Literatura
ENSINO MÉDIO
Conteúdos da 2ª Série – 1º/2º Bimestre 2014 – Trabalho de Dependência
Nome: __________________________________________ N.o: ____
Turma: ______ Professor(a): Márcio
Cascadura
Mananciais
Méier
Taquara
Resultado / Rubrica
Valor Total 10,0 pontos
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Instruções
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Unidade:
Data: ____/____/2014
AS QUESTÕES OBRIGATORIAMENTE DEVEM SER ENTREGUES EM UMA FOLHA À
PARTE COM ESTA EM ANEXO.
TEXTO I
Capítulo I
Óbito do Autor
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro
lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas
considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor
defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim
mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no *introito, mas no cabo;
diferença radical entre este livro e o *Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela
chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos
contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem
anúncios. Acresce que chovia - peneirava - uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste,
que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de
minha cova: —"Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar
chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio,
estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e
má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado."
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à
cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o *undiscovered country de
Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego, como
quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Viram-me ir umas nove ou dez
pessoas, entre elas três senhoras, — minha irmã Sabina, casada com o Cotrim, — a filha,
um lírio-do-vale, — e... Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira
senhora. Contentem-se de saber que essa anônima, ainda que não parenta, padeceu mais
do que as parentas. É verdade, padeceu mais. Não digo que se carpisse, não digo que se
deixasse rolar pelo chão, epiléptica. Nem o meu óbito era coisa altamente dramática... Um solteirão que expira
aos sessenta e quatro anos, não parece que reúna em si todos os elementos de uma tragédia. E dado que sim, o
Ensina para a vida. Forma para Sempre.
que menos convinha essa anônima era aparentá-lo. De pé, à cabeceira da cama, com os olhos estúpidos, a boca
entreaberta, a triste senhora mal podia crer na minha extinção.
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas, Série bom livro. Ed. Ática: SP. 1992 p.17-8.
*Introito: começo; princípio.
*Pentateuco: os cinco livros de Moisés, que são os primeiros da Bíblia, desde o Gênese até o Deuteronômio.
*Undiscovered country: palavras ditas por Hamlet, na peça do mesmo nome – de Shakesperare – no
conhecido monólogo do 3º ato, que começa com: “ser ou não ser, eis a questão”. A expressão significa “reino
desconhecido” ou, pelo contexto, “reino da morte”.
1. No primeiro parágrafo, o narrador expõe duas considerações a respeito do romance: a de ser obra de um
autor defunto e a de iniciar o livro pela morte do personagem, diferente do que fizera Moisés, autor do
Pentateuco. Interprete tal comentário, relacionando-as a uma característica da prosa machadiana.
No segundo parágrafo, encontramos a transcrição do discurso proferido pelo amigo de Brás Cubas e, em seguida,
um comentário do narrador. Na associação dos discursos destaca-se o estilo irônico de Machado de Assis.
2. Relacione o discurso ao morto às características da linguagem romântica.
3. De que forma a ironia se encontra associada a uma visão da estética realista?
“Tenham paciência daqui a pouco lhes direi quem era essa terceira senhora!” (terceiro parágrafo).
4. Essa frase revela um dos procedimentos próprios da narrativa machadiana. Explicite-o através de breve
comentário.
TEXTO II
Capitulo LXXI
O Senão do Livro
COMEÇO a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente,
expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o
livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e, aliás, ínfimo, porque o maior
defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e
nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda,
andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem.
E caem! – Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, coxo quaisquer outras belas e vistosas; e, se
eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa
boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair.
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas, Série bom livro. Ed. Ática: SP. 1992 p.103.
5. Nesse capítulo, de cunho metalinguístico, Brás Cubas desmitifica sua própria obra, apontando-lhe,
ironicamente, uma série de “defeitos”. Interprete as definições do narrador, quando afirma que “o livro anda
devagar” e que o seu estilo “são como os ébrios”, relacionando tais marcas aos procedimentos da técnica
narrativa do Realismo.
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Ensina para a vida. Forma para Sempre.
6. Criticando o leitor que “tem pressa de envelhecer” e que ama a “narração direta e nutrida, o estilo regular e
fluente”, Brás Cubas está, na verdade, ironizando a narrativa romântica. Confirme essa afirmação.
TEXTO III:
“Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, rebolando as ilhargas e
bamboleando a cabeça, ora para a esquerda, ora para a direita, como numa sofreguidão
de gozo carnal, num requebrado luxurioso que a punha ofegante; já correndo de barriga
empinada; já recuando de braços estendidos, a tremer toda, como se se fosse afundando
num prazer grosso que nem azeite, em que se não toma pé e nunca se encontra fundo.
Depois, como se voltasse à vida, soltava um gemido prolongado, estalando os dedos no
ar e vergando as pernas, descendo, subindo, sem nunca parar com os quadris, e em
seguida sapateava, miúdo e cerrado, freneticamente, erguendo e abaixando os braços,
que dobrava, ora um, ora outro, sobre a nuca, enquanto a carne lhe fervia toda, fibra por
fibra, tirilando.
Em torno o entusiasmo tocava ao delírio; um grito de aplausos explodia de vez em
quando, rubro e quente como deve ser um grito saído do sangue. E as palmas insistiam,
cadentes, certas, num ritmo nervoso, numa persistência de loucura. E, arrastado por ela,
pulou à arena o Firmo, ágil, de borracha, a fazer coisas fantásticas com as pernas, a derreter-se todo, a sumir-se
no chão, a ressurgir inteiro com um pulo, os pés no espaço, batendo os calcanhares, os braços a querer fugiremlhe dos ombros, a cabeça a querer saltar-lhe. E depois, surgiu também a Florinda, e logo o Albino e até, quem
diria! o grave e circunspecto Alexandre.
O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desesperando aos que não sabiam dançar. Mas, ninguém
como a Rita; só ela, só aquele demônio, tinha o mágico segredo daqueles movimentos de cobra amaldiçoada;
aqueles requebros que não podiam ser sem o cheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce,
quebrada, harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante.
E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a
luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das
baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma
outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju,
que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida,
que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras
embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha
daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de
cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.”
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço, 25ª Ed. São Paulo: Ática, 1992. p.72-3.
ilharga: cada uma das partes laterais e inferiores do baixo-ventre
tomar pé: tocar com os pés o fundo de
tilitar: estremecer, palpitar
cadente: ritmado
circunspecto: sério,
sisudo
surdir: surgir, aparecer
esquivo: arisco,
desdenhoso
chorado: bailão
cantárida: tipo de inseto de coloração verde-dourada com reflexos avermelhados, muito usado na medicina
antiga, triturado, em beberagens para fins diuréticos ou afrodisíacos
No primeiro parágrafo há uma frase que resume o arrebatamento de Rita Baiana.
7. Transcreva essa frase.
8. Que palavra dessa frase tem relação direta com o Naturalismo?
-3-
Ensina para a vida. Forma para Sempre.
Transcreva...
9 ...do primeiro parágrafo, três expressões em que o narrador, seguindo o modelo naturalista, enfatiza os
aspectos sensuais do comportamento de Rita Baiana.
10 ...do último parágrafo, o segundo termo das metáforas que identificam Rita com o mundo animal e vegetal.
11. Considerando as características do Naturalismo, comente a frase: “O chorado arrastava-os a todos,
despoticamente”.
Texto IV
Contas
Se pudesse mudar-se, gritaria bem alto que o roubavam. Aparentemente resignado, sentia um ódio
imenso a qualquer coisa que era ao mesmo tempo a campina seca, os soldados e os agentes da prefeitura. Tudo
na verdade era contra ele. Estava acostumado, tinha a casca muito grossa, mas às vezes se arreliava. Não havia
paciência que suportasse tanta coisa.
- Um dia um homem faz besteira e se desgraça.
Pois não estavam vendo que ele era de carne e osso? Tinha obrigação de trabalhar para os outros,
naturalmente, conhecia o seu lugar. Bem. Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido
com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem que era possível melhorar de situação,
espantar-se-ia. Tinha vindo ao mundo para amansar brabo, curar feridas com rezas, consertar cercas de inverno
a verão. Era sina. O pai vivera assim, o avô também. E para trás não existia família. Cortar mandacaru, ensebar
látegos – aquilo estava no sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada. Se lhe dessem o que era dele,
estava certo. Não davam. Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que seria que os
homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com
semelhante porcarias.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas, Ed. Record. p.97
Escrito na década de 1930, o romance Vidas Secas aproxima-se, de certa maneira, de algumas concepções que
orientaram a estética naturalista. Nesse sentido, responda:
12. De que forma a descrição do personagem se aproxima dos princípios deterministas?
13. Indique duas características do personagem que o tornam semelhante à concepção dos personagens dos
romances do Naturalismo.
14. Comprove com elementos do texto as características por você apontadas na resposta da questão anterior.
TEXTO V
As pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
-4-
Ensina para a vida. Forma para Sempre.
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
Raimundo Correia
15. O poema foi construído em torno de uma comparação. Explique-a.
16. Identifique, no poema, dois pares de rimas ricas.
17. O poema está moldado sobre a forma de um soneto. Explique por que os parnasianos retomaram o soneto.
TEXTO VI
A um Poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego
Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Olavo Bilac
18. Explique por que a poesia de Olavo Bilac é um exemplo de metapoesia.
19. A respeito da temática desenvolvida pelo poeta, relacione o ponto de vista do autor às características de sua
escola literária.
TEXTO VII (fragmento)
Antífona
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras
Formas do Amor, constelarmante puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
-5-
Ensina para a vida. Forma para Sempre.
Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...
Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.
Cruz e Sousa
20. O texto retrata perfeitamente as principais características do Simbolismo. Da relação de características
literárias abaixo, transcreva as que são verdadeiras em relação ao texto.
I. musicalidade nos versos
II. tendência espiritual e religiosa
III. gosto pelo uso da maiúscula alegórica
IV. espírito extremamente racional
V. emprego do vocabulário com o sentido nebuloso, impreciso, sugestivo
-6-
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