ASMA BRÔNQUICA Maria João Marques Gomes Faculdade de Ciências Médicas Hospital Pulido Valente EPE Dimensão do problema É uma das doenças crónicas mais comuns, afectando cerca de 300 milhões de indivíduos em todo o Mundo. Aumento da prevalência na maioria dos países (20 a 50% cada dez anos), especialmente nas crianças. Causa importante de absentismo escolar ou laboral. Despesas muito elevadas com a saúde. 1 milhão de mortes evitáveis cada década. Definição de asma Doença inflamatória crónica das vias aéreas. Diversas células e elementos celulares têm um papel importante. A inflamação crónica está associada à hiperreactividade das vias aéreas que conduz ao aparecimento de episódios recorrentes de pieira, tosse e dificuldade respiratória. Limitação generalizada, variável e frequentemente reversível do fluxo das vias aéreas. Inflamação: células e mediadores Células inflamatórias: Mastócitos Eosinófilos T2 Basófilos Neutrófilos Plaquetas Células estruturais Células epiteliais Musculares lisas Células endoteliais Fibroblastos Nervos Mediadores: Histamina Leucotrienos Prostanóides PAF Quininas Adenosina Endotelinas Óxido nítrico Citoquinas Quimoquinas Factores de crescimento Efeitos: Broncospasmo Exsudação de plasma Secreção de muco HRB Alterações estruturais Adaptado de Peter Barnes Fisiopatologia da Asma Alergeno Macrófago/ Cél. dendrítica Mastócito Linf. Th2 Neutrófilo Eosinófilo Rolhões de Muco Activação nerv. Descamação epitelial Fibrose subepitelial Exsudação de plasma Edema Hipersecreção muco Hiperplasia Vasodilatação Novos vasos Activação nerv. sensorial Reflexo Colinérgico Broncoconstrição Hipertrofia/hiperplasia Adaptado de Peter Barnes Inflamação na asma Inflamação aguda Agudização de inflamação crónica Resposta aos corticoides Inflamação crónica Alterações estruturais Tempo Adaptado de Peter Barnes Factores de risco de asma Factores do hospedeiro: predispõem os indivíduos, ou protegem-nos de desenvolverem asma Factores ambientais: influenciam a susceptibilidade para o desenvolvimento de asma em indivíduos predispostos, precipitam as exacerbações de asma, e/ou causam persistência dos sintomas Factores que influenciam o desenvolvimento e expressão de asma Factores do hospedeiro Genéticos - Atopia - Hiperreactividade brônquica Género Obesidade Factores ambientais Alergénios do interior Alergénios do exterior Sensibilizantes ocupacionais Fumo de tabaco Poluição do ar Infecções respiratórias Dieta Causas de exacerbações de asma Alergénios Infecções respiratórias Exercício e hiperventilação Alterações climáticas Dióxido de enxofre Alimentos, aditivos, fármacos Sintomas e características Tosse Perene / sazonal Pieira Contínuos / acessuais Dispneia Duração e frequência Constrição torácica Horário Expectoração mucosa Relação com o esforço e viscosa Relação com desencadeantes Exame físico Pode ser normal Dispneia, acompanhada de pieira e uso de músculos acessórios Tosse recorrente, nocturna Sibilos Sinais de gravidade Tosse, dispneia e constrição torácica intensa Dificuldade em andar mais de 30 m Discurso sincopado Síncope Pulso paradoxal Uso dos músculos acessórios Diaforese e ortopneia Metodologia diagnóstica da Asma brônquica Clínica Sintomas e sinais Exames complementares de diagnóstico Leucocitos, eosinófilos, IgE total no sangue periférico Eosinófilos do exsudado nasal e/ou expectoração Estudo alergológico Estudo funcional respiratório Imagiologia Projecto Mundial para a Asma Traçados Espirométricos (VEMS) Típicos Volume FEV1 Indivíduo Normal FEV1 > 12% Asmático (Após broncodilatador) Asmático (Antes broncodilatador) 1 2 3 4 Tempo (seg.) Nota: Cada curva do VEMS representa a melhor de três medições efectuadas 5 Espirometria Na avaliação inicial Mede o grau de obstrução Avalia a deterioração da função Diagnóstico diferencial Doenças obstrutivas / Restritivas Reversibilidade Debitómetro (Peak-flow meter) PEF (litros/minuto) Curvas do PEF Antes do broncodilatador Após o broncodilatador Manhã = M Tarde = E Dia (Número) PEF= amplitude média Diagnóstico diferencial Asma Bronquite Crónica Bronquite Asmatiforme ?? Tosse Expectoração Pieira Dispneia Diagnóstico diferencial Jovem não fumador Crises de dispneia paroxística Agravamento: pó da casa, Primavera Reversão com beta2 P.F.R. Normais Metacolina + Asma brônquica Homem de 65 anos, grande fumador Tosse e expectoração matinal I.V.A.I. de repetição ultimamente com pieira e dispneia P.F.R. - Sínd. Obstrutivo Broncomotricidade - Bronquite crónica obstrutiva Diagnóstico diferencial Obstrução localizada Disfunção das cordas vocais Insuficiência cardíaca Bronquite crónica / enfisema Fibrose quística / bronquiectasias Prevenir exacerbações Reduzir a Controlar mortalidade sintomas OBJECTIVOS DO TRATAMENTO Restabelecer a Prevenir a actividade obstrução diária (função normal) Evitar os efeitos 2º da medicação Inflamação na Asma Cascata da inflamação Estímulo inflamatório Terapêutica CONTROLO DO AMBIENTE (Imunoterapia) Inflamação das vias aéreas Hiperreactividade brônquica Asma (sintomática) Anti-inflamatórios Broncodilatadores Asma clinicamente controlada Sintomas diurnos ausentes (ou mínimos)* Sem limitações da actividade Ausência de sintomas nocturnos Ausência necessidade mínima de medicação de alívio Função respiratória normal Ausência de exacerbações _________ * Minimo= 2 ou menos por semana Níveis de controlo da asma Características Controlada (Todas as seguintes) Parcialmente controlada (pelo menos 1 em cada semana) Sintomas diários Nenhum (2 ou menos / semana) Mais de 2x / semana Limitações de actividades Nenhuma Qualquer uma Sintomas nocturnos / despertares Nenhum Qualquer um Necessidade de medicação SOS / medicação de “alívio” Não (2 ou menos / semana) Mais do que duas X / semana Função pulmonar (PEF or FEV1) Normal < 80% previsível ou melhor valor pessoal (se conhecido) em qualquer dia Exacerbação Nenhuma uma ou mais / ano Não controlada 3 ou mais características de asma parcialmente controlada presente em qualquer semana 1 em cada sem. Programa de Prevenção e Abordagem da Asma 1. Desenvolver uma parceria doente/médico 2. Identificar e reduzir a exposição aos factores de risco 3. Avaliar, tratar e monitorizar a asma 4. Tratar as exacerbações Revised 2006 5. Considerações especiais Programa de Prevenção e Abordagem da Asma Componente 1: Desenvolver uma parceria doente/médico Educar continuamente Incluir a família Disponibilizar informação sobre asma Disponibilizar treino para o auto-controlo Enfatizar a parceria entre os profissionais de saúde, os doentes e a família dos doentes Programa de Prevenção e Abordagem da Asma Componente 2: Identificar e reduzir a exposição a factores de risco Reduzir a exposição a alergénios do interior Evitar o fumo do tabaco Evitar as emissões dos veículos Identificar irritantes no local de trabalho Explorar o papel das infecções no desenvolvimento da asma, especialmente na criança e lactentes Programa de Prevenção e Abordagem da Asma Componente 3: Avaliar, Tratar e Monitorizar a Asma A escolha do tratamento deve orientar-se pelo: Nível de controlo da asma Tratamento habitual Propriedades farmacológicas e disponibilidade das várias formas de tratamento Considerações económicas Devem ser consideradas as preferencias culturais e diferenças de sistemas de saúde Projecto Mundial para a Asma Programa de tratamento em 5 pontos Terapêutica farmacológica Controladores Corticosteróides inalados Modificadores dos leucotrienos Agonistas-b2 de acção prolongada Corticosteróides sistémicos Teofilinas Cromonas Agonistas-b2 de acção prolongada orais Anti-IgE Agentes anti-alérgicos Ketotifen De alívio Agonistas-b2 de acção rápida Corticosteróides sistémicos Anticolinérgicos Teofilinas Agonistas-b2 de acção rápida orais REDUZIR AUMENTAR DEGRAUS DE TRATAMENTO Degrau 1 Degrau 2 Degrau 3 Degrau 4 Degrau 5 Educação do doente asmático Controlo ambiental β2-agonista de curta acção sempre que necessário Adicione uma Adicione uma Escolha uma Escolha uma ou mais ou as duas CI dose baixa CI dose média Corticóide Dose baixa de + β2 de longa ou alta + β2 de oral (dose CI acção longa acção mais baixa) Opções de Antagonista Dose média ou Antagonista Anti-IgE controlo LT alta de CI LT CI dose baixa + antagonista LT CI dose baixa + xantina REDUZIR NÍVEL DE CONTROLO TRATAMENTO manter e procurar o nível mais baixo capaz de controlar parcialmente controlada considerar subir degraus para atingir o controlo não controlada exacerbação AUMENTAR controlada subir até conseguir o controlo tratar como exacerbação REDUZIR AUMENTAR TRATAMENTO DEGRAU DEGRAU DEGRAU DEGRAU DEGRAU 1 2 3 4 5 Asma na web www.ginasthma.com Caso clínico nº 1 Identificação: Doente de 36 anos do sexo feminino, raça branca, não fumadora, empregada doméstica. Motivo da consulta: Pieira e dispneia acessuais de calendário primaveril. Histórica clínica: Desde os 30 anos e apenas durante os meses de Abril a Julho que manifestava episódios de pieira e dispneia acessuais associados a crises esternutatórias, prurido nasal e ocular, rinorreia serosa e obstrução nasal. Assintomática durante os restantes meses do ano. Caso clínico nº 1 Exame objectivo realizado em período sintomático: Pieira sem dispneia. Olhos lacrimejantes, conjuntivas eritematosas. Rinorreia serosa e obstrução nasal. Auscultação pulmonar: sibilos discretos dispersos em ambos os hemitóraces e ligeiro aumento do tempo expiratório. Restante exame objectivo sem alterações. Caso clínico nº 1 Exames complementares de diagnóstico: Leucocitos: 6000/mm3 com eosinofilia ligeira. IgE total: 158 UI/ml. Provas de sensibilidade cutânea em prick positivo apenas à parietária (diâmetro-15 mm). IgE específica à parietária por RAST: classe 5 (nível muito elevado). Provas de função respiratória: mecânica normal em condições basais e hiperreactividade brônquica pós inalação de metacolina a 0,2%. Débito Expiratório Máximo Instantâneo (D.E.M.I.) avaliado com um “Peak Flow Meter” em período assintomático - 430 l/m e em período sintomático - 260 l/m. Radiografia do tórax sem alterações. Testes de sensibilidade cutânea Caso clínico nº 1 Diagnóstico Asma por hipersensibilidade à Parietária Conjuntivite e Rinite alérgica