Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
se insinuando. Aquelas brincadeiras sem graça falando palavrões. Não é uma coisa assim
que você pega, uma coisa concreta, mas começou a fazer desavença na casa da gente. E
um pouco também por causa de família, porque eu ajudava muito os irmãos, sobrinhos, né.
Então, foi um pouquinho de cada coisa, porque a gente era para viver muito bem, porque
ele trabalhava e eu sempre trabalhei, né. A gente era já para ter uma casa própria, ou um
carro até mais ou menos, para passear. Assim, uma situação de vida melhor, mas de tanto
ajudar parente a gente não tem nada até hoje, nem ele tem nada nem eu.
Entrevistadoras: Vocês ficaram quanto tempo juntos?
— A.R.B.X.: Quase 20 anos. Hoje ele está sozinho, eu também estou sozinha. Nem ele
arruma ninguém, nem eu arrumo ninguém. Mas não é coisa combinada, né. Não é!
Entrevistadoras: Vocês não têm nenhum contato?
— A.R.B.X.: Não! É coisa dele lá mesmo, e da minha parte é por mim mesma entendeu,
porque a gente sendo evangélica, enquanto seu marido é vivo, você não pode ter ninguém
pela palavra de Deus, né. Só se você se divorciar por um motivo que Deus permite né, aí
você pode até se casar de novo. Sabe, meu jeito de pensar eu prefiro ficar sozinha, porque
hoje tá muito difícil você arrumar companheiro, companheiro mesmo, porque eu se falar
para vocês que meu marido era ruim, não era! Era uma ótima pessoa.
Entrevistadoras: Nunca teve nenhum problema?
— A.R.B.X.: Não, ele é uma ótima pessoa. Um homem muito recatado, um homem que
não tem vícios. A única coisa que ele gosta um pouco é de jogar uma marra, um baralho,
mas assim porque, não tem outra diversão, que ele não gosta de outra diversão tipo ir a
uma festa na cidade, ou aquela aglomeração de pessoas ele não gosta. Então, é por esses
motivos assim que a gente se separou, mas a gente tem amizade, conversamos pouco,
porque nós somos de pouca conversa. Mas ele é uma ótima pessoa, eu não posso falar
mal dele de maneira nenhuma, sempre foi muito bom marido. Tirando essas picuinhas,
isso é uma picuinha, em vista de tanta coisa na vida que a gente vê.
Entrevistadoras: Em relação aos seus filhos, como foi a experiência de ter sido mãe?
— A.R.B.X.: Foi um pouco difícil, um pouco difícil porque a gente trabalha fora, os filhos
ficam meio à vontade, cheios de liberdades, né. Aí você está trabalhando e você fala para
o filho “- O fica dentro de casa, não sai para a rua, você não acompanha ninguém”, só
que quando você vira as costas é bem diferente, né. Quando eram menorzinhos atendiam
ficavam uma belezinha; mas vão crescendo e vão começando a ter liberdade (não consigo
ouvir). Aí, às vezes, ficavam na rua o dia inteiro brincando. Quando eu chegava do serviço,
ficavam quietinho lá dentro como se não tivesse saído de casa, mas a gente como não
é boba, né. Quando era solteira trabalhava muito para ajudar os pais, depois que casei
fiquei só um tempo em casa, depois precisei sair também para ajudar o marido, porque a
situação financeira de uma pessoa sem muitos recursos é difícil hoje, né. Então, três filhos
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