se preocupou com a bebedeira deles
nos últimos 12 meses.
Nas comparações, ao avaliar a idade entre o grupo
de bebedores e não bebedores, foi encontrada uma média de idade menor no grupo de bebedores (40,93 anos,
Dp=,37) em comparação aos abstêmios (41,9 anos,
Dp=,65); para esta amostra não houve diferença estatística significativa para a idade entre os dois grupos.
A maioria dos participantes que fez uso de
bebidas alcoólicas - 660(89,4%)- vive com alguém
(casados, amasiados). Quando comparados os níveis
de risco do beber e o estado civil, foi observado um
número considerável de usuários de baixo risco e uso
de risco, embora não se possa deduzir que quem é
casado bebe mais do que quem está sozinho, pois
não foi encontrada uma associação estatística
significativa entre estas variáveis.
Ao comparar a religião e os níveis do consumo
de bebidas alcoólicas, o uso de risco está presente
entre 260 (35,7%) católicos e 29 (14,2%) evangélicos; entre os abstêmios, estão 139 (19,1%) católicos
e 124 (60,8%) evangélicos, com estatística significativa (X2 =157,6 e p 000). Aqui a religião pode
estar funcionando como um fator de proteção para o
uso de álcool, pois os que pertencem à religião
evangélica possuem maior controle social quanto ao
beber,e acabam bebendo menos, , conforme mostra
a Tabela 2.
TABELA 2: Comparação entre religião e os níveis de risco do consumo de álcool, dos participantes da Campanha
Saúde nas Estradas. Ribeirão Preto-SP, 2006 (n= 1014).
X2= 157,7 e p=000
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Os participantes que sofreram acidentes de
trânsito são apresentados em relação ao uso de bebidas
alcoólicas e aos níveis de riscos desse consumo,
conforme mostra a Tabela 3. Foi encontrada uma
porcentagem considerável entre os motoristas que
fazem uso de bebidas alcoólicas e se envolveram com
acidentes de trânsito. Mesmo que não tenha havido
uma associação estatística significativa, muito dos
acidentes ocorreram entre os bebedores que fazem
uso de risco. Por outro lado, devido ao baixo valor
encontrado entre os que afirmaram a ocorrência de
acidente, após o uso do álcool, pode ter havido
comportamento de risco para os possíveis falsos
negativos, isto é, que negaram o problema por
influência do medo, vergonha de assumir o fato de
ter bebido e dirigir e, ainda, por ter sido punido ou
mesmo não querer se expor. Outras pesquisas mais
aprofundadas sobre este tema são necessárias, tanto
com abordagem quantitativa como qualitativa para
explorar melhor as questões pertinentes.
DISCUSSÃO
Existem evidências de que os fatores comporta-
mentais relacionados ao beber e dirigir, que são
prevalentes nas causas de acidentes de trânsito,
contribuem com 95% dos prejuízos associados. As
conseqüências do beber e dirigir, como os acidentes
de trânsito, não só no Brasil, constituem um problema
de grande magnitude e contribui com os altos índices
de morbidade e mortalidade da população. Qualquer
consumo de bebida alcoólica pode trazer conseqüências como acidentes de trânsito nas estradas3.
Esta é a primeira vez que se identifica o padrão
de consumo do álcool entre motoristas em uma
rodovia, visando indicadores para a implementação
de ações preventivas do uso de álcool nas estradas.
A caracterização sociodemográfica dos
participantes da Campanha Saúde nas Estradas, que
fazem uso de bebidas alcoólicas, é semelhante aos
resultados encontrados em outros estudos, pois são
indivíduos do sexo masculino, com idade média de
41 anos (entre 18 a 72 anos), com baixo nível de
escolaridade, de religião católica e exercem a profissão
motorista de caminhão.
A maioria dos participantes da Campanha de
Saúde nas Estradas é do sexo masculino, e de acordo
com os estudos internacionais, o consumo de álcool
ocorre primordialmente entre homens motoristas14.
Embora não tenha havido diferenças significativas entre as idades dos motoristas abstêmios e os
bebedores, a amostra é composta por adultos. Essa
ênfase foi identificada na literatura, pois os índices
de problemas relacionados ao beber e o dirigir nesta
idade (média 41 anos) são considerados altos, porém
a faixa etária de maior incidência desses problemas é
a dos jovens de 18 a 28 anos.
Quanto aos níveis de risco, 44,7% dos
motoristas bebem em nível de baixo risco, ou seja,
de 1 a 2 doses numa única ocasião, limites estes que
não representariam riscos se estes motoristas não
fossem dirigir. Por outro lado, o autor13 refere que se
estes bebedores não receberem informações devidas,
ao longo do tempo podem estar mudando seu padrão
de consumo.
Considerando a população desta pesquisa, os
316(42,8%) que fazem uso de risco (3 a 4 doses)
apresentam maiores possibilidades de se envolverem
em problemas diversos, após o consumo de álcool.
Nesses casos, os motoristas necessitam de intervenções
mais precisas e pontuais para a redução desse consumo, pois possivelmente podem estar começando a
vivenciar problemas de saúde ou sociais conseqüentes ao uso de álcool. E por fim, os demais identificados
como uso nocivo e provável dependência necessitam
de encaminhamento para serviços específicos para
melhor avaliação de saúde e realização de exames para
definição de diagnósticos e tratamentos.
TABELA 3: Comparação entre ocorrência de acidente de trânsito após o consumo de bebidas
alcoólicas e os níveis de beber, segundo os participantes da Campanha Saúde nas Estradas.
Ribeirão Preto, 2006.
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O uso de álcool entre motoristas
O uso de bebidas alcoólicas entre os motoristas
esteve presente em 72,2% da amostra. Esse resultado
é compatível com achados da população geral e
identificados em levantamento domiciliar15; essa
questão é considerada um desafio para a saúde publica.
Neste estudo, 45% da amostra bebem acima dos
limites permitido, no entanto, os riscos podem ser
potenciais não apenas para acidentes de trânsito, mas
também para a saúde do motorista.
Dados da literatura14-18 mostram que o beber e o
dirigir (mesmo com alcoolemia baixa e dentro dos
limites legais) aumentam as chances de os motoristas
envolverem-se em acidentes de trânsito. Em um
estudo14, quase a metade (44%) afirmou ter bebido
alguma quantidade de álcool e dirigido a seguir, no
último ano; um, a cada oito, assinalou ter dirigido
quando bebeu acima dos limites permitidos.
Diferentemente dos estudos americanos, que
identificaram 23% do beber como problema entre
motoristas de caminhões entrevistados numa feira
comercial16, nesta pesquisa o consumo de álcool
alcançou a maioria dos sujeitos (72,2%). Os níveis
de problemas causados pelo uso do álcool entre
motoristas de empresas representam uma preocupação
relevante, pois os caminhoneiros devem beber pouco
ou nenhuma bebida alcoólica4. E os limites legais de
álcool (alcoolemia) para os caminhoneiros são
considerados bem menores em relação aos permitidos
para os demais motoristas.
Quanto à religião, muitos eram católicos e
bebiam em níveis de risco e os evangélicos eram
abstêmios. Infere-se que a religião pode representar
um dos fatores protetores na vida do indivíduo, ou
seja, se torna um aspecto de grande valia que pode
influenciar na rejeição ao consumo do álcool.
No presente estudo, a relação entre o uso de
álcool e religião evangélica parece configurar-se como
estratégia de controle do beber, embora não se tenha
dados concretos para comparar os índices de
alcoolismo entre motoristas de estradas e sua
vinculação religiosa. Dessa forma, torna-se
importante o desenvolvimento de mais estudos sobre
essa temática e que se avalie a religião como estratégia
de enfrentamento ou como instrumento de ajuda na
prevenção do uso e abuso de álcool.
CONCLUSÃO
As estratégias específicas para identificar e
intervir nos problemas relacionados ao consumo de
álcool e a condução de veículos automotores
precisam ser colocadas em prática, na fase inicial,
p.398 •
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ou seja, como forma de prevenção e redução de danos no trânsito.
Pesquisas têm demonstrado que quanto mais
elevado é o consumo de álcool numa determinada
população, maior é o índice de problemas e agravos desencadeados por seu uso abusivo. Portanto,
faz-se necessária a implementação de campanhas
permanentes, estudos direcionados para o uso de
risco de álcool nas estradas, visando à diminuição
de acidentes de trânsito. A Campanha de Saúde nas
Estradas é um momento oportuno para a aplicação
de medidas preventivas do uso de álcool para atingir a longo-prazo, a conscientização sobre os riscos
do beber e dirigir para a saúde e vida humana e,
possivelmente, reduzir esse consumo. Torna-se também um momento único para divulgação e discussão, junto aos participantes da Campanha Saúde nas
Estradas, da lei de controle do beber e dirigir (multas e outras penalidades), contribuindo, conseqüentemente, com a execução da lei e torná-la mais efetiva. Se não ocorre a conscientização das mudanças na lei entre a população de motoristas, ou a sua
execução (fazer valer a lei), é muito pouco provável que esta afete mudanças no comportamento do
beber e dirigir.
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Recebido em: 27.04.2007
Aprovado em: 13.09.2007
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O USO DE ÁLCOOL ENTRE MOTORISTAS NO INTERIOR DO