Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição do Jornal de Negócios KPMG admite incumprimento de clientes do BES com dívida do GES Maria João Gago | [email protected] Clientes do BES que investiram em dívida do GES através de outros bancos do universo Espírito Santo poderão deixar de pagar créditos que contraíram na instituição que era liderada por Ricardo Salgado. O problema, para o qual a KPMG chama a atenção, pode vir a ter impacto negativo no Novo Banco. Os clientes do Banco Espírito Santo que através de outros bancos do Grupo Espírito Santo (GES) investiram em títulos de dívida do GES cujo reembolso está em risco poderão não respeitar os compromissos que têm para com o BES, designadamente o pagamento de créditos contraídos junto desta instituição. Estes contratos de financiamento, nos casos não abrangidos pelas disposições do Banco de Portugal, terão sido transferidos para o Novo Banco e, por essa razão, se os clientes deixarem de pagar, como admite a KPMG, o incumprimento terá impacto negativo nas contas da instituição liderada por Vítor Bento. A possibilidade de clientes do BES, que através do Banque Privée Espírito Santo, do ES Bankers Dubai e ES Bank Panamá, deixarem de pagar estes empréstimos é admitida pela KPMG, empresa de auditoria do BES, no relatório de revisão limitada às contas semestrais do banco que agora apenas concentra activos tóxicos e sobre as quais a auditora se escusou a dar parecer. "A 30 de Junho de 2014, verifica-se a existência de papel comercial e outros instrumentos de dívida emitido por entidades do GES no montante de 1.275 milhões de euros, colocados junto de clientes (retalho e institucionais) de bancos do grupo Espírito Santo Financial Group (ESFG), nomeadamente do Banque Privée, do ES Bankers Dubai e ESB Panamá. Considerando a possibilidade de existência de relações comerciais com o BES, que possam ter significado para o efeito (...) existe o risco de virem a ocorrer contingências para o BES cujo montante, a esta data, não é possível de quantificar", lê-se numa das quatro ênfases às contas identificadas por Sílvia Gomes, a revisora oficial da contas que representa a KPMG no BES. Além deste risco, a empresa de auditoria avisa que também poderão resultar em "contingências para o BES" as situações em que o banco cujo destino é agora a liquidação encaminhou clientes seus para os bancos do ESFG. Ou seja, a KPMG admite que estes investidores possam vir a reclamar junto do BES o dinheiro perdido nestas instituições, designadamente devido a aplicações feitas em dívida do GES. Como o Negócios noticiou em Julho, vários clientes do Banque Privée abriram conta nesta instituição por recomendação de responsáveis do BES. Apesar de o seu relatório sobre as contas semestrais do BES incluir vários alertas, a KPMG recusou emitir o seu parecer. Isto por não ter sido "possível obter prova suficiente e apropriada para proporcionar uma base para a emissão do presente relatório sobre a revisão semestral", justifica a empresa. A falta de fundamentos para a elaboração de parecer sobre as contas deveu-se, por um lado, ao impacto da medida de resolução que o Banco de Portugal impôs ao BES a 3 de Agosto. Uma situação que, para a KPMG, torna "incerta" a "recuperabilidade e a realização dos activos bem como o reembolso dos seus passivos", já que não são conhecidos os critérios de avaliação deste património na sua transferência para o Novo Banco. Outra incógnita está relacionada com o BES Angola. A KPMG admite a possibilidade de o BES perder aquela operação, onde tem uma posição de 55,71%, devido às necessidades de capital do BESA, que ascendem a 2.705 milhões. 2-Set-14