EDUCAÇÃO SEXUAL: FORMAÇÃO OU INFORMAÇÃO? Muitos pais, por vezes, perguntam como poderiam conversar com seus filhos sobre sexualidade ou educação sexual. Demonstram-se extremamente preocupados com a erotização indiscriminada dos meios de comunicação, com o fato da faixa etária de iniciação sexual estar diminuindo e, também, com o número crescente de gravidez precoce entre os adolescentes. De fato, são realidades que não existiam até alguns anos e que devemos estar atentos e orientar nossos filhos quanto a elas. Muitos pais nos pedem uma forma ou uma "receita" de como lidar com estas questões, mas não há uma receita pronta, já que cada família tem sua própria dinâmica e cada membro, suas próprias características. Contudo, há alguns aspectos básicos que gostaríamos de compartilhar. Um deles é o fato de termos de estar certos de que, quando nos dispormos a conversar com os nossos filhos, buscando orientá-los sobre sexualidade, temos que lidar com nossa própria sexualidade e, muitas vezes, existem alguns pontos ainda não totalmente claros que nos deixam inseguros: nossos preconceitos, vivências e repressões. A nossa sexualidade, como tudo na vida, é um constante processo de crescimento e o fato de termos filhos ou estarmos casados não quer dizer que este processo já tenha terminado. Havendo esta disponibilidade e abertura pessoal, não precisaremos nos "escudar" atrás de uma série de conhecimentos "enciclopédicos" distanciados da realidade e da linguagem da criança ou do adolescente. Alguns pais, equivocadamente, "despejam" verdadeiras "aulas" - que muitas vezes mais confundem do que ajudam para seus filhos e se esquecem de que o afeto e a escuta são muito mais importantes nestes momentos. Informação sem dúvida é importante, mas só a informação sem o diálogo fica vazia, limitada e sem sentido. Podemos perfeitamente dar um livro ligado à orientação sexual de acordo com a faixa etária dos filhos, mas só isso é muito pouco; precisamos conversar, orientar, ouvir. Se seu filho dá espaço para uma conversa, aproveite o momento e troque algumas informações, procurando orientá-lo. Mas não vá falar com uma criança sobre todo o processo biológico da concepção até o nascimento, se ela só lhe perguntou sobre como os bebês nascem. As informações devem ser sempre compartilhadas a partir das perguntas e da realidade de quem as faz. Entretanto, algumas vezes, principalmente após a entrada na adolescência, nossos filhos já não se sentem muito à vontade em dividir suas dúvidas e reflexões. Se não há uma abertura, é importante criar este espaço, mas não de uma forma artificial ou completamente distanciada do dia-a-dia familiar. Não devemos estabelecer uma conotação diferenciada em relação a este assunto. Esta abordagem, fora da rotina das relações, mais uma vez reforçaria um certo "ar de assunto proibido" ou distinto dos outros, o que nos levaria a estabelecer com os filhos uma percepção equivocada da sexualidade. É importante que saibamos que o fato de nossos filhos não conversarem conosco sobre suas descobertas ou curiosidades na área da sexualidade, não quer dizer que não as estejam vivenciando e que não possuam dúvidas ou questionamentos. Muitas vezes, assustamo-nos com a gama de "informações" fantasiosas que crianças e adolescentes trocam entre si. São "informações" erradas que geram ansiedades, confusões e grandes equívocos que ocorreriam bem menos se nossos filhos tivessem uma boa orientação. Assim sendo, todos estes aspectos reforçam, mais uma vez, a necessidade de nossa presença para orientá-los, escutá-los e acolhê-los num relacionamento alicerçado num verdadeiro diálogo. E talvez seja isto o mais importante, já que temos muito para aprender em relação a eles e a nós mesmos, não só quanto à sexualidade mas em relação à vida. Paulo Bonfatti Serviço de Psicologia Escolar