Dominique Maingueneau
tradução
Sírio Possenti et alii
Título original:
Les Phrases sans texte
© Armand-Colin, Paris, 2012
ARMAND-COLIN é um selo de DUNOD Editeur
5, rue Laromiguière - 75005, Paris
ISBN: 978-2-200-27670-6
Capa e projeto gráfico: Telma Custódio
Revisão: Karina Mota Banco de imagens - 123RF
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
C191g
Maingueneau, Dominique
Frases sem texto / Dominique Maingueneau ; tradução Sírio Possenti
[et al.] - 1. ed. - São Paulo : Parábola Editorial, 2014.
200 p. ; 23 cm. Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7934-083-3
1. Análise do discurso. 2. Linguagem e línguas. I. Maingueneau,
Dominique. II. Possenti, Sírio III. Título. IV. Frases sem texto. V. Série.
10-3226
CDD: 401.41
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ISBN: 978-85-7934-083-3
© da edição: Parábola Editorial, São Paulo, maio de 2014.
Sumário
Apresentação.............................................................................................................7
Introdução ...............................................................................................................9
Capítulo 1: Enunciado destacável, enunciado destacado.....................................13
A destacabilidade............................................................................13
Antecipar o destacamento ............................................................16
Destacamentos forte e fraco..........................................................18
Capítulo 2: A enunciação aforizante...................................................................23
As alterações....................................................................................23
A enunciação aforizante.................................................................27
O problema do contexto.................................................................30
Capítulo 3: A cena da aforização.........................................................................33
As aspas...........................................................................................33
Do alocutário ao auditório.............................................................35
O aforizador ....................................................................................37
O aforizador e o locutor..................................................................40
Sujeito de pleno direito..................................................................43
O rosto.............................................................................................45
O aforizador coletivo......................................................................51
Capítulo 4: Aforização, frase, texto....................................................................53
Frase e aforização...........................................................................53
Frase e sentença..............................................................................55
Tipos de aforização.........................................................................59
Aforização e textualidade...............................................................62
Capítulo 5: Thesaurus e comunidade....................................................................69
O hiperenunciador.........................................................................69
As aforizações sentenciosas...........................................................71
As particitações de grupo...............................................................74
Os slogans comerciais.....................................................................77
As particitações escriturais............................................................78

Sumário
3
Capítulo 6: A fala sentenciosa.............................................................................83
Escritura sentenciosa e textualidade.............................................83
As coletâneas...................................................................................88
Uma prática de integração social .................................................90
As fichas do homem letrado..........................................................92
Sentenças e teatro clássico.............................................................95
Capítulo 7: As “pequenas frases” ........................................................................99
Para além do rumor........................................................................99
A “pequena frase”..........................................................................103
A inteligência de José Luis Zapatero............................................105
Litotes, ethos e máquina midiática..............................................113
Capítulo 8: Interpretar as aforizações..............................................................117
O enquadre informacional...........................................................119
O enquadre testemunhal.............................................................121
O enquadre acional.......................................................................123
Regime de atualidade e regime memorial..................................123
Enquadre interpretativo e interpretação associada...................128
Capítulo 9: Aforização e enigma........................................................................131
Diversas modalidades..................................................................132
Os tropos........................................................................................134
A palavra do mestre......................................................................136
Discursos constituintes e enquadramento hermenêutico........139
“Eu esqueci meu guarda-chuva”.................................................141
Discursos constituintes e aforizações.........................................143
O paradoxo de São Tiago..............................................................145
Capítulo 10: O universo escolar..........................................................................151
Tema de dissertação literária.......................................................151
A fórmula filosófica.......................................................................156
Capítulo 11: No limiar do texto...........................................................................161
O “texto” de um sermão................................................................161
Indica mihi…................................................................................164
Uma epígrafe.................................................................................168
Capítulo 12: Enunciação e anunciação................................................................179
Enunciação incorporada, enunciação destacada......................179
Fantasmas e espíritos...................................................................184
A paratopia....................................................................................189
Enunciação e anunciação............................................................190
Referências bibliográficas.....................................................................................195
Índice das ilustrações............................................................................................199
4
Frases sem texto
dominique maingueneau
Apresentação
Sírio Possenti
N
os últimos anos, Dominique Maingueneau desenvolveu
progressivamente um conjunto de conceitos relativos ao
que veio a chamar de frases sem texto (os principais textos
foram publicados em Cenas da enunciação e em Doze conceitos em análise do discurso, ambos pela Parábola Editorial). Mas que
não se entenda este sintagma — nem o título deste livro, evidentemente — de forma excessivamente literal.
É que a problemática foi inicialmente apresentada a partir do
conceito de destacabilidade, que se refere a um conjunto de propriedades de certas frases que as fazem ser destacadas e circular, eventualmente, fora do texto de que fizeram parte na origem. “Sem texto”
qualifica o final de um processo, que vai da destacabilidade ao destacamento, passando eventualmente por modificações que tornam a
sequência mais pregnante.
Estes são fatos que o autor constata. A novidade mais relevante da
empreitada de Maingueneau — que neste livro surge plenamente, em
todas as fases — é que tais frases adquirem o estatuto de aforizações. Não
se trata necessariamente de aforismos, muitos dos quais já nascem destacados (há autores que os produziram em série), mas de frases com determinadas propriedades que são postas a circular e que, eventualmente,
são interpretadas como se não tivessem feito parte de textos. Observe-se que mesmo os provérbios, que nascem destacados, são tipicamente citados em textos, o mesmo valendo de certa forma para os slogans.
A oposição enunciação textualizante/enunciação aforizante é, a
meu ver, o ponto alto das proposições do autor neste domínio. Tendo

Apresentação
5
assumido há tempo a posição segundo a qual há uma relação carnal entre discurso e gêneros, ele propõe exatamente que as ditas frases sem texto, dado um conjunto de características quanto ao significante e quanto ao
significado, têm um funcionamento tal que mantêm com o texto uma relação tensa, como se quisessem saltar para fora dele — e, consequentemente,
também das condições de produção.
Além das proposições teóricas propostas, o livro contém um grande
número de análises, umas mais, outras um pouco menos detalhadas, mas
todas destinadas a proporcionar ao leitor, para além de uma abordagem dos
discursos por meio da exploração de uma problemática específica e de um
tipo de corpus peculiar, indicações preciosas de práticas de análise. O que
eventualmente faz falta em muitas obras.
***
Decidimos não adaptar a tradução, o que significaria, basicamente,
incluir dados, nomeadamente ilustrações e fotografias da mídia brasileira,
em substituição aos encontrados no original, que são, obviamente, extraídos da mídia francesa. As razões são duas. Em primeiro lugar, o custo que a
adaptação implicaria para esta edição. Mas a razão mais importante é que
a adaptação teria que seguir de perto o original, com o que o ganho seria
mínimo. Cada leitor pode certificar-se de que a maior parte do material que
substituiria os dados originais pode ser encontrada praticamente em cada
jornal ou revista, algo que cada leitor pode fazer, na verdade.
***
Glaucia Muniz Proença Lara e Aline Saddi Chaves traduziram os capítulos 3 e 4; Ana Raquel Motta, os capítulos 7 e 8; Roberto Baronas e Sírio
Possenti traduziram o capítulo 12. O último traduziu o restante do livro, tendo sido responsável também pela revisão final. Nesta etapa, pediu socorro a
Rodolfo Ilari (a quem agradece), com quem discutiu um conjunto de passagens que lhe pareceram mais opacas.
6
Frases sem texto
dominique maingueneau
Introdução
Trad.:
Sírio Possenti
M
uitos livros pretendem responder às perguntas que o
grande público se faz. Não é necessário ser astrofísico
para interessar-se pelo “começo do universo”, ser sociólogo para interessar-se pelos “problemas da periferia”
ou pelos “novos solteiros”. E um linguista será bem visto se tratar da
origem da linguagem ou do discurso dos homens públicos. Outros livros respondem a questões que só preocupam os especialistas de uma
disciplina. Mas, tanto em um como em outro caso, o autor não precisa
justificar seu empreendimento: o objeto está dado, iluminado pelo interesse que suscita.
A tarefa, não há dúvida, é menos fácil quanto o livro trata de um
objeto em relação ao qual nenhum interesse visível parece preexistir.
É o caso desta obra, cujo objetivo principal será mostrar a pertinência
do objeto que ela se dá. Certamente, o tema que ela aborda — designado inicialmente como “frases sem texto” — é bem conhecido, mas os
fenômenos que ele recobre nunca foram objeto, que eu saiba, de um
tratamento unificado. Isso se explica facilmente, aliás. Quando alguém
se pergunta qual é a unidade fundamental pela qual a fala se estrutura,
duas respostas são normalmente propostas: para uns, trata-se da frase,
para outros, do texto. Mas ambas as respostas acabam por convergir: as
frases se combinam para produzir textos, os textos se decompõem em
frases. Como poderia ser diferente? O que pode ser, afinal, uma frase
“sem texto”, dado que as frases acabam sempre entrando em textos? E,
se algumas parecem resistir, trata-se de fenômenos marginais que só
estão ligados parcialmente às ciências da linguagem: divisas, grafites…

Introdução
7
A suspeita que pesa sobre o solitário pesa também sobre a própria frase que
o denuncia: “Vae soli!”1 Infeliz da frase só!
É justamente para estas evidências que este livro quer se voltar: pode-se
imaginar que as frases escapem à ordem do texto? E, se sim, em que sentido?
Ninguém contesta que as frases isoladas estão por toda a parte. Elas proliferam nas conversações, na imprensa escrita e na internet, nas fachadas dos
edifícios públicos, nas estantes de livros ou nas bandeiras, nas camisetas ou
nas placas de automóveis: ditados, provérbios, manchetes, “pequenas frases”, sentenças, slogans, fórmulas etc. Algumas se beneficiaram tradicionalmente de um tratamento favorável: os slogans, por exemplo, que interessam
aos especialistas em comunicação, ou as formas sentenciosas (apotegma,
máxima, provérbio, adágio…)2. Mas a preocupação, aqui, é, sobretudo, definir os critérios que permitem classificá-las em diferentes categorias: “Dai
a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” será classificada entre as
“parêmias”, “Levanta-te e anda” entre as citações3 etc.; não há nenhum interesse no fato de que todos esses enunciados são frases sem texto e que esta
simples propriedade mereça, portanto, que nos detenhamos nelas.
É verdade que a solidão dessas frases é apenas aparente: um título está,
apesar de tudo, inscrito em um texto, o conjunto de um artigo (com as linhas
que o isolam na página, a organização de seus caracteres, seu título, seu cabeçalho…), ele próprio incluído num texto mais vasto, o jornal. Isso é certo. Mas com isso esgotamos o problema? Há propriedades comuns a todos
os tipos de frases solitárias? “Dizer uma frase” é a mesma coisa quando ela
faz parte de um texto e quando ela é destacada? Quem fala, neste caso? E a
quem? Como se constrói a interpretação de frases que não são consideradas
na continuidade de um texto? São estas as questões, e também outras, que
vão merecer nossa atenção.
Para isso, tivemos que fazer escolhas. Privilegiamos as frases que foram destacadas de textos. Se há uma abundância de literatura sobre as frases
sem texto “primárias” (slogans, provérbios, ditados…), a mesma coisa não
Eclesiastes 4,10.
Há uma disciplina consagrada a estas últimas: a “paremiologia”: “A paremiologia considera, de maneira geral, no ocidente, doze parêmias: o provérbio, a sentença, a locução proverbial, o ditado, a máxima, o slogan, o adágio, o preceito, o aforismo, o apotegma, a divisa e o wellerismo” [M. Quitout (org.), Proverbes et énoncés sentencieux. Paris: L’Harmattan, 2002, p. 12].
3
N. Gueunier, “La parémie d’origine évangélique et son usage dans le titres littéraires
françaises”, in: J. Heistein e A. Montandon (orgs.), Formes littéraires brèves, Paris: Librairie G.
Nizet, 1991, p. 263.
1
2
8
Frases sem texto
dominique maingueneau
se dá em relação àquelas que foram separadas de um texto-fonte. Elas são
absorvidas na problemática bem mais ampla da citação, ou fragmentadas
em domínios disjuntos: as manchetes, as citações célebres, as “pequenas
frases” políticas… Outra escolha foi levar em conta práticas historicamente
situadas. Mesmo que os exemplos tirados do mundo contemporâneo sejam
predominantes, diversos fenômenos estudados pertencem aos séculos passados. Enfim, nos esforçamos para manter a balança equilibrada entre os
exemplos tirados da atualidade midiática e política e os que provêm dos discursos que pretendem tocar os fundamentos: literário, filosófico, psicanalítico ou religioso. Tal procedimento, que nos faz passar dos jornais gratuitos
a Derrida, do discurso religioso às “pequenas frases” políticas, é natural em
análise do discurso, lugar em que se considera que todas as manifestações
da fala são ao mesmo tempo ligadas e submetidas a invariantes. O dispositivo de enunciação das frases sem texto está aquém da diversidade das práticas discursivas, mas só é acessível por meio dessa diversidade. Nisto, procedemos um pouco como o lexicógrafo que, devendo modelizar o significado
de uma unidade lexical, explora suas zonas de estabilidade e de variação,
seu poder de deformação através dos mais variados corpora; só a consideração dessa diversidade permite validar a análise proposta.
Não sendo este livro um romance policial, não há necessidade de criar
um suspense quanto à tese que lhe serve de fio condutor: a enunciação é
partilhada entre dois regimes, o dos textos e gêneros de discurso e o das
“aforizações”. Com a reserva de que tal diferença não funciona segundo as
formas usuais: dado que não há frase sem texto, a não ser inscrita nos textos,
esses dois regimes não são duas espécies do gênero próximo “enunciação”,
mas antes uma forma de a enunciação não coincidir consigo mesma.

Introdução
9
M
aingueneau desenvolve um conjunto de conceitos relativos às frases sem texto. Aprofundando esses conceitos,
a novidade deste livro é atribuir a estas frases o estatuto
de aforizações.
As frases sem texto constituem uma “enunciação aforizante”, o que
significa que o enunciado se apresenta com relativa autonomia
em relação ao texto de que foi extraído. Elas mantêm uma relação
tensa com os textos e suas condições de produção. É como se tais
frases “quisessem” saltar para fora de seus textos, opondo assim a
enunciação textualizante à enunciação aforizante.
O livro propõe conceitos teóricos importantes, explora-os e os
aplica a numerosos casos, como trechos de textos, artigos de jornal, sites da internet etc., produzindo análises que proporcionam
uma abordagem dos discursos por meio da exploração de problemática e corpus específicos. O livro contém numerosas análises, o
que inexiste em muitas obras.
O livro se destina a pesquisadores, estudantes de Letras e jornalistas, pois, ao longo dos seus doze capítulos, propõe um olhar analítico sobre fenômenos muito ricos, inscritos no campo da análise
do discurso. Certamente, Dominique Maingueneau traz à luz um
tema que merece mais e mais detalhados estudos.
ISBN: 978-85-7934-083-3
9 788579 340833
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Frases sem texto
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